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Jornalismo autorial e uma perspectiva funcionalista da tradução: um framework conceitual baseado na versão brasileira de "ganz unten", de Günter Wallraff

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Alggeri Hendrick Rodrigues

JORNALISMO AUTORAL E UMA PERSPECTIVA FUNCIONALISTA DA TRADUÇÃO: UM FRAMEWORK CONCEITUAL BASEADO NA VERSÃO BRASILEIRA DE

“GANZ UNTEN”, DE GÜNTER WALLRAFF

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Estudos da Tradução.

Orientadora: Profa. Dra. Maria José Baldessar.

Coorientadora: Profa. Dra. Daisi Irmgard Vogel.

Florianópolis 2019

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor

através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Rodrigues, Alggeri Hendrick

Jornalismo autoral e uma perspectiva

Funcionalista da tradução : um framework conceitual baseado na versão brasileira de “Ganz unten”, de Günter Wallraff / Alggeri Hendrick Rodrigues ; Orientadora, Maria José Baldessar, coorientadora, Daisi Irmgard Vogel, 2019.

197 p.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Florianópolis, 2019.

Inclui referências.

1. Estudos da Tradução. 2. Interface Tradução Jornalismo. 3. Funcionalismo. 4. Jornalismo

Autoral. 5. Ganz unten. I. Baldessar, Maria José. II. Vogel, Daisi Irmgard. III. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução. IV. Título.

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Alggeri Hendrick Rodrigues

JORNALISMO AUTORAL E UMA PERSPECTIVA FUNCIONALISTA DA TRADUÇÃO: UM FRAMEWORK CONCEITUAL BASEADO NA VERSÃO BRASILEIRA DE

“GANZ UNTEN”, DE GÜNTER WALLRAFF

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de “Mestre em Estudos da Tradução” e aprovada em sua forma final pelo

Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução. Florianópolis, 8 de março de 2019.

________________________ Profa. Dra. Dirce Waltrick do Amarante

Coordenadora do Curso Banca Examinadora:

________________________ Profa. Dra. Maria José Baldessar

Orientadora PPGET – UFSC ________________________ Profa. Dra. Meta Elisabeth Zipser

PPGET – UFSC ________________________ Profa. Dra. Valentina da Silva Nunes

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AGRADECIMENTOS

Durante todos os longos três anos que venho escrevendo esta dissertação, pensei que a parte mais simples e rápida de concluir seria justamente a dos agradecimentos. Estava enganado.

Ao parar para escrever esta seção, agora com calma e tranquilidade, percebi que muito além do que qualquer aspecto intelectual que possa estar envolvido neste trabalho, ele só foi concluído e pode estar sendo lido hoje a partir da contribuição de muitas pessoas que de alguma forma doaram um pouquinho de si mesmas para que isso tudo tivesse êxito.

Em primeiro lugar agradeço à minha namorada, Ana Luiza, por ser a melhor companhia do mundo. Agradeço por você acreditar em mim quando eu mesmo duvidei e por não ter me deixado desistir nas inúmeras vezes em que quase o fiz. Desculpe por todos os momentos de estresse e ansiedade, sei que eles não foram difíceis somente para mim, mas também para você. Obrigado por permitir que eu esteja ao seu lado e por dividir comigo diariamente toda essa sua doçura, gentileza e alegria. Amo você.

À minha mãe, Carmen, e à minha avó, Gladis, por sempre terem me incentivado a estudar e a conhecer e a admirar novas culturas.

Às minhas amigas e aos meus amigos, pelo companheirismo e pelo apoio contínuos, principalmente por todas as conversas e sugestões que surgiram ao redor de muitas risadas e cervejas geladas. Seria uma gafe acabar esquecendo de alguém, mas agradeço especialmente: Ana Sophia, Bettina, Dóris, Eliza, Fabrício, Flávia, Fly, Gabriela, George, Ildo, Isadora, Jéssica, Joel, Júlia, Leslie, Luiza, Nina, Olegas, Paola, Paulo Kloeppel (in memoriam), Renato, Ruth e Tayane. You guys rock!

À Sofia Dietmann, que além da amizade, também dedicou parte de seu tempo e de suas habilidades para me auxiliar com a parte gráfica do trabalho, trabalhando na digitalização do framework e no desenho dos mapas.

À minha orientadora, Profa. Dra. Maria José Baldessar, por ter aceitado me orientar mesmo com tão pouco tempo restante para o término do curso. Sou grato pela ótima orientação e pela revisão contínua, minuciosa e praticamente imediata sobre todos os capítulos do meu trabalho. Sem sombra de dúvidas, esta dissertação só foi concluída com a sua ajuda. Para além do agradecimento objetivo, admiro a sua personalidade, força e determinação, e fico em poder ter contado com o seu apoio.

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À minha co-orientadora, Profa. Dra. Daisi Irmgard Vogel, pelo suporte, principalmente sobre as questões relacionadas ao jornalismo e à literatura. Obrigado por ter me mostrado que, muito melhor do que enquadrar pessoas ou vertentes em caixinhas, podemos “desenquadrá-las”, ressaltando as suas diferenças e similaridades e, principalmente, identificando aquilo que as torna únicas.

Às professoras e aos professores das disciplinas que tive o prazer de cursar durante o Mestrado: Profa. Dra. Jeana Santos, Profa. Dra. Martha Pulido, Profa. Dra. Meritxell Marsal, Prof. Dr. Berthold Zilly e Prof. Dr. Gilles Abes. Vocês compartilharam conhecimentos e experiências em sala que me estimularam a refletir e o pensar criticamente não apenas sobre Tradução e Jornalismo, mas sobre a sociedade como um todo. Meus sinceros agradecimentos por isso.

Às professoras Dra. Meta Elisabeth Zipser e Dra. Valentina da Silva Nunes, por terem aceitado o convite de participação tanto para a qualificação quanto para a defesa da dissertação. Obrigado pela leitura atenta e pelas sugestões precisas que vocês fizeram e que permitiram aperfeiçoar e finalizar esta pesquisa. Agradeço também à Profa. Dra. Maria José Roslindo Damiani Costa pela suplência na banca.

À Profa. Dra. Cárlida Emerim e ao Prof. Dr. Carlos Locatelli, que em um dos momentos mais difíceis me incentivaram a enfrentar o medo e a tomar decisões necessárias para o andamento do trabalho.

Ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PPGET) e à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por proporcionarem a minha formação. À Fernanda Christmann, por todo o auxílio de secretaria. À Coordenação do Programa, pela compreensão. E ainda à Profa. Dra. Rosvitha Friesen Blume, por ter possibilitado que eu retornasse ao curso e finalmente concluísse esse ciclo.

Aos colegas alunos, professores e servidores do Curso e do Departamento de Jornalismo da UFSC, por todo o suporte e conforto diários. Fico contente em poder estar próximo de uma área de estudos de que tanto gosto, e por estar sempre aprendendo alguma coisa nova com vocês.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa concedida nos primeiros meses de curso, o que propiciou tranquilidade no início desse processo.

E, por fim, ao povo brasileiro, pelo financiamento direto de uma Universidade pública, gratuita e de qualidade. Tenho certeza que é por meio da Educação que será possível reduzir as desigualdades desse país, construindo assim uma sociedade que estará baseada no amor, e não no ódio. Neste momento é disso que precisamos.

