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Estudo tafonômico em cadáver humano adulto inumado em um cemitério

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Academic year: 2021

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CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (CCB) DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS MORFOLÓGICAS (MOR) LABORATÓRIO DE ANTROPOLOGIA FORENSE (LANFOR)

ESTUDO TAFONÔMICO EM CADÁVER HUMANO ADULTO INUMADO EM UM CEMITÉRIO

Pâmela Stephanie da Silva Fernández

Florianópolis 2019

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ESTUDO TAFONÔMICO EM CADÁVER HUMANO ADULTO INUMADO EM UM CEMITÉRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências Morfológicas, da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Bacharela em Ciências Biológicas.

Orientador: Esp. Leoni Lauricio Fagundes.

Coorientadora: Profª. Drª. Elisa Cristiana Winkelmann Duarte.

Florianópolis 2019

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ESTUDO TAFONÔMICO EM CADÁVER HUMANO ADULTO INUMADO EM UM CEMITÉRIO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de Bacharela em Ciências Biológicas e aprovado em

sua forma final pelo Centro de Ciências Biológicas. Florianópolis, 28 de junho de 2019.

________________________ Prof. Dr. Carlos Roberto Zanetti

Coordenador do Curso Banca Examinadora:

________________________ Esp. Leoni Lauricio Fagundes

Orientador Universidade de Coimbra

________________________

Prof.ª Dr.ª Elisa Cristiana Winkelmann Duarte Coorientadora

Universidade Federal de Santa Catarina

________________________ Prof. Dr. Luiz Fernando Gil Universidade Federal de Santa Catarina

________________________ Fernanda Emidio

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Este trabalho é dedicado a todos que, de alguma forma, apoiaram e estimularam-me a seguir em frente.

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Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, aos meus pais e irmãos. Mãe, obrigada por não ter me deixado desistir. Por insistir, mesmo nos dias mais difíceis, para que eu fosse às aulas, pois era para o meu bem, tu és e sempre será meu porto seguro. Pai, obrigada pelas inúmeras caronas até a UFSC, por me buscar tarde mesmo tendo que trabalhar cedo no dia seguinte e por me incentivar de todas as formas possíveis. Nathasha, tenho que te agradecer por sempre me ajudar, independente do assunto. E me desculpar por nesses últimos dias não ter podido ser tua dupla na canastra. Marcelo, obrigada por me alegrar com tuas piadas idiotas, por olhar para mim e perguntar: "Não vai sair da frente desse computador?". Agora vou, pode ficar sossegado.

Tenho que agradecer também ao meu orientador Esp. Leoni por toda dedicação e ensinamentos ao longo deste trabalho, à minha coorientadora professora Dr.ª Elisa, pela oportunidade de integrar o LANFOR e pelo aprendizado que tive durante esse tempo.

Obrigada professor Dr. Luiz Fernando Gil, Fernanda Emidio e professora Dr.ª Ana Paula Casadei por aceitarem dedicar tempo na avaliação deste trabalho.

Obrigada professora Dr.ª Beatriz de Barros pelo tempo disposto a me ensinar sobre dentes, mesmo sendo uma aluna que nunca tinha preenchido um único odontograma. Toda sua dedicação em me ensinar cada lado de um dente e cada restauração foi de grande valia para meu aprendizado.

Obrigada meninas do LANFOR pelo auxílio na execução desse trabalho.

E por último, preciso agradecer às três pessoas que conheci no início da graduação e que quero levar para toda a vida: Luisa, Elisa e Débora. A amizade de vocês foi essencial para que eu não enlouquecesse nessa universidade. Quantas coisas nós passamos juntas? Coisas que são apenas nossas e que certamente nunca esqueceremos. Só tenho a agradecer vocês por serem pessoas incríveis.

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“Eu, às vezes, duvido de se eu amo a Biologia porque ela é a ciência da vida, ou se eu amo a vida porque ela serve de objeto à Biologia.”

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A antropologia forense vem crescendo ao longo dos últimos anos. Em desastres de massa, como a 2ª Guerra Mundial e os atentados as “Torres Gêmeas”, os antropólogos foram essenciais no processo de identificação humana. Esse processo é importante para que se possa devolver corpos não identificados aos familiares. Para isso, um perfil biológico constituído da análise da ancestralidade, sexo, idade e estatura, junto com fatores individualizantes são estimados. Por fim se compara dados ante e post mortem. Em Santa Catarina, trabalhos de pesquisa que descrevem com maior especificidade as características dos ossos da população brasileira para estimar esses parâmetros ainda são escassos. Este trabalho trata um estudo de caso de um cadáver inumado no Cemitério Municipal do Rio Vermelho em Florianópolis / SC no qual através da exumação e de análises posteriores, foram testadas algumas metodologias para a estimativa do perfil biológico e avaliação dos fatores individualizantes deste indivíduo denominado RV6. Assim, estimou-se um perfil que pode ter tanto ancestralidade europeia como norte e sul americana, sexo masculino, idade entre 30 - 57 anos e estatura entre 164,4 - 181,3 cm. Também foram avaliados fatores individualizantes, dos quais pode se destacar traumatismos encontrados nos membros inferiores, nos ossos do quadril, nas vértebras e no crânio, além de variações anatômicas como a espinha bífida oculta. Mesmo com todas as estimativas realizadas, não foi possível confirmar os resultados, uma vez que não se possuíam dados ante mortem para que se pudesse confrontar. No entanto, com a análise dos traumatismos, este trabalho permitiu realizar uma descrição do que acontece com os ossos de um indivíduo quando ele sofre uma queda vertical.

Palavras-chave: Antropologia forense. Perfil biológico. Fatores individualizantes. Traumatismos.

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Forensic anthropology has been growing over the past few years. In mass disasters, as in the World War II and as in the attacks on the "Twin Towers", anthropologists were essential in the process of human identification. This process is important so that unidentified bodies can be returned to their families. For this, a biological profile consisting of the analysis of ancestry, sex, age and stature, along with the individualizing factors are estimated. Finally, it compares ante and post mortem data. In Santa Catarina, researches that describe with greater specificity the characteristics of the bones of the Brazilian population to estimate these parameters are still scarce. This work is a case study of a corpse buried in the Rio Vermelho Municipal Cemetery in Florianópolis / SC in which, through exhumation and subsequent analyzes, some methodologies were tested for the biological profile estimation and evaluation of individualizing factors of this individual named RV6. Thus, it was estimated a profile that can have as European as North and South American ancestry, male sex, age between 30-57 years old and stature between 164.4-181.3 cm. Individualizing factors were also evaluated, such as trauma in the lower limbs, in the hip bones, in the vertebrae and in the skull, as well as anatomical variations such as spina bifida occulta. Even with all the estimates made, it was not possible to confirm the results, because ante mortem data was not available to be confronted. However, with the analysis of the skeletal trauma, this work allowed to describe what happens in the individual's bones when he suffers a vertical trauma.

Keywords: Forensic anthropology. Biological profile. Individualizing factors. Trauma.

