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O direito a saúde no sistema penitenciário brasileiro: uma reflexão sob a ótica dos direitos humanos

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

AMANDA KUTZNER

O DIREITO A SAÚDE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA REFLEXÃO SOB A OTICA DOS DIREITOS HUMANOS.

Santa Rosa (RS) 2015

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AMANDA KUTZNER

O DIREITO A SAÚDE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA REFLEXÃO SOB A OTICA DOS DIREITOS HUMANOS.

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora: MSc. Anna Paula Bagetti Zeifert

Santa Rosa (RS) 2015

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Dedico este trabalho a minha família e a todos que de uma forma ou outra me ajudaram e me apoiaram durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, por ter me dado saúde e forças para superar as dificuldades.

A minha orientadora professora Anna Paula Bagetti Zeifert, pela sua disponibilidade e paciência.

A minha mãe, pelo amor e apoio incondicional.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação acadêmica. Muito obrigada!

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“Costuma-se dizer que ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado dentro de suas prisões. Uma nação não deve ser julgada pelo modo como trata seus cidadãos mais elevados, mas sim pelo modo como trata seus cidadãos mais baixos.”

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica tem como principal objetivo abordar o Direito à Saúde à luz dos Direitos Humanos com ênfase na sua aplicabilidade às pessoas privadas de liberdade do Sistema Penitenciário brasileiro. A principal justificativa para o tema escolhido está em esclarecer como o Direito à Saúde vem sendo tratado dentro dos estabelecimentos prisionais, mostrando a inaplicabilidade da Lei de Execuções Penais e a violação de um direito humano constitucionalmente e internacionalmente protegido. Além disso, analisa especificamente a situação do Presídio Central de Porto Alegre, constatando problemas como a superlotação, a precariedade e a insalubridade que acarretam a ofensa do Direito a Saúde, a inaplicabilidade da dignidade da pessoa humana dentro

da instituição e seus efeitos negativos para a comunidade brasileira.

Palavras-Chave: Direito a Saúde. Direitos Humanos. Sistema Penitenciário brasileiro.

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ABSTRACT

This monographic research has as main objective to address the right to health in the light of human rights with emphasis on their applicability to persons deprived of their liberty of the Brazilian Penitentiary System. The main rationale for the chosen topic is to clarify how the right to health has been treated within the prison, showing the inapplicability of the Penal Executions law and infringement of a constitutionally and internationally protected human right. In addition, analyses the situation of Central Prison specifically in Porto Alegre, noting problems such as overcrowding, insecurity and the unsanitary conditions that involve the offence of the right to health, the irrelevance of human dignity within the institution and its negative effects for the Brazilian community.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO...8 1 DIREITO A SAÚDE...10

1.1 Aspectos históricos do Direito a Saúde...10

1.2 O Direito a Saúde e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.... ...15

1.3 A proteção do Direito a Saúde no ordenamento jurídico pátrio...18

2 O DIREITO A SAÚDE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO ... ...23

2.1 Lei de Execuções Penais e a Constituição Federal: considerações sobre o cumprimento da pena em instituições penais ... ...23

2.2 Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário ... ...27

2.3 A crise do Sistema Penitenciário Brasileiro ... ...30

3 A VIOLAÇÃO DO DIREITO A SAÚDE NO PRESIDIO CENTRAL: ESTUDO DE CASO ... ...37

3.1 Condições insalubres e precárias enfrentadas pelos presos na instituição ... ...37

3.2 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a imposição de medidas cautelares ... ...41

3.3 O futuro da instituição e as medidas a serem adotadas para a superação da crise...44

CONCLUSÃO ... ...48

REFERÊNCIAS ... ...50

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INTRODUÇÃO

A pesquisa tem por objetivo analisar se o Direito a Saúde enquanto direito fundamental está sendo garantido aos apenados do sistema carcerário brasileiro. Abordando a relação existente entre o Direito á Saúde e os direitos humanos, bem como verificar os deveres do Estado para a aplicabilidade e seguridade dos direitos dos presos e as garantias legais previstas durante a execução da pena. Ainda busca analisar os problemas da superlotação e de infraestrutura das unidades penitenciárias, que acarretam a ofensa dos direitos garantidos pelo ordenamento jurídico e dos próprios direitos humanos. Abordar a situação do Presídio Central especificamente e a atuação da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre o caso.

O Primeiro capítulo trata da historicidade do Direito à Saúde verificando sua evolução histórica intrinsicamente ligado aos Direitos Humanos e aos direitos fundamentais influenciados pelos diversos movimentos sociais, observando que o direito à saúde é um direito fundamental ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana, e um dos pilares do Estado Democrático de Direito. Esse direito essencial ao ser humano tem previsão na Declaração Universal dos Direito Humanos, que consagra a todos os seres humanos independente de condições sociais, inclusive às pessoas privadas de liberdade, a igualdade em garantias e direitos a nível universal.

O segundo capítulo aborda o Direito à Saúde no Sistema Penitenciário brasileiro, quais as normas internas de cunho Constitucional e infraconstitucional que regulamentam o cumprimento da pena nas instituições penais, verificando que o termo saúde não é somente a ausência de doença, mas sim inserida nos aspectos de bem-estar físico, mental e social. Abordará o objetivo da LEP com a execução da

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pena, o reconhecimento das pessoas presas como sujeitos de direitos e obrigações e a instituição do Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário como forma de garantir o acesso e a assistência à saúde aos apenados. Por fim entrará no tema da crise do sistema penitenciário brasileiro, o qual se apresenta como o setor de maior violação dos direitos humanos.

Finalmente, o terceiro capítulo é específico sobre o Presídio Centra de Porto Alegre, no qual será abordado a realidade desta casa prisional, o motivo pelo qual é considerado o pior presídio brasileiro e os fatores que levaram o Brasil a ser denunciado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, e ainda, quais as medidas cautelares impostas pela Corte Interamericana ao Estado para solucionar os problemas que assolam o estabelecimento, bem como a crise de todo sistema.

Quanto aos objetivos gerais, a pesquisa será do tipo exploratória. Utiliza no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Na sua realização será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, observando os seguintes procedimentos: a) seleção de bibliografia e documentos afins à temática e em meios físicos e na Internet, interdisciplinares, capazes e suficientes para que o pesquisador construa um referencial teórico coerente sobre o tema em estudo, responda o problema proposto, corrobore ou refute as hipóteses levantadas e atinja os objetivos propostos na pesquisa; b) leitura e fichamento do material selecionado; c) reflexão crítica sobre o material selecionado; d) exposição dos resultados obtidos através de um texto escrito monográfico.

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1 DIREITO A SAÚDE

Neste primeiro capítulo será abordado a evolução histórica do conceito de saúde, sua abrangência diante dos direitos dos cidadãos e os deveres do Estado, bem como o reconhecimento do Direito a Saúde internacionalmente a partir da Declaração Universal de Direitos do Homem.

A proteção do direito a saúde no ordenamento pátrio desde o período do Brasil Império até os dias atuais também será analisado, apresentando o direito fundamental à saúde como condição necessária a vida digna de toda pessoa.

1.1 Aspectos históricos do Direito a Saúde

Primeiramente é importante esclarecer que a garantia e proteção à saúde estão intrinsicamente vinculados aos Direitos Humanos, e estes estão relacionados intimamente à história, uma vez que foram conquistados em decorrência dos diversos movimentos sociais ocorridos ao longo dos anos, especialmente com a Revolução Americana, Inglesa e a Francesa. Estes movimentos desencadearam a redemocratização política, no combate à violação da dignidade humana, desenvolvendo-se e estabelecendo consequentemente as garantias e direitos dos homens. (RAMOS, 2012).

