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Distribuição das Sobras do Exercício: Método de Rateio e Fidelização do Associado, O Caso da Coopermil

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Distribuição das Sobras do Exercício: Método de Rateio e Fidelização do Associado, O Caso da Coopermil1

Fábio Anderle2 Daniel Knebel Baggio3

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo avaliar o atual método de distribuições de sobras da cooperativa, propor a mudança do método com a adoção de novos critérios com intuito de trazer uma maior equidade na distribuição e relacionar com a fidelização do associado. O tema foi escolhido por estar diretamente relacionado com o associado, refletindo na relação deste com sua cooperativa. O trabalho foi realizado com base em dados do ano de 2016 e abordou variáveis como produção, entrega e venda de grãos, potencial de compras e compras efetivadas. Os resultados demonstraram que o método proposto é mais justo, porém não tem uma relação direta com o grau de fidelização do associado.

Palavras-chave: Cooperativa; Distribuição de Sobras; fidelização

ABSTRACT

The present article aims to evaluate the current method of distribution of leftovers from the cooperative, propose the change of the method with the adoption of new criteria in order to bring greater equity in the distribution and relate to the loyalty of the associate. The theme was chosen because it is directly related to the member, reflecting on its relationship with its cooperative. The work was carried out based on data from the year 2016 and addressed variables such as production, delivery and sale of grains, purchasing potential and actual purchases. The results showed that the proposed method is fairer, but does not have a direct relation with the degree of loyalty of the associate.

Keywords: cooperative; leftover distribution; loyalty

1. Introdução:

Na atual conjuntura socioeconômica, está cada vez mais difícil para as cooperativas agropecuárias manterem seus associados fiéis aos princípios do cooperativismo, mantendo a entrega da produção e a compra de insumos na sua cooperativa. Os desafios são muitos, pois, o mundo encontra-se diferente, quando a maioria das cooperativas foram criadas, há anos atrás, não havia infraestrutura para armazenamento e escoamento da produção e as dificuldades

1 Artigo de Conclusão do Curso de Pós-Graduação, MBA em Gestão de Cooperativas, Curso este oferecido através de Convênio entre a UNIJUI e o Sescoop/RS. Santa Rosa/RS, 2016.

2 Acadêmico do Curso de Pós-Graduação MBA em Gestão de Cooperativas, UNIJUÍ, 2016. E-mail:

fabio.anderle@bol.com.br; Telefone: (55) 99673-7135. 3 Professor Orientador Daniel Knebel Baggio

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uniram pessoas em prol do bem comum, estimulando e pulsionando o espírito cooperativo. Com o passar dos anos a região se transformou, surgiram mais opções, empresas privadas focadas em explorar a imensa riqueza gerada através da soja, do milho e do trigo, principais produtos agrícolas de nossa região. Além da forte concorrência outro desafio para o cooperativismo foi a transformação da sociedade como um todo: hoje se vive em uma sociedade individualista, com base na recompensa financeira, com isso parte do quadro social, migrou para os comércios particulares em busca de vantagens econômicas momentâneas.

As sobras ao final do exercício, são um diferencial das cooperativas em relação as demais empresas, podendo contribuir para a manutenção e ampliação do quadro social, já que o sucesso da cooperativa reverterá em retorno financeiro para o associado, servindo de estímulo para sua fidelização.

Nesse sentido, o presente artigo tem por objetivo desenvolver um estudo de caso sobre o método de distribuição das sobras do exercício utilizado pela Cooperativa Mista São Luís Ltda., e o possível aperfeiçoamento a fim de torna-lo mais justo e capaz de contribuir no processo de fidelização do associado.

O presente estudo se justifica pela importância do cooperativismo na região Noroeste do Rio Grande do Sul e pela necessidade de desenvolver uma estratégia de valorização, pertencimento e reciprocidade, que possa fazer com que o associado se fidelize, contribuindo assim para o fortalecimento e crescimento da cooperativa e do cooperativismo.

Diante do exposto, o presente artigo está estruturado da seguinte forma. Inicialmente é apresentada a introdução, contendo o tema, o objetivo e a justificativa do estudo, em seguida os fundamentos conceituais, a metodologia e os resultados e na parte final deste artigo são apresentadas as conclusões e considerações finais.

2. Referencial Teórico

2.1 Cooperativismo e seu histórico

Segundo Barbosa (1999 Apud STELA, 2003, p. 7) o cooperativismo é uma doutrina econômica, que se baseia na cooperação entre indivíduos, através do trabalho e da ajuda mútua, sendo um movimento pacífico não exercendo coação ou violência como instrumento de conquista e expansão.

Já Bialoskorski Neto (1996 Apud STELA, 2003, p. 7) entende o cooperativismo como uma forma de organização empresarial particular, onde os associados são proprietários e

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administradores de seu negócio e, por esse motivo não pode ser abordado de forma isolada ou como uma simples empresa de capital.

Em síntese o cooperativismo expressa a necessidade das pessoas se reunirem para solucionar problemas em comum.

Essa necessidade surge na antiguidade com as grandes civilizações. Na Babilônia, Grécia e Egito, já existiam formas de cooperação, onde grupos de pessoas arrendavam terras, cultivavam alimentos e depois os dividiam entre si. Porém o surgimento da primeira cooperativa aconteceu somente em 1844, na cidade Inglesa de Rochdele-Manchester. Nessa época a Europa vivia no auge da Revolução Industrial, e muitas pessoas que trabalhavam artesanalmente viram seu trabalho ser substituído por máquinas, abrindo espaço para exploração da mão-de-obra, onde os empregados eram mal remunerados, e forçados a trabalhar em condições degradantes e insalubres. Revoltados com essa situação, um grupo de tecelões compostos por vinte e oito pessoas, sendo vinte e sete homens e uma mulher, se reuniram para formar a primeira cooperativa do mundo a “Sociedade dos Probos de Rochdele”. A partir daí o cooperativismo ganha corpo e em 1881 já existiam 1.000 cooperativas de consumo na Inglaterra, com cerca de 500.000 pessoas associadas.

