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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.5. INVENTÁRIO

A ossada foi exposta e fotografada em sua posição anatômica (ou o mais próximo possível).

Os ossos foram analisados separadamente e descritos em um inventário (Apêndice A) onde se observa quais se encontraram presentes e quais não foram recuperados na exumação. Dentre os presentes, se realizou uma separação entre os que estão completos (inteiros morfologicamente) e os que estão fragmentados (com partes quebradas, lascadas, etc.). Nesse inventário também foram anotadas alterações morfológicas presentes em cada osso e demais observações pertinentes.

3.6. ODONTOGRAMA

Foi realizado um odontograma (Apêndice B) para análise dos dentes onde foram documentadas alterações AM e PM. O documento foi produzido com o auxílio da professora Dra. Beatriz de Barros (Departamento de Odontologia / Centro de Ciências da Saúde / UFSC), uma vez que apenas dentistas podem realizar tal documentação.

Foram anotados quais dentes se encontraram em estado natural (hígido), quais dos presentes possuíam alterações, onde se encontraram fraturas e quais possuíam restaurações e sua classificação.

As restaurações podem ser classificadas dependendo do tipo de cavidade encontrada nos dentes. As cavidades de classe I são preparadas na face oclusal de pré-molares e molares. As de classe II são preparadas nas faces proximais dos pré-molares e molares. Na classe III são nos incisivos e caninos sem que haja remoção do ângulo incisal. Na IV,

ocorre a remoção do ângulo. Já a V são as cavidades no terço gengival nas faces vestibular e lingual de todos os dentes (MANDARINO et. al., 2003).

3.7. PERFIL BIOLÓGICO

Para a avaliação do perfil biológico (ancestralidade, sexo, idade, estatura) foram realizadas análises métricas e não-métricas nos ossos do crânio, do quadril, ossos longos (fêmur, úmero e rádio) e clavícula testando diferentes tipos de metodologias. Para que os erros intraobservador (entre o próprio observador) e interobservador (entre dois observadores) não interferissem nos resultados, as medidas foram realizadas duas vezes, em dias diferentes pela autora (erro intraobservador) e uma vez pelo orientador Esp. Leoni Lauricio Fagundes (Laboratório de Antropologia Forense / Departamento de Ciências da Vida / Universidade de Coimbra).

Como as medidas não foram discrepantes, utilizaram-se os dados obtidos no segundo dia de observações da autora, pois já havia uma maior experiência na observação.

3.7.1. Ancestralidade

Para a ancestralidade apenas o crânio foi utilizado, sendo realizadas análises métricas e não-métricas.

Para as análises métricas foi utilizado o método de Navega et. al. (2014), no qual realizaram-se as trinta medidas para o programa AncesTrees (disponível em: http://osteomics.com/AncesTrees/). Seus resultados obtidos (em milímetros) foram inseridos no mesmo que, com base em um algoritmo, classifica o indivíduo de acordo com os grupos populacionais selecionados. Nesse caso, os nove grupos disponíveis foram selecionados: norte da Ásia e Ártico, América do Norte e do Sul, Europa, nordeste da África, África Subsaariana, sul da Ásia, Austrália e Melanésia, leste e sudeste da Ásia e Polinésia.

Para as análises não-métricas foram utilizadas duas metodologias. Uma adaptada de Hefner (2009) em que se analisaram todas as características presente na metodologia (http://osteomics.com/hefneR/), gerando assim um percentual de possível ancestralidade dentre europeu, asiático, africano e americano nativo. A outra foi adaptada da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) [s. d.] a qual, de acordo com a morfologia do crânio, avalia a ancestralidade em europeu, asiático e africano (Anexo B).

3.7.2. Sexo

Para a estimativa do sexo, foram realizadas análises métricas e não-métricas. A primeira nos longos (fêmur, úmero, rádio), a segunda no crânio e ambas nos ossos do quadril.

Quanto aos ossos do quadril, as análises métricas foram baseadas no método de Bruzek et. al. (2017) em que foram realizadas as medidas do software DSP2 (Diagnose Sexuelle Probabiliste v2), e inseridas no sistema que gerou um resultado de sexo baseado na variabilidade mundial. Foram realizadas e testadas às medidas de ambas as lateralidades da cintura pélvica. Também foram realizadas análises não- métricas baseadas nos métodos de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994) em que se observou onze regiões de dimorfismo sexual (Apêndice C).

Para o crânio, foram adaptados os métodos de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994) sendo observadas dez regiões anatômicas que possuem características que diferem morfologicamente entre os sexos (Apêndice D).