A luta pelo direito foi o objetivo maior de todas as sociedades, desde o início do racionalismo humano, originando um conjunto de valores, direitos e liberdades, consubstanciados nos direitos humanos. Não há de se falar em um início definido dos Direitos Humanos, estes são fruto da evolução histórica e social da humanidade, que surgiram ao longo dos tempos ao passo em que a sociedade se deparava com a necessidade de proteger determinados direitos inerentes ao homem, na busca de uma sociedade justa, e acima de tudo compreendendo-se a proteção de todos os demais direitos constante no ordenamento jurídico, qual seja o bem da vida, a ser vivida com dignidade. Assim a dignidade da pessoa humana ganhou relevância em uma sociedade que clamou durante anos as transformações sociais pela sua proteção. (SIQUEIRA, 2014).

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Considerando as diversas alterações que os direitos humanos estiveram expostos desde as primeiras manifestações da busca pelo direito do homem, em uma analise destes direitos no decorrer da história, Heiner Bielefeldt (2002, p.109) diz que:

A luta pelos direitos não é apenas uma luta pela concretização de postulados que se fixem para sempre, mas também uma discussão sobre o conteúdo e alvo de reivindicações jurídicas concretas, que se alteraram substancialmente no decorrer dos últimos duzentos anos e que, certamente, ainda muito se alterarão no futuro.

A evolução dos direitos humanos deu origens aos chamados direitos fundamentais que também são fruto de um contexto histórico, e passaram a ser conhecidos desta maneira devido à positivação dos direitos humanos na Constituição Federal. (SILVA, 2006).

Cabe de antemão esclarecer que direitos humanos e direitos fundamentais não se confundem, segundo lição de Canotilho (apud PFAFFENSELLER, 2010), os “Direitos do Homem são direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos, Direitos Fundamentais são os direitos do homem jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espaço-temporalmente”.

Os Direitos Fundamentais consistem em instrumentos de proteção do individuo frente à atuação do Estado. Conforme o entendimento de Sarlet (apud GOMES; FREITAS, 2014) a qual enfatiza a respeito dos direitos fundamentais que:

Os direitos fundamentais exprimem determinados valores que o Estado não apenas deve respeitar, mas também promover e proteger, valores esses que, de outra parte, alcançam uma irradiação por todo o ordenamento jurídico – público e privado – razão pela qual de há muito os direitos fundamentais deixaram de poder ser conceituados como sendo direitos subjetivos públicos, isto é, direitos oponíveis pelos seus titulares (particulares) apenas em relação ao Estado.

Os direitos fundamentais podem dividir-se em duas dimensões, ou seja, dimensão subjetiva e dimensão objetiva. De acordo com Mariana Filchtiner Figueiredo (2007):

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A dimensão subjetiva outorga ao titular do direito, pretensões de defesa, proteção e prestação, ou seja, o poder que o titular tem de exigir ou impor judicialmente perante o Estado a efetivação do direito que possui. Já a dimensão objetiva é complementar a dimensão subjetiva, os efeitos dessa dimensão é a tutela das denominadas garantias institucionais, e a admissão de deveres para e entre particulares, decorrentes dos direitos fundamentais.

Seguindo o mesmo entendimento, Alexandre Gonçalves Lippel (2014, p.02), aduz que os direitos fundamentais além da dimensão subjetiva possuem a dimensão objetiva, atribuindo direitos aos cidadãos, e “mesmo quando não haja violação direta do direito subjetivo à saúde, os operadores jurídicos devem verificar se o bem jurídico, saúde, esta sendo afetado por ações ou omissões dos poderes públicos”.

Paulo Bonavides (2010, p. 562) explica que os Direitos Fundamentais passaram por sucessivas gerações histórico-cronológicas, intimamente ligadas a evolução da sociedade dividindo-se como direitos de primeira geração, segunda geração e de terceira geração.

Os direitos de primeira geração foram inspirados nas doutrinas iluministas e jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, que exprimem o ideal de Liberdade, abrangendo o direito das liberdades religiosas, politicas e civis, como a vida, a liberdade, a segurança, a propriedade, a igualdade, de expressão, etc., são direitos de oposição ao Poder Público e que limita a ação do Estado. (BONAVIDES, 2010, p. 562).

Os direitos de segunda geração, que dominou o século XX, predominava o ideal de igualdade com ênfase aos direitos da dignidade da pessoa humana, em que se inclui a proteção contra o desemprego, direito a educação, direito a saúde, direitos sociais, a cultura, etc. São direitos objetivos que vinculam o Estado a promover o bem-estar social. (BONAVIDES, 2010, p. 564).

Os direitos de terceira geração se desenvolveram durante o século XX, exprimem o ideal de Fraternidade, e visam à proteção do ser humano que se destinavam ao desenvolvimento, a paz, ao meio ambiente equilibrado, a uma vida

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saudável, a comunicação e ao patrimônio comum da humanidade (BONAVIDES, 2010, p. 569).

Tem-se admitido por alguns autores a existência de uma quarta geração, que ainda segundo Paulo Bonavides (2010, p. 570) “surgem devido à globalização politica, quais são o direito a democracia, a informação, ao pluralismo e a autodeterminação dos povos”, ou seja, correspondem a fase de institucionalização do Estado Social.

Durante o desenvolvimento das gerações de direitos, o Direito à Saúde nem sempre foi considerado especificamente um direito, foi relacionado durante muitos anos como vida, propriamente dita. Pode-se dizer que é resultado da evolução na concepção do direito e também da própria ideia do que vem a ser saúde, constituindo-se um direito humano e fundamental, passível de proteção por parte do Estado. (FIGUEIREDO, 2007).

Foi na segunda geração dos direitos fundamentais que o Direito a Saúde passou a ser especificamente considerado. Até inicio do século XX, não se falava em saúde como verdadeiro direito fundamental, ela estava relacionada ao direito a vida, protegida pelas Declarações iniciais de direitos fundamentais, como por exemplo a Declaração de Virginia de 1776 que fixou naquele momento o direito a isonomia, a vida, liberdade religiosa, liberdade de imprensa e a Declaração Francesa de 1789. (SIQUEIRA, 2014)

Na idade média a saúde estava relacionada a uma explicação divina, em que os povos viam os doentes como vitimas de demônios e espíritos malignos, e que cabia aos Deuses cura-lo ou não. Esta concepção foi questionada pelo filósofo grego Hipócratis, cujos estudos não se limitavam somente com relação ao paciente e entendia que “a saúde estaria relacionada à própria natureza do ser humano e estaria também envolvida com o meio ambiente no qual o ser humano trabalha”. (SIQUEIRA, 2014).

A revolução industrial teve fatores decisivos a reinvindicação por melhores condições sanitárias em prol da saúde, devido a grande migração populacional do

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campo para as cidades, a falta de higiene e a proliferação de doenças, dada a necessidade de resguardo da saúde dos operários, organizados em movimentos de luta social, exigiam melhores condições sanitárias, inclusive para seus respectivos familiares, atribuindo ao Estado à função de garantidor da saúde publica. Assim nasceu uma visão social de saúde, e a partir do Século XX a proteção sanitária passou a ser tratado como direito social e politico de governo. (FIGUEIREDO, 2007).