Mais tarde, exatamente quarenta e cinco anos após os Pioneiros de Rochdele, surge no Brasil a primeira cooperativa que se tem registro, na cidade de Ouro Preto-MG no ano de 1889 e atuava no ramo de consumo. Após o Cooperativismo se expandiu para Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.

No Rio Grande do Sul, o Cooperativismo surge em 1902, por iniciativa do padre Theodor Amstadt, com a fundação da primeira cooperativa de crédito na Linha Imperial, hoje município de Nova Petrópolis, por colonos Alemães e Italianos.

O Cooperativismo e a Imigração no Rio Grande do Sul estão intimamente ligados. Os imigrantes trouxeram de seus países a cultura do trabalho associativo, que aliado as dificuldades encontradas na nova terra, criaram entre eles laços de coesão que os motivou a se organizar em cooperativas.

Na região noroeste não foi diferente, a vinda dos colonos europeus na sua maioria de origem Alemã, Italiana e Polonesa, trouxe consigo os ideais cooperativistas.

A expansão do projeto de colonização para o noroeste do Rio Grande do Sul tomou um impulso decisivo com a emancipação de Santo Ângelo (1873), com a conclusão do ramal da via férrea até Cruz Alta (1894) e com a criação das colônias oficiais de Ijuí (1890) e Guarani (1891) e da colônia particular de Cerro Azul (1902), que passaram a servir como atrativos para a vinda de imigrantes europeus não-ibéricos ou seus descendentes, neste último caso provenientes das colônias velhas que já sofriam relativa pressão demográfica. A partir desses primeiros núcleos coloniais foi possível a criação de novas colônias, oficiais (no caso de Santa Rosa, em 1914) e particulares

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(no caso de Boa Vista em 1912), que integraram a região ao projeto nacional de fortalecimento de um mercado interno, comprador de produtos industrializados e vendedor de alimentos para abastecer as regiões agroexportadoras. (BÜTTENBENDER, ROTTA e HOFLER, 2010, p. 15)

No Início da colonização predominou a agricultura de subsistência focada na produção de alimentos para o consumo da família, as mesmas eram agrupadas em pequenas comunidades geralmente de mesma origem étnica, onde haviam pequenos comércios que comercializavam produtos de primeira necessidade, era comum também as trocas de produtos entre as famílias.

“A partir do momento em que a sociedade regional se integrou a uma economia de mercado, na década de 1940, os critérios étnico-culturais começaram ser relativizados para justificar o sucesso pessoal e grupal, dando lugar, gradativamente, a critérios econômicos-culturais. “(BÜTTENBENDER; ROTTA e HOFLER, 2010, p. 16-17)

“Este modelo de sociedade colonial estabelecido na região Fronteira Noroeste alcançou seu período áureo com o ‘ciclo do suíno’ na década de 1950. Porem na década seguinte já começaram a se esboçar as dificuldades da reprodução da agricultura familiar, do pequeno comércio e da indústria tradicional que davam suporte ao modelo. “(ROTTA, 1999 Apud BÜTTENBENDER; ROTTA e HOFLER, 2010, p. 18)

“O processo de modernização da agricultura, implementado no Brasil a partir da década de sessenta, provocou fortes impactos e rupturas na constituição da sociedade regional. “(BÜTTENBENDER; ROTTA e HOFLER, 2010, p. 20)

“Nesta busca de soluções é que emerge com força os ideais do cooperativismo empresarial ligado ao projeto de modernização da agricultura já em curso em outras regiões do país. “(BÜTTENBENDER; ROTTA e HOFLER, 2010, p. 19)

É entre as décadas de 1950 e 1960 que surgem, portanto, a grande maioria das cooperativas na região Noroeste do Rio Grande do Sul, inclusive a Coopermil, objeto de estudo deste artigo.

2.2 Princípios do Cooperativismo

Os princípios do cooperativismo são orientações gerais e constituem a base do movimento cooperativo. Estes princípios foram criados e postos em pratica a partir da fundação da primeira cooperativa formal em 1844, e com o passar dos anos foram sendo atualizados e adaptados à realidade atual pela ACI – Aliança Cooperativa Internacional.

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1. Adesão Voluntária e Livre: Cooperativas são organizações voluntárias abertas para todas as pessoas aptas para usar seus serviços e dispostas a aceitar suas responsabilidades de sócio sem discriminação de gênero, social, racial, política ou religiosa.

2. Gestão Democrática pelos Associados: As Cooperativas são organizações democráticas controladas por seus sócios, os quais participam ativamente no estabelecimento de suas políticas e nas tomadas de decisões. Homens e mulheres, eleitos pelos sócios, são responsáveis para com os sócios. Nas cooperativas singulares, os sócios têm igualdade na votação; as Cooperativas de outros graus são também organizadas de maneira democrática.

3. Participação Econômica dos Associados: Eles contribuem equitativamente e controlam democraticamente o capital de sua Cooperativa. Parte desse capital é usualmente propriedade comum da Cooperativa para seu desenvolvimento. Usualmente os sócios recebem juros limitados sobre o capital, como condição de sociedade. Os sócios destinam as sobras para os seguintes propósitos: desenvolvimento das Cooperativas, apoio a outras atividades aprovadas pelos sócios, redistribuição das sobras, na proporção das operações.

4. Autonomia e independência: As Cooperativas são organizações autônomas de ajuda mútua. Entrando em acordo operacional com outras entidades, inclusive governamentais, ou recebendo capital de origem externa, elas devem fazer em termos que preservem o seu controle democrático pelos sócios e mantenham sua autonomia.

5. Educação, Formação e Informação: As Cooperativas oferecem educação e treinamento para seus sócios, representantes eleitos, administradores e funcionários para que eles possam contribuir efetivamente para o seu desenvolvimento. Também informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes formadores de opinião sobre a natureza e os benefícios da cooperação.

6. Inter Cooperação: As cooperativas atendem seus sócios mais efetivamente e fortalecem o movimento cooperativo trabalhando juntas, e de forma sistêmica, através de estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais, através de Federações, Centrais, Confederações etc.

7. Compromisso com a Comunidade: As Cooperativas trabalham pelo desenvolvimento sustentável de suas comunidades, através de políticas aprovadas pelos seus membros, assumindo um papel de responsabilidade social junto a suas comunidades onde estão inseridas.

