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PÃO, TERRA E LIBERDADE X DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA. Introdução a História do Rio Grande do Norte

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Academic year: 2021

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Ia. edição: EDUFRN, 2000

2a. edição: Cooperativa Cultural, 2002 3a. edição: EDUFRN, 2007

4a. edição: Flor do Sal, 2015

Autora

Denise Mattos Monteiro

Editores

Flávia Celeste Martini Assaf e Adriano de Sousa

Revisão Márcio Simões

Designer Gráfico e Capa José Antonio Bezerra Junior

Foto da Autora Giovanni Sérgio

Ilustração da Capa

índio Tarairiú, tribo extinta.

Óleo de Albert Eckhout, pintor holândes (1654).

Catalogação da publicação na Fonte.

M775i Monteiro, Denise Mattos.

introdução à História do Rio Grande do Norte / Denise Mattos Monteiro. - 4. ed. - Natal, RN: Flor do Sal, 2015.

208 p. : il.

ISBN 978-85-69107-00-2

1. História do Rio Grande do Norte. I. Título.

CDD 981.32

Todos os direitos desta edição reservados à Flor do Sal

Rua Nascimento de Castro, 1926, S 108 - Lagoa Nova - 59.056-450 - Natal/RN - Brasil e-mail: flordosal@ uol.com.br - Telefone: 84 3025-4297

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CAPÍTULO

Pão, Terra e Liberdade x Deus, Pátria e Família: as

lutas sociais e a evolução política no Rio Grande

do Norte, no pós-Revolução de 30 (1930 a 1937)

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L au ro L ago, J o ã o B a tista G alv ão e J o s é M a c e d o [d a e s q u e rd a p a ra a d ire ita ): trê s m e m b ro s d o G o v e rn o P o p u la r N a c io n a l R e v o lu c io n á rio s e n d o le v a d o s p a r a a p risã o , e m N a ta l, n o a n o d e 1935. [Foto d o livro P raxedes: u m operário n o p o d e r, d e M o acy r O liv eira Filho)

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Pão, Terra e Liberdade x Deus, Pátria e Família: as

lutas sociais e a evolução política no Rio Grande

do Norte, no pós-Revolução de 30 (1930 a 1937)

A década de 1930 havia se iniciado no Brasil sob a perspectiva de mu­ danças. O movimento armado vitorioso, sob a liderança de Getúlio Vargas, fizera do combate ao sistema de poder oligárquico sua principal bandeira.

Uma vez empossado como Chefe do Governo Provisório, Vargas tratou de garantir a presença do novo Governo em cada estado, através dos "inter­ ventores”, que deveriam ser preferencialmente militares, oriundos de outros estados que não aquele para cujo governo eram nomeados. As interventorias visavam assegurar uma ruptura no poder dos grupos oligárquicos tradicio­ nais, nas diferentes unidades da Federação. Para o Nordeste, foi nomeado Juarez Távora, liderança do movimento tenentista, como representante do Governo Provisório e seu elo com os interventores na região. Era a chamada "Delegacia do Norte”.

A resistência oligárquica às mudanças que se anunciavam, porém, não se faria esperar e geraria uma instabilidade permanente no governo dos interventores, que, frente à pressão dos grupos de poder tradicionais, renunciavam ao cargo ou eram demitidos e substituídos por ordem de Var­ gas. Nesse processo de transição, o governo revolucionário, buscando a consolidação, acabaria por se adequar às diferentes conjunturas políticas estaduais, equilibrando-se entre os interesses oligárquicos e as aspirações dos que haviam combatido e apoiado a Revolução de 1930.

Essa instabilidade foi característica do governo do Rio Grande do Norte, estado para o qual foi designado o maior número de interventores - cinco no total - dentre os estados do Nordeste, nos anos que decorreram entre 1930 e 1935.

Dois exemplos ilustram a força que aí era exercida pelas oligarquias duran­ te as interventorias. Com a tomada do poder em 1930, foi criado um Tribunal Especial, com ramificação nos estados, através dos interventores, encarregado de investigar, denunciar e estabelecer a punição para aqueles que haviam praticado atos de corrupção. O primeiro interventor, Irineu Joffili, tentou dar continuidade a um processo sobre sonegação fiscal, contra a empresa M. F. do Monte & Cia., uma das maiores casas exportadoras do estado, estabelecida em Mossoró, no final do século XIX, pelo “coronel” Miguel Faustino do Monte. A ação do interventor, porém, não foi firmemente respaldada pelo Governo Provisório de Vargas, o que levou Joffili a renunciar ao cargo. Processo seme­ lhante ocorreu quando o terceiro interventor, Hercolino Cascardo, em 1931, condenou o ex-governador Juvenal Lamartine à perda dos direitos políticos e devolução do dinheiro público. Também sem respaldo do Governo Federal, Cascardo renunciou, vendo prevalecer os interesses oligárquicos.149

1,9 Quatro anos mais tarde, Hercolino Cascardo seria um dos líderes de um grande movimento popular contra o governo de Getúlio Vargas.

