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Europa e democracia europeia no período pós-troika: Limites e estratégias de governação e comunicação nos casos português e grego, em perspectiva comparada

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Índice

Europa e democracia europeia no

período pós-troika:

Limites e estratégias de governação e

comunicação nos casos português e

grego, em perspectiva comparada

Patrícia Sofia Lopes Matos

Orientadora

: Professora Auxiliar com Agregação Paula Espírito Santo

Co-Orientador

: Professor Auxiliar com Agregação António Pinto Pereira

Dissertação para obtenção de grau de Mestre Em Ciência Política

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Introdução 3

1. Enquadramento teórico: período europeu pós-troika 6

2. Metodologia 9

3. Análise de conteúdo sobre a cobertura jornalística nos canais generalistas sobre o pós- eleições na Grécia: 24 de

Janeiro-28 de Fevereiro 2015 12

4. Contexto político nas eleições gregas de Janeiro de 2015: os momentos principais da ascensão ao Poder de Tsipras 24

4.1 Primeiro momento 24

4.2 Segundo momento 28

5. O caso grego e a utilização dos mecanismos de influência dos media na construção da liderança política 33 5.1 Influência dos resultados das eleições gregas na comunicação política dos principais partidos Portugueses40 5.2 O período pós-eleições e o novo processo eleitoral na

Grécia 43

5.3 Síntese de resultados 46

Conclusão 48

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Introdução

Depois da crise financeira na segunda metade da primeira década do século XXI e perante a insuficiência financeira crescente, Portugal e Grécia avançaram para um pedido de resgate financeiro à Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu. O pacote de medidas veio acompanhado de exigências que os dois países foram coagidos a cumprir, sob pena de não serem recepcionadas as várias tranches da ajuda disponibilizada.

No caso da Grécia, país que protagonizou as negociações mais duras e prolongadas, foi necessário também uma comunicação política mais cuidada, muito vocacionada para um eleitorado descontente que depois de sucessivos governos votou à esquerda, e, ao mesmo tempo, um grupo de credores sem margem de cedência, quando o país já estava no decurso do segundo programa de assistência.

Desde Agosto de 2014, a Grécia não recebeu qualquer parcela de ajuda financeira e ameaçava não cumprir as obrigações com o Fundo Monetário Internacional se os credores não acedessem às medidas sugeridas por Atenas.

Os partidos com assento no Parlamento português, alinhados mais à esquerda (Partido Socialista, Partido Comunista Português e Bloco de Esquerda) exultaram-se com a vitória do Syriza e reforçaram a mensagem que os próprios defendiam desde as negociações com a troika, que seria possível uma mudança de políticas de austeridade e uma renegociação da dívida. Um papel que Luís Sá (1993: 335-336) lembra: “na situação do Estado de partidos, em

que o mesmo partido está no governo e tem a maioria no Parlamento, é à oposição que cabe, na prática, exercer parte fundamental das competências parlamentares, em

particular de crítica e fiscalização do Governo”. Um papel de que os partidos não abdicaram e transmitiram essa mensagem ao eleitorado português assim que foram conhecidos os resultados na Grécia, na noite de 25 de Janeiro e que ditaram uma vitória do Syriza, a 2 deputados da maioria absoluta1.

O objectivo desta dissertação é contribuir para a análise e compreensão da gestão da comunicação política dos governos português e grego no período pós-troika, assim como dos partidos políticos portugueses alinhados mais à

1Mais à frente nesta dissertação em “Contexto político nas eleições gregas de Janeiro de

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esquerda no Parlamento português (Partido Socialista, Partido Comunista Português e Bloco de Esquerda), quais as ferramentas usadas nessa gestão, de que forma os dois países se apoiaram ou afastaram no decorrer destas negociações e qual foi o mais bem sucedido, em particular tendo em conta as suas estratégias de comunicação através dos media e da televisão em especial.

Em termos metodológicos e no plano da análise de conteúdo esta investigação propor-se-á fazer o levantamento e analisar o tempo informativo dispensado ao

assunto “eleições na Grécia” e “negociações Grécia e Europa” nos jornais televisivos das 20h (horário nobre), nos

três canais generalistas portugueses, entre o dia 24 de Janeiro, dia anterior às eleições (análise de projecções, sondagens e expectativas) e o dia 28 de Fevereiro, data limite para se alcançar um entendimento com a Europa e os credores internacionais, a troika.

Esta dissertação encontra-se dividida em 5 capítulos: enquadramento teórico à análise do período europeu pós-troika, metodologia, análise de conteúdo sobre a cobertura jornalística nos canais generalistas sobre o pós-eleições na Grécia: de 24 de Janeiro a 28 de Fevereiro; contexto político nas eleições de Janeiro de 2015: os momentos principais da ascensão de Tsipras ao poder; o caso grego e a utilização dos mecanismos de influência dos media na construção da liderança política. É no terceiro capítulo que se encontra uma parte exaustiva desta dissertação: o levantamento e análise de todas as peças jornalísticas produzidas e emitidas pelos 3 canais de televisão generalistas entre os dias 24 de Janeiro e 28 de Fevereiro. No capítulo quarto analisámos os momentos de ascensão ao poder do Primeiro-Ministro grego e de que forma os media ajudaram nesses momentos e a esse objetivo do governo helénico. No último capítulo, o quinto, é de toda a importância analisar o contributo das eleições gregas e do Syriza, em particular, para os partidos de esquerda em Portugal (Partido Socialistas, Partido Comunista Português e Bloco de Esquerda).

As questões seguintes irão orientar a investigação: - Qual o ambiente que se viveu na Grécia no período pós eleitoral?

- Qual a importância da vitória do Syriza, na Grécia, para Europa e para Portugal?

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5

- Nos processos de comunicação política, durante o período pós eleitoral grego, quais os intervenientes, a linguagem e as estratégias utilizadas?

- Como foram acompanhados, em Portugal os momentos políticos depois das negociações entre os gregos e as instâncias europeias?

- A nível dos outros países intervencionados, qual a reacção dos partidos políticos e dos governos?

- Qual a importância política atribuída às eleições gregas, por parte de partidos políticos portugueses com assento parlamentar?

- Qual a importância atribuída às eleições gregas no alinhamento dos noticiários dos vários canais televisivos generalistas?

Portugal e Grécia tiveram percursos diferentes em períodos diferentes da história e são, de resto, países diferentes em termos económicos, políticos e até culturais. Essas distinções estão presentes logo no nascimento de cada nação: Grécia foi berço da civilização e das várias ciências que hoje se estudam, e Portugal dominou os descobrimentos; a Grécia apresenta uma taxa de desemprego de 25,15%2, em Portugal os que não têm

trabalho são 12,4%3 da população; a Grécia teve 3 períodos

eleitorais em 4 anos e Portugal assiste a uma maioria parlamentar desde 2011.

2http://pt.tradingeconomics.com/greece/unemployment-rate, consultado em Setembro de 2015,

3https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=22467137

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1. Enquadramento teórico à análise do período europeu pós-troika, em particular aos casos português e grego

No século XIX e XX as sociedades ocidentais assistiram ao nascimento e desenvolvimento dos partidos políticos (Sartori, 1982) e eram vistos como grupos identificados de cidadãos que se apresentam a eleições, e capazes de colocar através de escrutínio (livre ou não) candidatos a cargos públicos (Sartori, 1982). Um dos primeiros objectivos destes partidos era a integração dos indivíduos na sociedade, só depois os partidos começaram a premiar a mobilização eleitoral. Os partidos políticos foram vistos por muitos com desconfiança, como uma “seita” ou “facção”

dando uma conotação negativa à palavra (Sell, 2006). Luís

Sá (1993: 124) estabelece a relação: “os partidos modernos

estão indissoluvelmente ligados ao crescimento do papel dos assalariados na vida política e à conquista do sufrágio universal, que transformou a opinião pública num centro de funcionamento dos sistemas políticos baseados na

democracia representativa” (1993: 105).

