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Um olhar nas concepções da comunidade escolar acerca do projeto político pedagógico e sua implementação em uma escola de educação básica

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Academic year: 2021

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(1)1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA ESPECIALIZAÇÃO LATO-SENSU EM GESTÃO EDUCACIONAL. UM OLHAR NAS CONCEPÇÕES DA COMUNIDADE ESCOLAR ACERCA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E SUA IMPLEMENTAÇÃO EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO. Samuel Robaert. Três Passos, RS, Brasil 2012.

(2) 2. UM OLHAR NAS CONCEPÇÕES DA COMUNIDADE ESCOLAR ACERCA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E SUA IMPLEMENTAÇÃO EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Samuel Robaert. Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação a Distância Especialização Lato-Sensu em Gestão Educacional, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Gestão Educacional.. Orientadora: Profª. Dr. Marilene Gabriel Dalla Corte. Três Passos, RS, Brasil 2012.

(3) 3. Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Curso de Pós-Graduação a Distância Especialização Lato-Sensu em Gestão Educacional. A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia de Especialização. UM OLHAR NAS CONCEPÇÕES DA COMUNIDADE ESCOLAR ACERCA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E SUA IMPLEMENTAÇÃO EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. elaborada por Samuel Robaert como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Gestão Educacional COMISSÃO EXAMINADORA: Marilene Gabriel Dalla Corte, Dr. UFSM. (Presidente/Orientadora). Celso Ilgo Henz, Dr. UFSM..

(4) 4. Hugo Antonio Fontana, Dr. UFSM.. Três Passos, 08 de novembro de 2012. RESUMO Monografia de Especialização Curso De Pós-Graduação A Distância Especialização Lato-Sensu Em Gestão Educacional Universidade Federal de Santa Maria UM OLHAR NAS CONCEPÇÕES DA COMUNIDADE ESCOLAR ACERCA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E SUA IMPLEMENTAÇÃO EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA AUTOR: SAMUEL ROBAERT ORIENTADORA: MARILENE GABRIEL DALLA CORTE Data e Local de defesa: Três Passos, 08 de novembro de 2012 Este trabalho propõe compreender a visão dos gestores, professores e demais integrantes da comunidade escolar acerca do Projeto Político Pedagógico, no sentido de verificar como interfere nas decisões tomadas na Escola e na concretização de ações que visem à implementação das ideias e pressupostos contidos no Projeto Político Pedagógico. Os compromissos da Escola com as políticas públicas para a educação pressupõem um amplo comprometimento do gestor e dos professores da Instituição pelas melhorias nos índices educacionais e a implementação de ações que possam levar aos alunos educação de qualidade. Passados vários anos da proposição deste novo formato na organização da educação brasileira, sob o viés da democratização da escola pública, permanecem muitos equívocos e dúvidas quanto à elaboração e a implementação do Projeto Político Pedagógico. Com esta pesquisa constatou-se que, no dia a dia da Escola o foco das preocupações dos gestores acaba sendo resolver situações conforme vão surgindo; já para os professores a preocupação é essencialmente cumprir a carga horária e desenvolver o conteúdo; os alunos se preocupam com avaliações e em passar de ano; pais não se preocupam necessariamente com o que e como os filhos estão aprendendo, mas que os filhos aprovem no final do ano. Assim, o Projeto Político Pedagógico acaba sendo um documento necessário e determinado pela legislação, mas não necessariamente um documento norteador dos pressupostos e ações educacionais na escola, faltando, efetivamente, o espaço de compartilhamento, de reflexão, de revisão das posições, de planejamento e de [co]responsabilidade de ações coletivas a curto, médio e longo prazo. E é isto mesmo que o Projeto Político Pedagógico, justamente, propõe à organização da.

(5) 5. Escola: estabelecer preceitos e prioridades, definir estratégias e ações coletivas que estejam voltadas para a função da escola, no sentido de promover práticas educativas significativas à qualidade de vida em sociedade. Palavras-chave: Gestão Escolar. Projeto Político Pedagógico. Comunidade Escolar.. LISTA DE TABELAS. Tabela 1 - PROPOSTAS DE AÇÃO ……………………………………………………22 Tabela 2 - INDICADORES DAS PRIORIDADES DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA …………………………………………………………….24.

(6) 6. LISTA DE ANEXOS ANEXO A – Questionário semiestruturado para os gestores ...................................84 ANEXO B – Questionário semiestruturado para os professores ..............................85 ANEXO C – Questionário semiestruturado para os pais ..........................................87.

(7) 7. SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO …………….……………………….………..…………………………... 7 2 REFERENCIAL TEÓRICO ….………………………………….………..…….....…....10 2.1 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: CONCEITOS INTRODUTÓRIO ........…10 2.2 A PARTICIPAÇÃO COMO PRINCÍPIO BÁSICO NA CONSTRUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA …….......................……….28 3 METODOLOGIA DE PESQUISA …….……………………………….…………….…49 4 RESULTADOS E ANÁLISES SOBRE AS CONCEPÇÕES E AÇÕES DA COMUNIDADE ESCOLAR ACERCA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ..55 CONSIDERAÇÕES FINAIS …………....………………………….…………………..…78 REFERÊNCIAS …………………………....………….………………………………...…81 ANEXOS …………………………………….....………………………………………..…84.

(8) 8. 1 INTRODUÇÃO Os compromissos da Escola com as políticas públicas para a educação pressupõem um amplo comprometimento do gestor e dos professores da Instituição pelas melhorias nos índices educacionais e a implementação de ações que possam levar aos alunos educação de qualidade. A Lei 9.394/96 regulamenta a gestão democrática e determina a necessidade de que todas as escolas construam o seu Projeto Político Pedagógico. No artigo 12, inciso I, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação prevê o compromisso da instituição escolar na elaboração e execução da sua proposta pedagógica; no inciso VII destaca o dever desta em informar aos pais sobre a execução de sua proposta pedagógica; no artigo 14 pressupõe a participação dos profissionais da educação na elaboração do Projeto Político Pedagógico da Escola. Contudo, passados vários anos da proposição deste novo formato na organização da educação brasileira, sob o viés da democratização da escola pública, permanecem muitos equívocos e dúvidas quanto à elaboração e a implementação do Projeto Político Pedagógico, um documento tão importante para a Escola. Muitos se pautaram, quando da elaboração do documento, em uma “deformação idealista, que valorizava apenas as ideias, os postulados filosóficos das ideias, as boas intenções, mas não se comprometiam com a efetiva alteração da realidade” (VASCONCELLOS, 1999, p. 60). O foco das preocupações dos gestores das escolas, nesta perspectiva, acabou sendo o de resolver as situações e as dificuldades conforme fossem surgindo, ou seja, a grande preocupação é manter a escola funcionando; já para os professores a preocupação é essencialmente cumprir a carga horária e “desenvolver todo o conteúdo”; os alunos se preocupam com avaliações e em “passar de ano”; pais não se preocupam necessariamente com o.