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2.3 Cooperativa

Segundo Schmidt e Perius (2003, Apud ROSSÉS et al, 2015, p. 19) uma cooperativa pode ser entendida como:

Associações autônomas de pessoas que se unem voluntariamente e constituem uma empresa, de propriedade comum, para satisfazer aspirações econômicas, sociais e culturais. Baseiam-se em valores de ajuda mútua, solidariedade, democracia, participação e autonomia. Os valores definem as motivações mais profundas do agir cooperativo, sendo a instância inspiradora dos princípios do Movimento Cooperativista Mundial.

As sociedades cooperativas são reguladas pela Lei Nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que define a Política Nacional do Cooperativismo e instituiu o regime jurídico das cooperativas. Ela regulamenta toda atividade da cooperativa desde a sua formação, constituição, os objetivos, o funcionamento, a definição do ato cooperativo, a guarda dos livros, o capital social, os fundos, as assembleias e conselhos e os deveres e direitos dos associados.

A Lei 5.764/71 conceitua cooperativa como:

Art. 4º. As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características: I – Adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;

II – Variabilidade do capital social, representado por quotas-partes;

III – Limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais;

IV – Inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade; V – Singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade;

VI – Quórum para o funcionamento e deliberação da Assembleia Geral baseado no número de associados e não no capital;

VII – Retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral; VIII – Indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistências Técnica, Educacional e Social;

IX – Neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;

X – Prestação de assistência aos associados, e quando prevista nos estatutos aos empregados da cooperativa;

XI – Área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços.4

As sociedades cooperativas se diferenciam das demais empresas pelas seguintes características.

4 Artigo da Lei nº 5.764/71, a chamada Lei das Cooperativas, que regulamenta a atividade das Cooperativas, redação completa disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5764.htm

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Quadro 1: Sociedade Cooperativa X Sociedade Mercantil

Fonte: PASCUCCI, CASTRO e ROCHA (2006)

O Quadro 1 diferencia as sociedades cooperativas das sociedades mercantis, evidenciando o foco humanista e a gestão democrática além do papel social que as cooperativas desenvolvem na comunidade.

No Brasil existem 6.673 cooperativas, que contam com mais de 12,7 milhões de associados e empregam cerca de 366 mil colaboradores. Já no Rio Grande do Sul, são 434 cooperativas, 2,7 milhões de associados e aproximadamente 58,8 mil empregados.

As Cooperativas estão distribuídas em 13 ramos de atividades, a figura 1 traz todos os ramos do cooperativismo e como estão distribuídas as 434 cooperativas do estado do Rio Grande do Sul, com destaque para os ramos agropecuário, de crédito e de saúde que concentram 65% de todas as cooperativas do estado.

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Figura 1: Ramos do Cooperativismo

Fonte: SESCOOP/RS (2015)5

Esses números demonstram a importância econômica e social que o cooperativismo tem para os brasileiros e para os gaúchos, agregando valor aos produtos e serviços dos seus associados, gerando tributos, criando e mantendo postos de trabalho.

2.4 O Ato Cooperativo e Ato não-cooperativo

O art. 79 da Lei nº 5.764/71 define ato cooperativo como:

Art. 79. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a consecução dos objetivos sociais.

Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de mercadoria.

Em síntese, são atos cooperativos as operações realizadas com associados, já os Atos não cooperativos são todas as operações realizadas com não associados.

A figura a seguir demonstra as situações em que se realiza o ato cooperativo, o qual gera sobras e quando se realiza o ato não cooperativo, que não gera sobras.

5 Disponível em:

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Figura 2: Ato Cooperativo

Fonte: Manual de Contabilidade para as Cooperativas Agropecuárias (DICKEL, 2014, p.42)

2.5 Tributação do Ato Cooperativo

Há uma diferenciação tributária entre as operações em que a cooperativa realiza com seus associados denominadas “ato cooperativo” e as operações com não-associados ou terceiros, denominadas de “ato não-cooperativo. Levando-se em conta que o objetivo principal da cooperativa não é o lucro, mas sim a satisfação da sua finalidade social, sobre o ato cooperativo não incide IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica) e CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), que são tributos que incidem sobre o lucro, como também não há incidência de PIS (Programa de Integração Social) e COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), a não incidência de tributos sobre o ato cooperativo ocorre em virtude de não haver real transferência de titularidade dos bens, pois os mesmo ingressam para realizar o objetivo social. Para tanto a contabilidade precisa realizar a contabilização das operações separadamente, ou seja, é apurado um resultado (sobras ou perdas) das operações dos atos cooperativos e é apurado outro resultado das operações com atos não cooperativos, conforme pode ser visto no exemplo a seguir.

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Quadro 2: Demonstração de Sobras e Perdas

Fonte: Elaborado pelo autor

Ao final da apuração de resultado é realizada a destinação das sobras.

2.6 Destinação de Sobras em Cooperativas

No caso das especifico das cooperativas não tratamos os resultados como lucros ou prejuízos, visto que a atividade é sem fins lucrativos, mas sim como sobras ou perdas.

Após a apuração do resultado líquido, o valor resultante das operações realizadas com não cooperados ou terceiros é destinado integralmente ao FATES (Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social), já o valor resultante das operações realizadas com cooperados primeiramente é destinado aos fundos obrigatórios em conformidade com o disposto na Lei nº 5.764/71 sendo:

a) Fundo de Reserva: Constituído de no mínimo 10% das sobras líquidas do exercício. Este fundo funciona com uma poupança interna dentro da cooperativa, esses valores evitarão que os sócios tenham que cobrir em sua totalidade eventuais perdas da cooperativa, bem como atender as necessidades de desenvolvimento e melhoria da mesma.

b) FATES: Constituído de no mínimo 5% das sobras líquidas do exercício. Este fundo é destinado para custear programas de assistência aos sócios e funcionários, permitindo

Atos Cooperativos Atos Não-cooperativos

Receita Bruta 132.000,00 34.000,00

( - ) Deduções 1.000,00 600,00

Receita Líquida 131.000,00 33.400,00

( - ) Custo Produto Vendido 53.000,00 16.200,00

Resultado Bruto 78.000,00 17.200,00 ( - ) Desp. Operacionais 800,00 200,00 Resultado Operacional 77.200,00 17.000,00 ( + ) Res. Não-operacional - -Resultado Antes do IR 77.200,00 17.000,00 ( - ) IR e CSLL - 5.000,00 Resultado Líquido 77.200,00 12.000,00 ( - ) Fundos de Reserva 7.720,00 -( - ) Fates 3.860,00 12.000,00

Sobras à Disp. da AGO 65.620,00

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assim que a cooperativa realiza programas continuados de proteção, fomento e assistência ao quadro social.

