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CRISE E REESTRUTURAÇÃO CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA: ANÁLISE DAS MÚLTIPLAS DETERMINAÇÕES E DAS TENTATIVAS DE SUPERAÇÃO DA CRISE 1

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CRISE E REESTRUTURAÇÃO CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA: ANÁLISE DAS MÚLTIPLAS DETERMINAÇÕES E DAS TENTATIVAS DE SUPERAÇÃO DA CRISE1

ELIANE CARVALHO DOS SANTOS elianegeounesp@yahoo.com.br Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia UNESP – Presidente Prudente Bolsista do CNPq

Resumo

Algumas mudanças no âmbito mundial iniciadas nas últimas décadas do século XX e nesse início de século XXI estão refletindo em um processo de reestruturação ampla que traz novas configurações econômicas, nas relações sociais e na articulação entre os Estados nas instituições intergovernamentais de poder regulador. Nesse cenário, as repercussões desses novos elementos nas diferentes formações sociais tornam visível a crise do fordismo (modelo de desenvolvimento dominante na sociedade ocidental que se consolidou ao longo do século XX) e a ascensão de um novo modelo de acumulação capaz de retomar os fluxos de investimento, crédito, consumo e crescimento econômico das nações alterado com a crise do sistema. Assim, nesse artigo, buscamos elencar as maiores transformações desse período, a partir de uma leitura multifacetada, analisando suas múltiplas determinações e as tentativas de superação da crise contemporânea.

Palavras-chave: Crise; Reestruturação capitalista; Fordismo; Estados Nacionais; Acumulação Flexível.

INTRODUÇÃO

As questões que envolvem a análise de processos que configuram a dinâmica do capitalismo mundial refletem suas conseqüências de diferentes maneiras dentro do universo econômico e social das formações sociais nacionais.

Nesse sentido, o processo histórico que deu origem as diferentes nações e sua forma de inserção no mercado capitalista mundial influenciam na sua atuação e seu poder de influência na coordenação do sistema e sobrevivência deste, gerando tensões de ordem política, econômica, militar, etc.

É desse modo que, após crises profundas, reajustamento e fortalecimento do capitalismo que esse modo de produção é reestruturado, a partir de ações e reações que impactam nas nações, mas que voltam a dar estabilidade ao sistema, que se reestrutura para se manter mais forte até a próxima crise.

Assim, no presente texto, discutiremos as múltiplas determinações da crise do modelo de desenvolvimento hegemônico – o fordismo - que ascendeu e se consolidou no pós-guerra, e como seu esgotamento culminou em um processo de reestruturação que ainda está em curso, implicando em mudanças nas relações sociais e econômicas.

1 O presente trabalho completo deverá ser exposto dentro do eixo temático “Geografia do trabalho e

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Essa reestruturação, por se tratar de um processo amplo que impacta de diferentes maneiras os Estados nacionais, deve ser analisada a partir da conjuntura mundial, entendendo as transformações que os setores econômicos, os trabalhadores e os Estados estão experimentando, algo que ocorre com o rompimento de crises e lutas entre os seguimentos sociais em todas as escalas que esse fenômeno possa ser analisado.

Por se tratar de um cenário dinâmico, muitos autores afirmam que existem tendências que estão dando forma a uma nova configuração capitalista, porém algumas mudanças já estão visíveis desde final do século XX e estão transformando o cotidiano das pessoas e indicando para uma nova ordem global.

Desse modo, buscamos articular os resultados dessa reestruturação a partir da análise dos autores que compõem nossa perspectiva teórica com algumas informações mais recentes, compondo um ensaio sobre a crise e a reestruturação contemporânea.

OS IMPACTOS E AS MÚLTIPLAS DETERMINAÇÕES DA REESTRUTURAÇÃO CAPITALISTA

A reestruturação do conjunto das relações econômicas e sociais forjadas a partir do modelo fordista de produção, consolidadas até então, inicia-se com o aprofundamento da crise e recessão econômica que se instala pós-1973 (fase b do ciclo de Kondratieff), devido a fatores provocados pelo esgotamento deste modelo de acumulação, crise política entre nações (árabes e israelenses) e instalação de uma ambiente de recessão e inflação nas principais economias mundiais.