A evolução da sociedade e principalmente, da democracia moderna, obriga a uma adaptação dos partidos políticos, como afirma Weber (1918:17) “é a necessidade de organizar e recrutar as massas, da evolução dos partidos no sentido de uma unificação cada vez mais rígida no topo e no sentido de uma disciplina cada vez mais severa nos diversos escalões”.

É nesta fase também que passa a ser de especial destaque o papel do militante, que pode ajudar na elaboração do programa do partido e na escolha dos candidatos. Este destaque atrai mais cidadãos aos partidos e promove uma participação em massa. Weber (1918:19) considera que este é um elemento decisivo para os partidos:

“podem fazer frente aos parlamentares” e “só aquele que a

máquina se disponha a orientar, mesmo em detrimento da

orientação partidária, poderá se transformar em chefe”. E apresenta duas hipóteses de forma muito simples: ou se quer uma liderança política autenticamente vocacionada com fortes traços carismáticos ou se quer um político profissional sem qualidades de chefe.

Luís Sá lembra, no entanto, este papel é diferente nos vários sistemas políticos, que “a tendência é clara no

modelo britânico e, em geral, o chamado ‘modelo de Westminster’: a proclamação da soberania parlamentar e a

enfatização da representatividade do Parlamento, mas

supremacia real do gabinete” mas admite que “é clara, no

entanto, a diferença entre a situação de sistemas em que existem partidos coesos e disciplinados, em que há campo

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acontecer na Europa, e as suas situações em que o deputado mais facilmente vota segundo a consciência e vontade individual, ou segundo o aliciamento que é feito em várias

formas pelos titulares do ‘poder executivo’ ou por grupos de pressão, como acontece nos Estados Unidos” (1993:

124-125).

O governo eleito pelo povo grego, com uma comunicação ambiciosa e moderna, vai ao encontro do que sugeria Weber (1918), até na imagem. Líderes jovens, que se apresentam sem gravata e com uma atitude diferente. A propaganda é arma de comunicação utilizada ao limite. Tal como considera Marcelo Rebelo de Sousa, “Yanis

Varoufakis (o Ministro das Finanças grego) é um excelente comunicador, utilizou ao máximo o dramatismo para dar criar a ideia, na Grécia e na Europa, de que as negociações com os parceiros tinham atingido um alto grau de dificuldade” (comentário semanal, “Jornal das 8, TVI, 22 de Fevereiro de 2015). Já antes de ganhar as eleições, o Syriza e Alexis Tsipras assumiam que a austeridade não ia continuar na Grécia e repetiram a ideia até à exaustão, quando o povo já acreditava ser verdade e ser possível uma mudança radical. Graças a esta técnica da repetição incansável do argumento, a ideia ganhou espaço na mente dos gregos e a verdade é que se a eleições se tivessem realizado 15 dias mais tarde, o Syriza conseguiria alcançar a maioria absoluta (de acordo com as sondagens gregas). De resto, toda a campanha eleitoral assentou também na ideia da rejeição da austeridade atribuindo à troika o papel de “bode expiatório” e de “culpado” pela situação actual do país.

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candidato seja referido e identificado nos e pelos media, com a informação disponível e o foco para exercer influência (Lenard,1994 : 36-38).

A vitória do Syriza veio também dar folego e esperança aos outros países intervencionados, concretamente, a Portugal. Logo depois da vitória no dia 25 de Janeiro de 2015, a porta-voz do Bloco de Esquerda saudou “a vitória da democracia” na Grécia, com óbvia referência às eleições

antecipadas, convocadas devido à falta de quórum no parlamento grego, e que o Bloco e toda a esquerda há tanto tempo reivindicam para Portugal. Mas a porta-voz do partido Catarina Martins referiu-se também ao Syriza como

“partido irmão”, numa clara colagem à imagem política dos

líderes gregos. Apenas o Partido Comunista Português não o fez, já que também o Partido Socialista, impulsionado por esta vitória, criou um gabinete para apresentar alternativas

à “política autista de PDS e CDS-PP” e os socialistas, pela

voz de João Galamba, consideraram a vitória na Grécia, o

“desanuviamento do ambiente político na Europa”.

A Grécia, tal como noutros países, carece do político

“avatar”. A sociedade vive na “época do desempenho” em que é preciso construir uma realidade, uma imagem e ideologias diferentes de modo a conseguir o sucesso. E esta necessidade surge na eleição do político, homem ou mulher, ou até perante poderes hierarquicamente superiores. Este

‘personagem’ precisa ser diferente e inovador, procurar

técnicas de marketing, através de especialistas em pesquisa, em estratégia, em, comunicação política ou em lobbying, em que spin doctors e encenadores da política assumem estatutos fundamentais para o conteúdo e forma de representação (Sá, 2013). Apenas referir como exemplos mais recentes, os candidatos Nicolas Sarkozy, nas eleições francesas, ou Barack Obama, em 2008, com o famoso e ainda muito actual slogan Yes, we can.

De acordo com Philipp Maarek (1992: 65) a

comunicação política “abrange todo o processo de

marketing, desde o estudo preliminar até ao teste e à

definição de alvos” e acrescenta “o marketing político

constitui o método geral da política de comunicação, um

dos seus meios”. A estrutura do marketing político está

longe de ser simples. Margaret Scammel (1999: 72)

considera que “a literatura de comunicação política tende a

tratar o marketing político unicamente como um aspecto mais de um processo mais amplo”.

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construir uma campanha, uma imagem duradoura e sólida, capazes de enfrentar os desafios de uma sociedade moderna.

2. Metodologia

Esta dissertação utilizará como técnica a análise de conteúdo. Esta técnica é um forte contributo para a sistematização de informação de acordo com processos de codificação, categorização e inferência permitindo um alcance analítico de natureza quantitativa e/ou inferencial, consoante os objectivos em analise. As capacidades de análise, de avaliação, de crítica, de compreensão, de síntese, constituem procuras e respostas que os seres humanos aprenderam a conceptualizar e a interiorizar num sentido de melhoramento das suas capacidades comunicativas (Romero, 1991).

A análise de conteúdo tem por objetivo a sistematização da informação, de acordo com processos de codificação, categorização e inferência e o seu desenvolvimento aconteceu graças ao contributo de vários autores. Grande parte destes contributos viria a ser importante também no desenvolvimento da investigação científica na área da política e, em particular, da propaganda, através do recurso não apenas à análise de conteúdo como também através da técnica do inquérito à opinião pública (Espírito Santo, 2010). A área da propaganda usufrui da possibilidade de sistematização proporcionada pela análise de conteúdo, obtendo progressos científicos evidentes devido ao novo enfoque dado a partir do período da Primeira Guerra Mundial. A abordagem de Romero (1991:15) tenta conciliar as perspectivas quantitativa e qualitativa em análise de conteúdo. Segundo o autor, “a análise de

conteúdo consiste na utilização de métodos, técnicas e instrumentos que, indistintamente, são usados pelos investigadores da informação e da comunicação para analisar e explicar objectiva, sistemática, quantitativa e qualitativamente as formas, os significados, das ideias, palavras, imagens e factos actuais que, protagonizados e difundidos pelo homem podem provocar reacções sociológicas e psicológicas nas audiências que são receptoras daquelas ideias, palavras, imagens e acontecimentos, através de mensagens que são difundidas

por qualquer meio de comunicação social”. Este conceito destaca particularmente o papel que os meios de comunicação adquirem no processo de transmissão da mensagem. Robert Webber (1990:9) define a análise de

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utiliza um conjunto de procedimentos de forma a fazer

inferências válidas a partir do texto”. Webber (1990) destaca a componente interpretativa, simbólica e significativa das potencialidades da análise de conteúdo como técnica. No entanto, esta técnica deve ser entendida também à luz de um conjunto de procedimentos analíticos

de investigação “a partir do texto”. Segundo Webber

(1990:9) “as inferências são acerca dos emissores da mensagem, da mensagem ela própria e ou acerca da

audiência da mensagem”. São elementos que, a par com os

da análise de conteúdo, são os mencionados por Webber quanto às aplicações desta técnica.

