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Soc. estado. vol.30 número1

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Academic year: 2018

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A violência,

entre práicas e representações sociais:

uma trajetória de pesquisa

Maria Stela Grossi Porto*

A

o preparar a apresentação deste dossiê sobre violência, algumas relexões auxiliaram-me a decidir sobre a forma de conduzi-la. Em primeiro lugar, con-cluí, com certa apreensão e alguma tristeza, mas também com um senimento posiivo, que este é já o terceiro número de Sociedade e Estado dedicado ao tema. A apreensão e tristeza foram decorrentes da constatação de que, passados 20 anos desde a publicação do primeiro dossiê, em 1995, seguido de um segundo, em 2004, o contexto empírico da violência em suas múliplas formas de manifestação se man-tém como problema social persistente e recorrente – seja em termos das práicas, seja no que diz respeito às representações sociais –, conigurando cenários de inse-gurança e medo que, apesar de diferenças signiicaivas em suas formas de concrei-zação, atravessam o conjunto da sociedade brasileira. O caráter posiivo, por sua vez, é consequência da constatação de que, sem se deixar pura e simplesmente colonizar pelos problemas sociais, a relexão acadêmica soube delimitar quando, como e onde se fazia perinente construir o problema social como questão sociológica, resultando daí um considerável avanço no processo de conhecimento sobre o fenômeno. Não se pode, por certo, concluir daí que este maior conhecimento resulte automaicamente em menos violência. Mas, também, não é menos verdadeiro que a produção cieníica da área pode ser – e, eventualmente, tem sido – fonte de subsídio para as políicas públicas de segurança. Ainda que à universidade não caiba instrumentalizar a atua-ção ou a funatua-ção da segurança pública, a maior proximidade entre estes campos tem conigurado parcerias inexistentes e mesmo impensáveis até há bem pouco tempo, com ganhos e perdas para ambos os lados. Esta realidade acarreta a necessidade de se avaliar e de se quesionar, de modo permanente, as possibilidades e os limites de tais parcerias e o senido destas ariculações, não para interrompê-las, mas para aper -feiçoá-las, guardando sempre, com bastante clareza, a disinção entre os objeivos perseguidos pelos campos da ciência e da políica. Ou seja, a primeira relexão contri-buiu para reairmar a importância deste dossiê, que veio complementar, aprofundar e ampliar os temas já abordados nos dois números anteriores da revista.

Em segundo lugar, a relexão que a seguir ocupou-me intensa e profundamente foi de cunho pessoal e acabou por deinir o conteúdo do que vai ser lido: no momento

* Professora itular

do Departamento

de Sociologia/UnB, Pesquisadora 1A do CNPq. Organizadora deste dossiê.

<msgrossi@unb.br>.

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mesmo em que me organizava para redigir este texto, coincidência ou não, foi pu-blicado no Diário Oicial o ato de minha aposentadoria. Momento diícil, carregado de ambiguidades, com reações mais ou menos indeinidas, de alegrias e tristezas, de initude e completude, emoções incadas na certeza do ontem mais do que na in-deinição do amanhã; quase como consequência veio-me o desejo de conduzir esta apresentação de um modo talvez não usual, trazendo um pouco de minha trajetória acadêmica mais recente, ou, para ser mais precisa, evocar o momento em que o tema da violência se insere em minhas relexões teóricas e nos caminhos empíricos trilhados a parir de então pelas pesquisas empreendidas.

Ao perseguir a concreização deste desejo, retomo, então, indagações passadas, que o tema da violência me suscitou e que coninuam a mover minha busca acadê-mica atual. Indagações apoiadas e ariculadas à uilização da teoria das represen-tações sociais enquanto recurso metodológico para o avanço da pesquisa e do co-nhecimento sociológico. Proponho-me a uma tarefa que não é fácil. Como ressaltei por ocasião do memorial elaborado para o concurso para professor itular, ao qual recorro seguidas vezes para esta apresentação, fazer essa “estória” é algo próximo a uma psicanálise intelectual, na qual a trajetória acadêmica é passada em pers-peciva. Exposição e desvendamento daquele “quem sou eu” da psicanálise, que vai ao fundo do ser em busca da idenidade. Filiações, pertencimentos, ideniica-ções e oposiideniica-ções a correntes teóricas vão construindo e tecendo tramas em direção a um processo de construção idenitária: onde encontro minhas ideniicações e para onde elas me levam? Lembranças e esquecimentos, alegrias e sofrimentos, angúsias e prazeres, distanciamentos e pertencimentos. Não como momentos ex-cludentes, ou dicotômicos, ora uns ora outros desses senimentos, mas, ao contrá-rio, todos ao mesmo tempo, invadindo nossos espaços, ocupando corpo, coração e mente, tomando por completo o sujeito, a persona que habita cada um de nós no coidiano proissional.

