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A música e a psiqué: um estudo sobre a relação entre a música e aspectos do psiquismo humano

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Academic year: 2021

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Elvis Dei Ricardi Barcellos Farias

A MÚSICA E A PSIQUÉ: um estudo sobre a relação entre a música e aspectos do psiquismo humano

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Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul DHE – Departamento de Humanidades e Educação

Curso de Psicologia

A MÚSICA E A PSIQUÉ: um estudo sobre a relação entre a música e aspectos do psiquismo humano

Elvis Dei Ricardi Barcellos Farias

ORIENTADOR: Simoni Antunes Fernandes

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí para a obtenção do grau de psicólogo.

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Elvis Dei Ricardi Barcellos Farias

A MÚSICA E A PSIQUÉ: um estudo sobre a relação entre a música e aspectos do psiquismo humano

BANCA EXAMINADORA:

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Simoni Antunes Fernandes - Professora do curso de Psicologia do departamento de humanidades e educação – DHE (Unijuí).

__________________________

Lála Catarina Lenzi Nodari - Professora do curso de Psicologia do departamento de humanidades e educação – DHE (Unijuí).

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A MÚSICA E A PSIQUÉ: um estudo sobre a relação entre a música e aspectos do psiquismo humano

Elvis Dei Ricardi Barcellos Farias

Simoni Antunes Fernandes

RESUMO

Esta monografia apresenta em um estudo que propõe um olhar sobre a relação existente entre a produção musical artística e aspectos constitutivos do psiquismo humano. O texto contextualiza a música dentro de um aspecto histórico e temporal, enfatizando os momentos que representaram as mais importantes e marcantes evoluções em termos de criações musicais, e também reforça o valor social e cultural da música para a humanidade. A proposta principal deste estudo é mostrar que a música pode ser considerada como uma via de expressão do inconsciente humano. Esta proposição é feita através de um apanhado de conceitos psicanalíticos fundamentais retirados das obras de Sigmund Freud e Jacques Lacan, os quais são utilizados para embasar e exemplificar a intrínseca relação existente entre a música e o psiquismo humano. Estuda-se esta relação, com base na aproximação de teorizações e conceitos de Freud (o estudo da psicologia de grupos, a teoria das pulsões e da libido, a sublimação etc.) e de Jacques Lacan (a teoria do significante, a premissa do inconsciente estruturado como linguagem etc.) com a questão do valor psíquico, que tanto a produção quanto a prática de ouvir música representam para o homem. E também, este trabalho mostra como a música pode consistir em uma maneira de ouvir o sujeito através de uma voz que fala sobre suas questões de caráter inconsciente.

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ABSTRACT

This paper presents a study that proposes a look regarding the existing relation between artistic musical production and constitutive aspects of the human psiquism. The text contextualizes music in a historical and in a temporal aspect, emphasizing the moments which represented the most important and marking evolutions in terms of musical creations, and also reinforces the social and cultural value of music to mankind. The main proposal of this study is to show that music can be considered as an expression path for the human unconscious. This proposition is made trough a gathering of fundamental pshychoanalytic concepts taken from the works of Sigmund Freud and Jacques Lacan, which ared used to base and to exemplify the exsting intrinsic relation between music and the human psiquism. This relation is studied based on the approach of theorizations and concepts by Sigmund Freud (the study of group psychology, the theory of drive and the libido theory, the sublimation etc.) and Jacques Lacan (the theory of the significant, the premise of the unconscious structured as a language etc.) with the matter of the psychic value, which both production and the pratice of listening to music representes to men. And also, this work shows how music can consist in a way of hearing the subject trough a voice that speaks about his matters of unconscious character.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...07

A MÚSICA NA HISTÓRIA E NOS GRUPOS...09

A MÚSICA E A SUBLIMAÇÃO...25

A MÚSICA COMO VIA LINGUÍSTICA DE EXPRESSÂO PSÍQUICA...43

CONCLUSÃO...56

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INTRODUÇÃO

A Música é uma criação única e específica da espécie humana, seu valor vai muito além do entretenimento e da aplicação artística. Quando falamos de música estamos falando de um mecanismo de comunicação complexo que envolve não só quesitos técnicos, pois a música representa uma expressão de questões próprias do sujeito, a música da voz, a subjetividade. A música consiste em uma das principais formas de arte e de expressão humana. Sua riqueza e seu alcance se estendem por todo o mundo, seu poder de “tocar a alma” é algo incrivelmente intrigante, e este foi o principal motivo que me levou a optar por este tema, minha proximidade e apreço por esta forma de arte me motivaram a ir em busca da pequena centelha de curiosidade que deu início a este estudo e me motivou a aprofundar a relação da música com os aspectos do psiquismo humano.

O tema desta monografia se faz com base em um campo de estudo que pouco foi explorado até então, ainda não se encontram grandes estudos aprofundados sobre a relação que existe entre música e psiquismo. É nisso que consiste a importância do estudo deste tema, o qual explora uma questão cuja difusão pode trazer novos entendimentos de notável relevância acadêmica sobre o que há de implícito e de latente na relação arte-sujeito, mais especificamente música-sujeito, e contribuir para que se produzam novas visões e entendimentos sobre o valor e o papel da música para o homem e sua conexão com o psiquismo.

Esse estudo pretende então, mostrar o quanto a relação da música com o psiquismo humano pode contribuir para a Psicologia enquanto campo de estudo e meio de se ter uma ferramenta que pode contribuir para ampliar o modo de entender o sujeito. Esse trabalho mostra, através de um embasamento teórico psicanalítico, a relação da música com aspectos constitutivos fundamentais do psiquismo humano. A ideia principal é enfatizar que a música representa mais do que simplesmente uma forma de contar histórias cantadas em uma melodia, a proposta é falar sobre a música como uma das maneiras que o inconsciente humano consegue se expressar, e dar vazão aos seus conteúdos latentes que muitas vezes não aparecem na fala do sujeito. Com base nesses objetivos o trabalho levanta algumas

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8 questões, como por exemplo: É possível pensar a música como um fenômeno organizador social? Aonde podemos encontrar indicativos de que a música consiste em uma ferramenta de transmissão das questões que estão latentes no sujeito? É possível pensar na música como sendo uma via linguística de expressão do inconsciente?

O primeiro capítulo do trabalho apresenta um apanhado histórico sobre a música, desde sua criação, e levando em consideração os principais marcos na história e do desenvolvimento da música ocidental, abordo também a relevância da música a nível cultural para o homem. Ainda no capítulo I, trago a questão da música a partir de uma visão com base no estudo de Freud sobre a psicologia de grupos, com o objetivo de mostrar a relação entre a música e as questões implícitas que estão na dinâmica de funcionamento dos grupos.

O segundo capítulo dessa monografia traz a questão da Teoria das Pulsões trazida por Sigmund Freud, com o objetivo de fornecer a base teórica necessária para explicar a relação pulsional com a música. Este apanhado teórico sobre as pulsões serve como entrada para a outra questão que abordo nesse capítulo, que é a teoria da Sublimação Freudiana, a qual configura-se como um mecanismo inconsciente que serve como base para o estudo, que visa explicar a origem das criações artísticas musicais e também para relacionar o ato de ouvir música com este conceito freudiano.

