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MARCOS DA PAISAGEM CULTURAL DE NITERÓI.

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Academic year: 2021

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MARCOS DA PAISAGEM CULTURAL DE NITERÓI.

AZEVEDO, MARLICE N. S. DE(1); MONTEIRO, DENISE M.(2); SANTOS, SILVANA V. DOS(3)

1- Universidade Federal Fluminense - UFF

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU Professora Titular. E-mail: marliceazevedo@globo.com

2- Universidade Federal Fluminense - UFF

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU Doutoranda. E-mail:denisemonteiro@gmail.com

3- Universidade Federal Fluminense - UFF

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU Pesquisadora. E-mail:silvana@prefeitura.uff.br

RESUMO

Este artigo pretende repensar as diversas concepções de reconhecimento de uma Paisagem Cultural como patrimônio, destacando diferentes estratégias de preservação e prevenção. O primeiro enfoque voltado para os prédios do antigo Cassino e do Cinema Icaraí, localizados no entorno da Praça Getulio Vargas. Esses prédios são dois marcos arquitetônicos e urbanos do bairro de Icaraí, em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. São exemplares importantes do estilo de arquitetura Art-Déco das décadas de 1930 e 1940 e, ao longo do tempo, reconhecidos pelos cidadãos niteroienses como patrimônio cultural de valor. O Cassino Icaraí é desde 1967 ocupado pela Reitoria da Universidade Federal Fluminense - UFF, mas o prédio tombado pela Prefeitura em 1994, mantém suas características arquitetônicas. O Cassino Icaraí ficou na historia da cidade e na memória da população. A Universidade foi acolhida pela sociedade como um patrimônio cultural. O prédio do Cinema Icaraí, construído na década 1940, tornou-se um testemunho do desenvolvimento urbano do bairro e se constituiu como um lugar de diversão, de sociabilidade e de cultura para a população. A disputa com os espaços de cinema multiplex dos Shoppings Centers veio desmotivar os proprietários dos cinemas de rua que foram sendo transformados ou demolidos para novas construções e uso. Em Niterói não foi diferente, mas antes que se transformasse em um edifício de 14 pavimentos de apartamentos, a população realizou manifestações publicas em defesa do Cinema Icaraí. Com o apoio do

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Movimento Social Organizado, do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ) e de órgãos do poder público, em 2008, o Cinema Icaraí foi preservado. Incorporado à Universidade (UFF), em 2010, o prédio será revitalizado, respeitando sua preservação para nele abrigar, além do cinema, a Orquestra Sinfônica Nacional, o Corpo de Balé de Niterói e outras atividades culturais oferecidas à população. A Praça Getulio Vargas é ponto de referência da paisagem cultural no bairro Icaraí. Resguarda, em seu entorno, além dos dois prédios já citados, a extensa praia de Icaraí e as pedras de Itapuca e a do Índio símbolos da ocupação do bairro. Ostenta uma visada deslumbrante voltada para a edificação do Museu de Arte Contemporânea – MAC (projetado por Oscar Niemeyer às margens da Baía de Guanabara), para a secular Igreja de Boa Viagem,(tombada pelo IPHAN e INEPAC) e para os ícones da cidade do Rio de Janeiro: o morro do Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, reconhecidos como Patrimônio Cultural da Humanidade pelo UNESCO. O segundo enfoque é direcionado para a área de tutela referente ao Caminho de Niemeyer, conjunto arquitetônico ao longo do litoral da cidade, ainda em construção. Surge uma nova paisagem cultural, escrevendo mais um capitulo para a história da cidade, projetado por esse renomado arquiteto, enriquecendo a vocação turística de Niterói. Com esses enfoques abordaremos o alcance de uma política de preservação do patrimônio que compreenda um âmbito maior que ações de preservação e restauração. É indispensável impregná-la da noção de valor cultural, criando o sentido de identidade e pertencimento coletivo junto à população para garantir a efetiva proteção desses bens patrimoniais.

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INTRODUÇÃO

Este artigo pretende repensar as diversas concepções de reconhecimento de uma Paisagem Cultural, sua utilização como instrumento de preservação e gestão do patrimônio, destacando diferentes estratégias para dinamizar as oportunidades culturais em todo o seu entorno. Trata-se de um tema com enfoque renovado que se encontra em fase de discussão e amadurecimento. A presença forte e dominante da paisagem natural, associa–se ao testemunho da passagem e da contribuição do homem, nas suas múltiplas percepções e ações em constante evolução.