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Nesse contexto, a Delegacia do Norte, exercida por Juarez Távora, foi extinta antes de completar um ano de existência, tendo se mostrado inútil, frente a um sistema de poder solidamente estabelecido, cujas bases nos municípios, controladas pelos “coronéis”, permaneceram intocadas com a Revolução de 1930.

Em nível nacional, a reação oligárquica se consubstanciou num movi­ mento armado, que ficou conhecido como a Revolta Constitucionalista de 1932. Com a ascensão de Vargas ao poder, a Constituição Republicana de 1891, vigente durante a Primeira República, havia sido revogada e o Con­ gresso Nacional dissolvido, assim como as Constituições estaduais e as As­ sembleias Legislativas em cada estado. A Revolta Constitucionalista, iniciada em São Paulo, com o apoio de oligarquias estaduais, exigia a convocação de uma Assembleia Constituinte para o país, o que significava, na prática, o fim do Governo Provisório. Embora a revolta tenha sido derrotada pelas forças militares desse governo, a reorganização constitucional foi iniciada por Vargas. No mesmo ano, ele promulgou um Código Eleitoral, que deu o direito de voto às mulheres, mas proibiu o voto dos analfabetos, criou a Justiça Eleitoral e instituiu o voto secreto.150 151 As eleições para a escolha dos membros de uma Assembleia Nacional Constituinte, que deveria elaborar a nova Constituição e escolher o novo Presidente, foram convocadas para o ano de 1933.

A partir de então, o movimento tenentista, cujos ideais revolucionários abriram caminho para Vargas, começaria a esvaziar-se. Enquanto muitos de seus membros optariam pela volta aos quartéis, outros escolheriam soluções políticas mais radicais, como a ala liderada pelo tenente Luís Carlos Prestes fizera quando eclodiu a Revolução de 1930, a ela negando seu apoio por considerá-la uma “revolução oligárquica”.

Ao paulatino refluxo do tenentismo, correspondeu uma rearticulação das oligarquias, frente às eleições que se aproximavam. Por um lado, Vargas, pretendendo passar de chefe do Governo Provisório a Presidente da República e, portanto, dependendo do voto dos deputados constituintes federais a serem eleitos em cada estado, aproximou-se cada vez mais dos velhos grupos agrá­ rios, numa manobra política que fortaleceu esses grupos.1” Por outro lado, estes últimos organizaram novos partidos em seus estados para concorrer às eleições, visando à representação de tais estados na Assembleia Nacional Constituinte e, sobretudo, a reconquista da política estadual.

No Rio Grande do Norte, objetivando lançar candidatos às eleições para deputados constituintes federais, foram criados dois partidos. O primeiro deles, o Partido Popular, ao contrário do que sua denominação faz crer, era uma expressão dos tradicionais donos do poder no estado. Sob a liderança do ex-governador José Augusto Bezerra de Medeiros, reunia figuras como o também ex-governador Juvenal Lamartine e Dinarte Mariz, ambos primos de José Augusto e representantes da elite agrária do Seridó. O segundo, o Partido Social Nacionalista do Rio Grande do Norte, representava a resistência de 150No Rio Grande do Norte, o direito de voto das mulheres havia sido obtido dois anos antes, em 1928. 151 Em cam panha eleitoral, Getúlio Vargas esteve em Natal, em 1933.

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interventorias frente aos grupos tradicionais. Dele participava João Café Filho, que, tendo iniciado sua vida política na organização de sindicatos de trabalhadores no estado, e apoiado a Revolução de 1930, chegou a Chefe de Segurança Pública. Realizadas as eleições em 1933, o Partido Popular saiu vitorioso, elegendo três dos quatro deputados constituintes federais.

A vitória do poder oligárquico iria ocorrer também nas eleições de 1934. A nova Constituição, promulgada nesse ano, determinava que haveria eleições para deputados federais e deputados constituintes estaduais, os quais deve­ riam elaborar as Constituições de seus estados e eleger seus governadores e representantes no Senado Federal. Nessas eleições, não apenas as forças presentes na eleição do ano anterior se recomporiam, como também novos atores políticos entrariam em cena, numa disputa acirrada na qual não faltaram os episódios violentos.

Formou-se no estado a chamada “Aliança Social”, que reuniu, mais uma vez, as forças originárias da Revolução de 1930, lançando seus candidatos a deputados federais e constituintes estaduais, e Mário Câmara para o Executivo estadual. Câmara foi o último dos cinco interventores do Rio Grande do Norte designado por Vargas, no período 1930-1935, e possuía raízes locais, pois sua “família tinha bases eleitorais em Ceará-Mirim, na zona açucareira”.152 O Partido Popular, além de seus próprios candidatos a deputados, indicou para o governo Rafael Fernandes Gurjão, proprietário de terras e de salinas e membro de uma poderosa família de Mossoró.

Dois novos partidos, entretanto, também lançaram candidatos a depu­ tados, expressando a complexidade política crescente do país. Novas ideias políticas, que atraíam setores sociais antes marginalizados no sistema de poder da Primeira República, passaram a ser propagadas ou mais difundidas, especialmente entre as camadas médias urbanas e a classe operária.