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Figura 1 – Estágio de limpeza dos ossos ... 37

Figura 2 – Ziplock contendo fragmentos ósseos do fêmur e caixa ossuária para o armazenamento dos ossos ... 38

Figura 3 – Desenho esquemático do úmero mostrando os pontos utilizados para a medição ... 42

Figura 4 – Medição do úmero direito na folha quadriculada ... 42

Figura 5 – RV6 durante a exumação ... 45

Figura 6 – Cadáver RV6 em sua posição anatômica ... 47

Figura 7 – Terceiro molar (dente 38) incluso ... 48

Figura 8 – Coroa unitária metálica presente no dente 35 ... 49

Figura 9 – Região entre os dentes 13 e 17 ... 50

Figura 10 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o AncesTrees (2014) ... 51

Figura 11 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o método de Hefner (2009) ... 51

Figura 12 – Região das cabeças dos fêmures fragmentadas na área da análise ... 55

Figura 13 – Estimativa da idade através do método de alterações degenerativas ... 56

Figura 14 – Labiação presente na extremidade esternal da clavícula direita ... 56

Figura 15 – Vértebra C1 (atlas) com espinha bífida oculta ... 57

Figura 16 – Tipos de fraturas ... 58

Figura 17 – Fratura de compressão da coluna vertebral ... 58

Figura 18 – Fratura em livro aberto da cintura pélvica ... 59

Figura 19 – Região do crânio com linhas de fratura e fraturas ... 60

Figura 20 – Costela esquerda fraturada ... 61

Figura 21 – Comparação entre o fêmur esquerdo e direito ... 61

Figura 22 – Linha de propagação da fratura do fêmur para a tíbia ... 62

Figura 23 – Comparação entre a tíbia esquerda e direita ... 62

Figura 24 – Comparação do local da fratura da tíbia e da fíbula ... 63

Figura 25 – Prótese mamária de silicone ... 63

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Quadro 1 – Características presentes em duas ancestralidades ... 52 Quadro 2 – Características da cintura pélvica que não pertencem ao sexo masculino ... 53 Quadro 3 – Características do crânio que não pertencem ao sexo masculino ... 53 Quadro 4 – Medidas realizadas nos ossos longos para determinação do sexo ... 54

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AF – Antropologia Forense

CAAE – Certificado de Apresentação para Apreciação Ética CCB – Centro de Ciências Biológicas

CEPSH – Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos cm – Centímetros

CMU – Comprimento máximo do úmero CV – Cavidade coroa - vestibular

DSP2 – Diagnósticos Sexuais Probabilísticos – versão 2 DNA – Ácido desoxirribonucleico

FNAL – Comprimento do eixo do colo do fêmur FNW – Largura do colo do fêmur

IGP – Instituto Geral de Perícias

LANFOR – Laboratório de Antropologia Forense mm – milímetros

MOD – Cavidade mésio - ocluso - distal MOR – Departamento de Ciências Morfológicas MV – Cavidade mésio - vestibular

OD – Cavidade ocluso - distal

ODL – Cavidade ocluso - distal - lingual RV6 – Rio Vermelho 6

S – Sexo

SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública

Sigpex – Sistema Integrado de Gerenciamento de Projetos de Pesquisa e de Extensão

STAT – Estatura

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1. INTRODUÇÃO ... 25 1.1. CONCEITOS GERAIS DE ANTROPOLOGIA ... 25 1.2. ANTROPOLOGIA FORENSE ... 25 1.2.1. Papel do Antropólogo Forense ... 26 1.2.2. Aspectos Históricos da Antropologia Forense ... 26 1.2.3. Estudos no Brasil ... 27 1.3. PERFIL BIOLÓGICO ... 27 1.3.1. Ancestralidade ... 28 1.3.2. Sexo ... 28 1.3.3. Idade ... 29 1.3.4. Estatura ... 30 1.4. FATORES INDIVIDUALIZANTES ... 30 2. OBJETIVOS ... 33 2.1. OBJETIVO GERAL ... 33 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 33 3. MATERIAL E MÉTODOS ... 35 3.1. AMOSTRA... 35 3.2. COMITÊ DE ÉTICA ... 35 3.3. EXUMAÇÃO ... 36 3.4. LIMPEZA E CATALOGAÇÃO ... 36 3.5. INVENTÁRIO ... 38 3.6. ODONTOGRAMA ... 38 3.7. PERFIL BIOLÓGICO ... 39 3.7.1. Ancestralidade ... 39 3.7.2. Sexo ... 40 3.7.3. Idade ... 41 3.7.4. Estatura ... 41 3.8. FATORES INDIVIDUALIZANTES ... 43 4. RESULTADOS ... 45 4.1. EXUMAÇÃO ... 45 4.2. INVENTÁRIO ... 46 4.3. ODONTOGRAMA ... 47 4.4. PERFIL BIOLÓGICO ... 50 4.4.1. Ancestralidade ... 50 4.4.2. Sexo ... 52 4.4.3. Idade ... 55 4.4.4. Estatura ... 57 4.5. FATORES INDIVIDUALIZANTES ... 57

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5. DISCUSSÃO ... 65 6. CONCLUSÃO ... 71 REFERÊNCIAS ... 73 APÊNDICE A – Inventário Indivíduo RV6 ... 81 APÊNDICE B – Odontograma do Indivíduo RV6 ... 92 APÊNDICE C – Regiões analisadas na cintura pélvica segundo método de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994). ... 93 APÊNDICE D – Regiões analisadas no crânio segundo o método de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994). ... 94 APÊNDICE E – Medidas realizadas em milímetros para o programa AncesTrees (2014) sendo utilizada Oa2. ... 95 APÊNDICE F – Parâmetros analisados para o teste de Hefner (2009). 97 APÊNDICE G – Dados utilizados para o software DSP2 do quadril esquerdo e direito respectivamente. ... 98 APÊNDICE H – Estruturas que apresentam variações anatômicas, traumatismos, intervenções cirúrgicas e outros fatores. ... 100 ANEXO A – Documento relativo ao convênio firmado entre o IGP e a UFSC ... 105 ANEXO B – Características da ancestralidade ... 106

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1. INTRODUÇÃO

1.1. CONCEITOS GERAIS DE ANTROPOLOGIA

Podemos definir antropologia como uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem (sua origem, evolução, etc.) além de seus costumes, crenças e comportamento (NETO, 2010; MICHAELIS, 2018). Ela ainda pode ser dividida em três áreas: antropologia social (cultural), arqueologia e antropologia biológica (física) (SIQUEIRA, 2007).

A antropologia social estuda a cultura da sociedade, que está ligada com o modo como ela organiza sua percepção do mundo. A arqueologia estuda culturas do passado, isto é, os vestígios deixados como utensílios, construções, etc. A antropologia biológica por sua vez, consiste no estudo das relações do homem no espaço e no tempo, analisando a evolução e as modificações genéticas, além de levar em conta os fatores culturais que o moldam fisiológica e morfologicamente (SIQUEIRA, 2007).

1.2. ANTROPOLOGIA FORENSE

A Antropologia Forense (AF) é um ramo da antropologia biológica que estuda a diversidade humana para que, com esse conhecimento, possa-se identificar restos mortais supostamente humanos. Dessa forma, seu objetivo é identificar cadáveres recentes ou restos humanos em estado avançado de decomposição cadavérica (condição esquelética), podendo auxiliar também em casos de pessoas vivas (UBELAKER, 2006; MALGOSA et. al., 2010; UBELAKER, 2014; ALAF, 2016).

Anterior à AF, anatomistas realizavam essa tarefa utilizando, da melhor maneira possível, suas experiências e a pouca técnica disponível em livros didáticos (UBELAKER, 2006). Além disso, a AF preocupa-se com a recuperação dos restos mortais, além de buscar respostas para esclarecer as causas e circunstâncias da morte (caso haja uma atividade criminal), estimar o tempo decorrido desde a morte até o momento que o indivíduo foi encontrado, entre outros. O antropólogo forense possui a análise dos ossos como principal objeto de estudo, porém lida com restos mortais em diferentes estados de decomposição cadavérica (UBELAKER, 2014; CUNHA, 2017). Quando o objeto de estudo é o esqueleto humano, temos a osteologia humana, definida como o estudo anatômico dos ossos (NETO, 2010).

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Na identificação, existem os chamados métodos de identificação primários (datiloscopia, genética forense e odontologia forense) que, por si só, já são suficientes para identificar uma vítima (INTERPOL, 2018). Porém, em situações onde são encontrados apenas fragmentos ósseos, essas técnicas podem ser inutilizáveis, sendo necessário recorrer a métodos secundários, em que os métodos adotados pela AF permitem a identificação desses fragmentos (CUNHA, 2017; CAVALHO, 2018). Não somente casos onde restos mortais são encontrados, mas também desastres de massa e crimes contra a humanidade são atribuídos à AF (CUNHA, 2014).