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sujeição a que eram submeidos diferentes segmentos de pequenos produtores rurais – ariculada à desqualiicação de seu saber, reapropriado pelas grandes em-presas agropecuárias em busca de lucros mais signiicaivos. Era um momento de exacerbação das tensões no mundo rural, e se o período foi féril para a produção acadêmica na sociologia do rural, o mesmo não se deu necessariamente no que dizia respeito a pensar a violência no campo. Algumas análises maninham-se em um patamar descriivo, nem mesmo chegando à disinção entre conlito e violência, numa clara incorporação, pela sociologia, das categorias empíricas do senso co-mum, as quais apontavam para o barril de pólvora no qual vinha se transformando o campo brasileiro, segundo disintas avaliações.

Inserindo-me mais intensamente no contexto da violência no espaço rural, dei-me conta de que a sociologia, pressionada pelas demandas da sociedade, pela gravi-dade do fenômeno das tensões no campo e pelas urgências requeridas por setores disintos da sociedade, senia-se pressionada a agir. E agia, muitas vezes, através da denúncia. Naquele período, um número considerável de trabalhos acadêmicos ocu-pou-se em denunciar a violência no campo. Entretanto, com as honrosas e mesmo brilhantes exceções que conirmavam a regra, faltava, por vezes, fôlego teórico a alguns desses trabalhos, cuja preocupação com a denúncia maninha-os no âmbito da descrição.

Ora, quesionava-me, então, se como socióloga não seria urgente ultrapassar o mo-mento, necessário mas insuiciente, da denúncia, criando condições para consituir possíveis “problemas sociais” em questões sociológicas, fazendo avançar as frontei-ras do conhecimento. Estava convencida de que só essa ultrapassagem propiciaria o aparato teórico-metodológico para a relexão, a qual, devidamente munida do ins-trumental que apenas a ciência propicia, ao somar ou contrapor-se a outras formas de conhecimento, contribuiria para o esclarecimento da ação, subsidiando (ou não) a intervenção1 que outros eventualmente operariam no social. De minha perspeciva,

foi fundamentalmente esta insaisfação teórica que fez avançar a relexão, sobretudo por uma paricularidade de natureza conceitual, com a qual se defronta a sociologia e que se prende ao fato de a violência ser e ter se consituído como fenômeno empírico antes de ser construída como conceito teórico. Nessa condição, é apropriada pelo senso comum, pela políica, pela mídia e por vários outros campos do saber que não o cieníico. Em função disso, sua reapropriação, pela sociologia, exige que sejam ex-plicitados os senidos nos quais é uilizada, de modo a que essa uilização, no interior do discurso cieníico, adquira força explicaiva. Sem tais rupturas reforça-se apenas a dimensão descriiva do trabalho acadêmico, necessária, mas não suiciente.

Ora – alguém poderá dizer – todos os conceitos iveram trajetórias semelhantes. En-tretanto não foi bem o que ocorreu, ao se analisar a trajetória de alguns dos

concei-1. Vários autores já se ocuparam de analisar o contexto

da intervenção na

análise sociológica. Lembro o texto mais

anigo de Elias (1998) e uma relexão um

pouco mais recente

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tos clássicos, os quais criaram e organizaram a sociologia, quando de sua fundação como disciplina cieníica. A ítulo de exemplo, poder-se-ia lembrar o surgimento de conceitos tais como os de anomia, autoridade, estraiicação social, poder, classe social, modos de produção e diversos outros: eles construíram o chão teórico-epis-temológico da disciplina. No caso da violência, o caminho é, em certo senido, dis-into. Foi a perspeciva empírica que demandou a relexão e a construção teóricas. E isso exige um cuidado e um distanciamento na tarefa de produção do conceito, como algo que permita avançar na compreensão e explicação do fenômeno. Ter cla-ra a disinção entre os discursos do senso comum e a construção cieníica é, assim, um primeiro requisito, condição sine qua non para a delimitação do objeto.

Com estas salvaguardas iniciais, coloquei-me desde logo a questão da construção do campo e dos pressupostos teórico-metodológicos para a consituição de uma sociologia da violência e da conlitualidade. Como desaio teórico, colocava-se para mim a tarefa primordial de avançar no conhecimento do estado da arte do tema, condição para avançar igualmente na compreensão e deinição sociológicas da vio-lência, fenômeno empírico mutante, já que plural, polissêmico e referido aos valo-res e à cultura. O desaio metodológico passava pela seleção dos caminhos episte-mológicos perinentes à condução da pesquisa.

Os referenciais estavam ainda ligados à experiência da sociologia rural; as relexões buscaram aprofundar o conhecimento da produção acadêmica ligada à compreen-são dos Processos sociais agrários2, e à violência no espaço agrário brasileiro. No

contexto internacional, havia tomado contato com os textos de Bourdieu (2002) publicados no periódico Études Rurales e reunidos em um livro initulado Le bal des célibataires. Fundamentado em pesquisas empíricas realizadas wm Béarn, sua terra natal, sobre o campesinato local e sobre o surgimento de estratégias matrimoniais que se desenvolveram em função da introdução do capitalismo no campo, o autor chega à construção de sua teoria sobre a violência simbólica. Aponta que tais estra-tégias acabaram por modiicar o mercado matrimonial, o qual, antes protegido por regras matrimoniais endogâmicas, e controlado pelas famílias, tornou-se um mer-cado matrimonial livre, submeido às leis concorrenciais, movimento que eliminou, praicamente sem violência ísica, um sem número de pequenos produtores rurais, os quais, nessas novas condições, viram seu capital simbólico desmoronar-se, inca-pazes de compeir, neste novo mercado, com os jovens citadinos.

