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Se o artigo 9,3., n. 12., desse diploma ordena a O que tudo visto e decidindo:

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Cópia dos acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, e da Rela- ção de Lisboa e sentença do 7.° juízo cível da comarca de Lis- boa, proferidos no processo da marca nacional n.° 62093.

Autos de revista vindos da Relação de Lisboa: Recorrente e aggravante, Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd. ; recorrida e agravada, Sociedade dos Vinhos Samtiago, L.da

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

Tendo a Sociedade dos Vinhos Santiago, L.da, reque- rido, em 30 de Julho de 1945, na Repartição da Proprie- dade Industrial, o registo da marca publicado, a p. 420 do Boletim n.° 7 desse ano, e a que coube o n.° 62 093, foi esse registo recusado por despacho de 23 de Março de 1949, certificado a fl. 11 sendo interposto recurso, nos termos dos artigos 203.° e seguintes do Código da Propriedade Industrial.

Por sentença de fl. 65 foi dado provimento ao recurso e concedido à recorrente o registo requerido.

Desta decisão recorreu a firma Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd., por a recusa do aludido registo se ter ba- seado nos artigos 94.° e 187.°, n.° 4.°, do citado código, por se ter entendido que a marca da Sociedade dos Vinhos Santiago, L.da@ se confundia com a marca anteriormente registada, n.° 49 340, e se haver presumido u m propósito de concorrência desleal.

Pela mesma firma foi interpo,sto recurso de agravo do despacho de fl. 83 do juiz do 7.° juízo cível, qu.e, apreciando o requerimento da recorrente, a fl. 71, em que por se não ter feito a notificação à reccorrente dos documentos juntos a tis. 63 e 64 pela Sociedade dos Vinhos Santiago, L.da, desatendeu a arguição da nu- lidade por essa falta ode notificação não constituir nuli- dade por não influir na decisão da causa, como se veri- fica da leitura da douta sentença de fls. 63 e seguintes.

A Relação negou provimento aos dois recursos. Do respectivo acórdão recorre a firma Geo G. Sande- man, Sons & C°, Ltd.

Quanto ao agravo, alega, em conclusão:

1.° A junção dos documentos a fls. 63 e 64, inesperada e espontâneamente apresentada pela recorrida com o requerimento de fl. 61, que não admite resposta, devia ter sido notificada à recorrente, nos termos do ar- tigo 551.° do Código de Processo Civil, para que ela pudesse to.mar, como deseja, a respeito da veracidade da

data gravada em tais documentos, a posição prescrita nos artigos 365.° e 538.° do mesmo código;

2.° A falta de notificação à recorrente da junção desses documentos constitui nulidade que influiu no exame e decisão da causa, pois foi a aceitação da data gravada nos reieridos documentos uma das razões por que a sentença de fl. 65 decidiu, contra a verdade, ser o uso da marca n.° 49 340 pela ora recorrente posterior ao uso da mesma marca n.° 62 093 da ora recorrida, e, consequentemente, não se verificar a concorrência des- le.al, alegada pela ora recorrente.

Quanto à revista, alega:

3.° Na apreciação da semelhança ou imitação de mar- cas não deve atender-se aos detalhes diferenciadores, notados num exame comparativo entre elas, mas sim ao aspecto geral das marcas, ao seu elemento comum, essencial, característico e distintivo, pois que é a marca que é objecto de .confusão e não os seus elementos ;

4.° O acórdão recorrido reconhece que entre a mar.ca da recorrente e a marca da recorrida existe u m elemento comum - a silhueta de u m vulto (um homem) com capa e chapéu e copo na mão, ou seja que a marca da recorrida contém todos os elementos característicos da marca da recorrente;

5.° A concorrência desleal é u m motivo de recusa de registo de marca, inteiramente autónomo e indepen- dente de qualquer outro - pelo que, 'rontràriamente ao que se affirma no acórdão recorrido, a não existência de imitação não exclui a existência de concorrência desleal ; 6.° Independentemente da imitação - q u e irrecusà- velmente se verifica -, a adopção, pela recorrida, de uma marca que contém todos os elementos essenciais e ca- racterísticos da marca da recorrente constitui concor- rência desleal, tanto mais evidente quanto é certo que a lei exige apenas a possibilidade dessa coucorrência;

7.° 0 acórdão recorrido violou e f.ez injusta e errada interpretação e aplicação do disposto nos artigos 94.°, 93.°, ,n.° 12.°, 187.°, n.° 4.°, e 212.° do Código da Pro-. priedade Industrial.

