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A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA DA CAMPANHA CENTRAL 1

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Academic year: 2021

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A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA DA

CAMPANHA CENTRAL

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ALVES, Ana Luiza Pinto

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; BEZZI, Meri Lourdes

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; PETTINE, Lucas Jardim

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Trabalho de pesquisa_NERA/CCNE/UFSM

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Acadêmica do curso de Geografia Bacharelado/UFSM, Santa Maria, RS, Brasil

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Profª. Dra. do Departamento de Geociências/NERA/CCNE/UFSM, Santa Maria, RS, Brasil

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Acadêmico do curso de Geografia em Licenciatura Plena/UFSM, Santa Maria, RS, Brasil Iniciação Científica/PIBIC/CNPq

Email: analuizapintoalves@gmail.com; meribezzi@yahoo.com.br; lucasjardimpettine@hotmail.com

RESUMO

O trabalho apresenta como tema central a organização espacial na Microrregião Geográfica da Campanha Central (MRG 030). Nesta perspectiva, objetiva-se identificar como a organização espacial deste recorte espacial está estruturada na atualidade, suas mudanças e permanências. Metodologicamente essa investigação foi estruturada em etapas. Inicialmente, revisitaram-se as matrizes teóricas e coletas de dados, posteriormente, foi realizado o trabalho de campo, e por fim a análise e interpretação dos resultados. A MRG 030 tem como principais atividades econômicas a pecuária, o arroz e a soja. Nas últimas décadas ocorreu a inserção de novas cadeias produtivas (silvicultura e fruticultura) que reestruturaram economicamente esta Microrregião. Portanto, constatou-se que a economia desta MRG está concentrada no setor primário, onde se faz necessário que as políticas públicas do Estado estejam cientes das problemáticas locais, para que possam estimular o seu desenvolvimento.

Palavras-chave: organização espacial, espaço rural, desenvolvimento regional.

1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa insere-se no contexto dos estudos regionais ao abordar a organização espacial da Microrregião Geográfica da Campanha Central. A relevância da temática em estudo deve-se a contribuição deste recorte espacial na formação e na estruturação da cultura e do espaço produtivo gaúcho e a necessidade de compreender as significativas transformações espaciais decorrentes da inserção de novas atividades econômicas nas áreas tradicionais da pecuária rio-grandense.

A Microrregião Geográfica da Campanha Central está localizada na Mesorregião Geográfica Sudoeste Rio-Grandense, sendo constituída das seguintes unidades territoriais: Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, Santana do Livramento e São Gabriel. (Mapa 1).

Essa MRG alia sob a ótica da cultura, a política, com a formação de lideranças regionais que se perpetuam no poder e na economia através da coexistência da pecuária extensiva tradicional e a inserção de novos atores econômicos, que marcam a influência do

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capital na MRG como um agente que busca romper as barreiras impostas por tradições seculares.

Figura 1: Mapa da Microrregião da Campanha Central MRG 030 (IBGE). Fonte: Spring 4.3.3. Org.:

ALVES, A. L. P.; RIFFEL, E. S., 2011.

Nesse sentido, pretende-se compreender os fatores responsáveis que tornaram essa MRG uma das porções menos dinâmicas economicamente no Estado. Contudo, objetiva-se verificar as implicações das novas cadeias produtivas (fruticultura e silvicultura) na sua organização espacial, a qual se caracteriza pela presença da pecuária. Essa releitura do espaço geográfico da Microrregião Geográfica da Campanha Central permitirá identificar as potencialidades e/ou desequilíbrios socioeconômicos e culturais a serem explorados, para a proposição de alternativas de desenvolvimento para esse recorte espacial procurando tornar suas unidades territoriais competitivas.

2. A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA MRG DA CAMPANHA CENTRAL

Para compreender a atual organização socioespacial da Microrregião (030), faz-se necessário o resgate histórico para se ter conhecimentos de como as atividades foram inseridas, ou seja, como se realizou as diversas atividades bem como sua influência na MRG em estudo. Neste sentido, resgatou-se a evolução da organização socioeconômica da Campanha Central, buscando explicações através da cultura e verificando as mudanças e/ou permanências que ela apresentou no decorrer de sua história. Destaca-se que em virtude das dinâmicas espaciais ocorridas, novos atores econômicos foram introduzidos buscando viabilizar o desenvolvimento local/regional.