De acordo com Paula do Espírito Santo (2010: 69), “a

análise de conteúdo tem objectivos genéricos de investigação que se traduzem no encontrar de padrões, intenções, conteúdos manifestos ou não manifestos, regularidades singularidades de comunicação, quer ao nível do estilo ou forma e/ou quer ou nível de conteúdos comunicacionais. É por isso importante destacar alguns objectivos a ter em conta para um maior êxito na investigação tais como os recursos disponíveis em tempo, recursos humanos, materiais tecnológicos, concretamente no acesso a bases de dados informatizadas dos mais

diversos documentos” (2010: 69). As particularidades de cada tipo de material e o domínio das técnicas e procedimentos específicos de entre as possibilidades da técnica de análise de conteúdo, do ponto de vista do tratamento e análise utilizados em cada estudo. A ter em conta ainda a idiossincrasias de cada investigador e o contexto de investigação académico, político, social, cultural e económico (Espírito Santo, 2010).

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confirmar se o texto do jornalista se adequa com a imagem ou se a imagem atinge uma importância não mencionada em palavras (por exemplo, um carácter simbólico).

Nesta dissertação, tal como referido, o período de análise estendeu-se de 24 de Janeiro, véspera das eleições na Grécia e data de grande expectativa face às sondagens, até 28 de Fevereiro, data do primeiro pagamento que o governo grego teria de cumprir para com as instâncias internacionais. Durante este tempo, foram analisadas as notícias relacionadas com as eleições, as chamadas peças de enquadramento, bem como as reacções dos responsáveis portugueses do elenco governativo e dos partidos da oposição, nos jornais da noite dos 3 canais generalistas portugueses, RTP1, SIC e TVI.

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3. Análise de conteúdo sobre a cobertura jornalista nos canais generalistas sobre o pós- eleições na Grécia: 24 de Janeiro-28 de Fevereiro 2015

O novo governo da Grécia foi assunto amplamente falado em Portugal e ocupou os primeiros lugares dos alinhamentos dos jornais da noite do dia 24 de Janeiro de 2015, dos 3 canais generalistas portugueses. O tema foi abertura de todos os noticiários na véspera das eleições, no dia do escrutínio e no dia seguinte. Depois, nas semanas seguintes, sem novidade, o tema foi aparecendo na segunda parte de alguns noticiários da RTP1, SIC e TVI e até ignorado em alguns dias, principalmente nas semanas de negociações.

A televisão é o meio de comunicação mais eficiente, reúne som e imagem e numa perfeita simbiose destas características, através dela, podemos ser testemunhas oculares de vários acontecimentos, em tempo, real, em todo

o mundo. É um “mensageiro universal” (Oliveira, 2007:13).

E ser jornalista é “sair à rua, ver o que se passa e contar aos outros”. O jornalista espanhol José Luís Cebrián considera também que uma das principais características é a

curiosidade. “Nessa capacidade de assombro reside o

fundamento de conhecer e por isso a rotina é o pior inimigo da sabedoria. O bom dos jornalistas, dos jornalistas assim sem mais nada, é que se interessam por tudo e para tudo”

(2004:14).

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1m50s e implica técnicas narrativas próprias, baseadas em critérios de preponderância da imagem, tempo de discurso, ritmo, velocidade, pausa e técnica de escrita (Oliveira, 2007: 11). Com duração que pode variar entre 20 a 30m, a grande reportagem é uma vertente mais especializada da reportagem e implica um trabalho de pesquisa mais exaustivo e profundo assim como o tempo de preparação e execução (Oliveira, 2007: 11).

O directo é uma ligação em tempo real a um acontecimento ou situação de extrema importância, como no caso das eleições gregas. Justifica-se sempre que um tema assume extrema importância na actualidade, por exemplo, um incêndio, uma manifestação, uma comunicação do governo. A ligação em directo a determinada situação e local provoca no espectador a sensação de proximidade, de imediatismo. O espectador pode estar numa parte do mundo, na sua casa, e, ao mesmo tempo, a acompanhar o desenrolar das eleições na Grécia. Deste critério, de resto, está dependente o investimento de meios por parte da estação de televisão que, no caso das portuguesas e concretamente no caso da RTP1, foi considerável.

A entrevista é um género jornalístico destinado a conhecer e divulgar a opinião de alguém devidamente qualificado sobre um determinado assunto. Um jornalista –

entrevistador – conversa com um convidado – entrevistado

– de modo a obter todas as informações jornalisticamente relevantes e que só o entrevistado, pelo seu cargo, qualificações ou representatividade, pode fornecer com autoridade e conhecimento de causa (Oliveira, 2007: 12). Implica uma relação entre o entrevistador e uma ou duas pessoas entrevistadas e pode ser gravada, ou em directo, exige técnicas concretas mas pouco investimento de meios de realização. É o oposto ao debate. Como é um género que implica, no mínimo 3 pessoas, as técnicas de realização já terão de ser mais elaboradas porque a dinâmica do programa é diferente. Pode, igualmente ser gravada ou transmitida em directo e pode ainda contar com a presença de público.

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generalistas para continuar a acompanhar o caso grego, principalmente na altura em que o assunto perdeu importância e as negociações entraram num impasse e deixaram de estar no topo da agenda.

Entre os dias 24 de Janeiro e 28 de Fevereiro, cada canal de televisão generalista escolheu as diferentes formas de comunicar as notícias sobre a Grécia, primeiro sobre as eleições, depois sobre as negociações com os parceiros internacionais, e decidiu, de acordo com a importância e actualidade, o lugar que cada notícia ocupou em cada alinhamento diário.

Como é possível verificar no gráfico 1 (página 17), durante o período de análise, entre 24 de Janeiro e 28 de Fevereiro, na RTP1 foram realizadas 67 peças curtas e mais peças longas, 16 directos, 5 offs, 5 quadros técnicos, 2 vivos isolados4 e uma entrevista no âmbito do tema ‘Eleições na Grécia’. As semanas onde se verificaram mais produtos

noticiosos obre este tema foram a primeira, entre 24 e 31 de Janeiro e a última entre 21 e 28 de Fevereiro. Mas, no caso dos directos, a maioria verifica-se nas semanas de negociações com os credores internacionais e os líderes europeus, com recorrentes ligações em directo da Comissão Europeia em Bruxelas, onde a RTP1 tem um jornalista correspondente5.

A SIC não dispensou tantos meios de directo, também não tem jornalista correspondente em Bruxelas. Ao todo, foram emitidas 72 peças, 8 offs, 2 directos, 2 falsos directos, 9 comentários, dos habituais comentadores Miguel Sousa Tavares e Luís Marques Mendes mas também de directores de jornais convidados, e 1 quadro técnico.

Na TVI foram emitidas 77 peças, 9 offs, 5 directos, 1 entrevista, 2 quadros, 8 vivos isolados, 2 falsos directos, 2 comentários, inseridos no espaço de comentário de Marcelo Rebelo de Sousa, ao domingo, no Jornal das 8. O género mais escolhido pelos três canais generalistas foram as peças mais longas ou mais curtas, que ocuparam a maior parte do tempo dedicado ao assunto Grécia. Numa peça é possível reunir informações, vivos, gráficos e quadros que permitem que o espectador perceba toda a informação, caso se

4Parte de uma declaração que importa escutar, mesmo de modo isolado, sem ser incluída em alguma peça.

Muitas vezes, um vivo isolado é apenas mais uma opinião de alguém que deve ser tido em conta, em determinado assunto.

