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O perfil do visitante do Parque Nacional de São Joaquim (SC): breves considerações

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O PERFIL DO VISITANTE DO PARQUE NACIONAL DE SÃO

JOAQUIM (SC): BREVES CONSIDERAÇÕES

THE PROFILE OF THE VISITOR OF THE SÃO JOAQUIM

NATIONAL PARK (BRAZIL): BRIEF CONSIDERATIONS

EL PERFIL DEL VISITANTE DEL PARQUE NACIONAL DE

SAN JOAQUIM (BRAZIL): BREVES CONSIDERACIONES

Melissa Maria Hurtado Alvarez1

Jasmine Cardozo Moreira2

Robert Clyde Burns3

Valéria de Meira Albach4

Resumo: A visitação é uma das atividades em Parques Nacionais e conhecer o perfil dos visitantes é importante para a gestão da UC. No Parque Nacional de São Joaquim (SC), a pesquisa objetivou verificar o perfil do visitante e a metodologia englobou embasamento bibliográfico e elementos do Programa “National Visitor Use Monitoring”, do Serviço Florestal Americano. Foram analisados 47 questionários, contendo questões sócio-demográficas, de motivação e satisfação, relacionadas à experiência na UC. Nas conclusões o perfil é apresentado. Por fim, percebeu-se que pesquisas desse tipo são importantes para auxiliar os gestores a desenvolverem melhores programas de uso público.

Palavras-chave: Unidade de Conservação. Uso Público. Perfil do visitante. Parque Nacional de São Joaquim. Abstract: Visitation is one of the activities in the National Parks and to know the profile of visitors is important for the management of the protected area. In São Joaquim National Park (SC), the research aimed to verify the profile of the visitor and the methodology encompassed bibliographic research and elements of the National Visitor Use Monitoring Program from the United States Forest Service. We analyzed 47 questionnaires, containing socio-demographic, motivation and satisfaction questions, related to the experience in the protected area. In the conclusions, the profile is presented. It was perceived that research of this type is important to help managers to develop better public use programs.

Keywords: Conservation Unit. Public Use. Visitor Profile. São Joaquim National Park.

Resumen: La visita es una de las actividades en Parques Nacionales y conocer el perfil de los visitantes es importante para la gestión del área protegida. En el Parque Nacional de São Joaquim, la investigación tuvo como objetivo verificar el perfil del visitante y la metodología englobó una base bibliográfica y elementos del Programa "National Visitor Use Monitoring", del Servicio Florestal de Estados Unidos. Fueron analizados 47 cuestionarios con preguntas socio-demográficas, de motivación y satisfacción relacionadas a la experiencia. En las conclusiones, se presenta el perfil. Se percibió que las investigaciones de este tipo son importantes para ayudar a los gestores a desarrollar mejores programas de uso público.

Palabras-clave: Unidad de Conservación. Uso Público. Perfil del visitante. Parque Nacional de São Joaquim.

Envio 10/11/2018 Revisão 12/11/2018 Aceite 10/06/2019

1 Graduada em Turismo. Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG. E-mail:

melissamariahurtado@gmail.com .

2 Doutora em Geografia. Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG. E-mail: jasmine@uepg.br .

3 Doutor em Estudos do Lazer. Universidade de West Virginia. E-mail: Robert.Burns@mail.wvu.edu .

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Introdução

Pesquisas sobre o perfil dos visitantes em Unidades de Conservação Brasileiras ainda são escassas e falta padronização na coleta de dados do visitante. Contudo, conhecer o perfil do visitante é importante para o manejo de uma Unidade de Conservação e pode auxiliar na tomada de decisões por parte dos gestores. Além disso, essa é uma demanda que integra o Manejo de Impactos de Visitação em áreas protegidas.

Para suprir essa lacuna, a pesquisa intitulada “Turismo, Manejo de Uso Público e a Percepção do Visitante: Coleta de dados e Pesquisa em Áreas Protegidas” começou a ser realizada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR) e a Universidade de West Virginia (Estados Unidos), em 2014. A pesquisa foi feita em parceria com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o US Forest Service - International Programs (Programas Internacionais do Serviço Florestal dos EUA) e o Laboratório de Turismo em Áreas Naturais. Uma das finalidades da pesquisa foi permitir que os gestores, pesquisadores e instituições envolvidas pudessem compreender melhor as Unidades de Conservação (UCs) pesquisadas. Os dados foram coletados por meio de tablets em diversas UCs brasileiras, principalmente Parques Nacionais. Foi criado um banco de dados, disponível online para os pesquisadores envolvidos no projeto.

