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O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DO MUNICÍPIO DE OURINHOS-SP

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Academic year: 2019

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O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DO

MUNICÍPIO DE OURINHOS-SP

Franciele Miranda Ferreira Dias

I. INTRODUÇÃO

O olhar acerca dos problemas socioeconômicos e o interesse sobre como a cidade encontra-se espacialmente dividida em virtude das diferenças socioeconômicas da população e a maneira na qual Ourinhos está organizada em relação à distribuição dos seus equipamentos públicos, serviços e indústria sempre se mostraram relevantes. É necessário um estudo que relacione fatores econômicos e políticos à forma como a cidade está espacialmente organizada, sendo necessário, uma análise de cunho histórico e econômico acerca da formação de Ourinhos.

Este trabalho1 busca contribuir para o conhecimento das relações econômicas, políticas e sociais que influíram na ocupação do espaço urbano de Ourinhos (SP) e do processo de valorização do solo urbano desse município. Procura-se analisar desde a gênese da ocupação da cidade, até os dias atuais, com isso, mostra-se como ocorre, mediante ao processo de valorização do solo urbano, a segregação socioespacial e a forma como se dá a construção desse espaço urbano.

Analisam-se os problemas oriundos da divisão social do trabalho, imposta pelo sistema capitalista de produção, que acarretam as problemáticas encontradas nas cidades brasileiras em geral e em Ourinhos. O crescimento verificado em Ourinhos, principalmente a partir da década de 1970 revelou as disparidades sociais que se mostram na construção do espaço urbano. Segundo SANTOS (2005):

1 A produção desta pesquisa iniciou-se em agosto de 2007, transformando-se em pesquisa cientifica com

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Com diferença de grau e de intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. Seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem etc, são elementos de diferenciação, mas em todas elas, problemas como dos do desemprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde são genéricos e revelam enormes carências. Quanto maior a cidade, mais visíveis se tornam essas mazelas. Mas essas chagas estão em toda a parte. Isso era menos verdade na primeira metade desse século, mas o comando dos interesses das grandes firmas constitui um receptáculo das conseqüências de uma expansão capitalista devorante dos recursos públicos, uma vez que esses são orientados para os investimentos econômicos em detrimento dos gastos sociais. (SANTOS, 2005, p. 105)

Observa-se em Ourinhos uma mudança no uso do solo urbano2 em decorrência de processos econômicos produtivos que alteraram as formas geográficas duráveis do espaço urbano, assim, é pertinente a colocação de SANTOS (1978) sobre as mudanças no espaço:

O papel específico do espaço como estrutura da sociedade vem entre outras razões, do fato de que, as formas geográficas são duráveis e, por isso mesmo, pelas técnicas que elas encarnam e as quais dão corpo, isto é pela sua própria existência elas se vestem de uma finalidade que é originalmente ligada em regra, do modo de produção ou a um de seus momentos. (SANTOS, 2004d, p. 186).

Enfatiza-se nesse estudo a região do centro “antigo” nos arredores da Avenida Jacintho Ferreira de Sá e parte da Vila Nova Sá. Esse bairro chamado pela população de Barra Funda3 é o mais antigo de Ourinhos surgindo com a chegada da Estrada de Ferro Sorocabana, localizado no lado norte da antiga Estrada de Ferro Sorocabana e principiando a ocupação de Ourinhos com a concentração de residências e de comércio do município. Mas, no ano 19274 com a inauguração do novo edifício da E.F. Sorocabana, no lado sul da linha férrea, a Barra Funda passa a ser um local pouco investido pelo poder público e se torna degradado. Isso ocorre de certa maneira em conseqüência do desenvolvimento da porção sul da cidade, devido à pobreza no local e a barreira física imposta pela linha férrea. Observa-se ali uma área de segregação socioespacial.

2 Estuda-se nesse trabalho a industrialização relativa às olarias e a Vila Odilon e as mudanças

desencadeadas no uso do solo urbano de Ourinhos, entre as décadas de 1930 até 1990. Posteriormente, analisa-se, a mudança do uso da ferrovia Sorocabana em Ourinhos, quando o café perde sua importância para a soja e evidentemente a atuação da Bunge a Sanbra em Ourinhos, a partir da década de 1950, devido à industrialização e crescimento da cidade. Também há a reflexão das mudanças realizadas pela monocultura da cana-de-açúcar, a partir da década de 1950, especialmente no espaço urbano de Ourinhos.