No terceiro e último capítulo é abordada a questão trazida por Jacques Lacan, de que o inconsciente é “estruturado a partir da linguagem”. Esta premissa serve de base para estudar a questão da música e seu papel para o psiquismo, pois a música consiste em um mecanismo de linguagem autêntico e o objetivo é mostrar a relação desta com as vias psíquicas de comunicação na dinâmica inconsciente-consciente. Também é abordado nesse capítulo, a teoria lacaniana do Significante com o objetivo de exemplificar o valor simbólico que a música representa para o inconsciente humano. E outro ponto também abordado é uma proposta que propõe que a música como uma via de valor simbólico que proporciona uma expressão psíquica de conteúdos latentes e pode ser utilizada para contribuir no processo de escuta e de entendimento das questões da subjetividade do sujeito.

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CAPÍTULO I: A MÚSICA NA HISTÓRIA E NOS GRUPOS

Quando falamos em música, o que nos vem à cabeça? Um conjunto de sons, os quais nada mais são que vibrações de ondas invisíveis que se propagam pelo ar e pela matéria em geral as quais são captadas por nosso aparelho auditivo e são interpretadas pelo nosso cérebro? Um grupo de ruídos harmônicos que quando reproduzidos e organizados em uma ordem específica produzem uma sensação agradável ou desagradável em seu ouvinte? Sem dúvida, dentro de determinado ponto de vista essas descrições não podem ser consideradas erradas, porém o que pretendo abordar neste capítulo é uma concepção da música enquanto uma ferramenta linguística de criação única e especificamente humana, uma produção que carrega imensa riqueza de significado, e, através de um estudo histórico, uma reflexão cultural e da intrínseca relação entre Sujeito-Grupo-Música, expor como essa criação humana representa muito mais do que apenas um conjunto de sons reproduzidos em uma ordem específica.

A Música na História

Segundo a etimologia, a palavra música possui origem Grega, é derivada de Musiké techné, cuja tradução significa “A Arte das Musas”. Segundo a mitologia Grega, estas musas eram as nove filhas de Zeus (o pai de todos os deuses na mitologia Grega) e Mnemosine (a deusa que representava a personificação da memória na mitologia Grega), as quais eram entidades míticas que ensinavam aos homens sobre os deuses e demais divindades através de encenações e apresentações artísticas acompanhadas de teatro, dança, poemas e cantos líricos.

De acordo com estudos históricos com base na obra de Candé (2001), a habilidade de compor música, ou por assim dizer, a capacidade que o homem tem de reproduzir, organizar e manipular sons distintos através do uso de ferramentas (instrumentos) em uma ordem específica surgiu por volta de um período histórico chamado de Paleolítico Médio, que data a partir de 70.000 a 50.000 anos atrás.

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10 Esse período é marcado pela ascensão do conhecido Homo Sapiens, que nesta época já possuía habilidades motoras consideráveis no manejo de ferramentas, um nível de desenvolvimento cognitivo consideravelmente elevado e notável capacidade de controlar a altura, a intensidade e o timbre vocal, dados estes que levam os estudiosos e historiadores a crerem que a capacidade criativa necessária para se produzir música tenha se desenvolvido paralelamente a este passo evolutivo da humanidade, levando a crer então que, devido a estas estimativas do nível de desenvolvimento em que o homem se encontrava nesta época, foi aproximadamente neste período histórico que ocorreu o surgimento da música.

Conforme a obra de Grout e Palisca (1988) farei um pequeno apanhado histórico, situando a evolução e o papel da música paralelamente com determinados períodos da evolução e épocas que a humanidade viveu até os dias atuais. Na pré-história a música como conhecemos atualmente ainda não existia, o que se produzia em termos “musicais” naquela época primitiva consistia na tentativa do homem em reproduzir os sons que provinham da natureza que o cercava, e isso era feito através do uso do próprio corpo, e de ferramentas e instrumentos rudimentares. Mais adiante as produções musicais foram se solidificando dentro das culturas primitivas e a prática de reproduções sonoras adquiriu uma função ritualística, servindo como um mecanismo criado pelo homem primitivo para servir como via de comunicação com divindades provenientes de suas crenças, e também para simbolizar e referenciar momentos significativos: caças, batalhas, fenômenos da natureza entre outros.

Na antiguidade, período que foi marcado pela ascensão de grandes civilizações (Suméria, Egito, Grécia, China, Índia etc.) detentoras de enorme importância histórica, as quais construíram vastos impérios, conquistaram e delimitaram espaços geográficos que ainda hoje perduram, cujas culturas se desenvolveram e se solidificaram de tal maneira que seus legados permanecem vivos e influenciam os sujeitos até os dias atuais. Naquele período histórico da antiguidade a música, enquanto função ritualística, já consistia em um costume presente em praticamente todas as culturas conhecidas, nesta época foram inventados diversos instrumentos musicais, instrumentos de cordas, de percussão, de sopro entre outros, o que fez com que as criações musicais adquirissem maior

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11 complexidade. Um ponto em comum da música naquele período que se manteve desde o princípio, foi que ela continuou sendo um meio de comunicação ritualístico e de caráter célebre em todas as culturas, pois a música era tida como uma espécie de “linguagem dos deuses”, que fora ensinada por eles aos humanos, e o ato de reproduzi-la era considerado em diversas culturas como um rito simbólico e sagrado, um meio pelo qual os homens poderiam “falar a língua dos deuses”.

Para seguir adiante neste apanhado histórico é válido citar que dou ênfase para o estudo da música dentro do ponto de vista histórico ocidental, que representa a principal influência da cultura musical que possuímos atualmente. Não há como falar da música na antiguidade sem citar a civilização que mais influenciou a cultura ocidental neste quesito, a civilização grega. Na Grécia antiga a música era tida como um mecanismo de entrar em contato, em sintonia com os deuses da antiga mitologia, de tal modo que os gregos possuíam figuras míticas para representar especificamente esta conexão divina entre o homem e os deuses que se dava através da música, como é o caso do deus grego Apolo e seu filho Orfeu, ambos possuidores de habilidades musicais mágicas e encantadoras citadas na mitologia.

Na Grécia antiga a música adquiriu algumas características novas, as quais fizeram dela o que hoje conhecemos como música em si, que é o caso da criação da palavra “música”, que é de origem Grega e cujo significado já foi explicitado anteriormente. Também foi na Grécia antiga que a música deixou de possuir a característica exclusivamente ritualística e adquiriu um caráter que podemos chamar de artístico, de modo que era utilizada como acompanhamento nas famosas apresentações dos teatros Gregos, nas declamações de poemas e representações de histórias míticas. Outro marco importante para a música que surgiu na civilização Grega foi a criação de conceitos referentes a notas, escalas, gêneros e tons musicais, que eram representadas graficamente por letras do alfabeto, e o trecho a seguir, retirado da obra de D.J. Grout e C.V. Palisca (1988) nos ajudará a elucidar melhor no que consistia esta teoria musical grega.

A teoria musical grega, ou harmonia, compunha-se tradicionalmente de sete tópicos: notas, intervalos, gêneros, sistemas de escalas, tons, modulação e composição melódica. Estes pontos são enumerados por esta ordem por Cleónides (autor de data incerta, talvez do século II d. C.) num compêndio

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da teoria aristoxeniana; o próprio Aristóxeno, nos seus Elementos de Harmonia (c. 330 a. C.), discute demoradamente cada um dos tópicos, mas ordenando-os de forma diferente. Os conceitos de nota e de intervalo dependem de uma distinção entre dois tipos de movimento da voz humana: o contínuo, em que a voz muda de altura num deslizar constante, ascendente ou descendente, sem se fixar numa nota, e o diastemático, em que as notas são mantidas, tornando perceptíveis as distâncias nítidas entre elas, denominadas <<intervalos>>. Os intervalos, como os tons, os meios-tons e os dítonos (terceira), combinavam-se em sistemas ou escalas. O bloco fundamental a partir do qual se construíam as escalas de uma ou duas oitavas era o tetracorde, formado por quatro notas, abarcando um diatessarão, ou intervalo de quarta. (p. 22.)