O estatuto social poderá instituir outros fundos de reserva bem como definir percentuais superiores para os fundos acima mencionados.

A coopermil tem em seu estatuto como destinações obrigatórias os seguintes percentuais:

5% - FATES

25% - Fundo de Reserva

40% - Fundo de Desenvolvimento Econômico

Uma vez destinadas as sobras aos fundos, o valor residual ficará à disposição da AGO (Assembleia Geral Ordinária) para deliberação. Assembleia decidirá por sua devolução total em espécie, pela incorporação total das sobras ao capital dos sócios, ou pela terceira alternativa em que parte das sobras é devolvida e o restante incorporado ao capital.

O retorno das sobras líquidas do exercício anterior, terá destinação proporcional ao valor das operações realizadas pelo associado (art. 4°, VII da Lei 5.764/71) ou a critério de previsão estatutária (art. 21, IV da Lei 5.764/71)

2.7 Fidelização

Um dos maiores problemas que as cooperativas agropecuárias vêm enfrentando é a falta de comprometimento e fidelidade de seus associados, seja na entrega de sua produção, seja na aquisição de insumos para a formação da sua lavoura.

“Segundo Móglia et al. (2004, p. 1 Apud ROSSÉS et al, 2015, p. 18) “a fidelidade e reciprocidade dos associados são comportamentos baseados em compromissos, responsabilidades e obrigações”.

Nas palavras de Azevedo; Orellano e Serigati (2008, p. 3, Apud ROSSÉS et al, 2015, p. 20), “fidelidade é entendida como o comprometimento de um associado para com sua cooperativa. Esse comprometimento se refere ao compromisso de entregar sua produção, participação nos processos de tomada de decisão, envolvimento com as rotinas e assuntos da organização”.

“O estudo de Simioni et al. (2009 Apud ROSSÉS et al, 2015, p. 21) concluiu que a maior parte das ocorrências de deslealdade, na compreensão dos cooperados, ocorre principalmente quando ele encontra preços mais competitivos em outros estabelecimentos.”

Os principais fatores que influenciam tanto de fidelidade, quanto infidelidade dos associados são: atendimento, assistência técnica, recebimento e classificação de grãos e preços

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de insumos.

3. Metodologia

Para a realização do artigo optou-se por uma pesquisa de natureza aplicada, com abordagem quantiqualitativa de objetivo exploratório com base em livros, periódicos, revistas, sites, dados obtidos junto aos departamentos contábil, administrativo, técnico e de marketing cooperativa e entrevista com associados.

O estudo tem por objetivo identificar o grau de fidelização do associado, analisar o atual método de distribuição das sobras do exercício, propor o aperfeiçoamento do mesmo, com a inclusão de novos critérios de rateio, e por fim avaliar se o método proposto beneficiará os associados mais fiéis e tornará a distribuição de sobras mais justa.

Os dados foram coletados entre os meses de setembro e outubro de 2017, e teve como base informações referentes ao ano de 2016. A população amostral foi de 302 associados de uma unidade da cooperativa situada no município de Novo Machado-RS, sendo que destes foram escolhidos 9 associados, definidos através de um sorteio, sendo três de pequeno porte (0 a 25 há), três de médio porte (26 a 80 há) e três de grande porte (mais de 80 há), a eles foi aplicado um questionário, o qual visava obter informações sobre a área cultivada, a produção obtida e o nível de tecnologia adotada.

Os dados do questionário, juntamente com os dados de produção entregue e compras de mercadorias obtidos junto a cooperativa formaram o índice de fidelização, após foi verificado o valor recebido pelo associado pelo método atualmente utilizado para o rateio de sobras, o qual baseia-se no volume da produção de soja entregue, e foi projetado o valor a ser recebido se fossem adicionados novos critérios de rateio, baseado na participação econômica do associado, ou seja, nas compras de Insumos, mercado, postos de combustível e na comercialização de grãos. Por fim analisou-se através de gráficos se os critérios propostos atingiram o objetivo.

4. Resultados

A cooperativa Mista São Luiz Ltda. – COOPERMIL, foi fundada em 27 de agosto de 1955, na localidade de Cinquentenário, então distrito de Santa Rosa, hoje município de Tuparendi-RS, e contou com a participação de 47 associados imbuídos da grande necessidade de organização e associação frente as dificuldades de comercialização existentes na época.

A primeira sede da cooperativa foi instalada em uma pequena casa na comunidade de Cinquentenário, e a primeira filial foi construída em Nova Esperança, então localidade de Tucunduva, hoje município de Novo Machado-RS.

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Posteriormente no ano de 1971 a sede administrativa foi transferida para Santa Rosa, a fim de facilitar a comunicação e centralização de controles, começa assim a expansão da Coopermil, com a abertura de novas filiais, aumento do quadro social e do número de colaboradores.

Hoje a cooperativa conta com mais 5.000 associados, cerca de 900 funcionários, filiais em 8 municípios da região noroeste do Rio Grande do Sul e uma vasta área de abrangência, conforme mostra a figura abaixo.

Figura 3: Área de Abrangência

Municípios com unidades

Municípios com atuação

Municípios com potencial de atuação

Fonte: http://www.coopermil.com/a-cooperativa/area-de-atuacao

A cooperativa busca oferecer ao seu associado uma estrutura completa, comtemplando desde os insumos para o plantio, assistência técnica qualificada e o recebimento de grãos, além de uma área de validação de pesquisas, a fim de validar e repassar as melhores técnicas e práticas agrícolas disponíveis no mercado.

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Atualmente são oito as áreas de negócios: Agropecuária, Sementes, Leite, Rações, Grãos, Processamento de Grãos, Supermercados e Postos de Combustíveis.