O primeiro deles foi a Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada em 1932, em São Paulo. Ideologia autoritária de direita, inspirada no fascismo de Benito Mussolini, na Itália, e no nacional-socialismo de Adolf Hitler, na Alemanha, o integralismo estava apoiado essencialmente no catolicismo conservador, no anticomunismo, no nacionalismo e no culto ao chefe, sob o lema “Deus, Pátria e Família”. Contando com milícias uniformizadas - os chamados “camisas verdes” a AIB foi o “o primeiro partido político brasileiro com implantação nacional”, constituindo “o primeiro movimento de massa no Brasil”.153 154 Em sua organização interna, baseada em rígida hie­ rarquia, os dirigentes máximos eram, sobretudo, profissionais liberais, altos funcionários públicos e oficiais superiores do Exército e da Marinha.

Em 1933, foi fundado o núcleo da AIB no Rio Grande do Norte, que obteve apoio, sobretudo, de parte das camadas médias urbanas. O movimento con­ seguiu organizar núcleos em várias cidades do estado e editou dois jornais:

A Renovação, em Natal, e A Voz Integral, em Mossoró.15,1 Representando o

' “ SPINELLI, J. Antônio. Getúlio Vargas e a oligarquia potiguar. 1930-1935, p.131. 153TRINDADE, Hélgio. Integralismo. O fascismo brasileiro na década de 30, p.1-2.

154Segundo Luiz G. Cortez, em PeQuena história do integralismo no RN, essas cidades foram: Natal, Papari (Nfsia Floresta), Arez, Goianinha, Currais Novos, Acari, Flores (Florânia), Jardim do Seridó, Caraúbas, Açu, Luiz Gomes, São Miguel, Apodi, Mossoró e Macafba.

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pensamento conservador e contando com a simpatia de padres e bispos, foi particularmente forte no Seridó, onde o padre Walfredo Gurgel exercia importante liderança entre os católicos. Nas eleições de 1934, a A1B lançou três candidatos a deputado constituinte estadual.155

Dentre seus líderes, estava o escritor e professor Luís da Câmara Cascudo, membro do primeiro triunvirato que dirigiu o movimento no estado. Em 1934, aos 36 anos de idade, ele se tornou o primeiro “chefe provincial” do integralismo estadual. Nessa função, foi um dos principais divulgadores da ideologia fascista/integralista, não apenas entre os jovens estudantes do Colégio Atheneu, mas, sobretudo, em cidades do interior, as quais percorreu pregando o fascismo brasileiro. Além disso, colaborou ativamente, com seus artigos, em jornais e revistas da Ação Integralista Brasileira, especialmente no jornal A Ofensiva, porta-voz nacional do movimento.156

O segundo partido a aparecer na cena política dessas eleições foi o Parti­ do União Operária e Camponesa do Brasil, sigla sob a qual se apresentaram os candidatos comunistas, visto que o Supremo Tribunal Eleitoral havia negado autorização para o registro do Partido Comunista do Brasil, impedido de atuar legalmente desde 1927. Pelo Partido da União Operária e Camponesa do Brasil, foram lançados cinco candidatos para a Câmara Federal e 24 para a Assembleia Constituinte Estadual.157

Figura 45 - Um bigode ao estilo de Hitler, como o de Câmara Cascudo, o quarto na fila da frente, da direita para a esquerda, seria tam bém um símbolo de opção política? (Camisas verdes)

155Candidatos da AIB: Otto de Brito Guerra, Waldemar de Almeida e Ewerton Cortês.

156Segundo Luiz G, Cortez, em Câmara Cascudo, um jornalista integralista, p. 39, Câmara Cascudo "era ligado à corrente antissemita e tinha fortes ligações com o grupo ultradireitista e nacionalista” dentro da Ação Integralista Brasileira. De acordo com Hélgio THndade, Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 30, p. 207, Câmara Cascudo estava também entre aqueles integralistas que admitiam o recurso à violência para tomar o poder. Foi o que ele defendeu em seu artigo no jornal "A Ofensiva”, de 31 de maio de 1934, ao escrever: "O que importa é a vitória. Ela virá matem aticam ente certa, pacífica se for possível, violenta, com o sacrifício do nosso sangue, se a tanto formos levados”.

157 Para a Câmara Federal, concorreram: Lauro Reginaldo da Rocha, Agostinho Dias da Silva, Acrísio João de Araújo, José Tertuliano da Motta e Luiza Gomes dos Santos.

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No contexto da grande crise econômica de 1929, que gerou um aumento do desemprego e do custo de vida e a queda dos salários, e da eclosão da Revolução de 1930, que ocasionou a desarticulação de muitos sindicatos, o Partido Comunista do Brasil participou da reorganização do movimento sindical, junto com socialistas e anarquistas. O movimento sindical avançou e os anos compreendidos entre 1930 e 1935 caracterizar-se-iam por inúmeras greves por todo o país, envolvendo diferentes categorias de trabalhadores. Mas a repressão ao movimento operário nesses anos seria crescente, com a dissolução violenta de greves e comícios, fechamento de sindicatos, prisão e deportação de lideranças. Paralelamente a isso, o Governo Provisório de Vargas passaria a controlar a organização de sindicatos de trabalhadores, com a elaboração de uma série de leis que os subordinaria cada vez mais ao Ministério do Trabalho, por ele criado em 1930.