Dando sequência no apanhado histórico da música em nossa sociedade, abordarei agora o período da idade média, que se deu do século VII até o século XV. O período da idade média, também conhecido como “Idade das Trevas”, foi marcado pela queda do império Romano. Naquele momento da história o sistema econômico do Feudalismo foi adotado e prosperou na Europa, também aquela época foi marcada pela ascensão da hegemonia da igreja Católica e por uma estagnação significativa dos avanços científicos e tecnológicos da humanidade.

Em termos de produção musical, a idade média foi um período no qual a influência religiosa vigente da igreja Católica contribuiu muito para delimitar o que foi produzido neste período histórico. Naquela época a música em geral estava associada principalmente ao caráter ritualístico religioso, porém já providas de detalhes estruturais mais evoluídos, as produções musicais eram voltadas para servir de acompanhamento aos ritos e celebrações Católicas, e existiam também as produções musicais chamadas de “profanas” que diziam respeito às produções que não eram aceitas ou aprovadas pela Igreja. Neste período o principal gênero musical foi o Canto Gregoriano, que era um tipo de música vocal monofônica, no qual basicamente uma ou mais vozes executando melodias à capela, o Canto gregoriano era interpretado juntamente com demais cantos característicos, como acompanhamento para momentos significativos em celebrações religiosas, servia como método de evocar orações e salmos em latim.

Mais adiante ocorreu a criação do Órgão, instrumento que passou a servir como acompanhamento instrumental para os cantos e liturgias religiosas nas celebrações, e trouxe um caráter polifônico para as composições musicais da época e contribuiu para a criação de outros estilos musicais religiosos, como a Clausula, o

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13 Conductus, o Moteto, e a técnica Ars Nova, que consistia em uma maneira mais complexa de se criar música, utilizando acompanhamentos instrumentais mais elaborados e com interação de diferentes melodias o que exigia o auxílio de um condutor.

Falarei um pouco agora sobre o período do século XIV seguindo com o estudo embasado na obra de Grout e Palisca (1988), período este marcado pela ascensão e consolidação do sistema econômico capitalista, assim como do regime político democrático. Naquele momento da história a ciência passou a se tornar a base para o conhecimento, deixando de lado a visão religiosa e se distanciando da filosofia. Este também foi um momento da história marcado por conflitos mercantis e comerciais na Europa e pela criação e desenvolvimento de correntes artísticas, literárias e visuais como o Romantismo, o Realismo/Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo entre outras.

A música no século XIV foi nomeada e atribuída ao estilo literário do Romantismo, pois esta era uma das principais modalidades artísticas da época, que implicava em uma expressão artística exótica, com apreciação pela natureza e um saudosismo medieval. A música dentro do Romantismo adquiriu novas características que foram somadas às bases do Classicismo, como acordes diferenciados, ciclos de melodias, tons às vezes indefinidos. Novos tipos de andamentos começam a ser explorados, através do avanço da ciência começam a ocorrer melhoramentos nos instrumentos já existentes e ocorre a criação de novos instrumentos como a Tuba e o Saxofone.

Neste período histórico criam-se os eventos voltados exclusivamente para apreciação de música, como concertos, óperas, recitais promovidos pelas então sociedades musicais. Outro ponto importante nesta época é o surgimento da especialização musical, de modo que passaram a existir artistas voltados para funções específicas na música, como compositores de sinfonias, instrumentistas entre outros. O nível técnico da música se elevou neste período histórico, ocorreu também a criação do metrônomo (uma ferramenta utilizada para a marcação do tempo e compasso musical). No século XIV surgiram diversos nomes exponenciais da música como Johannes Brahms, Niccolò Paganini, Fréderic Chopin, Ludwig Van Beethoven entre outros.

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14 Com o término da época medieval, temos a época do Renascentismo ou Renascimento, época essa que foi marcada pela ascensão da ciência e da tecnologia, ocorreu a dessacralização do corpo, permitindo avanços significativos nos estudos da medicina em geral, naquele período se iniciou uma nova modalidade de pensamento, na qual começaram aparecer as críticas à religião, e o pensamento filosófico e racional começaram a serem difundidos. Neste período também o sistema econômico europeu começou a mudar, o capitalismo começou a entrar em vigência, o que propiciou a abertura do mercado entre as nações, iniciando o processo de abertura e de interação entre nações e culturas, ao qual hoje denominamos “globalização”, também nesta época ocorreu o início da abertura do pensamento religioso, que se iniciou com os Protestantes que divergiam do pensamento Católico, também ocorreu a criação dos primeiros bancos e universidades, e a liberdade de escolha religiosa também passou a existir neste período.

Quanto à produção musical na época do Renascimento, não se notou uma grande mudança na maneira de compor música quando comparado ao período medieval, porém neste período as composições se tornaram cada vez mais complexas e experimentais. Ocorreu uma perda do vínculo exclusivo religioso que antes era vigente, iniciou-se uma aposta na complexidade instrumental e na abundância de notas e tons musicais, juntamente com o surgimento de novos instrumentos, como a Flauta Doce, o Cromorne, a Viola da Gamba, o Alaúde a Vihuela entre outros.

Com base na obra de Grout e Palisca (1988), no renascimento a música foi adquirindo novos gêneros e vertentes como a Frótola, Villancico, Chanson e o Madrigal. Também neste período começou a se explorar de maneira mais séria a música instrumental, que se tornou cada vez mais complexa e técnica, o que culminou com a criação do gênero musical denominado Música Erudita que consistia em composições técnicas e complexas que buscavam explorar ao máximo as combinações sonoras e a perfeição da execução. Outros estilos também surgiram como a música de Dança, que servia como animação para ambientes festivos como tavernas e eventos reais. Também a música Utilitária surgiu nesta época, com

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15 objetivo de servir para momentos específicos, normalmente ligados a questões de realeza, para momentos célebres, cerimônias funerais, militares etc.

Após o Renascimento, temos o período histórico denominado de Barroco, que foi do final do século XVI a meados do século XVIII. Este é um período marcado por guerras marítimas europeias, assim como disputas religiosas, também foi um período de continuidade dos estudos científicos e filosóficos e uma difusão das artes mais variadas. Neste período histórico difundiu-se as composições de estilos musicais dançantes, também passaram a utilizar ornamentos musicais para incrementar as melodias dos instrumentos já existentes. Um ponto interessante deste período foi a criação da chamada “Teoria dos Afetos” que consistia em uma modalidade de compor baseada nos sentimentos, na contemplação da beleza da natureza, atitudes humanas, histórias etc.

No período Barroco, iniciou-se a criação das orquestras musicais, responsáveis pelas execuções das primeiras Óperas, que consistem em obras musicais complexas e temáticas, acompanhadas de encenações e caracterização artística. As Igrejas vigentes da época proibiram a execução e composição de óperas em seus domínios, o que fez com surgir um estilo diferenciado de composição, o Oratório, o qual não diferia muito da estrutura da ópera, porém era voltado a uma temática religiosa. Outros estilos musicais foram criados nesta época, como a Cantata, o Concerto Grosso, Trio Sonata, Suíte, Fuga entre outros. Este período histórico foi marcado por nomes como Antonio Vivaldi e Johann Sebastian Bach, que até hoje são aclamados compositores cujas obras são lembradas e executadas.

