O plano de paz do Céu
em termos simples
As mentalidades “iluminadas” do “mundo moderno” troçam da noção de que uma simples cerimónia pública para consagrar a Rússia ao Imaculado Coração de Maria possa produzir a conversão da referida nação e trazer benefícios enormes a todo o mundo, incluindo a paz entre todas as nações. Todavia, o “mundo moderno” troça dos milagres em geral, assim como das afirmações divinas da Igreja, cujos santos fizeram milagres em tal abundância.
Mas a consagração da Rússia é precisamente o que Deus ordenou na Mensagem que autenticou com o milagre solar de 13 de Outubro de 1917. Recorde-se que, na mensagem de 13 de Julho de 1917, Nossa Senhora prometera a Lúcia: “Virei pedir a Consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos Primeiros Sábados.” Fiel à Sua palavra, a Virgem apareceu de novo a Lúcia a 13 de Junho de 1929 em Tui, Espanha, onde Lúcia — então a Irmã Lúcia dos Santos, freira Doroteia (só passou a ser Carmelita em 1948) — estava em oração na capela do convento, na sua Hora Santa de Adoração e Reparação da noite de Quinta-feira. Mesmo de entre os anais de reconhecidas aparições do Céu aos santos da Igreja Católica, esta é a mais extraordinária.
A Visão de Tui
Deixemos a Irmã Lúcia contar a aparição pelas suas palavras simples mas bastante dramáticas — e tenhamos presente que estamos aqui também a falar de uma aparição que a Igreja e os Papas, incluindo o Papa João Paulo II e o Papa Bento XVI, pronunciaram ser digna de crença. Escreveu a Irmã Lúcia:
“Eu tinha pedido e obtido licença das minhas Superioras e Confessor para fazer a Hora-Santa das 11 à meia-noite de quintas para sextas-feiras. Estando uma noite só (para a Hora-Santa), ajoelhei-me entre a balaustrada, no meio da capela, a rezar, prostrada, as Orações do Anjo. Sentindo-me cansada, ergui-me e continuei a rezá-las com os braços em cruz. A única luz era a da lâmpada.
“De repente, iluminou-se toda a Capela com uma luz sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até ao tecto. Em uma luz mais clara, via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até à cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem.
“Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálix e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito. Escorregando pela Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálix.
“Sob o braço direito da cruz estava Nossa Senhora, com o Seu Imaculado Coração na mão... Sob o braço esquerdo (da cruz), umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do Altar, formavam estas palavras: ‘Graça e Misericórdia’.
“Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade...” 42
Frère Michel chamou a esta aparição, e com razão, “a Teofania Trinitária.” (Veja uma representação artística na página seguinte.) Embora seja certo que a Divindade não pode ser vista por olhos humanos, no sentido literal, como Cristo pode ser visto na carne, esta “Teofania” foi concedida por Deus como uma representação visual da Sua natureza trinitária. Tal como sucede com o Milagre do Sol, não há um fenómeno semelhante registado na história da Igreja e do mundo. Deste modo, Deus significou a importância singular do que Nossa Senhora de Fátima iria dizer à Irmã Lúcia na presença da Santíssima Trindade. E disse:
“É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio.”43
É o próprio Deus que o pede. A Irmã Lúcia recebeu este pedido dos lábios da
Mãe de Deus, falando em Nome de Deus, na presença da Divindade, da Santíssima Trindade. A Irmã Lúcia passou imediatamente o pedido divino ao seu confessor, o Padre Gonçalves, como se vê pela correspondência com ele que já foi publicada. 44
Nos setenta e cinco anos que se seguiram, a Irmã Lúcia — a mesma Lúcia que não negou a verdade de Fátima, mesmo quando estava presa e foi ameaçada com uma morte horrível pelo Administrador maçónico de Ourém — deu o mesmo testemunho: Nossa Senhora, Mensageira de Deus, pedira a Consagração solene e pública da Rússia numa cerimónia a ser feita conjuntamente pelo Papa e por todos os Bispos do mundo.
A visão da Santíssima Trindade e Nossa Senhora de Fátima à Irmã Lúcia em Tui, Espanha, a 13 de Junho de 1929.
Foi nesta aparição tão solene, que se integra em toda a série de aparições de Fátima, que Nossa Senhora disse à Irmã Lúcia:
“É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer e ordenar que em união com Ele e ao mesmo tempo o façam todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração”, prometendo por este dia de oração e reparação mundial, convertê-la.” (Ver página 78 de Fátima e o Coração de Maria do Pe. Antonio Maria Martins, S.J., Cf. as páginas 555 e 464 de The Whole Truth About Fatima de Frère Michel, Volume II.)
Se atenderem a Meus pedidos…
“Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados; o Santo Padre terá muito que sofrer; várias nações serão aniquiladas.”
