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DIÁRIOS REFLEXIVOS NA FORMAÇÃO DOCENTE EM GEOGRAFIA A PARTIR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

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Academic year: 2021

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DIÁRIOS REFLEXIVOS NA FORMAÇÃO DOCENTE EM GEOGRAFIA A PARTIR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

Felipe Santos Silva1 Flávio dos Santos2 Ricardo Santos de Almeida3

GT 8 – Espaços Educativos, Currículo e Formação Docente (Saberes e Práticas)

RESUMO

O presente artigo é fruto das reflexões desenvolvidas na disciplina de Estágio Supervisionado I, do curso de Geografia da Universidade Federal de Alagoas – UFAL/Campus do Sertão, seu principal objetivo é relatar as experiências adquiridas no contexto de uma escola pública municipal da cidade de Delmiro Gouveia, Alagoas, adquiridas a partir da escrita do gênero textual diário reflexivo. Para tal, foi imprescindível análise bibliográfica a partir de: Giovane (2013), Pimenta e Lima (2004), Santos (2012) e Souza (2012). Por esse caminho, percebemos que as narrativas escritas a partir do Estágio Supervisionado em Geografia fomentou uma meditação muito rica sobre o espaço escolar, no que concerne aos seus aspectos estruturais, pedagógicas e do entorno da escola, além de contribuir para a formação docente em Geografia.

Palavras-chave: Formação docente. Geografia. Espaço escolar. Estágio Supervisionado.

RESUMEN

Este artículo es el resultado de las reflexiones desarrolladas en la asignatura de pasantía supervisada I, del curso de Geografía en la Universidad Federal de Alagoas - UFAL/Campus del sertão, su principal objetivo es presentar las experiencias adquiridas en el contexto de una escuela pública de municipal en la ciudad de Delmiro Gouveia, Alagoas, adquirido a partir de los registros del género textual diario reflexivo. Para ello, fue esencial la revisión de la literatura a partir de: Giovane (2013), Pimenta e Lima (2004), Santos (2012) e Souza (2012). De esta manera, nos dimos cuenta de que las descripciones escritas de la pasantía supervisada en geografía ha fomentado una meditación muy rica en el entorno escolar, en relación a sus aspectos estructurales, pedagógico y en torno a la escuela, además de contribuir para formación de docentes en geografía.

Palabras clave: Formación docente. Geografía. Espacio escolar. Etapa Supervisada.

1 Graduando em Geografia/Licenciatura pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) do Campus do Sertão.

Foi bolsista do Programa Institucional do Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES). Membro ativo do Grupo de Pesquisa Geoprocessamento e a Cartografia no Ensino de Geografia (GCEG) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Análise Regional (GEPAR). Foi bolsista de Mobilidade Acadêmica na Universidade Federal de Uberlândia, financiado Santander, em parceria com a ANDIFES, onde estagiou no Laboratório de Geografia Cultural e de Turismo/LAGECULT. E-mail: <felipegeoufal@hotmail.com>.

2 Graduando em Geografia Licenciatura pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) do Campus do Sertão.

Foi bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPQ/UFAL). Membro do Grupo de Estudos Geoprocessamento e a Cartografia no Ensino de Geografia (GCEG) e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Análise Regional (GEPAR). Foi aluno de Intercâmbio Internacional na Universidade de Coimbra, Portugal, financiado pelo Santander Universidades em parceria com a Universidade Federal de Alagoas. E-mail: <flavio.geografiaufal@gmail.com>.

3 Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. Professor Formador II no curso Geografia

Licenciatura EaD na Universidade Federal de Alagoas/Universidade Aberta do Brasil (UFAL-UAB). Professor substituto auxiliar B do curso Geografia Licenciatura presencial da UFAL/Campus do Sertão/Delmiro Gouveia. E-mail: <ricardosantosal@gmail.com>.

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INTRODUÇÃO

Nesse artigo, tomamos como ponto de partida as reflexões e inquietações levantadas a partir da disciplina de Estágio Supervisionado I, ministrada no semestre 2015.1, do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal de Alagoas/Campus do Sertão. Além das discussões em sala de aula sobre estágio, a disciplina possibilitou o primeiro contato com o espaço escolar de uma escola pública municipal, localizada na cidade de Delmiro Gouveia, Sertão de Alagoas (Figura 01).

Figura 01 – Mapa de Localização do Município de Delmiro Gouveia – Alagoas

Fonte: ZAAL (2014) organizado por Santos (2017).