3Por ser a denominação mais comum, passamos a utilizá-la neste trabalho como referência ao centro

antigo do município de Ourinhos.

4Durante a gestão de Arlindo Luz 1924-1927, a E.F. Sorocabana construiu o novo prédio da estação

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É importante o resgate histórico acerca da formação e expansão da Vila Odilon, um dos bairros mais antigos de Ourinhos, onde surge a indústria oleira, que foi determinante para o crescimento e expansão urbana da cidade. Faz-se necessária a análise sobre a atuação do Estado na construção do espaço urbano de Ourinhos através das COHAB e CDHU existentes5 e o que isso acarreta na organização espacial da cidade.

Mapa 1:

Ourinhos: Início da ocupação

Organizado por: Franciele Miranda Ferreira Dias.

5Ourinhos possui conjuntos habitacionais voltados desde a classe média alta (BNH Jardim Paulista), às

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Em 1850 estabelece-se a lei de terras no Brasil e com isso a terra tornou-se mercadoria, com preço que não era de fácil acesso ao trabalhador. Conforme o desenrolar da urbanização brasileira, devido a fatores como a imigração, industrialização e êxodo rural, a cidade passou ser local de segregação, social e espacial. Com o crescimento da população urbana o mercado de imóveis foi estimulado pela crescente demanda elevando os preços. Ourinhos surge com essa problemática e com o crescimento contínuo da cidade, se agravam os problemas socioeconômicos. Em relação ao processo de urbanização brasileiro, SANTOS (2005) diz:

O forte movimento de urbanização que se verifica a partir da segunda guerra mundial é contemporâneo de um forte crescimento demográfico, resultado de uma natalidade elevada e de uma mortalidade em descenso cujas causas essenciais são o progresso sanitário, a melhoria dos padrões de vida e a própria urbanização. (SANTOS, 2005, p. 33).

Através de Milton Santos, busca-se a compreensão do espaço em relação à sociedade, pois esta é quem o produz. Dessa forma procura-se em suas obras o entendimento dos aspectos históricos, políticos, econômicos e sociais que motivaram a atual conjuntura do espaço urbano encontrada nas cidades grandes e médias do Brasil. Sobretudo ocorre a abordagem da ocupação do solo e a segregação socioespacial em Ourinhos através do viés histórico. Considera-se SANTOS (1979) em:

Se a geografia deseja interpretar o espaço humano como fato histórico que ele é, somente a história da sociedade mundial aliada a da sociedade local, pode servir como fundamento a compreensão da realidade espacial e permitir a sua transformação a serviço do homem, pois a história não se escreve fora do espaço e não há sociedade a-espacial. O espaço ele mesmo é social. (SANTOS, 1979, p. 9).

Em relação à determinação do valor do solo, deve-se compreender a especulação imobiliária, a atuação dos proprietários fundiários imobiliários e a ação estatal que determinam o uso e ocupação do solo, através de SINGER (1979), HARVEY (2001) e CORRÊA (1995).

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imobiliário não estão relacionadas às benfeitorias ao redor do imóvel, mas a localização do mesmo. Essa questão é importante a fim de analisarmos as diferenças de preço no mercado imobiliário da cidade de Ourinhos.

SINGER (1979) relaciona o acesso ao solo urbano, com a segregação socioespacial, pois o acesso aos serviços urbanos normalmente beneficia determinadas localizações, as localizações mais “valorizadas” que, portanto a maioria da população não tem acesso. Considera-se como ocorre a valorização de certas áreas da cidade em detrimento de outras, que se conectam aos investimentos e desenvestimentos, tal como ocorre nos centros novos e velhos que muitas cidades possuem, assim como em Ourinhos.

MORAES e COSTA (1987 p. 126-127) ressaltam que: “Tem-se as localização privilegiadas gerando lugares mais ou menos valorizados em função de sua disposição no tecido urbano (..). Também, MORAES e COSTA (1987) discorrem o valor do espaço:

O valor do espaço em todas as suas formas de manifestação aparece frente ao processo de produção, como um valor contido. O lugar e seus recursos naturais construídos (...) Por ser o espaço concreto um valor de troca, define-se a possibilidade de um valor no espaço. O espaço, aqui, a despeito de conter valor, não ultrapassa a função de mero palco de processo que nele ocorrem, ou em outras palavras, como substrato da vida material. Os atores não consideram que há processos espaciais, mas sim processos sociais, que ocorrem no espaço concreto. (MORAES e COSTA, 1987, p. 127).