5 Um jornalista correspondente por norma está num sítio estratégico, como é o caso de Bruxelas, sede da

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justifique pode ser mais longa, para também reunir a opinião de todos os intervenientes na história.

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Gráfico 1- Conteúdo jornalístico das 3 televisões generalistas sobre a Grécia, entre os dias 24 de Janeiro e 28 de Fevereiro de 2015, em peças

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

RTP SIC TVI

Peças

Offs

Directos

Vivos

Entrevista

Comentário

Quadros

Falso Directo

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Gráfico 2- Tempo dedicado, em cada um dos canais, ao assunto Grécia, tempo em minutos e em segundos

As eleições na Grécia e os temas que se seguiram a este período entre 24 de Janeiro e 28 de Fevereiro estiveram sempre nos lugares cimeiros dos alinhamentos. Como demonstram os dados do gráfico 3 (página 19), as honras de abertura de jornal pertenceram à Grécia 13 vezes na RTP1, 12 vezes na SIC e 10 vezes na TVI. Houve um tratamento idêntico e comum até, ao longo dos dias analisados porque o assunto estava realmente a marcar a actualidade pela expectativa das negociações futuras na Europa. Por outro lado, o assunto interessava a Portugal de modo particular porque tal como a Grécia, Portugal necessitou de ajuda externa e teve de cumprir as regras impostas pelos credores, sem grandes margens para negociações. A grande incógnita neste caso era saber de que modo se iria comportar o novo governo grego, assumidamente contra a austeridade mas legitimado pelo povo.

0 50 100 150 200 250

RTP SIC TVI

Tempo dedicado (em minutos)

RTP

SIC

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Fig. 3- Grécia como tema de abertura nos vários canais, em número de peças

Há 3 agendas no mercado: a agenda pública (recebida), a agenda política (imposta) e a agenda mediática (criada). A conjugação de todas pode resultar em sobreinformação, subinformação, desinformação e/ou contrainformação, com o objectivo de criar discussão sobre determinada matéria.

Em Portugal não há estudos que comprovem como funcionam os 3 agendamentos mas nos Estados Unidos da América vários teóricos está provada a existência de um sistema político e sistema mediático razoavelmente abertos e há muita competitividade em relação à agenda mediática. Na primeira linha da agenda setting está a pergunta: o que pensar? A resposta permite a transição para a agenda pública. De seguida, como pensar? É a fase da problematização dos fenómenos e depende da foram como os assuntos são tratados pelos media e esse mesmo tratamento vai definir a saliência da agenda pública.

Maxwel McCombs defendeu que a agenda pública se firma com 5 ou 7 temas, no máximo e precisa de um tempo de 4 a 8 semanas para se confirmar os seus efeitos, e estar ininterruptamente 26 semanas nos meios escritos e 12 nos audiovisuais. Em Portugal, exemplos disso são os casos Casa Pia ou Maddie, e esta situação confirma-se também no caso da Grécia. Passado esse tempo estamos já perante o efeito boomerang, ou seja, o assunto está constantemente na ordem do dia e muito principalmente quando se esperam desenvolvimentos importantes. Ao longo das semanas em

0 2 4 6 8 10 12 14

RTP SIC TVI

Abertura de telejornal

RTP

SIC

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análise assistiu-se a dois fenómenos as notícias com tempo curto e outras com tempo mais longo. Surgem associados ao primeiro caso protagonistas com maior exposição e atenção como é o caso do Primeiro-Ministro grego e o Ministro das Finanças. Já no segundo cenário, onde há menos exposição mas um período mais longo de permanência na agenda mediática, podemos destacar os líderes europeus e as negociações com os responsáveis gregos. Para que um dado antigo se torne novidade é preciso dar-lhe uma perspectiva individual, haver uma saliência dos temas em função do meio e uma consonância dos meios na exploração do assunto a que se associa naturalmente, a periodicidade no tratamento.

Nos anos 50, quando a televisão surgiu6, tinha como

função educar, informar e entreter. Em Portugal, antes do 25 de abril, os programas de informação e entretenimento eram estanques, hoje em dia já se assiste a muita sequencialidade: tudo é televisão por inteiro, é uma característica que também facilita no reforço da marca. Nos primeiros anos após a Revolução de Abril7, a informação

ultrapassou o entretenimento e surgiram protagonistas políticos como Álvaro Cunhal ou Sá Carneiro. Em regime de monopólio, a televisão pública não seria uma simples

‘correia de transmissão’, mas movia-se, das respectivas lógicas, interesses e clientelas (Cádima, 1995). Desde os anos 90 que a comunicação política ganhou novo ânimo e extraordinária importância. Jay Blumer (1992: 7-14) aponta como uma das características da televisão na Europa a relação com a política, vocacionada para o serviço público, estabelecendo uma comparação com os Estados Unidos,

onde prevalece uma lógica de mercado: “a televisão

dependia, não das oscilações do mercado, como acontecia nos Estados Unidos, mas do Estado. Era ele quem definia as regras de funcionamento ao audiovisual e fixava o seu financiamento. Tal ligação se, por um lado, fortaleceu os propósitos cívicos da televisão, por outro, debilitou a independência ambicionada principalmente pelos

jornalistas” (Blumer, 1992: 7-14). Os protagonistas sabem que dificilmente conseguiram vencer se não dominarem as técnicas e os conceitos porque o tempo político é longo e exige o desenvolvimento de ideias. A comunicação entre as organizações que gerem uma sociedade e as pessoas são centrais para qualquer sistema político. Em democracia, a comunicação política é vista como crucial para a construção

6Em Portugal, as emissões regulares de televisão começaram em 17 de Março de 1957, nos estúdios da

RTP, no Lumiar.

7 O primeiro grande debate na televisão foi entre Mário Soares e Álvaro Cunhal.

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de um sociedade em que o Estado e as pessoas se sintam interligadas (Lilleker, 2010: 1). O autor considera que

“antes de mais, a comunicação política deve ter um papel ‘activador’ e não ser apenas uma forma de fazer chegar a

informação a um determinado grupo ou elite, deve gerir o grupo mas também permitir feedback da sociedade e até incentivar a participação. Enquanto alguns autores argumentam que as eleições e o acto de votar são suficientes para que uma nação esteja em exercício de democracia, a verdade é que também pode ser encarado como um acto

imposto e que se esgota em si”. Lilleker (2010: 1) considera que a comunicação política extravasa a esfera política e tem de ter um objectivo político. No entanto, esta definição não será completamente adequada aos estados modernos, principalmente devido ao papel desempenhado pelos media. As teorias modernas realçam 3 actores, cada um deles funciona dentro das fronteiras de cada Estado e cada um deles produz comunicação política. Primeiro, o Estado e os seus actores: o seu papel é de comunicar as suas acções à sociedade, no sentido de ganhar legitimidade e complacência das pessoas. Depois, os actores fora do Estado, onde se incluem um largo número de organizações com motivações políticas, assim como os seus membros e, claro, os eleitores. Quanto aos media, comunicam sobre política, influenciam o público, assim como as esferas políticas. Numa sociedade livre, aberta e plural, cada um dos órgãos de informação comunica de modo independente mas está ligado e depende das sinergias com os outros grupos. Por outras palavras, os media dizem o que querem, quando querem, mas são influenciados uns pelos outros, e podem ser orientados por um destes grupos em particular, quando estão a apresentar argumentos, opinião, políticas, percepção e atitudes (Lilleker, 2010: 2). Em suma, os políticos modernos usam os media para entregar mensagens às pessoas.

Considerar o jornalismo e os media “o quarto poder” é uma teoria que, ainda hoje, não reúne consenso entre autores. Mário Mesquita (2003: 71) considera que ver o

jornalismo e os media como “quarto poder” só pode ser

“uma hipérbole”, que tem como objectivo colocar o jornalismo ao nível das instituições de poder constituído. William Safire (1980) defende que a expressão está

“descontextualizada” e e só pode ser “usada como ironia”.

