• Nenhum resultado encontrado

Percepção dos condutores do transporte rodoviário de bubalinos sobre o bem-estar animal e sua influência na qualidade da carcaça e carne / Perception of road transport drivers of buffaloes on animal welfare and its influence on carcass and meat quality

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Percepção dos condutores do transporte rodoviário de bubalinos sobre o bem-estar animal e sua influência na qualidade da carcaça e carne / Perception of road transport drivers of buffaloes on animal welfare and its influence on carcass and meat quality"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761

Percepção dos condutores do transporte rodoviário de bubalinos sobre o

bem-estar animal e sua influência na qualidade da carcaça e carne

Perception of road transport drivers of buffaloes on animal welfare and its

influence on carcass and meat quality

DOI:10.34117/bjdv6n5-352

Recebimento dos originais: 18/04/2020 Aceitação para publicação: 18/05/2020

Hilmanara Tavares da Silva

Mestre em Defesa Sanitária Animal pela Universidade Estadual do Maranhão Instituição: Universidade Estadual do Maranhão

Endereço: Cidade Universitária Paulo VI, Avenida Lourenço Vieira da Silva, n° 1000, Bairro Jardim São Cristóvão, São Luís – MA

E-mail: hilmanara@hotmail.com Giovanni Martins Araújo Júnior

Mestre em Defesa Sanitária Animal pela Universidade Estadual do Maranhão Instituição: Universidade Estadual do Maranhão

Endereço: Cidade Universitária Paulo VI, Avenida Lourenço Vieira da Silva, n° 1000, Bairro Jardim São Cristóvão, São Luís – MA

E-mail: gmaj18@hotmail.com Danilo Cutrim Bezerra

Doutor em Biotecnologia pela Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal Instituição: Universidade Estadual do Maranhão

Endereço: Cidade Universitária Paulo VI, Avenida Lourenço Vieira da Silva, n° 1000, Bairro Jardim São Cristóvão, São Luís – MA

E-mail: danilocbezerra15@gmail.com Hamilton Pereira Santos

Doutor em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Pernambuco Instituição: Universidade Estadual do Maranhão

Endereço: Cidade Universitária Paulo VI, Avenida Lourenço Vieira da Silva, n° 1000, Bairro Jardim São Cristóvão, São Luís – MA

E-mail: hpsluiza@yahoo.com.br Viviane Correia Silva Coimbra

Doutora em Biotecnologia pela Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal Instituição: Universidade Estadual do Maranhão

Endereço: Cidade Universitária Paulo VI, Avenida Lourenço Vieira da Silva, n° 1000, Bairro Jardim São Cristóvão, São Luís – MA

(2)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 Nancyleni Pinto Chaves Bezerra

Doutora em Biotecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia Instituição: Universidade Estadual do Maranhão

Endereço: Cidade Universitária Paulo VI, Avenida Lourenço Vieira da Silva, n° 1000, Bairro Jardim São Cristóvão, São Luís – MA

E-mail: nancylenichaves@hotmail.com Alana Lislea de Sousa

Doutora em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres pela Universidade de São Paulo Instituição: Universidade Estadual do Maranhão

Endereço: Cidade Universitária Paulo VI, Avenida Lourenço Vieira da Silva, n° 1000, Bairro Jardim São Cristóvão, São Luís – MA

