• Nenhum resultado encontrado

BRASIL-MOÇAMBIQUE: O LADO OCULTO DA COOPERAÇÃO SUL-SUL TRIANGULAR Farã Vaz 1, Bas Ilele Malomalo 2

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "BRASIL-MOÇAMBIQUE: O LADO OCULTO DA COOPERAÇÃO SUL-SUL TRIANGULAR Farã Vaz 1, Bas Ilele Malomalo 2"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

BRASIL-MOÇAMBIQUE: O LADO OCULTO DA COOPERAÇÃO SUL-SUL TRIANGULAR

Farã Vaz1, Bas´Ilele Malomalo2

1

Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Instituto de Humanidades e Letras, e-mail: vaz.fara@yahoo.com.br

2

Universidade Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileiro, Instituto de Humanidades e Letras, e-mail: basilele@unilab.edu.br

Resumo: O presente trabalho é parte de um projeto voltado para os estudos de cooperação para o desenvolvimento entre Brasil-África. Tem por objetivos analisar Programa de Cooperação Tripartida Japão-Brasil-Moçambique: a concepção do desenvolvimento que comporta e os problemas sociais e políticos que tem trazido para as populações locais do corredor de Nacala. Faz uso da pesquisa bibliográfica, documental e Avaliação da Quinta Geração para a coleta de seus dados. Estrutura o seu aparato interpretativo na perspectiva crítica do desenvolvimento, e argumenta que o programa em análise é parte da política e da lógica do capital internacional, e opera de forma camuflada. Atenta aos seus efeitos negativos, violadores de direitos de existir, a sociedade civil moçambicana vem se mobilizando contra o Prosavana. Para tanto, tem feito alianças com os movimentos sociais internacionais e brasileiras para denunciar os abusos das elites do capital e do poder político que exploram as populações riberinhas e dos serados. O ProSavana revela-se hoje como um espaço de disputa de interesses das classes dominantes que agem dentro e a partir da lógica do desenvolvimento extrativista. Os povos moçambicanos, que lutam contra essa lógica exploradora, vêm exindo dos Estados moçambicano, brasileiro e japoneses, executores do programa em análise, a realização de audiências públicas democráticas, a suspensão do programa, o respeito aos seus direitos de terra e a justiça social que assegure o seu direito de desenvolvimento sustentável. Palavras-chave: Moçambique. ProSavana. Cooperação. Imperialismo. Desenvolvimento. INTRODUÇÃO

Esse trabalho é um resultado do projeto intitulado “Brasil-África: reflexões e estudos de caso sobre a cooperação internacional para o desenvolvimento”, que tem por objetivo geral, a alimentar as reflexões sobre os estudos da cooperação internacional para o desenvolvimento, partindo-se de casos concretos. Nesse contexto, é que se escolheu, como objeto de estudo, o Programa de Cooperação Tripartida Japão-Brasil-Moçambique (ProSavana-JBM) em processo de implementação, desde 2009, no corredor de Nacala.

Três razões motivaram essas escolha, o nosso pertencimento a uma Universidade que visa a integração internacional entre os país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a repercussão negativa que o programa em análise vinha tendo na opinião pública internacional através da mídia e a resistência dos camponeses moçambicanos que lutavam contra esses efeitos negativos que exigia a nossa solidariedade.

A nossa pesquisa teve por objetivos específicos: analisar o funcionamento do ProSavana em Moçambique; questionar a concepção do desenvolvimento existente nesse

(2)

programa; identificar os problemas sociais que têm causados para a população local; apreender as críticas da sociedade civil moçambicana sobre ele.

METODOLOGIA

A pesquisa estrururou-se numa abordagem interdisciplinar, valorizando, durante a coleta de dado a pesquisa bibliográfica, documental e a Avaliação de quinta geração.

O aporte teórico da pesquisa, assente numa perspectiva crítica emancipatória dos estudos do desenvolvimento, possibilitou-nos problematizar o conceito do desenvolvimento e de cooperação presentes nos documentos oficiais do ProSavana-JBM; e ler, igualmente, de forma crítica os documentos produzidos pelas agências financiadoras desse programa e de seus críticos, as organizações sociais das populações afetadas pelo programa.

Pois, a Avaliação de quinta geração, além de assumir a prática da documentação como uma de suas fases, comporta também uma fase de análise e interpretação dos dados. No caso, desta pesquisa o Método de Interpretação de Sentidos que valoriza a análise temática de conteúdos foi acionada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Essa pesquisa assumiu a perspectiva crítica dos estudos do desenvolvimento. Esses defendem que as políticas de cooperação internacional para o desenvolvimento, quando não executadas com responsabilidade e a partir do paradigma emancipatório pactuado na defesa direitos de povos (SANTOS, 2013), continuariam, contraditoriamente alimentar os interesses das classes dominantes e do capital internacional.

