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A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E A EDUCAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

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Academic year: 2022

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Anais do V Seminário de Pós-Graduação – V SIMPÓS. V.5, 2018.

A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E A EDUCAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Marieles da SILVEIRA1 , Paula Teixeira NAKAMOTO 2

RESUMO: Este estudo de abordagem qualitativa buscou refletir sobre a relação entre a educação da pessoa com deficiência e a educação profissional. Procuramos saber, como se deu a trajetória histórica da educação profissional e da educação da pessoa com deficiência. Os objetivos que nortearam o estudo foram; analisar a relação educação profissional/educação da pessoa com deficiência com base na legislação brasileira numa perspectiva histórica e apresentar uma contextualização teórica sobre educação profissional na perspectiva da educação inclusiva. Acreditamos que tal estudo se mostra relevante pela necessidade de refletirmos sobre a educação para o trabalho dos indivíduos com deficiência, no sentido de colaborar para o processo inclusivo desses sujeitos nessa modalidade de educação. A oferta de cotas para pessoa com deficiência, a estruturação de núcleos de atendimento a esses alunos - os NAPNEs e os Núcleos de Acessibilidade - bem como as adaptações arquitetônicas são exemplos de ações que facilitam o acesso e permanência destes alunos. Entretanto, educação profissional para a pessoa com deficiência, além de formar para o mercado de trabalho deve promover ampla participação social, para tanto, é fundamental oferecer um "ensino de qualidade" que reconheça e valorize a diferença.

Palavras-chave: Ensino profissional. Estudante com deficiência. Educação inclusiva.

(1) Mestranda em Educação Profissional e Tecnológica, Instituto Federal do Triângulo Mineiro – IFTM, Campus Avançado Uberaba Parque Tecnológico, Uberaba – MG;

marielessilveira@hotmail.com

(2)Doutora em Ciências, Instituto Federal do Triângulo Mineiro, – IFTM, Campus Avançado Uberaba Parque Tecnológico, Uberaba – MG; paula@iftm.edu.br

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Anais do V Seminário de Pós-Graduação – V SIMPÓS. V.5, 2018.

THE PROFESSIONAL EDUCATION AND THE EDUCATION OF A DISABLED PERSON

ABSTRACT: This qualitative approach study tried to reflect about the relationship between the education of a disabled person and the professional education. We learned the historical trajectory of the professional education and the education of a disabled person. The objectives that guided this study were: analyze the relation professional education/ education of a disabled person based on the Brazilian legislation in historical perspective of the inclusive education. We believe that such study is relevant because of the need to reflect about the education to the work of those who have disability, with the idea of collaborate to the inclusive process of the ones in this type of education. The offer of quotes to people with disability, the structuration of Assistance Pole for these students – the NAPNEs and the Accessibility Pole – as well as the architectural adaptations are examples of actions that makes the access easier and also their permanence. However, professional education for a disabled person has to not only prepare for the market but also promote wide social participation, so, it is vital to offer a “high quality teaching” that recognizes and praises the difference.

Keywords: Professional education, Disabled student, Inclusive education.

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Anais do V Seminário de Pós-Graduação – V SIMPÓS. V.5, 2018.

INTRODUÇÃO

A educação profissional, em sua origem no Brasil era reservada às camadas mais pobres da população. Historicamente, estabeleceu-se que a educação profissional era de cunho assistencialista e se direcionava às ocupações manuais e manufatureiras, e que o ensino secundário, considerado ensino propedêutico, era voltado às elites, a quem estava resguardado os estudos superiores, configurando a dualidade no sistema educacional brasileiro.

Do mesmo modo, a educação do indivíduo com deficiência também nasceu revestida de uma perspectiva assistencialista. As pessoas com deficiência fazem parte de grupos que sempre foram discriminados ou que sofrem algum tipo de preconceito por apresentarem diferenças acentuadas, se comparadas à maioria das pessoas.

Diversas foram as transformações que aconteceram no âmbito educacional durante o percurso histórico tanto da educação profissional como da educação da pessoa com deficiência.

