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Marcio Alexandre Massela

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Academic year: 2021

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PEDAGOGIA POLÍTICA

MASELLA, Marcio Alexandre. marciomasella@yahoo.com.br Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Saul CAPALBO, Roberta Braga. Robertabraga25@yahoo.com.br Orientador: Prof. Dr. Mário Sérgio Cortella

Resumo

Este trabalho tem como objetivo apropriar-se do conhecimento relacionado à temática política e educação. No desenvolvimento das questões apresentadas Paulo Freire contextualiza a formação política do educador, embasando teoricamente nossas reflexões e dialogando com autores que discutem a política, como Aristóteles e Brecht e autores que discutem a relação entre política e educação, como Cortella e Saviani. O papel do educador no seu ato político pedagógico e sua reflexão com o discente revela papéis antagônicos que, discutidos, analisados e ponderados, estabelecem uma lógica comum estruturada no diálogo e na tolerância em prol de uma transformação social. Discutir o caráter político da educação é conscientizar-se que o papel do professor não é de transmitir conteúdos com uma postura de neutralidade ou de maneira desvinculada à realidade, e sim de uma construção de conhecimento que explicite sua postura política nas ações cotidianas e que permita aos educandos tornarem-se críticos e questionadores da sua realidade social, tendo sua própria ação política consciente como prática da transformação.Buscamos compreender o papel do educador na ação consciente dentro de uma abordagem político pedagógica, enquanto meio de transformar a realidade voltada para a necessidade de conscientização, com respeito à diversidade humana no espaço da escola, com seus educadores e demais atores envolvidos, para resgate dos valores éticos e sociais.

Palavras-chave: Política. Educação.Formação Política.Educador.Conscientização.Transformação

INTRODUÇÃO

Buscar, transcender limites, ir além, descobrir, é o que faz do homem um ser em constante transformação. O ser humano é um ser de integração e isso possibilita nossa ação sobre o condicionamento cultural que temos, tornando-nos capazes de modificar a realidade.

A mudança, entretanto, pressupõe reflexão. Não uma reflexão apenas de constatação, mas uma reflexão que parta de uma ação e traga de volta a esta uma nova postura. É o que conhecemos como ação-reflexão-ação. É o ‘pensar certo’ que Paulo freire nos coloca.

Modificar a realidade pressupõe uma ação consciente. Consciência no que se faz, como se faz, por que se faz. Qualquer ação para com o outro se reflete numa ação consigo mesmo. Portanto é na nossa ação que mostramos ao outro nossas crenças. É sendo um educador crítico, questionador, estimulador, que ensinamos nosso aluno a sê-lo também. Para

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tomar tal postura é preciso nunca parar de aprender e de buscar novos saberes. Essa busca nos é inata e é sobre ela que devemos refletir.

Se buscar saberes é inato, nossa responsabilidade enquanto educadores é, através da diretividade da educação, ensinar nossos alunos a aprender. Aprender a aprender o social, o político, o cultural, o econômico, o ideológico, o histórico.

E aprender diante disso é perceber-se, reconhecer-se enquanto ser ativo em todas estas dimensões. É perceber a relação opressor-oprimido e nela refletir para libertar-se e libertar ao outro. É tornar possível aquilo que uma vez se disse e que foi soterrado por outros dizeres que se aceitam e/ou não se vêem enquanto oprimidos. É pensar que pode ser diferente, como pode ser diferente e o que se precisa fazer. É tornar concreto o ‘inédito viável’. A idéia de que ainda não é possível, mas pode ser.

“ A autenticidade se dá quando a prática do desvelamento da realidade constitui uma unidade dinâmica e dialética com a prática da transformação da realidade”.1

Este desvelamento da realidade não é só por parte dos educandos, mas também, e em primeira instância, é responsabilidade de nós educadores. Que cidadãos buscamos formar e de que maneira?

Precisamos exercitar a nossa capacidade de ação-reflexão-ação. Isso significa colocar-se numa postura ativa diante das situações educativas, perceber-colocar-se enquanto colocar-ser político. Reconhecer-se como tal é o que dá concretude ao nosso trabalho, e, mais ainda, o que possibilita uma prática coerente e uma constante reflexão do nosso papel político-social e da nossa responsabilidade na construção de conhecimento dos nossos educandos.