O estudo foi realizado na unidade de Novo Machado-RS, localizada na sede do município, seu quadro social possui 302 sócios de diferentes localidades do município e municípios adjacentes, a estrutura da unidade é composta por loja agropecuária, recebimento de grãos, depósito de calcário, fertilizantes, defensivos e demais insumos, supermercado e área administrativa, para o ano de 2018 há projetos de investimentos na unidade de cerca de dois milhões de reais, com construção de um depósito novo de calcário em substituição ao antigo e uma estrutura de armazenagem de grãos de setenta e cinco mil sacas, que até então a unidade não possuía. Os concorrentes na área de abrangência da unidade são: Dinon Cereais, COMTUL, COTRIROSA, Comercial Agrícola Nedel, Comercial Agrícola Secchi, Camera Agroalimentos, todos atuando na venda de insumos e recebimento e comercialização de grãos, além da Rural Mais Agronegócios, Planta Sul Insumos Agrícolas, Agrosol Agrícola, Agrovema Comércio de Produtos Agrícolas e Tarumã Comércio e Representações, que atuam na venda de insumos.

No ano de 2016 a Coopermil obteve um faturamento de R$ 679.094.944,45, sendo que R$ 286.230.184,53 foram operações com cooperados, que geraram um resultado de sobras a disposição da AGO (Assembleia Geral Ordinária) de R$ 2.468.827,81, sobre este saldo será aplicado o atual método de distribuição de sobras, e paralelo serão propostos novos critérios de rateio para o seu possível aperfeiçoamento e por fim avaliar a relação com a fidelidade do associado.

Segregando os valores do faturamento da cooperativa em cooperados e não cooperados e depois em departamento pode-se perceber a grande discrepância de valores entre os diferentes departamentos, os valores estão expressos em percentual.

Tabela 1: Segregação do Faturamento em Cooperados e Não Cooperados.

Departamentos cooperados em % Fat. com cooperados em % Fat. com não

Lojas Agropecuárias 77,33 22,67

Grãos (Soja, Milho, Trigo) 82,51 17,49

Supermercados 4,78 95,22

Postos de Combustíveis 6,46 93,54

Fonte: Elaborado pelo autor

O atual método de distribuição de sobras da cooperativa tem como critério único de rateio o volume de soja entregue e a sua distribuição é realizada por antecipação de resultados, ou seja, define-se um valor para cada saca de soja entregue, o qual é pago após a entrega da

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produção. Para a definição do valor a ser pago são realizadas projeções de faturamento e resultados bem como do volume de soja recebido, desta forma calcula-se o valor a ser pago por cada saca de soja entregue, esse valor é submetido à aprovação da assembleia geral ordinária no ano anterior ao da entrega, isto é, para o ano de 2016, o qual é objeto deste estudo, foi aprovado na assembleia de 2015 um valor de R$ 1,80 por saca de soja entregue no ano de 2016 a ser pago em 30 de maio de 2016.

Para a formação da população amostrada classificou-se os associados por tamanho de propriedade, após escolhidos os associados através de sorteio, atribui-se uma letra para cada associado, assim sendo os mesmos receberam letras de “A” até o “I”. Convém salientar também que os dados representados neste estudo, representam o grupo familiar, pois em virtude de financiamentos e planejamento tributário o associado divide as compras e vendas entre os entes da família, não sendo possível então identificar assim o nível de fidelidade, se os mesmos fossem separados, por isso optou-se por buscar os dados do grupo e não somente do associado. Pelo método atual, a cooperativa retornou ao seu associado no ano de 2016 um valor de R$ 1,80 por cada saco de soja entregue, a tabela a seguir detalha o que cada associado recebeu.

Tabela 2: Retorno de Sobras do ano de 2016

Associado Sacos de Soja

Associado Não Associado Sacos de Soja Produção total Retorno R$ por Saca de Soja Recebido Retorno

A 770,1 0,0 770,1 1,80 1.386,21 B 384,8 0,0 384,8 1,80 692,62 C 218,1 0,0 218,1 1,80 392,62 D 3.780,1 0,0 3.780,1 1,80 6.804,20 E 5.279,3 0,0 5.279,3 1,80 9502,72 F 866,9 115,06 981,9 1,80 1560,34 G 3.174,6 0,0 3.174,6 1,80 5714,3 H 445,3 0,0 445,3 1,80 801,49 I 37,0 0,0 37,0 1,80 66,53

Fonte: Elaborado pelo autor

Já com o novo método proposto a destruição das sobras não se dá por antecipação e nem utiliza como critério a entrega da produção de soja, mas sim tem a distribuição das sobras com base nos valores apurados no DSP (Demonstrativo de Sobras e Perdas) apurado ao final do exercício, tendo como critérios de rateio a venda de cereais e todas as compras nas lojas agropecuárias, nos supermercados e nos postos de combustíveis, ou seja, toda movimentação

6 Produção de membro do grupo familiar que não é associado, portanto não entra no cálculo do retorno, mas deve ser considerado para os demais cálculos.

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econômica do associado com sua cooperativa

Para a definição do valor a ser recebido para cada associado foi segregado os dados do DSP da cooperativa, onde foram extraídos os valores referentes a movimentação dos atos cooperativos, e para cada departamento foi efetuado ao seguinte cálculo: Resultado Líquido divido pelo faturamento líquido, o resultado dessa divisão gera um coeficiente de rateio que é multiplicado pela movimentação econômica do associado em cada departamento, conforme descrito na tabela 3, gerando assim o valor a ser recebido em cada departamento.

Tabela 3: Coeficientes de Retorno por Departamento

Departamentos Cooperativos Fat. Líq. Atos CooperativosRes. Líq. Atos 7 Distribuir por Sobras à Departamento8 Coeficiente de Retorno Lojas Agropecuárias 63.056.189,02 2.575.165,56 772.549,67 0,01225 Supermercados 4.304.206,21 32.656,48 9.796,94 0,00228 Postos de Combustível 2.171.921,18 3.016,04 904,81 0,00042 Soja 107.908.404,65 2.836.742,13 851.022,64 0,00789 Trigo 12.363.972,31 -668.282,32 -200.484,70 -0,01622 Milho 22.528.507,60 -424.267,64 -127.280,29 -0,00565 TOTAIS 212.333.200,97 4.355.030,25 1.306.509,08

Fonte: Elaborado pelo autor

Para a definição do retorno a ser recebido pelo associado multiplica-se o coeficiente de retorno do departamento pela movimentação do associado naquele departamento, como mostram as tabelas 4 e 5.

