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Desenvolvimento Local: Um processo sustentado no investimento em capital social

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Academic year: 2021

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Desenvolvimento Local:

Um processo sustentado no investimento em capital social

por Carlos Lopes 1 – Resumo

Nas próximas paginas, apresento uma fundamental estratégia para o estabelecimento de relacionamento positivo e colaborativo em comunidades.

O principal objetivo ao adotar tal estratégia é contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades, portanto também apresentarei o conceito de desenvolvimento com o qual tenho trabalhado, os principais resultados alcançados nos últimos anos, e as principais dificuldades que temos enfrentado.

2 - Desenvolvimento Local

Quando falamos em desenvolvimento local nos referimos essencialmente a uma vida melhor e a um melhor convívio social. Usamos o termo “local” para designar que o processo de desenvolvimento se estabelece a partir de uma dada região geográfica onde as condições e as diversas variáveis de matizes diversificadas (social, política, econômica, ambiental, cultural, etc) permitem uma identidade comum.

Consideramos que o termo “desenvolvimento”, não necessita de nenhum complemento, pois:

a) O desenvolvimento é sempre local, visto que não existem no mundo dois lugares absolutamente iguais, portanto, cada local requer estratégias próprias. b) O desenvolvimento é sempre social, uma vez que seus resultados devem

sempre benecifiar e impactar positivamente as pessoas que vivem na localidade, portanto a sociedade local (desenvolvimento, nesse sentido, não é induzido para que beneficie maquinas, sistemas, organizações, etc, apesar destes poderem se beneficiar dos resultados do desenvolvimento).

c) Não há necessidade de se falar em “desenvolvimento econômico”, visto que a economia é parte do sistema social e ela só existe porque as pessoas existem. A dimensão econômica deve ser uma das variáveis a ser considerada em um processo de desenvolvimento.

d) O desenvolvimento deve ser sempre integrado, pois requer a participação de toda a sociedade, sendo que nesta, encontramos os mais variados atores: sociedade civil, governo, empresas, instituições, pessoas, profissionais, pesquisadores e etc.

e) Para que seja desenvolvimento, deve ser sustentável, ou seja, mudar de acordo com as circunstâncias, mantendo suas características fundamentais e conservando os meios que possibilitam sua adaptação (ou seja, simplificando, um processo de desenvolvimento deve preservar o meio ambiente, quer seja esse meio ambiente natural ou construído pelo ser humano).

Importante ressaltar que, fazemos uma distinção entre desenvolvimento e crescimento. Quanto a “desenvolvimento”, já abordei acima e quanto a “crescimento” entendemos como sendo o nome que se atribui ao processo de expansão das atividades estritamente econômicas, normalmente expressas em índices tais como o PIB (Produto interno bruto).

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Em complemento a essa conceituação de desenvolvimento, e justificando a estratégia que temos adotado para o desenvolvimento de comunidades distinguimos algumas variáveis que entram na “equação” do desenvolvimento.

Basicamente, essas variáveis, se dividem em dois grandes grupos:

a) Variáveis Econômicas: aqui entram fatores que tradicionalmente são reconhecidos como importantes pelos economistas e policy makers para o desenvolvimento, ou seja, fatores como renda, riqueza, investimentos, capital físico e financeiro.

b) Variáveis extra-econômicas: são todas aquelas (também tradicionalmente) que não são reconhecidas pelos mesmos atores como relevantes para o desenvolvimento (mas que, no entanto, vem sendo paulatinamente reconhecidas), que são:

· Capital Natural: Conjunto de recursos naturais ou físico-territoriais existentes numa localidade, que podem ser utilizados para alavancar processos de desenvolvimento. Exemplos: água, ar, recursos minerais, flora e fauna, características culturais, edifícios históricos ou padrões arquitetônicos e etc.

· Capital Humano: Tem relação com as condições de vida de uma comunidade, tais como saúde, educação, segurança, transporte, alimentação, capacidade de empreender e conhecimento tecnológico.

· Capital Social: Diz respeito às condições de convivência entre as pessoas, como elas regulam e resolvem seus conflitos, sua capacidade de empreender coletivamente e o grau de cooperação (ou de adversidade) que existe numa comunidade. O capital social pode ser considerado o “meio ambiente” social sobre o qual processos de desenvolvimento podem ser induzidos.