Em termos internacionais a saúde passou a ser considerada como direito após a 2ª Guerra Mundial, na passagem do estado liberal para o estado do bem estar social, ao qual foi um paradigma para a valorização dos direitos sociais e a dignidade da pessoa humana passou a ser considerada como valor universal. Foi a partir deste momento que a Organização das Nações Unidas (ONU), estabeleceu a Declaração Universal dos Direitos do Homem, desenvolvendo mecanismos especiais para garantir os direitos considerados indispensáveis aos homens, e passando então a considerar a saúde como um dos direitos fundamentais de todo ser humanos. (SIQUEIRA, 2014).

Nesse contexto, segundo Mariana Filchtiner Figueiredo (2007, p. 79 - 80):

A noção de proteção sanitária como politica de governo foi ampliada desde a II Guerra Mundial, estabelecendo-se a responsabilização do Estado pela saúde da população, bem como reforçando-se a lógica econômica, a partir da evidente interdependência entre as condições de saúde do trabalhador e a atividade produtiva. Instruíram-se os sistemas de previdência social e posteriormente, de “seguridade social”, a abarcar os subsistemas de assistência, previdência e saúde públicas.

O conceito de saúde evoluiu ao longo dos anos, não sendo considerada nos dias atuais como somente, a ausência de doença, e sim, inclusive, com a percepção de bem estar físico, mental e social do homem. Contudo não se deve restringir o Direito a Saúde apenas aos casos de risco de vida ou de grave lesão física ou psicológica, e sim ser entendido em sentido amplo, assegurando um mínimo de dignidade e bem-estar ao cidadão. (ORDACGY, 2014).

Como descreve Hélio Pereira Dias (2003) o Direito à Saúde passou a abranger os mais diversos assuntos, tais como:

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Organização do Sistema Nacional de Saúde, definição do papel dos órgãos e entidades dos níveis, federal, estadual e municipal em matéria de saúde; serviços básicos de saúde; assistência médica em níveis de maior complexidade; saúde materna, da criança e do adolescente; saúde mental e assistência psiquiátrica; odontologia sanitária, alimentação e nutrição; saneamento ambiental; esgotos sanitários e destino final dos dejetos; higiene das habitações e áreas de lazer; doenças transmissíveis; vigilância epidemiológica; notificação compulsória de doenças e vacinações de caráter obrigatório; vigilância sanitária: de alimentos, medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos, aparelhos e instrumentos utilizados em medicina; vigilância sanitária de diferentes locais onde são exercidas atividades que, direta ou indiretamente, possam acarretar situações de agravo à saúde; etc.

Essa noção destacou a importância entre o equilíbrio interno e externo do homem, superando a ideia de saúde como mera inexistência de doenças, o que remota a linha de pensamento de Hipócrates citada anteriormente. Analisando a matéria em seu texto quanto às prestações materiais originárias pertinentes a integralização do direito a saúde à proteção da dignidade humana, Sarlet (apud, FIGUEIREDO, 2007, P.82) argumenta:

Equipara vida digna à vida saudável, aproximando os conceitos de qualidade de vida e dignidade da pessoa humana: o completo bem estar físico, mental e social densifica o principio da dignidade humana, pois não se imagina que condições de vida insalubres e, de modo geral, inadequadas, sejam aceitas como conteúdo de uma vida com dignidade.

Por derradeiro, constata-se que a sociedade ao longo dos anos, buscou proteger alguns direitos pertinentes ao ser humano, resultando nas diversas lutas sociais ao longo da história, depreendendo-se que sem haver a proteção destes direitos não haveria uma sociedade justa e igualitária com base nos princípios dos Direitos Humanos. (SIQUEIRA, 2014).

1.2 O direito à saúde e a Declarações de Direitos Humanos

O Direito à Saúde passou a ser considerado internacionalmente com a instituição da Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) de 1948, consagrada pela Organização das Nações Unidas, apresentando o direito à saúde intrinsicamente vinculado com os direitos humanos, quando qualifica a saúde como uma das condições necessárias à vida digna. (DALLARI, 1988).

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A Declaração tinha como objetivo assegurar os direitos do homem contra os atos do governo, não podendo tais direitos ser reduzidos ou retirados pelas instituições governamentais com o preceito de que preexistem a todas instituições politicas e sociais, e sim devendo estas proteger de qualquer ofensa estes direitos. (FIGUEIREDO, 2007).

Paulo Bonavides (2010, p. 578) qualifica a Declaração dos Direitos do Homem como “Um estatuto de liberdade de todos os povos, a carta magna das minorias oprimidas, o código das nacionalidades a esperança enfim, de promover, sem distinção de raça, sexo e religião, o respeito à dignidade do ser humano”.

Em seu preâmbulo a DUDH de 1948 reafirmou a fé dos povos das Nações Unidas, nos direitos fundamentais, na dignidade, no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, os quais decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida. Atualmente os Direitos Fundamentais, que já nascem com o indivíduo, estão reconhecidos mundialmente por meios dos pactos, tratados, declarações e outros documentos internacionais. (SILVA, 2006).

Em uma breve consideração ao status que os direitos humanos passaram a dispor com Declaração Universal dos Direitos do Homem, Paulo Bonavides (2010, p. 574) pontuou que:

O humanismo político da liberdade teve seu ponto mais alto no século XX, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 de dezembro de 1948, que lapidaram direitos e garantias que até então nenhuma constituição congregou ao redor de um consenso universal. E os direitos humanos são assim os aferidores da legitimação de todos os poderes sociais, políticos e individuais.

Especialmente quanto ao direito à saúde, a Declaração trouxe expressamente em seu Art. 25 a garantia a todo ser humano, estabelecendo que “Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis [...]” (ONU, 1948).

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Ainda, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948 elencou em seu texto que toda população deveria ser inserida em um contexto relacionado às condições do meio ambiente, ou seja, estar associada a uma boa alimentação, a um trabalho decente, a horas de lazer, relacionado a um meio ambiente favorável a sua defesa, conforme segue abaixo:

Art. 11 - Toda pessoa tem direito a que sua saúde seja resguardada por medidas sanitárias e sociais relativas à alimentação, roupas, habitação e cuidados médicos correspondentes ao nível permitido pelos recursos públicos e os da coletividade.

A Declaração Universal de Direitos Humanos influenciou posteriormente o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos – PIDCP - e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – PIDESC – ambos de 1966, que firmaram um novo rol de direitos humanos, revigorando e reforçando a ideia da universalidade destes direitos, como direitos de toda pessoa.

O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, estabelece que seus membros devem conceder a todas as pessoas físicas, direitos sociais, culturais e econômico, inclusive direitos à saúde, ao trabalho e a educação, enfatizando em seu Artigo 12 que “Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem o direito de todas as pessoas de gozar do melhor estado de saúde física e mental possível de atingir”. (PIDESC, 1966).

Com relação ao setor que norteia o presente trabalho, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1992 em conformidade com a Declaração de direitos do Homem, estabeleceu normativas internacionais com relação às pessoas privadas de liberdade, destacando em seu artigo 10, incisos 1 e 3 que:

Art. 10 – 1.Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade inerente a pessoa humana; [...] 3.O regime penitenciário consistirá em um tratamento cujo objetivo principal seja a reforma e a reabilitação moral dos prisioneiros.

Sobre a interpelação dos pactos com as Declarações e Tratados sobre direitos humanos, Mariana F. Figueiredo (2007, p.30) preceitua que:

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Os pactos coexistem e demonstra que os direitos humanos formam um conjunto único e indivisível, em que a falência das medidas de concretização de um direito inevitavelmente repercute na fruição plena do conjunto restante, havendo interação e inter-relação dos direitos civis e políticos com os direitos econômicos, sociais e culturais.

