• Nenhum resultado encontrado

Estado e o crescimento econômico na América Latina: Brasil e México, 1880-1920

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Estado e o crescimento econômico na América Latina: Brasil e México, 1880-1920"

Copied!
28
0
0

Texto

(1)

o estado e o crescimento

econômico na américa latina:

brasil e méxico, 1880-1920*

C a r l o s M a r i c h a l El C o l e g i o de M é x i c o S t e v e n T o p i k

Umversity of Califórnia, Irvine

RESUMO A s a u t o p r o c l a m a d a s p o l í t i c a s e c o n ô m i c a s " l i b e r a i s " do Brasil e do M é x i c o no período de 1 8 7 0 a 1910 enfatizavam, de acordo c o m a historiografia c o n v e n c i o n a l , p o u c a i n t e r v e n ç ã o g o v e r n a m e n t a l , i n v e s t i m e n t o s e s -trangeiros e c o m é r c i o l i v r e . C o n s t a t a m o s todavia q u e os Estados, tanto do Brasil c o m o d o M é x i c o , e m b o r a t e o r i c a m e n t e o r i e n t a -dos pelo liberalismo, d e s e m p e n h a r a m papéis centrais no desenvolvimento e c o n ô m i c o . Os v í n c u l o s c o m a e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l tiveram o paradoxal efeito de i m p o r algumas políticas i n t e r v e n c i o n i s t a s m e d i a n t e o uso de instrumentos fiscais e m o n e t á r i o s , e l e v a n do tarifas, participando dos m e r c a d o s e p r o -m o v e n d o o s u r g i -m e n t o de e-mpresas estatais, por e x e m p l o através da n a c i o n a l i z a ç ã o das ferrovias. Os d i r i g e n t e s g o v e r n a m e n t a i s n ã o e r a m m o v i d o s apenas pela i d e o l o g i a , e suas ações m u d a v a m através do tempo. A sobera-nia nacional e a t r a n q ü i l i d a d e política e r a m fatores tão i m p o r t a n t e s c o m o o b a l a n ç o de pagamentos ou o P N B per capita. Os m e r c a dos não funcionavam p o r si sós, mas r e q u e -r i a m a o-rientação dos Estados.

P a l a v r a s c h a v e : l i b e r a l i s m o , i n t e r v e n c i o -nismo, Brasil, M é x i c o , políticas e c o n ô m i c a s .

ABSTRACT

T h e s e l f - p r o c l a i m e d " l i b e r a l " e c o n o m i c p o l i c i e s o f Brazil a n d M e x i c o i n t h e p e r i o d o f 1 8 7 0 - 1 9 1 0 e m p h a s i z e d , a c c o r d i n g t o t h e c o n v e n t i o n a l h i s t o r i o g r a p h y , small g o -v e r n m e n t , foreign in-vestment a n d free trade. W e found, h o w e v e r , that t h e states i n B r a z i l a n d M e x i c o , w h i l e g u i d e d b y t h e t h e o r y of l i b e r a l i s m , in fact p l a y e d central roles in e c o n o m i c development. Links to the m t e r n a t i o n a l e c o n o m y p a r a d o x i c a l l y forced s o m e i n t e r v e n t i o n i s t policies t h r o u g h n e w financial a n d m o n e t a r y p o l i c i e s , r a i s i n g tariffs, p a r t i c i p a t i o n in c o m m o d i t y m a r k e t s , a n d p r o m o t i o n of state enterprises s u c h as t h e n a t i o n a l i z a t i o n of the railroads. Officials w e r e n o t d n v e n s i m p l y b y i d e o l o g y a n d their actions c h a n g e d o v e r t i m e . N a t i o n a l s o v e r e i g n t y and political p e a c e w e r e as c o m p e l l i n g as the b a l a n c e of p a y m e n t s a n d per capita G N P . M a r k e t s d i d n o t run on

t h e i r o w n , t h e y r e q u i r e d states' g u i d a n c e .

K e y w o r d s : l i b e r a l i s m , i n t e r v e n t i o n i s m , B r a z i l , M e x i c o , e c o n o m i c p o l i c i e s .

* T e x t o t r a d u z i d o d o i n g l ê s p o r M a r i a T e r e s a R i b e i r o d e O l i v e i r a . U m a v e r s ã o p r e -l i m i n a r d o m e s m o está s e n d o p u b -l i c a d a n o -l i v r o o r g a n i z a d o p o r A -l i c e T e i c h o v a e H e r b e r t M a t i s , Nation, State ane the Economy ( C a m b r i d g e U n i v e r s i t y Press, 2 0 0 3 ) .

(2)

Para q u e m b u s q u e e v i d ê n c i a s históricas d e a p o i o à s políticas e c o n ô -m i c a s l i b e r a i s , o Brasil e o M é x i c o no p e r í o d o 1 8 8 0 - 1 9 2 0 p o d e -m ser considerados bons e x e m p l o s . D u r a n t e a q u e l e s quarenta anos, sob g o v e r -n o d e estadistas liberais, q u e a c r e d i t a v a m f i r m e m e -n t e -nas v a -n t a g e -n s das políticas de n ã o - i n t e r v e n ç ã o , p a r t i c u l a r m e n t e no q u e se refere ao livre c o m é r c i o e aos i n v e s t i m e n t o s estrangeiros, os dois países mais populosos da A m é r i c a Latina t i v e r a m u m a intensificação das relações capitalistas de m e r c a d o e um d e s e n v o l v i m e n t o e c o n ô m i c o substancial. S e g u n d o a visão c o n v e n c i o n a l , esses dois r e g i m e s t e r s e i a m e m p e n h a d o e m e l i m i n a r os r e s q u í c i o s r e m a n e s c e n t e s dos Estados p a t r i m o n i a l i s t a s e m e r c a n -tilistas, r e d u z i n d o a i n t e r v e n ç ã o g o v e r n a m e n t a l .

Este a r t i g o assume um p o n t o de vista diferente e a r g u m e n t a q u e os g o v e r n o s d o Brasil e d o M é x i c o , levados p o r c o n s i d e r a ç õ e s p r a g m á -ticas, d e s e m p e n h a r a m de fato um papel i m p o r t a n t e e cada v e z m a i s f u n d a m e n t a l no e s t í m u l o ao c r e s c i m e n t o e c o n ô m i c o e na c r i a ç ã o de propícias c o n d i ç õ e s de m e r c a d o .1 E m b o r a o c r e s c i m e n t o v o l t a d o para

as e x p o r t a ç õ e s do setor p r i v a d o tivesse c o n t r i b u í d o para a transformação e c o n ô m i c a de a m b o s os países, o p a p e l ativo do Estado, g a r a n t i n d o os valores das p r o p r i e d a d e s e r e d u z i n d o os custos de transação m e d i a n t e políticas de gastos, de políticas financeiras e m o n e t á r i a s e de e m p r e e n d i -m e n t o s estatais, foi i g u a l -m e n t e i -m p o r t a n t e .

A " e s c o l a d a d e p e n d ê n c i a " t e m , p o r vezes, a r g u m e n t a d o q u e c o m e r -ciantes e investidores estrangeiros p r i v i l e g i a v a m os Estados frágeis no T e r c e i r o M u n d o . N a v e r d a d e , o s e m p r e s á r i o s estrangeiros, m u i t a s vezes, t i n h a m em m i r a , e até f i n a n c i a v a m , a a m p l i a ç ã o do papel do Estado a fim de m e l h o r p r o t e g e r seus próprios interesses. M a s , tais Estados n ã o se l i m i t a v a m a o b e d e c e r as o r d e n s da e c o n o m i a m u n d i a l . Tanto no Brasil q u a n t o n o M é x i c o , a p o l í t i c a d e g o v e r n o foi, e m g r a n d e parte, g u i a d a p o r p r e o c u p a ç õ e s relativas à c o n s t r u ç ã o do Estado e da N a ç ã o . E m b o r a o c r e s c i m e n t o e c o n ô m i c o fosse i m p o r t a n t e , a soberania nacional e a c e n t r a l i z a ç ã o p o l í t i c a p r e o c u p a v a m p r o f u n d a m e n t e os g o v e r n a n t e s . T a m b é m os p r e o c u p a v a m as r e i v i n d i c a ç õ e s dos capitalistas locais e das classes trabalhadoras u r b a n a s . Ao redor de 1 9 1 0 , os g o v e r n o s desses dois países e x e r c i a m papéis i m p o r t a n t e s nos m e r c a d o s e x p o r t a d o r e m o n e t á -r i o , c o m o t a m b é m nos sistemas b a n c á -r i o , fe-r-roviá-rio e p o -r t u á -r i o . A m b o s Estados, i n t e i r a m e n t e c o m p r o m e t i d o s c o m o d e s e n v o l v i m e n t o c a p i t a -lista, estavam entre os m a i s i n t e r v e n c i o n i s t a s do Terceiro M u n d o — não

1 N o c a s o d o M é x i c o , e n t r e t a n t o , é p r e c i s o o b s e r v a r q u e , a p ó s o i n í c i o d a R e v o l u ç ã o

e m 1 9 1 0 , a s c o n d i ç õ e s f a v o r á v e i s d o m e r c a d o d e t e r i o r a r a m - s e d r a m a t i c a m e n t e e n ã o s e r e c u p e r a r a m a t é o s p r i m e i r o s a n o s d a d é c a d a d e 1 9 2 0 .

(3)

a despeito de seu l i b e r a l i s m o , mas antes p o r causa de seu l i b e r a l i s m o . As r e i v i n d i c a ç õ e s da e c o n o m i a i n t e r n a c i o n a l e dos diversos atores d o m é s -ticos fizeram c o m q u e , e m b o r a o s t e n s i v a m e n t e c o m p r o m e t i d a s c o m um liberalismo do tipo laissez faire, as elites governantes do Brasil e do M é x i c o , quase q u e a c o n t r a g o s t o , l a n ç a s s e m as bases para a c o n s o l i d a ç ã o dos Estados i n t e r v e n c i o n i s t a s e populistas das décadas s u b s e q ü e n t e s . No Brasil e no M é x i c o , c o n f o r m e o b s e r v o u G u n n a r M y r d a l para o caso da Europa, a e c o n o m i a planificada não era deliberada; freqüentemen-te foi u m a c o n s e q ü ê n c i a n ã o - i n t e n c i o n a l de respostas a crises políticas e e c o n ô m i c a s .2

Apesar d o papel substancial e x e r c i d o p e l o Estado e m a m b a s a s e c o -n o m i a s , a -natureza de suas políticas diferiu s i g -n i f i c a t i v a m e -n t e . U m a c o m b i n a ç ã o d e l e g a d o s c o l o n i a i s , d e r e l a ç õ e s c o m a e c o n o m i a m u n -dial, de e x p e r i ê n c i a s p ó s - c o l o n i a i s do s é c u l o X I X , de arranjos políticos i n t e r n o s e de i d e o l o g i a e x i g i u a ativa p a r t i c i p a ç ã o dos Estados nas e c o -n o m i a s , mas, em cada u m a das duas N a ç õ e s , a -n a t u r e z a específica das estratégias g o v e r n a m e n t a i s p o d i a variar, c o m o de fato v a r i o u . Os liberais e r a m f l e x í v e i s e t i n h a m u m a m p l o e s p a ç o d e m a n o b r a .