Apesar do interesse em mim despertado naquele momento por tais questões, mi-nhas inquietações, centradas no conhecimento e na busca do espaço teórico de construção de uma sociologia da violência, não aloraram diretamente nos primeiros tempos de pesquisa em sociologia rural, mas foram se sedimentando pouco a pouco, à proporção mesma em que tomava contato com o acirramento da violência no

cam-2. Noção então proposta por Tavares dos Santos (1994)

para dar conta da complexidade e

muliplicidade dos fenômenos sociais aí

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po e com o fato de que esta, de algum modo, ganhava mais visibilidade quando das mudanças que se iam processando em decorrência do processo de modernização da agropecuária. De algum modo, os quesionamentos oriundos do campo da sociologia rural potencializaram meu interesse em aprofundar a temáica da violência, de uma perspeciva mais geral e, sobretudo, buscando seus fundamentos teóricos. Ainda que a violência no campo não ivesse arrefecido (bem ao contrário), meu interesse, cada vez mais, se circunscreveu ao que hoje se denomina violência urbana.

Já inserida na problemáica urbana, tomei contato e percebi grande ainidade com o trabalho de Michel Wieviorka (cujo arigo inaugura este dossiê), autor que, ao priorizar o sujeito, em sua condição de ator, realça seu potencial explicaivo para as ciências sociais. Enfoque que, em sintonia com a abordagem de Alain Touraine (1984), deine o sujeito como sendo a “capacidade de construir-se a si próprio, de proceder a escolhas, de produzir sua própria existência... a capacidade de engajar--se e também de desengajarengajar--se” (Wieviorka, 2006: 203). De forma mais indireta do que direta, entrevejo nesta argumentaçãoainidades com a perspeciva teórico-me-todológica que inspira as relexões centradas nas representações sociais, como blo-cos de senidos presentes nos conteúdos dos discursos e das narraivas dos sujeitos (individuais ou coleivos) a orientar-lhes a conduta.

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cená-rio como possíveis razões, e as ideias de reino de impunidade, ilha da fantasia, terra de ninguém povoavam os meios de massa, impressos e televisivos, levando-me a perceber a importância de se compreender um fenômeno – no meu caso o da vio-lência, através do que é dito sobre ele (Porto, 2009)3.

A parir daquele episódio, a análise em termos de representações sociais, “impôs--se” como caminho perinente para a análise do social; decidi então trilhá-lo, um tanto insegura, já que conhecia pouco do tema, e a sociologia não necessariamente “via com muito bons olhos” (será que já vê?) o fato de se buscar na psicologia social um fundamento metodológico para o trabalho empírico, em uma disciplina que do-mina métodos e técnicas vistos como tão ou mais perinentes à práica sociológica. Aventurei-me mesmo assim, acreditando não exisir caminho perfeito nem único, e com a intuição (preconceito? em termos durkheimianos) segundo a qual a criaivi-dade e a imaginação sociológicas são, ou deveriam ser, boas conselheiras, aliadas ao conhecimento teórico sólido. A parir de então, passei a explicitar os pressupostos que embasaram, e coninuam a fazê-lo, a forma pela qual trabalho com representa-ções sociais e que detalho mais adiante. Funcionam, tais pressupostos, como uma espécie de mode d’emploi, sem, no entanto, funcionarem como livro de receitas.

Nos trabalhos de pesquisa, os dados coletados originam-se de disintas modalida-des de coleta de informações, incluindo, entrevistas, quesionários, grupos focais, além de pesquisa documental. A ítulo de exemplo, em 1998, dediquei-me a uma grande pesquisa junto à população do Distrito Federal uilizando quesionários, num total de 625 respondentes. O quesionário, composto de 52 perguntas fechadas, foi organizado em blocos, centrados em conteúdos tais como: violência e cordialidade, violência e legiimidade, violência e direitos, violência e insituições, violência e po-breza, violência e jusiça, violência e mídia.

Foram uilizadas perguntas fechadas com o objeivo de captar racionalidades e per-ceber valores presentes na sociedade sobre o tema da violência; a opção foi estru-turar algumas das questões uilizando conteúdos de ditados populares e provérbios (Durkheim, 1971), airmações do senso comum, chavões e/ou crenças populares presentes, todos eles, na cultura e nas tradições da sociedade brasileira, conforme exemplos a seguir: mulher de malandro gosta de apanhar; homem que é homem

não leva desaforo para casa; apanhar na cara e não reagir é sinal de covardia; o brasileiro é um homem cordial; polícia e bandido é tudo a mesma coisa: não pen-sam duas vezes antes de airar; homossexualismo é falta de vergonha, tem que ser tratado com pancada; manda quem pode obedece quem tem juízo; jusiça é coisa prá privilegiado, pobre é tratado na “marra”; a jusiça tarda mas não falha; na falta de uma jusiça competente vale a lei do mais forte; as leis existem para serem desobedecidas.