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RESUMO

Trinta e três anos já se passaram desde que “Ganz unten”, título mais conhecido do jornalista investigativo Günter Wallraff, foi lançado na Alemanha. Há cerca de trinta anos, também, foi publicado no Brasil “Cabeça de Turco”, a primeira e única tradução da obra para a língua portuguesa. Após mais de três décadas, grande parte da ordem econômica e política mundial se alterou substancialmente, com um redesenho das fronteiras físicas e econômicas do mundo e a ascensão de problemas estruturais e sociais. Como possibilitar, então, a compreensão de um texto histórico específico para um leitor que está distante geográfica e culturalmente do ambiente em que a história se passa, como o leitor brasileiro? Baseado em uma orientação teórica de cunho funcionalista (Nord, 2016) – que leva em consideração o público-alvo durante o processo de tradução – bem como a partir das relações estabelecidas entre a tradução e o jornalismo (Zipser, 2002), busca-se construir nesta pesquisa um framework conceitual que possa balizar o processo de tradução de textos de Jornalismo Autoral em que se observe a presença de Itens Culturais Específicos, problematizados e categorizados pelo pesquisador espanhol Javier Franco Aixelá (1996). Pretende-se que esse framework passe a auxiliar no processo de mediação cultural entre os contextos do autor e do público-alvo selecionado, de forma que possa servir como complementação para uma possível reedição da obra em língua portuguesa nos dias atuais.

Palavras-chave: Estudos da Tradução; Interface Tradução-Jornalismo; Funcionalismo; Jornalismo Autoral; Günter Wallraff; Ganz unten.

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ABSTRACT

Thirty-three years ago, “Ganz unten”, the most famous title written by the investigative journalist Günter Wallraff, was released in Germany. Also about thirty years ago, “Cabeça de Turco” was published in Brazil, the first and only translation of this work to Portuguese. After more than three decades, most of the political and economic orders have substantially changed, with the redesign of physical and economical borders of the world and the rising of structural and social problems. So, how to enable the comprehension of a historical-specific text to a reader that is geographically and culturally far from the environment where the story takes place, like the Brazilian reader? Based on the theoretical guidance of a functionalist approach, (Nord, 2016) – that takes in consideration the target-audience during the translation process – as well as from the relations established between translation and journalism (Zipser, 2002), this research aims to build a conceptual framework, able to guide the process of translation or Author’s Journalism texts in which it can be noted the presence of Specific Cultural Items, problematized and categorized by the Spanish researcher Javier Franco Aixelá (1996). It is intended that this framework helps the process of cultural mediation between the contexts of the author and the selected target-audience, in a way it can serve as a complementation to a possible reedition of the Portuguese version of the title nowadays.

Keywords: Translation Studies; Translation-Journalism Interface; Functionalism; Author’s Journalism; Günter Wallraff; Ganz unten.

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LISTA DE FIGURAS

Figura I – Capa da edição alemã de 1988 de “Ganz unten” ... 46 Figura II – Capa da última edição publicada na Alemanha (2017) ... 47 Figura III – Capa da edição brasileira de 2004 de “Cabeça de Turco” . 52 Figura IV – Capa da primeira edição brasileira de 1988 de “Cabeça de Turco” ... 53 Figura V – Cidades nas quais o personagem “Ali” esteve no capítulo “Os primeiros passos” ... 152 Figura VI – Desenho do framework conceitual ... 157

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LISTA DE QUADROS

Quadro I – Relação de capítulos entre “Ganz unten” e “Cabeça de

Turco” ... 55

Quadro II – Trabalhos filtrados sobre Jornalismo Literário em SciELO ... 62

Quadro III – Trabalhos filtrados sobre Jornalismo Gonzo e Jornalismo Literário em PORTCOM ... 63

Quadro IV – Trabalhos filtrados sobre Jornalismo Literário no Repositório da SBPJOR ... 65

Quadro V – Resultados Scopus ... 66

Quadro VI – Trabalhos filtrados sobre a obra em Scopus ... 66

Quadro VII – Trabalhos filtrados sobre Jornalismo Gonzo e Jornalismo Literário em Scopus ... 67

Quadro VIII – Resultados Web of Science ... 68

Quadro IX – Trabalhos filtrados sobre Jornalismo Gonzo e Jornalismo Literário em Web of Science ... 69

Quadro X – Resultados Google Scholar ... 70

Quadro XI – Trabalhos filtrados sobre Günter Wallraff em Google Scholar... 71

Quadro XII – Trabalhos filtrados sobre a obra em Google Scholar ... 72

Quadro XIII – Trabalhos selecionados sobre Tradução e Jornalismo Gonzo e Tradução e Jornalismo Literário em Google Scholar ... 72

Quadro XIV – Modelo de Christiane Nord ... 87

Quadro XV – Transcrição de diálogos inteiros (1) ... 101

Quadro XVI – Reconstrução de cada cena (2) ... 104

Quadro XVII – Anotação de costumes (3) ... 107

Quadro XVIII – Narração em terceira pessoa ... 110

Quadro XIX – Captação participativa e narração em primeira pessoa 114 Quadro XX – Criação de fatos ... 116

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 19

2 METODOLOGIA ... 25

3 AUTOR E OBRA ... 31

3.1 GÜNTER WALLRAFF ... 31

3.2 “GANZ UNTEN”, “CABEÇA DE TURCO” ... 39

3.2.1 “Ganz unten”: Contexto histórico e social na Alemanha . 39 3.2.2 A edição brasileira: seu tradutor e a composição do texto traduzido ... 48

3.2.2.1 Sobre o tradutor ... 48

3.2.2.2 As edições de “Cabeça de Turco”... 50

3.2.2.3 As capas ... 51

3.2.2.4 A estrutura da tradução em língua portuguesa ... 55

3.2.3 Indo adiante ... 57

4 REVISÃO DE LITERATURA ... 59

5 TEORIA FUNCIONALISTA NOS ESTUDOS DA TRADUÇÃO ... 83

6 JORNALISMO AUTORAL ... 93

7 CONSTRUINDO O FRAMEWORK CONCEITUAL .... 123

7.1 DEFINIÇÃO DE FRAMEWORK CONCEITUAL ... 123

7.2 O PÚBLICO-ALVO ... 126

7.3 ITENS CULTURAIS ESPECÍFICOS ... 127

7.4 OS DESLOCAMENTOS ... 137

7.4.1 Deslocamento sócio-histórico (temporal) ... 142

7.4.2 Deslocamento geográfico ... 146 7.5 A PROPOSTA DE FRAMEWORK ... 153 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 159 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 163 APÊNDICE A ... 171 APÊNDICE B ... 189 APÊNDICE C ... 195

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1 INTRODUÇÃO

“Man muss sich verkleiden, um die Gesellschaft zu demaskieren, muss täuschen und sich verstellen, um die Wahrheit herauszufinden”. Essas são as palavras de Günter Wallraff constantes logo nas primeiras páginas de “Ganz unten”, a obra que foi responsável por colocá-lo na lista de escritores alemães com o maior número de exemplares vendidos no mundo, junto a nomes importantes como Johann Wolfgang von Goethe, Friedrich Schiller, Heinrich Heine, Karl May, Bertolt Brecht, Thomas Mann, Heinrich Böll, Günter Grass e outros. Mas no que consiste o sucesso de Wallraff, um nome que internacionalmente, nos dias de hoje, se faz lembrado em poucos círculos de conhecimento e com discussões restritas quase que exclusivamente ao âmbito acadêmico?

“É necessário se disfarçar para desmascarar a sociedade, é preciso mentir e fingir para descobrir a verdade”: essa é a tradução da citação de Wallraff que dá início à presente dissertação e que bem serviria para resumir com precisão a sua forma de trabalho ao longo de, pelo menos, cinco décadas. “Ganz unten” é o título que teve maior tiragem na Alemanha após o fim da Segunda Guerra Mundial e relata, de forma detalhada, o que Günter Wallraff passou em seu trabalho como jornalista disfarçado (undercover journalist) no papel do personagem Ali Sinirlioglu, um suposto imigrante turco que esteve em busca de trabalho em terras germânicas no início da década de 1980. Wallraff expôs abertamente os cantos mais obscuros da sociedade alemã daquele momento, trazendo à tona as condições laborais sub-humanas às quais uma parcela dos estrangeiros estava submetida, bem como denunciando a forma com que a própria sociedade alemã tratava e se relacionava com essas pessoas. Seus escritos flutuam entre diversas categorias jornalísticas existentes, aproximando-o de um grande campo que pode ser denominado Jornalismo Autoral, que angaria elementos tanto da área do Jornalismo quanto da Literatura.

