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Polêmica da clonagem e células tronco

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Academic year: 2022

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Polêmica da clonagem e células tronco

Resumo: Nunca antes a ficção pareceu tão próxima à realidade. A possibilidade de criação de clones e manipulação genética de pessoas provoca as mais diversas reações. Neste ensaio, iremos explanar rapidamente os mecanismos utilizados na clonagem e nas terapias com células tronco, quais suas dificuldades e quais os principais motivos para tamanha resistência por parte das autoridades civis e religiosas em abrir um espaço maior de atuação nesses campos.

Introdução

Existe muita polêmica em torno da clonagem e das células-tronco.

Mas afinal, porque essas células tão pequenas incitam uma discussão ética de tamanha proporção? Talvez seja interessante começarmos com uma breve explicação biológica. O que é, exatamente, a clonagem? O que são as células-tronco? Qual a relação entre elas?

Clones são indivíduos geneticamente idênticos. Os gêmeos univitelinos são casos de clones que ocorrem espontaneamente na natureza. A polêmica, no entanto, está em se criar clones de indivíduos pré-existentes. Isso é possível colocando-se o núcleo de uma célula somática diferenciada do indivíduo que se quer clonar em um óvulo anucleado de uma doadora. A clonagem terapêutica, entretanto, parece menos amoral, pois se trata de desenvolver tecidos geneticamente compatíveis com a pessoa que precisa dele, desde que, claro, a doença que a vitima não tenha origem genética.

As células tronco são células indiferenciadas, ou seja, que ainda não tomaram a forma do tecido que irão constituir. Por essa sua característica, ela pode tomar a forma de diversos tipos celulares, e pode servir para tomar o lugar de células doentes. Existem diversas fontes de células-tronco, sendo algumas delas: embriões (células- tronco embrionárias – as mais polêmicas), cordão umbilical, medula óssea de indivíduos, etc.

E afinal, o que a clonagem tem a ver com as células-tronco?

Para obtenção de células-tronco específicas para uma determinada pessoa – seja para auto-transplante, seja de alguém compatível – e para que tais células possam se diferenciar no tecido pretendido facilmente, é importante que a fonte seja um embrião. E para se conseguir esse embrião, geneticamente idêntico a outro indivíduo, a técnica é a clonagem. O embrião criado serve de fonte de células- tronco.

Insucesso

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Mas, apesar o procedimento parecer simples, o sucesso dessas práticas tem sido bastante reduzido, devido ao desconhecimento dos mecanismos de liga-desliga dos genes nas suas primeiras etapas. O primeiro caso de clonagem já feito, é o caso da ovelha Dolly. A ovelha Dolly foi o primeiro mamífero clonado por transferência nuclear de células somáticas. Isso ocorreu pela transferência do núcleo de uma célula somática da glândula mamária de uma ovelha para um óvulo enucleado. Então esse núcleo foi inserido no útero de uma outra ovelha. O processo parece simples, mas para gerar Dolly com sucesso, foram necessárias 277 tentativas. A tentativa em outros animais, como porcos e veados, ainda nos dá como resultado embriões mal formados. Pro exemplo, Penta, a primeira bezerra brasileira clonada, morreu com pouco mais de um mês. Algumas conclusões sobre os processos: morte prematura dos embriões;

anomálias presentes nos seres clonados.

Aplicações polêmicas

A primeira crítica em relação à clonagem é o porquê de se criar indivíduos idênticos. Aos desavisados, o motivo aparente pode ser a substituição de um ente querido. A pessoa é fruto da interação entre genética e ambiente, portanto o clone jamais será igual à tal pessoa.

Uma frustração será gerada naquela que isso espera, e no próprio clone por não atender tais expectativas. Criação de indivíduos com determinadas características (força, agilidade, inteligência) é uma outra possível aplicação. Existe o risco de se criar uma sociedade irreal com indivíduos perfeitos e discriminação ainda maior que a existente nos dias de hoje. Isso pode ser visto no filme GATTACA. Ou, pior, na História da Segunda Guerra Mundial, com Adolf Hitler.

Quanto às células-tronco, a maior polêmica refere-se às suas fontes.

Não há grandes dilemas éticos quando falamos em células-tronco adultas, ou provenientes de cordão umbilical, mas estas duas opções não são as mais vantajosas em todos os casos, nem as mais eficientes. No entanto, pesquisas tem sido encaminhadas para explorar mais esses recursos, devido a facilidade razoável de obtenção do material e a ausência de questões éticas envolvidas. As células retiradas de indivíduos adultos são as mais restritas. São em pouca quantidade, e ainda não se conhece seu total poder de diferenciação. Além disso, quando as células-tronco são usadas para a cura de doenças genéticas, a utilização de células-tronco do próprio indivíduo de nada adiantam. São necessárias células de um doador.

