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Prevalência de hipertensão e fatores associados em adolescentes escolares no sertão de Pernambuco

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Academic year: 2022

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Prevalência de hipertensão e fatores associados em adolescentes escolares no sertão de Pernambuco

Prevalence of hypertension and associated factors in school adolescents in the sertão of Pernambuco

Augusto Cesar Barreto Neto1, Ednaldo Cavalcante de Araújo2, Kalina Vanderlei

Paiva Silva3, Luciano Meireles de Pontes4

1Doutorando do Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, Recife, PE, Brasil. Mestre em Hebiatria, Professor Assistente do Centro Acadêmico de Vitória – CAV da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE.

2Pós-Doutorado pela Université de Sorbonne, Paris. Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPE, Centro de Ciências da Saúde, Recife, PE, Brasil.

3Doutora em História; Professora Adjunta do Programa de Pós-graduação em Hebiatria da Faculdade de Odontologia de Pernambuco – FOP, Universidade de Pernambuco-UPE.

4Doutorando do Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, Recife, PE, Brasil.

RESUMO

Objetivo: Analisar a prevalência de hipertensão arterial e fatores associados em adolescentes. Métodos: Estudo cross seccional de base populacional. A amostra foi estratificada por tipo de escola e turno e contou com 863 estudantes de 62 es- colas públicas e privadas do município de Arcoverde (PE) de ambos os sexos com idades entre 10 a 19 anos (13,6±2,6anos).

As variáveis estudadas foram: pressão arterial, por meio dos parâmetros da Task Force Report on High Blood Pressure in Children and Adolescent; estado nutricional, avaliado mediante o índice de massa corporal; fatores sociodemográficos e hábitos alimentares, analisados através de questionário e inquérito recordatório, respectivamente. Resultados: A prevalên- cia de hipertensão arterial em ambos os gêneros foi 9,8%. O sobrepeso e a obesidade apresentaram frequências de 8,8% e 2,1%, respectivamente; outros fatores não estiveram associados (p>0,05) à hipertensão (gênero, cor da pele, classe social e hábitos alimentares). Conclusão: A prevalência de hipertensão arterial nos escolares apresentou valores semelhantes a outros estudos. Os acometidos por sobrepeso e obesidades estiveram mais expostos à hipertensão.

PALAVRAS-CHAVE

Adolescente. hipertensão arterial, sobrepeso, obesidade, estudos transversais.

ABSTRACT

Objective: Analyzed the prevalence of hypertension and associated factors in adolescents. Methods: A Cross Sectional population based. The sample was stratifi ed by type of school and turn and was attended by 863 students from 62 public and private schools of Arcoverde(PE) city of both sexes with aged 10 to 19 years (13.6 ± 2.6 years). The variables were:

blood pressure by means of the parameters of the Task Force Report on High Blood Pressure in Children and Adolescent.

Nutritional status was assessed by body mass index. Socio-demographic factors and dietary habits were evaluated through a questionnaire and recall. Results: The prevalence of hypertension in both sexes was 9.8%. Overweight and obese had frequencies of 8.8% and 2.1% respectively, other factors were not associated (p> 0.05) tha hypertension (gender, ethnicity, social class and eating habits). Conclusion: The prevalence of hypertension among schoolchildren showed values similar to other studies. The affected by overweight and obesity were more susceptible to hypertension.

KEY WORDS

Adolescent. hypertension. overweight. obesity. cross-section.

Augusto Cesar Barreto Neto (augusto.barretont@ufpe.br) - Centro Acadêmico de Vitória - Universidade Federal de Pernambuco Rua do Alto do Reservatório s/n, Bela Vista CEP: 55608-680 - Vitória de Santo Antão - PE

Recebido em 06/07/2010 - Aprovado em 08/09/2010

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INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial sistêmica é uma sín- drome caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados, estando associada a altera- ções metabólicas, hormonais e a fenômenos tró- fi cos (hipertrofi a cardíaca e vascular)1. Apresenta prevalência elevada no mundo e é considera- da um dos maiores desafi os de saúde pública atualmente e um dos mais importantes fatores de risco de mortalidade cardiovascular, sendo responsável por 20% a 50% de todas as mor- tes2. Em Recife, a prevalência de hipertensão em estudantes do ensino médio, de acordo com o estudo de Gomes e Alves (2009)3, foi de 17,3%.