Os transcritos fundamentos dos recursos são proficien- temente contrariados pela recorrida na sua alegação.

Agravo:

0 processo especial de recurso de registo de marcas regula-se pelas disposições que lhe são próprias, pelo que não há que observar o que se acha estabelecido para o processo ordinário (artigo 472.° do Código de Processo Civil).

Com efeito, expressamente dispõe o artigo 207.° e § únirco do Código da Propriedade Industrial que:

Recebido o processo no Tribunal (isto é, o pro- cesso da Repartição da Propriedade Industrial, re- ferido no artigo 205.°), dar-se-á vi.sta por cinco dias, na secretaria, à parte contrária, se a houver e tiver juntado procuração.

Findo este prazo, será o processo concluso para decisão final, que será proferida, salvo caso de justo impedimento, devidamente comprovado, no prazo de quinze dias.

Portanto, entre o termo do prazo de vista para a ale- gação do recorrido e a conclusão para sentença não se pode praticar qualquer formalidade ou acto judicial, facto que obsta a que então se proceda à notificação a que se refere o artigo 551.° do Código de Processo Civil e, consequentemente, à sua aplicação nessa fase do pro- cesso.

É certo que os documentos de fls. 63 e 64 foram juntos entre o termo do prazo da vista para a alegação e a con- clusão da sentença, mas contra tal facto o que a ora recorrente tinha a fazer era reclamar, não contra a falta de notificação da junção desses documentos, mas contra a própria junção deles.

(2)

Porém, a irregularidade referida não influi no exame e decisão da causa, pelo que não produz nulidade, nos termos do artigo 201.° do Código de Processo Civil, conforme se decidiu nos Acórdãos deste Supremo Tri- bunal de 23 de Março de 1945 e 6 de Abril de 195.1, res- pectivamente, publicados na Revista de Legislação e Jurisprudência, ano 77.°, -p. 379, e no Boletim do Mi- nistério da Justiça n.° 24, p. 224.

E que os aludidos documentos em nada influí am na decisão do recurso verifica-se do que se pondera na sentença de fl. 65, que se transcreve:

Há, portanto, que concluir que, contrariamente ao que foi decidido no despacho recorrido, não se pode reconhecer que entre a marca da recorrente e a marca já registada n.° 49 340 exista semelhança gráfica ou figurativa que possa induzir em erro ou confusão, porque as duas marcas são bem distintas e susceptíveis de serem f àcilmente diferenciadas por qualquer pessoa, sem necessidade de exame ou con- ironto.

Sendo assim, como é óbvio, a marca da recorrente encointra-se em condições de ser registada e não há lugar a quaisquer considerações sobre a concorrên- cia desleal, visto que, nas condições expostas, não existiu nem pode existir.

Mas, se necessário fosse abordar tal assunto, ha- veria que atender a que a recorrente, pela junção dos cartões a fls. 63 e 64 ...

Como bem se nota na alegação da recorrida, a fl. 230, «quer dizer: nos termos desta decisão, esses do- cumentos só poderiam revestir qualquer interesse se a própria dissemelhança e inconfundibilidade das duas marcas não excluíssem só por si a possibilidade de con- corrência desleal, mas como tal possibilidade está ex- cluída por aquelas circunstâncias, conforme acentua a mesma decisão, os documentons referidos não influem no resultado ».

Tal é corroborado no acórdão recorrido, que, para de- cidir, como decidiu, nem sequer fez qualquer alusão aos referidos documentos.

Improcedem, portanto, as conclusões da recorrente. Revista:

Segundo julgou o Acórdão deste Tribunal de 25 de Fevereiro de 1949 (Boletim do Ministério da Justiça n.° 11, p. 211), a imitação de marcas é u m conceito de direito, por se achar definida no artigo 94.° do Código da Propriedade Industrial, mas constitui matéria de facto averiguar e decidir as semelhanças ou disseme- lhanças entre elas.

Esta a jurisprudência deste mesmo Tribunal, acórdãos citados a fl. 231 v.° da alegação da recorrida.