Podemos dizer que os Direitos Humanos atribui legitimação a todos os poderes sociais, políticos e individuais, ao passo que uma crise desses direitos acaba atingindo também o poder em todo sociedade democraticamente organizada. A Declaração introduziu o conceito de Direito a Saúde no âmbito internacional em 1948, porém esse direito só passou a ser efetivamente aplicado no Brasil com a Constituição Federal de 1988, como veremos a seguir.

1.3 A proteção do Direito à Saúde no ordenamento jurídico pátrio

A respeito da proteção do Direito a Saúde no ordenamento jurídico pátrio, remetemo-nos a primeira Constituição brasileira que foi a Constituição do Império do Brasil em 1824, e uma das primeiras do mundo a incluir no seu texto, um rol de direitos e garantias individuais, a qual estabelecia em seu artigo 179, dentre outros direitos, o direito à saúde a todos os cidadãos, e simultaneamente estabelecia que as cadeias deveriam ser limpas e bem arejadas, havendo diversas casas para a separação dos réus, conforme suas circunstâncias e natureza de seus crimes. Porém nesta Constituição o direito a saúde não era garantia de todas as pessoas. (ALMEIDA, 1996).

No Brasil, os direitos sociais estiveram basicamente em todas as suas Constituições. Os primeiros passos à formação do Estado Social foram dados pela Constituição de 1934 que trouxe o direito fundamental a saúde associado à saúde do trabalhador. Já em 1937, passou a prever a saúde da criança, e em 1946, a constituição trouxe a saúde com relação à regra de repartição de competência, e que previa que a saúde deveria ser tratada pela União Federal, porém nestas primeiras Constituições o Direito a Saúde não estava garantido expressamente, e sim como sendo sinônimo de vida. A constituição de 1967, editada em plena ditadura, não trouxe nenhum avanço com relação ao direito fundamental à saúde,

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passando a ser considerado direto constitucional fundamental somente com a Constituição Federal de 1988. (ALMEIDA, 1996).

A atual Constituição Federal do Brasil foi amplamente influenciada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, pois como vimos anteriormente, o direito a saúde era citado vagamente e limitado a determinadas pessoas. Na Carta Magna o direito a saúde foi reconhecido como um direito fundamental e passou a ser dever do Estado garantir a qualidade de vida justa e digna a toda sociedade através de politicas publicas. (LIPPEL, 2014).

Além de incluir o Direito a Saúde entre os direitos sociais em seu artigo 6º, a Constituição Federal de 1988, referiu-a como um direito de todos em seção exclusiva em seu no Titulo VIII, Capitulo II, Seção II, ficando expressamente estabelecido no art. 196, que:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante politicas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

O atendimento médico dos serviços públicos de saúde no território nacional, antes de 1988, era prestado apenas às pessoas que estivessem inscritas no Instituto Nacional de Seguro Social – INSS. Devido às lutas sociais ao longo dos anos, essa realidade transformou-se, e todos que teriam ou não registro na Carteira de Trabalho, independente de classe social, passariam a ter direito ao atendimento no Sistema Único de Saúde – SUS. (BUSCHEL, 2010).

A saúde passou a constituir um direito público subjetivo, tendo em vista sua definição como direito fundamental, buscando efetivar este direito foi instituído o Sistema Único de saúde (SUS) através da Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, cuja finalidade é a integral assistência a saúde de todos os cidadãos de maneira universal e irrestrita, com o objetivo de criar e viabilizar garantia e cumprimento do direito a saúde para toda a população. (LIPPEL, 2014).

Por derradeiro, a Carta Magna preserva o direito fundamental a saúde em dispositivos expressos e implícitos, relacionando-a a vida propriamente dita, com a

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prestação positiva do Estado mediante politicas públicas, e em caráter universal, ou seja, sem sujeitos determinados, como um direito fundamental, formal e material. Tal preceito é complementado pelo artigo 2º da Lei 8.080/90, que diz que “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. (PRETEL, 2014).

Tendo em vista estar presente em diversos artigos de seu texto, a interpretação que se faz da garantia do Direito a Saúde na nossa atual Constituição, é que o direito a saúde vincula-se com outros direitos, como à moradia, ao saneamento, à educação, à seguridade social, ao bem estar social, á assistência social, à saúde física e psíquica e ao acesso aos atendimentos médicos. Isto posto depreende-se igualmente na leitura do caput do artigo 3º da Lei infraconstitucional nº 8.080/90, o qual correlaciona com os níveis de saúde “entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais”. (HUMENHUK, 2004).

O Direito a Saúde fundamentado formalmente, resulta na hierarquia normativa a que goza enquanto uma norma constitucional, devido a sua previsão entre os limites da reforma constitucional e da sua aplicação imediata e vinculada aos Poderes Públicos resultante da norma contida no artigo 5º, §1º da Carta Magma. Já quanto à fundamentação material, o direito a saúde encontra relevância como bem jurídico tutelado pela norma constitucional, relacionado aos direitos fundamentais. (FIGUEIREDO, 2007).

Estando a saúde tipificada como um bem jurídico vinculado ao direito à vida, é dever do Estado de tutelá-la. Consoante entendimento de André da Silva Ordacgy (2014):

A Saúde encontra-se entre os bens intangíveis mais preciosos do ser humano, digna de receber a tutela protetiva estatal, porque se consubstancia em característica indissociável do direito à vida. Dessa forma, a atenção à Saúde constitui um direito de todo cidadão e um dever do Estado, devendo estar plenamente integrada às politicas públicas governamentais.

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Além do artigo 197 da CF/88 considerar os serviços de saúde como relevância pública encontra-se o fundamento legal para a gratuidade das ações e serviços de saúde garantidos na Lei da Saúde – Lei 8.080/90, em seu artigo 43, estabelecendo que “a gratuidade das ações e serviços de saúde fica preservada nos serviços públicos contratados, ressalvando-se as cláusulas dos contratos ou convênios estabelecidos com as entidades privadas”. (BUSCHEL, 2010).

A Constituição Federal instituiu o Sistema Único de Saúde, com a finalidade de integrar a assistência à saúde a todos os cidadãos de forma universal e com o objetivo de garantir o direito à saúde a toda população. Para isso estabeleceu em seu art. 198, diretrizes do SUS, quais sejam: (I) a descentralização, distribuindo as responsabilidades referentes a saúde aos diversos níveis de governo; (II) o atendimento integral, através de ações de prevenção e tratamento de doenças, visando inclusive as áreas de habitação, educação, meio ambiente, etc. (III) a participação da comunidade, atribuindo maior responsabilidade aos municípios para dispor de um imediato e eficaz atendimento aos cidadãos. (PRADO, 2012).

No que se refere às ações e aos serviços de saúde, conforme regulamentado pelo artigo 198, inciso III da CF/88, que estabelece que uma das diretrizes para o disposto no seu artigo 197, é a participação da comunidade, foi criada em 1990 a Lei 8.142. Essa Lei institui o Conselho de Saúde, em caráter permanente, composto por profissionais de saúde, usuários e representantes do governo com atuação na gestão do SUS, para formular estratégias e controlar a execução das ações e serviços de saúde, inclusive nos planos econômicos e financeiros. (BUSCHEL, 2010).

Assim os serviços de saúde públicos são unificados e distribuídos pelos diversos estados e municípios do país. Conforme estabelecido no artigo 198, caput da CF/88 “as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único”. Sendo este sistema financiado, nos termos do artigo 195 da Carta Magma, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que compõem o Fundo Nacional de Saúde. (BUSCHEL, 2010).