Em sequência ao período barroco iniciou-se o período do Classicismo, o qual se deu de meados do século XVIII até o início do século XIX. Este período foi marcado pelo início da revolução industrial e por um pensamento artístico voltado ao perfeccionismo, à valorização da beleza, do balanço e equilíbrio. Neste momento histórico, a música adquiriu uma maior complexidade e riqueza nas composições harmônicas, mais escalas tonais foram implementadas, começou a se explorar mais diversidade de contrastes tônicos e de andamentos musicais, as composições adquiriam um caráter mais abstrato em sua generalidade.

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16 Na época do Classicismo, foram inventados dois instrumentos bastante importantes para o cenário musical, como o Piano e o Clarinete. Também ocorreu neste período a criação da chamada Orquestra Sinfônica, que consiste em diversos tipos de instrumentos sendo reproduzidos em conjunto mediante a regência de um condutor. Os principais gêneros musicais que prosperaram no Classicismo foram a Sonata, a Sinfonia, o Concerto Solo, e a Ópera. Neste período temos o surgimento de Wolfgang Amadeus Mozart, um dos maiores e mais aclamados compositores de todos os tempos.

Agora falarei sobre a música no século XX, que consiste no período mais repleto de avanços, acontecimentos e mudanças históricas que influenciaram toda a cultura mundial e logo a produção musical no mundo todo. O século XX foi um período marcado por uma expansão progressiva da globalização, o mercado e o comércio se expandiram a nível mundial, assim como os meios de transporte e de comunicação evoluíram e se tornaram mais dinâmicos e abrangentes, o que permitiu uma troca de experiências entre as culturas, uma miscigenação de diversas etnias propiciando a interação entre os mais variados tipos de pessoas. No século em questão, também tivemos a ascensão da industrialização a nível global, que até hoje consiste em um fator importante para a economia das nações, também neste período o mundo passou por dois conflitos armados mundiais, as duas grandes guerras mundiais, as quais paralelamente motivaram a expansão de recursos tecnológicos e científicos no mundo. O século XX marcou a ascensão da tecnologia e das ciências, período no qual foram feitas diversas descobertas e invenções da medicina e da ciência, que se tornaram essenciais para melhorar a qualidade de vida no mundo todo. Também houve avanços tecnológicos muito importantes como o advento da era digital entrou em vigor e mudou a maneira como a humanidade lida com comunicação, entretenimento, ciência e nas demais áreas do conhecimento.

Com relação ao que se produziu musicalmente no século XX é importante citar que este período histórico foi o responsável pela maior quantidade de mudanças, de evolução de gêneros e experimentações criativas que se viu na história da humanidade: a música se expandiu de maneira bastante significativa, diversos gêneros musicais surgiram, instrumentos muito significativos foram inventados como a Guitarra elétrica, o contrabaixo elétrico, o sintetizador, entre

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17 outros. Um fator muito importante foi que neste momento histórico a música se tornou uma prática artística presente em todos os lugares da cultura. Também no séc. XX ocorreu a invenção dos mecanismos de gravação, possibilitando com que a música pudesse ser eternizada, comercializada e colocada de certo modo no plano físico, com os discos de Vinil, as fitas K7 e os CDs.

A música no séc. XX adquiriu um caráter que vai além de uma simples arte e entretenimento, ela se tornou um meio de expressão social, uma ferramenta linguística de vários grupos sociais com o objetivo de divulgar a voz do homem, suas ideologias e pensamentos. Um exemplo disso foram os movimentos sociais do Rock and Roll, o movimento Punk, o movimento Hippie entre outros, neste período histórico a música adquiriu um caráter de transmissão cultural a nível mundial oque foi facilitado e propiciado pelo advento da criação e popularização de meios de comunicação cruciais na história humana como o Rádio e a Televisão.

Quanto ao século XXI, pode-se dizer que não houve grandes mudanças na maneira de se produzir música em geral, pois ainda estamos no início deste século e o que se produz hoje consiste em uma continuação daquilo que se iniciou no séc. XX. Neste século ocorreu a popularização da produção de músicas eletrônicas e produzidas digitalmente, a maneira de se registrar a música também se tornou completamente digital, hoje possuímos mecanismos de armazenamento digital como o Pen Drive e plataformas digitais de armazenamento musical, que fizeram com que os métodos anteriores de armazenamento se tornassem menos usados.

Através deste apanhado histórico com base na obra de Grout e Palisca (1988), vimos que a música sempre foi uma ferramenta importante na história humana, a qual surgiu e evoluiu paralelamente com os avanços da humanidade e está presente em todos os lugares do mundo. O ponto principal que quero levar em consideração aqui é que a música ao longo de toda sua evolução manteve sempre uma característica básica que nunca se alterou, a de que esta consiste em um mecanismo de linguagem, uma ferramenta que o homem criou com o objetivo de se expressar, de falar sobre aquilo que é seu, que é próprio de sua espécie e suas mais variadas culturas.

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A Música e os Grupos

As relações de um indivíduo com os pais, com os irmãos e irmãs, com o objeto de seu amor e com seu médico, na realidade, todas as relações que até o presente constituíram o principal tema da pesquisa psicanalítica, podem reivindicar serem consideradas como fenômenos sociais, e, com respeito a isso, podem ser postas em contraste com certos outros processos, por nós descritos como “narcisistas”, nos quais a satisfação dos instintos é parcial ou totalmente retirada da influência de outras pessoas. O contraste entre atos mentais sociais e narcisistas — Bleuler [1912] talvez os chamasse de “autísticos” — incide assim inteiramente dentro do domínio da psicologia individual, não sendo adequado para diferençá-la de uma psicologia social ou de grupo. (FREUD, p. 81)

A partir desse trecho retirado da obra de Sigmund Freud Psicologia de Grupos e Análise do Ego (1921), introduzo que meu objetivo é mostrar como (devido ao fato de que o sujeito consiste em um ser, cujas características pessoais e psíquicas são construídas e se desenvolvem a partir de sua interação com outros sujeitos dentro de grupos sociais) a música pode adquirir o valor de “ponto organizador” de grupos, e também pode ser utilizada para exemplificar e entender como se dá a dinâmica de determinados processos psíquicos inconscientes que são produzidos através desta interação do indivíduo com os diferentes grupos, nos quais se insere ao longo de sua vida. Este estudo será feito através de um apanhado teórico sobre questões referentes à psicologia dos grupos, a partir dos estudos feitos por Freud em sua obra citada acima.

A psicologia de grupo interessa-se assim pelo indivíduo como membro de uma raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão, de uma instituição, ou como parte componente de uma multidão de pessoas que se organizaram em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito definido. (FREUD, p. 84)

O trecho citado nos fala sobre o objeto de estudo da psicologia de grupo, e nos mostra que a questão central dos grupos é justamente a união de determinados

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19 indivíduos em função de um ponto em comum, seja ele qual for. Freud inicia seus estudos utilizando-se de algumas ideias retiradas da obra de Le Bon (1855), que, segundo Freud, Le Bon propõe o conceito de “grupo psicológico”, no qual os indivíduos que dele fazem parte, desconsiderando suas particularidades e diferenças pessoais, desenvolvem uma característica em comum chamada por ele de “mente coletiva” ou “mente grupal”.

Segundo Le Bon (1855), essa mente coletiva faz com que o indivíduo adquira características mentais e comportamentais distintas e incoerentes quando comparadas às que este normalmente apresentaria se observado de maneira individual. Porém em sua análise da obra de Le Bon, Freud aponta o fato de que o autor teria deixado de lado uma questão essencial para a compreensão da dinâmica da formação dos grupos, que consiste no fato de que para um grupo ser formado é necessário que por mais diferentes que sejam as características pessoais dos integrantes que formam o grupo, estes precisam possuir um ponto em comum que os una enquanto tal.