Para os ossos longos, foram utilizadas duas metodologias. A primeira foi adaptada de Wasterlain (2000) a qual foram realizadas quatro medidas em milímetros (mm): o diâmetro vertical da cabeça do úmero, a largura biepicondilar do úmero, o diâmetro vertical da cabeça do fêmur e o comprimento máximo do rádio, e comparadas com o ponto de cisão. Caso fossem maiores que esse ponto, o indivíduo seria considerado masculino e, se fossem menores, seria considerado feminino. A segunda foi adaptada de Curate et. al. (2016) em que se realizaram duas medidas: a largura do colo do fêmur (FNW) e o comprimento do eixo do colo do fêmur (FNAL). Após se obter as medidas, essas foram colocadas em uma das fórmulas para o cálculo do valor de S (sexo). A principal fórmula utilizada contém as duas medidas (1), mas caso não se possa realizar uma das medidas, as outras fórmulas devem ser usadas (caso não se tenha a medida FNAL é usada à fórmula “2” e caso não se tenha FNW é usada a “3”). Valores de S negativos referem-se ao sexo feminino e valores positivos ao sexo masculino.

S = -48,587 + (0,279 * FNAL) + (0,737 * FNW) (1)

S = -30,445 + (0,968 * FNW) (2)

3.7.3. Idade

A idade foi estimada utilizando os métodos de Lovejoy et. al. (1985) que analisa morfologicamente a face auricular do ílio para o sacro e de Brooks e Suchey (1990) que considera a região da face sinfisial do púbis, ambas analisando as alterações degenerativas e gerando fases (oito e seis fases respectivamente), que por sua vez correspondem a um determinado intervalo etário. Também foram observados padrões de ossificação de articulações cartilaginosas adaptando os métodos de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994), onde se observam as regiões da extremidade esternal da clavícula, que ossifica por volta dos 30 anos, a sincondrose esfenoccipital, ossifica até os 25 anos, a crista ilíaca, entre 21 e 24 anos e as linhas transversas do sacro, até os 25 anos. Estas não geram um intervalo, mas permitem dizer se o indivíduo já ultrapassou determinada idade.

3.7.4. Estatura

Para a estimativa da estatura (STAT), através do método métrico adaptado de Mendonça (2000), foi utilizada uma fórmula matemática dependente do sexo (fórmula 1 – feminino; fórmula 2 – masculino) em que foi realizada a medida do comprimento máximo do úmero direito (CMU) em mm, que é desde o ponto mais proximal da cabeça (ponto A) até o ponto mais distal da tróclea (ponto E), tendo o resultado final (STAT) em centímetros (cm) (Figura 3).

STAT = (64,26 + 0,3065 * CMU) +/- 7,70 (1) STAT = (59,41 + 0,3269 * CMU) +/- 8,44 (2)

Figura 3 – Desenho esquemático do úmero mostrando os pontos utilizados para a medição

Pontos mostrando onde foram realizadas as medidas para o cálculo da estatura. Ponto A mostra a região mais proximal da cabeça e ponto E mostra a região mais distal da tróclea. Fonte: Mendonça (2000).

Para isso, o úmero foi colocado em uma folha quadriculada sobre sua face anterior com a fossa do olécrano para anterior (Figura 4).

Figura 4 – Medição do úmero direito na folha quadriculada

3.8. FATORES INDIVIDUALIZANTES

Os fatores individualizantes foram classificados em: variações anatômicas assintomáticas ósseas e dentárias, patologias, traumatismos ósseos, intervenções cirúrgicas e outros fatores encontrados (CUNHA, 2014).

Quanto às variações anatômicas, foram analisados padrões considerados morfologicamente diferentes para os ossos, como ossos supranumerários, espinha bífida oculta, vértebras fusionadas, dentes oclusos, etc. (AZEVEDO, 2008; VERNA, 2016).

Quanto aos traumatismos e patologias foram observados os locais onde ocorreram, os tipos e se possuía fratura consolidada (UBELAKER, 2014).

Foi observado se possuía alguma intervenção cirúrgica, como próteses, silicone, pinos, etc. uma vez que são de suma importância devido às normas de utilização (CUNHA, 2014).

Alguns fatores circunstanciais foram observados como: itens encontrados junto ao corpo, cor do esmalte presente nas unhas e adereços encontrados no caixão.

4. RESULTADOS

4.1. EXUMAÇÃO

A exumação do indivíduo RV6 ocorreu no dia 16 de fevereiro de 2017. O coveiro, previamente ao dia da exumação, removeu aproximadamente 90 cm de terra, deixando somente uns 10 cm acima do caixão. A partir deste nível o restante da areia foi removida pela equipe do LANFOR e toda ela peneirada para evitar a perda de qualquer material.