Tabela 4: Retorno sobre Compras

Associado Compras Lojas Agropecuárias (R$) Retorno sobre Lojas Agropecuárias Compras Supermercado (R$) Retorno sobre Supermercado Compras Postos Comb. (R$) Retorno sobre Postos Comb. A 139.349,07 1.707,27 728,27 1,66 0,00 0,00 B 14.065,63 172,33 0,00 0,00 0,00 0,00 C 17.162,91 210,28 0,00 0,00 0,00 0,00 D 162.806,99 1.994,67 1.748,98 3,98 0,00 0,00 E 390.891,10 4.789,11 4.497,07 10,24 0,00 0,00 F 93.100,35 1.140,64 666,58 1,52 0,00 0,00 G 98.231,47 1.203,51 4.265,82 9,71 0,00 0,00 H 5.871,78 71,94 0,00 0,00 0,00 0,00 I 80.779,27 989,69 9.344,57 21,27 0,00 0,00

7 Resultado antes das destinações estatutárias 8 Resultado após as destinações estatutárias

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Fonte: Elaborado pelo autor

Tabela 5: Retorno sobre Venda de Cereais

Associado Venda de Soja (Fatura) R$ sobre venda Retorno de Soja Venda de Trigo (Fatura) R$ Retorno sobre venda de Trigo Venda de Milho (Fatura) R$ Retorno sobre venda de Milho A 0,00 0,00 0,00 0,00 136.388,22 -770,56 B 27.808,99 219,32 1.664,17 -26,98 0,00 0,00 C 8.086,81 63,78 0,00 0,00 0,00 0,00 D 54.359,99 428,71 1.640,91 -26,61 154.578,81 -873,33 E 210.319,98 1.658,69 817,80 -13,26 155.393,63 -877,93 F 15.470,19 122,01 2.637,28 -42,76 33.268,29 -187,96 G 133.360,72 1.051,75 5.825,95 -94,47 113.371,43 -640,52 H 28.586,15 225,45 0,00 0,00 592,23 -3,35 I 742,74 5,86 0,00 0,00 9.081,90 -51,31

Fonte: Elaborado pelo autor

Há departamentos que tiveram prejuízo durante o ano, portanto esse prejuízo foi também rateado com os associados que movimentaram o mesmo, como pode ser visto na tabela acima. Para os valores que geraram resultado a ser distribuído e não se enquadram em nenhum dos departamentos analisados foi utilizada a seguinte metodologia: Resíduo de sobras a distribuir dividido pelo Faturamento Total Líquido dos Atos Cooperativos, o qual gera um coeficiente que é multiplicado pelo valor total da movimentação econômica, proporcionando o valor a ser recebido sobre os outros resultados.

Tabela 6: Coeficiente de Retorno dos Outros Ingressos

Departamentos Fat. Total Líq. Atos Cooperativos Resíduo de Sobras à Distribuir9 Coeficiente de Retorno Outros Ingressos 286.230.184,53 1.162.318,74 0,00406

Fonte: Elaborado pelo autor

O coeficiente de retorno sobre os outros Ingressos então é multiplicado pela movimentação total do associado gerando assim o retorno a ser recebido, como demonstra a tabela abaixo.

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Tabela 7: Retorno sobre Outros Ingressos

Associado Econ. Do Assoc. Total da Mov. Retorno sobre Outros

A 276.465,56 1.122,67 B 43.538,79 176,80 C 25.249,72 102,53 D 375.135,68 1.523,34 E 761.919,58 3.093,99 F 145.142,69 589,39 G 355.055,39 1.441,80 H 35.050,16 142,33 I 99.948,48 405,87

Fonte: Elaborado pelo autor

Por fim a soma do valor recebido sobre as compras, sobre as vendas de cereais e o valor recebido pelos outros resultados, gera o valor total a ser recebido pelo associado pelo método proposto conforme tabela a seguir.

Tabela 8: Retorno Total Projetado

Associado Retorno sobre

Compras Retorno sobre Vendas

Retorno sobre

Outros Retorno Total Projetado

A 1.708,93 -770,56 1.122,67 2.061,04 B 172,33 192,33 176,80 541,46 C 210,28 63,78 102,53 376,59 D 1.998,65 -471,23 1.523,34 3.050,77 E 4.799,34 767,50 3.093,99 8.660,83 F 1.142,16 -108,72 589,39 1.622,84 G 1.213,22 316,76 1.441,80 2.971,79 H 71,94 222,10 142,33 436,37 I 1.010,96 -45,45 405,87 1.371,37

Fonte: Elaborado pelo autor

Foi também analisado o índice de fidelidade do associado, para isto é necessário saber quanto ele produziu o quanto da produção ele entregou, o seu potencial de compra e quanto realmente ele comprou na cooperativa. Para isto foi realizada uma entrevista com cada associado a fim de saber a área cultivada e a produção obtida em cada cultura, do mesmo modo foram obtidos dados sobre a produção e o potencial de compras na atividade leiteira. A definição do potencial de compras da atividade agrícola demonstrou um problema muito comum na

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agricultura regional, que é a falta de controle dos custos de produção por parte dos agricultores, para superar essa dificuldade, buscou-se definir três níveis tecnológicos: nível 1, os associados com baixo investimento; o nível 2 para associados com médio investimento; e, o nível 3, para os associados com alto investimento.

Como parâmetro de valores utilizou-se uma média entre os valores liberados pelos instituições financeiras para custeio das culturas, porém no valor liberado para custeio compreende além dos insumos os valores para os serviços de preparo de solo, colheita e tratos culturais, diante disto fez-se uma média do percentual de serviços de projetos de custeio elaborados na cooperativa e descontou-se dos valores totais liberados, assim obteve-se o valor médio de insumos necessários para o cultivo, este valor foi atribuído ao nível tecnológico 2, para o nível tecnológico 1 subtraiu-se 10% do valor do nível 2 e para o nível tecnológico 3 somou-se 10% do valor do nível 2, como pode ser observado na tabela abaixo.