(9) 9. que e como os filhos estão aprendendo, mas que os filhos “aprovem no final do ano”. Assim, o Projeto Político Pedagógico acaba sendo um documento necessário e determinado pela legislação, mas esquecido devido à rotina escolar e a necessidade de se resolver no que é urgente e individual, faltando o espaço do compartilhamento, da reflexão, da revisão de posições, do planejamento e da coresponsabilidade de ações coletivas a curto, médio e longo prazo. E é isto mesmo que o Projeto Político Pedagógico, justamente, propõe à organização da escola: estabelecer prioridades, definir estratégias e ações coletivas que estejam voltadas para a função social da escola, resolver problemas e, portanto transformar a prática da escola e a sua realidade. Nesta perspectiva, Libâneo (2008, p. 266) complementa: [...] o Projeto Político Pedagógico deve dar respostas consistentes a esta pergunta: quais objetivos devem ser formulados e quais ações concretas devem ser empreendidas para que a escola melhore o seu funcionamento, no sentido de propiciar aprendizagens mais eficazes, sólidas e duradouras dos alunos?. Entre as muitas características constitutivas de um Projeto Político Pedagógico, também, cabe salientar a participação de todos os segmentos que compõem a comunidade escolar (pais, alunos, professores, funcionários) na sua construção. A participação na construção e consecução do PPP é o que confere legitimidade ao mesmo, conforme afirma Veiga (2003, p. 277): “A legitimidade de um Projeto Político Pedagógico está estreitamente ligada ao grau e ao tipo de participação de todos os envolvidos com o processo educativo, o que requer continuidade de ações”. Certamente que a visão dos gestores, professores e demais integrantes da comunidade escolar sobre este documento interfere nas decisões que se tomam na Escola e na concretização de ações que visem à implementação das idéias e pressupostos contidos no Projeto Político Pedagógico. Para tanto, esta pesquisa está ancorada nas seguintes problemáticas: Quais as concepções construídas por gestores e demais integrantes da comunidade, de uma escola de educação básica, sobre a construção e consecução do Projeto Político Pedagógico (PPP)? Quais as relações existentes entre as concepções acerca do PPP da escola e as ações compartilhadas para a melhoria na qualidade de ensino nesta instituição? A proposição com esta pesquisa é estabelecer.

(10) 10. possíveis relações entre as concepções existentes, o processo de construção do PPP, a elaboração do documento e a sua efetiva implementação. Assim sendo, nesta pesquisa objetivou-se, de maneira geral, reconhecer e analisar a relação existente entre as concepções e ações dos gestores, professores e demais membros da comunidade escolar quanto ao processo de construção e consecução do Projeto Político Pedagógico de uma escola pública de Três Passos – RS. Por objetivos específicos priorizou-se: verificar a compreensão e a relevância que os gestores, professores e demais membros da comunidade escolar atribuem ao Projeto Político Pedagógico da sua escola; reconhecer as concepções teóricas dos gestores e professores acerca do Projeto Político Pedagógico e suas implicações para a qualidade da escola básica; identificar se há ou não participação dos membros da comunidade escolar na construção e consecução do Projeto Político Pedagógico da escola e no que isso repercute; compreender a historicidade relacionada aos processos de construção do Projeto Político Pedagógico nesta escola de educação básica. Com a finalidade de realizar um estudo de cunho teórico-prático e, portanto, relacional entre a empiria da Escola alvo e as teorias na área da gestão educacional, buscou-se como referência autores que abordam aspectos fundamentais ao processo de construção do Projeto Político Pedagógico, entre eles Vasconcelos (1999), Veiga (2003), Libâneo (2001; 2008), Luck (2006), Padilha (2002), Medel (2008). Também, cabe registrar que foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, junto aos gestores, professores e demais membros da comunidade de uma Escola pública de Três Passos – RS. Este trabalho de pesquisa é composto de um referencial teórico, subdividido em duas partes: a primeira consiste em uma revisão teórica dos conceitos relativos à construção e implementação compartilhada do Projeto Político Pedagógico e a segunda parte, uma defesa da participação como princípio básico na construção e consolidação de uma escola democrática, onde procura-se apresentar os benefícios da prática da construção e implementação compartilhada do Projeto Político Pedagógico. A seguir, é desenvolvida a descrição da metodologia adotada, seguindo dos resultados e das análises sobre as concepções e ações da comunidade escolar acerca do seu Projeto Político Pedagógico. E, por fim, as conclusões finais deste trabalho de pesquisa..

(11) 11. 2 REFERENCIAL TEÓRICO. 2.1. PROJETO. POLÍTICO. PEDAGÓGICO:. CONCEITOS. INTRODUTÓRIOS Há polêmica em torno da terminologia adequada para intitular o Projeto Pedagógico de uma instituição educacional. É Projeto Pedagógico, Projeto Político Pedagógico, é Proposta Pedagógica? Qual a terminologia correta? Qual concepção permeia tal terminologia? A Lei 9.394/96, em seu artigo 12, define como Proposta Pedagógica e dá a incumbência da sua elaboração às Instituições de Ensino. Entretanto, a atual Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010 promulga a terminologia Projeto Político Pedagógico com ênfase ao aspecto central da educação relacionado à formação de cidadãos constituídos em uma escola democrática para todos e de qualidade social. Para Veiga (2011) todo o projeto pedagógico é político, pois se articula com o compromisso sociopolítico, com interesses reais e coletivos da população escolar. Ele tem um compromisso com a formação do ser humano para a sociedade. Segundo Saviani (apud VEIGA, 2011, p. 13) “[...] a dimensão política se cumpre na medida em que se realiza enquanto prática especificamente pedagógica”. Ainda, em Veiga (2011), o projeto é pedagógico, pois é responsável pela formação do cidadão, onde a escola é responsável por definir ações educativas cumprindo seus propósitos de ter um cidadão responsável, crítico, criativo e compromissado. Vasconcelos (1999), também, prefere utilizar a nomenclatura Projeto Político Pedagógico frente à Proposta Pedagógica, pois entende que esta terminologia representa de forma completa as “[...] dimensões mais específicas da escola.

(12) 12. (comunitárias e administrativas, além da pedagógica), até as mais gerais (políticas, culturais, econômicas, etc)” (VASCONCELOS, 1999, p. 169). Libâneo (2008) questiona a nomenclatura mais adequada ao se referir a este documento central para a atividade pedagógica da escola: Como se denomina este projeto? Projeto educativo, projeto pedagógico, projeto político-pedagógico, projeto pedagógico-curricular, plano de escola? Não há uma denominação que tenha unanimidade entre os educadores. A rigor, o que importa é o processo de ação – reflexão – ação que se instaura na escola, envolvendo todos os seus integrantes. (p.161, grifo nosso). Para que um Projeto Político Pedagógico, definido assim por Veiga (2011) e pela Resolução CNE/CEB nº 4/2010, seja de qualidade, esse termo deve ser utilizado por completo, pois vivencia uma democracia, participação ativa de todos com permanente reflexão e discussão dos problemas da escola. Os termos “político” e “pedagógico” são, portanto, indissociáveis, pois propiciam a experiência democrática necessária à participação de todos os membros da comunidade escolar. Mas o que vem a ser o Projeto Político Pedagógico? No que se constitui? O Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola retrata sua realidade. Será um trabalho de construção e reconstrução que exige a participação de todos: equipe administrativa: diretor geral, diretor adjunto, secretário, auxiliares de secretaria, agente administrativo; equipe técnico-pedagógica: coordenador pedagógico, orientador pedagógico, orientador educacional; funcionários: serventes, merendeiras, inspetores de alunos; alunos, responsáveis pelos alunos e membros da comunidade local. (MEDEL, 2008, p. 1). O PPP, nesta concepção, está relacionado a realidade de uma escola democrática e cidadã, o que pressupõe a participação de todos na elaboração do documento que retrata esta escola, mas que, também, destaca os desafios a serem enfrentados no futuro e nas ações que serão efetivadas quando do enfrentamento desses desafios. Portanto, construir e implementar participativamente trata-se de um dos pilares de sustentabilidade da gestão democrática nas escolas públicas. Segundo Ferreira (2004, p. 1241): “Gestão significa tomada de decisões, organização, direção. Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização a atingir seus objetivos, cumprir suas responsabilidades”. Ainda, Cury (2002, apud FERREIRA, 2004, p. 1242) destaca que “[...] a gestão implica o diálogo como forma superior de encontro das pessoas e solução dos conflitos”. Lück (2011, p. 21),.