1.2.1. Papel do Antropólogo Forense

No momento em que se encontra uma ossada, vários profissionais serão necessários para realizar a investigação. O antropólogo forense torna-se importante, já que pode determinar se essa ossada pertence ou não a espécie humana (CUNHA, 2014) e caso pertença, sua identificação se torna necessária por razões sociais, civis, penais e administrativas, como em casos de crime contra a vida (NETO, 2010).

Assim, a AF contribui desde a recuperação dos restos mortais em um determinado cenário forense até sua identificação, passando por etapas como a avaliação do perfil biológico e de fatores de individualização, avaliando e descrevendo variações anatômicas assintomáticas, patologias, traumatismos causados por acidentes e provenientes de crimes (WASTERLAIN, 2000; UBELAKER, 2014). É imprescindível que haja confrontação de dados ante mortem (AM), como radiografias, registros médicos, fotografias, entre outros, feitos em vida, e post mortem (PM) para uma identificação bem-sucedida (AZEVEDO, 2008; UBELAKER, 2014).

1.2.2. Aspectos Históricos da Antropologia Forense

O antropólogo forense se tornou um profissional essencial em uma investigação após o final da 2ª Guerra Mundial. Em um cenário onde havia muitos corpos sem identificação, foi necessário desenvolver técnicas eficientes para poder descobrir a identidade desses indivíduos e assim entregá-los aos familiares. Com isso, houve uma crescente publicação de trabalhos nessa área (AZEVEDO, 2008).

Outro desastre de massa mundialmente conhecido o qual se fez necessário o uso da AF foi o ataque às “Torres Gêmeas” no World Trade Center, no dia 11 de setembro de 2001. Nesse desastre, por conta

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do impacto das aeronaves, da ruína das torres, das altas temperaturas das explosões, da exposição ao clima por um longo período e do peso das máquinas sobre os destroços, os restos mortais se encontravam extremamente fragmentados não sendo possível utilizar os métodos de identificação primários e assim dificultando a identificação. Como não havia uma lista definida de vítimas, foi considerada uma lista aberta podendo ter inúmeras pessoas. Cada fragmento de osso encontrado poderia ser o único remanescente recuperado de um indivíduo, sendo necessária a correta identificação (BUDIMLIJA et. al., 2003).

Um desastre de massa ocorrido no Brasil foi o acidente aéreo da companhia TAM em 2007. Diferentemente da 2ª Guerra Mundial e do ataque às “Torres Gêmeas”, possuía uma lista de vítimas fechada, a de passageiros e de tripulação. Apesar dos corpos encontrarem-se carbonizados, ainda foi possível reconhecer algumas marcas corporais, como tatuagens e cicatrizes, além de objetos pessoais, como aliança e correntes. Outra opção foi o uso de papiloscopia (impressão digital) e em último caso o exame de DNA (SILVÉRIO, 2007).

1.2.3. Estudos no Brasil

Para a análise das características que geram um perfil biológico são necessários dados gerados a partir de perfis conhecidos para comparação. Essa análise é passível de erro quando utilizados dados e metodologias de populações estrangeiras, uma vez que ocorrem miscigenações diferentes em diversas localidades, gerando assim padrões de ossos diferentes devido às condições alimentares, genéticas, socioculturais, dentre outros (ABE, 2000; COSTA 2002; AZEVEDO, 2008; OTTO, 2016).

No Brasil, há poucas metodologias credíveis, uma vez que foi amplamente afetada pelo controle ditatorial. Dessa forma, utilizam-se as testadas em populações estrangeiras (SOARES, 2008; FRANCISCO, 2011).

No entanto, a população brasileira possui um alto índice de miscigenação dificultando a identificação ou gerando perfis incorretos (VANRELL, 2012; OTTO, 2016).

1.3. PERFIL BIOLÓGICO

O perfil biológico é a caracterização de um indivíduo através da avaliação de quatro parâmetros genéricos de identificação sendo eles: ancestralidade, sexo, idade no momento da morte e estatura. Esse perfil

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não é suficiente para dar a identidade a alguém, sendo utilizado como um método de exclusão para reduzir o número de possíveis vítimas ou em uma lista de desaparecidos e dar um direcionamento na investigação (CUNHA, 2014).

1.3.1. Ancestralidade

A ancestralidade é um importante parâmetro a ser analisado no perfil biológico, pois mesmo com a grande miscigenação global onde não se possuem mais linhagens puras, ou seja, grupos populacionais com características especificas, cada grupo populacional apresenta um padrão ósseo próprio (BORBOREMA, 2012; CUNHA, 2014; NAVEGA, 2014). O termo “raça” não é utilizado em antropologia, uma vez que evidências científicas condenam o seu conceito já que todos nós pertencemos à raça humana, utilizado-se afinidade populacional, grupo populacional, entre outros (NAVEGA, 2014).

Através dessa análise, é possível estimar as afinidades populacionais do indivíduo entre três diferentes grupos: europeu, africano e asiático (CUNHA, 2014). Os ossos do crânio, principalmente os que compõem a face, permitem uma melhor estimativa (CUNHA, 2014).

1.3.2. Sexo

Existe diferença entre sexo biológico e gênero, o primeiro é aquele determinado no nascimento, já o segundo corresponde ao modo como a pessoa se vê (GIFFIN, 1991; MOORE, 1997). É importante esclarecer que o que é estimado na antropologia forense é o sexo biológico.

As regiões de inserções musculares nos ossos de indivíduos do sexo feminino tendem a ser mais delicadas, possuindo dimensões proporcionalmente menores, assim como no geral, os ossos masculinos tendem a ser mais robustos (FEREMBACH et. al., 1980; COSTA, 2002).

Para a análise do sexo, é sabido que os ossos do quadril são os mais importantes, apresentando o maior dimorfismo sexual e um padrão semelhante desse dimorfismo em diferentes populações, seguido dos ossos do crânio e dos ossos longos (fêmur, úmero, entre outros) que por sua vez são frequentemente recuperados em contexto forense (FEREMBACH et. al., 1980; CURATE et. al., 2016; BRUZEK et. al.,

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2017). As análises podem ser tanto métricas como não-métricas, sendo a primeira mais objetiva (CUNHA, 2014; BRUZEK et. al., 2017).

Como crianças e jovens não apresentam caracteres sexuais secundários bem desenvolvidos, esses procedimentos de investigação não são utilizados (FEREMBACH et. al., 1980; CUNHA, 2014).

1.3.3. Idade

Para a idade, a estimativa sempre se refere à idade biológica, aquela que o corpo demonstra ter e não a idade cronológica, a que está no registro de nascimento (CUNHA, 2014). Não é possível determinar com exatidão a idade no momento da morte, por este motivo é aplicado um intervalo que atribui idades cronológicas para determinados períodos biológicos (FEREMBACH et. al., 1980).

Quanto mais jovem o indivíduo, menor será o intervalo, pois ainda se encontra em processo de desenvolvimento no qual são identificadas diversas alterações nos ossos em curtos espaços de tempo e os intervalos são bem definidos. À medida que se vai envelhecendo e entrando em uma fase de estabilidade, os intervalos ficam maiores (SILVA et. al., 2008). Além disso, os métodos utilizados para estimar a idade são não-métricos sobretudo, baseados na visualização e em mudanças ósseas relacionadas à idade, o que os tornam subjetivos (FEREMBACH et. al., 1980; KOTEROVÁ et. al., 2018).