A s e c o n o m i a s d e e x p o r t a ç ã o a p r e s e n t a r a m certas c o n v e r g ê n c i a s e m suas políticas. A p a r t i c i p a ç ã o dos gastos do Estado no P N B , a g r a n d e d e p e n d ê n c i a das tarifas a d u a n e i r a s , a p a d r o n i z a ç ã o de pesos e m e d i d a s , a i m p o r t â n c i a dos e m p r é s t i m o s e x t e r n o s , a e x p a n s ã o dos sistemas b a n cários centralizados e a n a c i o n a l i z a ç ã o das estradas de ferro foram s e m e -lhantes no Brasil e no M é x i c o . A c e n t r a l i z a ç ã o política e a d m i n i s t r a t i v a t a m b é m foi s i m i l a r e m a m b o s o s países, m e s m o q u e t r a d i c i o n a l m e n t e se afirme q u e h o u v e u m a d e s c e n t r a l i z a ç ã o no Brasil d u r a n t e a P r i m e i r a R e p ú b l i c a e u m a c e n t r a l i z a ç ã o n o M é x i c o n a é p o c a d e Porfírio D i a z . Na verdade, o p o d e r p o l í t i c o tinha bases r e g i o n a i s nos dois países, mas os Governos C e n t r a i s e x p a n d i r a m suas esferas de c o m p e t ê n c i a e de i n -lluência em a m b o s os casos, e m b o r a a p a r e n t a n d o prestar o b e d i ê n c i a às elites regionais.

C o n t u d o , os dois países d i f e r i r a m em suas políticas m o n e t á r i a s ( d e -p e n d ê n c i a do -p a d r ã o - o u r o e do -p a d r ã o - -p r a t a ) , em as-pectos es-pecíficos da política fiscal, no r i t m o e no v o l u m e de seus p e d i d o s de e m p r é s t i m o s e x t e r n o s , assim c o m o no q u e se refere ao e n v o l v i m e n t o do Estado no m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l de commodities. Essas diferenças resultavam, em parte, de contrastantes relações c o m a e c o n o m i a m u n d i a l , d a d o q u e os

2 G u n n a r M y r d a l , Beyond the Welfare State: Economic Planning and its International

(4)

produtos e x p o r t a d o s e os parceiros c o m e r c i a i s n ã o e r a m os m e s m o s . M a s a l g u n s arranjos p o l í t i c o s l o c a i s t a m b é m foram responsáveis pela a d o ç ã o de políticas diferentes.

Da divergência à convergência:

tendências do comércio internacional no século XIX

A distância, p o d e r i a p a r e c e r q u e , no s é c u l o d e z e n o v e , Brasil e M é -x i c o d e f r o n t a r a m - s e c o m c o n d i ç õ e s b e m diferentes no q u e se refere às r e l a ç õ e s c o m a e c o n o m i a m u n d i a l , relações estas vistas p o r v á r i o s a u t o -res c o m o a chave p a r a o c r e s c i m e n t o e o d e s e n v o l v i m e n t o .3 Em 1 8 0 0 ,

o M é x i c o — então, c o m u m a p o p u l a ç ã o de 5,2 m i l h õ e s de habitantes — apresentava, e n t r e todas as c o l ô n i a s do N o v o M u n d o , o m a i o r v o l u m e de c o m é r c i o , no v a l o r total de cerca de 60 m i l h õ e s de pesos por ano, ou a p r o x i m a d a m e n t e 1 1 , 5 4 dólares per capita.4 N a q u e l e m e s m o ano, a p o p u l a ç ã o brasileira era e s t i m a d a em 3,5 m i l h õ e s de habitantes e o c o m é r c i o m o v i m e n t a v a cerca d e 5,5 m i l h õ e s d e libras esterlinas ( a p r o -x i m a d a m e n t e 50 m i l h õ e s de dólares) ou seja, p o r volta de 14 dólares

per capita.5 A p ó s d e z anos de g u e r r a s pela I n d e p e n d ê n c i a , o c o m é r c i o

no M é x i c o se r e c u p e r o u v a g a r o s a m e n t e , e, na v e r d a d e , estagnou p o r m a i s d e m e i o s é c u l o . A o redor d e 1 8 7 0 , o c o m é r c i o e x t e r n o d o M é x i c o m a l h a v i a a t i n g i d o U S $ 7 5 m i l h õ e s , v a l o r q u e i n d i c a v a taxas d e c r e s -c i m e n t o d o setor e x t e r n o d a e -c o n o m i a e x t r e m a m e n t e b a i x a s . E n q u a n t o isso, sua p o p u l a ç ã o tinha c h e g a d o a apenas 9 m i l h õ e s de habitantes, i n -d i c a n -d o a e x i s t ê n c i a paralela -de u m a t e n -d ê n c i a -d e m o g r á f i c a estagna-da. O Brasil, ao c o n t r á r i o , cresceu mais r a p i d a m e n t e . S e u c o m é r c i o e x t e r i o r e m 1 8 7 0 , d e cerca d e U S $ 1 5 0 m i l h õ e s , era duas v e z e s m a i o r q u e o d o M é x i c o , e a p o p u l a ç ã o brasileira, de 10,1 m i l h õ e s de habitantes, t a m b é m e x c e d i a a d a q u e l e p a í s .6

A o l o n g o dos três p r i m e i r o s q u a r t é i s d o s é c u l o X I X , o M é x i c o c o n t i n u o u a d e p e n d e r d e seu p r i n c i p a l p r o d u t o d e e x p o r t a ç ã o d o p e

-3 V e j a - s e p o r e x e m p l o a r e s p e i t o V i c t o r B u l m e r T h o m a s , The Economic History of Latin

America. C a m b r i d g e U n i v e r s i t y P r e s s , 1 9 9 4 .

4 Esse n ú m e r o r e s u l t a d a s o m a d o s v a l o r e s relativos à s i m p o r t a ç õ e s e e x p o r t a ç õ e s ,

fornecidos p e l o C o n s u l a d o de V e r a c r u z , Balanza del Comercio Exterior, r e p r o d u z i d o em M i g u e l L e r d o de T e j a d a , El Comercio Exterior de México. M é x i c o , 1 8 5 6 , r p t X a l a p a : U n i v e r s i d a d V e r a c r u z a n a , 1 9 8 5 .

5 M i r c e a B u e s c u , Evolução Econômica do Brasil. R i o de J a n e i r o : A P E C , 1 9 7 9 , p. 9 6 . 6 B r a s i l , I B G E , Séries Estatísticas Retrospectivas, v o l . 1. R i o d e J a n e i r o : I B G E , 1 9 8 6 , p. 3

(5)

r í o d o c o l o n i a l , a prata, responsável p o r c e r c a de dois t e r ç o s das suas r e -ceitas em divisas estrangeiras. Infelizmente, d e p o i s de 1 8 7 3 , a d e m a n d a m u n d i a l d o m e t a l d i m i n u i u , c a u s a n d o u m a q u e d a d e 2 8 % n o seu p r e ç o e, em 1 8 8 8 , o M é x i c o tinha p e r d i d o , para os Estados U n i d o s , a sua até então i n c o n t e s t a d a p o s i ç ã o d e m a i o r p r o d u t o r m u n d i a l d e prata. U m a das chaves do sucesso e c o n ô m i c o do Porfiriato t e r i a sido a h a b i l i d a d e de diversificar a e c o n o m i a , r e d u z i n d o sua d e p e n d ê n c i a da prata. As e x -p o r t a ç õ e s d e -prata d e c r e s c e r a m d e 7 1 % d o total e m 1 8 8 0 -para 2 9 % e m 1910, e n q u a n t o q u e m i n é r i o s industriais (tais c o m o o cobre e o c h u m b o ) e p r o d u t o s a g r í c o l a s (tais c o m o o sisal e o café) t o m a r a m seu l u g a r .7

M a s , essa diversificação forçada foi u m a faca de dois g u m e s . N o s anos 1 8 9 0 , a q u e d a do p r e ç o da prata d e t e r i o r o u os t e r m o s de troca, r e d u z i u o c r é d i t o e x t e r n o e r e s t r i n g i u d r a s t i c a m e n t e as receitas do G o -v e r n o . A c o n s t r u ç ã o de estradas de ferro quase parou, h o u -v e u m a crise c o n j u n t a , a g r í c o l a e financeira, em 1 8 9 3 , q u e l e v o u a u m a r e d u ç ã o da t o m a d a de e m p r é s t i m o s estrangeiros e r e s t r i n g i u os gastos do G o v e r n o . E seria s o m e n t e na virada do s é c u l o q u e a e c o n o m i a e x p o r t a d o r a m e x i cana v o l t a r i a m a i s u m a v e z a crescer, e q u e os e m p r é s t i m o s e i n v e s t i -m e n t o s estrangeiros i r i a -m ser renovados. Ao -m e s -m o t e -m p o , a c o n t i n u a d a crise na m i n e r a ç ã o de prata seria intensificada c o m a a d o ç ã o do p a d r ã o -o u r -o e m 1 9 0 5 .

C o n t r a r i a m e n t e ao q u e s u c e d e u no M é x i c o , o setor e x p o r t a d o r da e c o n o m i a brasileira prosperou c o n s t a n t e m e n t e nas décadas q u e se s e -g u i r a m i m e d i a t a m e n t e à I n d e p e n d ê n c i a , -g r a ç a s à sua c a p a c i d a d e de tirar proveito da crescente d e m a n d a i n t e r n a c i o n a l p o r produtos tropicais de l u x o e p o r m a t é r i a s - p r i m a s i n d u s t r i a i s . Essas t e n d ê n c i a s se t o r n a r a m e s p e c i a l m e n t e visíveis q u a n d o o c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l passou a crescer c o m u m a r a p i d e z i n c o n c e b í v e l e s e m p r e c e d e n t e s , após 1 8 4 0 . O Brasil foi capaz de superar a c o n c o r r ê n c i a do resto do m u n d o em dois dos mais d i n â m i c o s e p r o c u r a d o s p r o d u t o s na e c o n o m i a m u n d i a l : o café e a b o r r a c h a .8 A s s i m , e m b o r a a A m é r i c a L a t i n a , em c o n j u n t o , fosse r e s

-ponsável a p e n a s p o r 3 , 4 % d o c o m é r c i o m u n d i a l e m 1 8 8 9 , o Brasil d o m i n a v a dois i m p o r t a n t e s m e r c a d o s , f o r n e c e n d o m e t a d e do café e 9 0 % de toda a b o r r a c h a do m u n d o .9 Esses dois p r o d u t o s j u n t o s e r a m

7 El C o l e g i o de M é x i c o , Estadísticas Económicas Del Porfiriato: Comercio Exterior de México,

1877-1911. M é x i c o , 1 9 6 0 , p . 9 6 , 1 5 4 , 3 9 0 , 4 5 7 e 4 5 8 .