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De acordo com Mariana F. Figueiredo (2007, p.97) “o SUS é um sistema público e nacional, baseado no princípio da universalidade, a indicar que a assistência à saúde deve atender a toda população”. Ou seja, a proposta deste sistema é atuar com a prevenção antecipando os possíveis problemas, promovendo e recuperando a saúde de todos os brasileiros, desta forma, sua criação está relacionada com a responsabilidade do Estado frente ao dever de prestar a tutela constitucional. (FIGUEIREDO, 2007).

Ademais, o Sistema Único de Saúde foi uma grande evolução na implementação de atendimento por parte do Estado brasileiro à sociedade, correspondendo assim com o seu dever internacionalmente e constitucionalmente atribuído de garantir uma saúde digna. Todavia, são notórias as dificuldades da prestação eficiente e adequada dos serviços de saúde em todo território nacional, o que dificulta a concretização e efetivação prática dos direitos humanos e sociais almejados. Um dos setores que apresentam maior precariedade no fornecimento da assistência à saúde por parte do Estado é o Sistema Penitenciário, que passaremos

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2 O DIREITO A SAÚDE NO SISTEMA PENITENCIARIO BRASILEIRO

Trataremos a seguir do sistema penitenciário brasileiro, analisando o que a Constituição Federal e a Lei de Execuções Penais estabelecem como preceitos para o cumprimento da pena nas instituições penais, bem como a instituição do Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, o seu objetivo e suas diretrizes para a efetivação da assistência à saúde aos apenados.

Discute também a atual falência do sistema penitenciário, levantando os maiores problemas que assolam os complexos prisionais em nosso país e quais as consequências que estes fatores acarretam a saúde e a vida do apenado.

2.1 Lei de Execuções penais e a Constituição Federal: considerações sobre o cumprimento da pena em instituições penais.

No princípio, o direito penal no Brasil era caracterizado pela brutalidade das sanções corporais e na violação dos direitos do acusado, situação que perdurou até a introdução do Código Criminal do Império em 1830, o qual apresentou ideias de justiça e equidade, objeto das novas correntes de pensamento. Em 1933 surgiu uma comissão presidida pelo jurista Cândido Mendes de Almeida, visando elaborar o primeiro código de execuções criminais da República, que previa a figura das Colônias Penais Agrícolas, da suspensão condicional da pena e do livramento condicional, no entanto em virtude da instalação do Estado Novo, o projeto não chegou nem a ser discutido. (ASSIS, 2007).

A partir de então houve várias tentativas de criar um código específico que estabelecesse as normas relativas à matéria, os projetos elaborados e apresentados pelos juristas de um novo Código de Execuções Penais mostravam a preocupação com a humanidade e a legalidade na execução da pena privativa de liberdade, porém, todos restavam sem êxito e não se convertiam em lei, enquanto que a República permanecia carecendo de uma legislação que tratasse especificamente da questão da execução da pena. (ASSIS, 2007).

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Como persistia a necessidade de se reformular e atualizar a lei de execução criminal foi então apresentado pelo Ministro da Justiça Ibrahim Abi Hackel o projeto lei que finalmente se converteu na Lei nº 7.210 em 11 de Julho de 1984, e que corresponde a atual e vigente Lei de Execução Penal Brasileira. (ASSIS, 2007).

Apesar da Lei nº 7.210 de 1984 (LEP) ser anterior a Constituição Federal de 1988, foi recepcionada pela Carta Maior por apresentar em seu conteúdo coadunação com os princípios universais de aplicação da pena e encontrando fundamento legal em seu texto. A partir desta lei, a execução penal foi elevada à categoria de ciência jurídica baseando-se no princípio da legalidade, resguardado em seu Art. 185, como forma de impedir que o excesso ou o desvio de execução, comprometa a dignidade ou a humanidade na aplicação da pena. (ASSIS, 2007).

Para que o processo penal e a Lei de Execução Penal (LEP) andassem sempre aliados à Carta Maior e esta não viesse a ser afrontada, visando preservar os direitos fundamentais, inclusive àqueles que se veem respondendo judicialmente pela prática de algum delito, o Legislador Constituinte elencou em sede constitucional os princípios basilares do processo penal, conferindo maior segurança jurídico-processual aos cidadãos. Dessa forma, consagra a Constituição Federal de 1988 que o Estado deve resgatar o convívio social do preso, sendo que todo tipo de reintegração ou reinserção social deve se sustentar em um dos fundamentos do estado democrático de direito, que é o princípio da dignidade da pessoa humana. (MAZZA, 2013).

O objetivo da Lei de Execução Penal (LEP) é a preservação dos bens jurídicos e de reincorporação da pessoa que praticou algum fato tipificado como crime na comunidade, e como ideia central reconhecer a pessoa presa como um sujeito de direitos e obrigações, evocando regras e princípios relacionados á execução das penas e das medidas de segurança a serem cumpridas no Brasil, deixando claro em seu Art. 1º, que a lei “tem com o objetivo de efetivar as disposições de sentença e decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”. (ASSIS, 2007).

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Ricardo Antonio Andreucci (2010) esclarece que é a partir da execução da sentença que o Estado aplica seu direito de punir, privando o criminoso com a reclusão em estabelecimento prisional, na busca de justiça e reeducação do condenado. Esta punição deve assegurar todos os direitos garantidos às pessoas e sem qualquer forma de discriminação com base nos princípios da legalidade e da igualdade, estando tal preceito regulado no Art.3º e paragrafo único da LEP:

Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei.

Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política.

Nesse sentido a Constituição Federal de 1988, em seus Arts. 1º e 3º, rege que cabe à República Federativa do Brasil, esta formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, a “manutenção do direito de cidadania e a dignidade da pessoa humana, promovendo o bem de todos, sem preconceito de raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Essa regra, cominada com a do Art. 196 da Carta Magna o qual diz que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”, alcança inclusive os indivíduos que encontram-se com sua liberdade restrita no sistema penitenciário brasileiro. (MENEZES; MENEZES, 2015).

No Capítulo II, a LEP nº 7.210 (1984) já trata da assistência a ser prestada pelo Estado aos presos, em seu Artigo 10 aduz primordialmente que essa assistência deva sempre buscar a ressocialização do apenado à sociedade, sendo que, no artigo seguinte estabelece que a assistência seja: material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa. Quanto a assistência material o Artigo 12 regula que “A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas”.

Especificamente quanto à assistência à saúde, a norma legal compreende a forma preventiva e curativa através do atendimento médico, odontológico e farmacêutico, dispondo de maneira exemplificativa em seu Art. 14, inciso II, que:

Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter

preventivo e curativo compreenderá atendimento médico,

farmacêutico e odontológico. § 1º (Vetado).

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§ 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento.

Além disso, a LEP/84 é ainda mais taxativa quando estabelece os deveres e os direitos dos presos em seu Capítulo IV impondo-se a todas as autoridades, a dizer:

Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios.

Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário.

II – atribuição de trabalho e sua remuneração; [...]

VI – exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;

VII – assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa.

[...]

Pode-se dizer que a Lei de Execuções Penais é considerada a Carta Magna dos presos, onde estão estabelecidas as normas fundamentais que regem seus direitos e obrigações no curso da execução da pena, e tem como finalidade não apenas o isolamento do apenado e punição pelo mal cometido por ele, mas também a preservação de sua dignidade e preparação para a reinserção social e sua reeducação. (ASSIS, 2007).

