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3. MATERIAL E MÉTODOS

4.4. PERFIL BIOLÓGICO 1 Ancestralidade

Com os dados obtidos a partir do método métrico de Navega et. al. (2014) no qual utilizou-se do programa AncesTrees inserindo medidas craniométricas (Apêndice E), o indivíduo RV6 tem 57,8% de probabilidade de pertencer ao grupo norte e sul americano e probabilidade de 42,2% de pertencer ao grupo europeu (Figura 10).

Figura 10 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o AncesTrees (2014)

Gráfico representando a porcentagem das possíveis ancestralidades, sendo observado que, em ordem de maior probabilidade temos norte e sul americano com 57,8 % e europeu com 42,2%. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Na análise não-métrica que utilizou a metodologia adaptada de Hefner (2009) sob a qual se analisaram características morfológicas do crânio (Apêndice F), o resultado mostrou que há uma maior probabilidade do indivíduo RV6 pertencer ao grupo populacional dos europeus, tendo 69,4%. Possui também 28,7% de chance de pertencer ao grupo Nativo Americano, 1,3% de pertencer ao grupo Asiático e 0,6% de pertencer ao Africano (Figura 11).

Figura 11 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o método de Hefner (2009)

Gráfico representando a porcentagem das possíveis ancestralidades, sendo observado que, em ordem de maior probabilidade temos europeu com 69,4%, nativo americano com 28,7%, asiático com 1,3% e africano com 0,6%. Fonte: Adaptado de <http://osteomics.com/hefneR/> (2019).

A estimativa obtida pelo método da SENASP [s. d.] também resultou em uma provável ancestralidade europeia. Das 16 características observáveis, uma não pode ser analisada (tubérculo de Carabelli) devido à prótese dentária. As demais foram definidas como europeias, dentre os grupos europeu, asiático e africano. Em apenas quatro características outra ancestralidade foi marcada. Entretanto em conjunto com a europeia (Quadro 1).

Quadro 1 – Características presentes em duas ancestralidades

Característica Forma Ancestralidade

Depressão pós-bregmática Ausente Europeu e Asiático Contorno dos ossos nasais Angulares entre si Europeu e Asiático Largura facial Estreita Europeu e Africano Forma dos incisivos Em espátula Europeu e Africano Características comuns a mais de um grupo, que foram notadas no crânio do RV6. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Assim, para a análise métrica, o indivíduo RV6 pode pertencer ao grupo populacional americano e para as não-métricas a possível ancestralidade ficou definida como pertencente ao grupo europeu.

4.4.2. Sexo

Para a estimativa do sexo, utilizando-se o software DSP2, analisaram-se de forma métrica os ossos do quadril (Apêndice G). No lado esquerdo, devido à fragmentação dos ossos foram realizadas somente quatro das dez medidas, sendo o sexo estimado, o masculino com 98,9% de probabilidade. No lado direito, foram obtidos, de oito medidas 98,6% de probabilidade de também pertencer ao sexo masculino.

Na análise não-métrica dos ossos do quadril segundo o método adaptado de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994), das 11 características analisadas (Apêndice C), apenas duas não pertenceram ao sexo masculino (Quadro 2).

Quadro 2 – Características da cintura pélvica que não pertencem ao sexo masculino

Região anatômica Resultado

Incisura isquiática maior Indeterminado

Forame obturado Feminino

A incisura isquiática maior foi definida como indeterminado, pois apresenta características que se aproximam tanto do sexo masculino como feminino. O forame obturado apresenta uma característica feminina, com estrutura triangular. Fonte: Produzido pela autora (2019).

A análise do crânio resultou em uma estimativa do sexo masculino, no método não-métrico adaptado de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994), no qual, das dez características observadas, duas pertenciam ao sexo feminino (Quadro 3).

Quadro 3 – Características do crânio que não pertencem ao sexo masculino

Região anatômica Características

Arcos zigomáticos Gráceis e baixos Protuberância mentual Pequeno, redondo e discreto Fonte: Produzido pela autora (2019).

Com os ossos longos, a estimativa do sexo também resultou no sexo masculino. Na metodologia adaptada de Wasterlain (2000), as medidas realizadas no úmero, fêmur e rádio indicaram uma probabilidade de aproximadamente 100% de ser masculino (Quadro 4).