Em crianças, essa estimativa é feita principalmente a partir do desenvolvimento e erupção dos dentes (CUNHA, 2014; McCLOE, 2018). Em jovens, é realizada a partir do padrão de fusão entre as epífises e diáfises dos ossos longos (COSTA, 2002; CUNHA, 2014). Para os adultos, esta estimativa torna-se mais complexa, pois não ocorrem mais alterações nos ossos. Por este motivo, utilizam-se outros métodos, como a ossificação completa da crista ilíaca que ocorre por volta dos 22 anos e da extremidade esternal da clavícula aproximadamente aos 30 anos, entre outros (FEREMBACH et. al., 1980; BUIKSTRA e UBELAKER, 1994). Porém, ainda são necessários outros procedimentos para serem usados depois de 30 anos. Dessa forma, começa a se observar alterações degenerativas da face sinfisial do púbis, da face auricular do ílio para o sacro e da extremidade anterior da IV costela (SCHIMITT, 2001; COSTA, 2002; KOTEROVÁ et. al., 2018). No entanto, fatores podem interferir na morfologia dos ossos como o número de partos realizados por uma mulher que pode modificar a face sinfisial do púbis (KOTEROVÁ et. al., 2018).

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1.3.4. Estatura

A estatura é, normalmente, a última das análises do perfil biológico a ser estimada, uma vez que deve levar em conta as descritas anteriormente (CUNHA, 2014; ZHAN, 2018).

É um parâmetro que varia no indivíduo ao longo de um mesmo dia (MENDONÇA, 2000), no entanto, possui uma relação bem definida com o comprimento dos ossos longos (MENDONÇA, 2000; ZHAN, 2018).

Assim como a idade, a estatura não é apresentada como uma medida única, mas em um intervalo (CUNHA, 2014). Para essa estimativa, realizam-se medições nos ossos longos, primeiramente o fêmur, seguido pelo úmero (MENDONÇA, 2000; ZHAN, 2018).

1.4. FATORES INDIVIDUALIZANTES

Todos os indivíduos apresentam características únicas, que os tornam diferentes das demais pessoas. Essas características, conhecidas como fatores de individualização, podem ser encontradas em quase todos os ossos do corpo humano como variações anatômicas assintomáticas, patologias, traumatismos, etc. (AZEVEDO, 2008; VERNA, 2016).

É importante reconhecer a estrutura morfológica dos ossos tida como padrão para que se possam determinar as variações (UBELAKER, 2014). Elas complementam o perfil biológico, sendo compartilhadas por um menor número de pessoas, podendo corresponder a um único indivíduo (VERNA, 2016).

Variações comumente encontradas em uma população podem ser características específicas da localidade em questão, no entanto, quanto mais rara for a variação em uma determinada população, melhor é o seu potencial de individualização desde que se possa confrontar com dados AM (CUNHA, 2014; UBELAKER, 2014; VERNA, 2016).

As intervenções cirúrgicas (próteses, silicones, etc.) também são de suma importância na identificação, visto que para obedecer à legislação, devem conter um número de série único, além do nome da empresa que o está fornecendo. Com esse número, é possível rastreá-lo em bases de dados hospitalares e chegar ao indivíduo em questão (CUNHA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

Um ponto importante na individualização está relacionado à dentição, já que os dentes resistem por mais tempo a decomposição e também suportam temperaturas mais elevadas (AZEVEDO, 2008). No

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entanto, são necessários os prontuários odontológicos (odontogramas) das possíveis vítimas para que se realize uma comparação dos dados AM e PM, confrontando restaurações, extrações, etc.

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2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Acompanhar e realizar a exumação e análises dos restos mortais de um cadáver humano aplicando métodos métricos e não-métricos através da perspectiva da antropologia forense.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS  Realizar a exumação cadavérica;

 Registrar todas as informações relacionadas a exumação na cadeia de custódia;

 Fotografar todas as etapas da exumação;  Limpar os ossos;

 Fazer o inventário e o registro dos ossos;

Avaliar o perfil biológico (ancestralidade, sexo, idade e estatura);

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. AMOSTRA

O material de estudo tratou-se de um cadáver cedido pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) de Santa Catarina para o Laboratório de Antropologia Forense (LANFOR) / Departamento de Ciências Morfológicas (MOR) / Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) por meio de um convênio (Anexo A) para fins de pesquisa.

Por não se encontrar familiares ou esses não terem interesse no corpo, o indivíduo foi inumado no Cemitério Municipal do Rio Vermelho pelo IGP. O cemitério localiza-se na Rodovia João Gualberto Soares, no bairro Rio Vermelho no norte da Ilha de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.

O túmulo, onde o corpo se encontrava inumado, estava localizado na porção oeste do cemitério em relação à entrada, em uma parte reservada aos casos do IGP.

Por ter sido a sexta escavação realizada pelo LANFOR no cemitério do Rio Vermelho, o presente material recebeu a identificação de RV6 (Rio Vermelho 6).

3.2. COMITÊ DE ÉTICA

Por questões humanitárias e éticas, e tratando-se de um trabalho com ser humano, foi necessária a aprovação do comitê de ética. Por pertencer a outro trabalho intitulado “Estudo tafonômico em restos mortais humanos para estimativa do sexo, idade, ancestralidade e estatura através da antropologia forense” coordenado pela Profª. Dra. Elisa Cristiana Winkelmann Duarte (LANFOR / MOR / CCB / UFSC), apenas o trabalho maior necessitou da aprovação. Esse foi aprovado pelo Sigpex (Sistema Integrado de Gerenciamento de Projetos de Pesquisa e de Extensão) onde se encontra com nº 201705324, além de ter sido submetido à Plataforma Brasil e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sobre nº CAAE (Certificado de Apresentação para Apreciação Ética): 77245517.6.0000.0121.

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3.3. EXUMAÇÃO

No Brasil, a exumação é realizada exclusivamente pelo corpo de bombeiros (LESSA 2006; SILVA e CALVO, 2007), entretanto, nesse trabalho foi executada pelo coveiro e pela equipe do LANFOR.

Para a exumação, com o auxílio do coveiro do cemitério e do IGP, foi definido o local exato do corpo. Sabia-se através do IGP que ele havia sido inumado em um caixão. Foi realizado um desenho (croqui) do local, com pontos de referência fixos (poste de luz e muro da lateral esquerda do cemitério) e demonstrando sua posição espacial.

Como toda exumação acaba por destruir a cena encontrada, todas as informações possíveis devem ser coletadas (LESSA, 2006). Por conta disso, todo o processo de exumação foi fotografado e realizou-se um diário de campo para que se registrassem as informações do que ocorreu no local.

O início da retirada da terra se deu com enxadas e pás. Próximo ao caixão, passou-se a utilizar pás de jardinagem para que não houvesse danos ao material biológico. Quando se chegou ao tampo, esse foi retirado e uma pequena amostra foi guardada. Dentro do caixão, utilizaram-se preferencialmente materiais plásticos e de madeira além de pincéis para a retirada de terra em volta dos ossos. Toda a terra retirada de dentro da cova foi peneirada para que não houvesse perdas, como falanges, sesamoides, unhas, etc.

À medida que o cadáver era removido de dentro da cova, ossos pequenos e demais achados foram catalogados descrevendo qual o material, em que região se encontrou e, tratando-se de osso bilateral, a sua lateralidade.

Os ossos e as demais amostras foram depositados em caixas plásticas com 27,5 cm de altura, 26,5 cm de largura e 58,5 cm de comprimento e em seguida, transportados do Cemitério Municipal do Rio Vermelho ao LANFOR / MOR / CCB / UFSC por uma viatura do Instituto Geral de Perícias conduzida por um dos profissionais do próprio IGP.

3.4. LIMPEZA E CATALOGAÇÃO

A limpeza foi realizada no LANFOR / MOR / CCB / UFSC, sendo retirada a terra com pincéis e palitos de madeira. Para a remoção de tecidos moles os restos cadavéricos ficaram expostos sobre uma mesa

(37)

de dissecação durante três meses dentro do Laboratório de Anatomia Humana da Universidade Federal de Santa Catarina. Em nenhum momento, foi utilizado água. O processo foi fotografado (Figura 1), mostrando o estado dos ossos antes (A), durante (B) e após a limpeza (C).

