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Prática Processual Penal CASO 3

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Academic year: 2021

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Prática Processual Penal

CASO 3

Suponha-se contactado, no seu escritório, em 28 de Abril de 2016, pelo Sr. António Filipino, que lhe referiu os seguintes factos:

a).- No dia 23 de Setembro de 2014, cerca das 10 horas e 30 minutos, na cidade e na comarca

de Tavira, no entroncamento que a Rua da Louça faz com a Avenida da Ponte, o veículo automóvel ligeiro de passageiros de matrícula 01-HB-02 era conduzido pelo seu proprietário (Casimiro Dantas) naquela Rua das Louças, no sentido Sul-Norte.

b).- Na rua onde circulava esse automóvel conduzido pelo Casimiro Dantas existia um sinal

vertical de trânsito de paragem obrigatória (STOP), precedendo o entroncamento que a Rua da Louça faz com aquela referida Avenida da Ponte e a palavra STOP também escrita, a branco, no pavimento dessa rua, antes de traço transversal contínuo marcado antes desse entroncamento.

c).- Nesta avenida, no sentido Poente/Nascente, o Sr. António Filipino fazia circular na faixa

de rodagem à sua direita, atento o seu sentido de marcha, o seu veículo automóvel ligeiro de mercadorias, de matrícula 03-04-UV, de sua propriedade.

d).- Dado que na ocasião o Casimiro Dantas pretendia entrar na Avenida da Ponte, vindo da

Rua da Louça, não parou, não reduziu a velocidade, não imobilizou o veículo antes de entrar naquela Avenida, nem olhou para verificar o trânsito que havia, não obstante existir na artéria onde circulava o sinal de trânsito referido (STOP).

e).- O automóvel conduzido pelo Casimiro Dantas deveria seguir a uma velocidade de cerca

de 60 Km/h e, não parando o veículo, veio este a embater no veículo do António Filipino, já na Avenida da Ponte, com a parte dianteira, na parte lateral direita da dianteira do veículo conduzido pelo António Filipino.

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2 f).- O embate causou danos no veículo 03-04-UV, e o António Filipino sofreu fratura de osso

da coxa esquerda, tendo sido submetido a intervenções cirúrgicas ao fémur esquerdo, com implantação de material de osteossíntese, tendo estabilizado sem sequelas e sem afetação permanente da capacidade de trabalho, mas com cicatriz visível de 24 cm de extensão na face anterior da coxa esquerda, tendo ficado sem poder trabalhar durante 392 dias de doença, pois só teve “alta” médica em 20 de Outubro 2015.

Relata-lhe o Sr. António Filipino que na manhã do dia 21 de Abril de 2016 foi pessoalmente notificado (por agente da PSP) da peça processual que lhe apresentou (Anexo).

Mais lhe referiu o Sr. António Filipino que efetuara queixa pelos factos ocorridos e indicara as testemunhas que teriam assistido ao acidente.

Das sete testemunhas indicadas, apenas duas (José Carlos Limpo e Romeu Lopes) tinham sido ouvidas no inquérito. E estas tinham referido que o sinal vertical de STOP estava tombado, não sendo visível para quem circulava nessa rua.

Acrescentou-lhe o Sr. António Filipino que parece não ter sido feita uma visita ao local onde facilmente se veria estar escrito no pavimento da Rua da Louça a palavra STOP, e que nisso não falaram as duas testemunhas ouvidas, que ainda por cima afirmaram que o veículo do Casimiro Dantas se apresentou pela direita do veículo do António Filipino. Estranha que o auto de participação de acidente de viação elaborado por agente da PSP não refira a existência dessa indicação de STOP marcada no pavimento, o que julga só poder tratar-se de lapso.

Também lhe disse o Sr. António Filipino que:

a).- O Casimiro Dantas era, em 23 de Setembro de 2014, o proprietário do veículo automóvel

ligeiro de passageiros de matrícula 01-HB-02, conduzindo-o na altura dos factos referidos na peça processual anexa;

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3 b).- Naquela mesma data (23-09-2014), o referido veículo possuía seguro de responsabilidade

civil para com terceiros, titulado pela apólice 001122/345, da Companhia de Seguros “Agora ou Nunca”, S. A., com o capital de € 6.000.000,00;

c).- Na data do sinistro o António Filipino era técnico de manutenção de elevadores, exercendo

essa sua atividade em seu nome e por conta própria;

d).- Por cada visita de inspeção aos elevadores de vários prédios o António Filipino auferia a

quantia de € 75,00, acrescido de IVA, sendo que tais inspeções se mostravam regulares e já calendarizadas em determinados prédios;

e).- Nesses prédios com inspeções regulares mensais calendarizadas, efetuava o António