Tabela 9: Análise da Tecnologia Aplicada

Cultura Valor/há Lib. P/ Custeio %

Serviços Insumos Valor

Nível

Tecnológ.11 Tecnológ.2Nível 2 Tecnológ.3Nível 3

Sicredi B. Brasil Média

Soja 1.300,00 1.516,86 1.408,43 23% 1.084,49 976,04 1.084,49 1.192,94

Milho 1.700,00 2.100,86 1.900,43 18% 1.558,35 1.402,52 1.558,35 1.714,19

Trigo 1.200,00 1.320,29 1.260,15 22% 982,91 884,62 982,91 1.081,20

Painço 800,00 662,43 731,22 25% 548,41 493,57 548,41 603,25

Fonte: Elaborado pelo autor

Com os dados coletados nas entrevistas e os dados oriundos da cooperativa e de instituições financeiras, foi possível formar o potencial de compras de cada associado, multiplicando a área utilizada para o cultivo pela pelo nível tecnológico utilizado pelo mesmo, já na atividade leiteira utilizou-se para calcular o potencial de compras, a quantidade de leite produzido em litros e multiplicado pelo desembolso calculado sobre o litro de leite, a tabela a seguir demonstra a área cultivada e o nível tecnológico adotado por cada associado.

Tabela 10: Área X Nível Tecnológico

Produtor

Soja Milho Trigo Painço Leite

Área

Ha Aplicada Tecnol. Área Ha Aplicada Tecnol. Área Ha Aplicada Tecnol. Área Ha Aplicada Tecnol. Produção Desemb.

A 110 1.192,94 50 1.714,19 60 1.081,20 0 0,00 0 0,00 B 7 1.084,49 0 0,00 5 884,62 0 0,00 0 0,00 C 4 976,04 0 0,00 0 0,00 0 0,00 60.000 0,37 D 65 1.192,94 32 1.714,19 11 1.081,20 20 603,25 0 0,00 E 210 1.192,94 80 1.714,19 64 1.081,20 0 0,00 0 0,00 F 50 1.084,49 22 1.558,35 22 982,91 9 603,25 0 0,00

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G 106 1.192,94 40 1.714,19 40 1.081,20 0 0,00 0 0,00

H 15 976,04 0 0,00 0 0,00 0 0,00 36.000 0,32

I 4 1.084,49 1 1.402,52 0 0,00 0 0,00 182.455 0,51

Fonte: Elaborado pelo autor

Com o potencial de compras definido foi realizado um comparativo com as compras realmente efetivadas pelo associado gerando assim o grau de fidelização nas compras de insumos como está exposto na tabela abaixo.

Tabela 11: Grau de Fidelização na Compra de Insumos

Associado Potencial de Compras de Insumos Compras de Insumos Efetivadas Fidelização em % A 281.805,08 139.349,07 49,45 B 12.014,55 14.065,63 117,07 C 26.104,17 17.162,91 65,75 D 156.353,42 162.806,99 104,13 E 456.849,56 390.891,10 85,56 F 115.561,67 93.100,35 80,56 G 238.267,35 98.231,47 41,23 H 26.160,63 5.871,78 22,45 I 98.792,53 80.779,27 81,77

Fonte: Elaborado pelo autor

A fidelização na entrega de grãos e de leite, foi obtida através da relação entre a produção obtida e a produção entregue, e está expressa em percentual, como mostra as tabelas 12 e 13 abaixo descritas.

Tabela 12: Fidelização na Entrega de Grãos

Assoc.

Produção Soja/Há Produção Milho/Há Produção de Trigo

Área Obtida Entr. Fidel. Área Obtida Entr. % Fidel. Área Obtida Entr. % Fidel. %

A 110 5.850 770 13,16 50 7.000 3.874 55,34 60 3.900 2.691 69,00 B 7 385 385 100,00 0 0 0 - 5 198 198 100,00 C 4 218 218 100,00 0 0 0 - 0 0 0 - D 65 3.780 3.780 100,00 32 5.518 5.518 100,00 11 820 820 100,00 E 210 12.200 5.279 43,27 80 13.760 7.430 54,00 64 3.840 542 14,11 F 50 2.310 773 33,46 22 3.300 1.383 41,91 22 1.540 1.487 96,56 G 106 5.760 3.175 55,12 40 5.800 3.013 51,95 40 2.116 2.116 100,00 H 15 750 445 59,33 0 0 0 - 0 0 0 - I 4 60 37 61,67 0,5 62 62 100,00 0 0 0 -

(21)

Tabela 13: Fidelização na Entrega de Leite

Associado Produção de Leite/Ano

Obtida Entregue Fidelização %

A 0 0 - B 0 0 - C 60.000 0 0,00 D 0 0 - E 0 0 - F 0 0 - G 0 0 - H 30.000 2.127 7,09 I 182.455 182.455 100,00

Fonte: Elaborado pelo autor

O índice de fidelização geral foi expresso em percentual e é formado pela média de fidelização da compra de insumos, da entrega de grãos e da entrega de leite, que esta discriminado na tabela abaixo.

Tabela 14: Índice de Fidelização Geral

Produtor Fidelidade Compras % Fidelidade Produção Agrícola % Fidelidade Produção Leite % Índice de Fidelização % A 49,45 45,84 - 47,64 B 117,07 100,00 - 108,54 C 65,75 100,00 0,00 55,25 D 104,13 100,00 - 102,06 E 85,56 37,13 - 61,34 F 80,56 57,31 - 68,94 G 41,23 69,02 - 55,13 H 22,45 59,33 7,09 29,62 I 81,77 80,83 100,00 87,53

Fonte: Elaborado pelo autor

Após analisar o retorno recebido no ano de 2016, projetar o retorno a ser recebido com o novo método proposto e identificar o grau de fidelização de cada associado, buscou-se estabelecer um comparativo entre os métodos, identificando assim, os associados que tiveram ganhos e os que tiveram perdas com a nova metodologia e relacionando-os com o índice de fidelidade. Portanto, verificou-se que não houve relação entre o grau de fidelização e o acréscimo ou decréscimo do retorno, ou seja, a medida que o índice de fidelização aumenta o

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retorno não segue um padrão definido e tanto pode aumentar como diminuir, conforme demonstra a tabela 15 e o gráfico 1.