No Rio Grande do Norte, haviam sido fundados dois núcleos do Partido Comunista na segunda metade da década de 1920, em Mossoró e Natal. Na primeira dessas cidades, a fundação do núcleo esteve diretamente ligada à criação do sindicato dos salineiros em 1931, a mais numerosa categoria de trabalhadores do oeste do estado, incluindo os milhares de homens que migravam do campo em busca de trabalho em Mossoró, Areia Branca e Macau, na época de safra do produto.

A p re p a ra ç ã o do sal, co lh eita e tra n sp o rte p ara os aterro s, e p o ste rio rm e n te p ara as " b a rc a ç a s” c o n d u z ire m ao s n av io s carg u eiro s, co m o era n o rm al n essa ép o ca, carecia de m u ita m ão de obra. A perm anência de m ais de um a dezena d e navios ancorados no “lam arão” desses portos, à espera d e encherem os seus porões para conduzirem para o sul do país, concorria para m aior núm ero de emprego. Esse trabalho, sem horário certo, era processado de form a contínua, porque à mercê dos horários das m arés. Tanto podia ser noite com o dia, o sal era tran sp o rtad o n um “b a la io ” de cipó com um “calão de m adeira, nos om bros d e u m a d u p la d e h o m e n s u sa n d o ro u p as velh as, c h a p é u de palha e calçados com "alpercatas d e rabicho .

Eram alim entados à base d e café, bolacha, farinha, feijão, carne d e charque, fornecidos pelo "barracão da própria salina, q u e lhes cobrava preços d uzentas ou trezentas vezes m ais caros que os preços norm ais do comércio.

Os q u e m oravam m ais próxim o d as sa lin a s tin h a m en co n tro com as fam ílias ao s d o m in g o s, e os m ais d ista n te s u m a ou d u a s vezes p or m ês. As condições d e sse tra b a lh o d esu m a n o levavam esses pobres trabalhadores à condição d e nas idades de quarenta a cinquenta anos aparecerem como verdadeiros trapos hum an o s, a m aioria deles cegava pelos raios solares em choque com a bran cu ra do sal. Outros portadores de volum oso calo no om bro ou com um defeito físico q u e se lhes ap rese n ta v a, ou ain d a, o "m axixe", d en o m in ação q u e era d ad a a um a doença q u e contraíam nos pés, pelo contato com o potássio do sal, que iniciava ra c h a n d o e d ep o is en g ro ssa n d o a pele d e tal form a, q u e se to rn a v a difícil u n ir os d ed o s, e m u ito s d eles ficavam im possibilitados d e u sa r sapatos.

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T alvez u m p e rc e n tu a l d e no m á x im o u n s cin co p o r c e n to desses trab alh ad o re s p en sassem no futuro e fizeram p eq u en as econom ias q u e davam p ara viverem m odestam ente. A grande m aioria, porém , term inava esm olando ou sustentados por filhos ou p aren tes em ativ id ad e.1“

A partir da organização, em Mossoró, da Associação dos Trabalhadores na Extração do Sal, mais tarde chamada Sindicato do Garrancho, entre 1931 e 1935, todos os sindicatos fundados não apenas em Mossoró, mas em toda a região oeste, foram organizados pelo PCB”1M, como o sindicato dos trabalhadores da construção civil, o dos operários sapateiros e o dos ferroviários. A força do Partido ficou demonstrada na primeira greve geral das salinas, ocorrida em 1932, ano de uma grande seca no Nordeste, que implicou, mais uma vez, desemprego, fome, doenças, êxodo e saques a depósitos de alimentos, nas cidades. Mas foi, sobretudo, na grande greve de 1934 que o trabalho de sindicalização do Partido Comunista se mostrou efetivo, quando pararam não só as 32 salinas entre Mossoró e Areia Branca como a própria cidade de Mossoró, visto que a greve teve a adesão de eletri- citários, ferroviários, padeiros, operários da construção civil, barcaceiros e estivadores, num total de cinco mil trabalhadores.160

Em Natal, a atuação do Partido Comunista na organização dos traba­ lhadores era forte na União dos Estivadores Natalenses e no Sindicato dos Sapateiros, e várias greves eclodiram nesses anos, como a dos operários da Light and Power, empresa canadense que “tinha o monopólio dos serviços de bonde, água, luz e telefone”.161 Essa atuação, porém, era extremamente difícil, pois, além de sofrer uma intensa repressão policial, concorria com o trabalho de sindicalização que vinha sendo realizado por Café Filho desde os anos 20, o qual controlava vários sindicatos.

Dessa forma, a tentativa de criar uma primeira confederação sindical, no estado, em 1932, denominada “União Geral dos Trabalhadores”, sob orien­ tação do Partido Comunista, “à margem da legislação sindical imposta pelo Ministério do Trabalho” e constituindo “uma ameaça à hegemonia cafeísta”, se revelou infrutífera por “não conseguir reunir um número expressivo de sindicatos”.1“

O movimento operário no estado era especialmente forte entre salineiros e estivadores, duas categorias de trabalhadores que se achavam num eri­ camente concentradas - ao contrário dos trabalhadores rurais estavam

iss SABINO, Geraldo. História do sindicalismo no Rio Grande do Norte, p. 30-31. FERREIRA, Brasília C. O sindicato do garrancho, p. 79.