E-mail: alislea@hotmail.com

RESUMO

Objetivou-se com o estudo avaliar a percepção dos condutores do transporte rodoviário de bubalinos sobre o bem-estar animal e sua influência na qualidade da carcaça e carne. Para a realização do estudo, aplicaram-se questionários estruturados e semiestruturados a 44 condutores do transporte rodoviário de bubalinos de três abatedouros-frigoríficos. Com o instrumento utilizado na pesquisa obteve-se informações inéditas, como: (i) exclusividade do gênero masculino na atividade; (ii) baixo nível de escolaridade entre os condutores, com predominância do ensino fundamental incompleto e completo; (iii) longo tempo de experiência dos entrevistados na atividade de transporte de bubalinos; (iv) pouco ou nenhum entendimento da responsabilidade com a carga animal transportada, sobretudo, relacionada à necessidade de fornecimento de água aos bubalinos, realização de paradas do veículo para atender às necessidades fisiológicas dos animais, utilização inadequada de dispositivos para o manejo dos bubalinos, seja no embarque, translado ou desembarque e, transporte de alta densidade de carga animal; (v) conhecimentos superficiais ou mesmo ausentes da temática bem-estar animal; e, (vi) não participação dos condutores em treinamentos sobre boas práticas de manejo no transporte de animais o que converge para o não entendimento da influência direta do transporte realizado de maneira inadequado sobre a qualidade da carcaça e carne. Conclui-se que apesar da existência de normas específicas para o transporte de cargas vivas, empresas do setor de abate animal, proprietários e articuladores de negociações negligenciam o assunto. Dessa forma, fiscalizações de trânsito devem ser realizadas no sentido de coibir e disciplinar o trânsito de cargas vivas no estado do Maranhão, orientar condutores do transporte rodoviário de bubalinos sobre a importância da observância dessas leis e das que disciplinam sobre o bem estar animal.

Palavras-Chave: Búfalos, estresse, veículos, produtos cárneos.

ABSTRACT

The objective of the study was to evaluate the perception of road transport drivers of buffaloes about animal welfare and their influence on carcass and meat quality. In order to carry out the study, structured and semi-structured questionnaires were applied to 44 drivers of the road transport of buffaloes from three slaughterhouses. With the instrument used in the research, new information was obtained, such as: (i) exclusivity of the male gender in the activity; (ii) low level of education among drivers, with a predominance of incomplete and complete elementary education; (iii) interviewees' long experience in transporting buffaloes; (iv) little or no

(3)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 understanding of the responsibility for the transported animal cargo, mainly related to the need to supply water to the buffalo, stopping the vehicle to meet the physiological needs of the animals, inadequate use of devices for handling the buffalo, whether on boarding, transfer or disembarkation, and high density transport of animal cargo; (v) superficial or even absent knowledge of animal welfare; and, (vi) the non-participation of drivers in training on good handling practices in the transport of animals, which leads to a lack of understanding of the direct influence of improperly carried out on the quality of the carcass and meat. It is concluded that despite the existence of specific rules for the transport of live cargo, companies in the animal slaughter sector, owners and negotiators neglect the matter. Thus, traffic inspections must be carried out in order to curb and discipline the transit of live cargo in the state of Maranhão, to guide drivers of the road transportation of buffaloes on the importance of observing these laws and those that discipline on animal welfare.

Keywords: Buffaloes, stress, vehicles, meat products.

1 INTRODUÇÃO

A bubalinocultura, nas últimas décadas, ganhou notoriedade no cenário brasileiro por ser uma atividade produtiva e economicamente rentável, com registros no País de 1.470.404 bubalinos (BRASIL, 2016; MACHADO et al., 2016). Das regiões do Brasil, o Nordeste apresenta o segundo maior rebanho bubalino, com 125.603 búfalos, em que se destaca o estado do Maranhão com um quantitativo de 89.196 animais (IBGE, 2017).

Uma das mais expressivas características dos bubalinos é a produção de carne com vistas ao consumo humano. Nessa conjuntura, ressalta-se a exigência por produtos de qualidade, ressaltando a importância da responsabilidade com a produção sustentável e a promoção do bem-estar animal (BEA) que em conjunto propiciam a satisfação do consumidor, com o fornecimento de produtos nutritivos, saborosos e seguros (ALVES et al., 2016).