3 - Rede Social

Fomentar e mediar redes sociais é uma ação preferencial para a indução de processos de desenvolvimento local, pois significa investimento em capital social e na criação de ambientes sociais cooperativos que sustentam o desenvolvimento.

3.1 – Conceito

Existem diversos conceitos para redes sociais. Apresento o conceito que tem sido adotado pelo Senac São Paulo: “Sistema capaz de reunir e organizar pessoas e instituições de forma igualitária e democrática, a fim de construir novos compromissos em torno de interesses comuns e de fortalecer os atores sociais na defesa de suas causas, na implementação de seus projetos e na promoção de suas comunidades”. A palavra “sistema”, significa um conjunto de procedimentos e valores que direcionam as ações, definem as estratégias e estabelecem o modus operandi.

Sobre os termos “Igualitária e democrática” ver tópico abaixo.

“Construir novos compromissos” significa desenvolver conjuntamente ações que não aconteciam antes que os atores que compõe a rede tivessem se unido.

“Interesses comuns”, pois é essencial haver algo que junte as pessoas. O interesse comum pode ser muito específico ou amplo. Por exemplo, algo muito amplo pode ser o bem estar de uma comunidade e algo muito específico pode ser o desenvolvimento de um congresso.

“Fortalecer os atores sociais na defesa de suas causas e na implementação de seus projetos” relaciona-se ao sentido de utilidade e de ganha/ganha que deve estar presente em uma rede.

3.2 - Metodologia para fomento de redes sociais

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necessários para formação de uma rede social, que nos propiciou a formulação dessa metodologia (Essa é a metodologia básica utilizada pelo Senac São Paulo).

· Reunião

Momento em que o grupo vai se encontrar para tratar dos assuntos que lhe é comum e deliberar a respeito de suas ações.

O encontro de todos os componentes deve se repetir ao longo de toda a existência da rede. Pode ser contínuo ou intermitente. Também podem existir encontros de parte dos membros da rede, quer seja para tratar de assuntos específicos de interesse de parte desses membros ou para tratar de um assunto ou tema que foi deliberado por todo grupo mas que será executado ou estudado por parte dos membros.

· Identificação

Vai ocorrendo ao longo de todo tempo de vida da rede, mas é essencial que ocorra de forma sistematizada no início. São os momentos em que cada membro do grupo pode dizer e mostrar quem é, o que faz, o que busca, quais seus pontos fortes e fracos, seus anseios e suas necessidades, etc.

· Proposição

São os momentos em que cada membro da rede pode fazer propostas de ações para os demais. Contribui para a etapa de identificação, uma vez que ao se fazer uma proposta, implicitamente esta contida a visão de mundo, suas metas, filosofia, ideologia e forma de pensamento. É o momento do diálogo entre os membros, onde as propostas são dialogadas e contra-propostas são apresentadas. Alguns grupos são inciados por uma proposição inicial que justifica e mobiliza o grupo para se encontrar, porém enquanto as etapas anteriores não ocorrem de modo satisfatório na percepção da maioria dos membros do grupo a proposta não encontra eco suficiente no grupo.

· Composição

É o momento mais delicado da existência de uma rede e na qual o mediador deve estar mais atento. É o momento quando as parcerias são estabelecidas e os compromissos são assumidos. O sentido de se formar uma rede aparece quando composições são feitas e recursos (de toda ordem) são mobilizados.

· Novo Compromisso

Trata-se da formalização do que foi estabelecido na etapa anterior. O novo compromisso entre os membros da rede é efetivamente o que aponta os resultados que uma rede está atingindo.

· Ação

É a concretização do novo compromisso assumido pelo grupo. Momento em que o grupo vai executar sua ação. A existência de uma ação concreta, no conceito em que estamos trabalhando, é uma das questões que ajuda a diferenciar os tipos de redes. Por exemplo, podemos discutir, propor, compor e assumir novos compromissos em relação ao desenvolvimento de uma localidade, mas se não colocamos isso em prática, ficamos apenas no plano teórico.

3.3 - Definição de rede social

Estabelecer uma definição foi um passo necessário para diferenciar a rede da qual estamos tratando de outros conjuntos que se denominam pelo nome de rede. Pode ser entendido como um complemento do conceito, mas se refere muito mais a sua estrutura e modo de funcionamento.