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2.1 O trinômio pecuária-arroz-soja: base da agropecuária regional

A pecuária caracteriza-se como a primeira cadeia produtiva da Campanha Gaúcha, a qual tem suas origens nos aspectos históricos de ocupação e povoamento do Estado gaúcho. A atividade pastoril via estâncias garantiram a posse da terra, através do rebanho bovino disperso nos campos do Estado, deixados pelos padres jesuítas, os quais desenvolviam a atividade pastoril. As potencialidades naturais deram condições para a expansão desta atividade. Deve-se ressaltar que, esta atividade representa a maior parcela do rebanho bovino do Estado, com grande expressividade nacional. (BRUM NETO; BEZZI, 2009).

A pecuária na Campanha Gaúcha consolidou-se via latifúndios pastoris, na sua maior parte extensivos, os quais dinamizaram a região. Esta cadeia produtiva possuiu três grandes ciclos: as couramas, charqueadas e os frigoríficos. Através desses ciclos, a pecuária desenvolveu-se, e consolidou-se como a principal atividade econômica, desde o inicio da sua ocupação até a atualidade, que originou a tradição pastoril do Rio Grande do Sul. Atualmente, tem-se a pecuária extensiva dividindo espaço com a pecuária intensiva. Em relação a pecuária intensiva, tem-se as cabanhas, que representa uma pecuária desenvolvida com alta tecnologia, manejo e técnicas avançadas, a qual visa tanto o mercado nacional como o internacional.

Ressalta-se que esta atividade econômica permanece na atualidade como a principal atividade do setor primário, pois a criação de gado, na Campanha Gaúcha, e em específico a Campanha Central, se constitui em um dos seus alicerces econômicos. Tal fato justifica a relevância da pecuária, pois essa se mantém como uma importante atividade econômica em âmbito regional, mesmo diante das crises que esse segmento produtivo tem enfrentado no decorrer do tempo. (RODRIGUES, 2006).

Paralelamente à atividade pecuarista, a partir da década de 1920, estrutura-se, nessa MRG uma nova configuração espacial, através da inserção da lavoura orizícola. Além da dicotomia produtiva, tem-se uma sociedade dual, composta por pecuaristas e agricultores. (BEZZI; et al, 2006).

A cultura do arroz teve a sua inserção, a partir do século XX, marcada pelo processo de despecuarização espacial, ou seja, a cedência de terra por parte do latifúndio pastoril à agricultura. Esta dinâmica só foi possível através da inserção da lavoura empresarial altamente mecanizada e competitiva no mercado interno e externo, imprescindível para que se viabilizasse seu desenvolvimento, uma vez que, na sua maioria as lavouras são realizadas via arrendamento de terras da pecuária. Dessa forma, o arroz, caracteriza-se como a primeira lavoura capitalista no Estado gaúcho, apresentando, no decorrer do tempo, crescimento expressivo tanto em área como em produtividade (BEZZI, 2006).

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Segundo Vieira; Rangel (1993) pode-se dizer que a rizicultura se desenvolveu no Estado em virtude da presença de mercados favoráveis e de incentivos através de políticas governamentais. A mesma era basicamente voltada para o mercado interno, pois, ao contrário dos demais estados brasileiros, o Rio Grande do Sul inseriu-se no cenário econômico nacional através da produção de alimentos. Essa atividade teve impulso através do crescimento do mercado consumidor de alimentos nos centros urbanos e, pelo desenvolvimento de uma política tarifária sobre as implantações do arroz estrangeiro, estabelecendo uma proteção econômica à rizicultura gaúcha.

A expansão da lavoura orizícola esteve alicerçada no crescente incentivo dado a essa atividade por órgãos como: INCRA, EMATER, EMBRAPA e o próprio Governo do Estado, através das Secretarias Municipais de Agricultura. Ressalta-se que a estrutura fundiária não se alterou, pois as lavouras de arroz desenvolveram-se nas grandes e médias propriedades, via arrendamento. Contudo, permanece o caráter concentrador da posse da terra ligada ao pecuarista.