Atualmente, o paradigma da educação inclusiva tem promovido importantes movimentos sociais e ações políticas no sentido de ampliar o debate sobre uma educação de qualidade para todos.

Nesse sentido, a educação profissional acredita que reconhecer e acolher as diferentes capacidades e necessidades de aprendizagem; bem como respeitar características como sexo, idade, herança étnica e cultural, situação familiar e econômica são aspectos fundamentais para a qualidade da preparação para o trabalho (BRASIL, 1999).

Nesse estudo faremos uma reflexão sobre a relação entre a educação da pessoa com deficiência e a educação profissional. Procuramos saber como se deu a trajetória histórica da educação profissional e da educação da pessoa com deficiência. Para tanto, tivemos como objetivos; analisar a relação educação profissional/educação da pessoa com deficiência com base legislação brasileira numa perspectiva histórica e apresentar uma contextualização teórica sobre educação profissional na perspectiva da educação inclusiva.

Acreditamos que procurar entender como se deu a trajetória histórica da educação profissional e da pessoa com deficiência se mostra relevante pela necessidade de refletirmos sobre a educação para o trabalho desses indivíduos, no sentido de colaborar para o processo inclusivo desses sujeitos nessa modalidade de educação.

METODOLOGIA

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A metodologia usada para este estudo é de natureza qualitativa e tem um caráter exploratório. Para Gatti e André (2011) a pesquisa qualitativa atende aos objetivos de grande parte das investigações no campo da educação. Consideram, que:

O uso dos métodos qualitativos trouxe grande e variada contribuição ao avanço do conhecimento em educação, permitindo melhor compreensão dos processos escolares, de aprendizagem, de relações, dos processos institucionais e culturais, de socialização e sociabilidade, do cotidiano escolar em suas múltiplas implicações, das formas de mudança e resiliência presentes nas ações educativas (GATTI; ANDRÉ, 2011, p. 34).

Como técnicas de coleta dos dados utilizamos pesquisa bibliográfica e pesquisa documental. Os dados foram tratados a partir da análise do conteúdo documental, para isso, foi organizada uma pré-análise onde se escolheu e preparou o material para análise. Em seguida, deu-se início a exploração do material que resultou na escolha das unidades, na enumeração e na classificação. Posteriormente, foram efetuadas inferências finalizando com a elaboração de abordagem dos aspectos elencados.

A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: breve percurso histórico

Uma análise da história da educação profissional no Brasil, mostra que até o século XIX não existia propostas educacionais sistemáticas, percebe-se registros de um de modelo de aprendizagem dos ofícios manufatureiros voltada às camadas menos favorecidas da sociedade e uma educação propedêutica voltada às elites (BRASIL, 2008a).

Assim, os primeiros registros de decisões direcionadas ao trabalho foram isoladas, e claramente de caráter assistencialista, para o amparo aos "órfãos e desvalidos da sorte". A criação em 1808, pelo Príncipe Regente, futuro D. João VI, do Colégio das Fábricas, pode ser considerado como o início da educação profissional no Brasil (BRASIL, 1999).

Os primeiros indícios de educação para pessoa com deficiência no Brasil, remonta ao século XVI, e teve como precursores médicos e pedagogos que acreditando na possibilidade de educação desses sujeitos, “desenvolveram seus trabalhos em bases tutoriais, sendo eles próprios os professores de seus pupilos” (MENDES, 2006, p. 387).

Desde a colonização “as diferenças individuais mais evidentes foram inspirando acolhimento, em locais às vezes mais, às vezes menos educativos, quer em hospitais juntos aos doentes, quer em asilos com outros desvalidos – crianças abandonadas, órfãos, pobres”, o que demonstra nessa fase, o descaso do poder público com a educação popular e nesse contexto,

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também com a educação da pessoa com deficiência (JANNUZZI, 2012, p. 56).