O autor sustenta que a expressão foi adoptada pelos

directores no século XX mas que hoje perdeu “ a sua a sua

natureza apelativa à medida que a teoria dos outros poderes se varreu da memória e tem uma conotação bolorenta e

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o exercer, um órgão federador”, o que “não deve acontecer” porque os “interesses e os objectivos desses que detém

partes desse poder são muitas vezes contraditórios e

incompatíveis” (p. 73). O autor diz mesmo que grande parte

do que se considera “quarto poder” devia ser antes chamado na categoria do “poder feudal” 8.

João Carlos Correia (2001) considera que na abordagem o jornalismo pressupõe a existência de um conhecimento prévio, de pré-conceitos sobre o que é a

norma e o desvio no seio da comunidade. “Implica uma

comunidade de interesses e uma reciprocidade de expectativas que tornam o discurso inteligível e suportam o próprio conceito de novidade- até porque o próprio tipo de mensagem que o caracteriza visa precisamente tornar o cidadão comum o seu receptor privilegiado e protagonista preferencial. O próprio conceito de actualidade, cerne da narrativa noticiosa, pressupõe um poderoso sentimento de pertença na medida em que o que é actual tem sempre subjacente um discurso sobre as regularidades vigentes (2001:9).

O governo de Tsipras soube aproveitar os media, os canais de comunicação que chegam ao maior número de pessoas e que ganham um papel de destaque porque a informação mais relevante em termos políticos, é adquirida através da televisão, dos jornais e da rádio. A televisão é o suporte que atinge maior destaque, principalmente pelos efeitos da recomposição da indústria formatada hoje pela mundialização (canais globais) e o localismo (canais por cabo) que permite, ao mesmo tempo, apostar no mercado de nichos e consolidar a posição de meio privilegiado de chegar às massas (Tunstall, 1991). Antes de surgir a televisão, o público não assistia ao desenrolar dos acontecimentos, e deixava que fossem criadas imagens na sua cabeça (Lipman, 1922) tal como aconteceu com a propaganda de Hitler consumada através da rádio ou, por exemplo, a campanha para as eleições americanas de 1932, quando se apresentou o candidato Franklin Roosevelt, portador de deficiência motora. Por outro lado, o aparecimento do cinema (no início do séc. XX), da rádio (nos anos 20), da televisão (nos anos 50) foi visto como um suporte extraordinário de influência sobre as pessoas, sobre as suas opiniões, valores e comportamentos. A imagem visual faz toda a diferença, como consideram Morgan e Shanahan (1999: 200) “reconhecemos, evidentemente, que a forma e o conteúdo estão inextricavelmente ligados: a mensagem expressa por um meio diferente é uma

(22)

22

mensagem diferente. O meio através do qual é estruturada a mensagem ajuda, obviamente, a formar e a compelir uma série de significados que devem derivar da mensagem”.

Agora, há esforços de comunicação gigantescos dos partidos/candidatos e até do próprio Estado, a que acresce uma ampla e intensa cobertura mediática (Meirinho, 2007: 13). Por vias diferentes, os eleitores são o destino de múltiplos esforços comunicacionais com origem em várias fontes: nos candidatos e na sua máquina de produção e difusão de mensagens; nas redes associativas, nas redes interpessoais; nos aparelhos da administração do processo eleitoral e, ainda, e fundamentalmente, nos meios de comunicação que- para além de principais mediadores das candidaturas- aproveitam as campanhas eleitorais para competir também no mercado das audiências, em relação ao qual desenvolvem estratégias muito agressivas de cobertura (Meirinho, 2007:13). Por isso, como continua

Meirinho, não é de estranhar que a grande o “grosso dos

esforços da comunicação política tem em conta o peso dos

meios de comunicação e, em particular, da televisão (…)

(23)

23

Através da figura 1 é possível visualizar a importância da comunicação em todo o processo eleitoral.

Fig. 1- Estrutura de informação num processo de eleição Fonte: Lenart, 1994, pág. 37

Raramente existe uma ligação directa entre o candidato e o eleitorado, há sempre vários meios para se chegar às pessoas. E, a comunicação através dos media é essencial para chegar ao maior número de pessoas. Depois, é importante que o candidato seja referido e identificado nos media, com a informação disponível e o foco para exercer influência (Lenard,1994).

Discussão

Características dos eleitores

Informação Impressões

Resultado eleitoral Candidatos e campanhas

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24

4. Contexto político nas eleições gregas de Janeiro de 2015: os momentos principais da ascensão ao Poder de Tsipras

4.1. Primeiro momento após as eleições gregas

O Syriza foi bem sucedido nas eleições e o povo grego deu vitória ao partido com 36,3 por cento dos votos, tendo o partido ficado a 2 deputados da maioria absoluta, obteve 149 dos 151 lugares necessários. A coligação governamental foi formada 2 dias depois com os Gregos Independentes, um partido de extrema direita, de ideologia oposta ao Syriza, de esquerda radical, mas que concordava com o fim da austeridade. Pela terceira vez desde 2012, os gregos foram chamados a eleger um novo governo. Nos dois primeiros escrutínios, os gregos elegeram a Nova Democracia, o partido conservador grego, liderado por Antonis Samaras que pediu ajuda aos credores europeus e implementou medidas de austeridade no país. Depois destas medidas a situação na Grécia estava insustentável: a taxa de desemprego chegava aos 25%9, o valor do défice atingia os

120% do PIB (Jornal da Noite, SIC, 24 de Janeiro de 2015). A popularidade nas sondagens e a vontade de mudança por parte dos gregos (Jornal das 8, TVI, 24 de Janeiro de 2015), deixava adivinhar a que o escrutínio de 25 de Janeiro daria a vitória a outro partido, que não a Nova Democracia, de Antonis Samaras. Quando Antonis Samaras foi reconduzido para um novo mandado, já o Syriza se tinha tornado na segunda força política da Grécia, ao conseguir 27,1 por cento dos votos e a eleger 72 deputados10.

Em Janeiro de 2015 o Syriza liderado por Alexis Tsipras ascendia ao primeiro lugar, com larga vantagem nas intenções de voto. Toda a campanha eleitoral do Syriza assentou nessa promessa: aliviar a austeridade e recuperar a economia. A grande dúvida da Europa e do povo grego estava na expressão dessa vitória, se o partido iria ou não conseguir uma maioria absoluta e no caso de não conseguir, qual o partido que escolheria para formar governo. O dia 24 de Janeiro, dia anterior à votação foi por isso de grande expectativa, tal como o dia em que os gregos foram às urnas. A Grécia iria mudar de cor política ao fim de 40 anos de alternância entre a Nova Democracia e o PASOK, o Partido Socialista. Nas primeiras projecções a vitória do partido de Tsipras era clara mas a dúvida persistia quanto

9Outras fontes:

http://observador.pt/2015/01/08/desemprego-na-grecia-continuou-diminuir-em-outubro-de-2014/ consultado em Agosto de 2015.

10 Outras fontes: http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2615182&seccao=Europa.

(25)

25

ao número de deputados eleitos. O Syriza ficou a 2 deputados da maioria absoluta11.

A nível europeu e em Portugal, depois de se saberem os resultados, as reacções foram surgindo de forma lenta, sem euforia. Em Espanha, o partido Podemos considerou

que “se inaugurou uma nova era na política europeia” e em

Portugal o Bloco de Esquerda disse que “ os gregos deram uma verdadeira lição de democracia à Europa”2 (Jornal das

8, TVI, 24 de Janeiro de 2015), os partidos mais à esquerda nos dois países e mais equiparados do vencedor grego. Em Portugal, os restantes partidos com assento parlamentar reagiram de viva voz a esta vitória: o líder do Partido Socialista considerou a austeridade esgotada, no Partido Comunista Português, o eurodeputado João Ferreira

reconheceu a “vitória do Syriza como um cartão vermelho

à austeridade”3 (Jornal da Noite, SIC, 24 de Janeiro 2015).