(13) 13. também, destaca a intrínseca relação entre o emergente modelo de gestão e a participação nos processos de tomada de decisão: Uma forma de conceituar gestão é vê-la como um processo de mobilização da competência e da energia de pessoas coletivamente organizadas para que, por sua participação ativa e competente, promovam a realização, o mais plenamente possível, dos objetivos de sua unidade de trabalho, no caso, os objetivos educacionais. O entendimento do conceito de gestão […] já pressupõe, em si, a ideia de participação, isto é, do trabalho associado e cooperativo de pessoas na análise de situações, na tomada de decisão sobre seu encaminhamento e na ação sobre elas, em conjunto, a partir de objetivos organizacionais entendidos e abraçados por todos.. Assim, o sucesso de uma instituição está significativamente relacionado à mobilização de todos, de maneira conjunta, o que dá as pessoas oportunidade de sentirem-se responsáveis pelos resultados do trabalho coletivo da escola. O Projeto Político Pedagógico, nesta perspectiva, constitui-se importante mecanismo de participação e compartilhamento de decisões e ações colegiadas, devido a seu poder articulador e organizador, por meio do engajamento de todos em busca de atingir os pressupostos teórico-metodológicos do ensino e aprendizagem, assim como soluções para os diferentes problemas da escola, fazendo com que todos tenham um sentimento de pertença ao grupo, estabelecendo-se uma “coerência comum” (VEIGA, 2003). O PPP da escola, para além de ser um mero documento, se constitui num mecanismo de democratização, justamente, porque torna possível relacionar e projetar a escola ideal com a escola real, tendo por base a inter-relação entre o presente e o futuro através da participação e responsabilização de todos. No entanto, como marco regulatório ou pressuposto legal, o Projeto Político Pedagógico corre o risco de ser burocratizado, transformando-se em um documento pronto e acabado, já que “[…] a inovação de cunho regulatório ou técnico nega a diversidade de interesses e de atores que estão presentes” (VEIGA, 2003, p. 271). Nesta perspectiva, cabe a compreensão do que significa “projetar” e, também, dar consecução às ações pensadas e planejadas. Projetar significa lançar-se para frente. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado ante determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, compreendendo seus atores e autores. (GADOTTI, 1994, apud VEIGA 2011, p. 12).

(14) 14. Vasconcellos (1999), também, discute o significado e a importância do planejamento para a escola, quando coloca que “[...] planejar é antecipar mentalmente uma ação a ser realizada e agir de acordo com o previsto; é buscar algo incrível […] o real ser comandado pelo ideal’ (p. 35)”. Para este autor, planejar remete a querer mudar algo e acreditar na possibilidade de mudança da realidade. O fator decisivo para a significação do planejamento é a percepção por parte do sujeito da necessidade de mudança. É claro que se tudo vai bem, nada há para se modificar na escola […] O ponto de partida é uma pergunta básica: há algo em nossa prática que precisa ser modificado, transformado, aperfeiçoado? Se não há, não se precisa de projeto. A ausência de falta, a inapetência (física e/ou intelectual), a ausência de desejo é sinal de estagnação, e, portanto, de morte. (VASCONCELLOS, 1999, p.36, grifos do autor). Para Libâneo (2008), também, o ato do planejamento consiste na antecipação da prática, de forma a fazer previsões e programar ações, sendo essencial para os processos de tomada de decisões. Desta forma, o planejamento da escola se traduz em planos e projetos que são fundamentais, na perspectiva do autor, para que a gestão da escola não ocorra “ao sabor das circunstâncias” (p. 149), ou seja, de improviso, sem avaliação dos resultados. Mas o que deve ser planejado na escola? Segundo Libâneo (2008, p. 149) A ação de planejar subordina-se à natureza da atividade realizada. No planejamento escolar, o que se planeja são as atividades de ensino e aprendizagem, fortemente determinadas por uma intencionalidade educativa envolvendo objetivos, valores, atitudes, conteúdos, modos de agir dos educadores que atuam na escola.. Para isso, faz-se necessário o conhecimento da realidade, a reflexão sobre a mesma e a determinação coletiva de coordenadas a serem seguidas por todos para que se atenda às necessidades sociais e individuais dos alunos. A necessidade do planejamento conjunto surge quando os diversos atores envolvidos na educação sentem a necessidade de melhorar a qualidade do ensino, no sentido de mudança da realidade existente para a realidade desejada. Assim, de acordo com Veiga (1998, apud BAFFI, 2002, p. 1). […] o projeto político pedagógico não é um conjunto de planos e projetos de professores, nem somente um documento que trata das diretrizes pedagógicas da instituição educativa, mas um produto específico que reflete a realidade da escola, situada em um contexto mais amplo que a influencia e que pode ser por ela influenciado..

(15) 15. O PPP precisa refletir a realidade concreta da escola, considerando os vários aspectos que a determinam e não uma realidade mascarada, pois se pretende que a comunidade, ao refletir sobre sua realidade, possa trabalhar coletivamente e traçar estratégias para avançar na busca de uma educação de qualidade para todos. Lück (2011, p. 53) aborda os objetivos da proposição do Projeto Político Pedagógico, tendo em vista a promoção da participação como condição para se atingir a qualidade de ensino, os quais são: a) Garantir significado social às ações e práticas pedagógicas, no contexto escolar. b) Elevar os padrões de qualidade da organização escolar e dos resultados de seu trabalho educacional. c) Envolver a família e a comunidade no processo político-pedagógico escolar. d) Promover o sentido de corresponsabilidade e compromisso coletivo dos participantes da escola por suas ações. e) Estabelecer maior integração entre currículo escolar/aprendizagem dos alunos e a realidade. f) Criar ambiente formador de cidadania e aprendizagem de habilidades participativas.. A proposição do Projeto Político Pedagógico e sua consecução compartilhada objetivam, primeiramente, proporcionar a experiência democrática nas escolas, de maneira que o exercício de [re]construção da cidadania possa ser apreendido pelas pessoas e que, no uso dessa cidadania, possam contribuir para o amadurecimento da sociedade, superando antigas práticas não democráticas tão bem articuladas e enraizadas historicamente. No uso dessa cidadania, ao participar da construção do Projeto Político Pedagógico. da. Escola,. a. comunidade. desenvolve. um. sentimento. de. [co]responsabilidade pela consecução do mesmo, ou seja, todos passam a sentir-se parte efetiva e importante para que a escola atinja seus objetivos educacionais. Ao mesmo tempo, a prática pedagógica passa a ser organizada em virtude dos objetivos que a comunidade escolar conclui serem fundamentais para essa escola, deixando de ser “solta” e sem significado para a vida do aluno. Por isso, como organizador do trabalho pedagógico da Escola, o PPP possibilita que os professores trabalhem com objetivos claros, relacionados aos objetivos da Instituição; os conteúdos escolares também deixam de serem fins em si mesmos, passando a ser conectados com a vida e com a realidade dos alunos. Dessa forma, com um ambiente democrático, ampla liberdade de trabalho para os professores e o.