No Brasil, a hipertensão afeta 22% a 43,9% da população adulta e de 2% a 13% da população de crianças e adolescentes1.

Estudos realizados nos Estados Unidos de- terminam que o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral, na maioria das vezes, são provocados pela hipertensão, se estabelecen- do como as causas de óbito mais comum, o que impõe enorme custo fi nanceiro, mais de 259 bi- lhões de dólares em custos diretos ou indiretos4. Estudos têm revelado fortes indícios de que a hipertensão do adulto é uma doença que se inicia na infância e adolescência5-7, o que tem aumentado a preocupação com a avaliação da pressão arterial nesses grupos nas últimas déca- das. A hipertensão arterial usualmente é detec- tada pela avaliação rotineira da pressão arterial nos consultórios de pediatria ou hebiatria, de- vendo ser essa prática reforçada perante os pro- fi ssionais de saúde1,5.

Mesmo com os avanços das ciências da saú- de, ainda existem questões sobre a hipertensão arterial que esperam soluções e respostas, sobre- tudo nos aspectos etiológicos e fi siopatológicos que apontem formas adequadas de profi laxia e de identifi cação precoce dos futuros hipertensos8.

O presente estudo objetiva analisar a pre- valência de hipertensão arterial entre os ado- lescentes escolares no município de Arcoverde, sertão do estado de Pernambuco, e averiguar a relação da pressão arterial com fatores de risco

associados, como os aspectos socioeconômicos, demográfi cos e nutricionais.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo epidemiológico cross seccional. A população do estudo foi composta por adolescentes com idade entre 10 e 19 anos de ambos os gêneros, regularmente matricula- dos e frequentando séries do ensino fundamen- tal ou médio nas escolas públicas e privadas em área urbana e rural. O local de estudo foram 62 escolas públicas e privadas pertencentes à rede de ensino do município de Arcoverde, sertão do Nordeste brasileiro, situado a 253km do Recife, capital do estado de Pernambuco, analisadas nos meses de agosto e setembro de 2006.

O tamanho amostral foi calculado com base no programa Sample XS (Organização Mundial da Saúde, Genebra, Suíça) para apoio e plane- jamento de estudos transversais através dos se- guintes parâmetros: o total de adolescentes ma- triculados de 10 a 19 anos no ensino fundamental e médio em 2006 era 10.606; proporção de ra- pazes/moças de 50%/50%; efeito de delinea- mento amostral igual a 1,0; intervalo de confi an- ça de 95%; erro máximo tolerável de 2%; e para defi nir a prevalência estimada de pressão arterial elevada foi utilizado o estudo preliminar realiza- do em uma escola municipal, estimada em 10%.

Adicionalmente, visando a atenuar as limitações impostas por eventuais perdas na aplicação ou no preenchimento inadequado do instrumento, decidiu-se por acrescer em 10% ao tamanho da amostra, fi cando a mesma em 878 estudantes.

Após aplicação do instrumento e realização das medidas antropométricas, obteve-se uma amos- tra fi nal de 863 estudantes analisados.

Após defi nir o tamanho da amostra, os es- tudantes foram estratifi cados por idade (10 a 14 anos e 15 a 19 anos) e tipo de escola (públicas urbanas, públicas rurais e privadas) e sorteados aleatoriamente, através de partilha proporcional com o auxílio da tábua aleatória construída pelo programa EPI-Info 6.04.

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Os dados foram coletados usando-se um questionário que incluía as variáveis sociais, eco- nômicas e demográfi cas baseado no Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística-IBGE9, medi- das antropométricas (peso corporal e estatura), métodos de aferição da pressão arterial sistólica e diastólica e hábitos alimentares.