Segundo Coutinho (1992), esses anos do auge da crise foram caracterizados

pela estagflação; pelos choques de preços do petróleo; pelo choque da taxa de juros e conseqüente instabilidade financeira; pela relativa paralisia dos fluxos de acumulação produtiva de capital; pela expressiva redução das taxas de incremento da produtividade. (p. 69)

Esse cenário de recessão mundial interrompeu um período de crescimento sustentado que essas economias estavam experimentando, gerando uma crise social e insurgências no campo da coordenação política dos Estados que questionavam a sustentabilidade do paradigma keynesiano, diante das mudanças do ambiente econômico.

Nesse sentido, a saída para tal período depressivo ou, segundo Silva (2004, p.209) numa perspectiva cíclica, “conjuntura depressiva do ciclo longo (Kondratieff), aberta em 1973 – 1974” foi iniciada gerando um conturbado processo de reestruturação e ajuste econômico, social e político, principalmente no âmbito dos Estados que passaram a romper com medidas elaboradas e consolidadas no pós-guerra, sabendo dos riscos que existiam ao modificar o status quo e retirar direitos que foram conquistados pela classe trabalhadora dentro do pacto de desenvolvimento que vigorou na era fordista-keynesiana.

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No âmbito das relações econômicas (financeiras e produtivas), a saída para a crise foi dada a partir do maior aprofundamento da internacionalização do capital produtivo, financeiro e comercial, e por um processo de desregulamentação e abertura comercial entre países para proporcionar uma maior rentabilidade do capital especulativo e financeiro, já que o fordismo constituía-se em um modelo que privilegiou a escala nacional, com uma dinâmica de produção e consumo voltados para uma base interna. Era necessário adequar as economias nacionais para a nova fase capitalista.

Com isso, o setor produtivo foi afetado pela aceleração da geração e difusão de inovações que propiciaram a recuperação da produtividade, porém repercutindo na constituição dos mercados de trabalho e incorporando novas formas de manter seu controle, padronizando iniciativas poupadoras de mão-de-obra nos parques industriais tradicionais.

De acordo com Benko (1996), a principal estratégia da reestruturação está no combate à rigidez que fundamentava as estratégias de acumulação fordista, sendo que nesse contexto, se inclui a desvalorização da força de trabalho com a redução de todos os componentes dos custos de sua reprodução.

Mas, além de novos arranjos no mundo do trabalho, a crise contemporânea tem como respostas diversas estratégias de superação, sendo que para isso, vários modelos estão em gestação e implicam em vários modos possíveis de hegemonia. Nesse sentido, “práticas neofordistas se solidarizam facilmente com práticas pretensamente pós-fordistas” (BENKO, 1996, p.22), sendo que nessa direção, as ações flexíveis são as que mais se destacam, pois possibilitam várias combinações entre a base técnica da nova indústria, sua organização gerencial e a organização do trabalho.

Tal processo amplo advém, de maneira geral, da disseminação de inovações técnicas, organizacionais e financeiras que impactou no padrão produtivo dominante, que se complementaram ao contexto de medidas políticas e macroeconômicas dos Estados coordenados, configurando nessa reestruturação no plano interno e externo às formações sociais nacionais.

Esse período de ajustes redesenhou o cenário econômico e político mundial, pois o rompimento com o modelo de Estado vigente até então transformou a atuação deste na economia e levou os agentes responsáveis a tomarem decisões que garantissem o retorno da acumulação dos capitais privados e levassem as principais economias a encontrar o caminho do crescimento.

Daí o papel estratégico que o G-7, o grupo de governos das sete maiores economias, vinha desempenhando até quase o estouro da crise de 2008. Mas o crescimento muito maior das grandes economias emergentes nas últimas décadas mudou o equilíbrio político e econômico mundial, exigindo a ampliação do círculo das economias digamos "dominantes", cuja coordenação é indispensável para que as crises mundiais possam ser domadas.