Esta dissertação é o resultado do desenvolvimento da minha pesquisa de Mestrado em Estudos da Tradução realizada nos últimos três anos, sendo que partes iniciais do presente estudo foram apresentadas e constam dos anais do IX Seminário de Pesquisas em Andamento do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina, realizado no ano de 2016. Tomei conhecimento do trabalho de Günter Wallraff ainda durante a graduação (em Letras-Alemão) ao cursar a disciplina Tradução Jornalística, e desde então venho nutrindo o desejo de poder analisar de

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maneira mais aprofundada a sua obra. Ao comentar com pessoas próximas sobre o autor, notei que poucos conheciam quem ele era ou o que ele fazia, mas ao relatar um pouco sobre sua forma de atuação o interesse dessas pessoas era despertado. Seu trabalho une jornalismo, literatura, história, sociologia, antropologia e política, abrindo um leque de possibilidades de estudos muito vasto em sua própria essência. Apesar de ter dezenas de títulos publicados desde o ano de 1966, apenas os seus dois livros mais conhecidos foram traduzidos aqui no Brasil: “Ganz unten”1 e “Der Aufmacher”2. Já em Portugal, além de Der

Aufmacher3, foi traduzida também a obra “Aufdeckung einer

Verschwörung: die Spínola Aktion”4, espaço onde Wallraff relatou um

lado desconhecido do militar e ex-presidente português António de Spínola. Essas obras foram devidamente apresentadas e contextualizadas no decorrer do presente texto.

De conteúdo iminentemente interdisciplinar, busca-se neste trabalho abordar “Ganz unten” (“Cabeça de Turco”, em português) a partir da ótica dos Estudos da Tradução, aproveitando-se também para levantar aspectos que envolvem o Jornalismo e a Literatura e que são concernentes ao texto, notadamente o grande campo conhecido como Jornalismo Autoral. Tem-se como objetivo geral construir um framework conceitual para balizar o processo de tradução de textos de Jornalismo Autoral sob uma perspectiva funcionalista, a partir da tradução de “Ganz unten” já disponível para a língua portuguesa. Dessa forma contribui-se para complementar o texto Cabeça de Turco para o nosso idioma, ressaltando aspectos sociais, políticos, imigratórios e geográficos contidos no texto-traduzido e construindo um diálogo com as relações que podem ser desenvolvidas em conjunto com o texto-fonte. De igual maneira a elaboração, inédita, desse framework conceitual é capaz de auxiliar na tradução de textos que se aproximem em um sentido mais amplo do Jornalismo Autoral, oferecendo linhas gerais a serem observadas dentro do processo tradutório também para outros títulos.

A partir de um cotejo minucioso entre o original, em língua alemã, e a sua tradução, em português, foi possível estabelecer a hipótese que servirá como fio condutor para a pesquisa, que é: “a

1 “Cabeça de Turco”, 1988, Globo, traduzido por Nicolino Simone Neto. 2 “Fábrica de Mentiras”, 1990, Globo, traduzido por Carmen Fischer.

3 “O jornalista indesejável”, 1988, Labirinto, traduzido por Margarida Santiago. 4 “A descoberta de uma conspiração: a acção Spínola”, 1976, Bertrand,

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última edição disponível em língua portuguesa, publicada no Brasil, foi disponibilizada a partir de um processo comercial”, isto é, sem que fosse prevista a revisão e nova contextualização de elementos sócio-históricos, geográficos e linguísticos que estavam presentes no texto original.

Partindo dessa hipótese foram delineados os seguintes objetivos específicos:

● Demonstrar a importância de existir um projeto de tradução estruturado para a realização do processo tradutório, no qual conste o escopo que irá embasar as tomadas de decisão pelo tradutor do texto: definição do público-alvo, metas, estratégias e demais procedimentos;

● Identificar Itens Culturais Específicos presentes na tradução de “Ganz unten” para a língua portuguesa, relacionando-os com o framework conceitual proposto no objetivo geral; ● Contribuir para o desenvolvimento de estudos

interdisciplinares nessa área, principalmente entre os estudos da tradução, de jornalismo, de literatura e de história, a partir das discussões apresentadas no decorrer da dissertação e das novas possibilidades de pesquisa que podem surgir após este trabalho; e

● Elaborar um framework conceitual para o processo de tradução de textos de Jornalismo Autoral.

A realização desta pesquisa se justifica ao passo em que se observa a existência de poucas investigações que abordem a tradução de textos jornalísticos que possuam as características que estão presentes nas obras de Günter Wallraff, tratando de temas contemporâneos diretamente espelhados na realidade e com fortes marcas autorais. O objeto “Ganz unten” também não foi escolhido por acaso, tendo em vista que a temática do título trata de um assunto mais do que atual tanto para a Europa quanto para o Brasil, a imigração, mesmo que tenha sido publicado originalmente há quase quarenta anos. O delineamento de uma estratégia geral para a tradução desses textos pode facilitar a estruturação de futuros projetos de tradução e contribuir, assim, de forma direta para a promoção e o avanço do nosso campo de estudos.

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Após este primeiro capítulo introdutório a pesquisa encontra-se dividida em mais sete partes, conforme descrito a seguir:

O segundo capítulo, Metodologia, descreve quais foram os passos e os procedimentos metodológicos utilizados para a construção desta dissertação.

O terceiro capítulo, Autor e Obra, está disposto em dois tópicos. O primeiro tópico, 3.1. Günter Wallraff, trata da apresentação dos elementos que são concernentes ao jornalista e autor Günter Wallraff: o levantamento biográfico, uma contextualização que irá apresentar de sua forma de trabalho, e ainda um rol descritivo elencando as obras que foram publicadas por ele até o presente momento. O segundo tópico, 3.2. “Ganz unten”, “Cabeça de Turco”, encontra-se dividido ainda em três subtópicos: 3.2.1. “Ganz unten”: Contexto histórico e social na Alemanha, onde se trata especificamente das condições em que o país europeu se encontrava quando da publicação do título e as respectivas implicações da reportagem de Günter Wallraff; 3.2.2. A edição brasileira: seu tradutor e a composição do texto traduzido, momento em que se apresenta a tradução brasileira, falando de seu tradutor (3.2.2.1), das edições publicadas em português (3.2.2.2), da configuração das capas aqui disponíveis (3.2.2.3) e da estruturação formal dos capítulos da tradução (3.2.2.4); e o último subtópico 3.2.3 Indo adiante, que faz uma ponte para os próximos conteúdos da dissertação relacionando o trabalho de jornalistas investigativos disfarçados e abrindo espaço para a discussão sobre Jornalismo Autoral realizada mais adiante.

O quarto capítulo, Revisão de Literatura, apresenta um levantamento bibliográfico sistemático dos estudos que já foram publicados sobre Jornalismo Autoral e também a respeito do autor e do texto que são objetos do presente trabalho.

O quinto capítulo, Teoria Funcionalista nos Estudos da Tradução, descreve a base teórica utilizada no trabalho, que serve para sustentar a análise, as reflexões e as proposições dispostas no sétimo capítulo. Esse quinto capítulo aborda a concepção e a utilização da Teoria Funcionalista em nossa área, aproveitando especialmente das contribuições de Hans Vermeer e Katherine Reiss (1996) e Christiane Nord (2016). Também se aproveita para utilizar a interface estabelecida entre a Teoria Funcionalista dos Estudos da Tradução e a tradução de textos jornalísticos, construída por Meta Elisabeth Zipser (2002).