Sem atribuir grande importância, a coligação de Governo formada por PSD e CDS-PP apenas emitiu um comunicado e no dia seguinte às eleições. Questionado, o Primeiro-Ministro recusou reagir nesse mesmo dia, alegando não dispor de resultados oficiais e recusando comentar projecções. Quando o faz, Passos Coelho referiu-se ao Syriza como “o partido que ganhou as eleições na Grécia” ou “a nova força política da Grécia”, sinal de profundo

descrédito por aquilo que acabou de acontecer no país e pelos políticos eleitos, sem sequer os mencionar directamente3 (Telejornal, RTP, 25 de Janeiro de 2015).

No dia seguinte às eleições, num acto verdadeiramente simbólico e que representou também uma mensagem à Alemanha, considerado o parceiro europeu mais intransigente, o líder eleito na Grécia visitou o memorial dedicado aos comunistas assassinados pelos nazis em 1944.

Nesse mesmo dia o Syriza escolheu para formar governo o partido Gregos Independentes no extremo ideológico contrário, um partido de extrema-direita12. O

único ponto em comum entre as duas forças políticas era a rejeição total da austeridade e foi a este ponto que Tsipras recorreu para suportar a decisão para o exterior e também conseguindo assim algum sustento a nível governamental. Na tomada de posse de um governo reduzido com apenas

10 ministros, Tsipras disse: “a Grécia vai deixar para trás a

destrutiva austeridade, o medo e o autoritarismo, deixa para trás 5 anos de humilhação. Procuramos uma solução sustentável para a Grécia, para escapar ao terrível ciclo da

11 Outras fontes:

http://greece.greekreporter.com/2015/01/26/greek-election-final-results-syriza-victorious-golden-dawn-third/). Consultado em Agosto de 2015.

12 Outras fontes: (

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26

dívida excessiva e para a europa regressar à estabilidade, ao crescimento e aos valores que estiveram na base da

democracia e da solidariedade”5 (Jornal das 8, TVI, 26 de

Janeiro de 2015).

A perspectiva de recuperar o poder de compra e dignidade agradava naturalmente aos gregos. Ao mesmo tempo, o líder derrotado, Antonis Samaras apelava à cautela e pedia que prosseguissem com as reformas que já iniciadas e em Portugal, Passos Coelho dizia que o que o novo Governo grego propunha era “um conto de crianças”6

(Telejornal, RTP, 28 Janeiro de 2015). O Primeiro-Ministro português recusou a ideia de que a Grécia não iria assumir

as obrigações e lembrou que “o partido que ganhou as eleições na Grécia” tem de cumprir as regras europeias.

Em período de campanha eleitoral, cada candidato tenta convencer o eleitorado que é a melhor pessoa para ocupar determinado cargo, desde o Presidente da República ao Presidente da Junta de Freguesia. Lilleker (2010: 2) considera que depois de ser eleito, um indivíduo ou partido tem de continuar a comunicar. Alguns autores defendem que a comunicação é essencial para incentivar a cultura democrática mas a verdade é que este nível de informação é exigido pelo público. No entanto, segundo Herman e Chomsky (1998: 10), “há responsáveis de campanha que defendem que a maioria da comunicação por parte de quem foi eleito é pensada com o intuito de manter o apoio dos eleitores às suas (dos eleitos) políticas”. Lilleker considera que num cenário político ideal, a comunicação política não apresenta problemas. No entanto, devido a uma série de mudanças nas esferas política, social e tecnológica, a comunicação política foi obrigada a mudar quer no estilo, quer no conteúdo. E ainda mais nas democracias onde há um número grande de vozes políticas, elegíveis e não elegíveis, que disputam espaço público. Isto torna a

“comunicação política cada vez mais complexa, não apenas a nível académico mas também na parte prática” (Lilleker, 2010: 3). Depois das eleições, continuando a comunicar com o eleitorado e seguindo o discurso anti-austeridade, ao fim das primeiras 48 horas de expectativa na Grécia, o Ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis começou a ganhar protagonismo. O Ministro apresentou-se de forma

descontraída, quase a antítese do poder e invocou a “teoria dos jogos”13 para negociar com os credores europeus

(Jornal das 8, TVI, 28 de Janeiro de 2015), numa dia em que as bolsas europeias caíram abruptamente, devido ao cenário de incerteza que se previa em toda a economia

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27

europeia. Só os 5 maiores bancos gregos registaram prejuízos acumulados de 7,4 mil milhões de euros14.

Mais de 24 horas depois do Presidente do Banco Central Europeu, os líderes europeus começaram a reagir. O primeiro ministro britânico David Cameron acalmou a

euforia e disse que “a vitória do Syriza contribuiu para a

incerteza na europa”, a Chanceller Alemã Angela Merkel disse que “Berlim estava disponível para colaborar com a Grécia desde que prosseguissem as reformas estruturais”15.

O Presidente Francês François Hollande considerou que

agora a “cooperação estava ao serviço do crescimento da zona euro e o ministro francês das finanças colocava

pressão no governo grego ao dizer que o executivo “tinha

dado provas de responsabilidade na campanha eleitoral e

que em nenhum momento se falou da saída do Euro”16.

Dois dias depois de tomar posse, o Governo grego anunciou uma subida do salário mínimo e o pagamento de impostos atrasados, e o Ministro das Finanças assumiu a liderança nas negociações com os credores. Depois do primeiro conselho de ministros e antes da primeira reunião europeia, o Primeiro-Ministro grego insistiu no discurso ainda que pouco agressivo de romper com a Europa: "vamos comprovar que as previsões catastróficas estão erradas. Não pretendemos uma ruptura mutuamente destrutiva mas por outro lado não continuaremos a destruição, a política de submissão". E acrescentou que "não haverá duelo entre o nosso governo e a Europa, não haverá ameaças nem está em causa quem vai recuar primeiro"(Jornal da Noite, SIC, 25 de Janeiro de 2015). Depois deste dia, a bolsa de Atenas encerrou a perder 9% e os juros da Grécia aumentaram mais de 10 pontos percentuais nos mercados. Os 4 maiores bancos perderam 1/4 do valor bolsista só no primeiro dia. Nas vésperas da primeira reunião, e em resposta ao Governo grego, vários responsáveis europeus revelaram expectativa mas também lembraram os novos governantes que há regras para cumprir na Europa, numa espécie de

aviso para os dias que se seguiriam.

No último dia de Janeiro, o Ministro das Finanças grego iniciou um périplo pela Europa, numa tentativa mais próxima de contacto, antes das negociações, a Chanceler Merkel já tinha feito saber que não aceitaria a reestruturação da dívida. Em causa a situação do país: 6 anos depois a recessão está instalada, com uma dívida superior a 300 mil

14

http://www.jornaldenegocios.pt/mercados/detalhe/bolsa_grega_recua_mais_de_5_e_juros_disparam_em_ dia_pos_eleitoral.html. Consultado em Julho de 2015.

15Agência Reuters, 28 Janeiro 2015.

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milhões de euros(Jornal das 8, TVI, 30 de Janeiro de 2015). Enquanto a Europa se preparava para falar com Varoufakis, em Espanha, o Podemos organizou uma manifestação contra a austeridade, participaram 100 mil pessoas, de acordo com contas da polícia! A vitória do Syriza levou a esquerda europeia a gritar mudança. No périplo europeu que o Ministro das Finanças grego prosseguiu pela Europa, França reagiu com abertura relativa. O país estava disposto a ajudar mas não ía apoiar a reestruturar a dívida. No Banco Central Europeu, o Ministro das Finanças grego encontrou mais recomendações: que a negociação fosse feita de forma rápida e construtiva. Ao mesmo tempo, o Primeiro-Ministro grego reuniu-se com a Comissão Europeia para apresentar o programa do Syriza e disse que queria respeitar a soberania dos gregos (que os elegeram) mas também as regras da União Europeia (Telejornal, RTP, 2 de Fevereiro de 2015).