Quanto à análise da cor da pele, foi utiliza- do o critério de autodefi nição do IBGE9: bran- co, negro, pardo, índio e outros. Para análise da classe social foi utilizado o critério da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa-ABEP, o qual classifi ca a população nas classes de A a E, sendo as classes A1 e A2 classifi cadas como alta, B1 e B2 como média e C, D e E como baixa.

A aferição do peso corporal e da estatura foi feita com o adolescente da pesquisa descal- ço, utilizando-se uma balança mecânica acopla- da ao estadiômetro de marca Filizola, calibrada e aferida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) de Pernambuco, em Junho de 2006, graduada ao grama e em centímetro. Para conversão do índice de massa corporal (IMC) em estado nutricional, empregaram-se as tabelas do Centers for Disease Control and Prevention (CDC)10, segundo gênero e idade, utilizando-se os intervalos até P85, para peso normal, de P85 a P95, para sobrepeso, e maior ou igual ao P95, correspondendo à obesi- dade. O procedimento de aferição da pressão ar- terial foi realizado em ambiente controlado, com os adolescentes sentados, por meio do método auscultatório com esfi gnomanômetro de coluna de mercúrio em duas aferições com 5 a 10 minu- tos de intervalo, em um único momento, seguin- do as recomendações das V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial1 e do The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adoles- cents de 200411. Para o grupo etário de 10 a 17 anos, considerou-se hipertensão arterial quando a pressão arterial sistólica ou diastólica foi igual ou maior que a encontrada no P95 das tabelas de referência do Task Force Report High Blood Pressure in Children and Adolescents, de 199612,

para idade e gênero correspondentes, ajustado para o percentil de estatura do avaliado. Para os alunos com idades entre 18 e 19 anos foram considerados, como parâmetro, os valores admi- tidos para adultos jovens.

Os hábitos alimentares foram avaliados através de um recordatório semanal com base nos alimentos mais representativos para o con- sumo, categorizado por frequência de consumo em: não come, correspondendo a zero ponto;

uma vez, correspondendo a um ponto; duas vezes, correspondendo a dois pontos; três a quatro vezes, correspondendo a três pontos; e cinco vezes ou mais correspondendo a quatro pontos, baseado no estudo de Carvalho et al.13. Os alimentos foram agrupados nas categorias de construtores, energéticos e reguladores, tendo sido calculada a ingestão semanal por meio da soma dos componentes integrantes de cada um dos três grupos e analisados segundo os parâ- metros do Ministério da Saúde14.

A tabulação dos dados foi efetuada com o programa Epidata versão 3.1, um sistema de domínio público, com o qual também foram realizados os procedimentos eletrônicos de controle de entrada de dados. A fi m de detec- tar erros, a entrada de dados foi repetida e, por meio da função de comparação de arquivos duplicados, os erros de digitação foram detec- tados e corrigidos. As análises estatísticas fo- ram realizadas com o auxílio do programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences, 13.0).

Todas as variáveis foram testadas, quanto a sua normalidade, para análise de associação utili- zando-se o teste qui-quadrado de independên- cia, incluindo a obtenção de odds ratio (OR) em nível de signifi cância de 5%. Também foi utili- zado o teste t de Student para comparação da média da pressão arterial entre gênero, idade, cor da pele, classe econômica, tipo de escola e estado nutricional. O estudo foi submetido ao comitê de ética em pesquisa com seres huma- nos da Universidade de Pernambuco para aná- lises de seus aspectos éticos, sendo aprovado sob o protocolo nº 037/06.

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Tabela 1

DISTRIBUIÇÃO QUANTO À MÉDIA DA PRESSÃO ARTERIAL SISTÓLICA E DIASTÓLICA EM MMHG DA PRIMEIRA E SEGUNDA MEDIDA DE ACORDO COM GÊNERO, IDADE, COR DA PELE, CLASSE ECONÔMICA, TIPO DE ESCOLA E ESTADO NUTRICIONAL DE 863 ESCOLARES NO MUNICÍPIO DE ARCOVERDE, AGOSTO/SETEMBRO DE 2006

Primeira Medida Segunda Medida

Média Sistólica ± DP (mmHg)

Média Diastólica ± DP (mmHg)