Tabela 15: Índice de Fidelização X Ganho ou Perda

Índice de

Fidelidade Recebido Retorno Projetado Retorno Ganho ou Perda Produtor

29,62 801,49 436,37 -365,12 H 47,64 1.386,21 2.061,04 674,83 A 55,13 5.714,30 2.971,79 -2.742,51 G 55,25 392,62 376,59 -16,03 C 61,34 9.502,72 8.660,83 -841,89 E 68,94 1.560,34 1.622,84 62,50 F 87,53 66,53 1.371,37 1.304,84 I 102,06 6.804,20 3.050,77 -3.753,43 D 108,54 692,62 541,46 -151,16 B

Fonte: Elaborado pelo autor

Grafico 1: Índice de Fidelização X Ganho ou Perda

Fonte: Elaborado pelo autor

Essa falta de padrão ocorre pela mudança de critérios de rateio, que antes distribuía retorno conforme a entrega da produção de soja e com a nova metodologia distribui conforme movimentação econômica, com isso não basta o associado entregar a produção, mas sim vender e comprar. Muitos associados mesmo sendo fiéis tiveram redução no retorno projetado, pois

-365,12 674,83 -2.742,51 -16,03 -841,89 62,50 1.304,84 -3.753,43 -151,16 29,62 47,64 55,13 55,25 61,34 68,94 87,53 102,06 108,54 -5.000,00 -4.000,00 -3.000,00 -2.000,00 -1.000,00 0,00 1.000,00 2.000,00 H A G C E F I D B 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 G AN H O O U P ER D A EM R $ ASSOCIADO ÍN D IC E D E FI D EL ID AD E EM %

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vem utilizando a cooperativa como depósito “poupança” de suas safras. Sabe-se que as receitas são auferidas com a venda da produção por parte do associado gerando assim resultado para a cooperativa, enquanto que a retenção da produção além de não gerar receita acarreta custos de armazenagem e compromete a capacidade de armazenagem para as próximas safras.

A tabela 16 mostra a entrega total de grãos e a venda do associado referentes ao ano de 2016, onde constata-se que os associados que tiveram perdas com o novo método foram justamente os associados que reterão sua produção e não comercializaram a mesma.

Tabela 16: Entrega X Venda

Associado Produção Total Vendida Produção Total Entregue Vendas(faturas) em %

A 3.898 7.335 53,14 B 442 583 75,81 C 118 218 54,13 D 5.280 10.118 52,18 E 7.241 13.251 54,64 F 1.042 3.643 28,60 G 5.059 8.304 60,92 H 447 445 100,45 I 288 99 290,91

Fonte: Elaborado pelo autor

Já quando é analisado a equidade entre os métodos de retorno percebe-se que, o método proposto é mais justo que o método atual, pois distribui as sobras tendo como base a movimentação econômica do associado beneficiando quem gera o resultado, deste modo quanto maior for a movimentação maior será o retorno como pode ser observado na tabela 17 e no gráfico 2, respeitando assim a legislação vigente, que traz a seguinte redação “O retorno das sobras líquidas do exercício anterior, terá destinação proporcional ao valor das operações realizadas pelo associado” (art. 4°, VII da Lei 5.764/71).

Tabela 17: Movimentação Econômica X Retorno

Associado Total Mov. do Associado Recebido Retorno Projetado Retorno

C 25.249,72 392,62 376,59 H 35.050,16 801,49 436,37 B 43.538,79 692,62 541,46 I 99.948,48 66,53 1.371,37 F 145.142,69 1.560,34 1.622,84 A 276.465,56 1.386,21 2.061,04 G 355.055,39 5.714,30 2.971,79 D 375.135,68 6.804,20 3.050,77

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E 761.919,58 9.502,72 8.660,83

Fonte: Elaborado pelo autor

Gráfico 2: Movimentação Econômica X Retorno

Fonte: Elaborado pelo autor

5. Conclusão

No presente artigo foram analisados dois métodos de distribuição de sobras, o atual pago antecipadamente baseado em projeções de recebimento de soja e resultado da cooperativa, e o método proposto pago após a assembleia geral e baseado no resultado da cooperativa e na movimentação econômica do associado, o objetivo foi analisar se o método proposto tornaria a distribuição de sobras mais justa e se beneficiaria os associados mais fiéis, todos os dados foram baseados no ano de 2016.

Como Conclusão, ficou constatado que o método proposto torna a distribuição de sobras mais justa, fazendo com que o retorno seja proporcional a movimentação econômica do associado, ou seja quanto maior a movimentação, maior também será o seu retorno, estimulando assim fidelização do mesmo, porém não houve uma relação direta entre o aumento do retorno recebido com o método proposto e o grau de fidelização, ou seja, conforme aumenta o grau de fidelização o retorno pode tanto aumentar como diminuir de valor em relação ao método anterior, pois anteriormente analisava-se somente a entrega da produção.

Este trabalho contribui com a cooperativa e com o cooperativismo, pois traz uma

0,00 1.000,00 2.000,00 3.000,00 4.000,00 5.000,00 6.000,00 7.000,00 8.000,00 9.000,00 10.000,00 0,00 100.000,00 200.000,00 300.000,00 400.000,00 500.000,00 600.000,00 700.000,00 800.000,00 900.000,00 C H B I F A G D E RE TO RN O E M R $ TO TA L M O V. E CO N . E M R $ ASSOCIADO

(25)

metodologia mais justa e eficiente para a distribuição das sobras. Poderão ser realizados estudos futuros sobre o percentual de aumento de sobras com a identificação do associado através de cartão pessoal, principalmente em postos de combustíveis e supermercados, visto que o percentual de faturamento com associados nestes departamentos ainda é baixo, este processo já está previsto para ser implantado na cooperativa no próximo ano.

6. Referências Bibliográficas

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Referências

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