A partir de leituras sobre a obra de McDougall (1920), Freud nos fala que um grupo em si não pode existir dentro desta denominação, consiste em algo que pode ser chamado de “multidão”. Esta concepção refere-se ao fato da premissa de não haver uma organização básica para legitimar a construção de um grupo, o qual consistiria em outro tipo de configuração estrutural, não podendo ser nomeada como tal (grupo).

Porém, Freud afirma mais adiante que para que possa haver uma aglomeração de indivíduos de tal forma, é preciso que haja certo grau de organização, que exista em algum nível determinado tipo e vínculo entre os mesmos, algo que gire em torno de um objeto comum, ou também certo grau de vínculo emocional. Esta ideia nos diz também, que é necessário que exista um nível de reciprocidade entre os sujeitos, ou seja, uma inclinação emocional, como Freud nos diz (1921 p. 53): “Quanto mais alto o grau dessa “homogeneidade mental”, mais prontamente os indivíduos constituem um grupo psicológico e mais notáveis são as manifestações da mente grupal.”

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20 Por fim, o objetivo de Freud com o estudo das obras de Le Bon e McDougall é mostrar uma visão que define como é como funciona a estrutura da organização de um grupo. Sendo assim, pode-se pensar que é fundamental a existência de certos vínculos intrínsecos para que um grupo seja legitimado como tal, e para que isso ocorra é necessário que forças e influências de uma ordem até então “encobertas”, pertencentes a uma dinâmica de interação sutil que existe entre os indivíduos possibilitem a formação deste vínculo.

Outro fator a ser levado em consideração é que, segundo Freud o que movimenta ou organiza os vínculos entre os indivíduos de um grupo refere-se a uma força de contágio mútuo que ele chama de “Sugestão” ou “indução” de emoções. Porém, Freud ao citar estas concepções sugere uma outra maneira de explicar este fenômeno, através da teoria da libido e o trecho a seguir nos ajuda a entender de forma mais clara estas questões:

Libido é expressão extraída da teoria das emoções. Damos esse nome à energia, considerada como uma magnitude quantitativa (embora na realidade não seja presentemente mensurável), daqueles instintos que têm a ver com tudo o que pode ser abrangido sob a palavra “amor”. O núcleo do que queremos significar por amor consiste naturalmente (e é isso que comumente é chamado de amor e que os poetas cantam) no amor sexual, com a união sexual como objetivo. (FREUD, 1921 p. 57).

Seguindo a linha de pensamento de Freud existem diferentes tipos de grupos os homogêneos e os heterogêneos, artificiais e naturais, os primitivos e os organizados. Ainda dentro destes modelos de grupos citados existem os grupos que possuem um líder e os que não o possuem, esses fatores são a base que nos serve para entender a estrutura de funcionamento, e a organização de um grupo. Para exemplificar tais estruturas grupais, Freud (1921) utiliza dois tipos de grupos existentes em nossa sociedade, sendo os tais a Igreja e o Exército. Porém o objetivo deste estudo é exemplificar essas mesmas estruturas descritas pelo autor em questão a partir de exemplos relacionados a música. Podemos utilizar como base de exemplo para este estudo um grupo organizado de maneira homogênea, artificial e primitiva, como é o caso das “tribos musicais”.

Uma tribo musical, consiste em um grupo formado por indivíduos que possuem uma determinada preferência por ouvir um estilo musical específico em comum, por exemplo o Rock and Roll, o qual serve como ponto organizador, que

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21 movimenta a união de diversos indivíduos desde os primórdios de sua criação: É visto que historicamente (como já citado anteriormente neste estudo) este estilo musical vem movimentando a criação de grupos sociais com o cunho musical, tais como os chamados Rockers, Headbangers, Punks, Hippies, entre outras nomenclaturas e tribos, as quais expressam ideologias e modos de pensar através de uma linguagem artística e expressiva, musical. A partir do exemplo citado, podemos entender a definição utilizada por Freud para definir uma organização grupal artificial, no sentido de que o fator unificante fundamental deste grupo, ou seja, o estilo musical em questão consiste em uma espécie de “líder abstrato”, que organiza o investimento libidinal comum entre os seus membros através de um “laço emocional” comum.

Outra estrutura de organização grupal que citarei são os conjuntos musicais ou bandas, que consistem em grupos organizados a partir de ideais e ideologias de pensamento expressadas artística e musicalmente por indivíduos unidos através de um líder personificado, um ser humano que serve como organizador deste grupo, como é o caso de bandas de rock, as quais possuem uma característica artística específica, que faz com que suas composições musicais tenham uma característica em comum que não se altera, caso contrário levaria à dissolução deste. Esta característica consiste em tudo que se pode produzir dentro do estilo musical em questão, e que por mais que haja certa heterogeneidade específica entre os membros, o ponto organizador (a música) possibilita uma redução dos impedimentos narcísicos que por outras vias impediriam a existência do vínculo entre os tais, ou seja, através da linguagem expressiva musical estes indivíduos se conectam através de um laço de origem libidinal que perpassa sutilmente os impasses de ordem heterogênea.

Para concluir esta parte do estudo e para iniciar a próxima etapa do mesmo, citarei um trecho da obra de Freud (1921) que nos ajudará a entender que o foco do estudo a seguir está voltado ao entendimento da dinâmica que organizam os laços existentes entre os membros de um grupo.

Nosso interesse nos conduz agora à premente questão de saber qual possa ser a natureza desses laços que existem nos grupos. No estudo psicanalítico das neuroses, ocupamo-nos, até aqui, quase exclusivamente com os laços com objetos feitos pelos instintos amorosos que ainda

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perseguem objetivos diretamente sexuais. Nos grupos, evidentemente, não se pode falar de objetivos dessas espécies. Preocupamo-nos aqui com os instintos amorosos que foram desviados de seus objetivos originais, embora não atuem com menor energia devido a isso. Ora, no âmbito das habituais catexias sexuais de objeto, já observamos fenômenos que representam um desvio do instinto de seu objetivo sexual. Descrevemos esse fenômeno como gradações do estado de estar amando e reconhecemos que elas envolvem certa usurpação do ego. Voltaremos agora mais de perto nossa atenção para esses fenômenos de estar enamorado ou amando, na firme expectativa de neles encontrar condições que possam ser transferidas para os laços existentes nos grupos (FREUD, p. 65).

Antes de passar ao estudo específico das relações emocionais dentro dos grupos, a partir das catexias libidinais de objeto, cujos fins sexuais não podem ser plenamente satisfeitos, será levado em consideração o estudo de outro mecanismo que atua nas relações emocionais dentro de um grupo, ao qual Freud chamou de Identificação. Segundo este autor o mecanismo da Identificação consiste em um tipo de laço emocional, ou vínculo, bastante primitivo que atua na constituição psíquica do sujeito, e que possui um papel fundamental dentro da dinâmica edípica.

Freud inicia sua explicação do funcionamento do mecanismo de Identificação trazendo um exemplo no qual, dentro da conflitiva edípica o menino toma o pai como um objeto ideal, ou idealizado. Isto faz com que este ideal sirva como base para orientar uma escolha objetal posterior que consiste no desenvolvimento de uma catexia libidinal direcionada a mãe, fazendo então com que atuem simultaneamente dois laços emocionais diferentes, um deles sendo o laço identificatório de idealização com o pai e o outro uma catexia de ordem objetal sexual direta com a mãe. Além disso, o autor complementa que estes dois laços emocionais, com o desenrolar de sua interação coexistente no psiquismo do sujeito posteriormente tendem a convergir em uma conflitiva, dando origem ao denominado Complexo de Édipo.