Média Sistólica ± DP (mmHg)

Média Diastólica ± DP (mmHg) Gênero

Masculino 387 (44,8%) 108,6±16,5 70±12,2 106,3±15,6 69±10,8

Feminino 476 (55,2%) 104,8±14 68,8±10,8 102,6±13,6 67,3±10,4

Idade

10 a 14 anos 549 (63,6%) 101,3±13,3 66,1±10,3 99,2±12,9 65±9,9

15 a 19 anos 314 (36,4%) 115,6±14,1 75±11,3 113±13,2 73,4±9,7

Cor da pele

Brancos 318 (36,8%) 106,2±14 68,9±11 103,9±14 68,1±9

Negros 120 (14%) 104,6±15 68,4±11 102,6±14 66,7±11

Pardos 363 (42%) 107,6±15 70,1±11 105,4±15 68,6±11

Indígenas 62 (7,2%) 105,2±13 69,1±9 102,6±12 67,7±9

Classe Econômica

Alta 17 (2,0%) 105,1±12,4 72,3±8,8 104±11,1 70,7±8,4

Média 139 (16,1%) 105,1±14 68,8±10,1 103±13,1 67,6±10

Baixa 707 (81,9%) 106±15,5 69,4±11,8 104,5±15 68,1±10,8

Tipo de escola

Pública urbana 596 (69,1%) 106,4±16,1 69,3±12,5 104,1±15,4 68±11,4

Privada 166 (19,2%) 104,6±13,2 68,7±8,9 102,1±12,3 67,5±8,6

Pública Rural 101 (11,7%) 110,1±12,8# 70,4±8,6 108,6±12,1# 69,2±8,1

Condições nutricionais

Baixo peso 47 (5,5%) 98,8±13,3 63,7±10,3 97,4±14,1 63,1±9,5

Eutrófi co 722 (83,6%) 106,0±15,1 68,8±11,3 103,7±14,1 67,6±10,4

Sobrepeso 76 (8,8%) 113,6±15,1* 75,2±10,2* 110,7±13,8* 72,9±10,3*

Obesidade 18 (2,1%) 115,3±13,9* 79,5±10,5* 115,2±13,9* 77,4±10,3*

Os resultados são expressos em média e desvio padrão

† Vs 10 a 14 anos.

* Vs Eutrófi co e Baixo Peso.

# Vs Pública Urbana e Privada.

(T teste, p< 0,05)

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Tabela 2

DISTRIBUIÇÃO QUANTO À PROPORÇÃO DAS CONDIÇÕES DA PRESSÃO ARTERIAL DE ACORDO COM IDADE, GÊNERO, COR DA PELE, USO DE DROGAS, CLASSE ECONÔMICA, LOCAL DE RESIDÊNCIA E CONSUMO ALIMENTAR DE 863 ESCOLARES NO MUNICÍPIO DE ARCOVERDE, AGOSTO/SETEMBRO DE 2006

Condições da Pressão Arterial Normal

(n=779)

Hipertenso

(n=84) P OR (IC95%)

Idade <0,001 3,03 (1,91-4,81)

10 a 14 516 (94%) 33 (6,0%)

15 a 19 263 (83,8%) 51 (16,2%)

Gênero 0,218 0,75 (0,48-1,18)

Masculino 344 (88,9%) 43 (11,1%)

Feminino 435 (91,4%) 41 (8,6%)

Cor da pele 0,156 1,42 (0,87-2,32)

Branco 293 (92,1%) 25 (7,9%)

Não Branco 486 (89,2%) 59 (10,8%)

Uso de drogas* 0,214 0,61 (0,27-1,34)

Sim 48 (85,7%) 8 (14,3%)

Não 727 (90,8%) 74 (9,2%)

Classe Econômica-ABEP 0,532

Alta 15 (88,2%) 2 (11,8%)

Média 129 (92,8%) 10 (7,2%)

Baixa 635 (89,8%) 72 (10,2%)

Local de Residência 0,822 0,93 (0,5-1,73)

Urbana 651 (90,2%) 71 (90,8%)