HARVEY (1980) 6 analisa o valor do solo urbano fundamentado no valor de uso e no valor de troca, como mercadoria, e a acumulação de riqueza que o uso do solo pode proporcionar o acesso a bens e serviços, através da teoria locacional.

MARICATO (1987) 7 discute a habitação popular financiada pelo Estado, através do SFH, BNH e posteriormente na figura do CDHU e COHAB explicando como a habitação se torna uma mercadoria, comercializada através de relações capitalistas e, por conseguinte, os problemas que a habitações realizadas por esses órgãos possuem.

6David Harvey (1980) realiza uma análise acerca do valor e uso do solo urbano e sobre como isso é

determinado. Procura compreender os processos sociais e as formas espaciais, assim como considera o espaço social. Adequou-se a essa pesquisa, pois se considera que o homem atua na construção do espaço e que os modos de produção e a acumulação de capital são responsáveis pela posse da terra e sua conseqüente valorização. No entanto, Harvey (1980) explica como se determina o valor do solo urbano que depende de condicionantes, logicamente determinados pelo homem e sua atuação no meio urbano.

7

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CORRÊA (1995) destaca a especulação imobiliária e a atuação do Estado, proprietários fundiários e sua influência na valorização do solo urbano. A análise sobre os promotores imobiliários é válida, pois esses realizam os empreendimentos imobiliários disponibilizados a população, mas é preciso lembrar que proprietários fundiários e promotores fundiários atuam juntos e contribuem para a segregação socioespacial, bem como a ação do Estado.

CORRÊA (1995) avalia como se dá a segregação de classes sociais no espaço urbano, que pode ser na forma da autosegregação, onde CORRÊA (1995, pág. 64) diz: “A classe dominante ou uma de suas frações, por outro lado, segrega os outros grupos sociais na mesma medida em que controla o mercado de terras, a incorporação imobiliária e a construção, direcionando seletivamente a localização dos demais grupos sociais no espaço urbano” e a segregação denominada residencial que pode ser vista como um meio de reprodução social e, neste sentido o espaço social age como um elemento condicionador sobre a sociedade, a partir daí, CORRÊA (1995):

Segregação, quer dizer, diferenciação residencial segundo grupos, significa diferencial de renda real – proximidade das facilidades da vida urbana como água, esgoto, áreas verdes, melhores serviços educacionais ausência de proximidade aos custos da cidade como crime, serviços educacionais inferiores, ausência de infra-estrutura etc. Se já existe diferença de renda monetária, a localização residencial implica em diferença maior ainda no que diz respeito à renda real. (HARVEY apud CORRÊA, 1995, p. 65).

Analisar a teoria dos dois circuitos da economia de Milton Santos8 (2004b) e sua aplicabilidade em Ourinhos se constituiu em opção proveitosa. A parcela relacionada ao circuito inferior da economia se insere no centro mais antigo de Ourinhos e outras áreas problemáticas, onde a população trabalha em empregos mal remunerados, terceirizados e em atividades consideradas desse circuito. É importante a relação entre o viés econômico e o processo de urbanização realizado pelas camadas de menor poder aquisitivo da sociedade. Já o circuito superior e suas atividades normalmente relacionadas ao comércio moderno e as atividades dinâmicas acaba por influir na construção do espaço urbano de maneira diferente que o circuito inferior, daí a importância de uma análise.

8O intuito da teoria dos dois circuitos da economia de Milton Santos é o de compreender as características

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Em relação à bibliografia da historia de Ourinhos, destaca-se que os relatos de Jefferson Del Rios (1992) em seu livro “Memórias de uma cidade paulista”, procuram mostrar a gênese da ocupação do município de Ourinhos e aspectos políticos do decorrer da história da cidade. Em seu trabalho, o jornalista recorre a acervos de jornais, informações de órgãos públicos, mas principalmente as entrevistas com moradores antigos da cidade.