A disciplina Estágio Supervisionado I foi organizada em quatro importantes momentos, são eles: I) Discussões em sala de aula sobre estágio e docência; II) Apontamentos sobre o gênero textual diários reflexivos, como instrumento de pesquisa sobre o espaço escolar; III) Estágio supervisionado em uma escola pública e construção de dez diários reflexivos, um para cada dia de pesquisa de campo na escola; e IV) Entrega de relatório e apresentação dos diários reflexivos ao professor supervisor. Nesse viés, o presente artigo tem como objetivo relatar as experiências adquiridas no contexto de uma escola pública municipal, adquiridas a partir da escrita do gênero textual diário reflexivo.

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Assim, em um primeiro momento realizaremos uma discussão teórica em torno do estágio supervisionado, a partir dos escritos de Pimenta e Lima (2004) e Santos (2012); logo após, discutiremos a importância do gênero textual diário reflexivo na formação docente, apresentando essa narrativa como um excelente instrumento de pesquisa; ao final, traremos uma síntese dos diários reflexivos escritos a partir da experiência em uma escola pública.

ESTÁGIO SUPERVISIONADO: ENTRE TEORIA E PRÁTICA

De acordo com Pimenta e Lima (2004, p. 34), o estágio ou estágio supervisionado deve ser entendido “como uma atitude investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade”. Nesse contexto, faz-se necessário entender que o estágio supervisionado deve ser um momento de reflexão muito intenso, pois, são a partir das conceituações produzidas por meio das meditações sobre o contexto escolar que surgem as problematizações, e consequentemente, as atitudes para saná-las.

Segundo as autoras, o estágio era encarado como parte prática na formação docente, ou seja, era o momento de praticar aquilo que se aprendia no âmbito das faculdades, universidades ou escolas de formação de professores. Nesses lugares de formação ocorriam os processos teóricos, cabendo aos estudantes de graduação estudar e aprender os conteúdos disciplinares, sendo o estágio concebido como parte prática desse processo, onde os futuros educadores aplicariam os conhecimentos adquiridos, ou repetiam aquilo que o professor propunha em sala de aula (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 34).

No tocante as discussões sobre o estágio supervisionado, podemos perceber que as concepções teóricas, metodológicas e epistemológicas que englobam a temática têm evoluído. Nesse prisma, a produção intelectual em torno da questão tem apontado novos horizontes, assim, o estágio supervisionado tem assumido uma postura crítica e diferenciada dos tempos de outrora.

Pimenta e Lima (2004) salientam que o estágio deve assumir um caráter de pesquisa, ser o elo entre os estudantes de graduação e a escola, e ser capaz de atingir uma formação profissional à luz da emancipação humana, que promova liberdade intelectual aos professores e alunos. Nessa perspectiva, cabe ao estagiário assumir uma postura crítica perante a escola, a sociedade e ao poder político/econômico vigente, contribuindo para a mudança social e a construção de uma identidade docente.

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Frente a esse cenário, os cursos de formação de professores precisam direcionar o estagiário à investigação, para inferir no sistema educacional e, por meio da pesquisa, melhorar a qualidade do ensino nas escolas públicas. O período de estágio supervisionado pode ser visto como algo doloroso e cansativo, todavia possui um caráter formativo muito importante nesse processo. Para Santos (2012, p. 48),

[...] os licenciandos devem entender o estágio não como um compromisso burocrático, mas como um espaço propício para desenvolver a sua práxis docente. Além disso, eles devem ir para a escola em busca de uma visão holística sobre educação, buscando investigar/questionar o sistema educacional, a política educacional que se faz presente e o contexto social dos sujeitos da escola.

Desse modo, o processo educacional deve ser pensado para além da sala de aula, com a finalidade de contemplar a sociedade, mediante a construção de mecanismos que promovam soluções para os problemas ligados à falta de cidadania e ética, à luz de uma formação humana crítica e reflexiva.

Um dilema que deve ser evidenciado, no que concerne à formação docente, é o da teoria e prática, uma vez que, no âmbito acadêmico, nos deparamos com algumas situações políticas ou ideológicas, até mesmo no contexto da própria área do conhecimento – principalmente no campo da teoria –, que nos fazem refletir: “como direcionar esse assunto ao ensino”? Ou, “eles são muito pequenos para entender esse conteúdo”. Nesse sentido, muitas vezes pensamos na impossibilidade de trabalhar um determinado conteúdo devido a sua complexidade.

Sobre esse assunto, que é demasiado complexo, concordamos com Pimenta e Lima (2004, p. 41), ao enfatizar que: “a dissociação entre teoria e prática aí presente resulta em um empobrecimento das práticas nas escolas, o que evidencia a necessidade de explicitar por que o estágio é teoria e prática (não teoria ou prática)”.