Quadro 4 – Medidas realizadas nos ossos longos para determinação do sexo Medidas Resultados (mm) Ponto de cisão (mm) Conclusão Diâmetro vertical da cabeça do úmero 47,88 42,36 Masculino Largura biepicondilar do úmero 59,01 56,63 Masculino Diâmetro vertical da cabeça do fêmur 51,07 43,23 Masculino Comprimento

máximo do rádio 260 222,77 Masculino

Os valores acima do ponto de cisão são considerados masculinos. Todos os resultados obtidos são superiores ao ponto de cisão, sendo desta forma todas as medidas consideradas masculinas. Fonte: Adaptado de Wasterlain (2000).

Na metodologia de Curate et.al. (2016), o comprimento do eixo do colo do fêmur (FNAL) não pode ser calculado devido à região estar fragmentada (Figura 12). Por isso, foi utilizada a fórmula que contém apenas a largura do colo do fêmur (FNW). Essa medida foi de 38,38 mm, que ao ser inserido na fórmula S = -30,445 + (0,968 * FNW) chegou-se ao valor de 6,7 e por ser um valor positivo foi estimado como masculino com cerca de 100% de probabilidade.

Figura 12 – Região das cabeças dos fêmures fragmentadas na área da análise

As setas azuis apontam para as regiões que servem para a realização da medida FNAL, mostrando que se encontram fragmentadas em ambos os fêmures. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Assim, estimou-se que o indivíduo RV6 pertence ao sexo biológico masculino.

4.4.3. Idade

Utilizando os métodos de Lovejoy et. al. (1985) e Brooks e Suchey (1990) de alterações degenerativas, foi possível gerar uma fase, correspondente a um intervalo de idade.

Para o primeiro foi definido que a face auricular do ílio para o sacro apresentava características que representavam as fases quatro e cinco, enquanto, que para o segundo, a face sinfisial do púbis representava a fase quatro, que compreendem de 35 a 44 anos e 23 a 57 anos respectivamente (Figura 13).

Figura 13 – Estimativa da idade através do método de alterações degenerativas

Na faixa branca (contorno pontilhado), o método de Lovejoy et. al. está sendo representado mostrando o intervalo etário de 35 a 44 anos. Na faixa cinza (contorno contínuo), o método de Books e Suchey corresponde ao intervalo de 23 a 57 anos. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Pelo padrão de ossificação de articulações foi possível observar que o indivíduo possuía mais de 25 anos, uma vez que a sincondrose esfenoccipital e a crista ilíaca se encontraram com ossificação completa. Apesar da extremidade esternal da clavícula se encontrar fragmentada, foi possível observar que ocorre labiação (um crescimento excessivo na borda dos ossos que se projeta em direção as margens), um indicativo que o indivíduo já passou dos 30 anos, momento em que ocorre a ossificação dessa região (Figura 14).

Figura 14 – Labiação presente na extremidade esternal da clavícula direita

Seta azul mostrando a labiação na extremidade esternal da clavícula direita na região inferior. Mesmo fragmentada foi possível notar que já ocorreu ossificação e assim pode ocorrer a labiação. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Desse modo, o indivíduo RV6 encontrou-se em uma faixa etária de 30 a 57 anos.

4.4.4. Estatura

O comprimento máximo do úmero (CMU) foi de 347 mm. Como o RV6 foi estimado pertencendo ao sexo masculino, a fórmula utilizada para calcular a estimativa da estatura através do método de Mendonça (2000) foi STAT = (59,41 + 0,3269 * CMU) +/- 8,44.

Assim, o resultado foi de uma estatura estimada entre 164,4 cm e 181,3 cm.

4.5. FATORES INDIVIDUALIZANTES

O indivíduo RV6 apresentou três ossos com variações anatômicas, a vértebra C1 (atlas), a escápula esquerda e a mandíbula. No atlas foi observado que o indivíduo possuía espinha bífida oculta, onde o arco posterior estava incompleto (Figura 15). Na escápula esquerda foi observada incisura da escápula. Na mandíbula, o terceiro molar do lado esquerdo (dente 38) estava incluso no osso, porém visível, enquanto o direito (dente 48) estava ausente, podendo não ter se desenvolvido ou se encontrar incluso no osso de forma a não ser visto ou ainda ter sido extraído.

Figura 15 – Vértebra C1 (atlas) com espinha bífida oculta

Espinha bífida oculta na região do arco posterior. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Quanto aos traumatismos, o RV6 apresentou algumas fraturas, dentre consolidadas, oblíquas, cominutivas, de avulsão (Figura 16), de compressão (Figura 17) e de livro aberto (Figura 18).