No período que compreende o século XVI até 1930 houve tentativas de institucionalização da educação do deficiente. Entretanto, foi no século XIX, que o atendimento educacional a pessoa com deficiência se deu forma incipiente, com a organização de ações isoladas de iniciativas governamentais e da sociedade civil. A fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, atualmente Instituto Benjamin Constant (IBC) em 1854, foi a primeira providência nesse sentido, seguida pela criação em 1857, do Imperial Instituto dos Surdos- mudos, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) (JANUZZI, 2012).

Desde seu início, estas instituições caracterizaram-se como estabelecimentos educacionais com vistas à "educação literária e o ensino profissionalizante". As ações direcionadas ao ensino de trabalhos manuais, ocorria na tentativa de garantir-lhes um meio de subsistência. Em ambos os Institutos, algum tempo depois da inauguração, foram instaladas oficinas para aprendizagem de ofícios. Nelas se ensinava tipografia e encadernação para os meninos cegos e tricô para as meninas cegas; e sapataria, encadernação, pautação e douração para os meninos surdos (MAZZOTTA, 2011).

Em 1909, Nilo Peçanha, à época presidente do país, cria pelo Decreto nº 7.566/1909, as Escolas de Aprendizes Artífices, que geralmente se localizaram nas capitais dos estados da República e eram destinadas ao ensino profissional primário gratuito. Tal empreendimento se constituiu historicamente no início de uma política nacional do Governo Federal no campo do ensino de ofícios.

As Escolas de Aprendizes Artífices, – precursoras das escolas técnicas estaduais e federais – tinham “a finalidade moral de repressão: educar pelo trabalho, os órfãos, pobres, e desvalidos da sorte, retirando‐os das ruas”, caracterizando‐se como política pública moralizadora da formação do caráter pelo trabalho (KUENZER, 2007, p. 27). Estas escolas exigiam dos seus candidatos, condições para a matrícula, como mostra o artigo 6º do decreto supracitado:

Art. 6º. Serão admitidos os indivíduos que o requererem dentro do prazo marcado para a matrícula e que possuírem os seguintes requisitos, preferidos os desfavorecidos da fortuna:

a) idade de 10 anos no mínimo e de 13 anos no máximo;

b) não sofrer o candidato moléstia infectocontagiosa, nem ter defeitos que o impossibilitem para o aprendizado do ofício (DECRETO, 7566/1909, grifo nosso).

Assim, os órfãos com anomalias, mas cuja limitação não comprometia o exercício da atividade manual eram encaminhados para a Escola de Aprendizes e Artífices, enquanto os mais comprometidos permaneciam junto aos adultos, nos locais mantidos pelas Santas Casas para

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doentes e alienados. Nesse sentido, a educação para as pessoas com deficiência somente foi pensada por ser um modo de isentar o Estado da dependência desses cidadãos e assim diminuir gastos com hospitais, asilos e manicômios (JANUZZI, 2012).

Nas primeiras décadas do século XX, devido ao gradual processo de industrialização, a formação profissional deixa de preocupar-se com o atendimento aos menores abandonados e passa a preparar operários para o exercício profissional. Nesse mesmo período, o Estado não promoveu novas ações para as pessoas com deficiência e apenas expandiu, de forma modesta e lenta, os institutos de cegos e surdos para outras cidades. Estas instituições – as escolas especiais – que se dedicam ao atendimento específico de uma deficiência, consolidaram um ensino segregacionista para esses sujeitos.

Durante muito tempo vigorou o pressuposto de que a segregação escolar, permitiria melhor atender as necessidades educacionais diferenciadas dos alunos com deficiência. Dessa forma, tradicionalmente, a história da educação especial aconteceu de forma paralela ou independente dos movimentos da educação regular (MENDES, 2010).

A Lei nº 378/37 transformou as Escolas de Aprendizes e Artífices em Liceus Industriais, destinados ao ensino profissional de todos os ramos e graus. Com essa mudança alterou-se os objetivos das escolas de Artífices, pois o novo contexto da indústria nacional exigia profissionais cada vez qualificados. E em 1942, o Decreto nº 4.127, transforma os Liceus Industriais em Escolas Industriais e Técnicas, passando a oferecer a formação profissional em nível equivalente ao secundário.