Objetivando a análise e interpretação desses dados coletados nas UCs, projetos de pesquisa de Iniciação Científica foram elaborados e acadêmicos de turismo foram convidados para participar. Deste modo, com os dados em mãos, os acadêmicos fizeram a análise, elaboraram gráficos, relatórios e artigos.

Assim, uma das UCs que integrou esse projeto foi o Parque Nacional de São Joaquim (PNSJ).

O PNSJ é uma Unidade de Conservação Federal inserida no bioma Mata Atlântica e situada no Sul do país, na região serrana do estado de Santa Catarina (SC). Encontra-se em quatro municípios catarinenses: Orleans, Grão Pará, Bom Jardim da Serra e Urubici. Segundo o ICMBio (2016), o Parque foi criado com o objetivo de proteger os remanescentes de Matas de Araucárias, somando-se à relevância das terras, flora, fauna e belezas naturais, encontradas nos seus 49.300 hectares. A criação foi feita através do Decreto Federal n° 50.922, em julho de 1961 (Brasil, 1961).

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Deste modo, este artigo apresenta a análise feita com os dados coletados no PNSJ, e descreve o perfil do visitante.

Materiais e Métodos

Para a realização desta pesquisa, foram feitas pesquisas bibliográficas e utilizados os dados coletados in loco, através das entrevistas realizadas diretamente com os visitantes.

A metodologia utilizada para as entrevistas foi baseada na metodologia do Programa Nacional de Monitoramento de Uso Público (National Visitor Use Monitoring Program-

NVUM). Esse Programa é o que o Serviço Florestal dos Estados Unidos usa para entender o uso

dos visitantes em suas Florestas Nacionais (USFS, 2015). No Brasil, foram feitas entrevistas adaptadas para a realidade nacional, através de questionários em tablets utilizando o programa

Droid Survey, que envia via internet os dados coletados, para um serviço de armazenamento na

nuvem (Moreira & Burns, 2015) Os questionários possuíam versões em português, inglês, francês e espanhol.

Essa metodologia começou a ser usada no Brasil na Floresta Nacional do Tapajós (PA), entre 2014 e 2016 (Burns et al., 2017), Parque Estadual de Vila Velha (Moreira & Burns, 2016), e no Parque Nacional de Anavilhanas (AM) (Moreira, Burns, Gregory, Gregory, & Santos, 2018). Outras UCs que utilizaram esse modelo de questionário, além do PNSJ, foram os Parques Nacionais de Tumucumaque (AP), Chapada dos Veadeiros (GO), Jericoacoara (CE) e Campos Gerais (PR). O intuito foi iniciar uma base de dados, traçar um perfil e compreender a percepção dos visitantes, através do questionário. A autorização para a pesquisa em todas essas UCs possuía o SISBIO n° 42819-7.

No PNSJ, os dados foram coletados por voluntários. O questionário era composto por 29 perguntas, sendo 13 questões abertas e 16 fechadas, e em algumas era possível escolher mais de uma opção. Em algumas perguntas foi utilizada a Escala de Likert, escala psicométrica que avalia a opinião em relação à algo. A escala vai de 1 à 5, sendo 1= ruim e 5= excelente (Likert, 1932).

Após, foram contabilizadas as respostas de cada questionário e os resultados foram tabulados. Para entender o perfil do visitante, o questionário utilizado (Burns et al., 2017), possui questões do tipo sócio-demográficas, características da viagem, características dos

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grupos, motivação principal da visita, grau de satisfação de acordo com determinadas categorias, e perguntas relacionadas à experiência no Parque.

Como parte da Iniciação Científica realizada no Laboratório de Turismo em Áreas Naturais (LABTAN), e com o apoio da equipe local, foram elaboradas os quadros com os resultados dos questionários. O tratamento dos dados foi feito no Laboratório de Recreação ao Ar Livre (Outdoor Recreation Laboratory), na Universidade de West Virginia (Estados Unidos), utilizando o software de análises estatísticas SPSS, Statistical Package for the Social

Sciences (Pacote Estatístico para as Ciências Sociais). Esse software oferece análise estatística

avançada.