8 M i c h a e l G e o r g e M u l h a l l , Dictionary of Statistics, 4a e d i ç ã o . L o n d r e s : G e o r g e R o u t l e d g e

a n d S o n , 1 8 9 9 , p . 1 2 9 , 1 3 0 .

(6)

responsáveis p o r três q u a r t o s das e x p o r t a ç õ e s totais do P a í s .1 0

Os c a m i n h o s diferentes seguidos pelos dois países nos cinqüenta anos após a I n d e p e n d ê n c i a fizeram c o m q u e , nesse m e i o século, o Brasil se beneficiasse d e u m a e c o n o m i a e x p o r t a d o r a c o s m o p o l i t a , e n q u a n t o q u e o M é x i c o n ã o foi c a p a z de aproveitar p l e n a m e n t e o surto c o m e r c i a l g e r a d o pela p r i m e i r a R e v o l u ç ã o Industrial. N o ú l t i m o q u a r t e l d o século X I X , entretanto, as trajetórias das duas e c o n o m i a s passaram a c o n v e r g i r g r a ç a s à diversificação das e x p o r t a ç õ e s m e x i c a n a s . A partir dos anos 1 8 7 0 , a s e x p o r t a ç õ e s d o M é x i c o c r e s c e r a m m a i s , e n q u a n t o q u e a s d o Brasil sofreram r a p i d a m e n t e u m a q u e d a brusca nos anos 1 8 8 0 . Entre 1 8 8 8 e 1 9 1 0 , as e x p o r t a ç õ e s dos dois países c r e s c e r a m r a p i d a m e n t e ; as do M é x i c o , 1 5 0 % e, as do Brasil, 1 7 8 % . N ã o obstante, em 1 9 1 0 , as duas e c o n o m i a s ainda s e m a n t i n h a m e m níveis b e m diferentes. E m b o r a o c o m é r c i o e x t e r i o r representasse cerca de 1 8 % do P I B em a m b o s os países, as e x p o r t a ç õ e s brasileiras e r a m a i n d a mais do q u e o dobro do total das m e x i c a n a s , e o v a l o r das suas e x p o r t a ç õ e s per capita 4 3 % maior. O m a i o r d i n a m i s m o do seu setor e x p o r t a d o r c r i o u c o n d i ç õ e s para q u e a renda per capita no Brasil fosse, talvez, 4 0 % m a i o r q u e a do M é -x i c o e m 1 8 8 8 .1 1 E m b o r a o v a l o r a p r o x i m a d o d e U S $ 3 8 ( a preços c o r

-rentes) q u e o brasileiro m é d i o g a n h a v a p o r ano fosse m u i t o b a i x o pelos p a d r õ e s dos Estados U n i d o s e da Europa O c i d e n t a l , ele era substancial-m e n t e alto se c o substancial-m p a r a d o c o substancial-m a substancial-m a i o r p a r t e do substancial-m u n d o . É d u v i d o s o q u e q u a l q u e r outro país d o Terceiro M u n d o , c o m e x c e ç ã o dos três países d o C o n e S u l e d e C u b a , ultrapassasse esse v a l o r .1 2 E m t e r m o s d e

1 0 B r a s i l , I B G E , Séries Estatísticas Retrospectivas, p . 8 9 . C á l c u l o s b a s e a d o s n a p a r t i c i p a ç ã o

p e r c e n t u a l m é d i a a n u a l das e x p o r t a ç õ e s d o s d o i s p r o d u t o s n o v a l o r total das e x p o r -t a ç õ e s n o p e r í o d o 1 8 8 6 - 1 8 9 0 .

1 1 C o n t u d o , J o h n C o a t s w o r t h e m " O b s t a c l e s t o G r o w t h i n N i n e t e e n t h C e n t u r y

M e x i c o " , American Historical Review 8 3 : 1 ( 1 9 8 1 ) : 8 0 - 1 0 0 c o n c l u i u q u e a r e n d a per capita n o M é x i c o e r a l i g e i r a m e n t e m a i o r d o q u e a d o B r a s i l e m 1 8 9 5 ( U S $ 9 1 e U S $ 8 9 , r e s p e c t i v a m e n t e , a p r e ç o s d e 1 9 5 0 ) .

1 2 D a d o s do P I B per capita c a l c u l a d o s p o r M i t c h e l l , European Historical Statistics

1750-1970. N o v a Y o r k : C o l u m b i a U n i v e r s i t y Press, 1 9 7 8 , p . 4 1 2 - 4 1 5 e p o r R . L . B i d w e l l , Currency Conversion Tables, a H u n d r e d Years of Change. L o n d o n : R e x C o l l i n g s , 1 9 7 0 , p a s s i m , o P I B per capita n a H u n g r i a era U S $ 1 9 , 2 1 e m 1 9 0 0 , n a R ú s s i a e m 1 9 2 8 e r a U S $ 5 0 , 0 5 e n a Á u s t r i a e m 1 9 1 0 , U S $ 6 3 , 3 4 . A s e x p o r t a ç õ e s per capita n o B r a s i l e m 1 8 8 8 e r a m q u a s e d u a s v e z e s a s d a R ú s s i a e a s d e P o r t u g a l , e , d e a c o r d o c o m M u l h a l l , The Encyclopedia of Statistics, p. 1 3 1 , m a i s de seis v e z e s as do J a p ã o . S u p o n d o q u e as e x p o r t a ç õ e s d o J a p ã o f o s s e m a p e n a s 5 % d o P I B , a r e n d a per capita n o B r a s i l s e r i a m a i s d o q u e u m t e r ç o m a i s a l t a . S e g u n d o e s t i m a t i v a s d e L a m p e , a r e n d a per capita m é d i a n o s p a í s e s dos B a l c ã s e m 1 9 1 0 ( v i n t e a n o s após a d a t a d o nosso d a d o p a r a

(7)

renda per capita, o Brasil estava, mais ou m e n o s , no m e s m o nível q u e alguns países da E u r o p a O r i e n t a l , tais c o m o a H u n g r i a e a R ú s s i a , e c o n s i d e r a v e l m e n t e a c i m a d o I m p é r i o O t o m a n o e d o J a p ã o . E m 1 9 1 0 , e m b o r a o PIB do M é x i c o tivesse t r i p l i c a d o , sua renda per capita a i n d a era 4 0 % m e n o r do q u e a brasileira. Esse é um n o t á v e l t e s t e m u n h o da diferença substancial q u e o século X I X havia p r o d u z i d o , j á q u e o M é x i c o e o Brasil estavam c o n v e r g i n d o .

A regulação dos mercados de commodities

no Brasil versus o laissez faire no México

A i m p o r t â n c i a do c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l t o r n o u a m b a s as e c o n o mias sensíveis à flutuação dos preços m u n d i a i s , m a s a do Brasil era p a r t i c u l a r m e n t e v u l n e r á v e l . Isso p o r q u e u m n ú m e r o m u i t o m a i o r d e t r a -balhadores, p r o v a v e l m e n t e duas ou três vezes o n ú m e r o de trabalhadores e m p r e g a d o s nas m i n a s d o M é x i c o , estava d i r e t a m e n t e e m p r e g a d o nas plantações de café e de c a n a - d e - a ç ú c a r e na e x t r a ç ã o de b o r r a c h a no B r a s i l .1 3 C o n s e q ü e n t e m e n t e , o G o v e r n o B r a s i l e i r o foi o b r i g a d o a se

interessar pela r e g u l a ç ã o dos ciclos das e c o n o m i a s e x p o r t a d o r a s . O e x e m p l o mais c o n h e c i d o das ações do g o v e r n o brasileiro no c a m p o da r e g u l a ç ã o foi a política de defesa dos preços do café. C o m e ç a n d o c o m a valorização do café em 1 9 0 6 , seguida pela criação do Instituto de D e -fesa P e r m a n e n t e do Café nos anos vinte e, finalmente, c o m a instituição do D e p a r t a m e n t o N a c i o n a l do Café em 1 9 3 3 , o G o v e r n o Federal e os governos estaduais do Brasil c h e g a r a m a financiar a m a i o r parte do c o -m é r c i o -m u n d i a l do café e a -m a n t e r a -m a i o r parte dos estoques visíveis.

o B r a s i l ) e s t a r i a e n t r e U S $ 5 0 e U S $ 6 0 . U m a e s t i m a t i v a d e V e d a t E l d o m p a r a o I m p é r i o O t o m a n o e m 1 9 0 7 , r e p r o d u z i d a e m L a m p e i n d i c a u m a r e n d a per capita d e a p e n a s U S $ 3 0 , 0 0 . Cf. J o h n R . L a m p e " I m p e r i a l B o r d e r l a n d s o r C a p i t a l i s t P e r i p h e r y ? R e d e f i n i n g B a l k a n B a c k w a r d n e s s , 1 5 2 0 - 1 9 1 4 " e m D a n i e l C h i r o t , e d . T h e Origins o f Backwardness i n Eastern Europa. B e r k e l e y : U C P r e s s , 1 9 8 9 , p . 1 9 6 . P a u l B a i r o c h e m The Economic Development of the Third World since 1900. B e r k e l e y : UC Press, 1 9 7 5 , p . 1 9 3 , m o s t r a u m P I B per capita p a r a a A m é r i c a L a t i n a d u a s v e z e s e m e i a o d a Á s i a e m 1 9 0 0 e q u a s e d u a s v e z e s o d a Á f r i c a , e m 1 9 6 0 .

1 3 E s t i m a t i v a b a s e a d a n o s d a d o s de A l f r e d o Ellis J ú n i o r , A Evolução da Economia Paulista

e Suas Causas. S ã o P a u l o : C o m p a n h i a E d i t o r a N a c i o n a l , 1 9 3 7 , p . 2 2 5 . O s d a d o s s o -b r e o M é x i c o s ã o da C o m i s i ó n M o n e t a r i a , Actas de las juntas a ella anexos. M é x i c o : T i p . d e l a O f i c i n a d e E s t a m p i l l a s , 1 9 0 4 , p . 4 0 . D e a c o r d o c o m C o l e g i o d o M é x i c o , Estadísticas Económicas del Porfiriato, p. 1 3 1 , o M é x i c o t i n h a 8 9 . 0 7 2 m i n e i r o s em 1 8 9 8 . S e g u n d o A l f r e d o Ellis J ú n i o r , o E s t a d o d e S ã o P a u l o s o z i n h o t i n h a m a i s t r a b a l h a d o r e s n o café d o q u e isso.