De acordo com a Lei, o trabalho vem a ser um dos suportes para a reinserção do apenado à sociedade. Em análise a Constituição Federal sobre o tema, o artigo 5º, XLVII, “c”, diz que “não haverá penas de trabalhos forçados”, assegurando ainda aos presos em seu inciso XLIX o respeito à integridade física e moral. O trabalho penitenciário deve ser organizado aproximando-se o mais possível do trabalho realizado pelas pessoas fora das prisões, bem como ter finalidade de reeducação, para que ao final de sua pena, possa estar preparado para voltar a conviver em sociedade, devendo ainda todo trabalho penitenciário ser remunerado. Estes preceitos encontram embasamento legal no artigo 28 da LEP, que estabelece: “o trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva”. (MAZZA, 2015).

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Outro pressuposto de ressocialização, constitucionalmente previsto no artigo 50, inciso XLVI da CF/88, é a individualização da pena, estabelecendo que as penas sejam cumpridas em estabelecimentos distintos, considerando a idade, o sexo e a natureza do delito cometido, a fim de possibilitar um adequado tratamento legal. Inspirado na Carta Magna, o artigo 50 da LEP, preceitua que a individualização da pena, verificará a personalidade e os antecedentes do agente. (MENEZES; MENEZES, 2015).

Nesse contexto, segundo lição de Julio Fabrinni Mirabete (apud, MENEZES; MENEZES, 2014), “a individualização é uma garantia repressiva, e constitui preceito básico da justiça”. A partir dessa classificação feita pela LEP, deduz-se que a execução penal não pode ser igual para todos os apenados justamente porque não são iguais. Isto posto, ainda de acordo com a norma legal, seu artigo 85, dispõe que “o estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com sua estrutura e sua finalidade”.

Não obstante, durante a execução da pena os condenados têm direito ao devido processo legal, à sua individualização da pena, à retroatividade da lei quando for mais benéfica, e aos princípios da legalidade e da anterioridade, tais preceitos estão constitucionalmente garantidos e devem incidir no Direito Processual Penal, a fim de assegurar ao preso o respeito aos seus direitos. (ANDREUCCI, 2010).

Contudo, apesar de tantas tentativas e lutas para que o Brasil tivesse uma legislação que tratasse de forma específica sobre a execução da pena, após a elaboração da LEP nº 7.210/84, o grande problema que temos que enfrentar hoje é a falta de efetividade integral no seu cumprimento, o que se fosse concretizada propiciaria de fato a reeducação e ressocialização de uma significativa parcela da população carcerária. No entanto, assim como a maioria das leis existentes em nosso país, a LEP permanece satisfatória somente no plano teórico e formal, ao passo que não vem sendo cumprida por nossas autoridades públicas. (ASSIS, 2007).

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Em 2003, o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP), instituído pela Portaria Interministerial nº 1.777, foi criado com o objetivo de incluir a população carcerária no Sistema Único de Saúde através das Ações e Serviços de Saúde, tendo em vista que já estavam formalmente previstos na Lei de Execução Penal n.º 7.210 de 1984, na Constituição Federal de 1988, na Lei n.º 8.080 de 1990 que regulamenta o SUS e na Lei n.º8.142 de 1990 que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS. (PNSSP, 2015).

Apesar de já existirem nos estabelecimentos penais, o Plano Nacional promoveu o acesso efetivo às ações e os serviços à saúde, sendo que para seu desenvolvimento o Ministério da Saúde em ação conjunta com o Ministério da Justiça disponibilizam recursos como forma de incentivo financeiro. Este incentivo é direcionado para os Fundos Estaduais e Municipais de Saúde, para que estes então repassem para os respectivos serviços executores do Plano Penitenciário. (PNSSP, 2015).

O Plano contempla a população recolhida em penitenciárias, presídios, colônias agrícolas e/ou agroindustriais e hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico, ou seja, às pessoas que já foram julgadas e condenadas, não incluindo presos do regime aberto e presos provisórios, recolhidos em casas de albergados, cadeias públicas e distritos policias. (PNSSP, 2015).

Com o intuito de assegurar à eficácia das ações de promoção, prevenção e atenção integral a saúde, o Plano de Saúde Penitenciário foi elaborado pautando-se em princípios básicos da Ética, Justiça, Cidadania, Direitos Humanos, Participação, Equidade, Qualidade dos serviços e Transparência na gestão, com ênfase na qualificação dos serviços prestados pelos profissionais de saúde e agentes penitenciários à população carcerária, considerando: a integralidade da atenção à saúde, atendendo demandas de baixa e alta complexidade; a intersetorialidade, objetivando a criação e a ampliação de parcerias com outros setores governamentais; a Hierarquização, atribuindo responsabilidades à União, do Estado e do Município de acordo com suas competências; a humanização através respeito à todas as diferenças de raça, sexo, crença, religião, cultura e sem discriminação de qualquer espécie; e a participação social da sociedade civil através do apoio á

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elaboração, execução e avaliação das ações de saúde prestadas a população penitenciária. (PNSSP, 2015).

Para dar ênfase a estes princípios, o Plano Nacional de Saúde do sistema Penitenciário (2015), reforça em seu texto suas diretrizes estratégicas em atenção à saúde da população privada de liberdade como forma de estruturar os serviços em nível nacional, estadual e municipal, quais sejam:

Prestar assistência integral resolutiva, continua e de boa qualidade as necessidades de saúde da população penitenciaria;

Contribuir para o controle e/ou redução de agravos mais frequentes que acometem a população penitenciaria;

Definir e implementar ações e serviços consoantes com os princípios e diretrizes do SUS;

Proporcionar o estabelecimento de parcerias por meio de desenvolvimento de ações intersetoriais;

Contribuir para a democratização do conhecimento do processo saúde/doença, da organização dos serviços e da produção social da saúde;

Provocar o reconhecimento da saúde como um direito da cidadania; Estimular o efetivo exercício do controle social.

O conceito amplo de saúde entende que a saúde é determinada socialmente, assim o Sistema Único de Saúde (SUS), aponta diretrizes ao sistema prisional, devendo ser fornecido aos apenados atendimento médico ambulatorial, hospitalar e odontológico. Tais ações devem ser desenvolvidas por médicos, enfermeiros, dentistas, psicólogos, assistentes sociais, técnicos de enfermagem das redes assistenciais de Saúde, especialmente treinados para prestarem atendimentos dentro das unidades prisionais. (PORTAL, 2015).

Segundo a Portaria Interministerial nº 1.777/03, os Estados brasileiros que estão qualificados para desenvolver o PNSSP são: o Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo e Tocantins. (RIBEIRO; SILVA, 2014).

Dentre as ações do PNSSP, que compreendem as atividades básicas conferidas aos apenados, estão: o controle da tuberculose, controle de hipertensão e diabetes, hanseníase, DST/HIV/Aids, hepatites, saúde bucal, saúde da mulher,

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saúde metal, programas de imunizações, exames laboratoriais, aquisição de controle de medicamentos. (RIBEIRO; SILVA, 2014).

Estas ações se justificam, ao passo que são doenças e situações que se apresentam frequentemente nas penitenciárias brasileira, sendo assim, é o mínimo que o Estado tem o dever de promover para garantir a aplicabilidade do direito a saúde, além é claro das condições relacionados à infraestrutura, que está intimamente relacionada à saúde, pois um estabelecimento com condições sanitárias inadequadas é impossível promover esse mínimo de saúde e bem-estar dos apenados. (RIBEIRO; SILVA, 2014).