Filipino uma média de 35 inspeções mensais, o que lhe garantia uma contrapartida mensal de, então, € 2.625,00, não estando aí incluído os valores que recebia dos serviços que prestava para reparação de avarias numa média mensal que calculava em € 600,00;

f).- Desses valores recebidos o António Filipino apenas suportava as despesas com o consumo

de combustível do veículo automóvel em que se deslocava, seguro e

g).- O António Filipino entregou-lhe, para comprovar tal situação, os duplicados de vinte

recibos referentes a tais inspeções de elevadores ocorridas nos meses de Julho e de Agosto de 2014 e duplicados de dois recibos relativos a serviços de reparação de avarias de elevadores, de Fevereiro e de Julho desse mesmo ano;

h).- No dia do acidente o António Filipino foi transportado de ambulância para o Centro

Hospitalar do Algarve - Hospital de Faro;

i).- Dos documentos hospitalares que o António Filipino lhe entregou resulta que esteve

internado naquele Hospital entre 23 de Setembro a 4 de Novembro de 2014; que foi submetido, em 25 de Setembro de 2014 a uma intervenção cirúrgica ao fémur esquerdo (fraturado no acidente), com implantação de material de osteossíntese; que regressou ao referido Hospital para nova intervenção cirúrgica destinada à extração daquele material em 17 de Março de 2015 e aí esteve internado até 29 desse mês;

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4 j).- Entre 12 de Abril e 14 de Junho de 2015 o António Filipino submeteu-se a 30 sessões de

fisioterapia na Clínica “Osso Duro”, por prescrição do seu médico ortopedista (entregando-lhe o respetivo documento), sessões com as quais gastou a quantia de € 750,00, como se constata pelo recibo que também lhe entregou;

k).- O António Filipino teve inúmeras dores pós-operatórias e ficou com uma extensa cicatriz

na perna esquerda, resultante das intervenções cirúrgicas;

l).- O António Filipino esteve impossibilitado de trabalhar, realizando as inspeções já

programadas, desde a data do acidente até 20 de Outubro de 2015, deixando, por isso, de auferir, as atinentes contrapartidas;

m).- A reparação dos danos causados ao veículo automóvel propriedade do António Filipino

custou € 5.653,00, valor que este desembolsou, entregando-lhe o respetivo recibo e a discriminação da reparação efetuada;

n).- O António Filipino referiu-lhe que nunca foi contactado pelo causador do acidente ou por

alguém da companhia seguradora.

o).- O António Filipino indicou-lhe como testemunhas do sofrimento que alegou e dos demais

factos, o Dr. Jorge Leandro, fisiatra com domicílio profissional na Clínica “Osso Rijo”, na Rua Direita, 12, em Faro; o Sr. Martins Novais, administrador do condomínio do prédio sito na Rua do Oceano, 17, em Faro; o Sr. Octávio Pereira, administrador do condomínio do prédio sito na Rua Torta, 32, em Vilamoura; o Sr. Raul Santos, chefe de mecânicos da oficina que reparou o seu veículo automóvel, com domicílio profissional na Oficina “Tudo Arranjado”, na Zona Industrial de Olhão, em Olhão.

O António Filipino informou-o que é casado, reside na Rua das Pedras, 10, em Faro, e que, nunca esteve representado e patrocinado por advogado no inquérito.

Pretende o António Filipino que o causador do acidente seja julgado e que lhe seja paga indemnização pelos danos que sofreu. Não aceita a decisão do Ministério Público, pois que as testemunhas não ouvidas sabem todas elas que os sinais de STOP existiam no local e que

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mesmo que o sinal vertical estivesse tombado o STOP estava também inscrito no pavimento. Além disso, se tivesse sido pedida informação à Secção de Trânsito da Câmara Municipal de Tavira isso mesmo poderia ser confirmado. As testemunhas não ouvidas são: Sra. Albertina Carmona, Sr. Joaquim Santiago, Sr. Ricardo Peres, Sra. Marta Seguro e Sr. Joaquim Seguro, cujas identificações completas e moradas havia já indicado na queixa apresentada. O António Filipino deseja encarregá-lo, como advogado, da concretização dessas suas pretensões.

1.- Até quando poderia apresentar a peça processual que corresponde às pretensões do Sr. António Filipino?

2.- Elabore a peça processual adequada a satisfazer as pretensões do António Filipino.

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6 ANEXO

Inqº. Nº 562/14.1PATVR

Tavira, 11/04/2016

Declaro encerrado o presente inquérito.