(8)

A regulação do café abriu um precedente que a O P E P e outros produtores de m a t é r i a s - p r i m a s i r i a m s e g u i r anos mais tarde. Ela t a m b é m alterou o papel do Estado B r a s i l e i r o na e c o n o m i a n a c i o n a l . Ao final da P r i m e i r a R e p ú b l i c a , em 1 9 3 0 , o Estado Brasileiro era responsável pela m a i o r parte do f i n a n c i a m e n t o , a r m a z e n a m e n t o , transporte e vendas de café, e controlava u m dos maiores m e r c a d o s d e commodities d o m u n d o .1 4 C o m o

v e r e m o s , a defesa do café l e v o u o Estado a i n t e r f e r i r nos m e r c a d o s fi-n a fi-n c e i r o e m o fi-n e t á r i o e a s u p e r v i s i o fi-n a r a ifi-nfra-estrutura de trafi-nsportes.

O M é x i c o n ã o i n t e r v e i o tão a t i v a m e n t e nos m e r c a d o s de e x p o r t a -ção. A m a i o r p a r t e de suas e x p o r t a ç õ e s agrícolas e florestais, tais c o m o as e x p o r t a ç õ e s de b o r r a c h a , café, c h i c l e , ou e r a m responsáveis p o r u m a p e q u e n a p a r c e l a do m e r c a d o m u n d i a l , ou — c o m o no caso da b a u n i l h a e do c h i c l e — t i n h a m m e r c a d o s p e q u e n o s . Intervenções do Estado, nessas c o n d i ç õ e s , n ã o e r a m promissoras. No caso do sisal, outro produto i m p o r -tante nas e x p o r t a ç õ e s a g r í c o l a s , a falta de c o o r d e n a ç ã o entre os líderes p o l í t i c o s na capital do País e a e l i t e e c o n ô m i c a de Y u c a t a n , p r o p r i e t á r i a das p l a n t a ç õ e s , p a r e c e ter l e v a d o f u n c i o n á r i o s do Estado m e x i c a n o a conspirar c o m i m p o r t a d o r e s estrangeiros, c o m o a U S International H a r -vester C o m p a n y , m a i s no s e n t i d o de abaixar o p r e ç o do sisal do q u e ,

c o m o no caso do café brasileiro, sustentá-lo.1 5

Entre as e x p o r t a ç õ e s de m i n é r i o s , o cobre e o c h u m b o m e x i c a n o s d e t i n h a m u m a crescente p e r c e n t a g e m d a p r o d u ç ã o m u n d i a l , mas e m nada c o m p a r á v e l à do café brasileiro, e q u a l q u e r tentativa de m a n i p u l a r o m e r c a d o desses produtos estava fadada, de antemão, ao fracasso. M e s m o no caso da prata, p r o d u t o no q u a l o M é x i c o era r e a l m e n t e c o m p e t i t i v o , n ã o h a v i a c o n d i ç õ e s apropriadas para u m a a ç ã o do Estado. Os Estados U n i d o s t i n h a m ultrapassado o M é x i c o na l i d e r a n ç a da p r o d u ç ã o de prata n o s a n o s setenta d o s é c u l o X I X . A l é m d o m a i s , p o r razões p o l í t i -cas d o m é s t i c a s e i n t e r n a c i o n a i s , os Estados U n i d o s e outros países q u e a d o t a v a m a prata c o m o lastro para suas m o e d a s m u d a r a m - n o s para o sistema m o n e t á r i o d o p a d r ã o - o u r o n o ú l t i m o q u a r t e l d o século X I X . E, e m b o r a o M é x i c o se j u n t a s s e aos Estados U n i d o s e à C h i n a (o m a i o r c o n s u m i d o r m u n d i a l d e prata para c u n h a g e m ) e m v á r i a s conferências

1 4 S t e v e n T o p i k , The Political Economy of the Brazilian State, 1889-1930. A u s t i n : U n i v e r s i t y

o f T e x a s P r e s s , 1 9 8 7 , c a p í t u l o 3 . P a r a u m a c o m p a r a ç ã o dos p a p é i s d o s Estados b r a -s i l e i r o e m e x i c a n o n o -s m e r c a d o -s d e café e -si-sal, v e r : T o p i k , " L ' É t a t -s u r l e m a r c h e : a p p r o c h e c o m p a r a t i v e d u café b r é s i l i e n e t d u h e n e q u e n m e x i c a i n " A n n a l e s , Economies, Sociétés, Civilisations 4 6 : 2 ( m a r ç o - a b r i l , 1 9 9 1 ) : 4 2 9 - 4 5 8 .

(9)

i n t e r n a c i o n a i s q u e t i n h a m c o m o objetivo estabilizar o s preços m u n d i a i s do p r o d u t o , o sucesso a l c a n ç a d o n ã o foi s i g n i f i c a t i v o .1 6

Política tributária: a mesma fé no comércio

Ao l o n g o do século X I X e até 1 9 3 0 , o c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l foi vital para os dois países. A m b o s os Estados t i n h a m se v o l t a d o para a t a x a ç ã o d o c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l p o r q u e h a v i a m sido forçados, p o r suas r e v o l u ç õ e s liberais, a a b a n d o n a r os m o n o p ó l i o s e as e m p r e s a s e s t a tais mercantilistas, q u e , até então, h a v i a m c o n t r i b u í d o c o m g r a n d e s s o mas para o Tesouro. Para os dois g o v e r n o s , c o m u m a estrutura b u r o -crática p o u c o d e s e n v o l v i d a , o c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l era a m a i s fácil fonte de tributos, já q u e os i m p o s t o s sobre e x p o r t a ç õ e s e i m p o r t a ç õ e s r e q u e r i a m apenas o e s t a b e l e c i m e n t o de alfândegas nos p o r t o s e nas fronteiras terrestres. A l é m do m a i s , os b e n s avaliados para t a x a ç ã o t i -n h a m valores c o -n h e c i d o s (ao c o -n t r á r i o d o q u e a c o -n t e c i a c o m m u i t a s terras e c o m a p r o d u ç ã o de subsistência), e seus p r o p r i e t á r i o s n ã o só d i s p u n h a m de fundos l í q u i d o s c o m os quais efetuar os p a g a m e n t o s c o m o p o d i a m repassar o custo para o c o n s u m i d o r final. A s s i m , d u r a n t e a m a i o r parte do s é c u l o X I X , dois terços da renda dos Tesouros da C i d a d e d o M é x i c o e d o R i o d e J a n e i r o a d v i e r a m dos i m p o s t o s sobre i m p o r t a ç õ e s e e x p o r t a ç õ e s . A d e p e n d ê n c i a do c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l para o p a g a m e n t o das despesas g o v e r n a m e n t a i s i m p e d i a u m a p o l í t i c a p l e n a de l i v r e c o m é r c i o , e d e m o n s t r a q u e o interesse do Estado no r e -c o l h i m e n t o de impostos era m a i s i m p o r t a n t e do q u e a m a n u t e n ç ã o da pureza do p r i n c í p i o das v a n t a g e n s c o m p a r a t i v a s . Ao m e s m o t e m p o , as taxas sobre produtos essenciais não p o d i a m ser altas a p o n t o de t o r n a r proibitiva sua i m p o r t a ç ã o , pois, t a m b é m nesse caso, c e s s a r i a m as r e c e i -tas alfandegárias c o r r e s p o n d e n t e s .

A l é m de r e s t r i n g i r a p o l í t i c a tarifária, os i m p o s t o s i n d i r e t o s sobre o c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l t i n h a m u m a d e s v a n t a g e m a d i c i o n a l d o p o n t o de vista e c o n ô m i c o : a de taxar m a i s os produtores e c o n o m i c a m e n t e mais ativos e eficientes — isto é, os exportadores — e n q u a n t o os produtores a u t o s u f i c i e n t e s e os de subsistência quase n ã o e r a m a t i n g i d o s . T r a t a v a -se de u m a p o l í t i c a t r i b u t á r i a ba-seada em c o n v e n i ê n c i a s e e x i g ê n c i a s fis-cais, e n ã o d e u m i n s t r u m e n t o d e e s t í m u l o a o d e s e n v o l v i m e n t o . C o m

1 6 É m u i t o c u r i o s o q u e o s E s t a d o s U n i d o s t e n h a m l i d e r a d o a p r o p o s t a d e u m p a d r ã o

m o n e t á r i o i n t e r n a c i o n a l b i m e t á l i c o , c o m o p o d e s e r v i s t o e m : Proceedings of the International Monetary C o n f e r e n c e in Paris. W a s h i n g t o n D . C . , 1 8 8 7 .

(10)

efeito, a possibilidade de os g o v e r n o s a r r e c a d a r e m receitas suficientes t a x a n d o o c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l p e r m i t i u - l h e s evitar m e d i d a s q u e t e r i a m p r o p i c i a d o u m a m a i o r p e n e t r a ç ã o n o i n t e r i o r e , possivelmente, u m a m a i o r i n t e g r a ç ã o n a c i o n a l . A ênfase n a t a x a ç ã o d o c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l de preferência à t a x a ç ã o do capital e da terra traz à baila a d i m e n s ã o da i n f l u ê n c i a da o l i g a r q u i a dos e x p o r t a d o r e s proprietários de terra na formulação da política governamental. M a s , ao m e s m o tempo, e talvez p a r a d o x a l m e n t e , fica claro q u e , t o r n a n d o as receitas públicas de tal m o d o d e p e n d e n t e s do c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l , os governos do Brasil e d o M é x i c o t o r n a r a m - s e t o t a l m e n t e c o m p r o m e t i d o s c o m m o d e l o s de c r e s c i m e n t o voltados para as e x p o r t a ç õ e s .