As grandes reformas na educação brasileira deram ao ensino os princípios de laicidade, liberdade e gratuidade, com o intuito de democratizar a educação, com base em uma cultura geral comum, em que se possibilitasse especializações para áreas de humanidades e ciências ou de cursos de caráter técnico. Entretanto, "a inserção da educação da pessoa com deficiência na política educacional brasileira ocorreu somente no final dos anos 1950 e início de 1960 do século XX" (MAZZOTTA, 2011).

A Lei Federal nº 4.024/61, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional equiparou o ensino profissional, do ponto de vista da equivalência e da continuidade de estudos, ao ensino acadêmico, acabando a dualidade entre ensino para “elites condutoras do país” e ensino para “desvalidos da sorte”, ao menos nos seus aspectos formais. Essa mesma lei reafirmava os direitos das pessoas com deficiência à educação, indicando em seu artigo 88 que, para integrá-los na comunidade, sua educação deve "dentro do possível" ocorrer no sistema

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geral de educação.

Diante do déficit de iniciativas concretas do Estado, a sociedade civil criou organizações voltadas para a assistência nas áreas de educação e saúde. Na década de 1950, houve uma expansão no número de estabelecimentos de ensino especial para a deficiência intelectual, tendo como um dos marcos, a fundação da primeira escola da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), no Rio de Janeiro, em 1954 (JANUZZI, 2012).

Nesse contexto, a Sociedade Pestalozzi, cujas as bases psicopedagógicas se assentava nas propostas de Helena Antipoff, foi pioneira na orientação pré-profissionalizante de jovens deficientes mentais e responsável pela instalação das primeiras Oficinas Pedagógicas no Brasil.

Tais oficinas ofereciam experiências na área de trabalhos rurais, artesanais, marcenaria, cerâmica e trabalhos manuais (MAZZOTTA, 2011).

A Lei nº 5.692/71, que fixa as diretrizes e bases do ensino de 1º e 2º graus, tem como objetivo "proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania".

Também fez alterações sobre o ensino médio, que passou a ser obrigatoriamente profissionalizante em todo território nacional. Entretanto a Lei nº 7.044/82, tornou facultativa a profissionalização no ensino de segundo grau.

Apenas na década de 1970, foi ocorrer a institucionalização da educação especial, com a criação do Centro Nacional de Educação Especial (Cenesp) pelo Decreto nº 72.425/73, que se constituiu no primeiro órgão educacional do governo federal, responsável pela definição da política de educação especial (MAZZOTTA, 2011).

Esse período coincidiu com o auge da hegemonia da filosofia da “normatização e integração” no contexto mundial, que orientava a ideia de inserção escolar dos alunos com deficiência em escolas comuns. Nos 30 anos seguintes tivemos uma política regida pelo princípio da “integração escolar”, tal princípio entendia que os alunos com deficiência poderiam ser gradativamente preparados para frequentarem a escola regular. “O aluno, deveria adaptar- se à escola, e não havia necessariamente uma perspectiva de mudança na escola para acomodar uma diversidade cada vez maior de alunos” (MITTLER, 2003, p. 34).

A Constituição Federal (1988), tratou a educação profissional e tecnológica de maneira generalista. Entretanto, em vários aspectos contempla às necessidades das pessoas com deficiência. Além do ensino fundamental, em caráter obrigatório e gratuito para todos, é colocado como dever do Estado o oferecimento de programas suplementares necessários ao atendimento do educando nesse nível da escolarização. É também assegurado,

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preferencialmente na rede regular de ensino, o atendimento educacional especializado à pessoa com deficiência.

Nessa mesma época, nos Estados Unidos, reflexões e questionamentos sobre a lógica de funcionamento das escolas para atender o público alvo da educação especial deu início ao movimento denominado inclusão escolar. Assim, a partir da década de 1990, com a participação do país em movimentos internacionais como a Conferência Mundial sobre Educação para Todos (1990), a Conferência Mundial sobre as Necessidades Educativas Especiais (1994), aponta-se a inclusão como um avanço em relação a integração, pois a inclusão defende a construção de um sistema educacional único de qualidade para todos os sujeitos (MENDES, 2006).