O conceito de paisagem, abordado em múltiplas acepções através dos tempos, está sempre em construção. A integração do homem e a natureza tem sido um foco central nessas abordagens, despertando nos organismos nacionais e internacionais, ligados à proteção do patrimônio, a necessidade de discutirem estratégias que valorizem a paisagem cultural na identificação e preservação do patrimônio cultural dos povos.

Em 1992, a UNESCO adotou a paisagem como um bem, não mais como parte de valorização de um bem mais importante. A partir de então, distinguiu alguns tipos de paisagens culturais, criando três categorias de paisagem como patrimônio:

Paisagem claramente definida. (aquela que surge de uma intenção própria) Paisagem evoluída organicamente. (aquela que acontece com o tempo) Paisagem cultural associativa. (aquela que adquire um significado próprio)

A chancela da Paisagem Cultural é o mais novo instrumento de preservação do patrimônio cultural brasileiro, lançado em 2009 pelo IPHAN, conforme regulamenta a Portaria IPHAN nº 127/2009, da qual se destaca que:

“Paisagem Cultural é uma porção peculiar do território, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores.” IPHAN

O reconhecimento da Paisagem Cultural de Niterói está apoiado em um tripé inseparável, a Cidade de Niterói, a Baia de Guanabara e a Cidade do Rio de Janeiro.

A entrada da Baia de Guanabara, no Estado do Rio de Janeiro possui seus limites demarcados pelos pontões da cidade de Niterói com o maciço do Morro do Pico e da cidade do Rio de Janeiro com o maciço do Morro do Pão de Açúcar. Essas formações rochosas constituíram importantes pontos de defesa com construção de fortaleza, além de se destacarem como marcos de visualização da paisagem cultural urbana das duas cidades.

Na cidade de Niterói voltada para a Baía, após vários aterros, encontram-se os bairros Ponta da Areia, Centro, Gragoatá, São Domingos, Praia Vermelha, Praia das Flechas, Praia de Icaraí com seus monumentos naturais como Pedra do Índio e Itapuca, Enseadas de São Francisco, Charitas e de Jurujuba.

Uma Avenida beira mar foi idealizada desde os primeiros prefeitos niteroienses, como avenida para uso turístico e esportivo, que com o tempo ligaria os bairros costeiros da baía com os bairros oceânicos da cidade como Itaipu, Piratininga, Camboinhas, Itacoatiara.. Essa Avenida litorânea viria propiciar uma paisagem onde a natureza se destacaria, dando beleza e qualidade ao ambiente urbano promovendo pontos de apreciação e fruição da Baia de Guanabara e também no litoral oceânico, criando um outro diferencial de apropriação da paisagem na cidade.

A cidade de Niterói teve sua origem na localidade que hoje é reconhecida como bairro de São Lourenço nas redondezas da Rua São Lourenço, com a delimitação e implantação da

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Aldeia do Índio Araribóia (aldeia São Lourenço dos Índios), que se estendia pela área ocupada pelo Centro, Gragoatá e São Domingos. Mais tarde, na década de 1860, é que a povoação de Niterói foi mais diretamente ligada ao bairro de Icaraí, com a abertura de uma pedra que se interpunha entre os bairros do Ingá e Icaraí. Mais tarde, a Estrada Fróes interligou Icaraí a São Francisco alongando mais um pouco a avenida litorânea. A cidade começou a se desenvolver urbanisticamente com os planos de arruamento do atual Centro e Icaraí, desencadeando a ocupação desses bairros e, principalmente Icaraí, que ganha novas praças, jardins além de construções como os primeiros arranha céus com atividades culturais, como o Cassino Icaraí (1936) e Cinema Icaraí (1944). A vida social, artística e cultural do bairro conquistou o glamour, dinamismo e intensidade de uma sociedade em plena atividade social urbana. O ambiente natural e essas atividades deram forma e característica à vida na cidade de Niterói ao longo do tempo. Com a natureza rica e evidenciando o uso dos espaços livres ao longo do mar, as atividades de rua tornaram-se hábitos da população, como caminhadas, passeios e encontros que ocorriam diariamente. O futebol na praia, o passeio de bicicleta no calçadão, o banho de mar, o salto do trampolim, o barco a vela, o barco a remo, eram atividades que utilizavam a praia. Valorizou e cultivou no cidadão niteroiense essa paisagem cotidiana. O encontro nas praças, a vivencia nos jardins, a circulação nas feiras ao ar livre e a freqüência dos bares e botequins, tornavam todos esses espaços privilegiados para o lazer. Costurando o tecido vivo e sedimentando as relações sociais no tempo e espaço da cidade e do bairro de Icaraí, a história da Praça Getulio Vargas e a interligação da vida social entre os prédios do Cassino e do Cinema Icaraí se misturam e se completam.