As células de cordão umbilical são também em pouca quantidade, portanto estocá-las para o uso da própria pessoa quando adulta pode ser inútil. É mais interessante colocá-las em bancos públicos, como se faz com sangue doado. São as mais interessantes para substituir a medula no tratamento da leucemia, e para se encontrar mais

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facilmente um doador compatível, entra novamente a vantagem do banco público.

As células-tronco embrionárias são as mais interessantes, terapeuticamente falando. São pluripotentes, ou seja, podem se diferenciar em praticamente qualquer célula do corpo humano. São, no entanto, as mais polêmicas do ponto de vista ético. Para se obter tais células-tronco é necessária a utilização de embriões humanos. E enquanto não se conseguir definir de forma clara e incontestável quando a vida se inicia, a discussão continuará. Uma das argumentações a favor dessa técnica é que, nos casos de embriões utilizados em terapias de fertilização, eles serão descartados no final por não possuírem potencial para serem implantados. Outra argumentação forte utilizada diz-se a respeito da naturalidade em descartar embriões nessa fase, pois mesmo na gravidez normal, sem intervenções médicas, embriões podem ser naturalmente descartados. No entanto, a discussão sobre até que ponto isso afeta a sociedade e o respeito pela vida humana continua, interminável.

Ética, moral e respeito pela vida humana

A discussão ética em torno disso é a “criação” de uma vida para

“matá-la” na cura de outra. Enquanto muitos defendem o início da vida na fecundação – no encontro do óvulo com o espermatozóide – existem outros que defendem que a vida se inicia na nidação – quando o embrião se fixa no útero – e outros ainda que defendem que a vida se inicia com a formação do sistema nervoso – uma vez que a morte é declarada quando o cérebro pára de funcionar.

Independente de qual razão para se impedir ou permitir a continuidade dessas pesquisas que envolvem material com potencial para formar vida, o fato é que há muitas pessoas cuja existência depende das descobertas desse campo. Por isso, enquanto essa polêmica não pode ser resolvida, seria interessante prosseguir as pesquisas com os embriões que estão aí disponíveis. E esta é a maior briga atual. Utilizar os embriões criados em clínicas de fertilização assistida, e que não mais serão usados por seus “pais”, para a pesquisa. Como o destino destes embriões seria o lixo, nada mais nobre que usá-los em pesquisas que poderão salvar muitas vidas.

A bioética recente pensa da mesma maneira. Independente do destino da discussão, os pesquisadores mais moderados procuram a solução que beneficia os pacientes, os que precisam de transplantes, os que estão perto da morte. Uma moral do bem, mal vista pelos extremistas que concordam ou discordam com as experiências nesse campo.

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É questionável o argumento dos que se opõe ao tratamento com embriões que qualquer célula humana deve ser tratada com respeito dispensado a uma pessoa. A biologia nos afirma que todas as células-tronco encontradas no corpo humano possui potencial embrionário. O maior problema moral no qual os pesquisadores irão esbarrar é na própria viabilidade das suas pesquisas, e não no dilema da clonagem narcisista de um indivíduo. Uma mulher poderia hospedar em seu corpo um embrião contendo seu próprio material genético que seria retirado ao final de certo período quando pudesse haver as células diferenciadas da qual ela necessita. É moralmente correto "recortar" as células humanas dessa maneira, a fim de se obter a cura de indivíduos existentes, inseridos na sociedade, dos quais muitos dependem e que estão imersos em sofrimento real, ao contrário do sofrimento filosófico de um embrião?

Um novo dilema moral, apenas

Apesar da aparente delicadeza do assunto que tratamos, não é uma discussão mais ou menos importante do que as que já enfrentamos como sociedade e espécie, como as levantadas pelo uso de energia nuclear, dentre outras tecnologias. Nem está além da nossa capacidade de resolução. A maior dificuldade da sociedade ocidental em aceitar essa tecnologia se encontra no fato de sacralizarmos o ato criador de vida e todas as suas etapas, como algo que não podemos interferir por se tratar de um projeto divino.

Leis de bloqueio já foram criadas, e na maioria dos países, a clonagem humana é proibida e condenada, uma medida útil para se evitar uma nova tentativa de "purificação da espécie", cujos resultados desastrosos já conhecemos. Apesar disso, a comunidade científica se ressente devido às informações erradas a respeito dessa técnica, que tem feito com que vários progressos na medicina sejam sumariamente bloqueados. Mesmo assim, sabemos que ao final da discussão, o bom senso, a generosidade e a solidariedade, inerentes ao ser humano e suas melhores características, será maior que qualquer dogma ou filosofia existente. Até lá, infelizmente essa

"saudável" e demorada discussão ética deixará a esperar milhares de pessoas cujo sofrimento tornou-se seu cotidiano, e considerando a unicidade da vida, tudo que elas têm de mais sagrado.

Bibliografia:

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Referências

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