Também nesse período, a globalização que provocou transformações no campo da economia e do trabalho evidenciou a "necessidade" de reformas nos sistemas educacionais, com a justificativa de que proporcionar à população um mínimo conhecimento para sua inserção na sociedade atual. Desse modo, a educação profissional também passou a ocupar lugar de destaque na reforma educacional vigente. "Sabe-se que a economia globalizada tem necessidade de profissionais com perfil de desempenho diferente do tradicional, impondo a exigência de incorporação de novas habilidades e capacidades, atribuindo ao setor educacional realizar este milagre" (GOHN, 2011 p. 96).

É nesse contexto, que o governo brasileiro regido por políticas neoliberais, mas, sob pressão dos movimentos sociais para a implementação de políticas sociais preceituadas na Constituição de 1988, aprovou a Lei nº 8.213/91, uma política pública afirmativa, voltada a inserir pessoas com deficiência no trabalho. Conhecida como Lei de Cotas, em seu artigo 93, tornou obrigatória a contratação de um percentual proporcional de pessoas com deficiência em empresas que tivessem mais de cem empregados.

A partir daí a necessidade de qualificação da pessoa com deficiência para suprir as cotas nas empresas e a propagação do discurso de inclusão social, contribuíram para o debate sobre as políticas e os programas de formação para o trabalho direcionado a esses indivíduos. Além disso, colaboraram para o fortalecimento de iniciativas para a organização de programas direcionados à inclusão da pessoa com deficiência na educação profissional.

A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96, estabelece que a

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educação especial e a educação profissional são modalidades de ensino tanto da educação básica quanto da educação superior. A mesma lei, em seu Capítulo V, nos artigos 58 e 59 salienta que a educação da pessoa com deficiência deve ser oferecida, preferencialmente na rede regular de ensino e que os sistemas de ensino devem asseguram a esses alunos, a educação especial para o trabalho (BRASIL, 1996).

Observa-se, a partir da Constituição Federal (1988) e da LDB (1996), um significativo aumento no número de normas e dispositivos legais, que proporcionaram um novo impulso à legislação educacional nacional, principalmente no que concerne à educação inclusiva.

Entende-se nesse contexto, a educação inclusiva como um processo de reestruturação das escolas, com o objetivo de assegurar que todos os alunos possam ter acesso às oportunidades educacionais e sociais que a escola oferece (MITTLER, 2003).

Atualmente a Educação Profissional e Tecnológica é no âmbito do sistema federal de ensino, denominada Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, vinculada ao Ministério da Educação e constituída pelas seguintes instituições: Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia - Institutos Federais; Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR; Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca - CEFET- RJ e de Minas Gerais - CEFET-MG; Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais; e Colégio Pedro II (BRASIL, 2008b).

A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, deve seguir as normativas gerais que orientam a educação básica. Dessa forma, conforme o artigo 12 da Resolução nº 02 de 11 de setembro de 2001 da Câmara da Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE), a educação profissional deve:

[...] assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, equipamentos e mobiliário – e nos transportes escolares, bem como de barreiras nas comunicações, provendo as escolas dos recursos humanos e materiais necessários.

Para atendimento a essas demandas, deve-se recorrer a Educação Especial. Assim, a Política de Educação Especial tem o desafio de desenvolver propostas pedagógicas que visem assegurar as condições de ingresso e participação efetiva dos estudantes com deficiência. A educação especial é uma modalidade de ensino que deve perpassar todos os níveis, etapas e modalidades (BRASIL, 2008b). Dessa forma, em todo o processo de educação, ao estudante que possui alguma deficiência, devem ser disponibilizados ações, serviços e recursos que possibilitem o aprendizado bem como a permanência desses alunos nas instituições de ensino.

Para a educação profissional, "as ações da educação especial possibilitam a ampliação

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de oportunidades de escolarização, formação para ingresso no mundo do trabalho e efetiva participação social" (BRASIL, 2008b). Também a Resolução CNE/CEB nº 6/2012 que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, reafirma em seu artigo 6º, inciso X, como princípios da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, o reconhecimento das pessoas com deficiência como sujeitos de direitos e garantias.