(16) 16. compartilhamento das responsabilidades, passa a haver uma melhoria nos padrões de qualidade do trabalho pedagógico da escola. Assim, percebemos que os objetivos relacionados à proposição e consecução coletiva e participativa de um Projeto Político Pedagógico traduzem a vontade da sociedade brasileira de mudanças e reconhecem o papel central da educação e da Escola nesta necessária transformação. Por isso, não é possível que o PPP seja aceito pela comunidade escolar como um simples documento, como ampliação da burocracia escolar ou como se estivesse desligado do cotidiano escolar e tampouco é aceitável que os gestores ignorem a importância e a relevância do PPP para a organização e democratização da Escola. No entanto, apesar de inaceitável, muitas vezes, a construção deste documento não expressa os anseios da sociedade, mas, de maneira geral, tem se traduzido apenas no cumprimento de normas, ou seja, ainda é retrato da mera expressão da visão tecnicista presente em muitas escolas. Nesta perspectiva, Veiga (2011) afirma que o projeto não pode ser algo construído e engavetado e, em seguida, encaminhado para as autoridades com a comprovação de que certa determinação do Sistema de Ensino foi cumprida. Vasconcellos (1999), também, aponta esta questão como problemática central do planejamento escolar, quando afirma, por exemplo, que com certa frequência os professores são chamados a determinadas tarefas de preenchimento de formulários com objetivos, conteúdos, estratégias e avaliação ou, ainda, para participarem da discussão do PPP da escola sem, no entanto, haver um envolvimento com este projeto. Lück (2011) argumenta que a realização de ações episódicas, que indicam a falta de visão do todo em relação aos processos educacionais, está relacionada com a falta de planejamento. A autora aponta: Essa falta, aliás, sustenta a atuação orientada por demandas e pressões imediatistas, pelo ativismo e pela síndrome de “apagar incêndios” cuja ocorrência, aliás, é comumente considerada como sendo resultado do sistema e não da orientação e modo de agir espontaneista de pessoas, com enfoque reativo, visando resultados próximos. (p. 83).. Assim sendo, o planejamento da escola, que deveria estar relacionado, primeiramente a construção, e frequentemente à consecução do seu Projeto Político Pedagógico, permite que se supere a tendência de agir episodicamente, ou seja, em.

(17) 17. situações casuais “[....] que resultam na construção de rotinas vazias de possibilidade de superação das dificuldades do cotidiano” (LÜCK, 2011, p. 83). Sobre estas práticas casuais e ações não pensadas e planejadas no conjunto da escola, Vasconcellos (1999) aponta que, muitas vezes, se age mecanicamente, com o objetivo de cumprir os prazos exigidos pelas Mantenedoras ou Sistemas de Ensino e o planejamento acaba ficando vazio de significados, sem sentido real para a escola. O autor, também, discute alguns fatos observados nas escolas, com referência aos planos que são entregues e engavetados, quando coordenadores, orientadores e supervisores cobram exaustivamente os professores para que entreguem os seus planos: a prática do professor não leva em conta o que foi planejado; planos são copiados de livros; escolas fazem projetos e estes ficam esquecidos; escolas com belos textos na sua filosofia, no regimento, mas permanecendo práticas contraditórias; a escola constrói o projeto, mas com a mudança do governo ele acaba esquecido e engavetado; a escola faz o projeto político pedagógico só porque a Coordenadoria de Educação ou Mantenedora fez esta exigência ou como forma de “cumprir a lei”. De maneira geral, o que Vasconcellos (1999) constata é a total descrença no planejamento. Mas por que isso acontece? Não seria o planejamento e decorrentes planos verdadeiros mecanismos de democratização e qualificação da escola básica e, sobretudo, de organização do trabalho docente? Como uma escola pode desenvolver com coerência seu papel social sem dar a devida importância ao planejamento? Em relação a estas ideias percebidas entre os educadores, Veiga (2011) afirma que o Projeto Político Pedagógico é um planejamento da escola que se preocupa em instaurar uma forma diferenciada de organização do trabalho pedagógico que, [...] rompa a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. (p.14). Apesar de constatar a descrença dos educadores no planejamento, Vasconcellos (1999) reafirma a sua importância e destaca aspectos do planejamento que podem contribuir para uma escola mais democrática, como dar coerência à.

(18) 18. ação da instituição, integrando e mobilizando o coletivo de pessoas que perfazem a escola em torno de consensos, superação do caráter fragmentário das práticas em educação, ajudar a prever e resolver dificuldades, fortalecer o grupo para enfrentamento e superação de conflitos e contradições. O Projeto Político Pedagógico, documento norteador do trabalho escolar e resultando de processos de planejamento coletivo e compartilhado, pode aglutinar e mobilizar as pessoas em torno de uma causa comum, ou seja, “[...] ser um elemento estruturante da identidade da instituição” (VASCONCELLOS, 1999, p. 61). Devido a seu caráter coletivo, o Projeto Político Pedagógico pode contribuir para a superação da imposição ou disputas individuais que são muito prejudiciais para a escola. As ideias de Veiga (2011) corroboram com esta perspectiva ao postularem que o Projeto Político Pedagógico “[...] preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias” (p. 13). Como plano global da instituição, como instrumento teórico-metodológico para intervenção e mudança da realidade, o PPP é um elemento de organização e integração das atividades práticas na instituição, não devendo ficar basicamente no nível filosófico nem no nível de constatações sociológicas de um diagnóstico (VASCONCELLOS, 1999). Para isso, Vasconcellos apresenta sugestões para a construção do PPP da Escola, que requer ser estruturado em três partes principais: marco referencial, diagnóstico e programação, ou seja, não se constitui apenas em referencial ou ideário filosófico, mas, também, nas intenções que se tem em relação a estes a fim de planejar melhorias na educação e na proposta que a Escola está construindo e buscando elementos fundantes. Detalhando o que Vasconcelos (1999) entende por Marco Referencial, o autor coloca que o mesmo nasce de um questionamento que a escola democrática se faz no sentido dos esforços depreendidos por ela para efetivamente colaborar na construção do homem novo e da nova sociedade. Assim, o Marco Referencial expressa o porquê do trabalho da Escola e as perspectivas para a caminhada. O Marco Referencial é a tomada de posição da Instituição que planeja em relação à sua identidade, visão de mundo, utopia, valores, objetivos, compromissos. Expressa o ‘rumo’, o horizonte, a direção que a Instituição escolheu, fundamentado em elementos teóricos da filosofia, das ciências,.