O acórdão em recurso, confinmatório da sentença, averiguou e decidiu que:

a) Embora se note como elemento comum, nas duas marcas, uma silhueta de u m vulto (um homem) com capa e chapéu e copo na mão, nota-se a divergência no conjunto, porque o vulto na marca registada n.° 49 340 é incompleto, sem pés, com chapéu de abas largas e sem o capo em elevação, ao passo que na marca cujo registo foi recusado pela Repartição esse vulto se apresenta cla- ramente, com u m chapéu alto, cam peitilho branco, de frente, e sobre uma caixa em preto com aqueles dizeres «Porto Santiago»;

b) Estas circunstâncias de conjunto estabelecem logo nítida distinção no elemento .comum e tornam in- confundíveìs as duas marcas para qualquer pessoa, por menos atenta que estej a ou nelas não repare;

c) Cada uma destas marcas apresenta o desenho de forma específica e própria, u m elemento característico, que, na marca registada da firma recorrente, é o vulto negro do embueado com o chapéu de aba larga e capa

andaluza e na marca cujo registo a Repartição não au- torizau é uma figura nitidamente masculina em apre- sentação de categoria, com os dizeres próprios, e sobre o rectângulo, em branco, estando este em preto;

d) Não há semelhança que possa induzir em erro fàcilmente o consumidor desatento; não há possibili- dade de canfnsão, pois a impressão de conjunto, tanto visual como ediolóqlica, é bem diveàsa numa e noutra das marcas.

O artigo 94.° do Código da Propriedade Industrial considera imitada ou usurpada a marca que tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza fàcilmente em erro ou confusão o consamidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto.

Ora vem dado como provado que existe nítida distin- ção entre as marcas em causa, por serem diversos os elementos característicos de uma e outra, pelo que não existe semelhança entre elas que possa fàcilmente in- duzir em erro o consumidor desatento.

Por sua vez o artigo 9,3.°, n.° 12.°, do mesmo código manda recusar o registo da marca que constitua repro- dução total ou parcial de marca anteriormente regis- tada por outrem que possa induzir em erro ou confusão na mercado; e também se provou que as duas marcas são divergentes no seu conjunto, não havendo entre elas possibilidade de confusão.

A marca da recorrida encontra-se, iportanto, em con- dições legais de ser registada, como as instânciais deci- diram.

Finalmente, alega a recorrente, na conclusão 6.ª, que, indepentemente da imitação, a adopção, pela recorrida, de uma marca que contém todos os elementos essenciais e característicos da marca da recorrente cons- titui concorrência desleal, tanto mais evidente quanto é certo que a lei exige apenas a possibilidade dessa concorrência.

Tal asserção é inexacta e nem sequer está compreen- dida no n.° l.° do artigo 212.° do Código da Propriedade Industrial, que expressamente se refere a actos suscep- tíveis de criar confusão.

Ora no acórdão recorrido pondera-se que não há possibilidade de, por parte da recorrida, se dar concor- rência desleal por não serem susceptíveis de confusão as duas marcas e, sim, se distinguirem fácilmente, como fica acentuado.

Também no Acórdão deste Tribunal de 22 de Outubro de 1943 (Boletim Oficial, ano III, p. 408) se decidiu que «não havendo semelhança entre as duas marcas, quer nos seus elementos constitutivos, quer no seu as- pecto de conjunto, não na concorrência desleal derivada da possibilidade de se confundirem».

Pelo exposto, negam provimento aos recursos de agravo e de revista, condenando a recorrente nas c u s t a s .

Cumpra-se oportunamente o artigo 210.° do Código da Propriedade Industrial.

Lisboa, 3 de Fev ereiro de 1953. - Rocha Ferreira Roberto Martins - A. Bártolo - Campelo de An- drade - Jaime de Almeida Ribeiro.

Registo do acórdão proferido nos autos cíveis de ape- lação, com o n.° 3 837, vindos da comarca de Lisboa, 7.° tribunal cível, em que são apelante Geo G. Sande- m a n Sons & c°, Ltd., e apelada a Sociedade dos Vinhos Santiago, L.da

Acórdão de fl. 176:

Acordam, em conferência, na Relação de Lisboa: Tendo a Sociedade dos Vinhos Santiago. L.da, socie- dade por quotas de responsabilidade limitada, com sede

(3)

e estabelecimento em Vila Nova de Gaia, requerido, em 30 de Julho de 1945, na Repartição da Propriedade In- dustrial, o registo da marca publicada a p. 420 do Boletim n.° 7 desse ano e a que coube o n.° 62 093, como se vê do Diário do Governo de fl. 9, foi recusado esse registo por despacho de 23 de Março de 1949, cer- tificado a fl. 11, sendo interposto recurso, nos termos dos artigos 203.° e seguintes do Código da Propriedade Industrial.