' “ FERREIRA, Brasília. Op. cit., p. 122.

161 Segundo Homero Costa, em A insurreição comunista de 1935, p. 57-58, sob a interventoria de Hercolino Cascardo, houve um a expansão do movimento sindical. No início de 1933, na capital, além dos dois sindicatos citados, existiam: o Sindicato dos Pedreiros de Natal, a União Social Beneficente dos Motoristas, o Sindicato dos Ferroviários da Great Western, o Sindicato dos Marceneiros e Pintores de Natal, a União Sindical da Prefeitura de Natal, o Sindicato dos Tïabalhadores das Docas do Porto (em oposição à União dos Estivadores), o Sindicato dos Pintores, o Sindicato dos Professores Norte-rio-grandenses e o Centro Operário Natalense.

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ligadas a atividades econômicas fundamentais para o estado - a extração do sal e a exportação de produtos primários - e exerciam seu trabalho em áreas portuárias, onde era maior o fluxo não só de mercadorias, mas também de homens e ideias.

Quanto aos trabalhadores rurais, era difícil o trabalho de conscientiza­ ção de seus direitos e sua organização em sindicatos, visto que, dispersos no campo, ocupados nas atividades agrícolas e pastoris, mergulhados no analfabetismo, estavam mais diretamente subordinados aos proprietários rurais, constituindo “currais eleitorais” de inúmeros “coronéis” no interior. Acrescente-se a isso o fato de que a participação política por meio do voto era privilégio de poucos, uma vez que só podiam votar os alfabetizados.“3

Como resultado desse quadro, nas eleições de 1934, os tradicionais grupos agrários puderam retomar o poder estadual: o Partido Popular elegeu qua­ torze deputados constituintes estaduais e três deputados federais, ficando, assim, garantida a eleição de Rafael Fernandes Gurjão, como governador do Estado, e de Eloy Castriciano de Souza e Joaquim Ignácio de Carvalho Filho, como senadores.164 A Aliança Social elegeu onze deputados estaduais e dois deputados federais, não tendo sido eleitos candidatos da Ação Integralista Brasileira e da União Operária e Camponesa do Brasil.

Enquanto Vargas, aproximando-se dos velhos grupos agrários em cada estado, garantiu sua eleição como Presidente constitucional da República, para o período 1934-1938, deixando para trás os ideais revolucionários de 1930 e se aproximando da ideologia fascista, organizou-se no país um am­ plo movimento popular em oposição aos rumos do Governo Federal - a Aliança Nacional Libertadora (ANL). Estruturada em março de 1935, no Rio de Janeiro, congregando tenentistas, comunistas, socialistas e democratas, e indicando Luís Carlos Prestes - cuja popularidade era grande, desde as marchas da Coluna Prestes - como seu presidente de honra, a Aliança Nacio­ nal Libertadora manifestava-se, sobretudo, contra o fascismo/integralismo, o imperialismo e o latifúndio. Em seu programa básico, ela defendia: a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionalização de empresas estrangeiras, a reforma agrária nos latifúndios, a proteção aos pequenos e médios proprietários, a liberdade de expressão, a diminuição dos impostos, o aumento dos salários, a assistência ao trabalhador e mais instrução para o povo. Com o lema “Pão, Terra e Liberdade”, em alguns meses, essa frente única ganhou o apoio popular e de inúmeras lideranças progressistas do Brasil na época. Caravanas e comícios populares, nos quais muitas vezes ocorriam choques com milícias integralistas, foram organizados em dife­ rentes estados onde se estabeleciam sedes da Aliança.

Visando eliminar esse crescente movimento de oposição, Vargas promul­ gou uma Lei de Segurança Nacional, em abril de 1935. Com base nessa lei, " Segundo Homero Costa, Op. c it, p. 82, “em 1933, [...], por ocasião das eleições para a Assembleia

Constituinte, a população do Estado era de 764.571 habitantes, sendo que apenas 18.959 puderam se inscrever para votar”, ou seja, um pouco mais de 2% da população.

1M João Café Filho, da Aliança Social, e José Augusto Bezerra de Medeiros, do Partido Popular, foram eleitos deputados federais, sendo reeleitos duas vezes para o mesmo cargo, em 1946 e 1950. Café Filho se aproximaria cada vez mais de Getúlio Vargas, chegando a vice-presidente da República nas eleições presidenciais de 1950, e presidente, com a morte de Getúlio, em 1954.

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o Governo Federal ordenou o fechamento da Aliança Nacional Libertadora em julho do mesmo ano, ao que se seguiram inúmeras prisões, punições e perseguições àqueles que haviam a ela aderido, civis e militares. À proibi­ ção de continuidade do movimento corresponderam protestos na Câmara Federal, ações na Justiça, comícios e manifestações populares, estes últimos violentamente reprimidos. Mas a Aliança permaneceu ilegal, o mesmo não ocorrendo com relação à Ação Integralista Brasileira, que continuou atuando e se organizou efetivamente como partido político nesse mesmo ano.