O sexto capítulo, Jornalismo Autoral, apresenta a definição, a história e as características desse estilo de narrativa jornalística, trazendo elementos de relevante importância para a confecção do framework conceitual proposto no capítulo sete.

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O sétimo capítulo, Construindo o framework conceitual, se encontra organizado da seguinte forma: o tópico 7.1. Definição de framework conceitual, apresenta o que é um framework conceitual e a sua localização e aplicação dentro desta pesquisa. O segundo tópico, 7.2. Público-alvo, discute o desenho de público-alvo estabelecido para a proposta de framework e estabelece, assim, um dos subsídios a serem levados em conta no delineamento dessa classe de projeto tradutório. Logo após tem-se o terceiro tópico, 7.3. Itens Culturais Específicos, momento em que são trazidos os estudos de Javier Franco Aixelá (1996) sobre os Itens Culturais Específicos (Culture-Specific Items), e também onde se discute a importância da bagagem do leitor na compreensão desses elementos, relacionando-os com o conceito de pressuposição levantado no modelo proposto por Nord (2016) e previamente exposto no capítulo cinco. Com base nos itens estabelecidos por Aixelá (1996) chega-se então ao tópico 7.4. Deslocamentos, e seus subtópicos 7.4.1. Deslocamento sócio-histórico (temporal) e 7.4.2. Deslocamento geográfico, espaço em que se levantam as estruturas presentes no texto-traduzido que possuem relação próxima com as categorias de itens culturais específicos que foram estabelecidas para aplicação no escopo deste estudo. Esses conteúdos conduzem por fim, então, ao tópico 7.5. A proposta de framework, onde é dada a direção final do framework conceitual com base nos insumos e nas justificativas que foram apresentados no decorrer da dissertação.

O oitavo capítulo. Considerações Finais, por fim, fornece uma visão geral dos elementos tratados aqui, e apresenta os resultados obtidos a partir da investigação realizada. Busca-se ainda prospectar e enumerar as possibilidades futuras de pesquisa relacionadas à temática abordada nesta pesquisa.

Logo após encontram-se relacionadas as referências bibliográficas utilizadas no decorrer desta pesquisa, a literatura adicional que foi consultada e os apêndices que também compõem a dissertação.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

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2 METODOLOGIA

Antes de se proceder à descrição dos procedimentos metodológicos aplicados neste trabalho é importante que se identifique a localização desta pesquisa dentro do campo científico. Para encaminhar tal delimitação utilizou-se as classificações descritas por Tomitch e Tumolo (2013), que se encontram direcionadas para a estruturação de investigações na área de Letras Estrangeiras.

Ao se levar em conta a especificidade das investigações realizadas em nosso campo de estudo, pode-se definir que a presente dissertação foi construída a partir da pespectiva de uma pesquisa aplicada, ou seja, busca-se que o conhecimento construído a partir deste trabalho dê conta de solucionar um problema concreto já existente (TOMITCH; TUMOLO, 2013, p. 53), sendo que neste caso específico trata-se da tradução de textos de Jornalismo Autoral, utilizando como base o texto “Ganz unten” do jornalista alemão Günter Wallraff. Desenvolve-se também uma pesquisa qualitativa (TOMITCH; TUMOLO, 2013, p. 54), ou seja, cada problema apresentado exigiu certa flexibilidade em seu tratamento e também a organização de métodos distintos para a sua solução. Ela é explicativa (TOMITCH; TUMOLO, 2013, p. 55) pois não somente descreve mas também explica o objeto e os problemas encontrados; e ainda bibliográfica (TOMITCH; TUMOLO, 2013, p. 57), tendo-se em vista que por meio da revisão de literatura realizada foi possível estabelecer os fundamentos teóricos a serem utilizados e ainda definir a metodologia que foi empregada para a análise do texto-fonte, do texto-traduzido e para a elaboração das propostas constantes no framework conceitual.

Definidas as características do estudo, parte-se agora para a descrição dos procedimentos metodológicos que foram aplicados. O início do trabalho se deu com a escolha do tema. Conforme mencionado na introdução, a decisão por trabalhar com esse autor ocorreu por motivações pessoais, principalmente por conta de sua forma de investigação e de sua escrita. Dada a amplitude dos campos de estudo possíveis não seria possível abarcar todos os aspectos concernentes a todas as obras já escritas por ele, por isso foi necessário restringir a pesquisa de forma com que fosse factível o desenvolvimento do trabalho no período de tempo disponível para a realização do mestrado. Sendo assim optou-se por selecionar para a análise o título Cabeça de Turco, primeiramente pelo fato de ser a obra mais conhecida desse jornalista e, também, por este ser um dos três únicos títulos que se encontram atualmente disponíveis em língua portuguesa, o que acabaria se

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mostrando de grande valor ao se levar em consideração que este é um trabalho localizado dentro dos Estudos da Tradução e que possibilitaria construir uma ponte cultural entre a Alemanha e o Brasil. A facilidade de acesso a esse título em outros idiomas também se mostrou versátil, sendo possível trabalhar simultaneamente com a edição espanhola e a britânica para realizar consultas e comparações entre o original e as respectivas traduções.

Após a definição do tema procedeu-se a uma minuciosa revisão sistemática de literatura, utilizando como ferramentas sete bases de dados – nacionais e internacionais – para busca dos mais diversos tipos de trabalhos já publicados relacionados às áreas desta pesquisa (artigos, dissertações, teses e livros, por exemplo). A revisão bibliográfica permitiu ter uma visão ampla sobre os conteúdos previamente pesquisados, auxiliando na definição do referencial teórico, na construção do perfil do autor, na descrição da obra, e no estabelecimento dos métodos a serem empregados para a análise das perguntas que acabaram por ser levantadas. Essa revisão possibilitou também que se encontrassem caminhos para a construção de soluções implementadas no framework.

Feita essa revisão sistemática passou-se ao minucioso cotejo entre o texto-fonte (edição do ano de 1988) e o texto-traduzido (edição de 2004)5, examinando elementos que pudessem suscitar alguma espécie de

“problema” durante a leitura da tradução da obra em língua portuguesa. Após esse cotejo inicial entre o texto em alemão e em português realizou-se o mesmo processo de leitura comparada entre o original em alemão e as traduções em espanhol e em inglês (realizadas individualmente). Nesse instante foi possível desenhar a justificativa, determinar o objetivo geral e os específicos e formular a hipótese condutora do presente trabalho, já apresentados previamente no capítulo introdutório (pp. 22-24) e retomados novamente aqui:

Hipótese:

“A última edição disponível em língua portuguesa, publicada no Brasil, foi disponibilizada a partir de um processo comercial.”

Objetivo Geral:

“Construir um framework conceitual para balizar o processo de tradução de textos de Jornalismo Autoral sob uma perspectiva

5 Os motivos pelos quais foram escolhidas essas edições específicas do texto em

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funcionalista, a partir da tradução de “Ganz unten” já disponível para a língua portuguesa.”

Objetivos Específicos:

“Demonstrar a importância da existência de um projeto de tradução estruturado para a realização do processo tradutório, no qual conste o escopo que irá embasar as tomadas de decisão pelo tradutor do texto: definição do público-alvo, metas, estratégias e demais procedimentos;

Identificar Itens Culturais Específicos presentes na tradução de “Ganz unten” para a língua portuguesa, relacionando-os com o framework conceitual proposto no objetivo geral;

Contribuir para o desenvolvimento de estudos interdisciplinares nessa área, principalmente entre os estudos da tradução, de jornalismo, de literatura e de história, a partir das discussões apresentadas no decorrer da dissertação e das novas possibilidades de pesquisa que podem surgir após este trabalho; e

Elaborar um framework conceitual para o processo de tradução de textos de Jornalismo Autoral.”

Justificativa:

“A realização desta pesquisa se justifica ao passo em que se observa a existência de poucas investigações que abordem a tradução de textos jornalísticos que possuam as características que estão presentes nas obras de Günter Wallraff, tratando de temas contemporâneos diretamente espelhados na realidade e com fortes marcas autorais.”