A área de estudo

O Parque Nacional de São Joaquim (PNSJ) integra o bioma Mata Atlântica. A administração do Parque é feita pelo ICMBio, órgão ambiental do governo brasileiro criado para executar as ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Além de fomentar e realizar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade, o ICMBio possui como missão no PNSJ conservar os ecossistemas existentes na UC e promover a educação ambiental, a pesquisa e a visitação pública, garantindo a todos os benefícios que os recursos naturais propiciam de forma responsável (ICMBio, 2016).

A criação do Parque foi feita em 1961, com aproximadamente 49.300 hectares. Tais limites foram alterados em 2016, pela Lei n. 13.273 (Brasil, 2018) perfazendo agora uma área total aproximada de 49.800 hectares.

Segundo o ICMBio (2016), o PNSJ foi criado com o objetivo de proteger os remanescentes de Matas de Araucárias, bem como devido à relevância das suas terras, flora, fauna e belezas naturais. De acordo com o Relatório Parametrizado da Unidade de Conservação, do Ministério do Meio Ambiente (2018), seu clima de frio intenso não permite o desenvolvimento de muita fauna. O Bioma declarado é o da Mata Atlântica e neste destaca-se além da preservação das Matas de Araucárias, também a salvaguarda dos Campos de Altitude e das Matinhas Nebulares. As rochas que formam o Parque são de origem vulcânica e datam de 133 milhões de anos. Seu relevo é irregular, e pode variar de 300 metros a 1800 metros de altitude e as temperaturas no Parque podem chegar até 13° graus Celsius negativos. A UC abriga também uma área de recarga e descarga do Aquífero Guarani e os principais rios de

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Santa Catarina nascem na UC. Seu Plano de Manejo foi publicado pela portaria n. 811 de 21 de Setembro de 2018 (Ministério do Meio Ambiente, 2018).

Esse Plano de Manejo segue uma metodologia diferenciada, baseada no modelo americano denominado “Foundation Document”, ou “Documento Alicerce”, usado pelos Parques Nacionais Americanos. Esta metodologia unifica a abordagem de Planos de Manejo para distintas categorias de Unidades de Conservação e simplifica o processo de elaboração, além de otimizar tempo e recursos. O Plano foi elaborado de forma participativa e contou com o envolvimento de representantes do Conselho Consultivo, de prefeituras do entorno do Parque, dos proprietários de áreas não indenizadas da unidade, além de pesquisadores, condutores e servidores do ICMBio. Essa ação foi possível graças a parceria entre ICMBio, USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), Serviço de Parques Nacionais dos Estados Unidos e Serviço Florestal dos EUA. De acordo com o chefe da unidade, com os novos limites definidos e com o Plano de Manejo publicado, é possível avançar nas ações de gestão da UC e em questões estratégicas tais como as relacionadas ao ordenamento do uso público e regularização fundiária (ICMBio, 2018).

O Parque possui diversos atrativos e entre eles estão o Morro da Igreja e a vista da Pedra Furada. O Morro da Igreja possui 1822 metros de altitude e é considerado o terceiro morro mais alto de Santa Catarina. No topo do Morro da Igreja está instalado o Centro Integrado de Defesa da Área e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA II) da Força Aérea Brasileira e isso faz com que a partir de determinado ponto, o acesso de visitantes não seja permitido.

A aeronáutica também proíbe o trânsito de vans com mais de 18 passageiros, ônibus, micro-ônibus, caminhões e máquinas. Além das vans, está permitido o trânsito de pedestres, ciclistas e veículos leves, como motocicletas e automóveis (ICMBio, 2016). Estudos realizados por Detzel et al. (2018) indicam que a estrada de acesso encontra-se em condições precárias, com pontos de desgastes e risco de colapso de cortinas de sustentação. De acordo com os mesmos autores, estão previstas obras de reforço e nova pavimentação, além da construção de um mirante e um portal de entrada. Este é o ponto de maior pressão de visitação na UC.

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Figura 1 – À esquerda na foto, a Pedra Furada, observada a partir do Morro da Igreja. Fonte: Autores (2017)

A Pedra Furada é uma formação rochosa natural localizada em frente ao Morro da Igreja, com aproximadamente 30 metros de circunferência. Encontra-se dentro da área militar, e para realização da trilha até o local é preciso um guia e permissão da aeronáutica. No Morro da Igreja há um grande fluxo de visitantes: em 2017 foram 119.631 visitantes neste local (Detzel et al. 2018). Esta UC ocupou a 10a posição entre as UCs federais com mais visitação em 2015.