Assim, afirma-se que o desenvolvimento da lavoura orizícola não encontrou resistência, por parte dos grandes proprietários, pelo contrário, o arrendamento da terra tornava os seus campos produtivos e rentáveis, uma vez que, o lucro advinha do arrendamento das mesmas, independentemente de fatores físico-naturais, como estiagens, enchentes, entre outros fenômenos que podem comprometer sua renda. (BECKER; WITTMANN, 2003).

A cadeia produtiva do arroz sofreu algumas crises, principalmente, ligadas à questão de financiamento, as potencialidades naturais e a concorrência com importação do arroz, principalmente da Argentina. A extensão e a dinâmica espacial da Campanha Central demonstram uma diversidade econômica que ora originam setores econômicos, ora apenas agregam atividades complementares e mesmo temporárias. Portanto, a busca da compreensão da organização de seu espaço produtivo, deve-se considerar todas as atividades que se desenvolvem sobre a sua base espacial, a fim de se obter a dimensão e a complexidade dessa estrutura no que diz respeito aos aspectos físicos, socioeconômicos e culturais do Estado gaúcho. (RODRIGUES, 2006).

Atrelada às transformações que marcaram o cenário nacional, a partir da década de 70/80, pode-se dizer que a presença significativa da lavoura de soja, nessa porção do território rio-grandense, foi responsável por novos arranjos produtivos no setor primário. Esses são decorrentes da dinâmica socioeconômica sobre o espaço e também para atender as demandas de mercado mediante o processo de modernização da agricultura. Assim, a inserção da cultura da soja, com características de lavoura empresarial desenvolvida mediante políticas de financiamento reorganizaram novamente a matriz produtiva dessa MRG. Sua expansão foi bastante significativa em área plantada. Entretanto, assiste-se a

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uma retração dessa cultura a partir da década de 90, a qual retorna a crescer na atualidade através da soja transgênica.

As extensas áreas disponíveis, que caracterizam os latifúndios da Campanha Central, demonstraram-se favorável à incorporação, via arrendamento, da cultura da soja. Essa expansão ocorreu de forma mais significativa em alguns municípios, nos quais as potencialidades naturais permitiam a introdução dessa cultura via tecnologia, inserindo-se na tradicional matriz produtiva da pecuária e do arroz.

A viabilidade de políticas de créditos e financiamentos foi um dos fatores predominantes da presença da agricultura empresarial, em áreas tradicionais da pecuária. Essas foram direcionadas, ao setor primário, através de órgãos de fomento, via políticas públicas, estabelecidas pelo governo Estadual e Federal. A lavoura de soja e a do arroz mantém a concentração da terra na Campanha Gaúcha, pois sua inserção viabilizou-se, através do arrendamento.

A área plantada de soja encontra-se em expansão em todas as unidades territoriais da Campanha Central, desse modo, há uma superação espacial das lavouras de soja em detrimento das orízicolas em alguns municípios, ocasionando transformações significativas no seu espaço produtivo e, consequentemente, na matriz tradicional, pautada no binômio pecuária-arroz.

Dessa forma, a soja coexiste com a matriz produtiva tradicional, constituindo-se em uma atividade dinamizadora da economia das unidades territoriais pertencentes à Microrregião 030. Os novos arranjos espaciais demonstram a dinâmica do espaço, via transição geoeconômica entre as regiões produtivas do Rio Grande do Sul. Portanto, a construção do espaço segue uma lógica que não permite cortes bruscos, demonstrando a efetiva integração entre as partes que compõe o todo.

2.2 Novas cadeias produtivas na dinamização econômica: fruticultura e silvicultura

Na estruturação do espaço produtivo da Campanha Central, o qual está alicerçado em cadeias produtivas tradicionais e mais recentemente, a soja, novos investimentos estão sendo realizados visando à dinamização desse espaço produtivo. Nesse sentido, destaca-se a fruticultura, como uma alternativa produtiva e de geração de renda, que se encontra em expansão gradativa. Tal atividade está baseada, principalmente, na produção de cítricos, como a laranja, a bergamota e a tangerina e em outras frutas como a uva e a melancia.

No que diz respeito à produção de uva ela se faz presente em todos os municípios pertencentes na MRG em estudo, destacando-se Santana do Livramento, onde estão instaladas várias vinícolas de expressão nacional, tais como: Vinícola Almadén e a Vinícola Salton. Ressalta-se que se mantido o atual crescimento, estas unidades territoriais poderão

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se consolidar como um polo de produção voltado para a fabricação de vinhos, sucos e para o consumo in natura.