REFERENCIAL TEÓRICO

Quando iniciamos a discussão sobre a relação entre política e educação nosso primeiro embasamento foi, sem dúvida, Paulo Freire, uma vez que trouxe à tona a discussão do que ele declara como a ‘politicidade’ da educação. Este, em principal, e

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outros conceitos como consciência, cidadania, humanização, ideologia, apontados por Freire, norteiam a nossa análise em torno da necessidade indiscutível da consciência política nas práticas pedagógicas e sociais.

Para ampliar a discussão outros autores complementaram nossa análise como Demerval Saviani, que aponta a diferença e complementação entre o “vencer” político e o “convencer” educacional, que discorreremos no texto.

Berthold Brecht contribui com apontamento da idéia de analfabeto político e do caráter das relações sociais.

Recorremos ainda à Aristóteles em sua obra Política, buscando clarear esta definição, separando a política enquanto conceito e a política enquanto atividade.

Mário Sérgio Cortella, em seu livro a “A Escola e o Conhecimento” discute a não neutralidade e a construção de sentido e de si mesmo que o ser humano exerce. Esta análise nos entrelaçou aos conceitos de Freire apontados acima, enriquecendo a reflexão.

Todos estes autores iluminaram nossa discussão, reflexão e análise, permitindo-nos, inclusive, refletir sobre nós mesmos, ampliando e nos auxiliando na construção de novos conceitos.

OBJETIVOS E METODOLOGIA

Este artigo visa desenvolver a indissociável relação entre educação e política. A educação sempre é pauta de discussões que visam analisar sua eficácia, eficiência, qualidade e tantas outras questões que ela suscita. Desde Paulo Freire a discussão sobre o caráter político da educação e sua interferência na realidade social vem crescendo. Em nossas pesquisas este aspecto é de relevante importância e base de toda nossa discussão, que perpassa, inclusive, pela necessidade de conscientização do ato educacional como político. Pretendemos assim abordar a política no âmbito da formação / conscientização do educador.

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Isso significa dizer que acreditamos que é a partir da tomada de consciência política da sua ação educativa, que a prática do educador passa a ser pautada em uma concepção de educação que vise a cidadania e ação social transformadora. Toda postura educacional, consciente ou não, é, fundamentalmente, política. E é através desta conscientização que se constrói efetivamente uma prática educativa coerente. É sendo que se ensina e se aprende a ser.

Para a realização deste artigo, desenvolvemos a pesquisa teórica, que nos auxiliou na construção de conceitos. Trabalhamos com textos específicos ao tema: política e educação, e textos que pudessem amparar essa construção, enriquecendo e situando-a num contexto claro de atuação.

PEDAGOGIA POLÍTICA

Quando pensamos em ser humano é fundamental considerar que somos seres condicionados e não determinados. Isso significa dizer que ninguém nasce pronto e com características de ser pré-determinadas. O ser determinado significaria uma não possibilidade de mudança. Nos fazemos no mundo, somos condicionados, capazes de nele intervir, construir, transformar, decidir. Fazemos parte do mundo. Ao nos colocarmos como tal somos também construtores da história e isso nos torna, eminentemente, seres políticos.

“Somos, antes de mais nada, construtores de sentido, porque, fundamentalmente,

somos construtores de nós mesmos(...)”2

A partir desta consideração de Cortella, percebemos que o fazer da prática nos faz refletir as ações que envolvem a tomada de consciência de que somos, antes de mais nada, agentes de nós mesmos. O educador em sua prática pedagógica está constantemente construindo pilares de sustentação para uma ação-reflexão-ação.

Não há ação, consciente ou não, que não traga sua concepção política inserida. Não há ações neutras. Agimos sempre de acordo com nossos valores, nossas crenças, concepções e bagagem de cultura que nos permitem intervir desta ou daquela maneira no mundo.