... Nossa Senhora de Fátima, 13 de Julho de 1917
Uma amostra do que
o mundo ganharia
Como para demonstrar a eficácia da Consagração que a Santíssima Virgem pedira, Deus permitiu uma espécie de demonstração em Portugal. No aniversário da primeira aparição em Fátima, em 13 de Maio de 1931, e na presença de 300 mil fiéis que compareceram em Fátima para essa cerimónia, os Bispos de Portugal consagraram solenemente a sua nação ao Imaculado Coração de Maria. Estes virtuosos Bispos colocaram Portugal sob a protecção de Nossa Senhora, para proteger a nação do contágio comunista que estava a espalhar-se por toda a Europa, e especialmente em Espanha. Na verdade, a profecia da Santíssima Virgem do alastramento dos erros da Rússia pelo mundo já estava a cumprir-se com uma exactidão inexorável. Quem, em Julho de 1917, podia ter previsto o aparecimento do Comunismo mundial e a sua expansão a partir da Rússia — meses antes da revolução bolchevista de Outubro / Novembro e da subida ao poder de Lénine? Só o Céu o podia ter previsto; só a Mãe de Deus, informada pelo Seu Divino Filho.
Um triplo milagre
Em resultado desta Consagração (de 1931), Portugal experimentou um triplo milagre. Vamos aqui dar apenas os pormenores essenciais.
Renascimento católico
Houve, em primeiro lugar, um magnífico renascimento católico, um renascimento tão grande da vida católica que quem viveu nessa altura atribuiu-o inquestionavelmente à intervenção de Deus. Durante este período, houve em Portugal um aumento drástico das vocações sacerdotais. O número dos religiosos quase aumentou para o quádruplo em 10 anos. As comunidades religiosas aumentaram da mesma maneira. Houve uma vasta renovação da vida cristã, que se manifestou em muitas áreas, incluindo o desenvolvimento de uma imprensa católica, da rádio católica, das peregrinações e retiros espirituais, e num robusto movimento da Acção Católica, que se integrou na estrutura de actividades diocesanas e paroquiais.
Este Renascimento Católico foi de tal magnitude que, em 1942, os Bispos de Portugal declararam numa Carta Pastoral colectiva: “Quem tivesse fechado os olhos há vinte e cinco anos e os abrisse agora, já não reconheceria Portugal, tão vasta foi a transformação urdida pelo factor modesto e invisível da aparição da Santíssima Virgem em Fátima. Realmente, Nossa Senhora quer salvar Portugal.” 45
Reforma política e social
Houve também um milagre de reforma política e social, segundo os princípios sociais católicos. Pouco tempo depois da Consagração de 1931, António de Oliveira Salazar, que ascendeu ao cargo de Presidente do Conselho português em 1932, inaugurou um programa católico e contra-revolucionário. Esforçou-se por criar, na medida do possível, uma ordem social católica em que as leis de governação e as instituições sociais se harmonizassem com a Lei de Cristo, o Seu Evangelho e a Sua Igreja. 46 Adversário temível do socialismo e do liberalismo, opôs-se a “tudo o que diminuísse ou dissolvesse a família.” 47
Milagre da Paz
Além destas espantosas mudanças religiosas e políticas, houve um duplo milagre de paz. Portugal foi poupado ao terror comunista, derivado especialmente da Guerra Civil que devastava a vizinha Espanha (1936-39), e foi ainda poupado à devastação da 2ª Guerra Mundial (1939-45).
Com respeito à Guerra Civil de Espanha, os Bispos portugueses prometeram em 1936 que, se Nossa Senhora protegesse Portugal, exprimiriam a sua gratidão renovando a Consagração Nacional ao Imaculado Coração de Maria. Cumprindo a sua palavra, renovaram em 13 de Maio de 1938 a Consagração de Portugal ao Imaculado Coração de Maria, em acção de graças pela protecção de Nossa Senhora. O Cardeal Cerejeira reconheceu-o publicamente: “Desde que Nossa Senhora de Fátima apareceu em 1917... desceu uma bênção especial de Deus sobre a terra de Portugal... em especial, se pensarmos nos dois anos que passaram desde a nossa promessa, não podemos deixar de
reconhecer que a mão invisível de Deus protegeu Portugal, poupando-o ao flagelo da guerra e à lepra do Comunismo ateu.”