(19) 19. da fé. Implica, portanto, opção e fundamentação. (VASCONCELOS, 1999, p.182). O Marco Referencial tem, ainda, a função de fornecer parâmetros, critérios para a realização do diagnóstico e pode ser subdividido em Marco Situacional, Marco Filosófico e Marco Operativo. O Marco Situacional se constitui em um olhar da comunidade sobre a realidade mais ampla na qual está inserida e não uma análise, que é feita no diagnóstico. O Marco Filosófico abrange a visão de homem e sociedade e, por consequência, de educação que a Instituição deseja construir. O Marco Operacional expressa o ideal específico da Instituição. Quanto ao diagnóstico, este é mais que um “[...] levantamento de dificuldades ou de dados da realidade” (VASCONCELOS, 1999, p. 188), correspondendo a várias tarefas, como conhecimento da realidade, julgamento desta e localização das necessidades. Gandin (1983, apud VASCONCELOS, 1999, p. 188) define bem o significado de diagnóstico para o Projeto Político Pedagógico: O Diagnóstico é a parte de um plano que profere um juízo sobre a instituição planejada em todos ou em alguns aspectos tratados no Marco Operacional […], juízo este realizado com critérios retirados do mesmo Marco Operacional e, sobretudo, do Marco Filosófico […] O Diagnóstico é o resultado da comparação entre o que se traçou como ponto de chegada (Marco Referencial) e a descrição da realidade da instituição como ela se apresenta. (p.29). Trata-se, portanto, de um olhar atento à realidade para identificar as necessidades radicais, não um simples processo de crítica, mas um processo de identificação dos problemas a serem enfrentados e de possibilidades e potencialidades do contexto real. Vasconcelos (1999) aponta fatores que podem interferir decisivamente na elaboração do diagnóstico, como falta de um instrumento adequado de levantamento de dados; falta de clareza de critérios para análise dos dados; insegurança em expressar a verdade; medo das críticas que surgirão; não conseguir ver os problemas que existem; falta de visão da totalidade da Escola; falta de tempo para a reflexão. A programação consiste basicamente em: “[…] o que vai para o plano é relevante e, deve acontecer!” (VASCONCELOS, 1999, p. 195), ou seja, a partir do diagnóstico se estabelecem propostas de ação, organizando-as em ordem hierárquica de prioridade, em função das condições que a Instituição possui. Estas.

(20) 20. ações podem ser diferenciadas como: ação concreta, linha de ação (que corresponde a orientações gerais, princípios e políticas), atividade permanente e determinação (normas e regras, ou seja, ações marcadas por caráter de obrigatoriedade). Na perspectiva de Libâneo (2008), é importante compreender o Projeto Pedagógico Curricular (nomenclatura utilizada por este autor para se referir ao Projeto Político Pedagógico) como um instrumento de organização da escola. Segundo o autor “[…] o projeto é ao mesmo tempo um desejo, uma utopia, e uma concretização […] o projeto incorpora a utopia, mas sua característica é organizar a ação, por isso precisa ser operacional” (p. 161). Como instrumento de organização, o PPP não pode substituir a gestão da escola e nem ser confundido com tal, pois são duas coisas diferentes. Conforme Libâneo (2008, p. 153) “[...] o projeto é um guia para a ação, prevê, dá uma direção política e pedagógica para o trabalho escolar, formula metas, institui procedimentos e instrumentos de ação”. Assim, a gestão põe em prática o que o projeto da escola propõe tornando este um instrumento da gestão. Por isso, o projeto deve sintetizar o que se tem, o que se deseja, o que será feito em função do que se deseja, e como saber se o que está sendo feito corresponde ao que se deseja. A fim de tornar as reflexões acima operacionais, Libâneo (2008, p. 164-165) apresenta um roteiro para a formulação do PPP, composto dos seguintes tópicos: a) contextualização. e. caracterização. da. escola. (aspectos. sociais,. econômicos, culturais, geográficos, condições físicas e materiais da escola, caracterização dos elementos humanos, breve história da instituição); b) concepção de educação e de práticas escolares; c) diagnóstico da situação atual (levantamento e identificação de problemas. e necessidades a atender, definição de prioridades, estratégias de ação, escolha de soluções); d) objetivos gerais; e) estrutura. de. organização. e. gestão. (aspectos. organizacionais,. administrativos e financeiros); f). proposta curricular (fundamentos sociológicos, filosóficos, psicológicos, culturais, epistemológicos, pedagógicos);.

(21) 21. g) organização curricular (por séries, ciclos, plano de ensino das disciplinas,. objetivos das disciplinas, conteúdos, metodologias e avaliação da aprendizagem); h) proposta de formação continuada dos professores; i). proposta de trabalho com os pais;. j). formas de avaliação do projeto.. Padilha (2002) apresenta diversas sugestões no que diz respeito à participação de todos os envolvidos na construção, consecução e avaliação do PPP, a partir de uma “[...] metodologia dialógica e problematizadora baseada na formulação de perguntas que procuram verificar causas remotas e próximas dos problemas sobre os quais os participantes se pronunciarão” (PADILHA, 2002, p.77), permitindo a construção de elementos instituintes de uma cultura escolar pautada em princípios da gestão democrática. As questões que Padilha (2002) inicialmente propõe estão em consonância com o que Vasconcellos (1999) também apresenta. Na perspectiva dos autores, a construção do PPP passa pela operacionalização de alguns passos: a) como entendemos o mundo em que vivemos; b) quais as utopias que nos movem nesse mundo; c) qual a escola dos nossos sonhos; d) qual o retrato da escola que temos; e) o que faremos na nossa escola. Os três primeiros passos são uma explicitação da compreensão de mundo, os valores e os compromissos que a escola assume diante desta compreensão e que definem a “cara da escola”, sua identidade, o rumo que se deseja tomar daqui para frente, constituindo o que Vasconcellos e Padilha denominam de Marco Referencial. Padilha (2002) sugere, para iniciar a construção do PPP, que se verifiquem as opiniões da comunidade escolar sobre, […] os porquês de estarmos como estamos, quais as causa que consideramos positivas ou negativas, no aspecto social, político, econômico, cultural religioso, etc., e que nos levaram, em termos gerais, à realidade que temos hoje. (p. 78). O autor, também, apresenta possíveis perguntas para esta etapa: 1. Como compreendemos, vemos, sentimos o mundo atual? 2. Quais são seus principais problemas e suas maiores necessidades? 3. Quais são as causas da situação atual em termos sociais, políticos e econômicos? 4. Quais são os efeitos da globalização sobre a qualidade de vida no mundo de hoje? (p. 78).