Foi decidido esse recurso por sentença de fl. 65, dando-se provimento ao mesmo recurso e anulando-se o despacho recorrido, concedendo-se à recorrente o

registo pedido.

Desta decisão recorreu para este Tribunal a firma Geo G. Sandeman Sons, & C°, Ltd., visto a recusa do registo aludido se ter baseado nos artigos 94.° e 187.°, n.° 4.°, do citado código, por se ter entendido que a marca da Sociedade dos Vinhos Santiago, L.da, se con- jundia com a marca anteriormente registada n.° 49 340, desta firma, e se haver presumido u m propósito de con- corrência desleal.

Mas u m outro recurso foi interposto, pela mesma firma Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd., do despacho de fl. 83 do Sr. Juiz recorrido do 7.° juízo cível, des- pacho que, apreciando o requerimento do recorrente de fl. 71, em que por se não ter feito a notificação, à recor- rente dos documentos juntos, a fls. 63 e 64, pela firma recorrida Sociedade dos Vinhos Santiago, L.da, desa- tendeu a arguida nulidade, por essa falta de notincaçao não constituir nulidade, por não influir na decisão da causa.

É recurso de agravo, que foi mandado subir, junta- mente com o de apelação (vide fl. 91).

A recorrente juntou, a fi. 120, a minuta de recurso. A fl. 137 a recorrida apresentou a contraminuta. Pede a recorrente, nas condusões daquela minuta, que se dê provimento ao agravo, revogando-se o despacho de fl. 83 e substituindo-se por outro que o mande noti- ficar da junção dos mencionados documentos para que a recorrente os possa atacar e que, quando assim se não faça, se revogue a sentença de fl. 65, mantendo-se, in- teiramente, o despacho do Sr. Director-Geral do Comér- cio que recusou o registo da marca d.a firma apelada.

Esta, nas suas conclusões da contraminuta, defende a manutenção das duas decisões recorridas.

O que tudo visto e decidindo:

H á que apreciar, em primeiro lugar, o agravo. V e m ele, como se acentuou anteriormemte, do des- pacho de fl. 83.

Analisemos esse despacho.

Nele se decidiu que a junção dos documentos de fls. 63 e 64, feita pela agora recorrida, mesmo que se admita que ti.nha de ser notificada à recorrente, segundo o preceito genérico do artigo 551.° do Código de Pro- cesso Civil, e o não foi, não é nulidade, por não ter a omissão dessa notificação influência na decisão da causa, como se verifica da leitura da sentença de fl. 65 e de harmonia com o disposto no artigo 201.° do mesmo código.

E assim é, de facto.

Os referidos documentos de fls. 63 e 64 foram juntos, como se vê do requerimento de fl. 61, depois da con- traaminuta de recurso, na primeira instância, da firma recorrida, nessa instância, Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd., e para mostrar que antes de Março de 1936 - data em que esta firma diz ,que já usava a sua marca - a firma Sociedade dos Vinhos Santiago, L.da, adoptava a sua marca, pois que em 1921, como se mostra desses documentos (dois cartões), donde, na sua parte inferior, se vê o número de tiragem e a data de impressão em números minúsculos, já se assinala o início do uso da mesma marca em causa por essa firma Santiago, L.da

Após a junção deste requerimento e documentos ci- tados foi proferida a sentença, sem dúvida.

Mas não se nota que esses documentos influíssem na decisão que resultou dessa sentença.

Com ou sem esses documentos a decisão era sempre a mesma - é a conclusão a que se chega lendo a sen- tença.

Logo, se irregularidade houve em se não ter notifi- cado à firma Geo G. Sandeman Sons & C°, Ltd., tal junção, é duvidoso se essa junção teria de ser notificada, uma vez que se. trata de processo especial de recurso re- gulado .nos artigos 203.° e seguintes do Código da Pro- priedade Industrial e ali não se estipula essa notificação e determina-se, sim, que, a seguir à alegação da re.cor- rida, se pro;fira a sentença (artigo 207.°, § único), e foi o que se fez.