A junção das abordagens é o que sustenta um estágio de qualidade, pois teoria sem prática e prática sem teoria refletem em um estágio desconexo, sem uma ação efetiva. Para Santos (2012, p. 46), “[...] quando prática e teoria estão articuladas ao ensino ocorre uma concretização de competências e habilidades necessárias à docência, de forma contextualizada e relacionada ao momento atual em que se ensina ou se aprende”. Com a articulação entre teoria e prática, o estágio torna-se um momento de grande aprendizagem.

Diante desse quadro, na medida em que foram sendo realizadas as discussões no seio da disciplina de estágio supervisionado I, mediadas pelo professor supervisor, novos

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caminhos foram se abrindo e uma nova postura foi sendo edificada. O contato com os escritos de Pimenta e Lima (2004) e Santos (2012), foram cruciais para (re)conceituar e (re)pensar o estágio supervisionado, bem como suas bases teóricas e metodológicas.

Ao estudar sobre o estágio supervisionado na formação docente em geografia, e discutir e relatar os anseios sobre essa temática concordamos com Santos (2012, p. 42), quando a autora afirma que: “constituir-se docente, portanto, é uma arte, onde misturamos nossos saberes pessoais e profissionais a teorias e práticas educacionais, o que resulta em um comprometimento teórico e prático com nossas ideias e ações”.

Nessa direção, devemos pensar no estágio supervisionado enquanto lócus da aprendizagem. Assim, enquanto futuros profissionais da educação torna-se necessário pensar o estágio supervisionado como um meio pelo qual levaremos uma bagagem conceitual, anseios e atitudes para o âmbito escolar. Para isso, é imprescindível a manutenção do diálogo sobre o estágio, bem como a persistência acerca de novas perspectivas neste campo, sobretudo para compreendê-lo como oportunidade para se pensar em uma educação emancipatória.

O DIÁRIO REFLEXIVO NA FORMAÇÃO DOCENTE: EXPERIÊNCIA A PARTIR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

De acordo com Giovane (2013, p. 434), “[...] o diário reflexivo é um gênero que se configura como um documento pessoal que permite uma liberdade de autoria para registro de ações, certezas, incertezas, enfim, é o espaço da experiência vivida”. Desse modo, podemos perceber que o diário reflexivo é uma narrativa que se constrói a partir da reflexão sobre algo, permitindo a construção de um conhecimento crítico sobre uma realidade específica.

As experiências vividas no espaço escolar podem não exercer impacto na vida do estagiário, mas ao narrar os acontecimentos e fenômenos de forma minuciosa e reflexiva essas inúmeras observações materializam-se no papel, os acontecimentos narrados são enunciados e, por sua vez, mostram o mais íntimo do observador, suas inseguranças e suas visões de futuro e mundo. Ao narrar algo, o estagiário expressa aquilo que há em seu interior (no mais íntimo), “[...] isso porque quando se narra, não se está narrando o que aconteceu, mas narra-se o que aconteceu a mim, para mim” (GIOVANE, 2013, p. 436).

O diário reflexivo torna-se um importante meio para a produção do conhecimento, principalmente no campo da docência. Desse modo, a disciplina de Estágio Supervisionado I possibilitou, principalmente: 1) Refletir sobre a relação entre teoria e prática no contexto

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escolar; 2) Desenvolver habilidades e perspectivas sobre o cotidiano da escola pública; 3) Analisar os principais conceitos que se relacionam com as leituras contemporâneas sobre a formação do professor; 4) Relacionar formação do professor, estágio supervisionado e ensino de geografia; 5) Desenvolver a prática da escrita reflexiva a partir de diários reflexivos; 6) Desenvolver a capacidade de síntese descritiva, crítica e reflexiva por meio de relatórios.

Nesse sentido, destacamos a produção dos diários reflexivos como mecanismo para que percebamos a realidade escolar (interna e externa), com a devida cautela que esses espaços exigem, pois é preciso aguçar a percepção e adentrar no mais íntimo que o espaço escolar pode nos oferecer, e narrar essa prática pedagógica.

Com isso, podemos destacar algumas experiências na escola, principalmente enquanto estagiário em seu exercício. Os primeiros dias na escola são de muito incômodo ao estagiário, porém, todos os dias de exercícios de observação incomodaram a todos e todas da escola, da gestão escolar a equipe de limpeza, pois enquanto andávamos pela escola realizávamos anotações.