MASSEI (2001) em sua tese de doutorado apresenta informações mais relevantes, visto que a temática consiste nos impactos que as inovações tecnológicas trouxeram à indústria oleira de Ourinhos. Essa indústria, localizada até hoje na região da Vila Odilon e adjacências da região sul, representa o início da industrialização de Ourinhos. MASSEI (2001) analisa o contexto socioespacial da região das olarias e apresenta os aspectos que as mudanças tecnológicas trouxeram, na organização dessa indústria, na divisão social do trabalho, na relação entre proprietários e funcionários além da relação dessa região e sua população com o restante da cidade. Ressalta-se que a caracterização da Vila Odilon enquanto bairro operário e segregado é muito válido, pois é a partir desse núcleo urbano que ocorre a periferização do município e assim pode-se compreender principalmente, a realidade que esse bairro e suas olarias apresentam hoje.

Também foram consultados SARAIVA e MORAES (2004), D’AMBRÓSIO (2004) que realizam narrativas do processo de ocupação de Ourinhos e propiciam contribuições sobre a história da política na cidade assim como elementos sobre as famílias pioneiras na ocupação do município.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.

Partiu-se inicialmente de uma pesquisa da formação socioespacial do município de Ourinhos para verificar como o uso do solo alterou-se com o tempo e a segregação socioespacial se modificou devido fatores históricos, políticos e econômicos.

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O Jardim Guaporé se mostrou o bairro mais segregado da cidade, pois possuí grande distância da área urbanizada de Ourinhos, cerca de 4 km. Em visita ao local, constata-se que não há nenhuma infra-estrutura, nem comércio, nem posto de saúde, creches escolas, enfim um local abandonado pelo poder público e pela sociedade. Verifica-se que boa parte dos moradores trabalham em “bicos” ou em empregos informais. Devido a todas estas características é o bairro mais pobre, abandonado e desassistido pela Prefeitura Municipal de Ourinhos, mas a Secretaria de Assistência Social relatou que não há um índice de criminalidade muito grande no bairro não sendo um local problemático nesse quesito. As imobiliárias entrevistadas informaram que o Jardim Guaporé tem os terrenos e imóveis mais baratos do município.

Quanto às áreas mais valorizadas de Ourinhos, as imobiliárias entrevistadas9 (Umberto Imóveis, Beto Mella, Negocião Imóveis, Sima Imóveis, Shalon Imóveis, Portal Imóveis, Fort Imóveis e Christoni Imóveis) concordaram a respeito de ser a área central. Devido à dinâmica proporcionada por bancos, grande concentração demográfica. A área próxima ao Pão de Açúcar, nesse caso os bairros Jardim Paulista, Nova Ourinhos, Royal Park, Vila Soares, Residencial Villagio, Jardim Quebéc e Jardim Santa Fé. Essas áreas são valorizadas devido à qualidade dos imóveis, a centralização de pessoas ricas que há do Jardim Paulista no caso do Jardim Santa Fé trata-se de um empreendimento de alto valor, onde um lote que valia 15 mil reais vale atualmente 35 mil. A Sima Imóveis lembrou que o Jardim Paulista e a Vila Nova Ourinhos são caracterizados por uma classe social mais elevada e há maior valor imobiliário das áreas, o IPTU mais alto da cidade e os terrenos são maiores. Dos prédios residenciais há o da Vila Ribeiro, considerado de alto padrão. A Shalom Imóveis aponta que os bairros estritamente residenciais com o maior valor para locações e vendas, como é o caso do Nova Ourinhos, Vila Soares, entre outros. A Portal Imóveis, por sua vez, afirmou que o que determina o valor dos imóveis é a distância em relação ao centro, o que definitivamente não concorda-se afinal o que dizer de bairros como Quebéc e Vila Soares, que são afastados e considerados bons e valorizados. A Christoni Imóveis declarou que “A valorização de um loteamento depende de: 1º: proximidade do centro da cidade. 2º: nível da construção executada em um loteamento”.