O BEA assume grande importância quando o assunto é o abate de animais para a alimentação humana com demanda crescente por processos denominados abates humanitários (ROÇA, 2003; GALVÃO et al., 2019). Estes últimos podem ser definidos como “o conjunto de procedimentos técnicos e científicos que garantem o bem-estar dos animais desde o embarque na propriedade rural até a operação da sangria no abatedouro e tem como objetivo reduzir sofrimentos inúteis ao animal a ser abatido” (ROÇA, 2003).

Por muito tempo, o processo de pré-abate dos animais era considerado uma operação tecnológica de baixo nível científico e não se constituía em uma temática comumente pesquisada. Contudo, atualmente, tem-se atribuído grande importância ao tema em decorrência das perdas econômicas decorrentes do manejo ineficaz o que atraiu a atenção de setores de

(4)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 pesquisa para o estudo de métodos que possam identificar fatores desencadeadores de prejuízos para a cadeia produtiva da carne (GUERRERO et al., 2013).

Para Silva & Borges (2015), o BEA é, em partes, resultado da associação das ações voltadas ao manejo pré-abate, sendo responsabilidade conjunta de proprietários, funcionários e articuladores de negociações. Nessa perspectiva, negligenciar alguma dessas etapas pode resultar tanto no aumento dos níveis de estresse (dor ou ferimentos) oriundos da falta de conhecimentos sobre a biologia e comportamento dos animais. Desta forma, objetivou-se com o estudo avaliar a percepção dos condutores do transporte rodoviário de bubalinos sobre o bem-estar animal e sua influência sobre a qualidade da carcaça e carne.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 PÚBLICO ALVO E ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA PESQUISA

Esta pesquisa foi realizada com 44 motoristas do transporte rodoviário de bubalinos, denominados nesse estudo de condutores, de três abatedouros-frigoríficos, sob Serviço de Inspeção Municipal (S.I.M) localizados no município de São Luís – MA. A amostragem foi não probabilística, pois os entrevistados foram selecionados de acordo com o acesso aos mesmos durante o período da pesquisa.

Os três estabelecimentos, a que os transportadores estão vinculados, são responsáveis, conjuntamente, pelo abate de aproximadamente 10.400 bovídeos/mês, oriundos de todo o estado do Maranhão e de outros estados, como Pará. O abastecimento de feiras, mercados e supermercados é realizado em 90% por esses estabelecimentos, sendo uma importante atividade econômica do município (SANTOS et al., 2014).

Todos os entrevistados assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em que foi explicitado que a participação era voluntária e as respostas anônimas, autorizando o uso das informações exclusivamente para a pesquisa. Os questionários e o TCLE foram submetidos ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), por meio do Sistema de Informação Plataforma Brasil do Ministério da Saúde, estando em conformidade com a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde – CNS (BRASIL, 2012). O CEP/UEMA apreciou o projeto desta pesquisa e o aprovou, conforme Parecer nº 27 de 2017

(5)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 2.2 COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada mediante entrevistas estruturada e semiestruturada, com aplicação de questionário de cunho quantitativo, investigativo e descritivo dividido em 04 (quatro) blocos de perguntas: (i) aspectos socioeconômicos – constituído por cinco perguntas; (ii) responsabilidade com a carga viva (bubalinos) constituído por 13 perguntas; (iii) bem-estar animal - constituído por uma pergunta; e, (iv) treinamento – constituído por três perguntas.

Adicionalmente realizaram-se observações diretas in locu para detectar as atitudes e comportamentos dos condutores quanto ao desembarque dos bubalinos nos três abatedouros-frigoríficos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 DADOS SOCIOECONÔMICOS DOS ENTREVISTADOS

A atividade do transporte rodoviário de bubalinos no município de São Luís - MA é exclusivamente masculina. A faixa etária predominante dos atores envolvidos na pesquisa está compreendida entre 30 a 60 anos, representando 70,45% (n= 31) dos entrevistados, com registro de faixa etária mínima entre 20 a 30 anos (15,90%; n= 07) e máxima, acima de 60 anos de idade (13,63%; n= 06).