O Estado brasileiro r e v e l o u - s e de m a i o r eficiência no q u e se refere à coleta de i m p o s t o s sobre i m p o r t a ç õ e s e e x p o r t a ç õ e s . Estima-se q u e o G o v e r n o C e n t r a l do Brasil t e n h a tido, em 1 8 8 8 , duas e m e i a vezes a renda per capita do Tesouro F e d e r a l M e x i c a n o e três vezes a sua receita global. A m a i o r p r o s p e r i d a d e do Tesouro do R i o não era, s i m p l e s m e n t e , o resultado de se fatiar um b o l o m a i o r ; os agentes fiscais se serviam duas vezes desse b o l o m a i o r : o B r a s i l r e c o l h i a cerca de 15 a 2 4 % do P N B (essa p e r c e n t a g e m , para países p r é - i n d u s t r i a l i z a d o s , era de 10 a 1 5 % do produto n a c i o n a l ) e n q u a n t o o M é x i c o recolhia a m e t a d e , o u s e j a , 7 , 5 % .1 7

O G o v e r n o m e x i c a n o , d u r a n t e os três p r i m e i r o s q u a r t é i s do século X I X , teve m a i o r e s dificuldades do q u e o do Brasil no e s t a b e l e c i m e n t o de seus direitos de coletar i m p o s t o s em t o d o o t e r r i t ó r i o n a c i o n a l e na sua c a p a c i d a d e de realizar essa função, q u e afinal, constitui u m a das marcas mais características da soberania. O custo da coleta destes impostos m o n t a v a , a p r o x i m a d a m e n t e , a 1 0 % das rendas — um n ú m e r o razoavel-m e n t e e l e v a d o — e, a l é razoavel-m disso, o sisterazoavel-ma sofria urazoavel-m g r a n d e v a z a razoavel-m e n t o ,

1 7 J a m e s W i l k i e , e m " C h a n g e s i n M e x i c o s i n c e 1 8 9 5 " , Statistical Abstract o f Latiu

Amé-rica, v o l . 2 4 , L . A , U C L A : L a t i n A m e r i c a n S t u d i e s C e n t e r , 1 9 8 4 , p . 8 7 5 , u s a n d o o s d a d o s d o P I B c h e g a a u m v a l o r a t é m a i s b a i x o p a r a 1 9 0 0 , 4 . 5 % . Esse v a l o r n ã o reflete o t o t a l d e g a s t o s d o E s t a d o m a s , a p e n a s , dos gastos d o G o v e r n o C e n t r a l . S e g u n d o L i b e r a t o de C a s t r o C a r r e i r a , História Financeira e Orçamentária do Império no Brasil, v o l . 2 , p . 6 0 5 , o G o v e r n o C e n t r a l d o B r a s i l a r r e c a d o u 7 6 , 2 % das r e c e i t a s totais, a s P r o v í n c i a s , 1 9 , 2 % e o s m u n i c í p i o s , 4 , 6 % . O s d a d o s d e W i l k i e p a r a 1 9 0 0 , e m " C h a n g e s i n M é x i c o " m o s t r a m u m a r e n d a d o G o v e r n o C e n t r a l d e 6 4 % , 2 4 , 1 % p a r a a s P r o v í n c i a s e 1 2 , 9 % p a r a o s m u n i c í p i o s . Isso s i g n i f i c a r i a q u e o s gastos totais d o E s t a d o n o B r a s i l e r a m c e r c a d e 2 0 % d o P I B e , n o M é x i c o , 1 2 % , o q u e r e p r e s e n -ta, a i n d a , u m a g r a n d e d i f e r e n ç a . P a r a m a i s d a d o s , v e r S t e v e n T o p i k , " T h e E c o n o m i c R o l e o f t h e L i b e r a l S t a t e , B r a z i l a n d M é x i c o " e m J o s e p h L o v e a n d N i l s J a c o b s e n ( e d i t o r e s ) , Guiding the Invisible Hand; Economic Liberalism and the State in Latin American History. N o v a Y o r k : P r a e g e r Press, 1 9 8 8 , p . 1 1 7 - 1 4 4 .

(11)

e s t r e i t a m e n t e r e l a c i o n a d o a o fato d e q u e o M é x i c o enfrentava u m a m a i o r p r o p e n s ã o ao c o n t r a b a n d o , dada a m a i o r facilidade de acesso a suas fronteiras. As costas do A t l â n t i c o e do Pacífico, assim c o m o a fronteira com os Estados U n i d o s — c o m a c h e g a d a das estradas de ferro — a c h a v a m -se abertas ao c o m é r c i o de c o n t r a b a n d o , e n q u a n t o q u e , no B r a s i l , o c o m é r c i o só p o d i a c h e g a r aos centros p o p u l a c i o n a i s mais i m p o r t a n t e s pelo litoral do Atlântico. Para desencorajar o contrabando, as a u t o r i d a d e s m e x i c a n a s t i n h a m q u e c o b r a r tarifas mais b a i x a s . C o n s e q ü e n t e m e n t e , os impostos no M é x i c o alcançavam apenas 3 0 % do valor das importações, apesar de o Estado necessitar d e s e s p e r a d a m e n t e de mais f u n d o s .1 8 Os

impostos sobre i m p o r t a ç ã o no Brasil c h e g a v a m a 4 6 % do v a l o r total das i m p o r t a ç õ e s .1 9

U m a c o m p a r a ç ã o das p o l í t i c a s tarifárias dos dois países s u g e r e a l g u mas claras s e m e l h a n ç a s entre a m b a s após a v i r a d a do século, p a r t i c u l a r m e n t e p o r efeito das políticas protecionistas i m p l e m e n t a d a s para e s t i m u -lar a florescente i n d ú s t r i a têxtil nas duas n a ç õ e s . De acordo c o m S t a n l e y S t e i n , o p e r í o d o após o e s t a b e l e c i m e n t o da nova tarifa de 1 9 0 0 , no Brasil, p o d e ser c o n s i d e r a d o c o m o a " I d a d e de O u r o " do p r o t e c i o n i s -m o n o País, u -m fato a p a r e n t e -m e n t e c o n f i r -m a d o pela d u p l i c a ç ã o d a p r o d u ç ã o t ê x t i l brasileira, n u m p e r í o d o e m q u e s e intensificou a c o m -p e t i ç ã o i n t e r n a c i o n a l nesse setor m a n u f a t u r e i r o c h a v e .2 0 N o M é x i c o ,

as a l í q u o t a s das tarifas de i m p o r t a ç ã o para m u i t o s dos produtos m a n u -faturados foram a u m e n t a d a s em 1 8 9 2 , 1 8 9 3 e 1 8 9 6 , e m b o r a a p r o t e ç ã o efetiva tivesse t e n d i d o a declinar, c o m o resultado da d e p r e c i a ç ã o do peso-prata. Entretanto, depois de 1 9 0 2 , as i m p o r t a ç õ e s passaram a ser avaliadas ao p r e ç o da m o e d a em c i r c u l a ç ã o , o q u e — j u n t a m e n t e c o m o u t r a revisão das tarifas e m 1 9 0 6 — c a u s o u u m a u m e n t o d e u m t e r ç o n o n í v e l d e proteção. Por volta d e 1 9 0 9 , u m p e s q u i s a d o r d o C o n g r e s s o dos Estados U n i d o s relatava q u e a tarifa m e x i c a n a sobre os t e c i d o s de a l g o d ã o era u m a das mais altas de todo o m u n d o .2 1

1 8 C a l c u l a d o a p a r t i r dos d a d o s d e E l C o l e g i o d e M é x i c o , Estadísticas Económicas dcl

Porfiriato: Fuerza de Trabajo y Actividad Económica. M e x i c o : El C o l e g i o del M é x i c o , 1 9 6 4 , p. 2 0 6 , e El C o l e g i o de M é x i c o , Comercio Exterior de México 1877-1911. M é x i c o : E l C o l e g i o d e l M é x i c o , 1 9 6 0 .

1 9 C a s t r o C a r r e i r a , História Financeira, v o l . 2. p a s s i m ; I B G E , Anuário Estatístico de 1939,

p. 6 8 .

20 S t a n l e y S t e i n , The Brazilian Cotton Manufacture:Textile Enterprise in an Underdeveloped

Area, 1850-1950. C a m b r i d g e : H a r v a r d U n i v e r s i t y P r e s s , 1 9 5 7 , p. 9 9 , e T o p i k , The Political Economy of the Brazilian State. p. 4 2 .

(12)

M e s m o assim, p o r volta de 1 9 1 0 , a r e n d a real per capita do G o v e r n o Federal no Brasil ainda superava em duas vezes a do g o v e r n o m e x i c a n o . C o n s i d e r a n d o q u e o Estado n a c i o n a l brasileiro estava se d e s c e n t r a l i z a n -do, c o m a a p r o p r i a ç ã o pelos Estados de u m a p a r t e cada v e z m a i o r das receitas p ú b l i c a s (de 1 9 % , e m 1 8 6 3 , para 2 7 % , e m 1 8 8 6 , e 3 9 % e m 1 9 0 7 - 1 9 1 0 ) e n q u a n t o q u e o do M é x i c o estava se c e n t r a l i z a n d o ( c o m os Estados e m u n i c í p i o s passando de 3 8 % do total das receitas em 1 8 9 5 -1 8 9 9 para 3 -1 % e m -1 9 0 3 - -1 9 0 6 ) , é s u r p r e e n d e n t e a constatação d e q u e o G o v e r n o F e d e r a l Brasileiro estivesse tão m a i s r i c o do q u e o do M é -x i c o .2 2 Isso está r e l a c i o n a d o c o m o fato de o Brasil ter se t o r n a d o cada

v e z m a i s d e p e n d e n t e d o c o m é r c i o i n t e r n a c i o n a l . O s i m p o s t o s sobre i m p o r t a ç õ e s , q u e , e m 1 8 9 0 , e r a m responsáveis por 5 2 . 3 % das receitas federais n o B r a s i l , s u b i r a m para 6 4 . 8 % e m 1 9 1 0 , e n q u a n t o q u e n o M é x i c o c a í r a m de 55 para 4 3 . 7 % ao l o n g o dos m e s m o s anos. Esse fato p a r e -c e r i a -c o m p r o v a r q u e , pelo m e n o s n o q u e -c o n -c e r n e a a l g u m a s m e d i d a s , a c o n s t r u ç ã o do Estado e a o r i e n t a ç ã o e x p o r t a d o r a e r a m c o m p a t í v e i s .

Política da dívida externa: o papel do Estado

no incentivo à entrada do capital estrangeiro

E m t e r m o s g e r a i s , parece ter h a v i d o mais s e m e l h a n ç a s d o q u e dife-renças nas p o l í t i c a s tributárias do Brasil e do M é x i c o d u r a n t e o século X I X . Em r e l a ç ã o à divida e x t e r n a , ao c o n t r á r i o , as e x p e r i ê n c i a s desses dois países f o r a m , p o r décadas, s i g n i f i c a t i v a m e n t e distintas. Entre os países l a t i n o a m e r i c a n o s , o Brasil era c o n s i d e r a d o pelos b a n q u e i r o s e s -trangeiros c o m o o mais d i g n o de crédito, ao c o n t r á r i o do M é x i c o que, até a década de 1 8 8 0 , sempre esteve em atraso c o m relação a seus c o m -promissos financeiros. Entretanto, no final do século, essa c o n s i d e r á v e l diferença e n t r e as duas nações q u a n t o à p o l í t i c a da d í v i d a e x t e r n a d e u l u g a r a u m a c o n v e r g ê n c i a das i n s t i t u i ç õ e s e das estratégias financeiras de ambas.