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CORTELLA, Mário Sérgio. A Escola e o Conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 7ed.São Paulo: Cortez, 2003

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Berthold Brecht afirma que não há pior analfabeto do que o analfabeto político. Segundo Brecht sua ignorância não decorre da incompreensão dos símbolos gráficos que, articulados, formam palavras, mas da sua ignorância quanto à compreensão de que a totalidade das relações que vivencia em sociedade são políticas. E que, portanto, do preço do pão ao acesso às atividades de entretenimento, das relações de vizinhança às relações familiares, todas são marcadas pela política. Por conseqüência, segundo Brecht, ignorar a política é ignorar, na essência, a compreensão da totalidade das relações que todo ser humano sociabilizado vivencia nas suas mais abrangentes expressões sociais, sejam elas profissionais, afetivas, econômicas, religiosas, familiares, etc.. Paulo Freire, em seu livro Conscientização3, traz ainda, a idéia da alfabetização política como prática de domesticação dos homens ou como prática libertadora, sendo que no segundo caso a liberdade é uma conscientização de si mesmo.

É, pois, deste instigante ponto de partida, que a política é compreendida como uma prática social múltipla e cotidiana, que se insere na realidade de todo e qualquer homem.

Mas o que é política? O termo política tem, no mínimo, duas grandes vertentes interpretativas das quais decorrem definições mais precisas: a primeira, que deve sua expansão principalmente à obra intitulada Política de Aristóteles4, concebe a política como toda prática social que envolve a vida na polis (cidade-estado grega). Ou seja, ao público, ao civil, ao sociável; a segunda vertente, mais familiar ao senso-comum, refere-se aos estudos e práticas mais diretamente relativas ao Estado. Obviamente, Brecht encaixa-se na primeira vertente, que, assim como Aristóteles, entende que o homem é, por natureza, um animal político e que, portanto, a política não está restrita às questões do Estado, pelo contrário, é muito mais abrangente.

É a partir deste contexto que a Pedagogia Política é compreendida como uma prática social múltipla e cotidiana, que se insere na realidade de todo e qualquer homem sociabilizado.

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FREIRE, Paulo. Conscientização:teoria e prática da libertação:uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Centauro, 2001

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(...) é neste sentido também que, tanto no caso do processo educativo quanto no do ato político, uma das questões fundamentais seja a clareza em torno de a favor de quem e do quê, portanto contra quem e contra quê, desenvolvemos a atividade política. Quanto mais ganhamos esta clareza através da prática, tanto mais percebemos a impossibilidade de separa o inseparável: a educação da política.5

Paulo Freire, que foi na contramão do tecnicismo que vem acontecendo na área da educação, não admitia educação como método ou técnica neutra. Ele nega esta neutralidade. Para ele a educação é ato político.

As principais questões teóricas e metodológicas da educação necessitam ser colocadas para o estudo e a compreensão da realidade social. Compreender, analisar, criticar e explicar os fatos, as estruturas e os processos sociais são desafios que estão colocados no cotidiano de todos nós, educadores.

Um conjunto de saberes pedagógicos, um compromisso, uma postura. Temos que constituir uma nova cultura pedagógica que represente o povo brasileiro. A educação viria, então, para “resolver estes problemas”6. Esta cultura política dominante invadiu a cultura pedagógica.

Falamos em educar para a cidadania consciente. Pode nos guiar a idéia de que o povo tem falsa consciência ou que ele é, lamentavelmente, inconsciente.

Consciência, em Paulo Freire, é algo muito mais totalizante. Não vem de fora. Está atrelada às práticas culturais e políticas vivenciadas na produção da existência. A obra de Freire em que expressa, com força, sua visão dos processos educativos tem como título

Pedagogia do Oprimido. Este é o sujeito da pedagogia. A ação pedagógica é do oprimido.

Esta visão se contrapõe à negativista, inculta, ignorante, inconsciente do povo, tão enraizada na política e na pedagogia.

A educação é uma prática política ao manifestar e instituir concepções de sociedade, de relações (individuais ou de grupos de classe), de divisão social do trabalho.