Após essa definição foi possível estabelecer com clareza os elementos do referencial teórico a serem utilizados, bem como complementar a delimitação do objeto de estudo. Sendo assim optou-se por trabalhar com a Teoria Funcionalista dos Estudos da Tradução, tendo em vista o seu direcionamento quanto à relação entre os textos fonte e meta frente ao público-alvo, e quanto às possibilidades de trabalho suscitadas a partir das especificidades que se originam dos mais diversos tipos textuais. Elenca-se então as contribuições feitas por Hans Vermeer e Katherine Reiss (1996) quanto ao início e construção do funcionalismo em nossa área de estudos, passando para o modelo didático de aplicação da teoria desenvolvido por Christiane Nord (2016) e, dada a relação estabelecida com o campo da comunicação (no tocante ao objeto), as interfaces entre tradução e jornalismo – primeiramente apresentadas no Brasil por Meta Elisabeth Zipser (2002). Mostrou-se

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necessário também que se constasse uma contextualização acerca do histórico e das características pertinentes ao Jornalismo Autoral.

A partir desses elementos teóricos e partindo da premissa de que a tradução é um processo intercultural e direcionado ao seu público-alvo, buscou-se identificar no título Cabeça de Turco (de forma ainda mais atenta) todos os itens que pudessem se apresentar como iniciadores ou portadores de alguma carga cultural e que tivessem a capacidade de gerar algum tipo de problema de compreensão para o leitor do texto. Foi estabelecido que o perfil do público-alvo seria o de um leitor médio brasileiro jovem, na faixa etária entre dezoito e trinta anos (pessoas que nasceram, portanto, a partir da queda do Muro de Berlim) e com interesse pelos assuntos abordados na obra (história, cultura, sociologia, trabalho e imigração, em um panorama geral).

Cinco leituras atentas do livro permitiram que fossem compiladas 249 entradas, repetidas por 1329 vezes ao longo do título, e distribuídas principalmente entre nomes de pessoas; nomes de empresas, de entidades e de organizações; e nomes de lugares. Esses dados foram inseridos inicialmente em três quadros distintos. Ao se identificar essas características e se verificar a possibilidade de agrupá-las em categorias, encontrou-se mais um suporte teórico, o que trata dos chamados itens culturais específicos, levantados por Javier Franco Aixelá (1996). Posteriormente solicitou-se que outra pessoa que estivesse dentro do perfil do público-alvo, mas que não se encontrasse diretamente vinculada à confecção do trabalho (isenta de algum tipo de conhecimento prévio sobre a pesquisa, portanto), realizasse também uma leitura do quadro construído, eliminando assim itens que não necessariamente precisassem de uma explicação mais aprofundada. Houve dessa forma um refino quanto às entradas constantes dos quadros, resultando por fim em dois paineis com um total de 145 itens (1040 repetições), que pode ser observado nos Apêndices B e C deste trabalho.

Após a confecção desse quadro foram analisadas todas as informações inseridas na obra que não constassem diretamente no corpo do texto (paratextos), em uma tentativa de identificar possíveis explicações aos itens elencados no quadro construído que foi mencionado no parágrafo anterior. Buscou-se aqui identificar inserções extratextuais fornecidas tanto pelo autor (em alemão) quanto pelo editor e pelo tradutor da obra para a língua portuguesa. Essas informações também foram enquadradas e, para efeito comparativo, foram colocadas em contraste com os elementos extratextuais presentes nas edições britânica e espanhola, sendo assim possível perceber eventuais

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similaridades e omissões quanto ao tratamento destinado a esses dados. Esse levantamento pode ser observado no Apêndice A.

Vencidas as etapas iniciais passou-se efetivamente para a construção do framework, constante do capítulo sete desta dissertação. Esse capítulo foi iniciado com uma definição do que é um framework conceitual e para quê ele se destinaria. De forma a se fazer essa formatação foi necessário primeiramente estabelecer a composição do público-alvo dentro do qual esse framework seria desenvolvido. Nesse ponto se procedeu a uma aplicação do modelo projetado por Christiane Nord (2016) utilizando os títulos “Ganz unten” e “Cabeça de Turco”, o que permitiu uma clara visualização das diferenças entre o texto-fonte e o texto-meta e trouxe subsídios para que fossem estipuladas as eventuais estratégias a serem descritas. Em seguida, partindo do quadro em que constam os itens culturais específicos extraídos de Cabeça de Turco, tematizou-se a importância de sua contextualização e as possibilidades advindas dessa necessidade. Com isso foi preciso também trazer outro suporte teórico, sendo selecionado para tanto os estudos de Gérard Genette (1997) a respeito dos elementos paratextuais. A partir das discussões apresentadas procedeu-se, por fim, ao desenho do framework conceitual e também à redação das considerações finais acerca da pesquisa, que compõem o capítulo número oito.

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3 AUTOR E OBRA

No presente capítulo será apresentado quem é Günter Wallraff: sua biografia, atuação e produção escrita enquanto profissional. Em seguida busca-se contextualizar a obra “Ganz unten” localizando-a de forma a ser possível a compreensão dos aspectos históricos e sociais envolvidos na publicação da obra na Alemanha. Trata-se nesta seção também da publicação do texto traduzido no Brasil, elencando particularidades da estrutura das edições aqui publicadas.

3.1 GÜNTER WALLRAFF

Nascido em Burscheid, nos arredores de Colônia, em primeiro de outubro de 1942, Hans-Günter Wallraff é um ícone da imprensa alemã. O início de sua produção escrita e de sua vida como jornalista data do começo da década de 60 do século passado, e desde então se dedica a dar voz àqueles que normalmente não possuem espaço para ter sua voz ouvida. Para tanto não hesita em revelar práticas ilegais ou imorais de pessoas ou de instituições renomadas, o que acabou por torná-lo, ao longo dos anos, uma figura que vem continuadamente levantando questões polêmicas e discussões éticas a partir de sua prática investigativa.

Disfarces e pseudônimos fazem parte do rol de “ferramentas” utilizadas para dar vida aos seus distintos personagens, enveredando por lugares em que, muito provavelmente, não seria bem recebido caso as pessoas ao seu redor soubessem que estão se relacionando, em verdade, com um jornalista. O seu modo de descrição é claro, e a partir do que escreve torna possível que o leitor se transporte imediatamente para o cenário e o enredo que estão sendo retratados no texto. O escrever faz parte do agir e do atuar, de assumir os papeis dos personagens que protagonizam seus escritos. Em certa medida seria possível traçar um paralelo entre a sua atuação e uma incursão de Shakespeare disfarçado de cortesão na coroa inglesa para conseguir configurar com maior realismo os dramas sobre os monarcas e sobre aqueles que os cercavam.

Historicamente Günter Wallraff faz parte da geração dos Ruinenkinder6que são as pessoas que, enquanto crianças, viveram parte

da Segunda Guerra Mundial ou sofreram algumas de suas consequências, como a vida em cidades parcial ou completamente destruídas, a co-existência com a pobreza (e eventualmente com a

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fome), a perda de parentes, amigos e pessoas próximas, e, consequentemente, uma desorganização generalizada do cotidiano e o futuro cercado de incertezas.

Nos anos 1950, Wallraff teve os primeiros contatos com o mundo literário escrevendo poemas, espelhando-se em fontes importantes da cultura alemã e em poetas da escola expressionista, dentre eles Wolfgang Borchert7, que pode ser considerado um expressionista-tardio.