3. Texto que relete

sobre esse caráter

aípico de Brasília, do qual, a rigor, discordo, publicado

na Sociedade e Estado, em dossiê que organizei sobre representações

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Em outra pesquisa, os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestrutu-radas e voltadas a segmentos especíicos da sociedade; a seleção dos respondentes foi efetuada observando como critério sua relação com a temáica abordada. Em casos como este, a preocupação é a de selecionar respondentes “qualiicados” no senido de que possuam conhecimento proissional ou experiência/vivência em re-lação ao fenômeno abordado, no caso, o da violência.

Também por essa época, ou pouco tempo depois, incorporei em minhas inquie-tações os conteúdos relaivos à temáica da polícia e da segurança pública. Essa incorporação decorre do fato de ser impossível buscar-se uma compreensão do fenômeno da violência sem entender os setores e organismos responsáveis pela manutenção de lei e ordem, sabendo-se que, em contextos democráicos, o desaio maior de tal mandato é o de que ele se cumpra na estrita observância dos direitos humanos. Minhas pesquisas atuais, que incluem as corporações civis e militares (mais recentemente também busco incorporar, de modo mais sistemáico, a com-preensão do Judiciário), priorizam o conhecimento da insituição policial na medida em que, como dito acima, seu bom funcionamento é condição chave para a promo-ção da segurança e do funcionamento da democracia.

A inquietação mais recente da pesquisa coloca como prioridade releir sobre as re-lações entre idenidade proissional e violência policial visando, sobretudo, à com-preensão mais acurada das relações do policial com a sociedade. Interessa apro-fundar as possíveis relações de causalidade entre construção idenitária e violência policial. Também por meio de entrevistas, quesionários e grupos focais a análise recorre: a. às representações sociais que esta categoria (policial) elabora sobre si mesma, enquanto idenidade proissional; e b. às representações sociais que cons-troem sobre o outro (ou os outros) com quem se relacionam ou se confrontam em sua práica coidiana, dentro e fora das fronteiras da própria proissão, como contra-ponto para pensar e deinir o Eu.

Minhas relexões enfocando violência e segurança pública situam-se na conluência entre função policial e legiimidade. Da perspeciva sociológica, interessa analisar e compreender os contextos nos quais essa legiimidade se converte em seu contrá-rio, passando a ser representada como violência policial e como agressão à popula-ção – que o policial deveria, em tese, proteger.

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restrito no interior do aparato policial, esse monopólio, em tese, impede a livre circulação da violência e inibe sua existência difusa no conjunto da sociedade, cons-ituindo-se, assim, em condição de paciicação da sociedade. Ao fazê-lo, exclui (tam-bém em tese) a violência das formas e práicas quoidianas de interação social, no âmbito da sociedade civil.

No âmbito do Estado, este movimento corresponderia ao estabele

-cimento do Estado racional-legal tornado possível graças a longos processos de transformação do direito e das formas de administra

-ção, subsituindo o arbitrário por procedimentos mais igualitários, porque baseados em normas e regras impessoais, universais e racio

-nais (Porto, 1999: 16).

Descumpridas tais condições, abre-se espaço para a violência ilegíima. A missão policial transita, então, nos frágeis limites entre a violência legíima (uso legíimo da força, melhor dizendo), cujo agente é a autoridade policial, e a violência ilegíima como desdobramento dessa mesma autoridade. Em sua discussão sobre as relações entre controle (âmbito do Estado e/ou da sociedade) e autocontrole (âmbito do in-divíduo) Elias (1993) é, juntamente com Weber, fonte de inspiração destas relexões.

Para que esta apresentação possa inalmente aingir mais em detalhe as questões teóricas, algumas especiicidades da violência no Brasil poderiam ser ressaltadas para a melhor compreensão do enquadramento teórico e empírico a parir do qual tenho tratado conceitualmente a violência:

1. O fato de, até há pouco tempo, a violência não ter sido nomeada como tal: manifestações violentas eram assumidas como formas ro-ineiras de regulamentação das relações sociais; eram, além do mais, consideradas, algumas delas, como fenômenos de caráter privado, não sujeitas ao controle público, a exemplo de manifestações de violência ocorridas no âmbito domésico. Contexto que retardou, por assim dizer, a possibilidade de inserir a violência no rol das categorias explicaivas da realidade: o fenômeno não estava todavia construído como objeto de invesigação; a sociedade não se espelhava a parir de categorias como a violência; a violência não era nomeada como tal, diicultando sua consi-tuição como objeto sociológico.