Para a categoria profissional avaliada, o nível de escolaridade está concentrado, majoritariamente, entre o ensino fundamental incompleto (36,36%; n=16), fundamental completo (25%; n=11) e o médio completo (22,72%; n=10), sendo registado, também, colaboradores analfabetos (2,27%; n=1), com ensino médio incompleto (6,81%; n=3), superior incompleto (2,27%; n=1) e completo (2,27%; n=1) e um dos entrevistados recusou-se a informar (2,27%; n=1). Esses resultados se consubstanciam na falta de critérios admissionais para a função de motorista no transporte de bubalinos destinados ao abate no município de São Luís - MA.

Dos condutores entrevistados, 15,90% (n=7) realizam o transporte de bubalinos a menos de cinco anos, 13,63% (n=6) entre cinco a 10 anos e 70,45% (n=31) a mais 10 anos. Esses resultados evidenciam que os condutores apresentam experiência na atividade de motorista com transporte de carga viva. Na totalidade, os entrevistados relataram preferir transportar bubalinos em detrimento dos bovinos em função da docilidade dos primeiros.

(6)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 3.2 RESPONSABILIDADE COM A CARGA VIVA (BUBALINOS)

Quanto à origem dos bubalinos, 50% (n=22) dos condutores citaram o município de Viana e 12% (n= 05) Matinha, ambos integram a Baixada Maranhense e distam geograficamente de 215 e 240 Km, respectivamente, da capital do estado do Maranhão, local onde estão localizados os três abatedouros-frigoríficos. De acordo com a Santos et al. (2016), o rebanho bubalino do Maranhão está em sua maioria concentrado na Baixada Maranhense com predominância de animais mestiços das raças Murrah, Jafarabadi e Mediterrâneo e alguns animais puros, com destaque para a raça Murrah.

Para o transporte dos bubalinos das propriedades rurais aos abatedouros-frigoríficos foi citado por 79,54% (n=35) dos entrevistados que o caminhão do tipo “truck” é o mais utilizado por ser um veículo de carga pesada e rápido na estrada (Figura 1). Caminhão do tipo “toco” (caminhão com dois eixos) e a carreta também foram citados por 18,18% (n=8) e 2,27% (n=1) dos entrevistados, respectivamente.

Figura 1. Caminhão tipo truck utilizado para o transporte de bubalinos a abatedouros-frigoríficos no município de São Luís - MA

Fonte: Arquivo dos autores

Em um estudo realizado no estado do Mato Grosso sobre bem-estar e taxa de hematomas em bovinos transportados em diferentes distâncias e modelos de carroceria, Bertoloni et al. (2012) detectaram que o transporte no caminhão truck foi o tratamento que proporcionou o menor número de quedas de bovinos no desembarque, o que permitiu classificá-lo como “aceitável” em relação aos outros dois tipos de veículos avaliados, a carreta baixa e a carreta

(7)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 O Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) por meio da Resolução nº 675/2017 estabeleceu novas regras sobre o transporte de cargas vivas com a finalidade de evitar o sofrimento desnecessário e diminuir os ferimentos nos animais. No Artigo (Art.) 3° da referida Resolução está disciplinado que os veículos de transporte de animais vivos (VTAV) devem ser adaptados à espécie e categoria de animais transportados, com altura e largura que permitam que os animais permaneçam em pé durante a viagem, a exceção das aves, e com abertura de tamanho compatível para embarque e desembarque da respectiva carga viva (BRASIL, 2017).

Ainda em referência ao Art. 3° da Resolução nº 675/2017, consta no item XI que os VTAV devem possuir piso antiderrapante que evite escorregões e quedas dos animais transportados fora de caixas contentoras. Nesse sentido, uma pergunta do questionário foi dedicada a essa questão sendo relatada por 97,72% (n=43) dos entrevistados a utilização de borracha e grade de ferro no assoalho do veículo e por 2,27% (n=1) o uso de borracha e madeira.