A partir destas ideias citadas acima, é possível visualizar a questão da dinâmica do processo identificatório do sujeito através de um exemplo de ordem musical. Verifica-se que uma pessoa pode desenvolver um vínculo emocional de ordem identificatória parcial com um determinado artista, seja ele um cantor solo, ou então, um membro específico de um conjunto musical, ou banda. Por exemplo, um determinado indivíduo coloca certo artista musical em uma posição de objeto ideal, utilizando-se deste como modelo para questões de ordem pessoal, como o estilo de

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23 se vestir, um modelo de comportamento, ideias, ideologias, entre outros aspectos que são transmitidos e personificados pela figura do artista para o indivíduo através de suas composições e interpretações musicais.

Existe também outro meio particular de formação de vínculos emocionais com base no processo de identificação, o qual se constrói com base em uma identificação que se faz a partir da possibilidade de colocar-se em uma mesma situação, ou como nas próprias palavras de Freud (1921, p. 67): “Um determinado ego percebeu uma analogia significante com outro sobre certo ponto”. A partir deste modelo identificatório, pode-se utilizar de exemplos musicais para contribuir com o entendimento deste pensamento de Freud: Um determinado indivíduo cria um vínculo emocional com outra pessoa a partir de uma ideologia proposta pelas obras musicais de determinado artista, isto também ocorre em relação ao vínculo estabelecido entre duas pessoas que se originou a partir de preferência por um estilo musical.

[...] a identificação constitui a forma original de laço emocional com um objeto; segundo, de maneira regressiva, ela se torna sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal, por assim dizer, por meio de introjeção do objeto no ego; e, terceiro, pode surgir como qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual. Quanto mais importante essa qualidade comum é, mais bem-sucedida pode tornar-se essa identificação parcial, podendo representar assim o início de um novo laço (FREUD, p. 67).

A partir destes exemplos e da citação acima, podemos visualizar que, segundo Freud este processo de identificação seria o que organiza o laço existente entre os membros de determinado grupo com base em uma emoção em comum, que estaria vinculada com o líder deste grupo, e ainda o autor especula sobre a origem a chamada Empatia, que seria de certo modo a força motriz que possibilita a congruência entre os membros do grupo.

Mais adiante, Freud procura explicar como ocorre o estabelecimento do vínculo entre um indivíduo e o líder do grupo, para isto ele explica que esta relação é construída a partir de uma espécie de “enamoramento hipnótico” que se dá por parte do indivíduo para com este líder e sucessivamente os indivíduos se identificam uns

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24 com os outros a partir do vínculo comum que existe para com este líder. Para facilitar o entendimento deste processo, citarei um trecho da obra de Freud (p. 90).

Estar Amando baseia-se na presença simultânea de impulsos diretamente sexuais e impulsos sexuais inibidos em seus objetivos, enquanto o objeto arrasta uma parte da libido do ego narcisista do sujeito para si próprio. Trata-se de uma condição em que há lugar apenas para o ego e o objeto. A Hipnose assemelha-se ao estado de estar amando por limitar-se a essas duas pessoas, mas baseia-se inteiramente em impulsos sexuais inibidos em seus objetos e coloca o objeto em um lugar de ideal do ego. O grupo multiplica esse processo; concorda com a hipnose da natureza dos instintos que o mantém unido e na substituição do ideal do ego pelo objeto, mas acrescenta a identificação com outros indivíduos, oque foi talvez, originalmente, tornando possível por terem eles a mesma relação com o objeto (FREUD, 1921).

Diante destas teorizações podemos observar e entender a razão pela qual um determinado indivíduo idolatra, reverencia e venera um determinado artista musical ou conjunto, e diante disto acaba por estabelecer vínculos com demais indivíduos que também o fazem, dando origem aos Fã-Clubes e demais grupos referentes à idolatria a artistas relacionados a música. É possível concluir então, com base de todos estes estudos feitos com base na obra de Freud, que é possível visualizar e exemplificar como a música pode ser utilizada para entendermos como se organizam os grupos e como se dá a relação entre os vínculos que o constituem estes grupos, de modo que a música serve como este ponto organizador que une os indivíduos, este líder que faz com que os indivíduos se identifiquem uns com os outros diante deste objeto em comum.

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CAPÍTULO II: A MÚSICA E A SUBLIMAÇÃO

Falei sobre a música de acordo com o seu aspecto histórico e de seu valor como um ponto em comum organizador de grupos, o qual serve de base para que se criem produções psíquicas de ordem identificatória que regem as relações entre estes sujeitos nesses grupos. Agora iniciarei um estudo que tem como objetivo observar a música enquanto uma produção humana artística e expressiva que possui uma conexão direta com o psiquismo do sujeito, e esta conexão, a qual pode ser entendida como uma relação dialética entre música e inconsciente pode ser constatada a partir da análise de um conceito psicanalítico trazido por Sigmund Freud, a Sublimação.

Este capítulo tem como objetivo, a partir do estudo de teorizações provenientes de obras de Sigmund Freud, mostrar o que são as pulsões, que são as fontes que movem e direcionam questões derivadas do psiquismo humano, introduzir e trabalhar o conceito de libido e da sublimação mostrando como o ser humano faz o uso da música enquanto arte, como uma ferramenta que possui a capacidade de adquirir o valor de mecanismo sublimatório tanto no sentido de produção quanto de apreciação artística. E também exemplificar, através de um estudo com base em obras musicais de compositores do cenário musical internacional, como podemos visualizar a dinâmica do processo da sublimação e de como este se relaciona com a música.

Sobre as Pulsões e a Libido

Por “pulsão” podemos entender, a princípio, apenas o representante psíquico de uma fonte endossomática de estimulação que flui continuamente, para diferenciá-la do “estímulo”, que é produzido por excitações isoladas vindas de fora. Pulsão, portanto, é um dos conceitos da delimitação entre o anímico e o físico (FREUD, 1905, p. 103).

O trecho acima consiste em um fragmento do texto retirado da quarta edição da obra de Freud (1905), Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade. Através

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26 deste fragmento do texto, é possível perceber que Freud nos aponta o conceito da pulsão como sendo uma espécie de força motriz que funciona como um ponto unificante, e isto seria o resultado da interação entre estímulos provenientes do mundo externo e o funcionamento psíquico do sujeito, de modo que a interação desses dois hemisférios resulta em uma espécie de “impulso instintual” que é então chamado por Freud de Pulsão. Este consiste em um dos conceitos fundamentais para se entender a origem e a complexa dinâmica da sexualidade humana.

Na obra em questão, Freud nos fala sobre a pulsão sob o ponto de vista sexual, abordando essa como sendo uma espécie de fonte de excitação proveniente de estímulos que gera uma força psíquica pulsante contínua, a qual possui um alvo se relaciona com um objeto e precisa ser saciada através da satisfação parcial, e para referenciar a isto Freud nos fala sobre uma espécie de energia psíquica a qual movimenta esta busca pela satisfação pulsional, Freud chama esta energia de Libido.

Para entender a origem destas “pulsões sexuais parciais” precisamos entender um conceito fundamental trazido ainda nesta obra, que serve para entender como se originam as pulsões parciais de ordem sexual, é o conceito de “zona erógena”. O trecho a seguir retirado da obra de Freud Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905) fornecerá uma introdução para se entender melhor este conceito.