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âmbito do Estado – instância, que na concepção weberiana, reivindica o monopólio legíimo da força – para o da sociedade civil, caracteri-zando um movimento de desconcentração desse monopólio. Por outro lado, o surgimento – também mais caracterísico de certos segmentos sociais – de uma maior sensibilidade, signiicando a recusa de legiimi-dade a atos de violência, antes considerados “normais”, à semelhança do que propõe Wieviorka (1997) ao analisar o contexto francês, e Elias (1993) quando aponta para o desenvolvimento, em paralelo, entre con-trole e autoconcon-trole. Esse segundo movimento torna-se central para a construção do objeto. Ariculado ao processo de redemocraização, que deu visibilidade a contextos que inham sido vividos até então na obscuridade, trouxe o tema da violência para o centro do debate no âmbito da sociedade e, igualmente, em disintos espaços acadêmicos. Nessa medida, propiciou um avanço da abordagem sociológica voltada ao contexto brasileiro, na medida em que melhor compreender o fe-nômeno da violência passou a ser, de certa forma, vislumbrado como condição para melhor entender a própria sociedade brasileira. Tal abor-dagem apela para o reconhecimento do fenômeno em sua existência empírica, nomeia-o como tal, possibilitando, desta forma, construí-lo como conceito, como disposiivo analíico, visando à explicação socio-lógica4. Dessa perspeciva, o esforço de compreensão e deinição da violência implica sempre pesquisar, quesionar, teórica e empiricamen-te, a matéria-prima da análise sociológica, isto é, a natureza das rela-ções sociais, uma vez que é nas e pelas relarela-ções sociais que o social se consitui como tal, através de condutas signiicaivamente orientadas por um sistema de normas e valores como representação de um dado ordenamento do social, como propõe Weber (1991).

É um esforço que implica, igualmente, a busca de ideniicação e análise de ipos e formas de violência, e a percepção de suas diferenças, como condição para a cons-trução sociológica. Nesse esforço, a ênfase no aspecto quanitaivo, eloquente por si mesma, pode obscurecer aspectos qualitaivos ligados à questão, os quais pode-riam ser detectados apenas se pensados a parir de uma caracterísica fundamental do fenômeno da violência, que aponta para sua extrema muliplicidade. Em outras palavras, ainda que se possa admiir que a violência apresente um componente difuso, no senido de que penetra a quase totalidade do tecido social, não é viável pensá-la como fenômeno singular, a se ramiicar uniformemente pelo conjunto so-cial. Ao contrário: não existe violência, no singular, mas violências, cujas raízes são múliplas, e cuja ideniicação é complexa; portanto, qualquer tentaiva explicaiva e de conceituação tem que, de forma compulsória, considerar tal muliplicidade. Esse caráter plural do fenômeno é uma constatação relevante; um desdobramento

4. Na condição de disposiivo, lembro a conceituação de Tavares dos Santos (1995), para quem a violência se deine como disposiivo de

excesso de poder.

Sociedade e Estado (v.

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que daí se segue é o de que não sendo singular, mas plural, a violência não pode ser sistemaicamente ideniicada a uma única classe, segmento ou grupo social. Nem a supostos condicionantes territoriais que explicariam sua existência, seja referi-da à maior incidência em determinados estados do país, seja apontando para sua concentração em espaços especíicos, no campo ou na cidade. Ainda nesta direção, associar, com exclusividade, a violência à pobreza, à desigualdade, à marginalidade, à segregação espacial etc., poderia levar a desvendar uma parte importante mas insuiciente da explicação sociológica do fenômeno, já que excluiria, por exemplo, outras manifestações de violência tais como aquelas protagonizadas e sofridas pelas camadas favorecidas e/ou dominantes da população, assim como excluiria, tam-bém, certos fenômenos que povoam o imaginário social, produtor e produto de representações sociais da violência.

O esforço no senido da precisão conceitual leva igualmente em conta a necessidade, incontornável, de considerar aquelas representações produzidas pelos meios de mas-sa, os quais detêm um quase monopólio da informação, levando a situações em que, para numerosos segmentos sociais, o conhecimento da realidade é ideniicado às in-formações produzidas pela mídia. O fenômeno da violência pode certamente enqua-drar-se nesta situação. Uma complexidade adicional é que a comunicação de massa, a par o bombardeio de informações a que submete o público, mais do que apresentar os fatos “representa” sua versão dos mesmos; “produz” o evento no processo mesmo de edição da noícia, com a consequente “criação” de uma realidade já interpretada, na qual a riqueza dos detalhes é transformada em parâmetro de idedignidade e a versão representada em sinônimo de única possível. Caminha-se dos fatos aos acon-tecimentos. Subsitui-se o papel de intermediação entre o evento e sua divulgação pela função de produção desse mesmo evento. Nesse contexto de realidades cada vez mais interpretadas, o “olhar” sociológico tem como diícil tarefa construir instrumen-tos teóricos claros que permitam considerar as relações entre o fenômeno e suas re-presentações, diferenciando igualmente o conceito de suas manifestações empíricas.