(22) 22. Em relação a uma visão mais utópica do mundo, compartilhada pelo grupo, o autor propõe os seguintes questionamentos: 1. Que tipo de homem e de sociedade queremos construir? 2. Que papel desejamos para a escola em nossa realidade? 3. Que tipo de relações devem ser estabelecidas entre professor e aluno, entre a escola e a comunidade? 4. Qual é o papel do Estado em relação à educação, em termos ideais? (p. 80). Após uma síntese dos resultados obtidos, poder-se-á estabelecer possíveis saídas para os problemas levantados, organizá-los por categorias e mesmo levantar ações e estratégias. Diante disso, Padilha (2002, p. 81) propõe os seguintes questionamentos, com o objetivo de organizar as ideias de ações levantadas: 1. Em relação à dimensão pedagógica: como desejamos o processo de planejamento e a nossa autonomia pedagógica? Como desejamos o objetivo, o conteúdo, a metodologia e a avaliação? Como desejamos a disciplina, a relação professor – aluno? 2. Em relação à dimensão comunitária: Como desejamos o relacionamento na escola e dela com a comunidade? Como desejamos o relacionamento com a família e a comunidade? 3. Em relação à dimensão administrativa: Como desejamos a organização administrativa da nossa escola? Como desejamos a elaboração do Regimento Escolar? Como desejamos a comunicação na nossa escola? 4. Em relação à dimensão financeira: Como desejamos a nossa autonomia financeira? Como desejamos investir os recursos da escola? Como desejamos participar da gestão financeira da escola?. Segundo o autor, todas estas etapas que constituem o marco referencial são importantes para que a escola possa se conhecer bem e ter a dimensão mais precisa possível de sua realidade. Por isso, o estabelecimento do marco referencial é um rico momento de aprendizagem para todos, além de estabelecer relações de confiança e reciprocidade entre todos os setores e pessoas que formam a escola. Como consequência deste trabalho coletivo, há o desenvolvimento de um sentimento de [co]responsabilização de todos pela consecução do que foi estabelecido como objetivos da escola. Como forma de estabelecer um plano de ação que evolva a todos, Padilha (2002) sugere que o plano de ação seja elaborado através da discussão de três pontos: a) avaliação dos resultados do ano anterior; b) definição do auto-retrato da escola (leitura de mundo); c) definição dos compromissos a serem assumidos para aperfeiçoar o retrato da escola. Quanto ao tópico “a”, o autor propõe os seguintes questionamentos para nortear as discussões:.

(23) 23. a) Quais foram os principais problemas que dificultaram a realização de nossa proposta pedagógica? b) Quais foram os índices de evasão na nossa escola? c) Quais as principais dificuldades apresentadas em sala de aula? d) Quais as principais dificuldades enfrentadas pela escola e pelos diferentes segmentos escolares? e) Como os recursos foram aplicados e utilizados na escola? Quais foram as principais fontes? Eles foram suficientes? f) Houve participação do coletivo escolar na decisão sobre onde, como e quando aplicar os recursos? g) A APM apresentou, regularmente, todos os seus balancetes? A escola recebeu recurso ou ajuda de alguma instituição parceira? Quais as condições dessa parceria? (PADILHA, 2002, p. 84).. Padilha, também, apresenta uma proposta de ação na forma de tabela, muito útil quando da elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola, que pretende sistematizar possíveis soluções para os problemas encontrados na elaboração do marco referencial e irá constituir uma proposta de ação. PROPOSTAS DE AÇÃO PROBLEMAS CONCRETOS. O QUE FAREMOS PARA SUPERAR ESTE PROBLEMA1. PROPOSTA DE AÇÃO. 1. A indisciplina e a violência estão altas na escola.. Palestras na escola; reuniões com pais; definir normas com alunos.. Organização do calendário escolar com encontros regulares com pais.. 2. Ameaçar, falar alto, gritar com os alunos.. Formação de respeito ao aluno.. professores,. Organização do calendário escolar com encontros regulares com professores e especialistas.. 3. Avaliação do aluno muito rígida e tradicional.. Curso sobre avaliação e reunião com pais.. Elaboração de uma proposta diferenciada de avaliação que contemple a avaliação do aluno, do professor e da instituição.. 4. Dinâmica e horário das reuniões de pais e mestres.. Previsão no calendário escolar de encontros regulares com pais.. Reuniões Regulares com pais e formação com a presença de especialistas.. 5. Discurso e prática de professores não coincidem.. Previsão de Formação Continuada para professores com especialistas nas áreas.. Formação Continuada utilizando a carga horária de hora-atividade dos professores na Escola.. 6. Falta de integração direção – professores – pais.. Encontros regulares professores e pais.. Encontros regulares professores.. 7. Falta de maior participação dos pais na escola.. Encontros regulares com pais para discutir os problemas da Escola.. 1. entre. entre. pais. e. Encontros regulares com pais e professores.. A questão orçamentária é fundamental nesse momento e durante todo o processo de planejamento. Os segmentos escolares deverão levantar dados sobre a origem e aplicação dos recursos utilizados pela escola, além de acompanhar e fiscalizar sua aplicação. Algumas propostas de ação exigem, automaticamente, uma vinculação orçamentária, para cobrir as despesas e os gastos decorrentes. Cabe à direção da escola (em conjunto com a APM) disponibilizar a todos os segmentos essas informações (PADILHA, 2002)..

(24) 24. 8. Funcionários da escola não são ouvidos.. Encontros entre gestores e funcionários para avaliação dos serviços prestados na Escola.. Encontros regulares com os funcionários dos setores da Escola.. 9. Os pais e mães não estão acompanhando seus filhos.. Chamamento dos pais à Escola.. Encontros regulares com pais para formação.. 10. Reprovação e evasão – taxas ainda muito elevadas.. Acompanhamento da aprendizagem dos alunos pelo serviço de orientação educacional.. Encontros regulares com alunos e pais.. Desenvolvimento de estratégias diferenciadas de ensinoaprendizagem. Encontros de funcionários.. formação. Acompanhamento alunos.. para. individual. os. dos. Formação Continuada de professores. Uso de recursos da informática (objetos de aprendizagem). TABELA 1 - Adaptação de propostas de ação, com base em Padilha (2002, p. 84 - 85). O próximo passo é fazer uma leitura do mundo em que está inserida a escola e, então, confrontar com os dados levantados a partir da proposição das ideias quando da elaboração conjunta do Marco Referencial. Para tanto, Padilha (2002, p. 87) apresenta algumas sugestões: 1. Em relação “à leitura do mundo”: É importante para o planejamento a aplicação de métodos científicos de investigação da realidade? Que dados da sua escola, sugeridos na etnografia da escola, seu grupo já conhece e quais dados desconhece completamente? De que comissões de trabalho os integrantes do seu grupo poderão participar? 2. Em relação aos dados da realidade escolar já existentes: Quais os aspectos positivos que podemos apontar em relação aos trabalhos desenvolvidos em nossa escola nos últimos anos? Que inovações educacionais foram implantadas em nossa escola recentemente? Quais são nossas maiores dificuldades para a realização de um trabalho pedagógico de maior qualidade nesta escola? Como temos enfrentado esses problemas? 3. Em relação a outros dados que eventualmente ainda não temos: Quantos pais de alunos e professores são sindicalizados? Eles assistem tevê regularmente? Que tipo de programação? Quais são s principais queixas dos segmentos escolares? No que a nossa comunidade se diferencia de outras comunidades? Quais são os hábitos culturais e desportivos de nossa comunidade? Qual é o lazer predominante? Qual é o padrão de interação professor – aluno – comunidade mais praticado em nossa escola?. Por fim, as ações, segundo Vasconcellos (1995, p. 163-168, apud PADILHA, 2002, p. 88) podem ser classificadas em ações concertas, que tem caráter de terminalidade, linha de ação, que indica um comportamento, um modo de ser e agir, atividades permanentes, que representam as rotinas da escola, ou seja, atividades que se repetem com determinada frequência e determinações, que são normas.