Para a qualificação de um Estado ao PNSSP é necessário seguir determinados passos estabelecidos na Portaria Interministerial 1.777/03. Primeiro o Estado interessado deve enviar o Termo de adesão ao Ministério da Saúde e apresentar ao Conselho Estadual de Saúde e à Comissão Intergestores Bipartite o Plano Operativo Estadual, cadastrar os estabelecimentos e o profissionais de saúde que atuarão nas unidades prisionais. Após, como condição para o recebimento dos incentivos, deve haver a aprovação pelo Ministério da Saúde do Plano Operativo Estadual e finalmente a Publicação no Diário Oficial da União da Portaria de Qualificação. (PORTAL SAUDE, 2015).

Desta maneira, o PNSSP se apresenta atualmente com um programa governamental que precisa de aperfeiçoamentos, sendo que em 2010 passou por uma revisão na esfera governamental, na qual mostrou que os financiamentos, recursos humanos e processo de trabalho em equipe são grandes dilemas, sendo que grande parte dos recursos oriundo do repasse da União para os Estados e Municípios nem se quer foi gasto. (PNSSP, 2015).

2.3 A crise do Sistema Penitenciário Brasileiro

Os sistemas penitenciários que existiram, numa sequência evolutiva, basicamente podem ser divididos em três: o Pensilvânio ou da Filadélfia, o Auburniano e o Progressivo. O primeiro sistema conhecido como celular, utilizava o isolamento absoluto, onde o preso era isolado em uma cela, sem direito de receber

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visitas nem de trabalhar, e para a reabilitação do criminoso era incentivado a leitura da Bíblia. Já o segundo sistema, surgiu com a necessidade de superar os defeitos e limitações do regime anterior, através de um regime menos rigoroso, permitia o trabalho dos presos inicialmente em suas celas e posteriormente em comum, porém exigia-se o silêncio absoluto entre os condenados. Por fim o terceiro sistema consolidou a pena privativa de liberdade como instituto penal e a busca de uma reabilitação do preso, levando em conta o comportamento e aproveitamento dos presos pela boa conduta e pelo trabalho, que eram computados como condição para sua liberação de acordo com a gravidade do delito praticado. (COSTA NETO, 2013).

A pena de prisão, especialmente a partir do século XIX, através da instituição do Sistema Progressivo tornou-se a principal resposta penológica, no qual a prisão passou a ser um meio justo e adequado para se pagar pelos atos criminosos cometidos e realizar a reforma do delinquente. Roberto Bitencourt (apud COSTA NETO, 2013) considera que o sistema progressivo:

[...] significou, inquestionavelmente, um avanço penitenciário considerável. Ao contrário dos regimes auburniano e filadélfico, deu importância à própria vontade do recluso, além de diminuir significativamente o rigorismo na aplicação da pena privativa de liberdade.

A política criminal no Brasil atualmente tem influência, com algumas modificações, do sistema progressivo para execução da pena privativa de liberdade, que objetiva a ressocialização do condenado e a progressão de regime da pena, prevista no Código Penal (art. 33,§2º) e na Lei de Execução Penal (art. 112). (COSTA NETO, 2013).

Como é sabido o Sistema Penitenciário Brasileiro atualmente encontra-se em crise e vem sendo alvo de diversas críticas e grandes discussões por parte da sociedade, das organizações nacionais e internacionais de direitos humanos, tendo em vista que os estabelecimentos prisionais do país apresentam deficiências e ilegalidades, como a superlotação, a precariedade e insalubridade, além do abandono por parte das autoridades responsáveis e da sociedade. (RABELO, 2011).

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De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Justiça, no primeiro semestre de 2014, o Brasil já possuia a quarta maior população carcerária mundial com 607.700 mil presos, ficando atrás somente da Rússia com 673.800mil, da China com 1,6 milhão e dos Estados Unidos com 2,2 milhões. Em um período de 10 anos, que corresponde entre 2004 e 2014, aumentou em 80% a população carcerária no país, passado de 336.400 mil para 607.700 presos, estatísticas que com esse mesmo ritmo de crescimento até 2075, uma a cada 10 pessoas estarão atrás das grades no Brasil. (BRASIL TEM..., 2015).

Ainda segundo o Ministério de Justiça, se continuar com esse crescimento até 2018 o Brasil superará a Rússia em índices de população carcerária, tendo em vista que, enquanto aqui no país o índice da população carcerária aumentou 33% entre 2008 e 2013, nos Estados Unidos, na China e na Rússia este índice caiu 8%, 9% e 24% respectivamente. (BRASIL TEM..., 2015).

Os problemas encontrados nos estabelecimentos prisionais brasileiros são inúmeros: constata-se a falta de respeito com os presos, a superlotação carcerária, a ausência de atividades laborativas dentro dos presídios, o elevado índice de consumo de drogas, a ocorrência de reiterados abusos sexuais, etc. Tais circunstâncias contribuem para situações degradantes das prisões brasileiras e revelam a extrema dificuldade de se obter a ressocialização do condenado. (COSTA NETO, 2013).

A pena de prisão no Brasil, não apresenta condições de qualidade e oportunidade para a recuperação do preso, ao contrário do que objetiva o sistema, a grande parte não estuda, não trabalha e tão pouco há separação de acordo com a periculosidade e a reincidência de cada preso. Os presídios se tornaram os maiores redutos de violência e violação dos Direitos Humanos, servindo apenas para reforçar valores negativos do condenado, como se extrai das palavras de Roberto Bitencourt (apud COSTA NETO, 2013):

[...] atualmente predomina uma atitude pessimista, que já não tem muitas esperanças sobre os resultados que se possa conseguir com a prisão tradicional. A crítica tem sido tão persistente que se pode afirmar, sem exagero, que a prisão está em crise. Essa crise abrange também o objetivo ressocializador da pena privativa de liberdade,

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visto que grande parte das críticas e questionamentos que se fazem à prisão refere-se à impossibilidade – absoluta e relativa – de obter algum efeito positivo sobre o apenado.

No gráfico 1, mostra-se a realidade quanto ao grau de instrução dos apenados:

Gráfico 1 - grau de instrução dos apenados.

Fonte: Susepe-RS. Departamento de Planejamento. Dados estatísticos: grau de instrução. Publicado em 05 Set. 2014. Disponível em: <http://www.susepe.rs.gov.br/conteudo.php?cod_menu=34&cod_conteudo=118>. Acesso em: 05 Nov. 2015.

O sistema carcerário do Brasil apresenta-se precário e em condições subumanas, onde os detentos vivem amontoados e o mais forte subordina o mais fraco, situações que consequentemente acarretam violências sexuais entre eles, faz com que doenças se proliferem e a quantidade de drogas aumente. Ainda, a

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incapacidade dos agentes, a corrupção, a falta de higiene e assistência ao condenado, são fatores que contribuem para esta falência. (CAMARGO, 2014).

Cada pessoa que chega as penitenciarias para cumprir pena, chega sem ou com alguma patologia, as que chegam sem apresentar alguma patologia corre o risco inevitavelmente de adquirir algum tipo de transtorno, mental ou físico, por se tratar de um ambiente que se apresenta muitas vezes superlotado, com infraestrutura precária e com a falta de fornecimento de alimentação, e às que já possuem alguma patologia a tendência é que sua situação só piore. (RIBEIRO; SILVA, 2014).

Nesse entendimento Fernando Barcellos de Almeida (1996, p.130) faz considerações a respeito das penitenciárias brasileiras, lecionando que:

Além de inútil como solução para os problemas da criminalidade, nela há um desrespeito sistemático aos direitos humanos garantidos pela constituição, inclusive aos condenados. A falência do sistema penitenciário é uma realidade inevitável até porque é a expressão do fracasso de um sistema igualmente ultrapassado, o da insistência nas penas de prisão como resposta única à criminalidade.