Ao aprofundar a relexão sobre as questões conceituais, torna-se cada vez mais rele-vante privilegiar a análise do fenômeno da violência a parir dos conteúdos de valores e normas – os quais, na condição de representações sociais, informam práicas sociais e orientam condutas de indivíduos em seu coidiano, recolocando a função pragmá-ica das representações. Valores e normas que paricipam da consituição do capital simbólico disponível nas sociedades e que se caracterizam por seu caráter histórico, mutável e plural. O intento de deinição não pode, assim, abstrair tais conteúdos.

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violência simbólica, valeria lembrar que a subjeividade que caracteriza as dimen-sões da moral ou do simbólico não elimina o caráter de constrangimento dos atos agressivos ao indivíduo, mesmo na ausência de danos ísicos. O que leva a privile-giar uma conceituação mais abrangente do fenômeno que inclua a dimensão sim-bólica (Bourdieu, 2002; e igualmente sugerido por Yves Michaud, 1989) e condu-za a argumentar pela existência de um substrato, ou matriz comum, subjacente à consituição de ambos os mecanismos: tanto aqueles produtores da violência ísica como os que respondem pela existência da violência simbólica. O que caracterizaria essa matriz seria precisamente a existência de múliplas lógicas na composição de normas orientadoras de conduta, engendrando graus crescentes, diferenciados e hierarquizados de autonomia, nas práicas dos agentes de um todo social dado. O todo assim consituído adquire senido como todo fragmentado, autonomizado, múliplo. Aprofundando um pouco mais caracterísicas empíricas do fenômeno, as quais se colocam como subsídios para a construção teórica, valeria considerar que determinadas práicas de violência podem visar à airmação idenitária de seus pro-tagonistas por meio da negação de valores e normas societárias vigentes em um movimento de inclusão/exclusão social, que tem nos jovens alguns de seus princi-pais protagonistas e não se restringe a uma camada, classe ou grupo social. Estão aí incluídas práicas que expressam, por vezes, escassa referência a valores “ditos” coleivos e vivenciam situações de redeinição dos conteúdos de senido orienta-dores da ação, airmando valores novos, pariculares a determinado grupo, com a consequente negação de conteúdos socializadores, avaliados como universalistas.

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de representações sociais indicaivas da tendência, presente em determinados gru-pos e camadas sociais, de se uilizar da mesma em diferentes processos de estrutura-ção do social. Como conteúdo, portanto, de novas formas de sociabilidade, conforme argumentação desenvolvida por Machado da Silva, da qual tenho me uilizado com frequência. Reconheço que nem sempre sou completamente iel à sua teorização quanto ao caráter da “sociabilidade violenta”, no senido de que, para ele, em hipó-tese alguma está em questão uma luta de valores ou a busca por hegemonia:

A violência urbana está no centro de uma formação discursiva que expressa uma forma de vida consituída pelo uso da força como princípio organizador das relações sociais (Machado, 2004: 58-59).

Concordo, com essa airmação e com a de que

nas grandes cidades brasileiras, está em adiantado processo de consolidação, no âmbito das roinas coidianas, uma ordem social cujo princípio de organização é o recurso universal à força (Macha

-do, 204: 62).

Acrescentaria, como hipótese de trabalho, a merecer diíceis testes empíricos, que, em tese, e sob dadas condições, uma disputa valoraiva poderia não ser de todo impossível. Ainda que o contexto brasileiro não tenha, por ora, oferecido nenhuma evidência empírica nessa direção.

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– consituivo do ser humano, intrínseco à sua condição. Tal alternaiva tem como consequência a naturalização de algo que é socialmente produzido, no interior das ações e relações sociais. Ainda que se possa concordar com analistas que airmam a inexistência de contextos societários dos quais a violência esteja ausente, tal airma-ção não pode signiicar a negaairma-ção do componente cultural, ou o desconhecimento de que a natureza humana seja produzida sob a égide da cultura. A busca de melhor compreender – teórica e empiricamente – a violência aponta para uma constatação relevante: se, para outras instâncias explicaivas, os componentes da personalidade individual podem ser a chave para o conhecimento das raízes de tal ou qual carac-terísica de comportamento, para a análise sociológica, no entanto, precisariam ser considerados, como preconizou Weber (1991), como circunstâncias (como dados), facilitadores ou inibidores de determinadas condutas, sem serem, no entanto, as-sumidos como explicaivos de contextos sociais. Em outras palavras, idiossincrasias pessoais devem ser consideradas, mas não explicam fenômenos sociais.

Do ponto de vista da análise sociológica, abordagens que advogam um caráter fun-dante e consituivo para a violência são, no mínimo, paralisantes. Conduzem ao imobilismo teórico. Airmação que não signiica desconsiderar que na existência da violência enquanto realidade empírica, assim como na busca de sua compreensão como objeto de análise, podem interferir fatores de natureza pessoal, políica, ideo-lógica e religiosa, entre outros, os quais, não podem ser minimizados quando se está buscando a compreensão da violência.

