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A Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a imposição de

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) foi criada em 1959 e é o principal órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA) encarregado da proteção dos direitos humanos no continente americano, o qual considera fundamental a atenção às populações e grupos submetidos historicamente à discriminação. Seu trabalho é realizado com base em três conceitos: (I) o Sistema de Petição individual, (II) o monitoramento da situação dos direitos humanos nos

Estados Membros, e (III) a atenção as linha temáticas prioritárias, e de forma complementar baseia-se no princípio pro homine - cuja interpretação de uma norma deve sempre favorecer ao ser humano - e do acesso à justiça. (ORGANIZAÇÃO, 2015).

Em janeiro de 2013 Entidades denunciaram o Brasil à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, na tentativa de buscar soluções para a crise do Presídio Central de Porto Alegre, tendo em vista a situação caótica em que se encontra e a evidente violação dos direitos humanos. As Entidades solicitaram uma série de medidas cautelares a ser aplicadas no Presídio Central, em benefício das pessoas privadas de liberdade, para que então a CIDH pressionasse a União para intervir no Estado com o intuito de corrigir o problema. (COMISSÃO..., 2015).

As Entidades que efetuaram a denúncia compõem o Fórum da Questão Penitenciaria e entre elas estão: Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS); Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (AMPRS); Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do SUL (ADPERGS); Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (CREMERS); Conselho da Comunidade para Assistência aos Apenados das Casas Prisionais Pertencentes às Jurisdições da Vara de Execuções Criminais e Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas de Porto Alegre; Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE); Instituto Transdisciplinar de Estudos Criminais (ITEC) e Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero. (COMISSÃO..., 2015).

A representação à OEA denuncia a superlotação, a falta de saneamento e a defasagem estrutural do Presídio Central, além de outros problemas que afetam o direito a vida e a integridade física, com o objetivo de remeter o pedido de outorga de 20 medidas cautelares consideradas pertinentes para prevenir novas ofensas aos direitos fundamentais dos apenados de acordo com padrões interamericanos, bem como para pressionar a União a intervir no Estado para o cumprimento das sanções estabelecidas, esclarecendo que com o melhoramento do sistema prisional consequentemente melhorará a segurança para toda a sociedade. (BRZUSKA, 2015).

Após o envio da denuncia, em Fevereiro de 2013 a CIDH solicitou ao Estado brasileiro informações a respeito do pedido das medidas cautelares encaminhadas pelas Entidades. O Estado enviou resposta à Comissão em Março do mesmo ano apresentando sua defesa quanto à situação do estabelecimento prisional e as medidas assistenciais que estão sendo aplicadas, e após a CIDH ter enviado informações adicionais apresentadas pelos peticionários, o Estado encaminhou outra manifestação em outubro de 2013. (RESPOSTA..., 2015).

A Comissão e a Corte Interamericana estabeleceram que as medidas cautelares e provisórias tivessem duplo caráter, um cautelar e outro tutelar. No tutelar, as medidas pretendem evitar um dano irreparável e buscam preservar o exercício dos direitos humanos. No cautelar, as medidas teriam o propósito de manter uma situação jurídica enquanto estiverem sendo analisadas pela CIDH. Até que se resolva a solicitação que está em analise da OEA, o caráter cautelar terá o fim de preservar os direitos em possível risco, assegurando a integridade e a eficácia da decisão de mérito. As medidas cautelares, desta maneira, pretendem evitar a lesão aos direitos alegados, e permite que o Estado possa cumprir as reparações ordenadas, o que se não fossem atendidas poderiam tornar a decisão final sem efeito útil. (ONU, 2015).

Ainda a Comissão, para fins de tomada de uma decisão sobre as medidas cautelares, considerou a gravidade da situação, que significaria uma séria consequência que uma ação ou omissão poderia causar sobre um direito protegido internacionalmente, a urgência da situação indicando que o risco e a ameaça seriam iminentes e poderiam se materializar, e o dano irreparável, que por sua própria natureza são insuscetível de reparação e adequada indenização. (ONU, 2015).

Desta maneira levando em conta a urgência e a gravidade do caso no Presídio Central de Porto Alegre, após analisar as considerações de fato e de direito apresentadas pelas Entidades e pelo Estado, em dezembro de 2013 por meio da Resolução 14/2013 a Comissão Interamericana de Direito Humanos (ONU, 2015), concedeu liminar outorgando ao Estado a implementação imediata das seguintes medidas cautelares deferidas:

a) Adotar as medidas necessárias para salvaguardar a vida e a integridade pessoal dos internos do PCPA;

b) Assegurar condições de higiene no recinto e proporcionar tratamentos médicos adequados para os internos, de acordo com as patologias que estes apresentam;

c) Implementar medidas a fim de recuperar o controle de segurança em todas as áreas do PCPA, seguindo os padrões internacionais de direitos humanos e resguardando a vida e a integridade pessoal de todos os internos e, em particular, garantindo que sejam os agentes das forças de segurança do Estado os encarregados das funções de segurança interna e assegurando que não sejam conferidas funções disciplinares, de controle ou de segurança aos internos;

d) Implementar um plano de contingência e disponibilizem extintores de incêndios e outras ferramentas necessárias;

e) Tomar ações imediatas para reduzir substancialmente a lotação no interior do PCPA.

A Comissão Interamericana consistentemente assinala que a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 estabelece em seu artigo 11 as obrigações gerais que o Estado tem de respeitar os direitos e liberdades, bem como o de garantir o livre e pleno exercício a todas as pessoas que estão sujeitas a sua jurisdição. Ainda, consideram que os Estados estão em uma posição de garantidor do respeito às pessoas que se encontram privadas de sua liberdade, em razão de possuir um controle sobre elas. Ademais o Sistema Interamericano considerou pertinente e necessária que as condições das casas prisionais estejam ajustadas às normas internacionais de proteção dos direitos humanos. (ONU, 2015).

Essa determinação feita pela Comissão ao Brasil tem respaldo no Artigo 25 do Regulamento da CIDH, o qual permite que a Comissão solicite a um Estado a aplicação de medidas cautelares consideradas pertinentes para prevenir danos irreparáveis a pessoas que estejam sob sua jurisdição em virtude de seu vínculo como uma organização ou comunidade de pessoas, considerando a urgência e a gravidade do caso. (OEA, 2009).

3.3 O futuro da instituição e as medidas a serem adotadas para a superação da

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