Quanto ao horário do embarque dos bubalinos na propriedade rural com destino aos abatedouros-frigoríficos, os entrevistados, em sua maioria (79,54%; n=35) relataram que o embarque destes acontece no final do dia. Quanto ao horário de ingresso dos animais nos estabelecimentos, 52,27% (n=23) dos transportadores desembarcam os animais no período noturno, 36,36% (n=16) na madrugada e 11,36% (n=5) à tarde. Estes resultados se revertem de grande importância, já que a chegada em horário noturno permite maior tempo de descanso dos bubalinos nos currais de matança o que converge para a recuperação das taxas de glicogênio, fator essencial para a transformação do músculo em carne.

Quando questionados sobre o fornecimento de água aos bubalinos no percurso das propriedades rurais aos abatedouros-frigoríficos, 97,72% (n=43) dos entrevistados não realizam essa prática e 2,27% (n=1) a realizam na forma de banho com a utilização de mangueira. Nesse interim, cita-se o Art. 3° da Resolução nº 675/2017, item XII: “os VTAV devem possibilitar meios de fornecimento de água para animais transportados fora de caixas contentoras”.

Ausência no fornecimento de água à carga animal transportada, conforme supracitado, associado às altas temperaturas térmicas no estado do Maranhão podem gerar desconforto e estresse aos bubalinos. Nessa perspectiva, é importante destacar que os búfalos possuem menor quantidade de glândulas sudoríparas quando comparado aos bovinos, pele escura com uma espessa camada epidérmica, o que os tornam menos eficientes na manutenção da temperatura corpórea e dissipação do calor.

Garcia (2013) infere que em termos bioclimatológicos, um animal pode ter sua temperatura corpórea elevada quando absorve quantidade excessiva de calor do meio, quando

(8)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 sua capacidade de dissipação do calor corpóreo é reduzida, ou quando uma associação de ambos os fatores se estabelece. Independentemente da causa, as consequências dessa elevação de temperatura se manifestam na forma de uma cascata de eventos, de modo a tentar ajustar o organismo animal ao desafio imposto.

Referente à realização de paradas e à localização destas durante o percurso da propriedade rural aos estabelecimentos, 65,90% (n=29) dos condutores relataram realizar pausas com duração que variam de 15 a 30 minutos, mas, geralmente com a única finalidade de satisfazer as próprias necessidades fisiológicas. Destes, 79,31% (n= 23) informaram parar em locais sombreados e os demais (20,69%; n= 6) que essa situação é variável, estando na dependência da existência de locais sombreados ou não. Já 34,10% (n=15) dos entrevistados relataram não parar por nenhum motivo. No transporte de cargas vivas, as paradas em locais sombreados, de pouco movimento e que possa oferecer condições de conforto são importantes por reduzir o estresse animal.

Caneo & Dias (2018) destacam que os motoristas que transportam cargas vivas devem ter conhecimento antecipado da rota da viagem, possuir informações detalhadas da distância a ser percorrida e as condições das estradas e ter um plano de ação para situações emergenciais (animais mortos, defeitos mecânicos do veículo e ocorrência de acidentes). Este último deve também contemplar os locais e horários de paradas, para inspeções dos animais, abastecimento do veículo e para o atendimento das necessidades dos motoristas (refeições, descanso etc.).

Durante o transporte de cargas vivas paradas desnecessárias devem ser evitadas, pois estas aumentam o tempo de viagem o que pode convergir para desconforto dos animais pela insolação direta (calor) e gerar estresse. Nesse sentido, perguntou-se aos condutores sobre a realização de manutenções prévias nos veículos e 61,36% (n=27) afirmaram realizá-las no sentido de propiciar um deslocamento mais seguro além de diminuir a ocorrência de defeitos mecânicos. Já, 38,63% (n=17) não realizam quaisquer tipos de revisões nos veículos utilizados para o transporte dos bubalinos.