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Assim, estabeleço a seguinte definição: “Conjunto estruturado de pessoas ou organizações intencionalmente organizadas, com interatividade motivada e liderança compartilhada, visando alcançar objetivos comuns ou executar ações conjuntas através de estratégias planejadas especificamente”.

“Estruturado” significa a presença de organização interna (ordem, funções, papeis), relação das partes com o todo e das parte entre si. Serve para diferenciar do sentido atribuído à rede quando é usado para se referir ao conjunto de relações pessoais (por exemplo: rede de ralações pessoais).

“Intencionalmente organizadas” aponta que a rede foi organizada para atingir um determinado fim, o que é reforçado pelo uso da expressão “estratégias planejadas especificamente”.

“Interatividade Motivada” remete a idéia de que as relações entre os componentes da rede é estimulada constantemente. Essa adjetivação faz a diferença quando se usa o termo rede para se tratar de um conjunto de elementos dispostos de forma apenas burocrática (exemplo: Rede Pública de Ensino).

3.4 – Liderança

Entendemos que as redes intencionalmente constituídas necessitam de liderança. Importa verificar o tipo dessa liderança.

Primeiro, é preciso distinguir que liderança não significa única e exclusivamente “mandar” ou “dizer quais são os caminhos”. Esse entendimento de liderança é muito próprio de organizações piramidais e não de uma rede. Na nossa concepção a liderança em uma rede deve ser exercida segundo as competências e circunstâncias. A liderança numa rede tem muito mais um papel organizativo e motivador.

Nas redes, temos utilizado o termos “mediação” para designar a liderança. O papel do mediador tem sido de uma liderança no sentido de “ajudar o grupo a atingir os objetivos que deseja”. Ele contribui para que o grupo consiga perceber as conexões entre as idéias e propostas que estão sendo discutidas, questiona criticamente o grupo e principalmente deve exercer um papel de animador, incentivando o grupo nos momentos de desanimo. Além disso, deve ser também, um elemento que busca garantir o cumprimento dos princípios acordados na rede. Seu papel fundamental é fazer o grupo se desenvolver e se fortalecer. Pode ser chamado também de facilitador ou moderador.

Este papel tem sido exercido por funcionário do Senac nas redes. 3.5 – Princípios

Para que uma rede funcione plenamente, dentro da complexidade social em que vivemos, acreditamos que 4 princípios são essenciais: Democracia, Igualdade, Horizontalidade, Diversidade. Abaixo, alguns breves comentários sobre cada um deles.

· Democracia

Uma rede só é possível dentro de um sistema democrático que possibilite a plena participação das pessoas. Não nos referimos à democracia entendida como a vontade da maioria, mas, antes, no seu sentido de participação plena nas decisões e debates e de respeito à diversidade presente no grupo.Nas redes nas quais ajudamos a fomentar, facilitado pelo número de participantes, evitamos que o grupo use o recurso do voto para decidir uma questão em debate. Isso porque o voto sempre traz consigo duas conseqüências inseparáveis: um vencedor e um perdedor e este segundo sempre buscará inverter sua posição. Temos adotado, por prática e principio, decidir as questões por consenso. Isso não implica que um grupo inteiro tenha que chegar a uma mesma conclusão, ou ter uma mesma opinião a respeito de um determinado

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ponto, mas que é possível, com base no diálogo (portanto na escuta ativa) chegar a um termo que possa ser aceito.

· Igualdade

Significa que as pessoas e suas opiniões tem peso igual. Importante salientar que se trata da igualdade dentro da diversidade e levando em conta as competências pessoais. Isso não significa que as pessoas devam ser iguais ou se igualar, pelo contrário, devem manter sua identidade. (não pode haver a despesonalização).

· Horizontalidade

Por princípio, uma rede deve ser horizontal. Ser vertical (pirâmide) é seu oposto. Esse valor ajuda a embutir no grupo o censo de ser responsável pelo que faz, já que não deve existir quem manda ou quem obedece.

· Diversidade

Implica a aceitação e convivência com os opostos.Se os demais princípios são garantidos, fica mais fácil a aceitação da diversidade. A diversidade é tão fundamental numa rede que a faz ser mais produtiva e ter ações muito mais condizentes com a realidade. Para que possa existir num grupo, é preciso estar presente um elemento que conecte todo o grupo, por exemplo, pertencer a uma mesma comunidade. Não importa as diferenças políticas, ideológicas ou de crença pois o motivo da conexão será maior que essas diferenças.