Há que se considerar também, que a presença da vitivinicultura, em áreas de pecuária tradicional, demonstra a inserção de um cultivo “sem a tradição colonial” como a que ocorreu na Serra Gaúcha. Assim, são desenvolvidas novas estratégias econômicas em busca de alternativas de desenvolvimento em uma área com desigualdades e desequilíbrios populacionais decorrentes de potencialidades naturais restritivas.

Desta forma, esse investimento é resultante da união de forças do poder público com a iniciativa privada com intuito de dinamizar a Metade Sul do Estado. A fruticultura foi viabilizada, também, devido aos recursos financeiros disponibilizados através do Programa Estadual de Fruticultura (PROFRUTA/RS), o qual visa incentivar o desenvolvimento da fruticultura no Estado, diversificando a produção econômica. Os projetos de incentivo a fruticultura na Metade Sul do Estado podem ser considerados como alternativas para o desenvolvimento local/regional. Ressalta-se que a fruticultura é desenvolvida em pequenas e médias unidades produtivas e de forma pontual, o que representa uma possibilidade e/ou alternativa para o desenvolvimento econômico local/regional. Portanto, não concorre com as grandes propriedades que mantém o caráter concentrador da terra, através da pecuária extensiva e da agricultura empresarial, através do arroz e da soja. No máximo, a fruticultura se associa a essas cadeias produtivas mais tradicionais.

Desta forma, essa atividade gera renda e estimula emprego no campo, diversificando perspectivas para os trabalhadores rurais, na medida em que origina novas frentes de trabalho, além daquelas já existentes com o arroz, a soja e a pecuária. Procura, também, amenizar um dos problemas sociais expressivos dessa MRG que têm seus reflexos na minimização da migração rural-urbana, na medida em que, oferece novas alternativas de renda ao produtor rural.

A presença da vitivinicultura transformou também a paisagem, pois além dos campos nativos, das lavouras de arroz e soja têm-se, na atualidade, os parreirais mostrando sua inserção em uma paisagem secular da pecuária, ou seja, velhas formas e novas funções.

Além da fruticultura, novas atividades econômicas estão sendo, gradativamente, inseridas na Campanha Central, transformando a paisagem produtiva e as relações de trabalho local/regional. Nesse sentido, destaca-se o florestamento, o qual se configura como outra atividade que visa dinamizar as atividades econômicas existentes nessa MRG, uma vez que se constitui em uma estratégia econômica que vem se consolidando através do plantio de pinus, eucaliptos e acácia negra. O plantio tem financiamento de grandes grupos ligados à produção de celulose, como o Grupo Votorantin-Celulose e Papel, Aracruz e Stora-Enso (indústria sueco-finlandesa de papel).

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Os investimentos desses grupos ocorrem a partir da aquisição de extensas áreas, cedidas por arrendamento ou vendidas oriundas dos latifúndios. Neste sentido, a concentração fundiária persiste nesta MRG, pois as extensas dimensões de terras estão, na atualidade, sob domínio de grandes grupos empresariais. Nenhuma das novas estratégias econômicas, nesse recorte espacial, ameaçou a concentração da terra, na medida em que coexistia a pecuária extensiva realizada em grandes propriedades com o arroz e a soja, ou a fruticultura em pequenas propriedades.

Entretanto, a iniciativa florestal tem despertado a reação da comunidade ambientalista, que adverte para os riscos ambientais que a plantação monocultora de pinus e eucaliptos podem trazer para a MRG. A advertência assenta-se no fato de que a plantação de espécies exóticas e de grande porte poderá ser responsável por prejuízos ambientais às reservas hídricas, ao solo, ao clima, a fauna e a flora. Tais advertências baseiam-se em discussões de cunho ecológico que afirmam que o eucalipto necessita de água abundante para o seu desenvolvimento, além de bloquear o crescimento da vegetação rasteira nativa do Pampa. (BEZZI, 2006).