A visitação ao Parque ocorre durante todo o ano, das 08h00 até as 18h00 sem a cobrança de ingressos. A partir de novembro de 2013 o acesso ao Morro da Igreja foi limitado, devido a pequena quantidade de vagas de estacionamento de veículos neste atrativo e a fragilidade ambiental (ICMBio, 2016). As autorizações para que os visitantes possam ir até a área devem ser retiradas na sede do Parque.

Resultados e Discussões

Conforme explicado na metodologia, os resultados demonstram um levantamento básico de visitantes na Unidade de Conservação.

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Em relação à demografia, a maioria dos respondentes era do sexo masculino (89,4%) e somente 10,6% do sexo feminino. A média de idade dos visitantes foi de 44 anos, sendo que mais da metade (57,4%) dos visitantes tinham entre 41-60 anos de idade. Somente 2,1% tinha entre 16-20 anos e 10,7% tinha entre 61-70 anos, e 10,6% tinha entre 21-30 anos (Quadro 1).

Quadro 1 - Demografia

Idade Frequência Porcentagem válida 16-20 1 2,1 21-30 5 10,6 31-40 11 23,3 41-50 13 27,6 51-60 14 29,8 61-70 5 10,7 Fonte: Autores (2017)

A maioria (40,4%) dos respondentes tinha ensino superior completo, seguido de ensino médio (29,8%), pós-graduação (14,9%) e superior incompleto (12,8%). A minoria (2,1%) tinha somente ensino fundamental.

Todos os visitantes entrevistados eram de nacionalidade brasileira. A maior parte dos entrevistados (44,7%) eram residentes do Estado de Santa Catarina, enquanto a segunda maior parte (25,5%) eram do Rio Grande do Sul, e o Paraná aparece com 8,5%. Esse resultado mostra que possivelmente a proximidade foi um fator que influenciou na realização da viagem. São Paulo aparece em grande proporção (12,8%). Outros sete estados também estão representados na amostra com 2,1% cada um. São eles Distrito Federal, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Norte.

As análises sobre as características da viagem indicaram que mais da metade dos entrevistados (68,1%), estavam visitando o PNSJ pela primeira vez, enquanto 31,9% já tinham visitado a UC. Entre esses que já tinham visitado a UC, um terço deles (33,4%) visitou o Parque entre os anos 1996 a 2005 e a maior parte dos entrevistados (53,3%) esteve no Parque pela

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primeira vez do ano 2011 em diante. Somente uma pessoa esteve na UC antes de 1995 (6,7%) e uma entre 2006 e 2010 (6,7%).

Um total de 39 pessoas entrevistadas responderam pernoitar durante a viagem. No entanto, os passeios de um dia tiveram uma duração em média de quatro horas (média = 4,13). A maior parte dos entrevistados (44,7%) indicaram que visitaram o Parque Nacional de São Joaquim em família, a segunda maior porção (40,4%) indicou ter visitado em casal e somente uma pessoa entrevistada indicou ter visitado o parque sozinho. Já 6,4% estava realizando a visita com amigos e 6,4% estava acompanhado de família e amigos.

Em relação ao transporte, a maioria dos entrevistados (87,2%) chegou ao PNSJ utilizando um carro privado como meio de transporte, enquanto uma pequena parte (12,7%) utilizou uma moto. Nenhuma pessoa entrevistada indicou ter visitado o parque por meio de ônibus de linha, ônibus privado, táxi ou algum outro meio de transporte. Neste caso cabe ressaltar que para visitar o Morro da Igreja, é proibido o acesso com ônibus ou micro-ônibus. Esse fato e o de que vans acima de 18 passageiros tem a sua passagem proibida na estrada de acesso até o Morro da Igreja certamente influenciaram nessa resposta.

Aproximadamente um quarto dos entrevistados (23,4%) indicou ter planejado a viagem com antecedência de 4-7 dias. Outra parte (19,1%) indicou ter planejado com 15 dias à um mês de antecedência. No geral, neste item as respostas foram bem diversificadas (Quadro 2).