H. H a b e r , Industry and U n d e r d e v e l o p m e n t : The Industrialization of Mexico, 1890-1940. S t a n f o r d U n i v e r s i t y P r e s s , 1 9 8 9 , p . 3 9 ; W i l l i a m A . G r a h a m - C l a r k , " C u b a , M e x i c o a n d C e n t r a l A m e r i c a " em Cotton Goods in Latin America, p a r t e 1, W a s h i n g t o n D C : G o v e r n m e n t P r i n t i n g Office, 1 9 0 9 , p . 3 8 .

2 2 M.J.F. de S a n t a - A n n a N e r y , Le Brésil en 1889. P a r i s : L i b r a i r i e C h a r l e s D e l a g r a v e ,

1 8 8 9 , p. 4 5 0 ; B r a s i l , I B G E , Anuário Estatístico,1939-1940, p. 1 . 4 0 9 , 1 . 4 1 2 , 1 . 4 1 8 ; M é x i c o , S e c r e t a r i a d e F o m e n t o , Anuario Estadístico, 1 9 0 6 , p . 2 2 1 e 2 2 2 ; S e c r e t a r i a d e F o m e n t o , Cuadro Sinóptico, a n o de 1 9 0 0 , p. 7 0 - 7 3 .

(13)

Desde a é p o c a da I n d e p e n d ê n c i a , o G o v e r n o I m p e r i a l do Brasil r e c o r r i a a L o n d r e s para e m p r é s t i m o s . Os dois p r i m e i r o s , em 1 8 2 4 e

I 8 2 5 , foram s e g u i d o s p o r e m p r é s t i m o s a d i c i o n a i s nas décadas de 1 8 6 0 ,

1870 e 1 8 8 0 .2 3 O respeito dos b a n q u e i r o s e u r o p e u s pela M o n a r q u i a do

Brasil, q u e pagava os e m p r é s t i m o s p o n t u a l m e n t e ( e m grande p a r t e graças

à c a p a c i d a d e dos coletores d e i m p o s t o s d o R i o d e J a n e i r o d e a r r e c a d a r um fluxo g r a n d e e c o n t í n u o de taxas), era suficiente para assegurar e m préstimos até m e s m o e m t e m p o s difíceis. A florescente e c o n o m i a e x -portadora brasileira apresentava significativos superávits c o m e r c i a i s , q u e c h e g a r a m , em m é d i a , a U S$ 5, 8 m i l h õ e s anuais entre 1 8 8 6 e 1 8 9 0 . O crescente c o m é r c i o e x t e r n o do Brasil e as tarifas alfandegárias em v i g o r t o r n a v a m os capitalistas e u r o p e u s generosos. M a i s do q u e q u a l q u e r o u t r o de seus v i z i n h o s l a t i n o - a m e r i c a n o s , c o m e x c e ç ã o da A r g e n t i n a , o B r a s i l foi i n u n d a d o p o r e m p r é s t i m o s e s t r a n g e i r o s n a q u e l a é p o c a . C o n s e -q ü e n t e m e n t e , a d í v i d a e x t e r n a brasileira em 1 8 8 8 era u m a das m a i o r e s n o Terceiro M u n d o , U S $ 1 3 6 m i l h õ e s . Essa q u a n t i a p a r e c e i n s i g n i f i c a n t e q u a n d o c o m p a r a d a às g i g a n t e s c a s cifras dos dias de hoje, mas ela d e v i a representar e n t ã o o e q u i v a l e n t e a c i n c o ou seis vezes as p o u p a n ç a s i n -ternas d o B r a s i l .2 4

A p ó s a c r i s e financeira l o c a l do i n í c i o dos anos 1 8 9 0 , c o n h e c i d a c o m o " e n c i l h a m e n t o " , o s b a n q u e i r o s estrangeiros — liderados p o r N . M . R o t h s c h i l d a n d S o n s , de L o n d r e s — d e c i d i r a m a p o i a r a r e e s t r u t u r a ç ã o global da d í v i d a e x t e r n a brasileira. O E m p r é s t i m o de C o n s o l i d a ç ã o de 1 8 9 8 p e r m i t i u à R e p ú b l i c a Brasileira — após u m a d é c a d a de p o l í t i c a s e c o n ô m i c a s n ã o - o r t o d o x a s e de d e s c r é d i t o e x t e r n o — passar a a d o t a r políticas o r t o d o x a s . Na v e r d a d e , o Tesouro Brasileiro desfrutava da d u -pla v a n t a g e m de arrecadar u m a r e c e i t a m a i o r i n t e r n a m e n t e e de ser, ao m e s m o t e m p o , u m frequentador b e m - v i n d o dos m e r c a d o s financeiros

2 3 P a r a m a i o r e s i n f o r m a ç õ e s s o b r e o s e m p r é s t i m o s e x t e r n o s d o B r a s i l , v e j a - s e o s

a p ê n d i c e s de C a r l o s M a n c h a i , A Century of Debt Crises in Latin América: From Independence to the Great Depression. P r i n c e t o n U n i v e r s i t y Press, 1 9 8 9 .

2 4 N ó s c h e g a m o s a essa e s t i m a t i v a s u p o n d o u m P N B c i n c o v e z e s m a i o r d o q u e a s

e x p o r t a ç õ e s , o u 5 2 6 m i l h õ e s d e d ó l a r e s e m 1 8 8 8 e c a l c u l a n d o a s p o u p a n ç a s n a c i o -nais c o m o 5 % d o P N B , p e r c e n t a g e m m u i t o alta p a r a u m p a í s c o m u m s e t o r f i n a n c e i r o m a l f o r m a d o e u m a alta p r o p e n s ã o a c o n s u m i r . De a c o r d o c o m B a i r o c h , The Economic D e v e l o p m e n t of the Third World since 1900, p. 1 7 3 , os países a d i a n t a d o s took off no s é c u l o X I X , c o m t a x a s d e p o u p a n ç a s n a c i o n a i s d e 5 a 1 0 % d o P N B . E s s a s taxas p r o -d u z i r i a m p o u p a n ç a s a n u a i s -d e 2 6 m i l h õ e s -d e -d ó l a r e s . Para m a i o r e s i n f o r m a ç õ e s relativas aos s e r v i ç o s da d í v i d a e x t e r n a , v e r T o p i k , The Political Economy of the Brazilian State, p. 2 7 - 5 7 .

(14)

de L o n d r e s e do c o n t i n e n t e e u r o p e u . Por volta de 1 9 1 0 , a dívida e x t e r n a brasileira, q u e tinha crescido m a i s de quatro vezes, c h e g o u a U S $ 6 2 7 m i l h õ e s . Graças a u m a l o n g a história de p o n t u a l i d a d e no p a g a m e n t o de empréstimos e a sua boa relação c o m a casa bancária de N . R o t h s c h i l d s d e L o n d r e s , o Brasil c o n s e g u i u o b t e r e m p r é s t i m o s e m t e r m o s c o m p a -ráveis aos dos t o m a d o r e s de e m p r é s t i m o s e u r o p e u s : j u r o s de 4 1/2 a 5% e taxas de d e s c o n t o de apenas 3 a 5 % .2 5

A o p ç ã o p o r obter fundos no e x t e r i o r dava aos políticos brasileiros u m a m a i o r l i b e r d a d e d e m a n o b r a , j á q u e estes fundos e r a m f a c i l m e n t e acessíveis e n ã o r e q u e r i a m a i m e d i a t a a q u i e s c ê n c i a dos q u e p a g a v a m impostos. C o n s i d e r a n d o q u e n e n h u m dos dois Estados tinha consolidado sua l e g i t i m i d a d e i n t e r n a e t a m p o u c o seu controle sobre a p r o d u ç ã o d o m é s t i c a — o q u e e x i g i r i a u m a c o n s i d e r á v e l m á q u i n a burocrática e profissional, de q u e ambos n ã o d i s p u n h a m - a u m e n t a r a b r u p t a m e n t e os i m p o s t o s i n t e r n o s não era u m a o p ç ã o fácil de ser i m p l e m e n t a d a . Assim sendo, os e m p r é s t i m o s e x t e r n o s reforçavam a relativa a u t o n o m i a do G o v e r n o C e n t r a l face à s o c i e d a d e civil (antes de 1 8 8 8 n ã o havia e m p r é s t i m o s e x t e r n o s a províncias ou m u n i c í p i o s ) , mas, ao m e s m o t e m p o , a u m e n t a v a m sua d e p e n d ê n c i a dos credores e x t e r n o s . Por outro lado, as d e m a n d a s do serviço da dívida e x t e r n a criavam limites às políticas m o n e t á r i a , fiscal e tarifária do País.

A disposição dos capitalistas e u r o p e u s de a b r i r suas carteiras ao M i -nistro da Fazenda brasileiro p r o p o r c i o n a v a m a este recursos para algumas i n o v a ç õ e s e c o n ô m i c a s , mas, sobretudo, p e r m i t i a - l h e saldar as despesas administrativas e o s e r v i ç o de e m p r é s t i m o s a n t e r i o r e s . Em 1 8 9 0 , 6 1 % do o r ç a m e n t o federal foi gasto c o m a a d m i n i s t r a ç ã o e, um q u a r t o c o m o p a g a m e n t o de débitos (internos e e x t e r n o s ) . Para investimentos, res-t a r a m apenas 1 1 % , e , para p a g a m e n res-t o s d e res-transferências, 4 % .2 6 E m 1 9 1 0 ,

os gastos c o m a administração t i n h a m c a í d o um p o u c o e passaram a 5 1 , 3 % do total dos gastos, e n q u a n t o q u e os investimentos c r e s c e r a m e a t i n g i r a m cerca d e 1 8 , 2 % .

Em flagrante contraste c o m o Brasil, o m a l o g r o das políticas de e n -d i v i -d a m e n t o no M é x i c o estava i n t i m a m e n t e r e l a c i o n a -d o ao fato -de

2 5 B r a z i l , A g e n c y L e t t e r B o o k 4 , N . M . R o t h s c h i l d s A r c h i v e , L o n d r e s e C a s t r o C a r r e i

-ra, História Financei-ra, v o l . 2 , p . 7 1 4 - 7 1 6 . A t a x a d e d e s c o n t o foi 8 9 % e m 1 8 8 3 , m a s o e m p r é s t i m o de 1 8 7 5 h a v i a s i d o à t a x a de 9 6 , 5 , o de 1 8 8 6 à de 95 e o de 1 8 8 8 , 9 7 % .