O Supremo Tribunal de Justiça, no Acórdão de 23 de Março de 1945, na Revista de Leqislação e Jurisprudên- cia, ano 77.°, p. 379, fixou o princípio de que a falta de vista de documento não constitui nulidade que influa no exame e decisão da causa, a não ser em casos especiais. Portanto, nega-se provimento ao agravo e confirma-se o despacho recorrido, por ser legal.

Quanto à apelação:

A decisão apelada é também de confirmar. Discute-se:

1.° Se a marca registanda e que se mostra a fl. 10 v.° (Diário do Governo onde vem o Boletim da Propriedade Industrial), com o n.° 62 093, constitui imitação da marca registada com o n.° 49 340, publicada a fl. 14 (Diário do Governo com o Boletim referido), consoante o disposto no artig.o 94.° do Código da Propriedade In- dustrial (Decreto n.° 30 679, de 24 de Agosto de 1940) ; e, consequentemente,

2.° Se com o uso dessa marca registanda vinha, para a firma apel.ante, «concorrência desleal» praticada pela firma apelada, conforme os preceitos do n.° 4.° do ar- tigo 187.° e do artigo 212.° desse código.

Segundo o artigo 94.° citado, é imitação da marca a que tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou foné- tica com outra já registada, de forma .a induzir fàcil- mente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas marcas senão depois de confronto ou exame atento.

Se o artigo 9,3.°, n.° 12.°, desse diploma ordena a recusa do registo de marca quando se dê reprodução ou imitação total ou parcial da marca anteriormente registada por outrem para igualar semelhante produto de forma a produzirem erro ou confusão no mercado.

Vê-se do processo que, em Agost.o de 1936, foi regis- tada, a favor da firma àpelante, uma marca para comér- cio de vinhos do Porto com o n.° 49 340 e que vinha sendo por ela usa.da ,desde 1932, marca formada por uma silhueta com a figura de u m homem embuçado numa comprida capa negra (à moda espanhola), com u m chapéu de aba larga, estando de costas e com. u m copo ou coisa parecida na mão.

E que, em Outubro de 1945, a apelada pediu, na Re- partição do Registo da Propriedade Industrial, o registo da marca n.° 62 903, registo que lhe foi recusado pelo Sr. Director-Geral do Comércio, por despacho de 23 de Março de 1949, despacho de que a agora apelada re- correu para o 7.° juízo cível de Lisboa, e que essa marca é constituída por uma silhueta representando uma figura de homem de casaca, com peitilho branco, tendo sobre a casaca uma capa preta até meia perna, chapéu alto, u m copo na mão, e estando assente sobre u m rec- tângulo em preto com os dizeres «Porto Santiago» e m branco.

Constituirá a marca registanda, realmente, imitação da registada, para os efeitos do artigo 94.° do Código da Propriedade Industrial?

(4)

Não pode constituir.

Embora se note como elemento comum, nas duas marcas, uma silhueta de u m vulto (um homem) com capa e chapéu e copo na mão, nota-se a divergência no conjunto, porque o vulto na marca registada n.° 49 340 é incompleto, sem pés, com chapéu de abas larga;s e sem o ,copo em elevação, ao passo que na marca cujo registo foi feito pela Repartição esse vulto se apresenta, claramente, com u m chapéu alto, com peitilho branco, de frente, e sobre uma caixa em preto com aqueles dizeres «Porto Santiago».

Estas circunstâncias de conjunto estabelecem logo nítida distinção no elemento comum e tornam incon- fundíveis as duas marcas para qualquer pessoa, por menos atenta que esteja ou nelas .não repare.

Não se pode confundir u m homem com casaca, com peitilho branco, chapéu alto e sobre uma caixa ou rec- tângulo com tais dizeres, com a marca de u m homem simplesmente com uma capa comprida (tipo espanhola) e chapéu largo, ten.do u m copo sem relevo e não exis- tindo os mesmos dizeres.

Cada uma destas marcas apresenta o desenho de uma forma específica e própria, u m elemento característico que na marca registada da firma recorrente é o vulto negro do embuçado com chapéu de aba lar.ga e capa an- daluza e na marca cujo registo a Repartição não auto- rizou é uma figura nìtidamente masculina em apresen- tação de categoria, com os dizeres próprios, e sobre o rectângulo, em branco, estando este e,m preto.

Por isso a imitação não tem aqui lugar, visto que não há semelhança que possa induzir em erro, fàcilmente, o consumidor desatento, nem há possibilidade de confusão, pois a impressão conjunta, tanto visual como ideológica, é b.em diversa numa e noutra das marcas.