Figura 16 – Tipos de fraturas

Esquema mostrando os tipos de fraturas ósseas que podem ser encontradas em um indivíduo. Fonte: Adaptado de:

<https://pt.slideshare.net/ChandraKolleen/power-pointchan> (2019).

Figura 17 – Fratura de compressão da coluna vertebral

Coluna vertebral com fratura de compressão, que consiste em um achatamento dos corpos vertebrais. Fonte: <https://www.colunasp.com.br/problemas- comuns/fratura-da-coluna.html> (Acesso em: 10/06/2019).

Figura 18 – Fratura em livro aberto da cintura pélvica

Cintura pélvica com fratura do tipo livro aberto em que os tendões musculares e ligamentos acabam por fraturar o púbis (seta azul) e a face auricular do ílio (seta cinza). Fonte: Produzido pela autora (2019).

Também apresentou linhas de fratura por irradiação. Foi possível observar no crânio uma fratura de avulsão no arco zigomático esquerdo que pode ter resultado na abertura das suturas frontozigomática e zigomaticomaxilar além de causar as linhas de fratura presentes nos ossos temporal e esfenoide. Na maxila esquerda, também foi possível observar fraturas e linhas de fraturas (Figura 19).

Figura 19 – Região do crânio com linhas de fratura e fraturas

Vista lateral do crânio, mostrando o lado esquerdo. Linhas de fraturas presentes nos ossos temporal e esfenoide (seta azul), fratura de avulsão no arco zigomático (seta cinza) e fratura na maxila (seta amarela). Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

A clavícula esquerda apresentou um calo ósseo na região próxima a extremidade esternal e a fíbula esquerda uma fratura consolidada na região da diáfise.

O V metacarpo esquerdo e a ulna esquerda apresentaram fratura oblíqua na região da diáfise, sendo o primeiro próximo à epífise proximal e o segundo próximo à epífise distal, onde também ocorreu a fratura da cabeça da ulna.

Uma das costelas esquerdas apresentou fratura incompleta no corpo com ruptura na parte interna (Figura 20).

Figura 20 – Costela esquerda fraturada

Costela esquerda fraturada na região interna sem rompimento completo. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

O fêmur esquerdo apresentou uma fratura cominutiva na região proximal da diáfise, onde foi possível observar que uma parte do osso foi perdida (Figura 21).

Figura 21 – Comparação entre o fêmur esquerdo e direito

Acima – fêmur esquerdo com fratura cominutiva; abaixo – fêmur direito com fratura oblíqua. É possível observar que no fêmur esquerdo houve perda de material ósseo. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

O fêmur direito apresentou uma fratura oblíqua na região entre a epífise proximal e a diáfise. Também uma linha de fratura no côndilo lateral, além de uma fratura no côndilo medial que segue para o côndilo

medial da tíbia (Figura 22). Na tíbia, além da fratura no côndilo medial, tinha uma fratura cominutiva na região da diáfise (Figura 23). Foi possível observar que a fratura oblíqua da fíbula direita foi na altura da fratura da tíbia (Figura 24). O V metatarso direito também apresentou fratura oblíqua.

Figura 22 – Linha de propagação da fratura do fêmur para a tíbia

A seta azul indica o côndilo medial da tíbia direita e a seta cinza o côndilo medial do fêmur direito. A linha de fratura segue do côndilo medial do fêmur em direção ao côndilo medial da tíbia, no mesmo seguimento. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Figura 23 – Comparação entre a tíbia esquerda e direita

Acima – tíbia esquerda em tamanho real; abaixo – tíbia direita com fratura cominutiva. É possível observar que na tíbia direita houve perda de material ósseo. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Figura 24 – Comparação do local da fratura da tíbia e da fíbula

Linha de fratura segue da tíbia direita para a fíbula direita na mesma altura dos ossos. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Foi possível observar que o RV6 apresentou intervenções cirúrgicas odontológicas, tanto na maxila como na mandíbula observadas no odontograma (Apêndice B).

Outra intervenção cirúrgica foi a presença de próteses mamária de silicone (Figura 25). Nela, foi possível identificar a empresa responsável, mas não o número de série.

Figura 25 – Prótese mamária de silicone

Prótese de silicone, uma se encontrava interia (acima) e a outra acabou rompendo, porém foi possível recuperar sua estrutura. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Alguns materiais foram encontrados junto ao caixão (Figura 26), como as unhas dos membros superiores onde foi possível observar a presença de esmalte (A), um saco com chaves de caixão (B) e um pote plástico entre o úmero e as costelas (C) que continha uma pulseira (D).