Figura 46 - Comício da A liança Nacional Libertadora, no Rio de Janeiro, em 1935. (ANL)

No Rio Grande do Norte, a Aliança Nacional Libertadora foi criada em abril de 1935, em Natal, com uma direção integrada por militantes comunis­ tas. Mas o movimento, embora tenha conseguido criar comitês em diferentes cidades, “não teve o crescimento que foi observado em outras capitais” e “as únicas manifestações públicas ocorreram quando da vinda de uma caravana aliancista do Rio de Janeiro, que percorreu diversas capitais do país, passando em Natal [com destino a Mossoró e Fortaleza] em junho de 1935”.165 Os poucos registros históricos existentes indicam que, dentre os sindicatos atuantes no Estado, o dos estivadores foi o primeiro a manifestar sua adesão e, entre os militares, a Aliança contava com o apoio de membros do 21° Batalhão de Caçadores, na capital.

A repressão do Governo Federal à Aliança Nacional Libertadora consti­ tuiu um dos fatores que levariam à chamada Insurreição Comunista de 1935, ocorrida simultaneamente em Natal, Recife e Rio de Janeiro.

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A decretação da ilegalidade da ANL e a repressão que se seguiu fizeram com que muitos dela se afastassem, ao contrário do Partido Comunista, que nela permaneceu e passou a monopolizar sua direção. O “tenente” Luís Carlos Prestes, que havia ingressado nesse partido em 1934 e entrara clandestinamente no Brasil em abril de 1935, se tornara membro da direção do partido. Avaliando, erroneamente, que o país reunia as condiçoes para uma revolução - avaliação essa que havia sido discutida num Congresso de Partidos Comunistas da América Latina realizado em Moscou -, Prestes, seguindo a tradição tenentista, passou a liderar a articulação de um levante armado, apostando numa aliança entre militares e o movimento popular. Apesar da discordância e da oposição de muitos membros do próprio Partido Comunista do Brasil, a Insurreição começou a ser organizada, envolvendo, sobretudo, militares tenentistas que haviam ingressado no partido. O plano implicava levantes armados simultâneos por todo o Brasil, a partir de uma ordem da liderança, instalada no Rio de Janeiro.

No Rio Grande do Norte, muitos se preparavam para esses levantes. Entre eles, estavam militantes do Partido Comunista que atuavam no tra alho de sindicalização de trabalhadores na região oeste do estado, a partir o sindicato dos salineiros de Mossoró. Vários desses militantes haviam si o forçados a viver na clandestinidade, em face da violenta repressão ao mo vimento operário sindical, sobretudo nas salinas, por parte do governa or Rafael Fernandes Gurjão, que havia assumido o cargo em outu ro e e era, ele mesmo, proprietário de salinas. Em consequência a extrema violência policial, “aos poucos foi aumentando o número de operários que ja não podiam circular livremente, sem que corressem o risco de serem presos. Esse grupo de trabalhadores, ligados ao Partido, e com destaca a atuaçao na formação de sindicatos, foi sendo empurrado para a c an estini a e. Rapidamente, o número de trabalhadores clandestinos c egou a mais e trinta e à medida que a mudança de tática do governo f°i tra uzm 0 em maior vigilância e perseguição, começou a ficar muito i íci permanecer

naquela situação”.1“ - ■ • ,

Frente a essas circunstâncias, em uma reunião da ireçao municipa do Partido Comunista em Mossoró, ficou decidido que esses tra a a ores militantes clandestinos passariam a formar um grupo arma o, que aguar daria a eclosão do levante planejado no Rio de Janeiro, grupo era 1 era 0 por Manuel Torquato de Araújo. Natural da várzea o ssu, ex sa ineiro que participara da criação do Sindicato e fora presii ente e sua primeira diretoria, Manuel Torquato, como membro do Partido Comunista em Mossoro e procurado pela polícia nessa cidade, havia sido designa 0 Pa^a a uar na área de Assu, junto aos trabalhadores rurais. Esse grupo clandestino, com o tempo, chegou a reunir aproximadamente duzentos omens, que se ívi iam em pequenos subgrupos, movimentando-se às escondidas entre Mossoro, Assu e Areia Branca. “Quando necessitavam de alimentos se juntavam e invadiam fazendas, levando também animais. Ao mesmo tempo procuravam a adesão de trabalhadores [rendeiros, meeiros, agregados, colhedores de

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palha de carnaúba], fazendo pequenos comícios, conclamando-os à adesão à luta armada”.167

Na noite de 23 de novembro de 1935, a Insurreição Comunista eclodiu, antes do planejado, em Natal, sendo seguida por Recife, no dia 25, e Rio de Janeiro, onde foi deflagrada no dia 27.