É importante mencionar que após terminar os seus estudos de nível médio (Gymnasium), Günter Wallraff concluiu também um curso de nível técnico, habilitando-o a trabalhar como livreiro8. Já na década de

60, mais precisamente em 1963, o jornalista foi convocado para servir nas forças armadas alemãs. Com fortes convicções antibélicas e antiarmamentistas pediu a dispensa de sua incorporação, mas foi forçadamente obrigado a permanecer nos quadros militares. Pouco tempo depois foi encaminhado ao Departamento de Psiquiatria do Hospital Militar de Koblenz, porque havia se negado a manusear os armamentos que eram utilizados pelos soldados.

Após esse episódio foi classificado como alguém com “personalidade anormal”, e “inapto para guerra e paz”9. Mas esse

período de conhecimento militar não foi um tempo perdido, visto que Wallraff foi escrevendo diariamente o que experienciava lá dentro. Pessoas próximas o incentivavam a publicar tudo o que havia registrado, inclusive seu amigo e escritor Heinrich Böll, autor que viria a receber o prêmio Nobel de Literatura no ano de 1972. O apoio de seus colegas para a publicação de tais relatos teve êxito, e em 1970 foi lançado Protokoll aus der Bundeswehr, versão inicial do livro completo que seria disponibilizado ao público apenas em 1992 sob o título Mein

7 Autor do conto “Nachts schlafen die Ratten doch”, um dos mais conhecidos do

período literário alemão conhecido por “Trümmerliteratur”, ou “Literatura dos escombros”.

8 Günter Wallraff seguiu para uma formação de nível técnico, embora tenha

frequentado o Gymnasium e pudesse ter ingressado na Universidade (com ensino gratuito). O sistema educacional alemão é estruturado de forma diferente ao brasileiro, e o tipo de escola de nível secundário (do 7° ao 13° ano de estudos) irá definir para qual tipo de ensino superior o estudante estará apto a frequentar posteriormente. São quatro os tipos de escola secundária: Hauptschule, Realschule, Gesamtschule e Gymnasium.

9 “Ich erfahre auf Umwegen, daß im vorläufigen Entlassungsbericht die

Diagnose auf >>abnorme Persönlichkeit<< gestellt sei: Tauglichkeitsgrad VI, >>verwendungsunfähig auf Dauer<< (für Frieden und Krieg)”. (WALLRAFF, 2008, p. 24).

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Tagebuch aus der Bundeswehr (Diário das Forças Armadas) – obra que ainda não foi traduzida para a língua portuguesa.

Günter Wallraff publicou várias reportagens ligadas à área da indústria, principalmente entre os anos de 1963 e 1965. Seus escritos o fizeram renomado no meio intelectual jornalístico, sendo que ele recebeu um convite para fazer parte do grupo Dortmunder Gruppe 61, Literatur der Arbeitswelt10, ambiente no qual se discutiam elementos ligados à arte e à literatura no âmbito do mundo do trabalho. Sua forte ligação com a causa operária o levou a escrever o livro Wir brauchen dich. Als Arbeiter in deutschen Industriebetrieben11, em que convidava cidadãos alemães para trabalharem nas fábricas do país (esse título também ainda não possui tradução para o português). Seu vínculo com o campo da literatura ficou ainda mais forte ao fazer parte, a partir do ano de 1968, da famosa revista konkret12, que trata de assuntos dos campos

da cultura e da política.

A partir dos anos 1970, durante a Guerra do Vietnã (e logo após o Massacre de Mỹ Lai em 1968) Wallraff começou a se abrir e a trabalhar com temas internacionais. Em 1974 foi para a Grécia fazendo parte de um grupo de solidariedade aos presos políticos do regime militar ditatorial13. Durante o período em que lá esteve atuou ativamente

levando manifestos que davam exposição às mais diversas atrocidades cometidas pelo governo daquele país frente aos seus cidadãos. As forças policiais o levaram à prisão em maio de 1974, tendo sido condenado a cumprir catorze meses na cadeia. Com a queda do regime conseguiu ser libertado antes do período estipulado.

10 “Grupo 61 de Dortmund – Literatura do mundo do trabalho”, em tradução

livre.

11 “Nós precisamos de ti. Como trabalhador em fábricas alemãs”, em tradução

livre.

12 A revista konkret foi criada no ano de 1957 pelo autor e jornalista Klaus

Rainer Röhl. Tinha uma orientação política voltada à esquerda, mas encerrou suas atividades em 1973 após o descontentamento de Röhl com o crescimento de ações de grupos armados de extrema-esquerda em território alemão. Um desses grupos era a Fração do Exército Vermelho (Rote Armee Fraktion), ou grupo Baader Meinhof, da qual Ulrike Meinhof, sua ex-esposa, foi fundadora. Em 1974 o também jornalista Hermann Ludwig Gremliza funda uma revista de mesmo nome buscando continuidade ao espaço para publicações relacionadas à política e à cultura. Essa revista konkret, de 1974, encontra-se ainda hoje em circulação

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No ano de 1976 o jornalista foi para Portugal e se infiltrou no MDLP (o Movimento Democrático de Libertação de Portugal), que era liderado pelo então General do Exército António de Spínola. O General Spínola havia sido o primeiro presidente daquele país após a Revolução dos Cravos14, governando entre maio e setembro do mesmo ano.

Discordando dos rumos tomados após a Revolução, e desejando levar novamente o país para um lado mais conservador, Spínola planejaria voltar ao poder a partir de um coup d’État, derrotando fisicamente os seus inimigos. Wallraff conseguiu contato com o MDLP, indicando que trabalhava junto ao também conservador e conhecido político alemão Franz-Josef Strauss, democrata-cristão da Baviera (sul da Alemanha). O jornalista prometeu que apoiaria o Movimento através do fornecimento de armas, tendo conseguido, inclusive, se encontrar com o próprio General Spínola na cidade alemã de Düsseldorf. Na posse de provas que incriminavam o General ele as entregou para o governo suíço, forçando a fuga deste para o território brasileiro. O relato detalhado desses episódios pode ser lido no livro Aufdeckung einer Verschwörung – die Spínola Aktion, publicado em 1976 e já traduzido para o português15

(disponível em Portugal).

Em 1977 Günter Wallraff experienciou o seu primeiro grande papel dentro da Alemanha como jornalista disfarçado, tratando assim de assuntos internos do país. Utilizando-se do pseudônimo “Hans Esser” ele atuou por quatro meses, sem ser desmascarado, na redação do jornal “Bild”, um tabloide sensacionalista que publicava notícias visando a manipulação da opinião pública por motivos políticos. O seu período de atividade enquanto Hans Esser foi compilado e a reportagem foi publicada no livro Der Aufmacher16. Der Mann der bei BILD Hans Esser war17. Em um dos trechos desse livro Wallraff expõe o nível de credibilidade que poderia ser creditado ao periódico “Bild”:

– Sabe a última piada do Bild? Trata-se de alguém que chega ao céu e então acende uma luz vermelha. Ele pergunta a São Pedro o que

14 Revolução de 25 de abril de 1974 que depôs o regime ditatorial do Estado

Novo português.

15 A descoberta de uma conspiração: a acção Spínola, 1976, Bertrand, traduzido

por R. M. Peixoto.

16“Aufmacher”: termo técnico da área jornalística que indica reportagens

principais, de primeira página (capa), em alemão.

17 Já se encontra disponível em língua portuguesa no Brasil sob o título “Fábrica

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aconteceu e São Pedro explica: “Um homem mentiu”. Em seguida, acende-se uma luz verde e São Pedro esclarece: “Agora foi uma mulher que mentiu”. De repente, toda a terra é inundada por um mar de luzes flamejantes e o céu inteiro cobre-se de fogos de artifício. E então São Pedro diz: “Agora é o jornal Bild que está sendo impresso.18

[WALLRAFF, 1990, p. 165, traduzido por Carmen Fischer].

Nos anos seguintes à publicação, o jornal “Bild” tentou restringir a venda dessa obra na Alemanha e bloquear a divulgação de outros relatos sobre a atuação de Wallraff no tabloide (BRAUN, 2007, p. 37), porém sem êxito.