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A ação conjunta das principais economias mundiais, responsáveis pelo intenso processo de acumulação, foi essencial para o retorno da estabilidade ao sistema, mesmo que muitas medidas tenham levado a explosão de choques financeiros e das finanças públicas dos países capitalistas centrais.

Após 10 anos de crise (1973 – 1983), o cenário de estagflação acaba com a volta do crescimento sustentado das principais economias mundiais (a taxas inferiores de antes da crise) e a estabilidade dos preços proporciona o aumento do consumo. Porém, muitos aspectos levados a cabo para garantir o retorno do crescimento econômico passam a fundamentar o receituário econômico mundial, consolidando uma tendência crescente de incorporação dos aspectos multilaterais da reestruturação em um cenário político internacional que não era mais o mesmo.

Na década de 1980, o mosaico de países influentes na geopolítica é redesenhado com o fim do socialismo real o que, após a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS, fez a esquerda perder seu rumo diante da ascensão da onda conservadora da democracia liberal. Nesse contexto, o mundo passa por transformações e conturbações econômicas, pois mesmo com a estabilidade e sustentabilidade do crescimento, a desregulamentação dos mercados financeiros, tida como uma saída fundamental para retornar os fluxos de investimentos e crédito, começa a intensificar fortes surtos de especulação cambial, que passam a ser controlados a partir da articulação política das autoridades econômicas com adoção de medidas coordenadas e com o apoio dos Estados, injetando recursos, estatizando bancos falidos e devolvendo a liquidez e confiança aos mercados de capitais.

Nesse cenário de reajuste econômico, novas relações entre os países anunciam o fim da estabilidade do poder internacional que o fordismo trazia. Durante o crescimento do pós-guerra, os EUA ascenderam como a grande potência do século XX, tornando-se hegemônico no aparato militar e político, mas também no seu paradigma tecnológico e modelo de consumo. Porém, a crise do fordismo veio acompanhada da ascensão e fortalecimento de economias asiáticas que continuaram a crescer (muitas com o apoio dos EUA) e a se associar, causando desequilíbrios na dinâmica econômica mundial e levando a criação de um mercado regional (leste asiático) capaz de mudar o jogo da economia mundial.

A China desponta como a economia que mais cresceu no final do século XX e entra na segunda década do século XXI com a possibilidade real de ser a segunda maior economia do mundo, ultrapassando o Japão e assombrando o ocidente com sua vitalidade econômica, preparando-se para tomar o posto de superpotência.

As vantagens que a China aproveitou de seu processo de industrialização tardio, estão refletindo em uma maior capacidade de articulação entre um Estado forte, coordenador e indutor do crescimento, e de um ambiente econômico capaz de atrair os maiores investidores mundiais que, estejam interessados em produzir naquele país para

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exportar para o resto do mundo, e/ou interessados em vender para o maior mercado consumidor em potencial do planeta, encontram um ambiente propício para seus objetivos. Por isso, a China é cada vez mais vista como uma economia voltada para o crescimento econômico e o grande motor do mercado e do crescimento econômico global na atualidade.

Nesses países do Leste Asiático, os pilares do crescimento econômico estão em um agressivo processo de inovação tecnológica, algo que desponta como o grande setor estratégico para essas economias no comércio mundial. Nesse sentido, esses países avançam com investimentos em educação e ciência e tecnologia, o que lhes proporcionaram um salto qualitativo/quantitativo na geração de rendas e na agregação de valor no mercado exportador.

Com isso, temos um cenário de mudanças políticas e econômicas que estão transformando os setores e os Estados nações, com a crise abrangendo principalmente os países que se desenvolveram no modelo fordista, e com as tendências indicando que os países que saltaram na inovação e são os principais responsáveis pela Terceira Revolução Industrial estão mudando os paradigmas do capitalismo atual.