De acordo com dados do Sistema Integrado de Informações Penitenciárias do Ministério da Justiça (Infopen) no sistema prisional brasileiro vivem cerca de 700 mil pessoas em 1.771 estabelecimentos penais do Brasil, sendo que o número de vagas no país é em torno de 370 mil, constatando-se que o sistema não possui estabelecimentos em número suficiente para atender a população carcerária que cresce desordenadamente a cada ano, o que acarreta a superlotação nas celas das penitenciarias. (RABELO, 2011).

O gráfico 2, apresenta o déficit de vagas nas prisões e a disparidade com relação à capacidade das prisões em todo o Brasil:

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Gráfico 2 – Número de Pessoas Presas x Números de Vagas.

Fonte: Conselho Nacional de Justiça. Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (DMF). Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/2330425/>. Acesso em: 05 Nov. 2015.

A principal consequência que surgem em detrimento da superlotação são as persistentes tentativas de fugas e as rebeliões, além de favorecer o desenvolvimento de problemas relacionados à saúde, tendo em vista as péssimas condições que as penitenciárias apresentam de ventilação, de iluminação, de temperatura e de higiene, isso tudo aliados com a promiscuidade e má alimentação tornam as prisões um ambiente favorável à proliferação de epidemias e ao contágio das mais variadas doenças. (COSTA NETO, 2013).

As doenças mais comuns são as relacionadas com o aparelho respiratório, como a tuberculose e a pneumonia, também são altas os índices da hepatite e de doenças venéreas em geral e principalmente o HIV/AIDS, em decorrência do homossexualismo, da violência sexual praticada por parte dos presos e do uso de drogas injetáveis. (ASSIS, 2007).

Segundo um recente estudo do UNAIDS, sobre a situação do HIV na América Latina constatou-se que os índices da doença em prisões do Brasil são altos, e ainda, insurge entre a população prisional que o nível de conhecimento sobre a doença é elevado, porém o acesso às ações de assistência e prevenção fornecidos dentro das prisões continua inadequado. (PORTAL SAÚDE, 2015).

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A ação de prevenção da transmissão da infecção pelo HIV e outras doenças infecciosas, se insere em esforços para o melhoramento das condições de infraestrutura carcerária. Uma vez que a falta de acesso a serviços médicos adequados nas unidades prisionais, faz com que a vulnerabilidade desta população ao contágio destas doenças aumente, e ainda em detrimento de tais condições precárias, a implementação de respostas eficazes por parte dos profissionais de saúde penitenciários que trabalham no combate das epidemias ficam prejudicadas. (PORTAL SAÚDE, 2015).

Isto posto, diante da crise do sistema penitenciário que assola o Brasil, constatado a partir de estudos realizados em todos os estabelecimentos prisionais do país, conclui-se que o estabelecimento prisional que gera maior preocupação por apresentar de forma iminente todas as mazelas acima expostas e a inerente violação dos direitos dos presos estabelecidos na Lei de Execução Penal e na Constituição, bem como dos direitos humanos garantidos internacionalmente a todos os seres humanos, é o Presidio Central de Porto Alegre, situado na Capital do Rio Grande do Sul, o qual passaremos a abordar no capítulo a seguir.

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3 A VIOLAÇÃO DO DIREITO A SAÚDE NO PRESÍDIO CENTRAL: ESTUDO DE CASO

Neste capítulo será realizado um estudo de caso, onde abordaremos as condições insalubres e precárias enfrentadas pelos apenados no Presídio Central de Porto Alegre atualmente e as consequências advindas destes fatores à saúde que carreta a violação dos direitos humanos na instituição.

Também será abordado o posicionamento das entidades nacionais e internacionais de Direito Humanos diante da realidade do estabelecimento prisional e a imposição de medidas cautelares ao Estado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, bem como, as medidas a serem adotadas para superação da crise.

3.1 Condições insalubres e precárias enfrentadas pelos presos na instituição

O Presídio Central de Porto Alegre, construído em 1959, está localizado na Capital do Estado do Rio Grande do Sul, inicialmente era composto por 6 pavilhões, foi projetado para ter celas individuais, refeitório, banheiro e capacidade máxima para 1.984 presos. Composto por 10 pavilhões até 2014, com capacidade para 2.069 pessoas, a ocupação já era superior a sua capacidade oficial, com aproximadamente 3.700 mil detentos. Todavia, somente estes números não representam a gravidade e o nível insustentável de violação aos direitos humanos que perpetua na maior Casa Prisional do Estado do Rio Grande do Sul, e que passaremos a expor. (REPRESENTAÇÃO..., 2015).

Em janeiro de 2014 foi publicado pela revista Veja um artigo sobre um ranking dos piores presídios do Brasil, os dados foram colhidos por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário, instaurada pela Câmara dos Deputados Federais do Brasil em 2008, a qual se ocupou em apurar a situação do sistema prisional brasileiro. De acordo com o relatório da CPI, considerando critérios de superlotação, de insalubridade, de infraestrutura, de ressocialização, de assistência médica e de maus tratos, o Presídio Central de Porto Alegre está no topo

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do ranking sendo considerado o pior estabelecimento prisional do Brasil e designado como “A masmorra do século 21”. (OS DEZ..., 2014).

Segundo o extenso relatório da CPI, o Presídio Central de Porto Alegre possui o dobro do número de detentos suportável, e está há quase vinte anos interditado para receber novos condenados, podendo apenas receber detentos temporários. O esgoto corre a céu aberto, as celas não tem grades, e mesmo que seja respeitada a capacidade máxima de detentos, não teria condições de permanecer em funcionamento devido à degradação da infraestrutura. (MARCHEZAN, 2014).

Em 2013 a situação do Presídio Central foi denunciada à Organização dos Estados Americanos (OEA) por Entidades de direitos humanos. Oportunamente afirmaram que no Presídio Central devido à lotação extrema o recinto estaria organizado atualmente por um “sistema de galerias”, onde as portas das celas nessas áreas teriam sido removidas, os sistemas hidráulicos estariam em colapso gerando infiltrações de águas residuais nos tetos, os resíduos de esgotos estariam sendo despejados no pátio, as instalações elétricas apresentavam-se extremamente precárias com cabos expostos e instalações elétricas clandestinas, não teria abastecimento de água nas galerias e não existiria algum plano contra incêndios. (COMISSÃO..., 2015).

Em outubro de 2014, para iniciar a extinção do Presídio Central, o pavilhão C foi demolido, isso ocorreu porque havia expectativa da inauguração da casa prisional de Canoas, que teria cerca 2,8 mil vagas, porém as obras atrasaram e o Central agora com um pavilhão a menos e espaço para 1.824 detentos, acabou inchando ainda mais, apresentando até agosto de 2015 um déficit de 2.800 vagas, ou seja, 158% além de sua capacidade com cerca de 4.700 mil apenados. (COSTA, 2015).

Com o aumento da demanda de presos ao longo dos anos, as celas que a princípio eram individuais tiveram que ser adaptadas, ao passo em que quatro celas individuais deram espaço uma cela coletiva. Porém em pouco tempo a falta de investimentos e a superlotação tornaram impossível fisicamente o confinamento celular, considerando que hoje há quase 40 (quarenta) detentos para cada uma das celas coletivas. Devido à incapacidade de comportar os detentos, as portas tiveram

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