Até mesmo o Papa Pio XII exprimiu a sua admiração por Portugal ter sido poupado aos horrores da Guerra Civil de Espanha e à ameaça comunista. Numa alocução ao povo português, o Papa referiu-se ao “Perigo Vermelho, tão ameaçador e tão perto de vós, e no entanto evitado de maneira tão inesperada.” 48
Os portugueses passaram incólumes por este primeiro perigo, mas imediatamente a seguir tiveram que enfrentar outro. Estava a preparar-se a 2ª Guerra Mundial. Cumprindo-se mais uma vez a profecia da Santíssima Virgem de 13 de Julho de 1917, a guerra começaria “no reinado de Pio XI,” a seguir a “uma noite alumiada por uma luz desconhecida...” (a noite de 25-26 de Janeiro de 1938)
Em 6 de Fevereiro de 1939, sete meses antes da declaração oficial de guerra, a Irmã Lúcia escreveu ao seu Bispo, D. José Alves Correia da Silva. Disse-lhe que a guerra estava iminente, mas falou em seguida de uma promessa miraculosa. Escreveu que “nesta guerra horrível,
Portugal seria poupado devido à Consagração Nacional ao
Imaculado Coração de Maria, feita pelos Bispos.” 49
E Portugal foi poupado aos horrores da guerra, cujos pormenores são demasiado numerosos para se relatarem aqui. 50 O que é ainda mais notável, a Irmã Lúcia escreveu ao Papa Pio XII em 2 de Dezembro de 1940, para lhe dizer que Portugal estava a receber protecção especial durante a guerra, e que outras nações também a teriam recebido se os Bispos consagrassem as suas respectivas nações ao Imaculado Coração de Maria. E escreveu: “Santíssimo Padre, Nosso Senhor promete, em atenção à consagração que os Exmos. Prelados portugueses fizeram da nação ao Imaculado Coração de Maria, uma protecção especial à nossa Pátria, durante esta guerra; e que esta protecção será a prova das graças que concederia às outras nações se, como ela, Lhe tivessem sido consagradas.” 51
Da mesma maneira, o Patriarca de Lisboa, Cardeal Cerejeira, não hesitou em atribuir a Nossa Senhora de Fátima as grandes graças que Ela obtivera para Portugal durante este período. Disse em 13 de Maio de 1942: “Para exprimir o que aqui tem acontecido há vinte e cinco anos, o vocabulário português tem apenas uma palavra: milagre. Sim, estamos convencidos de que devemos a transformação maravilhosa de Portugal à protecção da Santíssima Virgem.” 52
O Cardinal Cerejeira afirmava o que nós afirmamos aqui; que as bênçãos miraculosas que Nossa Senhora obteve para Portugal como prémio celestial para a Consagração daquela nação em 1931 eram apenas uma amostra do que Ela fará por todo o mundo, logo que a Rússia for devidamente consagrada ao Seu Imaculado Coração. 53 Como disse o Cardeal Cerejeira: “O que aconteceu em Portugal proclama o milagre. E
dá uma ideia do que o Imaculado Coração de Maria tem preparado para o mundo.” 54
NOTAS:
42. The Whole Truth About Fatima - Volume II, pp. 463-464. 43. Ibid.
44. Palavras da Irmã Lúcia, citadas em The Whole Truth About Fatima - Volume II, pp.
462-465. Ver também a obra do P. António Maria Martins S.J. Documentos de Fátima , pp. 463-465.
45. Carta Pastoral Colectiva para o Jubileu das Aparições em 1942, Fátima, merveille du XXe
siècle, p. 338. Citado de The Whole Truth About Fatima - Volume II, p. 410.
46. A influência de Salazar no Governo Português foi crescendo desde 1928. Em 1932 ascendeu
a Presidente do Conselho. Mais tarde, Salazar recebeu, pela sua dedicação, o louvor e a bênção do Papa Pio XII. Disse Pio XII: “Abençoo-o de todo o meu coração, e alimento o desejo mais ardente de que possa completar com sucesso o seu trabalho de restauração nacional, tanto espiritual como material.” Citado de The Whole Truth About Fatima - Volume II, p. 412.
47. Ibid., p. 415 (Salazar’s own words). 48. Ibid., p. 422.
49. Ibid., p. 428.
50. Ver The Whole Truth About Fatima - Volume II, pp. 369-439.
http://www.fatimacrusader.com/consecration/pdf/conspg49.pdf
51. Ibid., p. 428.
52. Ibid., p. 405. O Cardeal Cerejeira pronunciou estas palavras durante a celebração do Jubileu
das aparições de Nossa Senhora em Fátima, em 1942.
53. Confiamos mais na palavra de alguém que acredita em Fátima, como o Cardeal Cerejeira, do
que nas de alguém que quer desacreditar Fátima.
54. Cardeal Cerejeira, Prefácio a Jacinta (1942), Obras Pastorais, Volume II, p. 333. Ver
também a sua homilia de 13 de Maio de 1942, Fátima, maravilha do Século XX, p. 339. Citado em The Whole Truth About Fatima - Volume II, p. 437.