(25) 25. estabelecidas por um caráter de obrigatoriedade e que atingem a todos de alguma forma. Para execução desta etapa, Padilha sugere prioridades ao Projeto Político Pedagógico da escola com o objetivo de sistematizar as ideias levantadas pelo grupo: INDICADORES DAS PRIORIDADES DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA PRIORIADES (itens dispostos por ordem de importância/urgência) ORDEM DAS PRIORIDADES. 1. AÇÃO CONCRETA. 2. LINHAS DE AÇÃO. 3. ATIVIDADES PERMANENTES. 4. DETERMINAÇÕES OU NORMAS. Ação concreta com caráter de terminalidade.. Orientação geral, princípios, modos de agir coletivos atitudes esperadas.. Propostas de ação que se repetem com frequência na instituição.. Ações marcadas com caráter de obrigatoriedade, que atingem a todos ou a alguns sujeitos.. 1*. Formação de professores. Respeito com os alunos e todas as pessoas. Formação professores. de. Definir estratégias de formação continuada com professores.. 2*. Formação pais.. Encontros regulares com pais.. Curso sobre avaliação/ciclos e conversa com os pais.. Definir normas com os alunos.. de. TABELA 2 - Adaptação de indicadores das prioridades do Projeto Político Pedagógico da escola, com base em Padilha (2001, p.89). O autor coloca, ainda, ações sob a responsabilidade dos gestores a fim de garantir a gestão democrática do processo. Segundo Padilha, “[...] o diretor da escola e seu vice, responsáveis pela coordenação de todas as atividades escolares, devem ser capazes de ‘seduzir’ os demais segmentos para a melhoria da qualidade do trabalho desenvolvido na escola” (2002, p. 75), do que inferimos que são eles os responsáveis por envolver a todos na elaboração do PPP da escola. Lück (2011, p. 78), também, aponta que aos gestores compete a criação e sustentação de um ambiente propício à participação de professores, alunos e pais, pois é desta forma que os mesmos desenvolvem consciência social crítica e.

(26) 26. cidadania, que são condições necessárias para que a gestão democrática efetivamente ocorra e permita a formação de seus alunos com qualidade. Infelizmente muitas escolas não tem conseguido implementar seus PPP’s em virtude das dificuldades em torno da aceitação de mudanças, ao contrapoder exercido pelos professores na escola (PARO, 2011), às resistências à mudança (LÜCK, 2010; 2011), à visão técnica-burocrática dos gestores (administradores) (LIBÂNEO, 2008; LÜCK, 2010; 2011); à centralização do poder na figura do diretor e/ou equipe administrativa da escola (LÜCK, 2010; 2011); aos baixos níveis de participação, à falta do sentimento de pertença (VEIGA, 2011); à cultura escolar negativista (MEDEL, 2008) e outros fatores e elementos condicionantes desta situação já discutidos neste texto. No entanto, percebe-se que escolas que conseguem obter bons resultados e implementar melhorias que se traduzem em avanços na qualidade da educação, expressa pela diminuição da evasão e repetência, garantias de sequência nas séries, ou seja, baixa distorção idade/série e bons índices de participação da comunidade na escola (BRASIL, 2010), são escolas que conseguem construir e implementar seus Projetos Políticos Pedagógicos de forma participativa e democrática. Neste sentido, o ideário construído por gestores, educadores, pais e alunos influi nas formas de construção e implementação participativa do planejamento da escola e na construção de uma escola democrática e cidadã. Nesse sentido, Malheiro (2005) investiga os caminhos e estratégias que algumas escolas do Rio de Janeiro – RJ adotam para a elaboração dos seus Projetos Político Pedagógicos com o objetivo de auxiliar outras Escolas a encontrarem seus próprios caminhos. Para isso, aborda algumas questões importantes para se compreender o porquê de algumas escolas descobrirem seu caminho e outras não, entre elas: 1º) o que faz com que algumas escolas consigam elaborar os seus Projetos Político-Pedagógicos e outras não?; 2º) com relação às que conseguem elaborá-los, por que algumas não são eficientes na sua aplicação?; 3º) com relação às que conseguiram elaborá-los e lograram ser bem sucedidas na sua realização, quais foram os fatores internos e externos da comunidade escolar que favoreceram tal sucesso? (MALHEIRO, 2005, p. 81). A preocupação de Malheiro, também, aponta-nos que pesquisar os fatores que levam a concepções equivocadas da relevância do Projeto Político Pedagógico é indispensável, pois permite discutir com os gestores a importância do.

(27) 27. estabelecimento de objetivos e ações estratégicas para se chegar a escola sonhada pela comunidade, bem como a importância de se discutir com a comunidade escolar os problemas da educação e buscar alternativas conjuntas de superação. O Conselho Nacional de Educação, ao estabelecer Diretrizes Gerais para a Educação Básica, no sentido de garantir a democratização do acesso, a inclusão, permanência e a conclusão com sucesso das crianças, jovens e adultos além da aprendizagem para a continuidade dos estudos e progressiva obrigatoriedade da Educação Básica, no artigo 44 da Resolução n° 4, de 13 de Julho de 2010, apresenta orientações de como deve se constituir um Projeto Político Pedagógico: I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo […]; II - a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação da aprendizagem e mobilidade escolar; III - perfil real dos sujeitos – que justificam e instituem a vida da e na Escola, do ponto de vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconômico, como base da reflexão sobre as relações vida-conhecimento-cultura-professor-estudante e instituição escolar; IV - as bases norteadoras da organização do trabalho pedagógico; V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por consequência, da escola, no contexto das desigualdades que se refletem na escola; VI - os fundamentos da Gestão Democrática, compartilhada e participativa (órgãos colegiados e de representação estudantil); VII - programa de acompanhamento de acesso, permanência dos estudantes e de superação da retenção escolar; VIII- programa de formação inicial e continuada dos profissionais da educação, regentes e não regentes; IX - as ações de acompanhamento sistemático dos resultados do processo de avaliação interna e externa[…]; X - a concepção de organização do espaço físico da instituição escolar de tal modo que este seja compatível com as características de seus sujeitos, que atenda as normas de acessibilidade, além da natureza e das finalidades da educação, deliberadas e assumidas pela comunidade educacional. (BRASIL, 2010). A legislação pretende, desta forma, orientar os Sistemas de Ensino e as Escolas quanto à elaboração do PPP de maneira que este venha a contribuir para nortear e organizar o trabalho administrativo-pedagógico na Instituição de ensino, voltado, é claro, para a educação de qualidade social que atenda as necessidades formativas do cidadão e, por consequência, da sociedade brasileira. Para isso, são necessários objetivos claros, ou seja, a instituição deve saber onde quer chegar e, em relação a isto, a visão de homem, sociedade e o posicionamento político influenciam o caminho que se toma. Por isso a necessidade de se especificar as concepções que pautam o planejamento da escola, bem como a visão desta sobre o seu trabalho pedagógico e sobre os objetivos de seu trabalho: o ensino e a aprendizagem de qualidade..