Rural 128 (9,8%) 13 (9,2%)

Consumo Alimentar

(alimentos construtores) 0,21 0,66 (0,35-1,26)

Consumo Alto 205 (91,5%) 19 (8,5%)

Consumo Baixo 165 (87,8%) 23 (12,2%)

Consumo alimentar

(alimentos energéticos) 0,86 0,94 (0,51-1,74)

Consumo Alto 222 (91,7%) 20 (8,3%)

Consumo Baixo 274 (91,3%) 26 (8,7%)

Consumo alimentar

(alimentos reguladores) 0,49 0,69 (0,23-2,03)

Consumo Alto 753 (90,4%) 80 (9,65)

Consumo Baixo 26 (86,7%) 4 (13,3%)

Total 779 (100%) 84 (100%)

*Seis estudantes não responderam à questão

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RESULTADOS

A amostra fi nal foi constituída por 863 es- colares, com idades de 10 a 19 anos e média de 13,6 ± 2,6 anos, sendo 44,8% (n=387) do gênero masculino e 55,2% (n=476) do gênero feminino.

A hipertensão arterial esteve presente em 14% na primeira medida, 10,2% na segunda e 9,8% na média. A análise dos questionários de- monstrou que os escolares com hipertensão ar- terial não se encontravam em uso de drogas que tivessem associação com a elevação da pressão arterial nem possuíam, no momento da investi- gação, diagnóstico de doenças que cursam com hipertensão arterial.

Em relação à prevalência de hipertensão ar- terial, não foram observadas diferenças estatis- ticamente signifi cativas antes entre os gêneros, cor da pele, classe social e hábitos alimentares.

No presente estudo as idades foram sepa- radas em adolescência prévia (10 aos 14 anos) e tardia (15 aos 19 anos), com 64% (n=549) e 36% (n=314), respectivamente. Entre os ado- lescentes hipertensos, a proporção dos adoles- centes em idade tardia (58%) foi maior que os adolescentes em idade prévia (42%), teste qui- quadrado (p=0,025).

As Tabelas 1 e 2 mostram que o aumento da idade infl uenciou (p<0,001) na elevação da média e da proporção da hipertensão arterial.

Quanto ao tipo de escola, as médias das pres-

sões arteriais sistólicas nas duas aferições se apresentaram mais elevadas na escola pública da zona rural (p<0,05).

A Tabela 3 demonstra a associação signifi - cativa (p<0,05) dos escolares com sobrepeso e obesos com a hipertensão arterial. Entre os es- colares que apresentaram hipertensão, não foi constatado haver adolescentes com grau de bai- xo peso identifi cado pelo IMC. Quanto ao risco de hipertensão arterial, a condição de sobrepeso representou um risco de 2,03 vezes maior (OR=

2,03; IC95%: 1,04-3,96) e a obesidade 6,89 vezes maior (OR=6,89; IC95%: 2,58-18,38), quando comparado aos alunos com condições nutricionais normais.

DISCUSSÃO

A prevalência de hipertensão arterial no pre- sente estudo foi de 9,8%, percentual semelhante aos relatados em estudos nacionais e internacio- nais, nos quais as prevalências variaram de 5%

a 17%1,2,4,5,6,11. É certo que as doenças cardiovas- culares são atualmente responsáveis por 32% do total de óbitos no Brasil em adultos e por mais de um milhão de internações por ano no Sistema Único de Saúde (SUS), tendo a hipertensão arte- rial como um de seus principais fatores de risco1. No Brasil, aproximadamente 70% da população tem hipertensão arterial atribuível a sobrepeso ou Tabela 3

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SEGUNDO A CONDIÇÃO NUTRICIONAL DE 863 ESCOLARES NO MUNICÍPIO DE ARCOVERDE, AGOSTO/SETEMBRO DE 2007

Estado nutricional Classifi cação pressão arterial (%)

Valor de p* OR (IC95%)

Hipertenso Normotenso Total

Eutrófi co 8,4 91,6 100,0 < 0,001** 1,00

Sobrepeso 15,8 84,2 100,0 2,03 (1,04-3,96)

Obesidade 38,8 61,2 100,0 6,89 (2,58-18,38)

*uso do teste de qui-quadrado de Pearson. **Associação signifi cante em nível de 5%. † Odds Ratio.