2 6 A n n i b a l V i l l e l a e W i l s o n S u z i g a n , Política do Governo e Crescimento da Economia

(15)

q u e este era um Estado m i l i t a r m e n t e fraco, p o l i t i c a m e n t e instável e a l t a m e n t e e n d i v i d a d o . O M é x i c o l o g o s u s p e n d e u o p a g a m e n t o de seus p r i m e i r o s e m p r é s t i m o s , feitos em 1 8 2 4 , e em 1 8 2 5 , e não r e t o m o u os serviços d a d í v i d a p o r d é c a d a s . E m 1 8 6 2 , o n ã o - p a g a m e n t o d e a n t i g a dívida c o m a Inglaterra e dos infames "Jecker bonds" foram a desculpa para u m a i n t e r v e n ç ã o da F r a n ç a . Após o colapso, em 1 8 6 7 , do I m p é r i o M e x i c a n o , chefiado p e l o A r q u i d u q u e M a x i m i l i a n o e financiado p e l o s franceses, o p r e s i d e n t e m e x i c a n o B e n i t o J u a r e z , u m a v e z m a i s , d e c l a r o u a m o r a t ó r i a da d í v i d a e x t e r n a . Todos esses a c o n t e c i m e n t o s t o r n a r a m o M é x i c o u m p á r i a para o s b a n q u e i r o s estrangeiros d u r a n t e g r a n d e p a r t e d o século X I X , o q u e n ã o era d e estranhar, c o n s i d e r a n d o q u e h o u v e , de fato, u m a suspensão efetiva dos p a g a m e n t o s relativos aos p r i m e i r o s e m p r é s t i m o s ingleses p o r seis d é c a d a s inteiras (de 1 8 2 8 a 1 8 8 6 ) , a m a i s l o n g a m o r a t ó r i a d e q u a l q u e r n a ç ã o nos t e m p o s m o d e r n o s .2 7

S o m e n t e nos anos oitenta, o G o v e r n o M e x i c a n o c o m e ç o u a r e c u -p e r a r seu crédito, fazendo, e m 1 8 8 6 , u m a c o r d o c o m o s b r i t â n i c o s , portadores de títulos m e x i c a n o s e l a n ç a n d o , assim, as bases para o g r a n -d e e m p r é s t i m o -d e conversão -d e 1 0 , 5 m i l h õ e s -d e libras esterlinas e m 1 8 8 8 . Esse e m p r é s t i m o teve g r a n d e ê x i t o p o r assegurar garantias c o n -sideráveis e u m a taxa de d e s c o n t o de 2 1 , 5 % .2 8 N ã o s o m e n t e a h i s t ó r i a

pregressa, c o m o déficits c o m e r c i a i s c o n t í n u o s (cuja m é d i a , n a d é c a d a d e 1 8 8 0 , foi d e U S $ 3 , 5 m i l h õ e s ) d i m i n u í r a m o c r é d i t o d o M é x i c o . Em 1 8 8 8 , a sua dívida e x t e r n a era de U S $ 7 0 , 8 m i l h õ e s , a p r o x i m a d a -m e n t e -m e t a d e da dívida brasileira. M a s , dado o -m e n o r v a l o r das suas exportações, o p a g a m e n t o do s e r v i ç o da dívida e x t e r n a m e x i c a n a r e q u e -ria u m a parcela m a r g i n a l m a i o r dessas e x p o r t a ç õ e s . O p a g a m e n t o da dívida e x t e r n a era, no m o m e n t o , m e n o s i m p o r t a n t e para o Tesouro m e x i c a n o , p o r q u e alguns desses débitos estavam a i n d a sendo n e g o c i a d o s e n ã o estavam sendo pagos. D e v i d o a isso, os serviços da d í v i d a e x t e r n a c o n s u m i a m s o m e n t e 1 1 % d o o r ç a m e n t o . Esse v a l o r subiu para u m q u a r t o do o r ç a m e n t o q u a n d o o p a g a m e n t o dos serviços da d í v i d a foi n o r m a l i z a d o dois anos mais tarde, e p e r m a n e c e u ao r e d o r desse nível

2 7 S o b r e a e v o l u ç ã o dos e m p r é s t i m o s l a t i n o - a m e r i c a n o s v e j a - s e C a r l o s M a r i c h a l , A

Century of Debt Crises in Latin America.

2 8 Council of the Corporation of Foreign Bondholders, R e p o r t for 1 8 8 8 , p. 1 1 2 . A p a r e n t e

-m e n t e o e -m p r é s t i -m o n ã o foi t ã o b e -m s u c e d i d o e -m B e r l i -m . O e -m b a i x a d o r a l e -m ã o j u n t o a o M é x i c o , W a n g e n h e i m e s c r e v e u p a r a V o n B u l o w , e m o u t u b r o d e 1 9 0 5

( R e i c h s a m t des I n n e r n 4 3 8 4 , D e u t s c h e s Z e n t r a l a r c h i v P o t s d a m ) d i z e n d o q u e a t a x a d e j u r o e m 1 8 8 8 foi d e 8 , 0 1 % e a t a x a d e d e s c o n t o , 5 8 , 7 % .

(16)

nas duas d é c a d a s s e g u i n t e s , n u m a fração s e m e l h a n t e à do Brasil. A p ó s 1 8 9 0 , cada v e z m a i s e m p r é s t i m o s estrangeiros foram sendo contratados, n ã o apenas para refinanciar os a n t i g o s , mas t a m b é m para financiar p r o j e t o s de c o n s t r u ç ã o , tais c o m o os da estrada de ferro e do porto de T e -h u a n t e p e c , do p o r t o de V e r a c r u z , assim c o m o a d r e n a g e m da C i d a d e de M é x i c o . E m b o r a n ã o fossem registrados c o m o i n v e s t i m e n t o s d e capital, eles o e r a m na r e a l i d a d e em g r a n d e parte.

A d i f i c u l d a d e d o M é x i c o e m c o l e t a r impostos e e m c o n s e g u i r e m p r é s t i m o s e m c o n d i ç õ e s favoráveis p r e j u d i c o u s e v e r a m e n t e a s a t i v i d a -des do E s t a d o .2 9 Em um c i c l o v i c i o s o , a p o b r e z a do Estado m i n a v a os

f u n d a m e n t o s i n s t i t u c i o n a i s necessários para restaurar a p r o s p e r i d a d e p ú b l i c a . O q u a d r o r e l a t i v a m e n t e p e q u e n o de f u n c i o n á r i o s q u e t i n h a c o n d i ç õ e s de e m p r e g a r r e d u z i a a c a p a c i d a d e de Porfírio D i a z alcançar, da C a p i t a l , as r e g i õ e s distantes do País. Ao q u e p a r e c e , o M é x i c o t i n h a apenas a m e t a d e do n ú m e r o de f u n c i o n á r i o s p ú b l i c o s do Brasil nos níveis n a c i o n a l , p r o v i n c i a l e l o c a l . E, p o r causa da t r a d i ç ã o de v i o l ê n c i a , m a i s da m e t a d e desses f u n c i o n á r i o s e r a m m e m b r o s das Forças A r m a d a s . Em n ú m e r o s absolutos, os soldados e m a r i n h e i r o s do M é x i c o e r a m o d o b r o do c o n t i n g e n t e m i l i t a r do Brasil ( 3 3 . 2 2 6 e 1 6 . 8 0 0 respectiva-m e n t e ) d e i x a n d o u respectiva-m a b u r o c r a c i a civil e q u i v a l e n t e a u respectiva-m q u a r t o d o total b r a s i l e i r o .3 0 Essas p r o p o r ç õ e s se refletiam nos o r ç a m e n t o s . As forças

a r m a d a s m e x i c a n a s c o n s u m i a m 3 8 % d o o r ç a m e n t o federal e m 1 8 8 8 , e n q u a n t o as do Brasil se l i m i t a v a m a 1 8 % . 2 9 U m r e c e n t e e s t u d o das f i n a n ç a s p ú b l i c a s m e x i c a n a s a r g u m e n t a q u e o E s t a d o m e -x i c a n o n ã o g a s t a v a o b a s t a n t e e m b e n s " p ú b l i c o s " (na esfera s o c i a l , e c o n ô m i c a , e d u c a c i o n a l e j u d i c i á r i a ) p a r a m a n t e r a l e a l d a d e d e g r a n d e s s e t o r e s d a p o p u l a ç ã o , u m fator q u e v i r i a c o n t r i b u i r p a r a a d e f l a g r a ç ã o d a R e v o l u ç ã o e m 1 9 1 0 . Cf. M a r c e l l o C a r m a g n a n i , Mercado y Estado: historia de la hacienda publica en México, 1857-1910. M é x i c o : F o n d o d e C u l t u r a E c o n ó m i c a , 1 9 9 4 .

3 0 D a d o s s o b r e o t o t a l d e f u n c i o n á r i o s d o G o v e r n o n o M é x i c o s ã o e n c o n t r á v e i s e m

L . P e t e r S m i t h , T h e Labyrinth o f Power, p . 4 1 , o q u a l d á 7 1 . 8 3 4 " p a r a 1 8 9 5 , u m p o u c o m a i s do q u e os 6 3 . 7 7 7 e n c o n t r a d o s em Resumen del Censo de 1900, p. 61 e os 5 9 . 5 5 3 em Fuerzo de Trabajo, p. 5 4 , 5 6 . Para o B r a s i l c h e g a m o s a 1 2 9 m i l c o n f o r m e C o n t a d o r i a G e r a l da R e p ú b l i c a , Resumo do Orçamento da Receita e Despeza para o Exercício de

1893;a Estrada de Ferro Central do Brasil, R e l a t ó r i o , 1 8 9 3 . I m p r e n s a N a c i o n a l , 1 8 9 3 , T a b e l a Dl e T o p i k , The Political Economy of the Brazillian State, 1889-1930, p. 2 1 . A r e l a ç ã o e n t r e o s d o i s países e r a p o s s i v e l m e n t e m a i s p r ó x i m a e m 1 8 8 8 , j á q u e a b u r o c r a -c i a d o E s t a d o b r a s i l e i r o -c r e s -c e u p r o v a v e l m e n t e e m u m t e r ç o n o s d o z e a n o s s e g u i n t e s , e n q u a n t o h á e v i d ê n c i a d e q u e a d o M é x i c o t e r i a e s t a g n a d o n e s s e p e r í o d o . O c o n t i n -g e n t e das Forças A r m a d a s Brasileiras e m 1 8 8 8 , d e a c o r d o c o m J o s é M u r i l o d e C a r v a l h o em " A s Forças A r m a d a s na P r i m e i r a R e p ú b l i c a " , História Geral da Civilização Brasileira, vol. 9 , p . 2 0 1 , e r a d e 1 6 . 8 0 0 h o m e n s , e n q u a n t o o d o M é x i c o era 3 3 . 2 2 6 e m 1 8 9 5 .