O espaço escolar, analisado a partir do estágio supervisionado, levanta problematizações, principalmente sobre: a qualidade do ensino oferecido na rede pública: a merenda escolar, o ambiente escolar, e o impacto desses elementos na vida das crianças e jovens. É impossível não envolver-se com a realidade da escola pública, não querer saber em quais condições físicas e humanas as crianças e jovens vivem e quais são as suas condições alimentares.

A escola deve ser encarada pelos estagiários como campo de pesquisa e o estágio deve assumir uma atitude investigativa, tendo em vista propor atividades práticas que sejam capazes de contribuir com a realidade escolar (PIMENTA; LIMA, 2004).

No que concerne à estrutura física, percebemos que a escola possui mecanismos que permitem a promoção de práticas que vão além da sala de aula. Nesse aspecto, atividades como educação ambiental (a construção de horta escolar e jardins, por exemplo) e exercícios lúdicos (que requerem espaço extraclasse) poderiam/podem ser desenvolvidas na escola. Conforme o Croqui da Escola abaixo (Figura 02), o número 4 representa os espaços vazios, que são abandonados pela escola, mas que possuem potencial para o desenvolvimento de diversas práticas pedagógicas.

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Figura 02 – Croqui da Escola

Fonte: Silva (2015).

Desse modo, mesmo tendo muitos espaços vazios como possibilidades, nada têm sido feito no tocante a melhoria da qualidade ambiental da escola, e as aulas não são para além das paredes das salas. Com isso, buscamos aprimorar o entendimento sobre o futuro espaço de trabalho, uma vez que o estágio supervisionado possibilita: aprimorar o conhecimento sobre o espaço escolar; olhar para escola como um espaço rico de pesquisa; refletir sobre a profissão docente; problematizar a estrutura pedagógica e física da escola, entre outros.

Partindo desse pressuposto, concordamos com Santos (2012, p. 52), quando a autora aponta:

[...] defendo a pesquisa no estágio enquanto possibilidade para que o licenciando consiga por meio desta construir o seu fazer docente articulado com os saberes adquiridos na faculdade, viabilizando uma prática educativa responsável e comprometida com os anseios da educação na atualidade. Em sua tese, Santos (2012) defende o estágio enquanto espaço de pesquisa, sustentando essa ideia a partir de inúmeras possibilidades, dentre elas: repensar o conceito de estágio, repensar as ementas das disciplinas de estágio e o futuro das disciplinas de estágio, sobretudo nos cursos de Licenciatura em Geografia.

Nesse cenário, articular tais aspectos teóricos sobre o estágio supervisionado junto à escrita dos diários reflexivos caracterizou-se como algo fundamental para uma análise crítica e reflexiva sobre o ambiente escolar. Segundo Souza et al (2012, p. 185), “[...] esses escritos constituem-se pela expressão e pela elaboração do pensamento e dos dilemas dos

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docentes. Desse modo, aqueles que escrevem diários podem tornar-se investigadores de si próprios e, consequentemente da prática que desenvolvem na escola”. Assim, o estágio tornou-se diferente, nos colocou enquanto sujeitos da aprendizagem, pois o primeiro estágio é um momento de muitas incertezas.

SINTESE DOS DIÁRIOS REFLEXIVOS

Os diários reflexivos desenvolvidos no âmbito do estágio supervisionado versam sobre diversas temáticas e propõem diversos tipos de apontamentos. Nesse sentido, faremos uma síntese sobre os diários reflexivos, enfatizando seus temas e suas temáticas, que versam sobre: o meio ambiente; as brincadeiras no espaço escolar; as relações de gênero na escola; a questão do respeito entre os discentes e os funcionários; a compra do lanche na escola e a merenda gratuita; a saída dos alunos da escola; a simplicidade da escola pública.

Em relação à questão ambiental, percebemos que a escola não possui sistema de coleta seletiva, tampouco projetos de educação ambiental, como uma horta escolar, por exemplo, que poderia ser trabalhada com fins didáticos e pedagógicos. Além disso, o bairro onde a escola encontra-se localizada é cortado por um córrego/esgoto a céu aberto, afetando a saúde da população local.

A escola possui uma área relativamente grande e com potencial para o desenvolvimento de inúmeras atividades, porém, nenhuma prática de educação ambiental é promovida. Os espaços “abandonados” (como destacado na Figura 02) podem ser instrumentos utilizados para o cultivo de frutas e verduras, arborização nativa, experimentos químicos e biológicos simples, etc. Todavia, essas áreas não são utilizadas para nenhuma atividade de cunho pedagógico, entretanto, poderiam ser o palco para implantação de ações capazes de instigar uma consciência social cidadã e crítica, à luz da melhoria da qualidade de vida no universo escolar e em seu entorno.