Esses aspectos, de determinações múltiplas, são apontados por vários teóricos como elementos que configuram o momento atual de novos rearranjos nos setores econômicos, divisão internacional do trabalho e no cenário geopolítico mundial. Desse modo, a reestruturação capitalista se apresenta como um processo capaz de revitalizar o sistema transformando as relações e trazendo novos possíveis cenários para organismos internacionais e na governança global.

A entrada com força de países considerados emergentes nos organismos de decisões multilaterais tem desenhado para este século XXI um quadro onde as grandes economias mundiais estão se dividindo em blocos desconcentrados, aproveitando-se da idéia de internacionalização do capital e da crise contemporânea, sendo muito expressivo esse processo com o fortalecimento do G-20 (que ofuscou o G-7) que consolida a ampliação do bloco dos países mais influentes nesse contexto de total abertura do comércio mundial, pelo menos no nível do discurso.

Essas instituições multilaterais foram criadas para garantir a efetivação de alguns valores comuns em um mundo dominado e estruturado por uma rede de mercado internacional, tornando-se elementos embutidos na lógica estrutural do processo de mundialização. Assim, a entrada em cena de novos atores como os países emergentes, a expansão de empresas da periferia e o aumento do mercado consumidor mundial, vem interferindo e agindo nesse processo e demonstram a transição que estamos vivenciando com a crise do modelo fordista, com o aumento da internacionalização e a reestruturação capitalista em curso.

A crise internacional que atingiu o mercado de crédito mundial e provocou uma forte desvalorização das ações em todo o mundo em 2008, demonstrou a instabilidade do

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sistema calcado na hiper-mobilidade do capital. Nesse contexto, a coordenação política e econômica que sempre foi dos EUA como grande articulador das ajudas aos mercados não ocorreu de forma vigorosa, limitando seu papel de grande líder que até então ostentava no capitalismo mundial.

Assim, um governo após o outro começou a nacionalizar os bancos falidos, comprando parte ou a totalidade de suas ações com recursos do tesouro, sendo uma medida arriscada e muito impopular chamada de socialização das perdas. Mas, para cada governo, a nacionalização é encarada de diferentes maneiras. Para os mais conservadores ela é entendida como medida provisória, a ser revogada tão logo a crise financeira tenha sido superada e por isso mantêm no comando dos bancos estatizados as mesmas pessoas que os dirigiam antes da crise. Os governos mais progressistas, por sua vez, substituem a direção dos bancos nacionalizados por pessoas de sua confiança, que se dispõem a reativá-los, desde que depósitos e empréstimos passem a gozar de garantia contra inadimplência por parte do Estado. Tudo isso, nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, onde a crise bancária foi maior e necessitava de medidas rápidas.

Esse cenário deixou claro o avanço e a força dos Estados que agiram no âmbito de sua macroeconomia e, em muitos casos, como na China e no Brasil, impedindo que os impactos sociais dessa crise fossem ainda mais desastrosos. Mesmo com o aumento do desemprego e diminuição do ritmo de crescimento, as medidas tomadas na esfera das formações sociais demonstraram a importância de um nível mínimo de regulação dos mercados de capitais, algo que entrou fortemente na pauta de discussões da crise e que ainda não refletiu em resultados concretos.

Desse modo, o aumento da hegemonia do capital financeiro no processo de desenvolvimento das nações implica em novas formas de investimento dos lucros e de uma mobilidade fundamental para a geração de capital fictício nos surtos especulativos. As novas tecnologias da informação e a morfologia de redes em que estão calcados esses mercados possibilitam o avanço e a consolidação desse mercado como poder regulador das relações econômicas.

Nesse cenário, o novo paradigma produtivo emergente abarca os aspectos dos processos supracitados nos campos econômicos e sociais. Em seu livro “Condição

pós-moderna” David Harvey (2003) ressalta que os resultados da crise culminaram com a

transição no regime de acumulação e no modo de regulação social e política a ele associado, gerando um novo sistema de reprodução capitalista coerente que se interiorizou na sociedade.