9 Foram realizadas entrevistas nas imobiliárias: Portal Imóveis, Umberto Imóveis, Imobiliária Beto Mella,

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O Royal Park se mostrou um dos metros quadrados mais caros de Ourinhos, (ver tabela 1, p.13), pois possui casas de alto padrão, serviços urbanos satisfatórios e principalmente, trata-se de um condomínio fechado de alto padrão:

O mapa do censo demográfico do IBGE (2000) relativo à população que tem salários entre 1 e 2 salários mínimos é bastante esclarecedor acerca da espacialização da pobreza em Ourinhos:

Mapa 2

Ourinhos: Pessoas responsáveis por domicílios que recebem entre 1 e 2 salários mínimos:

Fonte: IBGE (2000)

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Mapa: 3

Ourinhos: Pessoas responsáveis por domicílios que recebem mais de 20 salários mínimos:

Fonte: IBGE (2000)

Assim, analisando a distribuição da renda no espaço urbano de Ourinhos pode-se constatar que os setores10 periféricos apresentam maiores proporções com pessoas de baixa renda, especialmente a região abaixo da Rodovia Raposo Tavares. O mapa com a localização dos setores onde a população recebe mais de 20 salários mínimos, mostra a concentração desse atributo na área mais central e nos bairros Nova Ourinhos, Vila Soares, Jardim Tropical, e Jardim Paulista.

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O projeto do Contorno Ferroviário11 realizado pela Prefeitura Municipal de Ourinhos possui preço elevado o que contraria boa parte das opiniões em relação a essa grande obra. As justificativas para a retirada dos trilhos se pautam em proposições de que haverá12 nos próximos anos aumento da produção de etanol, sendo Ourinhos produtor e exportador desse produto. Acredita-se que Ourinhos tornar-se-ia um entroncamento ferroviário e isso facilitaria o escoamento do etanol.

Um dos traçados do desvio é a ferrovia passar pela Avenida da Fapi, região onde há propriedade de Jacintho Ferreira de Sá. O trajeto original é de transferir o pátio de manobras da região central de Ourinhos para a região rural de Guaraiúva. Os trens viriam de Canitar e na região do Distrito Industrial II Oriente Mori, atravessariam a Rodovia SP-270 por um túnel, entrariam na Fazenda Santa Maria e seguiriam até o Jardim Itamaraty. Uma parte seguiria com destino à ponte Mello Peixoto e uma parte seguiria até a Avenida FAB para chegar até a Guaraiúva.

Com isso, se o projeto se concretizar já se pode dizer que deve facilitar o escoamento da produção do etanol como foi proposto, muito embora até o momento o mesmo tenha ocorrido através do transporte rodoviário. De qualquer forma, muitas cidades importantes como Marília e Curitiba conseguiram conciliar os trilhos dentro da cidade. No caso de Londrina no norte paranaense, a proposta de retirada dos trilhos foi executada e com o crescimento da cidade, a área urbana novamente adentrou os trilhos. Além dessa possibilidade, devemos lembrar que Ourinhos possui uma área total pequena (296 Km²) provavelmente, no caso da retirada dos trilhos do trem, no futuro a cidade pode sofrer o mesmo processo que Londrina, além de que, a área proposta para o contorno ferroviário não é muito distante da área urbana da cidade.

Com relação aos empecilhos que os trilhos causam na área urbana devido ao trânsito que se congestiona quando o trem passa, lembra-se que é possível a construção de viadutos e outras obras para resolver a questão, tais como o viaduto da Vila Margarida (Rua 9 de julho com Avenida Rodrigues Alves ) e da Vila Mano (Rua São Paulo), ou até outras soluções urbanísticas menos onerosas.

11Segundo o Jornal Negocião o governo federal liberou R$ 1,3 milhão, com contrapartida de R$ 300 mil

do município, para contratar a empresa que vai elaborar o projeto técnico e iniciar os estudos para a construção do desvio de 17 quilômetros. A licitação foi vencida pela Astec de São José do Rio Preto embora ainda haja muitas divergências especialmente políticas a esse respeito. As obras não começaram ainda, pois há entraves devido á licença ambiental. O projeto inicial está avaliado em mais de R$ 1,5 milhão, sendo que R$ 300 mil é contrapartida da Prefeitura, o governo federal já depositou a R$ 1,3 milhão de uma obra avaliada em mais de R$ 155 milhões. Existe a possibilidade da obra do contorno ferroviário ser incluída no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).

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Porém não se concorda com aqueles que afirmam que a retirada da linha férrea da área central acabaria com a segregação socioespacial, uma vez que a nova área seria valorizada pela proximidade do centro, que ficaria sem “barreiras físicas” e seria ocupada por serviços, comércios ou residências de classes abastadas, logo o problema não é a linha férrea e sim o valor do uso do solo que não é acessível à maioria das pessoas. Outra questão é que não há no momento demanda de expansão imobiliária tão intensa que justifique uma obra de custos tão elevados, mesmo porque a expansão imobiliária se dá em duas vertentes da cidade: leste em conjuntos habitacionais destinados as classes baixas e Sul, para classe média e média alta.