(17)

E s s a situação, entretanto, refletia u m a m a i o r t r a n q ü i l i d a d e n o Brasil mais d o q u e u m estilo diferente d e g o v e r n o , j á q u e , a n t e r i o r m e n t e , também os militares brasileiros h a v i a m sido responsáveis p o r p a r c e l a ponderável dos gastos do G o v e r n o C e n t r a l . Entre 1 8 3 5 e 1 8 8 8 , os g a s t o s c o m militares c o r r e s p o n d e r a m a p e l o m e n o s 5 6 % d o total d e gastos.3 1 Portanto, não era s u r p r e e n d e n t e q u e s o m e n t e 5% do o r ç a m e n t o

do Governo C e n t r a l do M é x i c o fossem d e d i c a d o s a i n v e s t i m e n t o s fixos em 1888, n u m a p e r c e n t a g e m q u e c o r r e s p o n d i a , em t e r m o s absolutos, a s o m e n t e u m n o n o d o total dos i n v e s t i m e n t o s d o G o v e r n o C e n t r a l n o Brasil.3 2 Esse m o n t a n t e a u m e n t o u para 9 , 2 % em 1 9 1 0 , mas a p a r t i c i p a ç ã o

cm i n v e s t i m e n t o s fixos do Brasil cresceu a u m a taxa similar, de tal m a -neira q u e o Estado brasileiro estava i n v e s t i n d o u m a fração duas vezes m a i o r de suas rendas, as q u a i s , p o r sua v e z , e r a m , em t e r m o s per capita, duas vezes m a i o r e s .

O esforço do Estado para atrair

investimentos externos diretos

C o n t r a r i a n d o f r e q ü e n t e s a r g u m e n t o s n a l i t e r a t u r a t r a d i c i o n a l d a " d e p e n d ê n c i a " , g o s t a r í a m o s de defender a q u i o p o n t o de vista de q u e a a d o ç ã o de u m a p o l í t i c a da d í v i d a consistente c o m os interesses dos investidores e dos b a n q u e i r o s estrangeiros foi t a m b é m essencial para atrair i n v e s t i m e n t o s diretos do e x t e r i o r . Nesse p o n t o , as políticas finan-ceiras dos dois Estados foram importantes i n s t r u m e n t o s para atrair capital estrangeiro n ã o só para o setor p ú b l i c o , m a s t a m b é m para os setores p r i v a d o s , o q u e p o d e ser v e r i f i c a d o a p a r t i r da revisão de a l g u n s dados sobre i n v e s t i m e n t o e x t e r n o s n o s dois p a í s e s .3 3

O Brasil e o M é x i c o t o r n a r - s e - i a m dois dos m a i o r e s r e c e p t o r e s de capital estrangeiro, no m u n d o . As estimativas dos i n v e s t i m e n t o s e s t r a n -geiros c o s t u m a m ser n o t o r i a m e n t e p o u c o confiáveis. O s n ú m e r o s para

3 1 C a s t r o C a r r e i r a , História Financeira, v o l . 2 , p . 6 1 4 , 6 5 7 ; C a r l o s S a n J u a n V i c t o r i a e

S a l v a d o r V e l á s q u e z R a m i r e z , "El E s t a d o y l a s p o l í t i c a s e c o n ó m i c a s e n e l P o r f i r i a t o " e m C i r o C a r d o s o ( e d . ) México en el Siglo XIX (1821-1920);historia económica y de la estruetura social. M é x i c o : E d i t o r i a l N u e v a I m a g e n , 1 9 8 0 , p . 3 0 8 .

3 2 El C o l e g i o de M é x i c o , Estadísticas económicas del Porfiriato:Fuerza de Trabajo, p. 3 0 5 ,

3 1 1 e 3 2 3 .

3 3 P a r a u m a c o m p i l a ç ã o d e e s t u d o s r e c e n t e s d a h i s t ó r i a d o s i n v e s t i m e n t o s e s t r a n g e i r o s

n a A m é r i c a L a t i n a nesse p e r í o d o , v e j a - s e C a r l o s M a r i c h a l , ( e d ) . Las Inversiones Ex-tranjeras en América Latina, 1850-1930. M é x i c o : F o n d o de C u l t u r a E c o n ó m i c a , 1 9 9 5 .

(18)

1 8 8 8 não passam de i n d i c a d o r e s m u i t o gerais. Diferentes estimativas — relativas ao Brasil e M é x i c o — a p r e s e n t a m valores q u e v ã o de $ 2 5 0 m i -l h õ e s a $ 5 5 0 m i -l h õ e s .3 4 N o r t e - a m e r i c a n o s e i n g l e s e s controlavam todas

as estradas de ferro mais i m p o r t a n t e s do M é x i c o e um g r a n d e n ú m e r o de suas m i n a s . O c o m é r c i o p o r a t a c a d o c o u b e aos c o m e r c i a n t e s a l e m ã e s , franceses e espanhóis, os q u a i s l o g o c o m e ç a r a m a ter um papel i m p o r -tante nos p r i m e i r o s b a n c o s . Franceses e espanhóis d o m i n a r a m o m a i o r b a n c o d o M é x i c o , o B a n c o N a c i o n a l d e M é x i c o , e n q u a n t o q u e i n v e s tidores b r i t â n i c o s e, m a i s tarde, franceses, t i v e r a m p a r t i c i p a ç õ e s s i g n i -ficativas n o B a n c o d e L o n d r e s y M é x i c o . C a p i t a i s estrangeiros t a m b é m c o m e ç a r a m a ser investidos na a g r i c u l t u r a , em terras e empresas de u t i -l i d a d e p ú b -l i c a , e m b o r a a i n d a n ã o e m -larga esca-la. S e c a -l c u -l a r m o s o e s t o q u e de capital, u s a n d o u m a estimativa de K u z n e t s , s e g u n d o a q u a l esse e s t o q u e c o r r e s p o n d i a g e r a l m e n t e a u m v a l o r entre 1 1 e 2 2 % d o P N B , p o d e m o s avaliar a p a r t i c i p a ç ã o do capital estrangeiro no capital total. U m a suposição r a z o á v e l seria a d e q u e , j á e m 1 8 8 8 , u m sexto d e todo o estoque de capital fosse constituído de investimentos estrangeiros, c o m u m l i m i t e s u p e r i o r m a i o r d o q u e u m terço.3 5

A o final d o Porfiriato, q u e d u r o u d e 1 8 9 7 a 1 9 1 0 , u m Estado mais i n t e r v e n c i o n i s t a e n a c i o n a l i s t a m u d o u a n a t u r e z a do i n v e s t i m e n t o e s -t r a n g e i r o . D e p o i s d e 1 9 0 0 , e m b o r a o s i n v e s -t i m e n -t o s e u r o p e u s n ã o tivessem cessado, foram s e n d o r e d u z i d o s face ao g r a n d e afluxo de c a p i -tais n o r t e - a m e r i c a n o s . O s n o v o s fundos foram, e m g e r a l , d i r e c i o n a d o s pelas g r a n d e s c o r p o r a ç õ e s p a r a i n v e s t i m e n t o s diretos, e s t i m u l a d o s pelos c a r t é i s de indústrias e de b a n c o s q u e v i e r a m a d o m i n a r a e c o n o m i a dos Estados U n i d o s . A t é a depressão de 1 9 0 7 , o M é x i c o t i n h a se t o r n a d o o mais i m p o r t a n t e c a m p o de batalha para o capital financeiro internacional, r e c e b e n d o a m e t a d e de t o d o o i n v e s t i m e n t o e x t e r n o de portfolio dos Estados U n i d o s . Ficou atrás apenas da A r g e n t i n a , c o m o país q u e r e c e b e u m a i s i n v e s t i m e n t o s estrangeiros n o Terceiro M u n d o , entre U S $ 1 . 7 e

3 4 I r v i n g S t o n e , " B r i t i s h D i r e c t a n d P o r t f o l i o I n v e s t r a e n t i n L a t i n A m e r i c a b e f o r e

1 9 1 4 " , Journal of Economic History 39 ( d e z e m b r o , 1 9 7 9 ) : 6 9 5 ; J . F r e d R i p p y , British Investments i n Latin America, 1 8 2 2 - 1 8 4 9 H a m d e n , C t , A R c h o n B o o k s , 1 9 5 9 , p . 2 5 , 3 7 , 6 8 ; R i p p y , The United States and Mexico, NY, Crofts, 1 9 2 6 ; New York Times, 7 de j a n e i r o d e 1 8 8 8 e 5 d e s e t e m b r o d e 1 8 8 8 ; L u i s N i c o l a u D . O l w e r , " L a s i n v e r s i o n e s e x t r a n j e r a s " Historia Moderna de México, El Porfiriato, la vida económica. C i d a d e do M é x i c o , 1 9 6 5 , p . 1 1 6 1 - 1 1 6 3 .

3 5 S i m o n K u z n e t s , " C a p i t a l F o r m a t i o n i n M o d e r n E c o n o m i c G r o w t h a n d S o m e

I m p l i c a t i o n s for the Past" em K u z n e t s , Population, Capital and Growth: Selected Essays. N o v a Y o r k : N o r t o n 1 9 7 3 , p . 1 2 6 - 1 6 2 .

Referências

Documentos relacionados

N ascida no Rio de Janeiro, a hoje inteiramente desconhecida atriz, dona de companhias teatrais, auto- ra teatral, compositora e maestrina Cinira Polonio (1857-1938)

Inspirados em Collet, Galves e Leonardi (2008), a motiva¸ c˜ ao original deste texto ´ e responder a seguinte quest˜ ao: ´ e poss´ıvel recuperar a ´ arvore de contextos de uma

No Capítulo 4, contribuimos para a análise empírica da relação entre crescimento econômico e liberalização comercial na América Latina, seguindo o modelo de

a) delimitar a área de alfandegamento; e.. b) organizar e sinalizar os fluxos de mercadorias, veículos, unidades de cargas e de pessoas. A administração do porto poderá, a

Classificação das consumidoras de marca quanto à liquidação, decisão de compra e comparação de preços É possível ressaltar aqui que a grande maioria, 60,7%, não costuma

A carta política do II Encontro Nacional de Agroecologia expõe um princípio metodológico básico para que as ex- periências sociais de promoção material da Agroecologia

Foram feitas medidas de massa, coloração da casca, tamanho e formato do fruto, rendimento em suco, sementes, arilo, número de sementes por fruto e umidade das sementes.. Os dados

Como forma de compartilhar informações sobre as tendências do mercado de trabalho em 2020, além de orientações para preparar nossos alunos para processos seletivos on-line,