A cidade de Niterói é conhecida pela qualidade de vida. Por ter sido capital do estado foi palco de acontecimentos sociais, culturais e políticos intensos. É uma cidade privilegiada também pela sua notável vista da Baia de Guanabara com a silhueta fantástica da cidade do Rio de Janeiro ao fundo. E agora se projeta, internacionalmente, como museu aberto das obras arquitetônicas do arquiteto Oscar Niermeyer.

Em Niterói sempre existiu uma vocação cultural e turística da área litorânea da cidade explorada pelos gestores de diversos governos municipais, desde os primórdios de sua história, que aqui serão apresentados nos dois enfoques como marcos da Paisagem Cultural de Niterói.

A PRAÇA GETULIO VARGAS E SEU ENTORNO.

No primeiro enfoque a paisagem cultural foi se desenvolvendo organicamente junto com o crescimento da própria cidade. Teve seu estimulo preferencialmente social e estético, existindo identidade e pertencimento dos niteroienses com relação a esses patrimônios: a Praça Getulio Vargas, o Cassino Icaraí, o Cinema Icaraí.

A Praça Getulio Vargas.

No final do séc. XIX, em 1841, é idealizado o Plano Taulois ou Plano da Cidade Nova, abrangendo o bairro de Icaraí e parte de Santa Rosa, constituindo-se num plano de arruamento de autoria do Engenheiro francês Pedro Taulois e organizado após a elevação da cidade a condição de capital. O traçado ortogonal da malha viária se iniciava na Praia de Icaraí e terminava na Rua Santa Rosa, duplicando a área urbanizada de Niterói.

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Em 1876, no bairro de Icaraí, encontram-se relatos de ações e desejos dos seus moradores em manter o traçado e árvores já plantadas, solicitando um projeto ao Presidente da Província para transformar a área entre as ruas da Constituição (hoje Miguel de Frias) e da Independência (hoje Álvares de Azevedo) em um passeio público e desta forma afastar as freqüentes invasões de cabras e outros animais que tudo destruíam.

No ano seguinte, a obra do jardim foi concluída, incluindo a construção de uma muralha, servindo como quebra mar e para assentamento de gradil. (FIGURA, 01)

Figura 01: Vista das obras do Passeio Público em 1877

Fonte:www.flicks.com/photo – acessado em 14/06/2010

Esse importante Jardim, construído no espaço resultante da curva natural da Praia de Icaraí e do rígido desenho ortogonal do Plano Taulois ou Plano da Cidade Nova, foi chamado de Jardim Icaraí recebendo, posteriormente, inúmeras outras obras, ora por melhoramentos, ora por homenagem a alguma figura ilustre. A partir de então, devido ao desenvolvimento que foi conquistando o bairro de Icaraí, e também pela localização privilegiada em frente à praia, o Jardim Icaraí desempenhou um importante papel como paisagem cultural de presença forte e dominante sendo utilizado como espaço de convivência, refletindo para seus usuários sua importância estética, funcional e simbólica.

Figura 02: Jardim Icaraí, hoje Praça Getúlio Vargas, Cinematógrafo Icarahy.

Fonte: Acervo de fotos da Pestalozzi.

Em 1940 o Jardim tornou a sofrer uma remodelação. Desta vez, extensa e demorada a fim de receber mais um bronze, o busto do Presidente Getulio Vargas, denominando-se a

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partir de então Praça Getulio Vargas. Local privilegiado de encontro, contemplação, atividades culturais, sociais e políticas, torna-se local de poder na cidade atraindo para o seu entorno, construções importantes como o Cassino e Cinema Icaraí que reforçam atividades da própria praça e a visualização e a identificação dos mesmos. É a Paisagem Cultural adquirindo representatividade, significado, se tornando símbolo, e se perpetuando na identidade dos cidadãos da cidade.

O Cassino Icaraí.

Em 1936 um antigo palacete construído em 1916 é transformado em cassino, localizado em frente ao Jardim Icaraí foi comprado e demolido para dar lugar ao novo prédio do Cassino Icaraí. Um dos primeiros arranha céus do bairro. A edificação Art Déco foi constituída por um bloco elevado de 11 pavimentos com 107 apartamentos e, um pequeno corpo saliente frontal com pé direito duplo onde se localizava o Grill-Room, possuindo uma torre central em linhas curvas e um grande relógio na cobertura.