E no sentido de adequar-se ao contexto da educação inclusiva, a Secretaria de Educação Tecnológica e a extinta Secretaria de Educação Especial atual Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, implantaram no ano 2000, a ação TEC NEP – Tecnologia, Educação, Cidadania e Profissionalização para pessoa com Necessidades Específicas, na Rede Federal.

A ação TEC NEP é uma política educacional inclusiva com o propósito de garantir o acesso à educação e ao mundo do trabalho dentro da perspectiva de efetivação dos direitos humanos. O programa visa a expansão de vagas na rede federal para os sujeitos com deficiência, através da promoção do acesso, da permanência e do sucesso no avanço dos estudos com efetiva aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais (NASCIMENTO; FARIA, 2012).

Assim formam criados os Núcleos de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas – NAPNEs, que tem como objetivo principal criar uma cultura da "educação para convivência", aceitação da diversidade e, principalmente, buscar a quebra de barreiras arquitetônicas, educacionais e de comunicação.

Vale lembrar que no âmbito das Escolas Técnicas vinculadas às Universidades, o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais – dentre esses os alunos com deficiência – é realizado pelos Núcleos de Acessibilidade. Os Núcleos de Acessibilidade são órgãos das universidades federais com funções semelhantes aos NAPNEs. O Decreto nº 7.611/2011, esclarece em seu artigo 5º § 5º que os "[...] núcleos de acessibilidade nas instituições federais de educação superior visam eliminar barreiras físicas, de comunicação e de informação que restringem a participação e o desenvolvimento acadêmico e social de alunos com deficiência" (BRASIL, 2011).

Recentemente, a Lei nº 13.409/2016, que alterou a Lei nº 12.711/2012, que trata da reserva de vagas para pretos, pardos e indígenas, passou a considerar a reserva de 5% das vagas para pessoas com deficiência nos cursos técnicos de nível médio e superior das instituições de ensino o que tem contribuído para o crescimento no número de matrículas desses indivíduos na

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EPT. Assim, o ensino profissional e tecnológico tem diante de si o desafio de encontrar soluções que respondam à questão do acesso e permanência dos alunos em suas instituições, ou seja, construir espaços para que a pessoa com deficiência exerça seu direito à profissionalização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Houve uma característica marcadamente assistencialista na fase inicial da trajetória histórica da educação profissional e também da educação da pessoa com deficiência. Entretanto na fase de industrialização do país, a educação profissional, passou a se preocupar com a preparação de operários para o exercício profissional, enquanto a educação da pessoa com deficiência acontecia em escolas especiais corroborando para a segregação social desses sujeitos.

Foram muitas as transformações ocorridas no cenário da educação nacional. Nota-se que a educação profissional vem tentando se desvincular do estigma da dualidade que se consolidou ao longo do tempo. Da mesma forma, houve avanços nas propostas de educação da pessoa com deficiência com o advento do paradigma da inclusão, mas, não necessariamente na efetivação das leis e políticas públicas.

Ultimamente, as instituições de educação profissional vêm se adaptando às mudanças que a educação inclusiva preconiza. A oferta de cotas para pessoa com deficiência, a estruturação de núcleos de atendimento a esses alunos bem como as adaptações arquitetônicas são exemplos de ações que facilitam o acesso e permanência destes alunos.

Cabe agora, cuidar para o que haja uma plena participação no contexto educacional, pois ainda existem barreiras pedagógicas e, sobretudo, barreiras atitudinais, que prejudicam enormemente a inclusão nas instituições de ensino. Nesse sentido acredita-se que a educação profissional para a pessoa com deficiência, além do objetivo de formar para o mercado de trabalho deve promover ampla participação social, para tanto, é fundamental oferecer um

"ensino de qualidade" a todos os estudantes – os com e sem deficiência.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: texto consolidado até a Emenda Constitucional nº 64 de 04 de fevereiro de 2010. Brasília: Senado

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