Outra hipótese provisória de que não podemos furtar-nos na teoria das pulsões afirma que os órgãos do corpo fornecem dois tipos de excitação, baseados em diferenças de natureza química. A uma dessas classes de excitação designamos como a que é especificamente sexual, e referimo-nos ao órgão em causa como a “zona erógena” da pulsão parcial que parte dele. (FREUD, p. 104).

A partir do conceito de zona erógena Freud nos fala sobre essas áreas do corpo as quais são responsáveis por serem estimuladas e produzirem excitação de ordem sexual que então originam o impulso psíquico pulsional, e estas não somente são as áreas especificamente genitais, estas podem ser quaisquer áreas corporais. Freud nos exemplifica como zonas erógenas, áreas de superfície de mucosa, como a zona bucal e anal que são mais usualmente excitadas a nível erógeno no ser humano. Para entender melhor ainda, pode-se afirmar que as zonas erógenas são

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27 áreas do corpo que são estimuladas a nível de excitação genital ou sexual, e estas áreas servirão como pontos de onde se produzem vias de descarga libidinal com o objetivo de produzir uma satisfação pulsional parcial.

Para esclarecer por que Freud conceituou como parciais as pulsões sexuais, é necessário entender que segundo o autor as pulsões sexuais são impulsos originados da relação do psiquismo com estímulos que provém de áreas específicas e diferentes do corpo, de modo que assim não há como se obter uma satisfação plena pulsional, pois a força da pulsão em si é algo inerente, constante e somente é possível obter satisfação de ordem parcial através da relação destas áreas do corpo com as quais a pulsão se relaciona. Deste modo, o que ocorre é uma experiência de satisfação primária, que erogeniza e instaura um ponto de partida para uma busca por uma satisfação com o objetivo de reviver esta experiência de satisfação primária plena que não pode ser atingida.

Antes de seguir adiante no estudo das pulsões, é necessário fazer uma explanação sobre o conceito de libido e seu dinamismo inicial, o qual Freud (1905) utiliza para explicar a origem dos investimentos de ordem objetal que se fazem nos processos pulsionais. Freud nos fala da libido como sendo uma força quantitativa e também qualitativa que direciona as designações de objeto de alvo satisfatório-sexual, porém a qual não está somente atrelada às áreas sexuais genitais em específico, e sim a libido consegue promover satisfação sexual proveniente de todo o corpo. Devido a esta característica Freud (1905) criou inicialmente uma denominação chamada de libido do ego que seria uma espécie de depositário o qual teria a finalidade de direcionar esta força psíquica para as determinadas áreas erógenas específicas que visam a satisfação pulsional.

Esta libido do ego, segundo Freud (1905) pode ser direcionada a outros objetos e outros destinos, o que inaugura outra ordem libidinal, por ele chamada de libido do objeto, a qual seria responsável por direcionar as escolhas objetais sexuais do indivíduo ao longo de sua vida. O trecho a seguir, retirado dos Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade do mesmo autor ajudará entender um pouco melhor esta dinâmica libidinal.

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Podemos ainda inteirar-nos, no tocante aos destinos da libido, de que ela é retirada dos objetos, mantém-se em suspenso em estados particulares de tensão e, por fim, é trazida de volta para o interior do ego, assim se reconvertendo em libido do ego. Em contraste com a libido do objeto, também chamamos a libido do ego de libido narcísica. Do ponto de observação da psicanálise podemos contemplar, como que por sobre uma fronteira cuja ultrapassagem não nos é permitida, a movimentação da libido narcísica, formando assim uma idéia da relação entre ela e a libido objetal. A libido narcísica ou do ego parece-nos ser o grande reservatório de onde partem as catexias de objeto e no qual elas voltam a ser recolhidas, e a catexia libidinosa narcísica do ego se nos afigura como o estado originário realizado na primeira infância, que é apenas encoberto pelas emissões posteriores de libido, mas no fundo se conserva por trás delas (FREUD, 1905, p. 134).

No que concerne ao trecho destacado, pode-se entender que para Freud, a princípio havia uma dualidade da libido, na qual esta reside inicialmente no ego, devido ao período inicial de constituição psíquica, o qual gira em torno do autoerotismo e todo o seu investimento é feito com incidência no próprio ego, buscando a satisfação própria, e isto é a base para entender o que Freud denominou de Narcisismo. E assim como esta energia libidinal tem como alvo o próprio ego ela também pode deslizar ou ser investida em outros objetos externos, os quais sejam de uma ordem de catexias que consigam promover a satisfação pulsional que o ego busca, ou seja, a libido pode ser investida em objetos externos de modo que através destes objetos externos ela pode retornar ao ego e aliviar a tensão pulsional, produzir uma satisfação parcial.

Após esta ressalva sobre a teoria da libido, voltarei agora a abordar a questão das pulsões. Até então abordei a questão pulsional referente ao período inicial dos estudos de Freud, os quais falam sobre as pulsões sexuais. Porém ao decorrer de suas obras, Freud nos exemplificou uma nova visão sobre as pulsões, de modo que assim ele passou a identificar pulsões não só de ordem sexual, mas também ele passou a teorizar sobre as pulsões de “autopreservação”. Esta concepção instaurou uma ideia de dualismo pulsional, a qual iniciou após o estudo sobre a teoria da sexualidade, e foi proposta por ele inicialmente na obra intitulada: Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico (1911) na qual Freud passou a nos falar sobre duas ordens de pulsões, as pulsões sexuais e as pulsões de “autopreservação” ou pulsões do eu.

Por pulsões sexuais Freud (1905) nos exemplificou a classe de “instintos” que busca satisfazer as tensões sexuais, não importando o seu objeto e sua via de

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29 satisfação, esta categoria pulsional, possui um único objetivo que está conectado com a via da fantasia e cuja única finalidade é direcionar o sujeito em uma busca norteada pelo que o autor chamou de Princípio do Prazer. No que diz respeito às pulsões de autopreservação ou do eu, Freud (1911) nos fala de “instintos” que visam procurar proteger o eu contra quaisquer que sejam as ameaças impostas, inclusive aos riscos que as pulsões sexuais impõem ao ego. Deste modo as pulsões do ego seriam de uma ordem conservadora do próprio ego do sujeito, buscando não suprimir totalmente a satisfação, mas sim regular as vias de satisfação para obter apenas resultados positivos e seguros. O trecho a seguir retirado da obra em questão fornece uma explicação bastante clara sobre esta questão citada.

Tal como o ego-prazer nada pode fazer a não ser querer, trabalhar para produzir prazer e evitar o desprazer, assim o ego-realidade nada necessita fazer a não ser lutar pelo que é útil e resguardar-se contra danos. Na realidade, a substituição do princípio de prazer pelo princípio de realidade não implica a deposição daquele, mas apenas sua proteção. Um prazer momentâneo, incerto quanto a seus resultados, é abandonado, mas apenas a fim de ganhar mais tarde, ao longo do novo caminho, um prazer seguro. (FREUD, 1911, p. 138).

Farei agora um breve apanhado com base na obra de Freud: Os instintos e suas Vissicitudes (1915), com o objetivo de retomar a questão do conceito de pulsão que é reestruturado por Freud nesta obra e para pontuar a questão das características das pulsões e dos destinos que o autor aponta para as tais. O termo “pulsão” não é utilizado nesta obra por questões de tradução do termo em específico (no caso do texto é utilizada a palavra “instinto”), então minhas referencias à obra acompanharão a grafia do texto original com ressalvas ao termo mais usual e já usado anteriormente “pulsão”.