Em Natal, o levante começou no 21° Batalhão de Caçadores, por iniciativa de soldados, cabos e sargentos. A ideia do levante fora favorecida pela notícia de que muitos deles seriam dispensados de seus serviços, aumentando o contingente de desempregados da cidade. Além disso, o novo governador eleito - Rafael Fernandes Gurjão - “iniciou um processo de demissões e readmissões, retirando dos cargos públicos todos aqueles que não estivessem sintonizados com os interesses do antigo e novo sistema de poder. A extinção da Guarda Civil, criada pelo interventor Mário Câmara, levou ao desemprego e à conspiração algumas centenas de cidadãos”.168

Em nome da Aliança Nacional Libertadora e com a adesão de “um grupo de civis, incluindo algumas mulheres, [que] invadiram o quartel, se fardando e se arm ando” [...], os revoltosos “organizaram o deslocamento de tropas para os pontos estratégicos da cidade”. Assim foram ocupados “o palácio do governo, a residência do governador, a central de usina elétrica, a estação fer­ roviária, a central telefônica e telegráfica e o aeroporto da cidade”.169 Apesar da resistência armada em alguns lugares, como os quartéis da Polícia Militar e do Pelotão de Cavalaria da Polícia e a Escola de Aprendizes Marinheiros, a cidade ficou em poder dos revoltosos, que organizaram um Governo Popular Nacional Revolucionário, composto de cinco membros.170 171 Uma de suas pri­ meiras medidas foi a organização de grupos compostos por militares e civis armados, que, em caminhões, se dirigiram a cidades do interior, de forma a consolidar a Insurreição no estado. Ao mesmo tempo, procuraram divulgar seus objetivos através do rádio, do telégrafo e da distribuição de boletins, além de editar um jornal - A Liberdade.™

Para a expansão do Governo Popular Nacional Revolucionário no interior, foram organizadas três Colunas. A primeira delas se dirigiu para Ceará-Mirim e era comandada por Benilde Dantas, militante do Partido Comunista, que, “poeta e natural desta cidade, foi um dos fundadores da ANL no estado, ajudando a formar diversos comitês”. Ocupada a cidade, seguiram para o município de Baixa Verde. A segunda Coluna dirigiu-se ao Seridó, onde dominou alguns municípios e ocupou a cidade de Santa Cruz.

167 COSTA, Homero. A insurreição comunista de 193S, p.71. A guerrilha duraria mais de um ano nessa área.

168 GÓES, Maria da Conceição Pinto de. A aposta de Luiz Ignácio Maranhão Filho. Cristãos e comunistas na construção da utopia, p. 41.

169COSTA, Homero. Op. cit., p. 86-87.

170 Foram eles: o sargento Quintino Clementino de Barros, como Secretário de Defesa; o administrador da Casa de Detenção Lauro Cortez Lago, Secretário de Interior e Justiça; o advogado João Batista Galvão, Secretário de Viação; o funcionário dos Correios e Telégrafos José Macedo, Secretário de Finanças, e o operário sapateiro José Praxedes de Andrade, Secretário de Abastecimento Público. Vejam-se, no anexo J, trechos do programa do Governo Popular Nacional Revolucionário. 171 Foi editado apenas um número desse jornal, sob a responsabilidade de Raimundo Reginaldo da

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A terceira Coluna tomou São José do Mipibu, Arez, Goianinha, Canguaretama, Pedro Velho, Montanhas e São Gonçalo. Além dessas cidades, Nova Cruz foi ocupada por grupos organizados por Orlando Azevedo, "médico, formado na Alemanha, muito conhecido e respeitado na cidade [...] partidário da Aliança Social”. Nesses deslocamentos, foram comuns a participação de civis, a soltura de presos acusados de comunistas e a formação de juntas de governo locais. Dessa forma, "no dia 26 de novembro de 1935 praticamente a metade dos 41 municípios do estado esta[va] ocupada pelos rebeldes”.172

A repressão ao m ovimento, entretanto, já havia sido iniciada e a Insurreição, que eclodira em Recife foi controlada pelas tropas do Go­ verno Federal, que se dirigiram para o Rio Grande do Norte. No estado, um a Coluna da Insurreição, que p artira da cidade de Santa Cruz em direção a Currais Novos, enfrentou resistência no meio do cam inho e se dispersou. O avanço da repressão levaria ao fim do levante, três dias após o início deste.'73

O grupo guerrilheiro que atuava na região oeste do estado, o qual, ao que tudo indica, não tinha conhecim ento da eclosão inesperada do levante em Natal, em virtude de atuar na clandestinidade, em meio à grande dificuldade de comunicação, foi duramente reprimido pela polícia e por bandos de jagunços a mando de fazendeiros. Manuel Torquato de Araújo, seu líder, cuja cabeça foi posta a prêmio, foi assassinado por um membro do próprio grupo, em meio à repressão que se seguiu à Insurreição Comunista de 1935.

No país, mais de cinco mil pessoas foram indiciadas em processos. Desse total, 1039 eram relativos ao Rio Grande do Norte, estando aí incluídos todos os estivadores filiados ao sindicato União dos Estivadores e, ainda, soldados, agricultores, funcionários públicos, comerciantes e motoristas. Desse total de indiciados, 695 eram relativos a Natal e 344 às cidades do interior. Em decorrência dos processos, 154 pessoas foram condenadas à prisão no estado.''