Os presentes autos de inquérito iniciaram-se com a apresentação de queixa por parte do lesado António Filipe, identificado a fls. 2, contra o participado Casimiro Dantas (também id, a fls. 2), referindo, em síntese, que este, no dia 23 de Setembro de 2014, pelas 10 horas e 30 minutos, nesta cidade de Tavira, no entroncamento que a Rua da Louça faz com a Avenida da Ponte, conduzia o veículo automóvel ligeiro de passageiros de matrícula 01-HB-02, circulando naquela Rua das Louças, no sentido Sul-Norte; que nessa artéria existe um sinal trânsito de paragem obrigatória (STOP), precedendo o entroncamento que essa Rua da Louça faz com aquela referida Avenida da Ponte; que o lesado, circulando nessa avenida no sentido Poente/Nascente, na faixa de rodagem da sua direita, na condução do seu o veículo automóvel ligeiro de mercadorias, de matrícula 03-04-UV, foi embatido na sua parte lateral direita fronteira pelo veículo conduzido pelo participado que inesperadamente e a uma velocidade de cerca de 60 km/k entrou naquela avenida proveniente da Rua da Louça; que o participado não reduziu a velocidade nem esboçou qualquer sinal de travagem, o que demonstra uma condução distraída e sem atenção ao trânsito que circulava naquela Avenida, não tendo respeitado o sinal de STOP ali existente na Rua da Louça. Referiu o participante que como consequência do embate, para além dos danos causados no veículo 03-04-UV (reportagem fotográfica de fls. 17 a 21), sofreu várias lesões (as que se mostram descritas nos autos de exame de fls. 32 a 34 e 37, cujos conteúdos se dão aqui por reproduzidos), e das quais vieram a resultar, depois, sujeição a intervenções cirúrgicas ao fémur esquerdo, com implantação de material de osteossíntese, tendo estabilizado sem sequelas e sem afetação permanente da capacidade de trabalho, mas com cicatriz visível de 24 cm de extensão na face anterior da coxa esquerda e cuja cura demandou

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392 dias de doença, todos eles com afetação da capacidade de trabalho, tendo sido dada “alta” médica ao ofendido António Filipe em 20 de Outubro 2015 (fls. 49).

Foi junto ao inquérito o auto de participação de acidente de viação elaborado pela PSP (fls. 13 e segs.), contendo o croqui do local e a posição dos veículos após o embate.

Foram ouvidas em inquérito as testemunhas indicadas nesse auto da PSP, Srs. José Carlos Limpo e Romeu Lopes (fls. 38 e 39).

Foi ouvido o participado (fls. 43).

Resulta do croqui elaborado que a Rua da Louça, no trajeto Sul/Norte, entronca, quase perpendicularmente, com a Avenida da Ponte. O automóvel conduzido pelo participante (03-04-UV) circulava, em velocidade que não se apurou, nesta avenida, no sentido Poente/Nascente, pelo que a Rua da Louça, no entroncamento com aquela avenida, apresentava-se pela sua direita, atento o seu sentido de circulação.

Não se evidencia do croqui elaborado pela PSP a existência de qualquer sinalização de paragem obrigatória (STOP) na Rua da Louça, contrariamente ao que é referido pelo participante.

As testemunhas ouvidas declararam que, na data dos factos, o sinal vertical de STOP estava tombado sobre o passeio dessa Rua da Louça, não sendo, por isso visível para quem aí circulasse. Esclareceram, contundo, desconhecer se esse facto já existia antes ou ocorrera na data do acidente, também pelo embate dos veículos intervenientes. Referiram não ter assistido ao embate e só se terem apercebido do mesmo pelo som dos pneus em travagem profunda e da batida de metal que se seguiu.

Ouvido o participado, declarou este não ter visto qualquer sinal vertical de STOP na Rua da Louça, por onde circulava para aceder à Avenida da Ponte e, por isso, entrou nessa avenida convencido que o veículo conduzido pelo participante iria conceder-lhe prioridade de passagem, uma vez que se apresentava pela direita do mesmo. Refere que viu esse veículo a circular nessa Avenida mas julgou que iria parar para lhe dar essa prioridade, o que afinal não aconteceu, pelo que foi nele embater com a sua parte da frente na parte lateral direita do automóvel do Participante. Ao que se recorda, era a segunda vez em toda a sua vida que passava

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nessa Rua da Louça, desconhecendo se aí existia ou não sinal vertical de STOP, que só viu caído no chão depois do acidente.

Não se vislumbra ser necessária a realização de quaisquer outras diligências de prova. Tendo em conta os dados obtidos, é fácil concluir que o participado não cometeu qualquer ilícito estradal que determinasse o acidente ocorrido e as lesões que dele resultaram para o participante. Contrariamente ao que refere a participação do lesado, ao participado não era imposta qualquer conduta de imobilização do veículo à entrada da Avenida da Ponte, por não existir visível e devidamente erigido, na Rua da Louça, por onde circulava, o sinal vertical de paragem obrigatória B2 (STOP). Ao invés, para a dinâmica do acidente terá concorrido a conduta do participante que não cedeu a prioridade ao veículo conduzido pelo participado, que provinha de rua que se apresentava pela direita do seu sentido de circulação.

Deste modo, ao abrigo do disposto no nº 1 do art.º. 277º do CPP, determino o arquivamento do inquérito.

Notifique nos termos do disposto no nº 3 do art.º. 277º do CPP.

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