Assim, para Harvey (2003), com a crise do fordismo e a reestruturação capitalista resultante, os ajustes realizados no interior desse modo de regulação demonstram a transição para um regime de acumulação flexível, que combina elementos anteriores, porém traz uma nova gama de relações baseadas no conceito de flexibilidade. Segundo o autor,

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a acumulação flexível se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Combina novos setores, novos mercados, intensificação de inovação comercial, tecnológica e organizacional. (HARVEY, 2003, p.140).

É desse modo que a coordenação dos agentes econômicos e políticos procurou retornar o processo de acumulação, ajustando os setores para torná-los capazes de flexibilizar as relações e, com isso, estarem mais preparados e oportunos para migrar entre as opções mais rentáveis e em combinar iniciativas favoráveis em momentos de crise.

Assim, sob esse novo regime, temos a disseminação do toyotismo como modelo de organização da produção possível para garantir a acumulação por ser mais flexível, a emergência da terceira revolução industrial, calcada nas novas tecnologias, o investimento maciço em inovações, a morfologia estratégica de organização em redes, novas formas de controle do trabalho e novas configurações na divisão internacional do trabalho.

Os teóricos que prognosticaram um regime de acumulação flexível entendem que em um período de crise do modelo fordista e da própria modernidade, a flexibilidade das relações garante a fluidez necessária para atuar na esfera mundial na velocidade das transformações tecnológicas, sociais e naturais.

O paradigma competitivo em que se baseia a acumulação flexível compõe a combinação da revolução eletrônica e o questionamento do taylorismo como o modelo de organização do trabalho rígido e cada vez mais possível de ser transposto diante do aumento da educação da classe trabalhadora mundial, levando a invenções de novas formas de organização do trabalho.

Outra questão está calcada na submissão crescente ao mercado exterior que os países estão sujeitos a enfrentar devido ao processo de aprofundamento da internacionalização (ou globalização). Diferentemente do fordismo que estava baseado na dinâmica econômica interna dos países, nesse novo regime de acumulação verifica-se que o crescimento do mercado interno de um país está sujeito ao desempenho do crescimento de sua parte no mercado mundial, ou seja, as recessões tendem a impactar amplamente as nações, estando todas com seu crescimento interno ligadas ao desempenho como um todo da economia mundial.

Isso se aprofunda devido as diferenças entre as taxas de juros, auxílios estatais para o investimento privado, valor da mão-de-obra, ambiente de investimentos, força da moeda, enfim, condições gerais para a acumulação que cada país oferece e que faz interferir nos fluxos de capitais especulativos e produtivos, gerando desequilíbrios na conjuntura econômica interna dos países mais frágeis, diante da abertura de seus mercados para a competição global.

Na esfera dos operadores dos processos produtivos – os trabalhadores – a nova configuração capitalista traz o desafio de reunificar o que o taylorismo havia separado: o

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trabalho manual do intelectual. Essa é uma das essências de um modelo de organização que se considere flexível, pois ele deve romper com a rigidez das funções dos trabalhadores no modelo fordista e proporcionar formas de engajamento desses com os objetivos dos capitalistas.

Esse modelo é oportuno diante do aumento da escolarização da população em todo o mundo e o aumento do contato cotidiano com as tecnologias mais modernas, tornando possível essa classe de trabalhadores flexíveis, capazes de tomar decisões rápidas em prol da produtividade sem a linha vertical da rígida hierarquia entre trabalhador da produção e técnicos e engenhos especializados.

Mesmo com a implementação de iniciativas que tomam esse caminho, ainda não há um modelo hegemônico, capaz de caracterizar por completo o perfil do atual trabalhador industrial, indicando o hibridismo de modelos de organização baseados em novos princípios formatados no capitalismo contemporâneo com os métodos de organização tayloristas ainda presentes, formando quadros de trabalhadores que são distribuídos entre esses modelos dentro de países, regiões e até mesmo dentro de uma mesma planta industrial.