Entre os teóricos da educação brasileira, além de Paulo Freire, que se preocupam com a interação entre educação e política ao longo da construção de seus respectivos discursos 5

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p.27,1987

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pedagógicos, destaca-se Demerval Saviani7. Ambos advogam a indissociabilidade entre as práticas educativas e a política.

A prática e a teoria educativa não contém apenas aspectos políticos, mas revela-se política integralmente nos seus mínimos instantes e detalhes. Os conteúdos programáticos escolares, por exemplo, revelam escolhas, opções e preferências sociais, culturais e ideológicas, mesmo quando proclamam o contrário e tentam efetivar-se como neutralidade científica. Os professores trabalham esses conteúdos conforme sua visão de mundo, idéias, práticas, representações sociais, seus símbolos e signos. Os alunos constroem conhecimentos, filtrando-os ou não, também conforme suas escolhas e preferências, embora tanto o educador quanto os alunos sigam normas sociais escolares. Estas, por sua vez, são ditadas segundo determinações opções, escolhas. E assim, de modo sucessivo, nas múltiplas relações escolares estão presentes, em todos os seus momentos, a inseparabilidade e as especificidades da educação e da política.

Conforme Saviani, a especificidade da política está no “vencer”, enquanto a pedagógica está no “convencer”8. Mas como nesta visão o “vencer” político passa necessariamente pelo “convencer” pedagógico, se faz com que a política seja permeada pela pedagogia. Ao mesmo tempo o “convencimento” pedagógico constitui pressuposto para a “vitória” política, ou seja, toda pedagogia implica um ato político.

O ato pedagógico proporciona ao homem muito mais que a simples alfabetização, pois através da discussão dos problemas locais, regionais e nacionais, torna-o mais crítico e leva-o, posteriormente, a se conscientizar e a se politizar.

“(...)Não basta dizer que a educação é um ato político assim como não basta dizer que o ato político é também educativo. É preciso assumir realmente a politicidade da educação.”

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Conscientização:teoria e prática da libertação:uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Centauro, 2001

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Entendido como uma busca coletiva pelo ser mais, capaz de desafiar os sujeitos para um compromisso transformador

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O educador no seu fazer pedagógico precisa assumir o espaço educativo como um ambiente de relações sociais, onde a realidade se expressa na construção de idéias que se colocam conflituosas, contraditórias e que se concretizam na formação da prática política.

Ao assumir este fazer político pedagógico consciente, o educador, de fato, trabalha na perspectiva de convencimento em prol da necessidade de uma ação contrária, tornando o sujeito libertador da prática do opressor.

“Acho que o papel de um educador consciente progressista é testemunhar a seus alunos, constantemente, sua competência, sua amorosidade, sua clareza política, a coerência entre o que diz e o que faz, sua tolerância, isto é, sua capacidade de conviver com os diferentes para lutar com os antagônicos. É estimular a dúvida, a crítica, a curiosidade, a pergunta, o gosto do risco, a aventura de criar.”9

BIBLIOGRAFIA

CORTELLA, Mário Sérgio. A Escola e o Conhecimento: fundamentos epistemológicos e

políticos. 7ed.São Paulo: Cortez, 2003

FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade.. São Paulo: Cortez, 2001

____________. A Importância do Ato de Ler. São Paulo: Autores Associados/Cortez, 1987 ____________. Conscientização:teoria e prática da libertação:uma introdução ao

pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Centauro, 2001

____________.Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987

____________. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000

____________. Política e Educação. 2ed.São Paulo:Cortez, 1995

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MAXIMO, Antonio Carlos. Intelectuais da Educação e Política Partidária: entrevistas

inéditas com Paulo Freire, Demerval Saviani, Selma Garrido Pimenta, José Carlos Libâneo, Moacir Gadotti, Carlos Roberto Jamil Cury, Mário Sérgio Cortella. Brasília: Líber Livro

Editora e EdUFMT, 2008.

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES – CNTE. Teoria Política: uma nova atuação. Fascículo II.

STRECK, Danilo R., REDIN, Euclides, ZITKOSKI,José. Dicionário Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

Referências

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