Numa perspectiva de crítica mais radical, István Mészáros (2012) entende que as políticas de cooperação internacional e o do desenvolvimento são parte dos interesses das classes dominantes articuladores do imperialismo hegemônico. Este último manifesta-se pela imposição da lógica destrutiva do capital dos estados dominantes e das empresas multinacionais. Dito em outras palavras, o que está em jogo no quadro da cooperação internacional, são os interesses políticos e econômicos das classes dominantes.

Conforme Sérgio Schlesinger (2013), a cooperação Sul-Sul caracteriza-se em duas dimensões: dimensão econômica e política, que se concretizam, no momento, nas iniciativas do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e do IBAS (Fórum de Diáspora Índia-Brasil e África do Sul). O mais interessante nesse autor é que o seu estudo não tem

(3)

como foco somente o ProSavana-JBM, mas aponta outros investimentos privados, ou privados e públicos brasileiros (Vale, Odebrecht, Camargo Corrêa e BNDES) em Moçambique. O texto de Schlesinger (2013) sinaliza como o chamado imperialismo soft brasileiro opera nesse país.

Baseando-nos nos dados do PROSAVANA-TEC (2011), percebemos que a visão e missão oficiais do ProSavana colocam-se para “melhorar as condições de vida da população” no Corredor de Nacala através de um “desenvolvimento agrícola regional sustentável e inclusivo” e consequente geração de empregos através de investimentos agrícolas. Porém a forma como está sendo planejado é problemática e vem trazendo problemas sérios para as comunidades locais (SCHLESINGER, 2013).

Por causa de sua lógica negadora de direitos humanos é que o ProSavana vem-se confrontado a uma oposição radical dos movimentos sociais nacionais e internacionais, da comunidade acadêmica e de pesquisadores atentos em acompanhar até aonde vão os projetos da cooperação brasileira para o desenvolvimento da agricultura no corredor de Nacala. A Carta Aberta para deter de forma urgente o ProSavana, endereçada ao presidente de Moçambique, Armando Guebuza, à Presidente do Brasil, Dilma Rousseff e ao Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe, é um dos documentos históricos, marcador dos protestos dos oprimidos, que encontramos:

Assim, nós camponeses e camponesas, famílias das comunidades do Corredor de Nacala, organizações religiosas e da sociedade civis nacionais signatárias desta Carta Aberta manifestamos, publicamente, a nossa indignação e repúdio contra a forma como o Programa ProSavana tem sido concebido e tende a ser implementado nas nossas terras e comunidades do nosso País. [...] O Programa ProSavana, já está a ser implementado através da componente “Quick Impact Projects” sem nunca ter sido realizado, discutido publicamente e aprovado o Estudo de Avaliação de Impacto Ambiental, uma das principais e imprescindíveis exigências da legislação moçambicana para a implementação de projetos desta dimensão, normalmente classificados como de Categoria A. [...] Defendemos o desenvolvimento da agricultura baseado em sistemas de produção e não em produtos, ou seja, a não destruição da lógica produtiva familiar que para além de questões económicas incorpora sobretudo a lógica de ocupação de espaços geográficos, a dimensão social e antropológica, que tem se revelado muito sustentável ao longo da história da humanidade. Senhor Presidente de Moçambique, Senhora Presidente do Brasil e Senhor Primeiro-Ministro do Japão, a cooperação internacional deve alicerçar-se com base nos interesses e aspirações dos povos para construção de um mundo mais justo e solidário. Entretanto, o Programa ProSavana não obedece esses princípios e os seus executores não se propõem, muito menos, se mostram disponíveis a discutir, de forma aberta, as questões de fundo associadas ao desenvolvimento da agricultura no nosso País. (CARTA ABERTA, 2013).

O ProSavana, com os estudos feitos, ainda mostra uma face oculta, sem apresentar na sua totalidade as possíveis empresas que poderão integrar o seu corpo funcional. E como

(4)

também foca o desenvolvimento da agricultura familiar, aflora a dúvida, de como é que os agricultores, junto das empresas, estarão num programa de desenvolvimento sustentável baseado na livre concorrência do mercado (SCHLESINGER, 2013).

Figura 1: Camponeses marcham contra o ProSavana no Corredor de Nacala.

Por que é que há um movimento de “Não ao ProSavana”? A nossa resposta baseia-se na citação da Acção Acadêmica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais (ADECRU), apontando os gritos de voz dos movimentos sociais moçambicanos à frente da defesa de seus direitos.