Considerando as informações referentes a esta nova cadeia produtiva, pode-se destacar que o florestamento não pretende realizar a reconversão da Metade Sul em uma área de florestas, mas aperfeiçoar as propriedades rurais com sistemas agrosilvopastoris. Há que se destacar também a criação de áreas de preservação na Metade Sul. Essas áreas consistem em espaços destinados ao plantio de espécies nativas em contrapartida às áreas destinadas ao florestamento. Procura-se identificar os aspectos negativos e positivos em relação aos possíveis problemas ambientais decorrentes da silvicultura. Assim, se faz necessário um período de tempo maior para que se possam avaliar os impactos sociais, culturais e econômicos desta cadeia produtiva na MRG em estudo.

Neste contexto, pode-se dizer que o espaço produtivo deste recorte espacial tem passado por diversas transformações no que se refere à inserção de outras atividades, distintas da pecuária tradicional que caracteriza, ainda, essa MRG. Tal fato demonstra que a dinâmica do capital acarreta mudanças constantes na relação sociedade-natureza, mesmo em porções do espaço onde essa relação organizacional apresenta importante relação com a cultura e, consequentemente, distingue-se dos demais pela expressividade do regionalismo rio-grandense.

3. METODOLOGIA

Metodologicamente, esta pesquisa foi estruturada em etapas. Inicialmente, realizou-se a operacionalização dos conceitos, partindo de um amplo levantamento bibliográfico, procurando, desta forma, estabelecer o marco conceitual que estruturou o referencial

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teórico-metodológico do trabalho, através de bibliografias específicas sobre a temática em estudo, como também o levantamento de dados em fontes secundárias do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), que permitiram identificar as questões relativas ao espaço produtivo.

Sequencialmente realizou-se o trabalho de campo, com intuito de observar in loco a problemática em questão, o qual consistiu em captura de fotografias e entrevistas nas secretarias municipais de agricultura.

E por fim, a última etapa, aliando os conceitos aos dados coletados e com as entrevistas realizadas pode-se interpretar e analisar a organização do espaço produtivo da Microrregião Geográfica da Campanha Central, e, finalmente, propor alternativas para alicerçar o desenvolvimento local/regional

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na atualidade a Microrregião Geográfica da Campanha Central mantém sua identidade cultural, permanecendo com atividades econômicas características do Estado gaúcho, baseada inicialmente na pecuária, caracterizada pela presença do gaúcho típico, ligado intimamente a atividade pecuarista. Posteriormente, a atividade agrícola é inserida através do arroz, e principalmente da soja. O trinômio, arroz-pecuária-soja caracteriza o setor primário desta Microrregião mantendo o caráter concentrador da terra através dos grandes latifundiários. Destaca-se que em virtude das dinâmicas espaciais ocorridas, novos atores econômicos foram introduzidos buscando viabilizar o desenvolvimento local/regional.

No entanto, para que estas novas cadeias produtivas se estruturem e se dinamizem é necessário que haja melhoria na infraestrutura, pois um dos principais problemas da Campanha Central está relacionado a deficiência na malha viária, fator essencial para o escoamento da produção. Nesse sentido, fazem-se necessários investimentos relativos a infraestrutura principalmente no setor de transportes, através da recuperação das estradas que interligam os municípios produtores aos centros de comercialização.

Apesar das dificuldades, a fruticultura se constitui como uma realidade para a Campanha Central, proporcionando novas frentes de trabalho e geração de renda para o produtor rural, distinta daquela oriunda da sua matriz produtiva.

Destaca-se também o florestamento, o qual se configura como outra atividade que visa dinamizar as atividades econômicas das unidades territoriais que compõem esta Microrregião, uma vez que a silvicultura se constitui em uma estratégia econômica a qual vem se consolidando através do plantio de pinus e eucaliptos. Os investimentos de grandes grupos empresariais contribuirão para o rompimento das bases tradicionais de posse da terra, assentadas no monopólio latifundiário nas mãos de grandes proprietários voltados a

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atividades pecuárias e agrícolas (arroz e soja). Assim, as extensas dimensões de terras estarão sob domínio desses grupos.

Neste contexto, verifica-se que as condições de vida da população local resultam da concentração de terra nas mãos de grandes latifundiários, onde a mesma não possui grande produtividade, restando a sociedade dedicar-se ao setor terciário e, até mesmo, migrarem para outras regiões do Rio Grande do Sul, ou para outros Estados, ou então, ofertando parte de suas terras para a agricultura através do arrendamento ou da venda.