# Odds Ratio ajustado para idade, gênero, classe econômica e cor da pele

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obesidade, com total de hipertensos estimados em mais de 16 milhões de pessoas1,14, sendo o ex- cesso de peso um dos principais fatores de risco para hipertensão arterial.

Estudos norte-americanos mostram que a hipertensão arterial atinge cerca de 30% da po- pulação adulta11,15, sendo responsável direta por 9,1% das mortes, 6,5% das internações domici- liares e 3,4% das internações hospitalares para pessoas entre 25 e 74 anos.

Em 2004, o National High Blood Pressure Education Program Working Group on Children and Adolescents11 publicou o The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents, defi nindo que aquelas pessoas com pressão sis- tólica superior a 120mmHg e diastólica superior a 80mmHg, independentemente da idade, deve- riam ser consideradas pré-hipertensos e orienta- das para a mudança de estilo de vida.

Quanto à associação da idade em relação à hipertensão arterial, o presente estudo corro- bora com dados da literatura nacional e interna- cional, os quais relatam que o aumento da idade está diretamente relacionado com a proporção da elevação da pressão arterial11,16. O aumento da prevalência de níveis tensionais nas faixas etárias mais elevadas é esperado, já que a hiper- tensão essencial tende a ser mais prevalente na adolescência tardia e na idade adulta.

Quanto ao tipo de escola, observa-se que os adolescentes da zona rural apresentavam médias sistólicas mais elevadas que os da área urbana. Quando realizada a análise dos dados alimentares por grupos alimentares não foi ob- servado nenhum resultado estatisticamente sig- nifi cativo; porém quando se realizou uma aná- lise independente para cada tipo de alimento constatou-se uma ingestão de carne em maior quantidade pelos adolescentes das escolas da área rural, 3,4 vezes por semana contra 3,1 das escolas privadas urbana e 2,8 das escolas públi- cas urbanas (p< 0,05), nas quais a carne muitas vezes era ingerida com excesso de sal, pois ain- da é comum encontrar na área rural do sertão do Nordeste brasileiro moradias sem sistema de

refrigeração própria e, como forma de conserva- ção dos alimentos proteicos, faz-se o uso do sal e a secagem do alimento, desidratando-o, que então, através disso, pode ser conservado por longos períodos. O aumento da média da pres- são arterial na área rural não esteve associado às condições nutricionais, pois o IMC foi signifi cati- vamente maior na área urbana.

Em relação à maior prevalência de hiperten- são arterial sistêmica entre adolescentes com so- brepeso ou obesidade, os resultados da presente pesquisa assemelharam-se aos de outros estudos epidemiológicos, nacionais e internacionais, os quais demonstram correlação direta com a pres- são arterial em importantes estudos1,7,11,12,16.

Estudos longitudinais em populações adul- tas têm demonstrado que o ganho de peso ex- cessivo está fortemente associado ao risco de doenças cardiovasculares7,20. Tem sido também reconhecido que esses problemas no adulto têm origem na infância.

Sinaiko et al.18, em estudo prospectivo nos quais 679 crianças foram acompanhadas até a idade de 23 anos, com medidas seriadas de pressão arterial e medidas antropométricas, de- monstraram que o ganho de peso e o aumento do IMC durante a infância estiveram signifi cati- vamente associados aos altos níveis de insulina, lipídeos e à pressão arterial dos adultos jovens.

Em um grande estudo multicêntrico realiza- do nos Estados Unidos, Rosner et al. (2000)19 estudaram as diferenças na pressão arterial de crianças e de adolescentes, considerando-se es- pecialmente a cor da pele e o IMC. Os autores mostraram que, entre as crianças, as de pele branca apresentavam níveis mais elevados de pressão arterial sistólica. Quando o papel do IMC foi estudado, demonstrou-se que os maio- res níveis de IMC resultavam em níveis mais ele- vados de pressão arterial em todos os grupos.