Figura 1 – Estágio de limpeza dos ossos

Úmero esquerdo antes de ocorrer à limpeza com presença de terra e tecidos moles (A). Fêmur esquerdo em processo de limpeza na região fragmentada com o auxílio de um palito de madeira (B). Fragmentos de costelas após a retirada da terra (C). Fonte: Produzido pela autora (2019).

Após a limpeza, os ossos e fragmentos ósseos foram catalogados e armazenados em duas caixas ossuárias, cada uma com 27,5 cm de altura, 26,5 cm de largura e 58,5 cm de comprimento (Figura 2) as quais se encontram na coleção do LANFOR / MOR / CCB / UFSC. Os ossos de grande porte foram colocados diretamente na caixa, enquanto os menores e fragmentos foram colocados em ziplock.

A

B

C

(38)

Figura 2 – Ziplock contendo fragmentos ósseos do fêmur e caixa ossuária para o armazenamento dos ossos

Ziplock contendo fragmentos do fêmur para armazenamento dentro da caixa

ossuária (A). Caixa para ossos onde estão armazenados os ossos e os ziplocks (B). Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

3.5. INVENTÁRIO

A ossada foi exposta e fotografada em sua posição anatômica (ou o mais próximo possível).

Os ossos foram analisados separadamente e descritos em um inventário (Apêndice A) onde se observa quais se encontraram presentes e quais não foram recuperados na exumação. Dentre os presentes, se realizou uma separação entre os que estão completos (inteiros morfologicamente) e os que estão fragmentados (com partes quebradas, lascadas, etc.). Nesse inventário também foram anotadas alterações morfológicas presentes em cada osso e demais observações pertinentes.

3.6. ODONTOGRAMA

Foi realizado um odontograma (Apêndice B) para análise dos dentes onde foram documentadas alterações AM e PM. O documento foi produzido com o auxílio da professora Dra. Beatriz de Barros (Departamento de Odontologia / Centro de Ciências da Saúde / UFSC), uma vez que apenas dentistas podem realizar tal documentação.

Foram anotados quais dentes se encontraram em estado natural (hígido), quais dos presentes possuíam alterações, onde se encontraram fraturas e quais possuíam restaurações e sua classificação.

As restaurações podem ser classificadas dependendo do tipo de cavidade encontrada nos dentes. As cavidades de classe I são preparadas na face oclusal de pré-molares e molares. As de classe II são preparadas nas faces proximais dos pré-molares e molares. Na classe III são nos incisivos e caninos sem que haja remoção do ângulo incisal. Na IV,

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ocorre a remoção do ângulo. Já a V são as cavidades no terço gengival nas faces vestibular e lingual de todos os dentes (MANDARINO et. al., 2003).

3.7. PERFIL BIOLÓGICO

Para a avaliação do perfil biológico (ancestralidade, sexo, idade, estatura) foram realizadas análises métricas e não-métricas nos ossos do crânio, do quadril, ossos longos (fêmur, úmero e rádio) e clavícula testando diferentes tipos de metodologias. Para que os erros intraobservador (entre o próprio observador) e interobservador (entre dois observadores) não interferissem nos resultados, as medidas foram realizadas duas vezes, em dias diferentes pela autora (erro intraobservador) e uma vez pelo orientador Esp. Leoni Lauricio Fagundes (Laboratório de Antropologia Forense / Departamento de Ciências da Vida / Universidade de Coimbra).

Como as medidas não foram discrepantes, utilizaram-se os dados obtidos no segundo dia de observações da autora, pois já havia uma maior experiência na observação.

3.7.1. Ancestralidade

Para a ancestralidade apenas o crânio foi utilizado, sendo realizadas análises métricas e não-métricas.

Para as análises métricas foi utilizado o método de Navega et. al. (2014), no qual realizaram-se as trinta medidas para o programa AncesTrees (disponível em: http://osteomics.com/AncesTrees/). Seus resultados obtidos (em milímetros) foram inseridos no mesmo que, com base em um algoritmo, classifica o indivíduo de acordo com os grupos populacionais selecionados. Nesse caso, os nove grupos disponíveis foram selecionados: norte da Ásia e Ártico, América do Norte e do Sul, Europa, nordeste da África, África Subsaariana, sul da Ásia, Austrália e Melanésia, leste e sudeste da Ásia e Polinésia.

Para as análises não-métricas foram utilizadas duas metodologias. Uma adaptada de Hefner (2009) em que se analisaram todas as características presente na metodologia (http://osteomics.com/hefneR/), gerando assim um percentual de possível ancestralidade dentre europeu, asiático, africano e americano nativo. A outra foi adaptada da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) [s. d.] a qual, de acordo com a morfologia do crânio, avalia a ancestralidade em europeu, asiático e africano (Anexo B).

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3.7.2. Sexo

Para a estimativa do sexo, foram realizadas análises métricas e não-métricas. A primeira nos longos (fêmur, úmero, rádio), a segunda no crânio e ambas nos ossos do quadril.

Quanto aos ossos do quadril, as análises métricas foram baseadas no método de Bruzek et. al. (2017) em que foram realizadas as medidas do software DSP2 (Diagnose Sexuelle Probabiliste v2), e inseridas no sistema que gerou um resultado de sexo baseado na variabilidade mundial. Foram realizadas e testadas às medidas de ambas as lateralidades da cintura pélvica. Também foram realizadas análises não-métricas baseadas nos métodos de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994) em que se observou onze regiões de dimorfismo sexual (Apêndice C).

Para o crânio, foram adaptados os métodos de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994) sendo observadas dez regiões anatômicas que possuem características que diferem morfologicamente entre os sexos (Apêndice D).

Para os ossos longos, foram utilizadas duas metodologias. A primeira foi adaptada de Wasterlain (2000) a qual foram realizadas quatro medidas em milímetros (mm): o diâmetro vertical da cabeça do úmero, a largura biepicondilar do úmero, o diâmetro vertical da cabeça do fêmur e o comprimento máximo do rádio, e comparadas com o ponto de cisão. Caso fossem maiores que esse ponto, o indivíduo seria considerado masculino e, se fossem menores, seria considerado feminino. A segunda foi adaptada de Curate et. al. (2016) em que se realizaram duas medidas: a largura do colo do fêmur (FNW) e o comprimento do eixo do colo do fêmur (FNAL). Após se obter as medidas, essas foram colocadas em uma das fórmulas para o cálculo do valor de S (sexo). A principal fórmula utilizada contém as duas medidas (1), mas caso não se possa realizar uma das medidas, as outras fórmulas devem ser usadas (caso não se tenha a medida FNAL é usada à fórmula “2” e caso não se tenha FNW é usada a “3”). Valores de S negativos referem-se ao sexo feminino e valores positivos ao sexo masculino.

S = -48,587 + (0,279 * FNAL) + (0,737 * FNW) (1)

S = -30,445 + (0,968 * FNW) (2)

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3.7.3. Idade

A idade foi estimada utilizando os métodos de Lovejoy et. al. (1985) que analisa morfologicamente a face auricular do ílio para o sacro e de Brooks e Suchey (1990) que considera a região da face sinfisial do púbis, ambas analisando as alterações degenerativas e gerando fases (oito e seis fases respectivamente), que por sua vez correspondem a um determinado intervalo etário. Também foram observados padrões de ossificação de articulações cartilaginosas adaptando os métodos de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994), onde se observam as regiões da extremidade esternal da clavícula, que ossifica por volta dos 30 anos, a sincondrose esfenoccipital, ossifica até os 25 anos, a crista ilíaca, entre 21 e 24 anos e as linhas transversas do sacro, até os 25 anos. Estas não geram um intervalo, mas permitem dizer se o indivíduo já ultrapassou determinada idade.