Tratando diretamente do objeto desta pesquisa, em 1985 Wallraff trouxe ao mundo a sua obra mais conhecida sob o título “Ganz unten”, um relato detalhado que expôs um lado obscuro da sociedade alemã daquela época acusando diretamente figuras importantes da indústria e da classe política de práticas que podem ser consideradas como crimes perversos. Esse trabalho reforçou ainda mais o seu status de persona non grata em muitos círculos sociais, e principalmente no mundo corporativo, e consequentemente levou Wallraff a diminuir a quantidade de trabalhos investigativos realizados desde então (como pode ser visto na relação de títulos exposta abaixo). A publicação do livro gerou também situações curiosas, como na Suécia, país onde o sobrenome do jornalista virou radical para a criação de um verbo na língua sueca chamado “wallraffa”, que quer dizer “usar de disfarces para desmascarar alguém”19.

No ano de 2009 foi publicada outra obra em que Wallraff utilizou de disfarces e assumiu o nome de outras pessoas para expor práticas

18>>Kennt Ihr schon den neuesten BILD-Witz?<<. >>Kommt jemand in den

Himmel, und auf der Erde leuchtet ein rotes Licht auf. Fragt er Petrus, und der erklärt: >Da hat eben ein Mann gelogen.< Kurz darauf leuchtet ein grünes Licht auf, und Petrus erklärt ihm: >Jetzt hat eine Frau gelogen.< Plötzlich ist die Erde in ein riesiges, flimmerndes helles Lichtermeer getaucht, der ganze Himmel wie mit einem Feuerwerk überzogen. Sagt Petrus: >Auf der Erde wird eben die BILD-Zeitung angedruckt.<<(WALLRAFF, 2012, pp. 200-201).

19 Dicionário da Svenska Akademien (Academia Sueca): “wallraffa [val’rafa]

verb ~de ~t – bedriva undersökande journalistik under falsk identitet”, “arbeta under falsk identitet I journalistic syfte”. Fonte: https://svenska.se/tre/?sok=wallraffa&pz=2. Último acesso em 04 jun. 2018.

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questionáveis nos âmbitos social, cultural e trabalhista. Em Aus der schönen neuen Welt: Expeditionen ins Landesinnere trabalhou em uma empresa de telemarketing, foi entregador de cartas e objetos, imigrante oriundo de país do continente africano, dentre outros papéis, reeditando o seu trabalho como jornalista disfarçado ao tratar de temas atuais do século XXI.

Após relatar alguns de seus trabalhos mais relevantes, é importante também mencionar, por fim, o conjunto de sua produção bibliográfica. Durante toda sua carreira escreveu mais de trinta livros, sendo alguns destes20:

1.

Wir brauchen dich. Als Arbeiter in deutschen Industriebetrieben. 1966, Rütten und Loenig. [sobre operariado]

2.

Vorläufiger Lebenslauf nach Akten und Selbstaussagen des Stefan B. 1968, Peter-Paul Zahl Berlin. [sobre movimento estudantil]

3.

Meskalin – Ein Selbstversuch. Mit Original-Offsetlithographien von Jens Jensen. 1968, Peter-Paul Zahl, Berlin. [sobre identidade e autoconhecimento]

4.

Nachspiele, Szenische Dokumentation. 1968, Edition Voltaire, Frankfurt/Main. [sobre literatura, teatro, a respeito do artigo 1° da Constituição alemã]

5.

13 unerwünschte Reportagen. 1969, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [crítica social]

6.

Taschenbuch: Industriereportagen. Als Arbeiter in Großbetrieben. 1970, Rowohlt, Reinbek. (re-edição da publicação de 1966). [sobre operariado]

7.

Von einem, der auszog und das Fürchten lernte. Bericht, Umfrage, Aktion. Aus der unterschlagenen Wirklichkeit. 1970, Weismann, München. [crítica social]

8.

Neue Reportagen, Untersuchungen und Lehrbeispiele. 1972, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [crítica social]

9.

Ihr da oben, wir da unten. Zusammen mit Bernt Engelmann. 1973, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [crítica social]

20 Os títulos foram mantidos no idioma original, sendo indicadas entre

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10.

Was wollt ihr denn, ihr lebt ja noch. Chronik einer Industrieansiedlung. Zusammen mit Jens Hagen. 1973, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [sobre operariado, crítica social]

11.

Psychiatrie – Die gequälte Seele. 1975, Rowohlt, Reinbek. [sobre psiquiatria]

12.

Wie hätten wir’s denn gerne? Unternehmenstrategen proben den Klassenkampf. Zusammen mit Bernd Kuhlmann. 1975, Peter Hammer, Wuppertal. [sobre operariado, crítica social]

13.

Unser Faschismus nebenan. Griechenland gestern – ein Lehrstück für morgen. Zusammen mit Eckart Spoo. 1975, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [sobre a Grécia, crítica social]

14.

Die Reportagen. 1976, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [crítica social]

15.

Aufdeckung einer Verschwörung. Die Spínola-Aktion. Zusammen mit Hella Schlumberger. 1976, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [sobre Portugal, crítica social]

16.

Berichte zur Gesinnungslage der Nation/Berichte zur Gesinnungslage der Staatsschutzes. Zusammen mit Heinrich Böll. 1977, Rowohlt, Reinbek. [sobre a situação nacional e sobre a segurança de Estado]

17.

Der Aufmacher. Der Mann der bei “bild” Hans Esser war. 1977, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [sobre o Jornal Bild, crítica social]

18.

Zeugen der Anklage. Die “Bild”-beschreibung wird fortgesetzt. 1979, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [sobre o Jornal Bild, crítica social]

19.

Das “Bild”-Handbuch. Das Bild-Handbuch bis zum Bildausfall. 1981, Konkret-Literatura Verlag, Hamburg. [sobre o Jornal Bild, crítica social]

20.

Die unheimliche Republik. Politische Verfolgung in der Bundesrepublik. Zusammen mit Heinrich Hannover. 1982, VSA-Verlag, Hamburg. [sobre perseguição política na República Federal da Alemanha]

21.

Nicaragua von innen. (Mit Beitragen weiterer Autoren). 1983, Konkret-Literatur Verlag, Hamburg. [sobre sua

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estadia na Nicarágua após a queda do regime ditatorial de Somoza]

22.

Mein Lesebuch. 1984, Fischer Taschenbuch Verlag, Frankfurt/Main. [sobre suas referências e modelos para o jornalismo, a literatura e a política]

23.

Bericht vom Mittelpunkt der Welt. Die Reportagen (Band enthält “13 unerwünschte Reportagen” und unveröffentlichte Arbeiten aus den Jahren 1967-77). 1984, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [crítica social, compilado de reportagens]

24.

Befehlsverweigerungen. Die Bundeswehr- und Betriebsreportagen. (Band enthält: “Von einem der auszog und das Fürchten lernte” und “Neue Reportagen, Untersuchungen und Lehrbeispiele”). 1984, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [crítica social, sobre operariado, compilado de textos]

25.

Enthüllungen. Recherchen, Reportagen und Reden vor Gericht. Mit einem Nachwort von Oskar Negt. 1985, Zweitauseneins, Frankfurt/Main. [sobre reportagens, denúncias]

26.

Ganz unten.1985, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [Cabeça de Turco]

27.

Günter Wallraffs BILDerbuch. Nachwort von Heinrich Böll. 1985, Steidl-Verlag, Göttingen. [sobre o Jornal Bild, crítica social]

28.

Predigt von unten. 1986, Steidl-Verlag, Göttingen. [crítica social]

29.

Reportagen 1963-1974. Mit Materialien und einem Nachwort des Autors. 1987, Kiepenheuer& Witsch, Köln. [crítica social, reportagens]

30.