Foi possível compreender que o espaço urbano é atualmente controlado pela ação de duas loteadoras, Grupo Santa Paula e Delfim Verde13 e pelos grandes proprietários fundiários que controlam o acesso ao espaço urbano, determinam o preço do solo as direções de crescimento da cidade, além do próprio mercado imobiliário que regula os preços do solo.

A linha férrea se apresentou como um fator de segregação socioespacial, no passado, com relação à área central antiga, já historicamente segregada, separada pela linha férrea da Sorocabana em “para cima” e “para baixo” da linha. Aponta-se a segregação socioespacial referente às duas rodovias que perpassam o município, constituindo novas direções para a periferização de Ourinhos e a conseqüente segregação socioespacial.

Isso porque Ourinhos cresceu demasiadamente entre as décadas de 1960 e 1980 com a chegada das rodovias já citadas, juntamente a intensa ação de promotores imobiliários associados aos interesses dos proprietários fundiários, quando ocorreu a intensa periferização da cidade. As rodovias são o atual fator de segregação socioespacial em Ourinhos, devido à distância que os bairros próximos as rodovia possuem em relação ao centro e pela ação do próprio mercado imobiliário que os discrimina por não possuírem os atributos que valorizam o solo urbano.

Esta outra segregação socioespacial relacionada à Rodovia Raposo Tavares separa a parte leste da cidade de Ourinhos e se apresenta degrada em muitos locais. Nesse caso, o Estado, um dos principais agentes que atuam nesse processo de segregação, constrói moradias em locais periféricos distantes da área central. A Rodovia

13 A Delfim Verde está relacionada aos empreendimentos voltados as classes media alta e alta, e é

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Mello Peixoto, também apresenta um fator de segregação socioespacial, mas ressalta-se, que nos últimos anos as ações da Prefeitura Municipal de Ourinhos, as melhorias proporcionadas pelo PAC e a ações da incitativa privada, têm culminado com uma discreta valorização imobiliária do local.

A tabela relativa aos valores dos terrenos mostra claramente as áreas mais valorizadas e as desvalorizadas pelo mercado imobiliário:

Tabela 1:

Valor do metro quadrado por bairro, nos terrenos disponíveis em Ourinhos.

Valor do m² Valor médio do

Bairro Imobiliária metragem Terreno (m²)

Valor (R$)

(R$) m² (R$)

Aelo** 250 13.000,00 52,00

ÁGUAS DO ELOY

Particular** 250 14.000,00 56,00 54,00

RT Imóveis* 360 20.000,00 55,55

ANCHIETA

Aelo* 360 25.000,00 69,44 62,49

BOA

ESPERANÇA Particular** 250 20.000,00 80,00 80,00

BRASIL Particular** 562 27.000,00 48,04 48,04

Particular** 180 20.000,00 111,11

BRILHANTE

Particular** 255 25.000,00 98,04 104,57

CALIFÓRNIA Sérgio

Negócios**** 530 20.000,00 38,00 38,00

Aelo* 451 190.000,00 421,28

Particular** 363 100.000,00 275,48

CENTRO

Terra Aurei** 555 320.000,00 576,57

424,44

CHRISTONI Negócios**** Sérgio 1014 40.000,00 39,00 39,00

CRISTAL Particular** 250 35.000,00 140,00 140,00

ELDORADO Shaloon* 250 15.000,00 60,00 60,00

Particular** 168 30000 178,57

ESTORIL

Particular** 360 60.000,00 166,67 172,62

Particular** 128 6.000,00 46,88

Particular** 300 20.000,00 66,67

FLÓRIDA

Particular** 200 15.000,00 75,00

62,85

Particular** 300 50.000,00 166,67

FURLAN

Terra Aurei** 637 60.000,00 94,19 130,43

GUAPORÉ Particular** 250 9.000,00 36,00 36,00

RT Imóveis** 250 18.000,00 72,00

ITAMARATY

Particular** 250 20.000,00 80,00 76,00

JD. DAS FLORES Irmãos Coppi**** 250 31.000,00 124,00 124,00

(14)