E, não havendo imitação, decerto o registo devia não ter sido recusado, antes autorizado pela Repartição competente, por se não dar a aplicação do disposto nos artigos 94.° e 93.° mencionados, como bem entendeu o Sr. Juiz a quo.

Sobre haver «concorrência desleal» por parte da re- corrida Sociedaide de Vinhos Santiago, L.da, a querer usar a marca registanda, este ponto não tem aceitação legal, logo que é uma consequência que derivaria da pretensa semelhança das marcas em apreciação, apenas, e uma vez que tal semelhança se não dá.

É evidente que a recorrida, ao adoptar a sua marca, não quis nem teve o propósito de fazer concorrência des- leal á marca ,n.° 49 340, nem há a possibilidade de, por sua parte, uma tal concorrência se dar, por não serem susceptíveis de confusão essas marcas, e, sim, se dis- tinguirem facilmente, como fica acentuado.

Desta forma a sentença recorrida julgou bem e fez justiça, pelo que se confirma, para todos os efeitos, por com ela se ter cumprido a lei e se não ter violado o disposto no artigo 94.° nem o disposto no artigo 187.°, n.° 4.°, ou no artigo 212.° do Código da Propriedade In- dustrial, como alega a apelante.

Nega-se ,provimento, assim, à apelação.

Custas, de ambos os recursos, pela recorrente firma Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd.

Lisboa, 28 de Novembro de 1951. - Sousa Carva- lho - Silva Carneiro - Campos de Carvalho (vencido quanto à apelação. A imitação devia ser apreciada pela semelhança resultante dos elementos que constituem as marcas, e não pelas dissemelhanças que poderiam ofe- recer os diversos pormenores considerados isolados e separadamente.

Este é o critério apontado pela generalidade dos es- critores, como Bélrribe e pelo Dr. Pinto Coelho, e adop- tado ainda há pouco tempo por esta Relação no acórdão proferido na apelação n.° 3 918.

No acórdão não se seguiu tal critério e fez-se o con- fronto das marcas para apreender as diferenças que as separam, quando, repete-se, se devia ter olhado a se- melhanças do conjunto, e não à natureza das disseme- lhanças ou ao grau das diferenças que as separam.

Assim apreciada, a semelhança das duas marcas é in- contestável, resulta do mais superficial confronto.

Deveria, pois, ter-se revogado a sentença) . Está conforme.

Lisboa, 3 de Dezembro de 1951. - (Assinatura ilegí- vel).

Sentença de fl. 65:

A Sociedade dos Vinhos Santiago, L.da, sociedade por quotas com sede e estabelecimento em Vila Nova de Gaia, nos termos dos artigos 203.° e seguintes do Código da Propriedade Industrial, interpôs o presente recurso do despacho do Sr. Director-Geral do Comércio, de 23 de (Março de 1949, que recusou o seu pedido de registo de marca n.° 62 093, com os seguintes funda- mentos :

A marca recusada, que se destina a vinhos do Porto, é constituída por uma figura de homem de corpo in- teiro, a negro e branco, com casaca, chapéu alto e capa, sustentando u m copo sobre u m rectângulo negro contendo em branco, em duas linhas, os ,dizeres «Porto Santiago ».

O pedido foi recusado com fundamento no disposto nos artigos 94.° e 187.°, n.° 4.°, do Código da Proprie- dade Industrial, por se ter entendido que a marca se confunde com a registada sobre o n.° 49 340, também para vinhos do Porto, da sociedade inglesa, de Londres, Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd., levando a presumir u m propósito de concorréncia desleal.

Todavia, tais fundamentos não se verificam. Por u m lado, já muito antes do registo da marca n.° 49 340 a recorrente usava, para reclamar os seus produtos, aquela cujo registo pretende, pelo que se lhe não pode atribuir u m propósito de a imitar.

Por outro lado, não existe entre as duas marcas seme- lhança gráfica, fonética ou figurativa que induza o con- sumidor em erro ou confusão por as não poder distinguir sem atento exame ou confronto. Não há semelhança gráfica ou fonética porque a marca n.° 49 340 não contém dizeres ; não há semelhança figurativa porque do confronto de cada uma, que é a que há que atender, resulta impressão totalmente diferente.