Sobre a utilização de dispositivos para o manejo dos bubalinos, seja durante o embarque dos animais na propriedade rural, no percurso da viagem e no desembarque dos bubalinos nos abatedouros-frigoríficos, 90,90% (n=40) dos condutores relataram utilizar, mas de formas diferentes, conforme apresentado na sequência: (i) 45,45% (n= 20) utilizam somente o bastão elétrico; (ii) 25% (n= 11) o bastão elétrico combinado com a voz; (iii) 11,36% (n= 5) o bastão elétrico, a voz e a vara; (iv) 4,54% (n= 2) o bastão elétrico combinado à voz; (v) 2,27% (n= 1) apenas a vara; e, (vi) 2,27% (n= 1) somente a voz.

(9)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 Com os resultados apresentados acima se percebe elevado percentual de condutores (95%; n= 38) que utilizam dispositivos produtores de descargas elétricas, seja isoladamente ou em conjunto com outros dispositivos. Porém, 100% destes desconhecem a voltagem dos bastões elétricos utilizados, a voltagem ideal a ser utilizada e as medida corretivas a serem implementadas na resolução da problemática.

Outro ponto a ser discutido, ainda sobre essa questão, é a evidência incipiente de manifestação dos condutores em estimular o animal a se levantar, seja no embarque, translado ou desembarque com o uso exclusivo da voz, sem gritar ou bater palmas. Importante destacar, também, que 9,09% (n= 04) dos condutores entrevistados relataram não utilizar quaisquer dispositivos para manejo dos bubalinos.

Ferrões, varas e choque elétrico são utilizados com o intuito de fazer o animal se levantar rapidamente, seja no veículo ou na sala de abate. Contudo, esses dispositivos podem resultar em estresse decorrente da dor e sofrimento e, ainda, comprometer a qualidade da carcaça e carne. Especificamente sobre os bastões elétricos, Roça (2002) infere que a utilização destes na condução dos animais constitui um indicativo de manejo inadequado. E quando utilizados, a voltagem ideal é 50 volts e deve-se evitar tocar nas partes sensitivas dos animais (olhos, orelhas e mucosas).

O regulamento técnico de métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue, disciplinado pela Instrução Normativa (IN) nº 3, de 17 de janeiro de 2000 institui que os dispositivos produtores de descargas elétricas apenas poderão ser utilizados, em caráter excepcional, nos animais que se recusem mover, desde que essas descargas não durem mais de dois segundos e haja espaço suficiente para que os animais avancem. As descargas elétricas, com voltagem estabelecidas nas normas técnicas que regulam o abate de diferentes espécies, quando utilizadas serão aplicadas somente nos membros (BRASIL, 2000).

Dos entrevistados, 100% (n= 44) relataram não transportar bubalinos com sinais sugestivos de doenças, sobretudo, relacionado à relutância desses animais em embarcar e desembarcar dos veículos e afirmaram, ainda, que durante o tempo de atividade no transporte de cargas vivas nunca registraram a ocorrência de animais mortos. Adicionalmente 93% (n=40) dos condutores informaram saber as consequências da perda de um animal durante o transporte e que devem assumir as despesas financeiras decorrentes de lesões e óbitos que, porventura, possam ocorrer.

(10)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 3.3 CONHECIMENTO SOBRE BEM-ESTAR ANIMAL

Quanto ao conhecimento dos condutores de bubalinos sobre o termo “bem-estar animal”, observou-se que 65,90% (n=29) apresentaram algum entendimento sobre a temática e respostas como “conforto dos animais” ou “conforto dos animais associado à alimentação e sanidade” foram as mais citadas e adequadas à questão. Já, 34,09% (n=15) não detinham qualquer entendimento sobre o tema.