Confiança Imóveis* 360 35.000,00 97,22

Terra Aurei** 300 75.000,00 250,00

Terra Aurei** 490 70.000,00 142,85

MATILDE

Perez* 447 60.000,00 134,22

156,07

Particular** 300 120.000,00 400,00

MORAES

Confiança Imóveis* 330 85.000,00 257,00 328,50

MUSA Particular** 380 40.000,00 105,26 105.26

Particular** 300 38.000,00 126,67

Particular** 378 50.000,00 132,28

NAZARÉ

Particular** 360 40.000,00 111,11

123,35

Umberto* 525 100.000,00 190,48

Particular** 580 75.000,00 129,31

Particular** 360 55.000,00 152,78

NOVA OURINHOS

Aelo* 525 85.000,00 161,90

158,61

Shaloon* 300 26.000,00 86,67

NOVA SÁ

Particular** 300 26.000,00 86,67 86,67

ODILON Particular** 180 24.000,00 133,33 133,33

OPERÁRIA Beto Mella****** 726 28.000,00 38,56 38,56

Confiança imóveis* 230 32.000,00 139,13

ORIENTAL

Particular** 230 33.000,00 143,48

141,30

Particular** 360 40.000,00 111,11

OURO FINO

Particular** 300 33.000,00 110,00 110,55

OURO VERDE Particular***** 432 60.000,00 139,00 139,00

PACHECO

CHAVES Terra Aurei**** 360 15.000,00 41,00 41,00

Aelo* 300 30.000,00 100,00

Beto Mella** 300 30.000,00 100,00

PAINEIRAS

Particular** 250 30.000,00 120,00

106.66

PARIS Beto Mella** 360 20.000,00 55,55 55,55

PAULISTA Particular** 360 65.000,00 180,56 180,56

PERINO Particular** 600 60.000,00 100,00 100,00

PQ. MINAS

GERAIS Confiança imóveis* 300 27.000,00 90,00 90,00

PRIMAVERA Particular**** 300 35.000,00 116,00 116,00

QUEBEC Particular** 250 25.000,00 100,00 100,00

RECANDO DOS

PASSAROS Particular** 200 19.000,00 95,00 95,00

ROYAL PARK Terra Aurei* 450 200.000,00 444,44 444,44

Particular** 250 38.000,00 152,00

Perez** 275 45.000,00 163,63

SANTA FÉ

Aelo** 320 45.000,00 140,00

151,87

SANTA

(15)

SANTOS

DUMONT Particular** 250 20.000,00 80,00 80,00

SÃO FRANCISCO Beto Mella* 330 20.000,00 60,00 60,00

SÃO JOSÉ Irmãos Coppi**** 352 32.000,00 91,00 91,00

SÃO SILVESTRE RT Imóveis* 360 45.000,00 125,00

SÃO SILVESTRE DJ Faria** 360 38.000,00 105,56 115,28

SOARES Particular** 300 46.000,00 153,33 153,33

VALE VERDE Umberto* 180 14.000,00 77,77 77,77

VILAR VILLE Particular** 360 50.000,00 138,89 138,89

VISTA ALEGRE Particular****** 250 15.000,00 60,00 60,00

Fonte: Jornal Negocião * 30/06/2009 à 07/07/2009 ** 08/07/2009 à 14/07/2009 ***15/07/2009 à 22/07/2009 ****23/07/2009 à 28/07/2009 *****29/07/2009 à 04/08/2009 ******26/08/2009 à 01/09/2009

Adaptado por Franciele Miranda Ferreira Dias.

Concluí-se que Ourinhos possui uma segregação socioespacial que é associada à linha férrea da Sorocabana, no que compete à histórica divisão entre os “centro novo”, da região sul de Ourinhos e o “centro velho” localizado na região norte, onde a região norte representada pelo Bairro Barra Funda é o bairro segregado e degradado. Essa segregação historicamente determinada pela linha férrea não é suficiente para explicar a segregação em outras direções na cidade.

Portanto, Ourinhos é uma cidade que ainda apresenta um espaço urbano atrelado aos processos produtivos do passado, devido à Ferrovia Sorocabana, mas que possui uma nova determinação de intensa periferização em razão da atuação do Estado na criação de novos núcleos de pobreza da mesma forma que atua em benefício daqueles que detém a posse da terra urbana.

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