Na obra em questão, Freud traz uma nova roupagem para o conceito de pulsão, de modo que este inicia fazendo uma explanação sobre a distinção existente entre os “instintos” (pulsões) e os “estímulos”. O autor procura explicitar que a principal diferença entre um estímulo e um “instinto” seria a de que um estímulo consiste em uma força que provém do meio externo, ou seja, de fora para dentro, ao passo de que um “instinto” (pulsão) seria uma força que age de dentro para fora no sujeito. De modo que então um “estímulo externo” seria algo que produz o que poderia ser chamado de “movimento momentâneo” cuja tendência é se extinguir

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30 após um período relativo de tempo, e no caso de um instinto, este produz então um “movimento constante”, que não cessa.

Para falar sobre a definição de pulsão que é dada na obra em questão, recorro às palavras de Freud (1915) que diz: “O melhor termo para caracterizar um estímulo instintual seria ‘necessidade’. O que elimina uma necessidade é a ‘satisfação’. Isso pode ser alcançado apenas por uma alteração apropriada (‘adequada’) da fonte interna de estimulação”. Assim então a ideia de pulsão em Freud seria de uma “força instintual” que ordem psíquica (interna) que exerce uma pressão constante, da qual não há como fugir à regra, inerente a qualquer tipo de ou fuga que se possa tentar exercer em função dela. Para dar sequência a este estudo, agora irei citar e descrever o que Freud delimitou como sendo as quatro características básicas que compõem um “instinto” (pulsão) Sendo elas: “pressão”; “finalidade”; “objeto” e “fonte”.

Por “pressão” pode-se entender que seria a força que a pulsão exerce no psiquismo, a intensidade da tensão que ela é capaz de criar, ou a quantidade de demanda de trabalho psíquico que ela exerce no sujeito. Segundo Freud a pressão é uma característica padrão em todos os instintos, de modo que sua própria essência, sua única finalidade seria exercer uma demanda de trabalho psíquico, seja ela qual for.

Por “finalidade” entende-se que consiste no fato da pulsão buscar sempre a satisfação, a finalidade desta é aliviar a tensão implicada ao psiquismo, satisfazer a excitação que se produz na fonte do “instinto”. A finalidade primordial de uma pulsão possui um valor imutável, porém a pulsão pode possuir outras maneiras variadas, para se chegar na sua finalidade primordial, o que implica que uma pulsão pode ter outras finalidades secundárias que se misturam. Freud fala também que a finalidade da pulsão pode ser desviada ou inibida de seu caminho, para possibilitar a satisfação, assumindo o caráter de pulsão inibida ou desviada, o que produz a satisfação parcial.

O “objeto” de uma pulsão consiste em qualquer coisa que sirva como um meio através do qual a pulsão consiga alcançar a sua finalidade (a satisfação). O objeto pode ser qualquer coisa, sua principal característica é a variabilidade, de

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31 modo que esse não tem qualquer relação direta com a pulsão, ele só faz sentido para a pulsão quando esta à priori de servir como meio de satisfação. O objeto pode variar de acordo com as vicissitudes da pulsão, assim como um mesmo objeto pode servir para atingir a finalidade de mais de uma pulsão ao mesmo tempo, e é possível também ocorrer uma fixação da pulsão a um objeto em um nível inicial de elaboração desta pulsão.

A “fonte” de uma pulsão consiste no estímulo interno que a produz, segundo Freud (1915) seria: “o processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo, e cujo estímulo é representado na vida mental por um instinto”. Segundo o autor a fonte de uma pulsão está para além da compreensão da psicologia, pois é de uma origem somática, que parte de uma parte do corpo, de um órgão ou de origem química ou então mecânica. Freud nos fala que o estudo da fonte das pulsões é algo que possui uma limitação em função desta incerteza quanto a sua origem, e na psicologia nos interessa o estudo da pulsão enquanto sua finalidade e objetivo.

Após esta exposição das características que constituem as pulsões, irei abordar outros fatores, os quais Freud chamou de as “Vicissitudes” possíveis das pulsões, este termo “Vicissitude” pode ser entendido como sendo um “destino” que a pulsão pode ter no seu processo dinâmico de busca pela satisfação das tensões (necessidades). No que diz respeito a estas vicissitudes, é visto que segundo Freud (1915) existem quatro possíveis vicissitudes para as pulsões, são elas: Reversão a seu oposto; Retorno em direção ao próprio eu (self) do indivíduo; Repressão e Sublimação. Quanto à vicissitude da sublimação, é visto que Freud não chega a abordá-la e desenvolvê-la nesta obra, suas contribuições para essa questão encontram-se espalhadas ao longo de suas obras, com base nisso então, este tema será abordado posteriormente com a devida ênfase.

No que diz respeito a “Reversão a seu oposto”, esta questão consiste em um processo de caráter dual, o qual segundo Freud, cada um dos elementos desse processo deve ser trabalhado de maneira separada, os processos consistem em uma “mudança da atividade para a passividade” e uma “reversão de seu conteúdo”. O autor exemplifica o primeiro processo com os pares: sadismo-masoquismo e escopofilia-exibicionismo. Quanto à reversão, essa consiste em um processo que afeta a finalidade da pulsão (a maneira como essa encontra para se satisfazer).

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32 Quanto ao “Retorno em direção ao próprio eu (self) do indivíduo”, este é um processo no qual o investimento libidinal feito pelo sujeito retorna ao próprio ego mediante uma alteração no objeto pulsional, e mantendo a sua finalidade. Freud (1915) exemplifica este processo através da relação de oposição entre sadismo e masoquismo, de modo que neste processo ocorre simultaneamente a reversão da atividade para a passividade, o que está em jogo aí é a mudança de objeto pulsional, que se retira do outro e retorna ao ego do indivíduo, mudando então não só o objeto, mas também a finalidade da pulsão.

Para falar sobre o processo de repressão, recorrerei a um artigo publicado por Freud denominado Repressão de 1915. Freud não chegou a abordar e desenvolver o tema da repressão em sua obra anterior (O Instinto e suas Vicissitudes) em vista de ser um tema que segundo ele exige uma atenção especial. Este artigo em questão tem o objetivo de trabalhar e desenvolver o processo de repressão detalhadamente e me utilizarei dele para abordar este tema. Segundo Freud (1915): “Uma das vicissitudes que um impulso instintual pode sofrer é encontrar resistências que procuram torná-lo inoperante”. Esta é a premissa básica para se entender o processo de repressão, este consiste em um mecanismo de suprimir a atividade pulsional em um determinado caso específico que cause controversamente um desprazer. Freud exemplifica que não há como escapar da pulsão, logo o ego procura um meio alternativo de conseguir articular e dar conta deste processo (a repressão).

É visto que segundo o autor, a pulsão, ao exercer sua finalidade, pode acabar causando não somente a satisfação e o prazer em si, pois o ego possui premissas de regulamentações, como por exemplo: princípios morais, preferências, e certas reivindicações, as quais podem entrar em conflito com a satisfação causada pelo alívio de tensão pulsional, ocasionando com que o ego opte por dar ênfase no desprazer que a pulsão causa no sujeito levando a repressão desta satisfação do “instinto”. Freud (1915) fala que: “a essência da repressão consiste simplesmente em afastar determinada coisa do consciente, mantendo-a à distância.” O autor também fala sobre duas características da repressão que ajudam a entender melhor como esta funciona, as quais são duas fases: a repressão primária, e a repressão propriamente dita. Por repressão pode-se entender como o período inicial, no qual a

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