3.7.4. Estatura

Para a estimativa da estatura (STAT), através do método métrico adaptado de Mendonça (2000), foi utilizada uma fórmula matemática dependente do sexo (fórmula 1 – feminino; fórmula 2 – masculino) em que foi realizada a medida do comprimento máximo do úmero direito (CMU) em mm, que é desde o ponto mais proximal da cabeça (ponto A) até o ponto mais distal da tróclea (ponto E), tendo o resultado final (STAT) em centímetros (cm) (Figura 3).

STAT = (64,26 + 0,3065 * CMU) +/- 7,70 (1) STAT = (59,41 + 0,3269 * CMU) +/- 8,44 (2)

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Figura 3 – Desenho esquemático do úmero mostrando os pontos utilizados para a medição

Pontos mostrando onde foram realizadas as medidas para o cálculo da estatura. Ponto A mostra a região mais proximal da cabeça e ponto E mostra a região mais distal da tróclea. Fonte: Mendonça (2000).

Para isso, o úmero foi colocado em uma folha quadriculada sobre sua face anterior com a fossa do olécrano para anterior (Figura 4).

Figura 4 – Medição do úmero direito na folha quadriculada

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3.8. FATORES INDIVIDUALIZANTES

Os fatores individualizantes foram classificados em: variações anatômicas assintomáticas ósseas e dentárias, patologias, traumatismos ósseos, intervenções cirúrgicas e outros fatores encontrados (CUNHA, 2014).

Quanto às variações anatômicas, foram analisados padrões considerados morfologicamente diferentes para os ossos, como ossos supranumerários, espinha bífida oculta, vértebras fusionadas, dentes oclusos, etc. (AZEVEDO, 2008; VERNA, 2016).

Quanto aos traumatismos e patologias foram observados os locais onde ocorreram, os tipos e se possuía fratura consolidada (UBELAKER, 2014).

Foi observado se possuía alguma intervenção cirúrgica, como próteses, silicone, pinos, etc. uma vez que são de suma importância devido às normas de utilização (CUNHA, 2014).

Alguns fatores circunstanciais foram observados como: itens encontrados junto ao corpo, cor do esmalte presente nas unhas e adereços encontrados no caixão.

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4. RESULTADOS

4.1. EXUMAÇÃO

A exumação do indivíduo RV6 ocorreu no dia 16 de fevereiro de 2017. O coveiro, previamente ao dia da exumação, removeu aproximadamente 90 cm de terra, deixando somente uns 10 cm acima do caixão. A partir deste nível o restante da areia foi removida pela equipe do LANFOR e toda ela peneirada para evitar a perda de qualquer material.

Após a abertura do caixão (que estava com sua tampa quebrada longitudinalmente) e a remoção da areia acumulada em torno do corpo, foi observado que o RV6 se encontrava em decúbito ventral, além do dorso e toda região posterior estarem cobertas por um saco branco (Figura 5).

Figura 5 – RV6 durante a exumação

Cadáver RV6 dentro do caixão em decúbito ventral e mostrando a presença de um saco branco (setas azuis). Cada quadrado da régua quadriculada que está apontando para o norte representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Ao remover a terra em torno do cadáver e retirar o plástico que o envolvia, verificou-se que ele não se encontrava em condição esquelética de decomposição cadavérica. Algumas regiões do corpo, principalmente a região do tórax e os membros inferiores, ainda

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apresentavam uma quantidade considerável de tecidos moles estando, portanto, este indivíduo em estado de saponificação.

Junto ao cadáver foram encontradas duas próteses de silicones na região do tórax, sendo que uma havia vazado, derramando seu conteúdo sobre o tórax e o abdome. Também foi encontrada uma bolsa pequena com alguns possíveis pertences do RV6 e um pote na região entre o úmero e as costelas.

Todo conteúdo encontrado dentro do túmulo foi removido e coletado: ossos, roupas e demais materiais biológicos (fungos, aranhas, pupários, raízes, entre outros). Também foi coletado amostras de terra da parte inferior do caixão.

4.2. INVENTÁRIO

Na realização do inventário (Apêndice A), o cadáver RV6 foi exposto (Figura 6) e notou-se que estavam ausentes alguns ossos: o lacrimal esquerdo, os ossículos da audição, quatro vértebras torácicas, três vértebras lombares, algumas costelas esquerdas e direitas, uma falange distal da mão direita, o púbis direito, uma falange média e uma distal do pé direito.

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Figura 6 – Cadáver RV6 em sua posição anatômica

Esqueleto RV6 na sua posição anatômica, com todos os ossos e fragmentos ósseos encontrados. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Observou-se que o RV6 tem alguns ossos inteiros (completos) e outros fragmentados em diversas regiões. Fragmentados – oriundos de traumatismos e alterações tafonômicas.

4.3. ODONTOGRAMA

Além do inventário descrito acima, também se realizou um odontograma (Apêndice B), onde foi possível observar que no indivíduo RV6 os dentes 14, 15, 16, 26, 36, 37 e 46 foram extraídos AM, enquanto o 22 pode ter sido extraído peri ou PM, ou seja, durante ou após a morte. O 24 e o 28 foram extraídos durante o manuseio. Os dentes 23, 31, 32, 33, 41, 42 e 43 encontravam-se hígidos, sem nenhuma alteração. O 48 estava ausente. O 38 encontrava-se incluso e impactado, ou seja, não teve sua erupção (Figura 7).

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Figura 7 – Terceiro molar (dente 38) incluso

Seta azul mostrando o dente 38 (terceiro molar) presente no osso da mandíbula, porém sem sua erupção, ficando impactado / incluso. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Os dentes 24, 28, 45 e 47 continham restauração de classe I com resina composta. O 24 e o 25 apresentaram fratura na parede vestibular e o 47 fratura vertical entre as paredes vestibular e mesial, os dentes 11, 21, e 23 mostraram linhas de fratura na parede palatina, o alvéolo do 22 linha de fratura nas paredes palatina e distal. O 28 possuía cavidade de classe II na face mesial. Os dentes que apresentaram restauração de classe II são: o 18 (cavidade mésio-ocluso-distal), o 25 (ocluso-distal), o 27 (cavidade mésio-ocluso-distal) com perda de material restaurador na face distal e o 44 (ocluso-distal), todos com resina composta. O 12 mostrou preparo de classe IV na face mesial, o 34 preparo de classe II (ocluso-distal-lingual), ambos sem a presença de material restaurador. O 21 e o 22 indicaram restauração de classe IV (mésio-vestibular) e V (coroa-vestibular) respectivamente, ambos de resina composta e o 11 e o 35 pussuíam coroa unitária, a primeira metaloplástica e a segunda metálica (Figura 8).

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Figura 8 – Coroa unitária metálica presente no dente 35

Seta azul mostrando estrutura metálica que substituiu o dente 35. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Os dentes 13 e 17 apresentaram coroa pilar de prótese parcial fixa, no qual se insere uma infraestrutura metálica com cobertura estética de cerâmica substituindo os dentes 14 e 15 (Figura 9).

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Figura 9 – Região entre os dentes 13 e 17

Visualização do dente 17 (seta azul) e o dente 13 (seta cinza), entre eles existe uma infraestrutura metálica com cobertura estética de cerâmica. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Os dentes 31, 32, 33, 41, 42 e 43 possuíam facetas de desgaste incisal.

4.4. PERFIL BIOLÓGICO 4.4.1. Ancestralidade

Com os dados obtidos a partir do método métrico de Navega et. al. (2014) no qual utilizou-se do programa AncesTrees inserindo medidas craniométricas (Apêndice E), o indivíduo RV6 tem 57,8% de probabilidade de pertencer ao grupo norte e sul americano e probabilidade de 42,2% de pertencer ao grupo europeu (Figura 10).