[..] Dizemos não ao ProSavana, assumindo o impacto nefasto e devastador que esse programa vai trazer para milhares de famílias camponesas residentes no corredor de Nacala. […] Assistimos permanente secretismo, omissão, manipulação e deturpação deliberada e contraditória de documentos, a multiplicação de intimidações e manipulação dos líderes das organizações camponesas, representantes dos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e activistas, protagonizadas pelos proponentes e executores do Prosavana [,...]. “A usurpação da terra é uma luta que nos vai levar à morte, há camponeses e activistas dos direitos humanos que vão morrer”, Alice Mabota, Presidente da Liga moçambicana dos Direitos Humanos, anunciando assim, o início de uma luta sem fim até que o programa seja interrompido”. (ADECRU, 2014).

Meszáros (2012) na sua crítica contra o metabolismo social do capital, lembra-nos que este, o capital, é capaz de definir e separar a esfera constituída pela legitimação política, em questão estritamente formal, excluindo a priori possível de outro resistir em sua esfera legítima, substantiva de operação reprodutiva socioeconômica, isto é, as empresas transnacionais com os seus investimentos em Nacala vêm sendo capazes em deslocar as

(5)

comunidades de seus territórios, mudando com a cumplicidade de Estado moçambicano a legislação fundiária. Ou ainda ainda, estes donos do capital internacional fazem promesas de empregos que não cumprem e que fica sendo prejudicado são as famílias moçambicanas da região de Nacala.

CONCLUSÕES

A partir da pesquisa, percebeu-se que o modelo de desenvolvimento assumido pelo ProSavana é do tipo capitalista-extrativista. Trata-se de um programa com alicerce no mercado e no entendimento da literatura crítica a esse modelo ao mercado não pode ser dada a tarefa singular de regulador as relações sociais e econômicas.

São as contradições trazidas pela política do capital internacional no Corredor de Nacala em Moçambique é que tem gerado as mobilizações e reivindicações dos movimentos sociais dos agricultores e famílias cujos direitos são ameaçados.

AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos ao Prof. Dr. Bas´Ilele Malomalo, coordenador e orientador do nosso trabalho e ao Programa de Iniciação Cintífica da UNILAB (PIBIC) que nos forneceu a bolasa. REFERÊNCIAS

ADECRU. Lança campanha ao programa “Não ao Prosavana” em Moçambique Disponível em: https://adecru.wordpress.com/2014/06/02/lancada-campanha-nao-ao-prosavana-em-mocambique/ acessado em 12 de Agos. 2015.

CARTA ABERTA. Carta Aberta para Deter e Refletir de Forma Urgente o Programa ProSavana. Disponível em: http://www.rebrip.org.br/noticias/10/carta-aberta-para-deter-e-reflectir-de-forma-urgente-o-programa-prosavana Acessado 03 de Fev. DE 2015.

MÉSZÁROS, István. O século XXI: socialismo ou barbárie? .In.________ Capital contradição viva/ István Mészáros tradução, Paulo Cezar Castanheira. Ed. Boittempo – São Paulo, 2012.

SERGIO, Schlesinger. Cooperação e investimento do Brasil na África: o caso do ProSavana em Moçambique /Sergio Schlesinger, - 1ª ed. FASE, Maputo, 2013.

PROSAVANA-TEC. projeto de melhoria da capacidade de pesquisa e de transferência de tecnologia para o desenvolvimento da agricultura no corredor de Nacala em Moçambique. Junho de 2011. Disponível em:

http://www.undp.org.br/Extranet/SAP%20FILES/MM/2011/14740/PROSAVANA-TEC%20-%20RESUMO%20EXECUTIVO.pdf. Acessado em 12 Nov. 2014.

SANTOS, Boaventura de Souza; CHAUI, Marilena. Direitos humanos, democracia e desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 2013.

Referências

Documentos relacionados

Este estudo apresenta como tema central a análise sobre os processos de inclusão social de jovens e adultos com deficiência, alunos da APAE , assim, percorrendo

Disto pode-se observar que a autogestão se fragiliza ainda mais na dimensão do departamento e da oferta das atividades fins da universidade, uma vez que estas encontram-se

Ao referir-se sobre os contos de fadas Corso e Corso (2006, p. 178) nos trazem a definição de que tais histórias são identificadas como narrativas curtas, onde um drama

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

Processador para computador pessoal, de última geração, mínimo 4 núcleos, mínimo 8 threads, frequência mínima 3.6 GHz, cache mínimo de 8 MB, com vídeo integrado, suporte a

O trabalho teve como objetivos avaliar a indução de resistência direta (local e sistêmica) de plantas de arroz causada pela herbivoria e pela aplicação exógena dos