A marca n.° 49 340 é eonstituída por u m vulto iso- lado, truncado, todo negro, embuçado, que parece u m castelhano ou andaluz; a marca cuj o registo se pre- tende é ipor u m homem elegante, de casaca, em corpo inteiro, com o rótulo, tudo a negro e branco. E nos seus pormenores divergem essencialmente.

O próprio adjunto .da Repartição da Propriedade In- dustrial se pronunciou no sentido de ser concedido à recorrente o registo da marca.

Pediu para ser concedido provimento ao recurso, anulando-se o despacho recorrido e ordenando-se a con- cessão do registo da marca n.° 62 093.

Juntou os documentos de fls. 9 a 19.

Dado cumprimento ao disposto no artigo 206.° do Código da Propriedade Industrial, foi enviado a este juízo processo onde foi proferido o despacho recorrido que se apensou aos autos e, tendo a sociedade Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd., junto a procuração de fl. 33, apresentou depois as alegações de fl. 36.

Nelas se opõe à concessão do registo da marca à re- corrente, que diz ser uma imitação da sua própria marca, registada sob o n.° 49 340, como se verifica até das emen- tas que junta.

(5)

Alegou que entre as duas marcas existe semelhança figurativa que induz em erro ou confusão, porque o as- pecto geral é o mesmo, uma e outra composta dos mesmos elementos, u m homem com capa, chapéu e copo for- mando silhueta, sendo semelhantes os próprios porme- nores.

Alegou ainda que isso não derivou de circunstância fortuita, mas que por parte da recorrente houve o pro- pósito de imitar a marca n.° 49 340, procedendo assim em concorrência desleal.

Essa marca usa-a a sociedade Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd., desde anos antes de se ter procedido ao seu registo, efectuado em 1936, anteriormente a uso pela recorrente da marca recusada, pois desde 1932 dela se serve na sua propaganda, como se vê dos do- cumentos que apresenta.

Por essas razões há que reconhecer que com o pedido de registo de marca n.° 62 093 se pretende fazer con- corrência desleal, ou, quando assim se não entenda, há que considerar que tal concorrência é possível, inde- pendentemente de intenção da recorrente.

Pediu para ser negado provimento ao recurso. A recorrente formulou ainda as considerações de fl. 61, rebatendo as afirmações feitas nessas alegações, e com elas juntou os cartões de fls. 63 e 64, destinados a provar q u e já em 1921, data que neles figura, usava a marca recusada.

O recurso foi interposto em tempo e é manifesta a legitimidade das partes, que estão em juízo devidamente representadas.

Dele me cumpre conhecer.

Como ficou exposto e resulta do despacho recorrido, o pedido da recorrente foi indeferido por se ter enten- dido que, nos termos do artig.o 94.° do Código da Pro- priedade Industrial, a marca cujo registo pretendeu permite fácil confusão com a marca já registada sob o n.° 49 340 da sociedade Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd., admitindo-se, por ess.e motivo, concorrência desleal por parte da recorrente ou, pelo menos, a possibilidade de tal concorrência.

Por aquele artigo 94.° considera-se imitada ou usur- pada a marca que, pela semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada, induza fàcilmente o consumidor em erro ou confusão, não podendo aquele distinguir as duas marcas sem exame atento ou con- fronto.

Portanto, para qu,e se verifique a hipótese do ar- tigo 94.°, necessário é que a semelhança gráfica e figu- rativa entre as duas marcas, que é a que se diz existir no caso dos autos, resulta do aspecto de conjunto e seja tal que leve o observador pouco atento, independente- mente de confronto, a confundi-las à primeira vista.

A divergência de pormenores mais ou menos acen- tuada é irrelevante.

Quer isto dizer que a impressão geral das duas marcas que possa colher u m observador nas referidas condições tem de ser a mesma, pois só assim pode haver erro ou confusão, e, consequentemente, o aspecto de uma e de outra deve produzir-lhe idêntica reacção, visto que, por menos a,tento que seja o indivíduo, a simples visão de u m objecto ou de u m desenho leva-o instintivamente a precisar e a definir o que vê.

Verificar-se-á, de facto, semelhança de aspecto grá- fico e figurativo em tais condições entre a marca da recorrente e a registada sob o n.° 49 340?

Há, evidentemente, entre as duas u m elemento comum, uma figura de homem em silhueta com capa, chapéu e copo.