Figura 03: Fachadas principal e lateral do Cassino Icaraí. Década de 1940.

Fonte: Acervo da Galeria de Arte da UFF

Este prédio tornou um marco na vida cultural e social da cidade e dos niteroienses na década de 1930/40. Ponto importante na vida noturna da cidade, seus shows eram concorridíssimos, pois apresentavam, em seus salões, os maiores astros da época, nacionais e internacionais, entre eles Orlando Silva, Carmem Miranda, Silvio Caldas, Francisco Alves, Pedro Vargas, Grande Otelo, Tito Guizar, Josephine Backer, Imma Sumack, Ylona Massuy e outros. O Cassino teve também a honra de receber em suas noites “artistas” ilustres niteroienses como Dr. Gastão Menescal Carneiro, Dr. Edgar Alves Costa, a bailarina Juliana Yanakieva e tantos outros.

O Cassino foi ainda espaço para a realização de shows beneficentes, o que ampliava a sua integração com a sociedade local e os políticos.

E assim o Cassino Icaraí vai-se consolidando como o grande centro de atrações, o mais importante palco da cidade de Niterói, além de vetor do desenvolvimento do bairro de Icaraí. Até que, numa terça-feira, 30 de abril de 1946, as roletas dos cassinos no Brasil pararam de girar. O presidente da República Eurico Gaspar Dutra, fechou as casas de jogos no Brasil.

E assim o edifício do Cassino Icaraí, após a proibição do jogo foi vendido para ser hotel-restaurante. Em 1952, com algumas obras fizeram surgir o Teatro Cassino. Depois o cine

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Grill Room, mais tarde uma Sorveteria, a Escola de Balé Juliana Yanakieva, uma Boate até que em 1967 o prédio foi desapropriado pelo Governo Federal e em 1969 passou para a Universidade Federal Fluminense, estabelecendo ali, sua Reitoria até os dias de hoje. E em 1994, o prédio foi tombado pela Prefeitura Municipal de Niterói por reconhecimento de sua importância como registro histórico cultural da cidade.

O Cinema Icaraí.

No final do século dezenove a população niteroiense tinha a oportunidade de assistir sessões de cinematógrafos itinerantes. Essas projeções começaram no mundo após a descoberta dos irmãos Lumière com as experiências de luz e sombra. Niterói foi uma das primeiras cidades brasileiras a ter projeção de filmes datando de 1897i, quando os cinematógrafos itinerantes utilizavam para suas projeções as paredes das construções ou telas improvisadas ao ar livre. Como aconteceu em 1907, no Jardim Icaraí, hoje Praça Getúlio Vargas, o Cinematógrafo Icarahy. Funcionando ao ar livre, utilizava energia elétrica cedida gratuitamente da Cia. Cantareira e Viação Fluminense como uma opção de entretenimento no bairro além de um atrativo para os usuários destas empresas que usufruíam de um ponto de bonde na praça com direito a assistirem os filmes.

Mais tarde, entre 1911 e 1915 houve uma associação entre cinema e teatro, criando os cine-teatros, onde os filmes viabilizaram os espetáculos, pois as montagens teatrais dispendiosas tornavam elevados os preços dos ingressos, afastando o público. Os teatros por sua vez enriqueciam os filmes com suas instalações confortáveis e possibilitando sua complementação com o som das orquestras. Após o advento do som, as projeções tiveram uma expansão exponencial. O cinema sonoro começava a ter sede própria.

Em 1916, as exibições de filmes no bairro de Icaraí adquiriram sua primeira sede, com a construção de uma casa muito bem montada para funcionar como cinema, na mesma área do atual prédio do cinema Icaraí, de frente para a Praça Getúlio Vargas. Podendo então, seus freqüentadores usufruírem das exibições confortavelmente e protegidos, resultando também numa melhor qualidade dessas exibiçõesii.

Somente na década de 1940 essa casa foi demolida, dando lugar à construção do prédio atual do Cinema Icaraí (FIGURA 04). A partir de então, reforçou-se à tradição de exibições de filmes no local.