Aos poucos, as políticas elaboradas para consolidar um modelo flexível no mercado de trabalho estão ganhando contornos com as lutas políticas do patronato e com as novas relações sindicais. A defesa da flexibilização das relações e dos contratos de trabalho na legislação trabalhista dos países, está levando ao campo jurídico aspectos de precarização da condição do trabalhador que já estão se afirmando na prática, com o aumento do número de trabalhadores com contratos temporários e/ou sem carteira assinada nos setores econômicos de todo o mundo. Assim, mais um aspecto da rigidez do fordismo é oportunamente atacado: a rigidez dos contratos de trabalho.

Com o aprofundamento e consolidação dessas experiências nos setores econômicos, aliadas as modificações das relações entre empresas, reestruturação dos Estados e da economia de uma maneira geral, a crise do fordismo e a ascensão da acumulação flexível compõem uma conjuntura ainda em processo de ajustamento e acomodação, mas que busca tornar-se hegemônica, mesmo com as diferenças históricas e culturais entre as formações sociais nacionais, apoiando-se no discurso da globalização mítica que espalha fábulas tal como a de integração mundial, aldeia global, do mercado sem fronteiras, etc., mas que esconde as contradições desse modelo que ainda está calcado na exclusão, no desequilíbrio de forças entre as nações, no protecionismo e voltado apenas para o crescimento econômico, deixando para um segundo momento a remota possibilidade do desenvolvimento das nações.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da crise social e de acumulação do modelo de desenvolvimento fordista, as autoridades mais influentes nos campos político e econômico mundial iniciam a adoção de medidas para retornar a rentabilidade do capital e ajustar os Estados para propiciar a volta do crescimento.

Nesse período, emerge a necessidade de um intenso processo de reestruturação capitalista que implicou em novas formas de relações entre capital e trabalho, entre os Estados e entre capitais a partir do aprofundamento da internacionalização. Em todos esses campos, a palavra-chave colocada como porta para a saída da crise é a flexibilidade, sendo um novo paradigma colocado para romper com a velha rigidez fordista que não era mais próspera em um novo cenário mundial.

Para retornar a acumulação, as inovações tecnológicas foram intensificadas e colocadas como necessárias para garantir a competitividade e renovar o consumo, ao passo que novas formas de organizar o trabalho estão transformando as relações de trabalho nas firmas industriais e na gama de serviços que foram incorporados como suporte necessário para esse setor (marketing, informática, design, finanças, etc).

Todas essas transformações vêem acompanhadas por modificações no mosaico de relações de poder estabelecidas entre as nações apontando para um novo cenário onde o unilateralismo norte-americano, base da era fordista do mundo capitalista, está cada vez mais desintegrado, dado espaço para relações multilaterais colocadas a partir da emergência de países de industrialização tardia como grandes economias no século XXI. Assim, essa reestruturação demonstra ser profunda em alguns aspectos, não tão profunda em outros, porém com muitos determinantes que estão levando o capitalismo para um novo estágio marcado pela rápida inovação, pelo toyotismo como modelo mais aceito, pelo multilateralismo nas relações internacionais, pela hiper-mobilidade dos capitais, pela desregulamentação dos mercados, entre outros.

Porém, nada indica que esse novo modelo vai trazer mais justiça social e desenvolvimento para as nações. A grande importância dada nesse momento está em garantir a acumulação, o controle do trabalho e o consumo, para garantir a própria sobrevivência e reprodução do capitalismo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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COUTINHO, L. A terceira revolução industrial e tecnológica: as grandes tendências de mudança. Revista economia e sociedade. Campinas, n. 1 ago. de 1992, p. 69-87.

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LEBORGNE, D; LIPIETZ, A. Flexibilidade defensiva ou flexibilidade ofensiva: os desafios das novas tecnologias e da competição mundial. In: VALLADARES, L; PRETECEILLE, E. (Coord.) Reestruturação urbana: tendências e desafios. São Paulo: Nobel, 1990. p. 17-40.

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