Todav ia, nem esse elemento comum é o único que se impõe no aspecto de conjunto, nem, sob esse aspecto, é lícito considerá-lo sem atender às circunstâncias que

em cada uma das marcas nele concorrem e levam a distingui-lo.

Não é o único que se impõe no conjunto, porque neste indiscutìvelmente influi o facto de, na marca regis- tada sob o n.° 49 340, a figura em ,silhueta se apresentar incompleta - faltam-lhe os pés - e isolada, isto é, sem estar apoiada, ao passo que na marca da recor- rente a figura aparece completa, assente sobre u m rec- tângulo negro com os dizeres em letras brancas «Porto Santiago », que logo se nota.

E não oferece dúvida que há circunstâncias que mo- dificam, do ponto de vista do conjunto, aquele ele- mento comum a que atrás se alude, porque, enquanto na marca da recorrente a figura em silhueta a negro apresenta claramente u m homem de chapéu alto e ca- saca, com capa apropriada a essa indumentária, com uma parte branca bem destacada que corresponde ao peitilho e colete, na marca registada n.° 4.9 340 a figura em silhueta negra sem qualquer parte branca, menos definida, representa u m embuçado com capa comprida e chapéu de aba larga.

Assim, sem necessidade de confronto, estas circuns- tâncias estabelecem logo nítida distinção no próprio elemento comum e tornam por si só inconfundíveis as duas marcas para qualquer pessoa, por menos atent.a

que sej a.

C o m efeito, por u m lado a impressão visual é dife- rente, em virtude de, na marca da recorrente, a figura ter a mais uma superfície branca que se destaca do negro que a desenha e limita.

,Por outro lado, acode imediatamente à mente que a silhueta da marca da recorrente é a do homem elegante de casaca e cha,péu alto, ideia que a figur.a da marca registada n.° 49340 nunca poderá sugerir, pois, como bem se pondera no parecer do serviço de marcas certifi- cado a fl. 11, a silhueta desta última marca pode re- presentar várias personagens, mas não u m homem em traj e de cerimónia.

Desta maneira, o que qualquer observador vê e fixa do conjunto de cada uma das marcas não é simples- mente uma silhueta negra de u m homem com capa, chapéu e u m copo na mão, mas, quanto à marca da recorrente, a de u m homem de casa.ca apoiado numa base, e quanto à marca registada n.° 49 340 a de u m embuçado numa capa.

Há, portanto, que concluir que, contràriamente ao que foi decidido no despacho recorrido, não se pode reconhecer que entre a ma.rca da recorrente e a marca já registada n.° 49 340 exista semelhança gráfica e figu- r,ativa que possa induzir em erro ou confusão, porque as duas marcas são bem distintas e susceptíveis de serem fàcilmente diferenciadas por qualquer pessoa, sem ne- cessidade de exame ou confronto.

Sendo assim, como é óbvio, a marca d.a recorrente en- contra-se em circunstâncias de ser registada, e não há lugar a quaisquer considerações sobre a concorrência desleal, visto que, nas condições expostas, não existiu nem pode existir.

Mas, se necessário fosse abordar tal assunto, haveria que atender a que a recorrente, pela junção dos cartões de fls. 63 e 64, mostrou que já no ano de 1921 usava a marca que ora pretende registar e que pelos documentos juntos pela sociedade Geo G. Sandeman, Sons & C°, Ltd., apenas se reconhece que só desde 1932 usou em Portugal da marca que veio a ser registada sob o n.° 49 340, ou seja desde época posterior à que la que representa o início do uso pela Sociedade dos Vinhos Santiago, L.da, da marca em causa.

Por tudo o exposto, dando prov imento ao recurso, anulo o despacho recorrido de 23 de Março de 1949 e ordeno a concessão à recorrente do registo da marca n.° 62 093, condenando nas custas e selos dos autos, com

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o mínimo de procuradoria, a Sociedade Geo G. Sande- man, Sons & C°, Ltd.

Fixo à acção o valor de 50.001$ e o imposto de jus- tiça em u m meio.

Cumpra-se oportunamente o disposto no artigo 210.° do Código da Propriedade Industrial, devolvendo-se o processo apenso.

Notifique e registe.

Lisboa, 31 de Julho de 1950. - António Fernando de Sequeira Sotomaior.

Está conforme. - Lisboa, 16 de Abril de 1953. - O Chefe da 3.ª Secção do 7.° Juízo Cível, Francisco José Mira Delgado.

Referências

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