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Figura 10 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o AncesTrees (2014)

Gráfico representando a porcentagem das possíveis ancestralidades, sendo observado que, em ordem de maior probabilidade temos norte e sul americano com 57,8 % e europeu com 42,2%. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Na análise não-métrica que utilizou a metodologia adaptada de Hefner (2009) sob a qual se analisaram características morfológicas do crânio (Apêndice F), o resultado mostrou que há uma maior probabilidade do indivíduo RV6 pertencer ao grupo populacional dos europeus, tendo 69,4%. Possui também 28,7% de chance de pertencer ao grupo Nativo Americano, 1,3% de pertencer ao grupo Asiático e 0,6% de pertencer ao Africano (Figura 11).

Figura 11 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o método de Hefner (2009)

Gráfico representando a porcentagem das possíveis ancestralidades, sendo observado que, em ordem de maior probabilidade temos europeu com 69,4%, nativo americano com 28,7%, asiático com 1,3% e africano com 0,6%. Fonte: Adaptado de <http://osteomics.com/hefneR/> (2019).

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A estimativa obtida pelo método da SENASP [s. d.] também resultou em uma provável ancestralidade europeia. Das 16 características observáveis, uma não pode ser analisada (tubérculo de Carabelli) devido à prótese dentária. As demais foram definidas como europeias, dentre os grupos europeu, asiático e africano. Em apenas quatro características outra ancestralidade foi marcada. Entretanto em conjunto com a europeia (Quadro 1).

Quadro 1 – Características presentes em duas ancestralidades

Característica Forma Ancestralidade

Depressão pós-bregmática Ausente Europeu e Asiático Contorno dos ossos nasais Angulares entre si Europeu e Asiático Largura facial Estreita Europeu e Africano Forma dos incisivos Em espátula Europeu e Africano Características comuns a mais de um grupo, que foram notadas no crânio do RV6. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Assim, para a análise métrica, o indivíduo RV6 pode pertencer ao grupo populacional americano e para as não-métricas a possível ancestralidade ficou definida como pertencente ao grupo europeu.

4.4.2. Sexo

Para a estimativa do sexo, utilizando-se o software DSP2, analisaram-se de forma métrica os ossos do quadril (Apêndice G). No lado esquerdo, devido à fragmentação dos ossos foram realizadas somente quatro das dez medidas, sendo o sexo estimado, o masculino com 98,9% de probabilidade. No lado direito, foram obtidos, de oito medidas 98,6% de probabilidade de também pertencer ao sexo masculino.

Na análise não-métrica dos ossos do quadril segundo o método adaptado de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994), das 11 características analisadas (Apêndice C), apenas duas não pertenceram ao sexo masculino (Quadro 2).

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Quadro 2 – Características da cintura pélvica que não pertencem ao sexo masculino

Região anatômica Resultado

Incisura isquiática maior Indeterminado

Forame obturado Feminino

A incisura isquiática maior foi definida como indeterminado, pois apresenta características que se aproximam tanto do sexo masculino como feminino. O forame obturado apresenta uma característica feminina, com estrutura triangular. Fonte: Produzido pela autora (2019).

A análise do crânio resultou em uma estimativa do sexo masculino, no método não-métrico adaptado de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994), no qual, das dez características observadas, duas pertenciam ao sexo feminino (Quadro 3).

Quadro 3 – Características do crânio que não pertencem ao sexo masculino

Região anatômica Características

Arcos zigomáticos Gráceis e baixos Protuberância mentual Pequeno, redondo e discreto Fonte: Produzido pela autora (2019).

Com os ossos longos, a estimativa do sexo também resultou no sexo masculino. Na metodologia adaptada de Wasterlain (2000), as medidas realizadas no úmero, fêmur e rádio indicaram uma probabilidade de aproximadamente 100% de ser masculino (Quadro 4).

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Quadro 4 – Medidas realizadas nos ossos longos para determinação do sexo Medidas Resultados (mm) Ponto de cisão (mm) Conclusão Diâmetro vertical da cabeça do úmero 47,88 42,36 Masculino Largura biepicondilar do úmero 59,01 56,63 Masculino Diâmetro vertical da cabeça do fêmur 51,07 43,23 Masculino Comprimento

máximo do rádio 260 222,77 Masculino

Os valores acima do ponto de cisão são considerados masculinos. Todos os resultados obtidos são superiores ao ponto de cisão, sendo desta forma todas as medidas consideradas masculinas. Fonte: Adaptado de Wasterlain (2000).

Na metodologia de Curate et.al. (2016), o comprimento do eixo do colo do fêmur (FNAL) não pode ser calculado devido à região estar fragmentada (Figura 12). Por isso, foi utilizada a fórmula que contém apenas a largura do colo do fêmur (FNW). Essa medida foi de 38,38 mm, que ao ser inserido na fórmula S = -30,445 + (0,968 * FNW) chegou-se ao valor de 6,7 e por ser um valor positivo foi estimado como masculino com cerca de 100% de probabilidade.

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Figura 12 – Região das cabeças dos fêmures fragmentadas na área da análise

As setas azuis apontam para as regiões que servem para a realização da medida FNAL, mostrando que se encontram fragmentadas em ambos os fêmures. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Assim, estimou-se que o indivíduo RV6 pertence ao sexo biológico masculino.

4.4.3. Idade

Utilizando os métodos de Lovejoy et. al. (1985) e Brooks e Suchey (1990) de alterações degenerativas, foi possível gerar uma fase, correspondente a um intervalo de idade.

Para o primeiro foi definido que a face auricular do ílio para o sacro apresentava características que representavam as fases quatro e cinco, enquanto, que para o segundo, a face sinfisial do púbis representava a fase quatro, que compreendem de 35 a 44 anos e 23 a 57 anos respectivamente (Figura 13).

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Figura 13 – Estimativa da idade através do método de alterações degenerativas

Na faixa branca (contorno pontilhado), o método de Lovejoy et. al. está sendo representado mostrando o intervalo etário de 35 a 44 anos. Na faixa cinza (contorno contínuo), o método de Books e Suchey corresponde ao intervalo de 23 a 57 anos. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Pelo padrão de ossificação de articulações foi possível observar que o indivíduo possuía mais de 25 anos, uma vez que a sincondrose esfenoccipital e a crista ilíaca se encontraram com ossificação completa. Apesar da extremidade esternal da clavícula se encontrar fragmentada, foi possível observar que ocorre labiação (um crescimento excessivo na borda dos ossos que se projeta em direção as margens), um indicativo que o indivíduo já passou dos 30 anos, momento em que ocorre a ossificação dessa região (Figura 14).

Figura 14 – Labiação presente na extremidade esternal da clavícula direita

Seta azul mostrando a labiação na extremidade esternal da clavícula direita na região inferior. Mesmo fragmentada foi possível notar que já ocorreu ossificação e assim pode ocorrer a labiação. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

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Desse modo, o indivíduo RV6 encontrou-se em uma faixa etária de 30 a 57 anos.

4.4.4. Estatura

O comprimento máximo do úmero (CMU) foi de 347 mm. Como o RV6 foi estimado pertencendo ao sexo masculino, a fórmula utilizada para calcular a estimativa da estatura através do método de Mendonça (2000) foi STAT = (59,41 + 0,3269 * CMU) +/- 8,44.

Assim, o resultado foi de uma estatura estimada entre 164,4 cm e 181,3 cm.

4.5. FATORES INDIVIDUALIZANTES

O indivíduo RV6 apresentou três ossos com variações anatômicas, a vértebra C1 (atlas), a escápula esquerda e a mandíbula. No atlas foi observado que o indivíduo possuía espinha bífida oculta, onde o arco posterior estava incompleto (Figura 15). Na escápula esquerda foi observada incisura da escápula. Na mandíbula, o terceiro molar do lado esquerdo (dente 38) estava incluso no osso, porém visível, enquanto o direito (dente 48) estava ausente, podendo não ter se desenvolvido ou se encontrar incluso no osso de forma a não ser visto ou ainda ter sido extraído.