173 COSTA, Homero. Op cu., p. 107-112.

173 No Recife, os revolucionários renderam-se na noite de 25 de novembro. No Rio de Janeiro, o levante, que eclodira na noite do dia 26, havia tomado o comando do 3 o Regimento de Infantaria, mas foi imediatamente reprimido. Atacados por terra, mar e ar, renderam-se, no dia seguinte, assim como o grupo de militares que havia se apossado do comando da Escola de Aviação.

'ACOSTA, Homero. Op cit., p. 150-155. Segundo esse autor, muitas pessoas que não tinham envolvimento com a Insurreição foram indiciadas por perseguição política, e o papel dos delatores constitui um triste capitulo dos acontecimentos no Rio Grande do Norte”.

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Figura 47 — A exposição para fotografia do cadáver de Manuel Torquato revela sua im portância política no Rio Grande do Norte, na primeira m etade dos anos 1930. (Manuel Torquato)

A reação do Governo Federal foi violenta e lhe permitiu elim inar não apenas os comunistas, mas também todos aqueles que faziam oposição ao governo. Utilizando-se de uma maciça propaganda anticomunista e contando com o apoio da Igreja, dos integralistas e de setores da burguesia e das camadas médias urbanas, assustadas ante o “perigo da ameaça vermelha", Vargas decretou, em novembro de 1935, o estado de sítio em todo o território nacional, o qual seria prorrogado várias vezes e se transformaria em estado de guerra. Por esse meio, ficaram suspensas todas as garantias constitu­ cionais, permitindo a repressão indiscrim inada, que implicaria casos de tortura e morte pelo país. Os partidos operários foram dissolvidos, jornais foram fechados, sindicatos foram controlados e parlamentares presos. Em 1936, foi criada a “Comissão de Repressão ao Comunismo” - composta por civis e militares e com ação em todos os estados - e o Tribunal de Segurança Nacional.

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Em 1938, novas eleições presidenciais deveriam ocorrer. A campanha eleitoral se iniciou com o lançamento da candidatura de Armando Sales de Oliveira, do Partido Constitucionalista de São Paulo, que representava, em essência, a tentativa de retomada da hegemonia política pelas oligarquias paulistas. Mais dois candidatos foram lançados: José Américo de Almeida, da Paraíba, e Plínio Salgado, da Ação Integralista Brasileira.

Mas Getúlio Vargas, com o apoio, dentre outros, do general Góis Monteiro - chefe do Estado-Maior das Forças Armadas - e de Eurico Gaspar Dutra - Ministro da Guerra -, já começara a articular um golpe de estado, visando manter-se no poder. Como parte dessa articulação, os golpistas divulgaram, na imprensa escrita e falada, através do Departamento de Propaganda do Governo, o texto de um suposto “Plano Cohen”, que consistiria num plano comunista, envolvendo judeus, para tomar o poder, com uma descrição deta­ lhada e aterradora das atrocidades que seriam cometidas contra a população. O texto falso fora inicialmente forjado pelo capitão Olímpio Mourão Filho, membro da Ação Integralista Brasileira. Ao mesmo tempo, Vargas enviou um emissário ao Nordeste com a incumbência de avaliar o apoio que teria dos governadores dessa região ao golpe planejado. Dentre os governadores que o apoiaram, estava Rafael Fernandes Gurjão, do Rio Grande do Norte.

Com o consentimento das forças mais reacionárias e antidemocráticas do país, Vargas obteve um poder crescente, que lhe permitiu afinal dar um golpe de estado, em 10 de novembro de 1937, quando o Senado e a Câmara Federal foram fechados, os partidos políticos extintos e uma nova Constituição foi imposta à nação.

Figura 48 - Luís Carlos Prestes, preso em 1935. (Prestes)

A formação de um Estado autoritário, no modelo fascista, contou com o apoio dos integralistas. Mas, pretendendo livrar-se do poder de ação dos

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membros da Ação Integralista Brasileira, Vargas ordenou o fechamento desta, um mês após o golpe. Em reação, a AIB, em 1938, tentou um levante armado contra o governo, atacando o Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, residên­ cia de Vargas. A tentativa de golpe, reprimida pelas forças governamentais, reforçou ainda mais o poder do ditador, dando-lhe munição para perseguir qualquer tipo de oposição ao seu governo. Entre os integralistas do Rio Grande do Norte, houve algumas prisões e foram abertos inquéritos policiais, mas todos foram absolvidos.

Os grupos oligárquicos estaduais que apoiaram o golpe passariam, daí para frente, a atuar em aliança com a ditadura varguista. Foi o caso do Rio Grande do Norte, onde Rafael Fernandes Gurjão tornou-se interventor no estado, nomeado pela ditadura, cargo que exerceria até 1943. Essa aliança permitiria ao Partido Popular, ao qual ele pertencia, deter o poder estadual durante todo o chamado Estado Novo. Em 1946, ao final da ditadura Vargas, esses grupos oligárquicos se recomporiam, para enfrentar os novos conflitos decorrentes do avanço da luta social e política, no estado e no país, os quais abririam um novo capítulo na história.

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