Figura 26 – Materiais encontrados dentro do caixão

Unhas das mãos com esmalte presente na cor rosa, um pouco desbotado para laranja (A). Chaves de caixão presentes dentro do saco que se encontrava no interior do caixão (B). Pote encontrado entre o úmero e as costelas (C). Pulseira de prata que se encontrava dentro do pote plástico (D). Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

A

B

5. DISCUSSÃO

Traçar um perfil biológico e conhecer os padrões ósseos de uma população são de suma importância para a antropologia forense, pois, desse modo, auxiliam na identificação de cadáveres encontrados (UBERLAKER, 2014).

A coleta apropriada do material durante uma escavação é um fator de extrema relevância, uma vez que cada fragmento ósseo, objeto ou vestimenta encontrada pode ser um fator crucial no processo de identificação (LESSA, 2006). Para isso, o planejamento de uma equipe completa se faz necessária, pois além da exumação do corpo é importante realizar uma cadeia de custódia e fotografias. Segundo Silva et. al. (2012) e Silva (2015) para uma exumação correta é necessário seguir as técnicas da arqueologia, pelas quais é essencial uma equipe multidisciplinar e experiente. No caso do RV6 a exumação foi realizada somente com uma equipe de três pessoas que ainda não possuíam experiência suficiente e, por esse motivo, o registro fotográfico e a descrição da cadeia de custódia ficaram prejudicados.

O cadáver RV6 possuía algumas peculiaridades que nos levaram a questionar o estado em que o mesmo se encontrava no momento da exumação. Primeiramente, o indivíduo estava envolto por um saco plástico e outro fator interessante é que o mesmo foi inumado em decúbito ventral.

Segundo Pakosh e Rogers (2009) e Cravo (2015) a decomposição ocorre de forma mais lenta quando o cadáver está envolto por tecidos ou sacos plásticos. O cadáver RV6 estava envolto em saco plástico, um dos motivos pelo qual foi encontrado tecido mole. Isso pode ocorrer, dentre outras coisas, pela queda da ação microbiana e pela ausência de oxigênio, ambos importantes no processo de decomposição.

De acordo com Cravo (2015) um indivíduo que se encontra em decúbito ventral possui mais propensão a ter costelas fraturadas devido à pressão que o corpo e a terra fazem nas mesmas. No caso do RV6, essa foi, provavelmente, a principal causa para as costelas (retiradas durante a exumação) estarem completamente fragmentadas não somente em um único local.

Ainda segundo Cravo (2015), os ossos começam a degradar devido à temperatura, precipitação, pH, tipo de solo, podendo surgir fissuras, fraturas e até dissolução. Isso se tornou perceptível no presente trabalho, em que alguns ossos se encontraram fragmentados por conta de fraturas provenientes de traumatismos e outros por conta de decomposição óssea.

No odontograma do RV6 foi percebido que o dente 48 se encontrava ausente. Segundo Cerqueira et. al. (2007) os motivos podem ser inúmeros, como nunca ter se desenvolvido ou não ter espaço para sua erupção e se encontrar interno na mandíbula. Os dentes 14, 15, 16, 26, 36, 37 e 46 apresentam fechamento completo dos alvéolos, indicando que a extração ocorreu AM já que teve tempo para ossificar completamente.

Os dentes da mandíbula que se encontram sem restauração (33- 43), apresentam facetas de desgastes. Segundo Seraidarian et. al. (2001) e Pereira (2017), as facetas de desgaste podem ter causas mecânicas, como o atrito causado pela patologia conhecida como bruxismo.

A ancestralidade, com o método AncesTrees (2014), resultou no grupo populacional norte e sul americano. Porém, quando esse grupo é retirado das opções para seleção, o método resulta no grupo europeu. É possível observar que, mesmo sem a retirada do grupo americano, a probabilidade de ser europeu ainda é alta. Isso demonstra que metodologias com dados para a população americana, é possível que esse grupo populacional seja estimado. Nos testes de Hefner (2009) e SENASP [s. d.], nos quais não havia a presença de grupos americanos, o resultado foi europeu. Segundo Vanrell (2012) o Brasil apresenta muita miscigenação, além disso, o sul do país apresenta ainda mais traços europeus devido a sua colonização. Isso corrobora que o indivíduo apresente características europeias.