Figura 04: Fachada do prédio do Cinema Icaraí. Construído na década de 1940 em estilo Art Déco

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A localização desses prédios fortaleceu o entorno do jardim e não aconteceu por acaso, e sim por se tratar de área privilegiada que possuía avenidas e ruas de acesso importante como facilitador para seus usuários, proximidade com a praia e de frente para o Jardim Icaraí, depois Praça Getulio Vargas. Resguardava a ambiência, a visibilidade dessas atividades e edificações ai implantadas consolidando um importante foco artístico e cultural, até os dias de hoje, na cidade de Niterói. A Praça Getúlio Vargas está no centro desse contexto, mantendo a ambiência, garantindo a proteção e preservação das duas edificações. Formando uma Paisagem Cultural evoluída organicamente.

Pode-se contemplar essa evolução da Paisagem cultural da Praça nas imagens a seguir. Figura 05: Vista da Praia de Icaraí, década de 1930, com casa montada para cinema em frente à Praça Getúlio Vargas.

Fonte: Wehrs, Carlos – Niterói – tema para colecionadores-1987.

Figura 06: Vista da Praia de Icaraí, década de 1950, com o prédio do cinema Icaraí

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AO CAMINHO DE NIEMEYER

Na década de 1970 em Niterói, uma obra prevista nos planos de urbanização é executada parcialmente, mudando inteiramente o litoral do bairro de São Domingos: é o Aterro da Praia Grande. Desaparecem o antigo cais, as pontes de atracação (as barcas há muito tempo não paravam em São Domingos) e as praias. Com a obra, montes de pedras e terra impediam que se avistassem as agora distantes águas da baía.

Em 1974 é inaugurada a ponte Rio-Niterói. No mesmo ano foi efetivada a fusão dos Estados da Guanabara e Rio de Janeiro, retirando de Niterói a condição de capital. A implantação do novo Estado do Rio de Janeiro ocorreu em 1975.

Só nos anos 1980 e 1990 foi ativada a ocupação e urbanização das terras ganhas do mar. Uma grande área do Aterro da Praia Grande é cedida a Universidade Federal Fluminense e novos prédios da Universidade são erguidos no aterrado (mais tarde denominado Campus do Gragoatá) e outros prédios construídos no morro de São João Batista (depois denominado de Campus do Valonguinho).

Nos planos de arruamento de Niterói datados do século XIX já se previa a construção de uma via que ligasse a Ponta D’Areia a São Francisco, pelo litoral. No entanto, só no século XX (década de 1980) foi construída, mudando totalmente a paisagem do lugar. O morro contíguo ao forte foi cortado e a praia do Fumo (ao lado da praia Vermelha), aterrada. A atual Avenida Litorânea foi construída. Essa obra veio beneficiar a outra área da UFF, onde se encontravam as unidades da Escola de Engenharia, hoje Campus da Praia Vermelha.

O Projeto proposto.

Com exceção de Brasília, Niterói será a cidade no Brasil que abrigará um dos maiores acervos de obras construídas do Arquiteto Oscar Niemeyer. O caminho Niemeyer é considerado um conjunto arquitetônico entre os mais importantes em construção nas Américas. Museu a céu aberto. Já estão concluídas algumas das edificações como a estação das Barcas de Charitas (Catamarã), a Praça JK, o Memorial Roberto Silveira e o Teatro Popular. Ainda se encontram em construção o Centro Petrobras de Cinema e a Fundação Oscar Niemeyer.

“Não foi difícil projetar para Niterói porque esta é uma cidade de orla tão bela que possibilita a criação a céu aberto, como um itinerário cultural e religioso.” (NIEMEYER)iii

A Figura 07, a seguir, apresenta um esquema geral dos monumentos que fazem parte do projeto do Caminho Niemeyer a contar da Ponta D’areia com a Catedral Batista até a Praia das Flechas onde está localizado o Museu de Arte Contemporânea - MAC. A Estação das Barcas de Charitas foi um acréscimo posterior ao projeto original.

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Figura 07: Caminho Niemeyer

Fonte:http://www.pitoresco.com.br/espelho/destaques/niemeyer_catedral/catedral.htm,acesso em 2/10/2012 O projeto do Caminho Niemeyer trouxe para a cidade a divulgação e o reconhecimento internacional de qualidade do patrimônio arquitetônico, por se constituir um museu aberto de um conjunto de obras de um renomado arquiteto. Conta com obras monumentais, ao longo da Avenida Litorânea, proporcionando uma visibilidade privilegiada para aqueles que transitam na Baia de Guanabara, bem como para diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro. Trata-se de um investimento de iniciativa política, com pouca identificação pela população niteroiense, que ainda se encontra distante desse projeto. O Museu de Arte Contemporânea está totalmente integrado no contexto da paisagem e já faz parte do imaginário dos niteroienses, com força suficiente para alterar até o símbolo da cidade: da silhueta do cacique Araribóia para a silhueta do MAC. Este constitui uma apropriação da natureza, associada a um projeto arquitetônico, e já se configura como uma realidade concreta que paulatinamente é assimilada na consciência popular niteroiense, e torna-se muito visitado como atrativo turístico da cidade.