4.2. Segundo momento após as eleições gregas

A 5 de Fevereiro surgiu o primeiro momento de grande tensão entre a Grécia e a Europa: as instituições europeias deixaram de aceitar dívida grega como garantia para os empréstimos e isso pôs em causa a solidez e sobrevivência dos bancos. Os responsáveis gregos falaram em “chantagem” devido ao corte de financiamento da banca grega e invocaram o compromisso para com os eleitores. Entretanto, o périplo do Ministro das Finanças grego terminou em Berlim. O único apoio surgiu numa pequena manifestação junto ao Ministério das Finanças, já que os responsáveis alemães se mantiveram intransigentes e não aceitaram o pedido dos gregos. Enquanto isso, a agência de notação Standard & Poor’s baixou o nível de rating da Grécia de B para B – ( B menos) e ameaçou renovar a operação na próxima semana17. A mesma ameaça surgiu

por parte da Moody’s que também desceu o nível de rating

e passou a considerar a dívida grega “lixo”18. O país teve de

pagar 2 mil milhões de euros em juros até ao final de Fevereiro e o problema começou a aumentar. Com a insistência da Grécia em ter medidas diferentes que os restante países intervencionados, o Primeiro-Ministro português lembrou que Portugal foi o país que mais ajudou a Grécia e considerou “absurdo” utilizar a Grécia para repensar o modelo europeu. Passos Coelho insistiu que

17http://www.ionline.pt/269726. Consultado em Agosto de 2015.

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“Portugal não é a Grécia” e que não pode ser posto em causa (Jornal da Noite, SIC, 4 de Fevereiro de 2015).

No dia 8 de Fevereiro a Grécia anunciou a recusa do prolongamento do resgate e que, em vez disso, iria pedir um financiamento temporário. No Parlamento grego, Alexis Tsipras disse que mantinha as promessas eleitorais por respeito e honra para com o povo grego19. O responsável

acreditou que até ao final do mês era possível convencer a Europa da renegociação da dívida e para isso também tomou várias medidas que mostram essa vontade de parar o despesismo: o número de ministros foi reduzido assim como a frota automóvel e a segurança. Mas a dois dias do primeiro Eurogrupo, o Ministro das Finanças grego rejeitou no Parlamento o plano de resgate financeiro já instituído e denunciou pressões para aceitar um programa que considera “tóxico”. Começou a pairar o fantasma da saída da Grécia do Euro (Telejornal, RTP, 8 de Fevereiro de 2015).

Para provar, mais uma vez, que “Portugal não é a Grécia”, o Governo português antecipou o pagamento de 14 mil milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional, ou seja, pagou metade do valor em menos de metade do tempo (Jornal das 8, TVI, 10 de Fevereiro de 2015).

Um dia antes da reunião do Eurogrupo, o Governo grego aceitou trocar um terço das condições do plano de resgate por dez reformas económicas. Um compromisso que pôs a bolsa grega a ganhar 8% apoiada também na moção de confiança ao executivo, aprovada no Parlamento do país e pelas sondagens que revelaram que Tsipras tinha o apoio de grande parte da população grega, 75%20, no total.

Mas a primeira reunião do Eurogrupo a 10 de Fevereiro não foi produtiva. A Alemanha apresentou muitas dúvidas sobre as medidas alternativas apresentadas pelos gregos e pediu mais 24horas para reflectir. Depois da reflexão, o Presidente da República Portuguesa veio dizer que muitos milhares de euros estão a ser tirados aos portugueses para ajudar a Grécia e que espera que sejam feitos todos os esforços para ajudar o país no sentido de “corrigir posições”19 (Jornal da Noite, SIC, 10 de Fevereiro de

2015). Palavras que motivaram reacções da esquerda nacional, primeiro o Partido Socialista, veio acusar o Presidente de humilhar os gregos e de ser o porta-voz do Governo, depois também toda a esquerda acusou Cavaco Silva de falta de solidariedade e sentido de estado20 (Jornal

da noite, SIC, 10 Fevereiro 2015).

19 Outras fontes: Agência Reuterswww.reuters.com Consultada em Setembro de 2015

20

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30

Enquanto a Europa esperava por nova reunião do Eurogrupo, o Banco Central Europeu autorizou o aumento do montante máximo da linha de crédito de emergência para 65 mil milhões de euros de forma a que o país consiga mais tempo para negociar com os credores21.Uma medida

que agradou ao povo grego, que se manifestou a favor do executivo de Tsipras nas ruas da Atenas. Também em Portugal, dezenas de pessoas reuniram-se como forma de apoio ao executivo helénico, junto ao edifício da comissão europeia (Jornal da Noite, SIC, 7 de Fevereiro de 2015). Uma manifestação que surgiu no Facebook, com a criação de uma página, onde foi lançado o apelo para a reunião. De imediato, 250 pessoas confirmaram a presença numa

iniciativa de apoio “à flexível e sensata” vontade negocial

do governo liderado pelo Syriza, liderado por Alexis Tsipras22.

A reunião do Eurogrupo de dia 16 de Fevereiro serviu para apresentar uma proposta de compromisso aos gregos mas a reunião terminou mais cedo que o previsto. A proposta foi recusada e considerada “absurda” e “inaceitável” uma vez que previa o prolongamento do actual programa, até ser encontrada uma solução. É a partir deste momento que as negociações entram num impasse. Os vários responsáveis já não evitam os comentários públicos sobre a Grécia, quer em jeito de desabafo ou como tentativa de pressão. O Ministro das Finanças alemão acusou o governo grego de ser irresponsável e também a Chanceler alemã insistiu que para receber ajuda financeira a Grécia tem de mostrar como é que se vai aguentar sozinha no futuro. Apesar de toda a incerteza, os vários líderes europeus recusam falar, nesta fase, de uma saída da Grécia da zona Euro. A possibilidade foi descartada pela Ministra das Finanças de Portugal e recebeu apoio unânime do Eurogrupo.

Com o tempo a escassear, o Ministro das Finanças grego coloca pressão do lado europeu e diz que “o próximo passo é um passo responsável. Na Europa sabemos como deliberar de forma a chegar a uma boa solução, uma solução digna, a partir de desacordos iniciais”23. E recusa uma outra

proposta feita pelo Ecofin porque diz estar a preparar um conjunto de medidas “tão bom” que será impossível de recusar. Para provar que o modelo europeu funciona e de

21

http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica_monetaria/detalhe/bce_aumenta_linha_de_emergencia _aos_bancos_gregos_em_mais_600_milhoes.html. Consultado em Agosto de 2015.

22

http://observador.pt/2015/02/06/manifestantes-vao-sair-rua-em-solidariedade-com-grecia/. Consultado em Agosto de 2015.

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forma a deixar cair por terra o que os gregos invocam, o Ministro das Finanças alemão lembra que Portugal é a prova de que o sistema funciona. O país passou por duras medidas de austeridade e superou com distinção, ao ponto de já estar a aliviar a pressão sobre o povo. No mesmo dia em que recusa a contra proposta grega para uma extensão por 6 meses do programa de resgate22 (Telejornal, RTP, 17

de Fevereiro de 2015), a Alemanha invoca o papel de maior economia europeia, até contra os estados membros, que estariam dispostos a aceitar este pedido. As negociações voltaram à estaca zero.