Entretanto, o IMC pareceu exercer mais infl uên- cia sobre a pressão arterial sistólica das crianças brancas do gênero masculino.

O excesso de peso é um dos mais comuns problemas nutricionais na infância e adolescên- cia nos países desenvolvidos. Muitos dos eventos

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típicos da idade adulta associados ao excesso de peso, tais como hipertensão, diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertrofi a ventricular esquerda, esteatose hepática, entre outros, já estão sendo diagnosticados na faixa etária pediátrica.

Embora o presente estudo transversal te- nha limitações, chama-se a atenção sobre a im- portância da monitoração do peso corporal, da estatura e da pressão arterial rotineira dos es- colares para a identifi cação precoce de fatores de risco como excesso de peso e hipertensão arterial na prevenção de eventos cardiovascula- res futuros, sendo esta abordagem ainda negli- genciada em nosso meio. Estudo de fatores de risco de doença cardiovascular desenvolvido em escolares na cidade de Belo Horizonte mostrou que menos de 50% dos participantes da pes- quisa (média de idade de 11,5 anos) já haviam sido submetidos anteriormente a alguma medi- da da pressão arterial20. Esta observação chama a atenção para a necessidade de se estabelecer a mensuração da pressão arterial como parte inte- grante dos exames médicos3.

Deve ser ressaltada, nos municípios brasi- leiros, a necessidade das mensurações periódi- cas da pressão arterial das crianças e dos ado- lescentes entre os profi ssionais de saúde, tanto na prática hospitalar como na assistência básica à saúde, com o objetivo de identifi car precoce-

mente fatores de riscos determinantes de hiper- tensão arterial na faixa etária pediátrica e, com isso, diminuir a incidência de problemas cardio- vasculares no futuro. Desta forma, pode-se con- tribuir para a prevenção da epidemia de doen- ças cardiovasculares atualmente conhecidas.

CONCLUSÃO

Portanto, fi ca evidente a prevalência de hipertensão arterial e excesso de peso entre os escolares analisados, podendo implicar em dis- túrbios nutricionais e doenças cardiovasculares na vida adulta. Este estudo poderá servir de sub- sídio para as Secretarias da Educação e de Saúde desenvolverem projetos de instituição de ali- mentação escolar adequada, de implantação de programas de saúde do adolescentes-PROSAD para intervir diretamente na redução de incidên- cias desses fatores, de inclusão de estudos sobre os fatores de risco para doenças cardiovascu- lares no conteúdo programático, que poderão estimular os adolescentes a exercerem seu papel de modifi cadores de comportamento na família e na comunidade e ampliar estudo com inclusão da área rural e também servir de apoio para pes- quisas posteriores, principalmente aquelas volta- das para o sertão do Nordeste brasileiro.

REFERÊNCIAS

1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2006. São Paulo, 2006. Disponível em: http://departamentos. cardiol.br/dha/publicações/ consenso5/consen.asp. Acesso em: 16 fev. 2007.

2. World Health Organization - Expert Committee on Hypertension Control: Hypertension Control. Report of a WHO Expert Committee, WHO Technical Report Series. Geneva, 862: 1-83, 1996.

3. Gomes BMRi, ALVES JGB. Prevalência de hipertensão arterial e fatores associados em estudantes de Ensino Médio de escolas públicas da Região Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, 2006. Cad. Saúde Pública; 25, 2: 375-381, 2009.

Agradecimentos:

Agradecemos à Fundação de Amparo à Ciência do Estado de Pernambuco-FACEPE pelo apoio fi nanceiro em concessão de bolsa de mestrado, à direção da Faculdade de Enfermagem de Arcoverde-FENFA pelo uso dos equipamentos e aos alunos da graduação em enfermagem-FENFA envolvidos no estudo.

Este estudo foi desenvolvido a partir do projeto de dissertação do mestrado em Hebiatria: “Perfi l Social da Hipertensão Arterial em Adolescentes Escolares no Sertão de Pernambuco” apresentada à Faculdade de Odontologia de Pernambuco-UPE como requisito para obtenção do grau de mestre.

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