Quadro 2 - Antecedência no planejamento da viagem Dias de antecedência Frequência Porcentagem válida

Hoje 8 17 2-3 dias 6 12,8 4-7 dias 11 23,4 8-14 dias 2 4,3 15 dias-1 mês 9 19,1 1-3 meses 7 14,9 Mais de 3 meses 4 8,5 Fonte: Autores (2017)

Grande parte (68,1%) dos grupos de visitantes era composto de dois adultos, 23,4 % eram grupos entre 3 e 4 pessoas, somente um grupo (2,1%), tinha mais de 5 pessoas e 3 pessoas

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(6,4%) estavam visitando o Parque sozinhas. No total, a média foi de 2,38 pessoas por grupo. Somente 2,1% dos entrevistados estavam em grupos com cinco ou mais pessoas. Os grupos estavam acompanhados em média de uma criança abaixo de 16 anos (média = 1,60).

Percebeu-se que a maioria dos visitantes (66%) entrevistados tinham conhecimento de que estavam visitando uma Unidade de Conservação considerada Parque Nacional, enquanto 34% não tinham esse conhecimento. Entre esses que não sabiam que estavam em uma UC, 43,8% tomaram conhecimento durante a entrevista (Quadro 3). Neste caso, talvez o fato de que a estrada de acesso até o Morro da Igreja possui o controle pela aeronáutica, pode ter influenciado nessa resposta.

Quadro 3 – Visitantes que não sabiam que estavam em uma UC e como descobriram

Conhecimento sobre estar em uma Unidade de Conservação Frequência Porcentagem válida Informação no centro de visitante 2 12,5

Informação foi dada por alguém do ICMBio

1 6,3

Informação foi dada pelo guia 3 18,8 Placas ou painéis 1 6,3 Informação durante a entrevista 7 43,8 Outros 2 12,5 Fonte: Autores (2017)

Todos os visitantes entrevistados indicaram que a atividade realizada durante a visita foi conhecer famosa atração turística da região, ou seja, o Morro da Igreja. Além dessa atividade, os visitantes também indicaram ter feito caminhada/trilha (19,1%) e a observação de animais (19,1%) como atividade primária.

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Em relação aos domínios de qualidade (Quadro 4), foi perguntado aos visitantes sobre determinados itens: a limpeza da área, a proteção e segurança, as condições da trilha, vias de acesso, instalações e a interpretação ambiental disponível na área. Caso o visitante não pudesse opinar, havia a opção não aplicável. Para cada um dos itens, o visitante deveria avaliar com uma nota de 1 à 5 (Escala de Likert), sendo 1 ruim, 2 razoável, 3 boa, 4 muito boa e 5 excelente. Foi também calculada a média para cada um dos itens.

Quadro 4 - Domínios de qualidade

Item Ruim Razoável Boa Muito boa Excelente Não aplicável Média Limpeza da área 4,3 6,4 44,7 23,4 21,2 --- 3,51 Proteção e segurança 2,1 4,3 36,2 31,9 23,4 2,1 3,72 Condição da trilha 2,1 2,1 10,7 14,9 19,1 51,1 3,96 Vias de acesso 6,4 2,1 42,6 29,8 19,1 --- 3,53 Instalações 4,3 10,6 25,5 25,5 21,3 12,8 3,56 Interpretação ambiental (painéis, guias, folhetos etc.)

10,6 19,1 21,3 23,4 17,0 8,6 3,19

Fonte: Autores (2017)

Observou-se que o item melhor avaliado pelos visitantes entrevistados foi a condição da trilha, com uma média de 3,96. Entretanto, esse também foi o item que recebeu a maior classificação “não aplicável”, com 51,1%. O segundo item melhor avaliado dentro do PNSJ foi a proteção e segurança (média=3,72). Tal fato pode ter se dado porque a área do Morro da Igreja é controlada pela aeronáutica. Para 44,7% dos entrevistados a limpeza da área foi considerada boa. Já a menor nota da avaliação foi dada ao item interpretação ambiental (média=3,19). Este resultado pode ter se dado devido ao fato de que não há painéis interpretativos na área do Morro da Igreja. Por fim, uma pequena porcentagem dos entrevistados (10,7%) classificou as instalações e vias de acesso como ruim (média=3,53).