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põe em ação a sujeição criminal de que fala Misse (2008). Não sendo deiniiva, ou conclusiva, é uma deinição que permite releir teoricamente e trabalhar empirica-mente, reconhecendo o caráter inito, dinâmico e mutante da realidade social e, em consequência, da teoria que relete sobre ela. Aprofundar conceitualmente e dar argumentos mais substanivos a esta deinição é uma questão e um desaio que se recolocam para mim de modo constante, visando à ultrapassagem de uma deinição ainda e tão somente operacional, carente de maior consistência teórica.

Da perspeciva metodológica, o conhecimento via representações sociais é um ipo de conhecimento que poderia ser considerado (e assim o tenho chamado) de segun-do grau, ou de “segunda mão”, não por ser menos relevante segun-do que aquele obisegun-do de “primeira mão”, mas na medida em que se chega a ele interrogando a realidade através do que se pensa sobre ela. Exempliicando: ao invés de centrar a análise no(s) dado(s) bruto(s) do fenômeno, interroga(m)-se o(s) imaginário(s) construído(s) sobre o mesmo. É um enfoque que privilegia a linguagem em sua condição de disposiivo analíico, indagando-se sobre que discursos e narraivas são aí produzidos. É a parir dessa dinâmica que tenho procurado entender o fenômeno da violência, ou seja, in-dagando como a população – em seus diferentes setores, aí incluídos os responsáveis pela segurança pública – “explica” a violência, produzindo “teorias do senso comum” ou elaborando, sobre ela, representações sociais. Quando a violência é capturada pelo viés das representações sociais, o que se coloca como conteúdo para a análise sociológica são os senidos empíricos, formulados pelo senso comum, permeados por julgamentos de valor e efeitos de hierarquização, que esta categoria carrega, levando o(a) pesquisador(a) a interrogar-se sobre que valores são esses e como tais valores e crenças estruturam e presidem a vida social. Quando consideramos repre-sentações sociais como categoria analíica, lidamos com conteúdos valoraivos por excelência, pois é desses conteúdos que tais representações se constroem. Trabalhar desta forma signiica, em úlima análise, reinserir a outrora recorrente questão das crenças e dos valores (via análise da linguagem) nos disposiivos postos à disposição da explicação sociológica. O que signiica, igualmente, reinserir a discussão acerca do papel e do lugar da subjeividade na teoria, em sua relação com o também recorren-te requisito da objeividade, como condição para a produção de conhecimento válido e relevante para a compreensão sociológica.

Assim, crenças e valores são apreendidos em sua condição de princípios orientado-res de conduta, tratamento que se aproxima daquele da sociologia compreensiva, perspeciva com a qual, também do ponto de vista metodológico, os argumentos aqui desenvolvidos encontram sua maior ideniicação.

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certo senido, cunho “uilitarista” já que, no percurso empírico em busca dos seni-dos presentes em uma dada representação, não percorre passo a passo o caminho daqueles que, na psicologia social, se dedicaram ao tema. Também não privilegia a parte da teoria que se dedica aos aspectos propriamente cogniivos da formação e da consituição das representações sociais e de seus mecanismos de difusão. Além do que, não há, nessa apropriação, a preocupação em dissecar uma dada represen-tação, ressaltando de que modo se consituíram seu núcleo central e suas perife-rias. Aliás, não disingue centro e periferia. Pelo contrário, trabalha a noção como um todo e sempre no plural, assumindo as representações sociais como blocos de senido ariculados, sintonizados ou em oposição e em compeição a outros blocos de senido, compondo uma teia ou rede de signiicações apta a permiir avançar no conhecimento da sociedade por ele analisada. Quando se interroga a realidade a parir do que se diz sobre ela, uilizando-se da categoria de representações sociais, assume-se que estas:

a. embora resultantes de experiência individual, são condicionadas pelo ipo de inserção social dos indivíduos que as produzem;

b. expressam visões de mundo objeivando explicar e dar senido aos fenômenos dos quais se ocupam, ao mesmo tempo em que,

c. por sua condição de representação social, paricipam da consituição desses mesmos fenômenos;

d. apresentam-se, em sua função práica, como máximas orientadoras de conduta;

e. admitem a existência de uma conexão de senido (solidariedade) entre elas e os fenômenos aos quais se referem, não sendo, portanto, nem falsas nem verdadeiras, mas a matéria-prima do fazer sociológico (Porto, 2002).

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re-levância ao viabilizarem a consideração das experiências individuais sem secunda-rizarem o contexto no qual tais experiências são vivenciadas. Seguindo os ensina-mentos weberianos,

a interpretação da ação deve tomar nota do fato fundamentalmen

-te importan-te de que aquelas formações coleivas que fazem par-te tanto do pensamento coidiano quanto do jurídico (ou de outras dis

-ciplinas) são representações de algo que em parte existe e em par

-te pre-tende vigência, que se encontram na men-te de pessoas reais (não apenas dos juízes e funcionários, mas também do “público”) e pelas quais se orientam suas ações. Como tais, têm importância cau

-sal enorme muitas vezes até dominante para o desenrolar das ações de pessoas reais”(Weber, 1991: 09, grifos do autor).