No que concerne às questões que envolvem o gênero, percebemos a presença de elementos que refletem o cotidiano da sociedade: a separação entre meninos e meninas, onde as primeiras apresentaram uma espécie de submissão em relação aos segundos. Nesse sentido, dedicamos um dos diários para tratarmos desse assunto, pois notamos que desde as séries iniciais os alunos da escola são guiados a se comportar de acordo com o sexo biológico, onde as meninas devem ser “quietas” e “comportadas”, sendo essas crianças construídas como: “meninos enérgicos e meninas submissas”.

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A hora do lanche é um momento extremamente importante, e frutífero, para a prática da observação, pois é nesse momento em que muitos elementos de grande relevância aparecem, entre os quais podemos destacar a questão da compra de lanches (em bancas armadas no horário do intervalo) por alunos que possuem melhor condição financeira, enquanto os alunos menos favorecidos economicamente se alimentam do lanche da escola. Nesse sentido, percebemos a separação dos alunos de acordo com a classe social, pois os que possuem uma renda mais elevada compram o lanche, ao passo que os que possuem renda mais baixa pegam o lanche servido na escola.

No intervalo, ou em horário vago os alunos da escola dirigem-se ao ginásio de esportes. Nesse momento, podemos perceber territórios distintos a partir da idade e tipo de jogo. Quando comparado com a hora do lanche, os horários de atividades no ginásio de esportes se configuram um paradoxo: nestes momentos não há classe social, todos os alunos brincam alegremente com muita simplicidade e harmonia.

No horário de saída dos alunos, surgem outros aspectos interessantes, dentre eles a questão da dependência do transporte escolar, a espera pelos pais, a chegada dos transportes alternativos e a espera duradoura dos alunos que moram distantes, principalmente na zona rural e em assentamentos de reforma agrária.

A falta de atrativos na escola onde o referido estágio foi realizado caracteriza-se como um elemento entristecedor: a paisagem da escola não atrai, não instiga o aprendizado, não harmoniza as almas. A falta de vontade política em prol da melhoria das escolas públicas é grande, mesmo assim muitos alunos lutam e perseveram por momentos melhores em suas vidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As escolas são espaços para diversos tipos de pesquisas, pois inúmeros são os fenômenos que rodeiam esses ambientes, e o Estágio Supervisionado é um momento de aprendizado e reflexão que propicia o entendimento acerca do que é trabalho docente. Nesse viés, os diários reflexivos caracterizaram-se como um rico elemento para investigação sobre o espaço escolar.

O papel do estagiário é tentar entender a dinâmica da escola, suas possibilidades e limitações. Assim, entendemos que a escola, onde foram desenvolvidas as atividades de estágio supervisionado, possui muitas possibilidades para se trabalhar o ensino – das mais

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diversas disciplinas – para além da sala de aula, pois a mesma encontra-se em um bairro tranquilo e com muitas peculiaridades a serem investigadas, que vão da questão ambiental a economia dos pequenos negócios.

Após esse processo vivido no âmbito do Estágio Supervisionado I, principalmente no que diz respeito à construção dos diários reflexivos, destacamos a eficácia dessa metodologia de pesquisa. Acreditamos que a adoção da mesma elevou o nível de compreensão sobre o sentido do estágio na formação docente, pois foi necessária muita atenção, e um olhar minucioso, para entender a complexidade da escola. Tal experiência nos possibilitou enxergar o espaço escolar de forma crítica e reflexiva, contribuindo de forma significativa para a formação de uma identidade docente.

REFERÊNCIAS

GIOVANE, Fabiana. O diário reflexivo na formação inicial visto à luz da dialogia

bakhtiniana. Olhares, Guarulhos, v.1. n. 2, p. 432-451, nov. 2013.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004.

SANTOS, Maria Francineila Pinheiro dos. O estágio enquanto espaço de pesquisa: caminhos percorridos na formação docente em Geografia. Porto Alegre, 2012. 130 fl. Tese (Doutorado) – Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2012.

SOUZA, Ana Paula Gestoso de; CARNEIRO, Reginaldo Fernando; PEREZ, Silvia Maria; OLIVEIRA, Evaldo Ribeiro; REALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues; OLIVEIRA, Rosa Maria Moraes Anunciato de. A escrita de diários na formação docente. Educação em Revista (UFMG. Impresso), v. 28, p. 181-210, 2012.

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