Figura 15 – Vértebra C1 (atlas) com espinha bífida oculta

Espinha bífida oculta na região do arco posterior. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

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Quanto aos traumatismos, o RV6 apresentou algumas fraturas, dentre consolidadas, oblíquas, cominutivas, de avulsão (Figura 16), de compressão (Figura 17) e de livro aberto (Figura 18).

Figura 16 – Tipos de fraturas

Esquema mostrando os tipos de fraturas ósseas que podem ser encontradas em um indivíduo. Fonte: Adaptado de:

<https://pt.slideshare.net/ChandraKolleen/power-pointchan> (2019).

Figura 17 – Fratura de compressão da coluna vertebral

Coluna vertebral com fratura de compressão, que consiste em um achatamento dos corpos vertebrais. Fonte: <https://www.colunasp.com.br/problemas-comuns/fratura-da-coluna.html> (Acesso em: 10/06/2019).

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Figura 18 – Fratura em livro aberto da cintura pélvica

Cintura pélvica com fratura do tipo livro aberto em que os tendões musculares e ligamentos acabam por fraturar o púbis (seta azul) e a face auricular do ílio (seta cinza). Fonte: Produzido pela autora (2019).

Também apresentou linhas de fratura por irradiação. Foi possível observar no crânio uma fratura de avulsão no arco zigomático esquerdo que pode ter resultado na abertura das suturas frontozigomática e zigomaticomaxilar além de causar as linhas de fratura presentes nos ossos temporal e esfenoide. Na maxila esquerda, também foi possível observar fraturas e linhas de fraturas (Figura 19).

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Figura 19 – Região do crânio com linhas de fratura e fraturas

Vista lateral do crânio, mostrando o lado esquerdo. Linhas de fraturas presentes nos ossos temporal e esfenoide (seta azul), fratura de avulsão no arco zigomático (seta cinza) e fratura na maxila (seta amarela). Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

A clavícula esquerda apresentou um calo ósseo na região próxima a extremidade esternal e a fíbula esquerda uma fratura consolidada na região da diáfise.

O V metacarpo esquerdo e a ulna esquerda apresentaram fratura oblíqua na região da diáfise, sendo o primeiro próximo à epífise proximal e o segundo próximo à epífise distal, onde também ocorreu a fratura da cabeça da ulna.

Uma das costelas esquerdas apresentou fratura incompleta no corpo com ruptura na parte interna (Figura 20).

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Figura 20 – Costela esquerda fraturada

Costela esquerda fraturada na região interna sem rompimento completo. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

O fêmur esquerdo apresentou uma fratura cominutiva na região proximal da diáfise, onde foi possível observar que uma parte do osso foi perdida (Figura 21).

Figura 21 – Comparação entre o fêmur esquerdo e direito

Acima – fêmur esquerdo com fratura cominutiva; abaixo – fêmur direito com fratura oblíqua. É possível observar que no fêmur esquerdo houve perda de material ósseo. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

O fêmur direito apresentou uma fratura oblíqua na região entre a epífise proximal e a diáfise. Também uma linha de fratura no côndilo lateral, além de uma fratura no côndilo medial que segue para o côndilo

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medial da tíbia (Figura 22). Na tíbia, além da fratura no côndilo medial, tinha uma fratura cominutiva na região da diáfise (Figura 23). Foi possível observar que a fratura oblíqua da fíbula direita foi na altura da fratura da tíbia (Figura 24). O V metatarso direito também apresentou fratura oblíqua.

Figura 22 – Linha de propagação da fratura do fêmur para a tíbia

A seta azul indica o côndilo medial da tíbia direita e a seta cinza o côndilo medial do fêmur direito. A linha de fratura segue do côndilo medial do fêmur em direção ao côndilo medial da tíbia, no mesmo seguimento. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Figura 23 – Comparação entre a tíbia esquerda e direita

Acima – tíbia esquerda em tamanho real; abaixo – tíbia direita com fratura cominutiva. É possível observar que na tíbia direita houve perda de material ósseo. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

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Figura 24 – Comparação do local da fratura da tíbia e da fíbula

Linha de fratura segue da tíbia direita para a fíbula direita na mesma altura dos ossos. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Foi possível observar que o RV6 apresentou intervenções cirúrgicas odontológicas, tanto na maxila como na mandíbula observadas no odontograma (Apêndice B).

Outra intervenção cirúrgica foi a presença de próteses mamária de silicone (Figura 25). Nela, foi possível identificar a empresa responsável, mas não o número de série.

Figura 25 – Prótese mamária de silicone

Prótese de silicone, uma se encontrava interia (acima) e a outra acabou rompendo, porém foi possível recuperar sua estrutura. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

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Alguns materiais foram encontrados junto ao caixão (Figura 26), como as unhas dos membros superiores onde foi possível observar a presença de esmalte (A), um saco com chaves de caixão (B) e um pote plástico entre o úmero e as costelas (C) que continha uma pulseira (D).

Figura 26 – Materiais encontrados dentro do caixão

Unhas das mãos com esmalte presente na cor rosa, um pouco desbotado para laranja (A). Chaves de caixão presentes dentro do saco que se encontrava no interior do caixão (B). Pote encontrado entre o úmero e as costelas (C). Pulseira de prata que se encontrava dentro do pote plástico (D). Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

A

B

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5. DISCUSSÃO

Traçar um perfil biológico e conhecer os padrões ósseos de uma população são de suma importância para a antropologia forense, pois, desse modo, auxiliam na identificação de cadáveres encontrados (UBERLAKER, 2014).

A coleta apropriada do material durante uma escavação é um fator de extrema relevância, uma vez que cada fragmento ósseo, objeto ou vestimenta encontrada pode ser um fator crucial no processo de identificação (LESSA, 2006). Para isso, o planejamento de uma equipe completa se faz necessária, pois além da exumação do corpo é importante realizar uma cadeia de custódia e fotografias. Segundo Silva et. al. (2012) e Silva (2015) para uma exumação correta é necessário seguir as técnicas da arqueologia, pelas quais é essencial uma equipe multidisciplinar e experiente. No caso do RV6 a exumação foi realizada somente com uma equipe de três pessoas que ainda não possuíam experiência suficiente e, por esse motivo, o registro fotográfico e a descrição da cadeia de custódia ficaram prejudicados.

O cadáver RV6 possuía algumas peculiaridades que nos levaram a questionar o estado em que o mesmo se encontrava no momento da exumação. Primeiramente, o indivíduo estava envolto por um saco plástico e outro fator interessante é que o mesmo foi inumado em decúbito ventral.

Segundo Pakosh e Rogers (2009) e Cravo (2015) a decomposição ocorre de forma mais lenta quando o cadáver está envolto por tecidos ou sacos plásticos. O cadáver RV6 estava envolto em saco plástico, um dos motivos pelo qual foi encontrado tecido mole. Isso pode ocorrer, dentre outras coisas, pela queda da ação microbiana e pela ausência de oxigênio, ambos importantes no processo de decomposição.

De acordo com Cravo (2015) um indivíduo que se encontra em decúbito ventral possui mais propensão a ter costelas fraturadas devido à pressão que o corpo e a terra fazem nas mesmas. No caso do RV6, essa foi, provavelmente, a principal causa para as costelas (retiradas durante a exumação) estarem completamente fragmentadas não somente em um único local.

Ainda segundo Cravo (2015), os ossos começam a degradar devido à temperatura, precipitação, pH, tipo de solo, podendo surgir fissuras, fraturas e até dissolução. Isso se tornou perceptível no presente trabalho, em que alguns ossos se encontraram fragmentados por conta de fraturas provenientes de traumatismos e outros por conta de decomposição óssea.

Referências

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