Vom Ende der Eiszeit und wie man Feuer macht. Aufsätze, Kritiken, Reden. Mit einem Vorwort von Prof. Dr. Hans Mayer. 1987, Kiepenheuer& Witsch, Köln. [sobre a Guerra Fria, crítica social]

31.

Akteneinsicht. 1987, Steidl-Verlag, Göttingen. [sobre a (não)-existente relação de Wallraff com o Serviço Federal de Inteligência da Alemanha]

32.

Und macht euch die Erde untertan. 1987, Steidl-Verlag, Göttingen. [crítica social, meio-ambiente]

(39)

33.

Wallraff war da. Ein Lesebuch von Günter Wallraff. 1987, Steidl-Verlag, Göttingen. [crítica social, sobre reportagens]

34.

Mein Tagebuch aus der Bundeswehr. 1992, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [crítica social, Diário das Forças Armadas]

35.

Ich- der andere. Reportagen aus vier Jahrzehnten. 2002, Kiepenheuer& Witsch, Köln. [crítica social, reportagens]

36.

Aus der schönen neuen Welt. Reportagen aus einem reichen, armen Land. 2009, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [crítica social, sobre operariado, reportagens]

37.

Die Lastenträger. Arbeit im freien Fall – flexibel schuften ohne Perspektive. 2014, Kiepenheuer & Witsch, Köln. [sobre operariado, crítica social]

Hoje Günter Wallraff é responsável por um programa de televisão no canal privado RTL chamado Team Wallraff, que mostra o cotidiano de jovens profissionais jornalistas no desenvolvimento de pautas investigativas.

3.2 “GANZ UNTEN”, “CABEÇA DE TURCO”

Este subcapítulo encontra-se dividido em três tópicos. O primeiro tópico (3.2.1) aborda o contexto em que a Alemanha se encontrava quando da publicação do título por Günter Wallraff no ano de 1985. O segundo tópico (3.2.2) apresenta a estrutura da tradução já publicada no Brasil, sendo a primeira edição lançada em 1988 e a última em 2004. O terceiro tópico (3.2.3) constrói uma ponte entre as informações descritas sobre o objeto deste subcapítulo e as contribuições teóricas que foram apresentadas nas seções que sucedem este trecho.

3.2.1 “Ganz unten”: Contexto histórico e social na Alemanha

“Ganz unten” foi publicado no dia 21 de outubro de 1985, em uma conjuntura social, política e econômica muito diferente da que se tem nos dias de hoje. A Alemanha como existe agora era talvez inimaginável, dada a sua divisão21 em duas nações conduzidas por

21 Após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, ocorreu a Conferência

de Potsdam, na qual os países que terminaram como vencedores (os Aliados União Soviética, Reino Unido e Estados Unidos) definiram como se daria a administração da Alemanha depois de sua rendição. Dentre outros, um dos

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distintos regimes econômicos e de governo após o término da Segunda Guerra Mundial: a República Federal da Alemanha (RFA), ocidental – capitalista, e a República Democrática Alemã (RDA), oriental – socialista. Tal divisão perdurou até a reunificação dos países, que foi acontecer de maneira oficial somente em 3 de outubro de 1990 – quase um ano após o início da derrubada do Muro de Berlim (em 9 de novembro de 1989).

Registrando déficit na quantidade de trabalhadores que era necessária para reerguer um país que havia sido devastado durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Ocidental se viu forçada a “importar” mão-de-obra (BERTELSMANN, 2017, p.17), notadamente para serviços que não exigiam muita instrução formal e especialização, como para os trabalhos ligados aos serviços de limpeza, às atividades de construção civil, ou ainda para a manutenção de usinas nucleares (o que exigia que pessoas ficassem expostas de forma direta a compostos radioativos). Os primeiros estrangeiros que chegaram para trabalhar na Alemanha, nesse contexto, começaram a desembarcar no país ainda na década de 1950, vindos com respaldo de acordos bilaterais assinados entre o governo alemão e outras nações, dentro de um projeto chamado Gastarbeiterprogramm (BERTELSMANN, 2017, p. 17), ou “Programa de Trabalhadores Convidados”, em tradução livre. Alguns dos países com os quais a Alemanha Ocidental firmou acordos foram: a Itália (em 1955), a Espanha e a Grécia (em 1960), a Turquia (em 1961), o Marrocos e a Coreia do Sul (em 1963), Portugal (em 1964), a Tunísia (em 1965), além da hoje extinta Iugoslávia (em 1968).

Apesar dos acordos que haviam sido previamente estabelecidos, os direitos mínimos dos Gastarbeiter (forma com que esses trabalhadores convidados eram conhecidos) eram continuamente

resultados dessa Conferência foi o Acordo de Potsdam, que estabeleceu a divisão do país em zonas de ocupação entre a União Soviética, o Reino Unido, os Estados Unidos e ainda a França. Em 1949 o território ocupado pelos soviéticos deu origem à República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) orientada por um regime econômico e político socialista, e o território ocupado pelos norte-americanos, britânicos e franceses tornou-se a República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental), com direcionamento capitalista. Berlim também foi dividida em zonas de ocupação comandadas por aqueles países, e a parte soviética tornou-se a capital da Alemanha Oriental. Em 1961 foi iniciada a construção do Muro de Berlim, que estabeleceu uma fronteira física entre os dois lados da cidade e perdurou até o ano de 1989. Durante o período em que a Alemanha se encontrava dividida a capital da Alemanha Ocidental foi a cidade de Bonn.

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desrespeitados (WALLRAFF, 1988a). Esses estrangeiros acabavam por viver em guetos e não possuíam quase nenhum tipo de apoio institucional do governo alemão-ocidental para permanecerem no país. A sociedade alemã acabou por também não os inserirem no seu convívio, deixando-os de lado sem incentivar qualquer tipo de integração (BOYLE; HALFACREE; ROBINSON, 2013, p. 227) – o que afetava não somente os adultos que vinham trabalhar, mas, por conseguinte, os filhos pequenos desses imigrantes que se encontravam em idade de frequentar o sistema de educação básica. O governo do país esperava que os Gastarbeiter fossem voltar aos seus países após o término dos contratos (como a própria nomenclatura Gastarbeiter já sugeria), ou seja, assim que a Alemanha Ocidental estivesse reconstruída, mas essa expectativa acabou não se concretizando. Grande parte dessas famílias, já havia fixado residência na Alemanha, sendo que muitas pessoas abandonaram tudo o que possuíam em seus locais de origem e, após muita dificuldade (BOYLE; HALFACREE; ROBINSON, 2013, p. 227), trouxeram o seu núcleo familiar completo para o novo país.

Na citação a seguir está reproduzido um trecho de “Ganz unten” em que Wallraff introduz ao leitor qual era a condição que os estrangeiros vinham enfrentando na sociedade alemã naquele momento:

Através de relatos de amigos e de várias publicações eu já podia fazer uma idéia da vida dos estrangeiros na República Federal da Alemanha. Sabia que mais da metade dos imigrantes jovens sofre de doenças psíquicas. Não conseguem mais digerir os inúmeros desaforos. Praticamente não têm chances no mercado de trabalho. Para eles, que aqui cresceram, não há possibilidade de regresso a seus países de origem. São apátridas.22,23 (WALLRAFF, 2004, p. 19,

tradução de Nicolino Simone Neto).

22 Original, em alemão: “Aus Erzählungen von Freunden, aus vielen

Veröffentlichungen konnte ich mir ein Bild machen vom Leben der Ausländer in der Bundesrepublik. Ich wußte, daß fast die Hälfte der ausländischen Jugendlichen psychisch erkrankt ist. Sie können die zahllosen Zumutungen nicht mehr verdauen. Sie haben kaum eine Chance auf dem Arbeitsmarkt. Es gibt für sie, hier aufgewachsen, kein wirkliches Zurück in ihr Herkunftsland. Sie sind heimatlos”. (WALLRAFF, 1988a, p. 11).

Referências

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