Após a abertura do caixão (que estava com sua tampa quebrada longitudinalmente) e a remoção da areia acumulada em torno do corpo, foi observado que o RV6 se encontrava em decúbito ventral, além do dorso e toda região posterior estarem cobertas por um saco branco (Figura 5).

Figura 5 – RV6 durante a exumação

Cadáver RV6 dentro do caixão em decúbito ventral e mostrando a presença de um saco branco (setas azuis). Cada quadrado da régua quadriculada que está apontando para o norte representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Ao remover a terra em torno do cadáver e retirar o plástico que o envolvia, verificou-se que ele não se encontrava em condição esquelética de decomposição cadavérica. Algumas regiões do corpo, principalmente a região do tórax e os membros inferiores, ainda

apresentavam uma quantidade considerável de tecidos moles estando, portanto, este indivíduo em estado de saponificação.

Junto ao cadáver foram encontradas duas próteses de silicones na região do tórax, sendo que uma havia vazado, derramando seu conteúdo sobre o tórax e o abdome. Também foi encontrada uma bolsa pequena com alguns possíveis pertences do RV6 e um pote na região entre o úmero e as costelas.

Todo conteúdo encontrado dentro do túmulo foi removido e coletado: ossos, roupas e demais materiais biológicos (fungos, aranhas, pupários, raízes, entre outros). Também foi coletado amostras de terra da parte inferior do caixão.

4.2. INVENTÁRIO

Na realização do inventário (Apêndice A), o cadáver RV6 foi exposto (Figura 6) e notou-se que estavam ausentes alguns ossos: o lacrimal esquerdo, os ossículos da audição, quatro vértebras torácicas, três vértebras lombares, algumas costelas esquerdas e direitas, uma falange distal da mão direita, o púbis direito, uma falange média e uma distal do pé direito.

Figura 6 – Cadáver RV6 em sua posição anatômica

Esqueleto RV6 na sua posição anatômica, com todos os ossos e fragmentos ósseos encontrados. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Observou-se que o RV6 tem alguns ossos inteiros (completos) e outros fragmentados em diversas regiões. Fragmentados – oriundos de traumatismos e alterações tafonômicas.

4.3. ODONTOGRAMA

Além do inventário descrito acima, também se realizou um odontograma (Apêndice B), onde foi possível observar que no indivíduo RV6 os dentes 14, 15, 16, 26, 36, 37 e 46 foram extraídos AM, enquanto o 22 pode ter sido extraído peri ou PM, ou seja, durante ou após a morte. O 24 e o 28 foram extraídos durante o manuseio. Os dentes 23, 31, 32, 33, 41, 42 e 43 encontravam-se hígidos, sem nenhuma alteração. O 48 estava ausente. O 38 encontrava-se incluso e impactado, ou seja, não teve sua erupção (Figura 7).

Figura 7 – Terceiro molar (dente 38) incluso

Seta azul mostrando o dente 38 (terceiro molar) presente no osso da mandíbula, porém sem sua erupção, ficando impactado / incluso. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Os dentes 24, 28, 45 e 47 continham restauração de classe I com resina composta. O 24 e o 25 apresentaram fratura na parede vestibular e o 47 fratura vertical entre as paredes vestibular e mesial, os dentes 11, 21, e 23 mostraram linhas de fratura na parede palatina, o alvéolo do 22 linha de fratura nas paredes palatina e distal. O 28 possuía cavidade de classe II na face mesial. Os dentes que apresentaram restauração de classe II são: o 18 (cavidade mésio-ocluso-distal), o 25 (ocluso-distal), o 27 (cavidade mésio-ocluso-distal) com perda de material restaurador na face distal e o 44 (ocluso-distal), todos com resina composta. O 12 mostrou preparo de classe IV na face mesial, o 34 preparo de classe II (ocluso-distal-lingual), ambos sem a presença de material restaurador. O 21 e o 22 indicaram restauração de classe IV (mésio-vestibular) e V (coroa-vestibular) respectivamente, ambos de resina composta e o 11 e o 35 pussuíam coroa unitária, a primeira metaloplástica e a segunda metálica (Figura 8).

Figura 8 – Coroa unitária metálica presente no dente 35

Seta azul mostrando estrutura metálica que substituiu o dente 35. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Os dentes 13 e 17 apresentaram coroa pilar de prótese parcial fixa, no qual se insere uma infraestrutura metálica com cobertura estética de cerâmica substituindo os dentes 14 e 15 (Figura 9).

Figura 9 – Região entre os dentes 13 e 17

Visualização do dente 17 (seta azul) e o dente 13 (seta cinza), entre eles existe uma infraestrutura metálica com cobertura estética de cerâmica. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).

Os dentes 31, 32, 33, 41, 42 e 43 possuíam facetas de desgaste incisal.

4.4. PERFIL BIOLÓGICO

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