(28) 28. Na busca da educação de qualidade social, algumas orientações ficam expressas. na. compartilhada. Resolução e. acima. participativa,. a. destacada, formação. como. a. continuada. gestão dos. democrática. professores, o. acompanhamento sistemático dos avanços, da evasão e repetência dos alunos buscando a superação dos índices de retenção e evasão bem como a distorção idade-série, bem como o planejamento de tempos e espaços que atenda aos objetivos educacionais da escola. Fica evidente, portanto, através da redação desta legislação educacional, que o PPP não pode se constituir apenas de um ideário filosófico e político, conforme também aponta Vasconcellos (1999), mas deve consistir em um planejamento da escola em ações concretas e permanentes que venham proporcionar aos estudantes educação de qualidade social. No artigo 9°, a mesma Resolução aborda que a escola de qualidade social tem a sua centralidade no estudante e na aprendizagem, o que faz necessário, de acordo com o inciso III, “[...] foco no Projeto Político Pedagógico, no gosto pela aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como instrumento de contínua progressão dos estudantes” (BRASIL, 2010, grifo nosso). Assim, a lei determina claramente a esperada relação entre um PPP construído com a integração em processo colaborativo dos profissionais da educação, dos estudantes, das famílias, dos agentes de comunicação interessados em educação e a ansiada qualidade da educação. De acordo com o artigo 10 da Resolução CNE/CEB Nº 4/2010, a definição de padrões mínimos de qualidade aponta para a necessidade de reconhecer que a sua avaliação deve vincular-se à ação planejada coletivamente pelos sujeitos envolvidos na escola. Ao vincular a elaboração coletiva do PPP à exigência de padrões mínimos de qualidade, o artigo 8 dessa Resolução determina quais são estes padrões mínimos de qualidade: pleno acesso, inclusão e permanência dos sujeitos da aprendizagem na escola e seu sucesso, redução da evasão, da reprovação e da distorção idade/ano/série. Tal padrão de qualidade é, então, resultado de uma ação coletiva através do envolvimento de todos e o PPP é o eixo aglutinador de ações que visam esta educação de qualidade (BRASIL, 2010). O planejamento conjunto de ações, portanto, faz necessário que os sujeitos envolvidos tenham clareza sobre os princípios e finalidades da educação, bem como dos Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), da relevância do PPP assumido coletivamente e que.

(29) 29. respeite a diversidade e pluralidade cultural e dos padrões mínimos de qualidade (BRASIL, 2010). O artigo 43 da Resolução CNE/CEB Nº 4/2010 faz referência direta ao PPP como mais que um simples documento e, sim, como um mecanismo necessário para viabilizar a escola democrática para todos e de qualidade social. O projeto político-pedagógico, interdependentemente da autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira da instituição educacional, representa mais do que um documento, sendo um dos meios de viabilizar a escola democrática para todos e de qualidade social. (BRASIL, 2010). A Lei promulga, através das orientações e incentivo propostos para a construção do PPP, que a escola exerça a sua autonomia e que uma nova ordenação. democrática das relações possa favorecer e fortalecer o trabalho. coletivo em busca de padrões de qualidade de educação para todos. Por isso, a Resolução CNE/CEB Nº 4/2010 faz referência à terminologia Político Pedagógico, no entendimento de que o planejamento da escola é mais do que pedagógico; é político ao expressar determinada intencionalidade da escola, ao expressar determinada visão de homem e sociedade e ao vivenciar uma estrutura social dividida em classes dentro de um modelo capitalista.. 2.2 A PARTICIPAÇÃO COMO PRINCÍPIO BÁSICO NA CONSTRUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA As concepções de gestão escolar refletem diferentes posições políticas e concepções sobre qual deve ser o papel da escola e que tipo de ser humano se deve construir para a vida em sociedade. A visão técnico-científica e as diversas concepções que giram em torno de uma visão sociocrítica (LIBÂNEO, 2008) divergem em múltiplos aspectos. A administração escolar, quando respaldada pelo ideário neoliberal e na perspectiva capitalista, com claros princípios fordistas de divisão do trabalho, é denominada por Libâneo (2008) como técnico-científica. Quando pautada nas práticas democráticas e participativas, o mesmo autor a denomina de sociocrítica. Da mesma forma, Lück (2011), também, faz distinção entre os princípios da administração, de cunho tecnicista ou emergente da gestão, este último relacionado às práticas democráticas..

(30) 30. As práticas administrativas da visão técnico-científica são influenciadas pelos mesmos princípios de quem administra uma fábrica. Nesta visão, a escola é neutra e deve funcionar de forma prática e racional, cada um exerce a sua função como em uma linha de montagem e, ao final, temos o nosso “produto”. Para alcançar eficiência, predomina o planejamento e organização para alcançar melhores índices de eficácia. As decisões são centralizadas na figura do diretor e há alto grau de hierarquização de funções. Também, tudo o que a escola e os professores precisam fazer, ou seja, o papel e a função que cada um deve desempenhar já estão previamente estabelecidos. Diferentemente da abordagem técnico-científica de gestar a escola, as concepções relacionadas a uma linha mais sociocritica concebem a escola com um espaço não neutro, não passível de ser observado de fora e ser entendido de forma objetiva, pois é formado por pessoas, ou seja, o espaço escolar é construído pelo coletivo de pessoas que a constituem, envolvendo professores, alunos, pais e funcionários. Nesta visão, prevalecem formas democráticas de gestão com processos coletivos e participativos de tomada de decisões e há práticas de natureza colaborativa. Daí decorre que professores, alunos, pais e gestores tornemse sujeitos históricos, isto é “[...] sujeitos capazes de intervir conscientemente e coletivamente nos objetivos e nas práticas de sua escola, na produção social do futuro, da comunidade, da sociedade” (LIBÂNEO, 2008, p. 160). Paro (2011), na mesma perspectiva, estabelece diferenças nítidas entre os princípios administrativos e o conceito mais abrangente de gestão. O autor percebe que, embora existam muitos defensores da aplicação dos princípios de administração de uma empresa na escola, há uma diferença clara entre ambos. Para isso, argumenta que as empresas, embora ofereçam produtos diferentes, tem como objetivo final o lucro, por isso podem seguir os mesmos princípios administrativos, mesmo que adotando técnicas diversas e relacionadas à especificidade dos seus produtos. Entretanto, na escola, não é possível a aplicação dos princípios da administração tais como aplicados em uma empresa, Já que a preocupação central da escola é a formação do cidadão crítico, autônomo e atuante em sociedade, um cidadão “sujeito do desenvolvimento da sua personalidade” (PARO, 2011, p. 37). A escola tem objetivos muito diferenciados dos de uma empresa tipicamente capitalista e, logo, o que torna uma empresa destas, eficiente, não é capaz de atingir.

Referências

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