Implícita na formulação encontra-se a ideia de escolha, de seleção que, mesmo in-consciente, informa o agir de atores reais. As representações, de que fala Weber, se consituem em normas jurídicas, valores ou costumes que o ator precisa levar em consideração em seu agir, quer concorde ou não com os mesmos. Ou seja, obede-cendo-os ou transgredindo-os. Lendo sem dogmaismo a sociologia weberiana, se-ria razoável argumentar que, em sua perspeciva, representações coleivas funcio-nam como situação, condição, ambiente para as ações sociais, podendo facilitá-las, diicultá-las, inviabilizá-las ou apenas se consituírem em um dado. Potencializam, também, a apreensão do caráter fragmentado do social e conduzem a pensar a vi-gência paralela de ordens contraditórias entre si, assim como a pluralidade e a rela-ividade dos conteúdos valoraivos que demandam do ator escolha e seleção. Razão pela qual a pesquisa não pode se esquivar de interpretá-las se tem pretensões à explicação da realidade social.

Em conformidade com a sociologia weberiana, os fatos empíricos estão constan-temente orientados por “ideias de valor”. Neste senido, considera-se apropriado airmar que o tratamento dado por Weber à questão parece sinalizar, nos moldes de um laisser passer, a relevância de uma abordagem centrada em representações sociais, cujos conteúdos nada mais são do que ideias de valor que uma determina-da cultura elabora sobre os fenômenos determina-da videtermina-da social e que cabe ao pesquisador desvendar.

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que os atores sociais nomeiam como violência varia segundo as representações que esses se fazem do fenômeno; varia, igualmente, segundo a natureza da sociedade na qual o fenômeno é deinido. Sob esse aspecto, quanto mais uma sociedade é unilateral, quanto a suas normas e valores, tanto menos aparece o caráter relaivo do conceito e tem-se a ilusão de objeividade, construída por uma suposta unidade de pontos de vista. Sociedades mais plurais convivem com uma muliplicidade nor-maiva, coexisindo lado a lado ou disputando hegemonia.

Para aprofundar essa linha de raciocínio, exisiriam, por um lado, contextos (ob-jeivos) mais ou menos favoráveis ao desenvolvimento da violência; por outro, o que é representado como violência (dimensão subjeiva) “paricipa” igualmente da realidade da violência.

No senido de enfeixar os pressupostos que explicitam os caminhos teórico-meto-dológicos de recepção da Teoria das representações sociais, poder-se-ia concluir airmando que representações sociais não são nem racionais nem irracionais; são existenciais, ontológicas e respondem por uma lógica e uma racionalidade que as consituem em objeto do conhecimento e da análise sociológica, para serem com-preendidas mais até do que só explicadas. E isto à condição de que sejam assumidas pelo que de fato são: substrato material, sinal externo, vida cristalizada (Durkheim, 1971). Sua racionalidade é de natureza totalmente disinta daquela proporcionada pelo conhecimento da ciência. Para o analista do social, se é perinente buscar as relações entre o fenômeno e suas representações, não é por considerar que as úl-imas sejam sinônimo do real, falsas ou verdadeiras, e sim por assumi-las como um dado bruto da realidade, matéria-prima da tarefa de invesigação que precisa ser submeida ao crivo da ciência, como condição de produção de um conhecimento perinente.

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temas como os da subjeivação e dessubjeivação, da crueldade, da pobreza, da juventude. Da mesma forma, os textos são construídos com referência a contextos nacionais tanto quanto internacionais: África, França, México, Canadá e Brasil fa-zem parte do pano de fundo que alimentou a relexão dos paricipantes do dossiê.

Gostaria de agradecer aos(as) pesquisadores(as) que pariciparam deste dossiê pela disponibilidade, pela criaividade e pela competência das contribuições. A qualida-de do número é fruto qualida-de cada um qualida-destes arigos. Infelizmente, nem todos(as) que se dedicam ao tema estão presentes. Alguns(as) não iveram condições de paricipar; outros(as) inham já contribuído nos dois números anteriores; por úlimo, ivemos que nos conformar aos limites impostos pelas normas da revista que restringe em até cinco o número de arigos por dossiê. Desse modo, nem todas as formas, faces e manifestações do fenômeno foram aqui contempladas. Neste caso, como comen-tado nos números precedentes dedicados ao tema, as lacunas funcionam como desaio para que novos dossiês, com outros maizes e matrizes sejam propostos e organizados, com a perspeciva de que possam anunciar mundos mais solidários e formas viáveis de saídas para a violência; com esperança sim, mas sem idealismos que impeçam de olhar o futuro com os olhos mergulhados na contemporaneidade e no que ela requer hoje da imaginação sociológica.

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