Uma escala negativa e positiva de 9 pontos (onde -4 = reduziu a minha satisfação, 0 = sem efeito, 4 = melhorou a minha satisfação) foi aplicada para verificar se os visitantes sentiam-se aglomerados ou não, e sentiam-se o número de pessoas no local melhorava ou não a sua satisfação enquanto visitava a UC. Essa escala foi definida por Burns & Moreira (2015). Números negativos indicam redução na satisfação, enquanto números positivos indicam o aumento na

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satisfação. Foi verificado que nenhum entrevistado relatou impacto reduzido devido à presença de outros visitantes. Uma parte dos entrevistados (25,5%) consideraram que a presença dos outros visitantes não teve efeito no seu nível de satisfação geral. Por outro lado, grande porcentagem dos entrevistados (74,4%) reportou que a presença de outros visitantes aumentou a sua satisfação durante a experiência dentro do parque (Quadro 5).

Quadro 5 - Impacto causado por outros visitantes

Sem efeito Aumentou a satisfação

0 1 2 3 4

25,5% 2,1% 10,6% 17% 44,7%

Fonte: Autores (2017)

Em relação a principal razão da visita, mais da metade dos entrevistados (66%, n=31) responderam que sua razão principal da visita foi ter contato com a natureza. Outras dez pessoas (21,3%) indicaram que a razão da sua visita foi porque é um bom lugar para conhecer a cultura da região. Apenas 6,4% (n=3) respondeu que tinha ido até o local para praticar atividades ao ar livre e 4,3% (n=2) para passar mais tempo com a família. Somente 2,1% (n=1) dos visitantes optaram pela opção de visitar o parque devido à proximidade da UC com as suas residências. Quase a totalidade dos entrevistados (95,7%) responderam que retornariam ao Parque Nacional de São Joaquim. Além disso, quase todos os visitantes entrevistados (97,9%) afirmaram que indicariam e recomendariam a visita para outras pessoas. Tais resultados demonstram que os entrevistados ficaram satisfeitos com a sua visita.

Conclusão

Estudos sobre o perfil de visitantes em Unidades de Conservação são escassos no Brasil e por isso foi realizada a pesquisa “Turismo, Manejo de Uso Público e a Percepção do Visitante: Coleta de dados e Pesquisa em Áreas Protegidas”. A coleta de dados foi feita em diversas UCs brasileiras, entre elas o Parque Nacional de São Joaquim. A finalidade da pesquisa era coletar dados para que os gestores e pesquisadores pudessem ter informações sobre o perfil dos visitantes, bem como compreender melhor as UCs pesquisadas.

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Os dados coletados no PNSJ aqui apresentados estão relacionados também à satisfação e experiência durante a visita ao PNSJ. Esta amostra não apresentou dados referentes à visitantes estrangeiros, o que pode ser uma limitação. Os estudos demonstraram que alguns visitantes somente souberam que o local era uma Unidade de Conservação devido à pesquisa, o que evidencia a importância de prover meios interpretativos.

O perfil observado foi o de visitantes que possuem por volta de 44 anos de idade, brasileiros e a maioria com ensino superior completo. A demanda estadual foi a mais expressiva, e grande parte estava visitando o PNSJ pela primeira vez. A maioria fez a visita com a família utilizando carro privado, e a antecedência no planejamento da viagem foi bem variada. Os grupos eram em sua maioria compostos por dois adultos, e muitos descobriram que estavam visitando uma Unidade de Conservação durante a entrevista. Todos os entrevistados indicaram que a atividade realizada durante a visita foi conhecer o Morro da Igreja e quase a totalidade apreciou o fato da UC possuir mais pessoas visitando o local naquele momento. Por fim, quase todos os visitantes retornariam à UC e recomendariam para outras pessoas, o que demonstram que os entrevistados ficaram satisfeitos com a sua visita.

Projetos de Iniciação Científica que podem trazer resultados para os gestores de Unidades de Conservação são importantes, pois podem auxiliar os gestores a entender melhor a atividade de uso público que ocorre na área protegida. Sugere-se que a coleta de dados com os visitantes seja frequente. Ao saber o que o visitante pensa, podem ser realizadas melhorias no uso público e desenvolvidos melhores programas para o manejo de visitação.

Referências

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Figura 1 – À esquerda na foto, a Pedra Furada, observada a partir do Morro da Igreja.  87

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