A Microrregião da Campanha Central enfrenta o desafio de atrair e reter empreendimentos que se motivem mutuamente e sejam dependentes de atributos locacionais específicos. Em razão da gravidade, diversidade e complexidade dos problemas enfrentados é importante observar que a reversão da atual situação depende de um conjunto de ações interdependentes. Neste sentido, aponta-se que inicialmente, é necessária a melhoria do setor primário, o qual pode ser obtido através de incentivos governamentais e empresariais aos produtores da Microrregião.

Como a economia dessa Microrregião está alicerçada no setor primário, é neste que as políticas públicas deverão ser estimuladas visando sua maximização. Assim, cabe aos governantes locais/estaduais, a função de trazer novas indústrias para instalar-se na Microrregião, através da redução de impostos e incentivos fiscais, fornecendo a infraestrutura necessária para o crescimento deste setor, aumentando o número de empregos locais, minimizando as desigualdades sociais presentes na Campanha Central, e que no decorrer do tempo estão sendo agravadas. Sugere-se também a instalação de indústrias dos ramos frigoríficos, vinícolas e indústrias de suco e derivados, a fim de aproveitar a matéria-prima presente e, desta forma, dinamizar a região. Pode-se assim, fabricar produtos de diversos ramos, utilizando a mão de obra local agregando valor as unidades produtivas.

Entende-se que todos os esforços na busca da inserção e melhoria da estrutura produtiva visam a qualidade de vida da população, para que ela não precise buscar melhores condições e oportunidades em outros locais. Após o término desta pesquisa, sistematizou-se e disponibilizaram-se essas informações para os órgãos gestores com intuito de fornecer subsídios para esse recorte regional gaúcho, juntamente com seus administradores para que os mesmos tenham acesso ao conhecimento da realidade local e/ou regional, ou seja, os principais entraves para o seu desenvolvimento, para que de posse dessas informações busquem o desenvolvimento sustentável que venha minimizar os desequilíbrios e as desigualdades econômicas e sociais na Microrregião Geográfica da Campanha Central.

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5. CONCLUSÃO

Neste contexto, pode-se dizer que o espaço produtivo deste recorte espacial tem passado por diversas transformações no que se refere à inserção de outras atividades, distintas da pecuária tradicional que caracteriza, ainda, essa Microrregião. Tal fato demonstra que a dinâmica do capital acarreta mudanças constantes na relação sociedade-natureza, mesmo em porções do espaço onde esta relação organizacional apresenta importante relação com a cultura e, consequentemente distingue-se dos demais pela expressividade do regionalismo rio-grandense.

Mediante a realização da pesquisa, verificou-se que a Campanha Central estrutura-se economicamente através da agropecuária, demonstrando a manutenção desta atividade a qual é considerada gênese da sua cultura. Desse modo, este recorte espacial apresenta uma realidade local alicerçada no setor primário, o qual carece de maiores incentivos, a fim de dinamizar a economia local/regional.

REFERÊNCIAS

BECKER, D. F.; WITTMANN, M. L. Desenvolvimento Regional: abordagens interdisciplinares. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003.

BEZZI, M. L.; et al. RS: uma proposta de regionalização considerando os aspectos geoeconômicos. Relatório Técnico. (PROADE 2/FAPERGS). Universidade Federal de Santa Maria, 2006. (Inédito).

BRUM NETO, H.; BEZZI, M. L. Região, identidade cultural e regionalismo: a Campanha Gaúcha frente às novas dinâmicas espaciais e seus reflexos na relação campo-cidade. Temas & Matizes, Cascavel, n. 16, p. 65-96, 2009.

RODRIGUES, A. O latifúndio no Rio Grande do Sul: velhas formas na funcionalidade de novos

atores econômicos na Microrregião Geográfica da Campanha Central. 2006. 167 f. Dissertação

(Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Santa Maria, 2006.

SISTEMA IBGE DE RECUPERAÇÃO AUTOMÁTICA. Procurar tabela. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/procurar/default.asp?z=t&o=1&i=P. Acesso em: 14 maio 2012.

VIEIRA, E. F.; RANGEL, S. S. Geografia Econômica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Sagra, 1993.

Referências

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