Segundo Bruzek et. al. (2017), para a classificação do sexo, foi considerado que a análise do teste DSP2 deveria ser superior a 95%, caso não o atingisse deveria ser tratado como indeterminado. Isso corrobora para que o indivíduo RV6 seja classificado como pertencente ao sexo masculino, já que atingiu mais de 98%. Segundo Curate et. al. (2016) o modelo que utiliza apenas FNW é menos preciso que os que utilizam FNAL, no entanto, quando o resultado obtido neste trabalho é inserido para análise no teste, gera uma probabilidade de 100% de o cadáver pertencer ao sexo masculino. Nas demais metodologias testadas, o sexo também foi estimado como masculino, no entanto, segundo informações obtidas no IGP, este cadáver pertencia a uma mulher. O fato de se encontrar uma prótese mamária e unhas com esmalte rosa faz pensar em sexo feminino. Porém esses fatores são circunstanciais. Por isso, é necessário que se teste essas metodologias em uma amostra populacional brasileira maior para que se possa definir o uso ou não desses métodos em amostras brasileiras.

Conforme a definição de Ferembach et. al. (1980), o intervalo etário é estipulado de forma observacional, sendo subjetivo. Por isso,

quanto maior a experiência do observador, melhor seu resultado. Segundo Silva et. al. (2008) quanto mais vai se envelhecendo, menos alterações são observadas nos ossos e seus padrões etários não são bem definidos, por isso o intervalo se torna maior. Neste trabalho, apenas três metodologias foram testadas. Devido ao fato de que alguns ossos (que são usados para determinar a idade) encontravam-se fragmentados, duas metodologias não puderam ser testadas: a extremidade esternal das costelas (ISCAN et. al., 1984) e as linhas transversas do sacro (FEREMBACH et. al., 1980; BUIKSTRA e UBELAKER, 1994). O resultado deve ser comparado com os dados AM, porém eles não foram disponibilizados pelo IGP para este trabalho.

Segundo Mendonça (2000) e Zhan (2018), os ossos longos apresentam uma relação bem definida com a estatura. Por conta disso, o fêmur foi considerado o melhor osso para realizar esta estimativa, já que apresenta a maior correlação e o menor desvio padrão (MENDONÇA, 2000). No entanto, o cadáver RV6 possui os dois fêmures fragmentados, de modo que não foi possível realizar o seu comprimento. Por isso, a estimativa foi realizada com o úmero, que logo após o fêmur, é o osso mais utilizado para essa estimativa, apresentando um desvio maior, mas ainda baixo (WASTERLAIN, 2000). Em um estudo realizado por Wasterlain (2000), que utilizou as fórmulas de Mendonça (2000), houve uma diferença entre a estatura obtida através da análise do fêmur e do úmero. Isso pode ter ocorrido por conta da população ser de épocas distintas (a de Mendonça pertence a época de 1990 e a de Wasterlain é de 1915 a 1942). Para que se possa verificar se esta metodologia pode ser aplicada no indivíduo RV6, dados AM deveriam ser fornecidos para que se realize a comparação dos resultados encontrados com os resultados reais.

Uma vez que essas metodologias são adaptadas de dados estrangeiros, para que todos os resultados obtidos possam ser confirmados ou rejeitados, é necessária a documentação AM que se encontra com o IGP.

Foram encontradas variações anatômicas ao longo do corpo do RV6 que podem individualizá-lo. No entanto, segundo Cunha (2014), Ubelaker (2014) e Verna (2016), variações comumente encontradas podem ser específicas de uma localização. Para que se saiba se as encontradas são comuns ou não à população catarinense, mais estudos são necessários.

Segundo Uberlaker (2014), os ossos apresentam características que auxiliam na identificação de fraturas AM, peri ou PM. Como os ossos tem capacidade de se regenerar, o menor sinal de remodelagem

demonstra um traumatismo AM. No caso de uma alteração PM, ocorre uma diferença na coloração da parte fraturada em relação a do restante do osso e pode-se encontrar algumas marcadas de animais. Já no caso peri mortem, o osso se encontrava vivo e por isso seguiria os padrões AM, no entanto acaba não regenerando, pois o indivíduo vem a óbito. O dente 22 apresentava em seu alvéolo características que propõe que o dente sofreu uma extração peri ou PM, pois não apresenta início de regeneração óssea, que caracterizaria fraturas AM.

Foi possível observar que o cadáver RV6 encontra-se com

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