No meio do turbilhão económico surgiram também as declarações de Jean Claude Juncker que admitiu erros na actuação da troika e que “não houve respeito pela dignidade

de Portugal, da Grécia e da Irlanda”. Palavras que deram força ao governo grego perante as instâncias europeias e que dividiram opiniões também em Portugal onde muitas figuras de revelo manifestaram apoio ao Syriza, nomeadamente os partidos mais à esquerda e economistas que defendem também a reestruturação da divida para Portugal. Passos coelho defendeu o país e disse que “a dignidade nunca esteve em causa”, durante o programa de resgate23 (Jornal das 8, TVI, 19 de Fevereiro de 2015).

A 20 de Fevereiro surge o primeiro acordo entre a Grécia e os credores. Depois de muitas reuniões a acontecer em paralelo com o derradeiro encontro, os credores aceitaram uma extensão do programa mas apenas por 4 meses: não iriam sujeitar a Grécia a novas medidas de austeridade mas o governo não poderia avançar com promessas eleitorais como o aumento do salário mínimo, que tinha sido decretado logo após a tomada de posse. Poucas horas de ter sido tornado público este entendimento, surgem rumores de que Portugal tentou vetar o acordo. O Ministro das Finanças grego disse até que Portugal “estava a ser mais alemão que os alemães”. A Ministra das Finanças nega24 (Telejornal, RTP, 20 de Fevereiro de 2015).

Nos últimos dias até ao prazo de pagamento da primeira

tranche (28 de Fevereiro) e depois do entendimento anunciado, os líderes estavam mais optimistas e os responsáveis gregos fizeram um discurso de vitória “na batalha, não ainda na guerra” mas que lhes vai permitir “virar as costas à austeridade”. Os responsáveis europeus deram 3 dias para o país preparar uma lista detalhada das medidas que queria aplicar.

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mais decisivas do partido, Manolis Glezos, líder da resistência anti-nazi, pede desculpa ao povo por ter “participado numa ilusão”24.

A lista de medidas foi apresentada e o prolongamento por 4 meses aprovado. O Eurogrupo considerou a lista “suficientemente abrangente” e um “bom ponto de partida”. A Grécia apresentou como medidas a luta contra a corrupção e evasão fiscais, a modernização do sistema fiscal e da administração pública e a reforma da segurança social, assim como a continuação das privatizações já iniciadas. A chanceler alemã considerou o acordo um bom ponto de partida mas que ainda havia “muito trabalho a fazer”. Também o Parlamento alemão aprovou nos últimos dias de fevereiro, a extensão do resgate ao mesmo tempo que em Atenas surgiram os primeiros movimentos populares contra o Governo. Várias centenas de pessoas contestaram o acordo com as instâncias europeias, manifestantes de extrema-esquerda envolveram-se em confrontos com a polícia (Jornal da Noite, SIC, 23 de Fevereiro de 2015).

Com o plano aprovado e a primeira prova superada na europa, com cedências de ambas as partes, o Governo grego começa a questionar alguns países como Portugal e Espanha de “formarem um eixo contra o Atenas para derrubar o governo”. Tsipras acusou os governos ibéricos de terem razões para causar a queda do governo, acusações que subiram de tom ao longo das negociações.

(33)

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5. O caso grego e a utilização dos mecanismos de influência dos media na construção da liderança política

O Syriza e os seus líderes fizeram uso das várias estratégias políticas confrontaram os credores internacionais e desta forma conseguiram alcançar o poder nas eleições gregas de 25 de Janeiro de 2015. Com esta estratégia conseguiram ser notícia praticamente todos os dias e estar, durante muito tempo, no topo da actualidade e dos noticiários dos 3 canais generalistas portugueses.

“Ser uma boa pessoa não faz dela um bom profissional, nem um bom profissional é por isso uma boa pessoa. O que faz com que um médico seja um bom médico, um advogado um bom advogado, um político um bom político ou um jornalista um bom jornalista, não é o mesmo que aquilo que faz de uma pessoa uma boa pessoa” (Fidalgo, 1997:1) A frase é de António Fidalgo, estudioso na área da comunicação televisiva, numa publicação onde considera a distância como virtude, e diz que “sentimentos e emoções são tão ou mais importantes que frios raciocínios (…) tem de triunfar a razão, a cabeça fria. O seu trabalho deve fazer-se sine ira et studio, imparcialmente. Para isso tem de saber manter a devida distância” (Fidalgo, 1997:4). O autor considera que são três as qualidades decisivamente importantes para o político: paixão, sentido da responsabilidade e ponderação. (…) A paixão não transforma o homem em político se não estiver ao serviço de uma ‘causa’ e não faz da responsabilidade para com essa causa a estrela que guia a acção. Para tal é necessário ponderação, a capacidade para deixar que a realidade actue sobre a pessoa sem por isso perder o domínio e a tranquilidade, ou seja, para manter a distância em relação aos homens e às coisas” Fidalgo, 1997: 75). António Fidalgo acrescenta que “toda a acção política exige a consideração do que a precede e dos efeitos que se lhe seguem. Saber como se chegou à situação que requer a acção, conhecer as implicações futuras que a acção envolve, significa relativizar o momento presente, reconhecer que na acção política não há um momento absoluto” (1997:4). Desde que a campanha eleitoral que os políticos do Syriza

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A distância permitiu aos líderes do Syriza perceber de que modo podia exercer pressão sobre os líderes europeus.

António Fidalgo considera que “é a distância, a

relativização do presente, que melhor demarca o político responsável do demagogo. O demagogo entrega-se ao momento, funde-se com ele, tenta aniquilar qualquer distância que o possa separar dos homens e das coisas presentes. Passado e futuro, homens e coisas ausentes, existem apenas em função do momento presente” (1997: 4). Neste aspecto, a distância e o tempo jogaram a favor do governo grego, até ao início das negociações no início de fevereiro, porque foi possível perceber qual o sentimento dos credores em relação ao novo governo e, depois, traçar

a ‘estratégia’. No presente, como lembra Fidalgo, o Governo grego vai debruçar-se mas o que importa realmente é o futuro e o que vai conseguir com esta negociação. Daí um passo por antecipação, o périplo pela Europa e o encontro com os líderes europeus para perceber o sentimento comum (Telejornal, RTP, 2 de Fevereiro de 2015).

Depois, com o avançar das negociações o Ministro das Finanças grego foi ganhando protagonismo devido à aplicação da teoria dos jogos. Para essa ideia contribuiu o discurso ao longo da campanha eleitoral em especial de Yanis Varoufakis, o Ministro das Finanças grego, economista brilhante, reconhecido pelos seus pares (peça Jornal das 8, TVI, 4 de Fevereiro de 2015) e para quem a negociação seria por em prática a teoria dos jogos. O maior contributo desta teoria é para o pensamento estratégico, para o delinear da estratégia a executar e compreender a maioria das acções (Turocy e Stengel, 2001: 4) 25.

Em 2011, Mitsopoulos e Pelagidis (2011: cap. 2.1) escreveram sobre a crise na Grécia26que “os políticos que

cooperarem com os grupos de interesse são recompensados não só com uma carreira longa mas também gozam de alguma imunidade no que diz respeito à investigação, relacionada com assuntos legais, mesmo que estes factos estejam relacionados com o seu gabinete, e mesmo que estejam sob suspeita crimes como a violação dos direitos

humanos”, mesmo depois de ter sido aprovado o decreto

24895/07 pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Os dois autores consideram que existe uma relação estreita entre governantes, legisladores, burocratas e grupos de

25Na economia, a teoria dos jogos tem sido usada, para estudar as relações entre grupos de

pessoas. Na prática, um jogador ou um grupo de jogadores toma decisões estratégicas de moda a provocar reacções e decisões no outro grupo com que está a negociar.

26 Mitsopoulos, Michael e Pelagidis, Theodore, Understanding the crisis in Greece, Palgrave Macmillon,

Imagem

Fig. 1- Estrutura de informação num processo de eleição  Fonte: Lenart, 1994, pág. 37

Referências

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