3.6 - Funcionamento e Composição

A forma de conceber este tipo de rede social esta pautado além das características acima, em alguns parâmetros que se adaptam de grupo para grupo. Normalmente os encontros acontecem de forma presencial e a maioria acontece uma vez por mês. Denominamos esses encontros de Fóruns, pois são momentos de debate e deliberação.

Quando um determinado tema ou projeto conecta (ou interessa) 2 ou mais elementos de uma rede e não a rede como um todo, estimulamos a formação de sub-grupos que, em outro espaço de tempo, irão discutir e deliberar sobre aquele assunto. Os resultados que se vai obtendo nesses subgrupos (que denominamos de comissões) são levados para os fóruns para compartilhamento com os demais e não necessariamente para aprovação de todo o grupo. Isso se dá, pois, o aspecto específico em debate pelo subgrupo, pode interessar apenas àquele sub grupo.

Existem outras comissões que se formam, por deliberação do Fórum, que são de interesse de todo a rede. Neste caso, também uma comissão pode ser formada, só que, diferente do caso anterior, o resultado desse sub grupo é levado para decisão na plenária (por exemplo, uma comissão que irá discutir sobre as formas de divulgação dos trabalhos da rede).

Nesse movimento, uma rede pode ter tantos projetos e comissões quanto puder abarcar. Evitamos a estratégia de formar comissões para contemplar todos os membros de uma rede. Se determinado elemento do grupo não deseja ou não pode participar de alguma comissão, nada o impede de continuar a participar da rede. A rede social é um organismo aberto. Conceitualmente, sua composição pode se dar por pessoas ou por organizações, e em nossa prática temos considerado as pessoas como representantes de organizações. Fundamentalmente, temos focado e incentivado a participação de organizações do terceiro setor, porem, sendo um organismo aberto, são bem vindas organizações governamentais e da iniciativa privada. O termo “organização” não se limita ao seu sentido formal (condição jurídica específica), mas principalmente funcional. Assim, um grupo de pessoas que atua, por exemplo, na manutenção de um parque, pode participar da rede social por meio de um representante.

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O sentido de organismo aberto, também se aplica quanto à participação, que é outro aspecto fundamental do funcionamento: a participação é livre. Assim sendo, um membro não está obrigado a participar contra a sua vontade, mas deve fazê-lo, enquanto essa participação estiver sendo proveitosa para sua organização.

4 - Principais desafios enfrentados

Cultura Assistencialista: Expectativa de receber benefícios e não de ser protagonistas do desenvolvimento.

Cultura “Piramidal”: a maioria das pessoas atua de forma vertical e esperando comandos para atuar. A Atuação em rede pressupõe iniciativa, responsabilidade e cultura de colaboração e não competição.

Ênfase nos passivos: a tendência dos participante é apenas apontar os pontos fracos de suas comunidades, negligenciando que existem pontos positivos que devem ser aproveitados.

6 – Resultados

Colocadas todas as questões acima, que resumem 11 anos de formação de redes sociais, faz-se necessário, apontar alguns resultados que podem ser expressos por duas percepções básicas (alguns pontos cujo valor financeiro ainda não foi possível calcular):

Significativo aumento da motivação quando atores sociais percebem que não estão sozinhos.

Grupos inteiros que saíram da percepção “nós somos muito carentes” para a percepção “nós podemos”.

Fortalecimento dos vínculos e nível de confiança entre os participantes. 7 – Conclusão

A estratégia de fomento e articulação de redes sociais, descrita nos moldes acima, tem propiciado o fortalecimento das comunidades, principalmente por se constituir uma estratégia de relacionamento e não de imposição de idéias ou conceitos, portanto baseado no diálogo e na colaboração.

Nota

As idéias expostas nesse texto são frutos da experiência teórica e pratica do autor e também estão anconradas em idéias expressas por estudiosos tais como: Augusto de Franco (Brasil), Humberto Maturana (Chlile), Robert Putnann (Estados Unidos), Aléxis de Toqueville (França), Janes Jacobs (Estados Unidos), Manuel Castels (Espanha), entre outros.

Fonte: http://carloslopes1.blogspot.com.br/2008/09/desenvolvimento-local-um-processo.html

Referências

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