Existe reconhecimento do valor do artista, autor do projeto, de respeito e aceitação do patrimônio edificado que compõe o Caminho, porém ainda não existem conhecimento e identificação pela totalidade dos cidadãos niteroienses. O desconhecimento do projeto, a falta de conclusão das obras, a dificuldade de visualização do traçado com o todo, além de outros aspectos relacionados à sua integração com o traçado existente, constituem-se variáveis significativas para o distanciamento da população niteroiense.

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CONCLUSÃO

Pretende-se, com a presente abordagem, mostrar o significado da Paisagem Cultural urbana da cidade de Niterói. É uma cidade vista e lembrada pela paisagem da entrada da Baia de Guanabara, pelas praias, pelas fortalezas, hoje consideradas pontos turísticos, pelos maciços, pelos morros, pela Pedra do Índio, pelo MAC e quiçá pelo Caminho Niemeyer. Essas formações rochosas, esse mar, essa natureza exuberante serão sempre importantes e se destacarão como marcos de visualização da Paisagem Cultural urbana da cidade, pela sua força e beleza. São riquezas que o cidadão niteroiense vai agregando valores, gradativamente.

Com a presença forte e dominante da Paisagem Natural da cidade, o niteroiense vem marcando sua presença ao longo dos anos com suas ações e percepções contínuas como agentes de grandes transformações da Paisagem Natural para a Paisagem Cultural, seja evoluída organicamente ou claramente definida.

A questão é a emoção, a contemplação do homem e a marca da paisagem na sua memória. Não existe paisagem cultural sem o sentimento e a assimilação dessa estética. Os elementos evocados constituem uma Paisagem Cultural enquanto o Caminho Niemeyer poderá futuramente fazer parte dela.

Figura 08: Pedra do Índio e MAC

Fonte:Suplemento Especial – Jornal O Globo Niterói, 431 anos 22/11/2004 - foto Alexandre Cassiano 02/05/2004

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REFERÊNCIAS

Acervo da Galeria de Arte da UFF. Acervo de fotos da Pestalozzi.

Acervo da autora, fotos Almiro Baraúna .

Arquivo da Secretaria de Urbanismo da Prefeitura Municipal de Niterói - PMN

BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Coleção Cantos do Rio, Ateliê Editorial, São Paulo; 3ª edição, 2008.

INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, Processo INEPAC E-18/1.281/2007, Secretária de Estado de Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, 2007.

Jornal O Globo Niterói, 431 anos 22/11/2004. Suplemento Especial. Revista Niterói Design, ano V, nº11, 2010

RODRIGUES, Ferdinando de Moura. Formas, Imagem e Significado em Estruturas Urbanas

Centrais. Niterói: EDUFF, 2001.

SANTOS, Silvana Valente dos. Reitoria da UFF: Marco Arquitetônico e Urbano da cidade de

Niterói, Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo – UFF, Niterói, 2010.

WHERS, Carlos. Niterói. A História de um Lugar. Gráfica Vida Doméstica Ltda., Rio de Janeiro, 1984.

________ Niterói – tema para colecionadores. Gráfica P. Cavalcanti, RJ, 1987. ________ Capítulos da Memória Niteroiense, ERCA Editora e Gráfica Ltda, RJ, 1989. Sites: http://www.pitoresco.com.br/espelho/destaques/niemeyer_catedral/catedral.htm, acesso em 2/10/2012 http://www.tvoflu.com.br/TvOFlu/Videos/Cidades/2009/5/cinema-icarai-167.aspx. acesso em http://pt-br.facebook.com/dermiz.dermatologia/posts/145296245599681 http://www.flicks.com/photo – acessado em 14/06/2010 i

WHERS, Carlos. Niterói. Capítulos da Memória Niteroiense, ERCA Editora e Gráfica Ltda, RJ, 1989, p.22 e no vídeo “Niterói História de Cinema”, http://www.tvoflu.com.br/TvOFlu/Videos/Cidades/2009/5/cinema-icarai-167.aspx. ii

WHERS, Carlos. Niterói. Capítulos da Memória Niteroiense, ERCA Editora e Gráfica Ltda, RJ, 1989, p.34 iii

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