Das observações diretas realizadas nos três abatedouros-frigoríficos para detectar as atitudes e comportamentos dos condutores quanto ao desembarque dos bubalinos observou-se:

a) higiene insatisfatória dos veículos com presença de sujidades (fezes) e acentuado odor de amônia.

b) quantidade excessiva de bubalinos, ultrapassando a densidade média animal por carga. Para Roça (2002), o transporte de animais empregando alta densidade de carga (acima de 390 a 410Kg/m2) apresenta um viés puramente econômico. Contudo, tal prática é responsável pelo aumento das ocorrências de contusões e estresse nos animais. Para Scharama et al. (1996), o aumento do estresse durante o transporte é proporcionado

por condições desfavoráveis como privação de água, alta umidade e velocidade do ar e densidade de carga. As respostas fisiológicas ao estresse são traduzidas em hipertermia e aumento das frequências respiratória e cardíaca.

c) transporte conjunto das espécies bubalina e bovina (Figura 2).

Figura 2. Espécies bubalina e bovina transportadas conjuntamente a abatedouros-frigoríficos no município de São Luís - MA

(11)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 d) uso constante de bastão elétrico fabricado com bateria automotiva e adaptado a cabos

de polietileno (cano) (Figura 3) no desembarque dos bubalinos com constante vocalização dos últimos.

Figura 3. Dispositivo elétrico para manejo de bubalinos no desembarque de bubalinos em abatedouros-frigoríficos no município de São Luís - MA

Fonte: Arquivo dos autores

De acordo com Almeida (2005), os animais devem ser desembarcados e colocados nos currais de maneira calma e controlada, sendo necessários os mesmos cuidados adotados para o embarque dos animais na propriedade rural, evitando-se o uso de bastões elétricos ou ferrões para auxiliar os animais a descerem do caminhão, atentando-se para correta inclinação da rampa de desembarque e à possibilidade de escorregamento dos animais, que podem causar fraturas ou torções, comprometendo a qualidade da carne.

3.4 TREINAMENTOS

Referente à participação em treinamentos sobre boas práticas de manejo no transporte de carga viva, 100% (n=44) dos condutores foram unânimes em relatar que nunca foram treinados ou receberam orientações sobre o assunto. Falta de tempo, oportunidade ou interesse foram as principais alegações apresentadas pelos condutores para a não realização dos treinamentos. De igual forma, a totalidade dos entrevistados possui incipiente entendimento da influência direta do transporte inadequado de carga viva sobre a qualidade da matéria-prima, a carcaça e carne.

(12)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 O manejo pré-abate engloba diversas situações incomuns aos animais que causam estresse, como: formação de lotes, confinamento em currais das propriedades rurais, embarque, confinamento nos caminhões (com e sem movimento), deslocamento, desembarque, confinamento e manejo nos currais dos abatedouros-frigoríficos. Portanto, essas atividades necessitam ser planejadas e conduzidas para minimizar o estresse e evitar danos à carcaça e prejuízos à qualidade da carne e nesse sentido os treinamentos dos condutores são imprescindíveis.

4 CONCLUSÕES

De acordo com os resultados dessa pesquisa, pode-se concluir que apesar da existência de normas específicas para o transporte de cargas vivas e para o bem-estar animal, e nessas insere-se o transporte de animais destinados ao abate com vistas à obtenção de carne para consumo humano, empresas do setor, proprietários e articuladores de negociações negligenciam o assunto. Constatou-se falta de preparo e de conhecimento dos condutores do transporte rodoviário de bubalinos sobre o transporte adequado dos bubalinos e sua influência direta na qualidade da carcaça, sobretudo, relacionado à privação de água durante o translado, alta densidade de bubalinos por carga transportada, ausência de paradas dos veículos para satisfazer necessidades fisiológicas dos animais, utilização errônea de dispositivos elétricos, além de conhecimento incipiente sobre o tema bem-estar animal.

Dessa forma, os órgãos de defesa e inspeção devem realizar fiscalizações de trânsito para coibir e disciplinar o trânsito de cargas vivas no estado do Maranhão. Além, de orientar os condutores do transporte rodoviário de bubalinos sobre a importância da observância das leis de trânsito e de bem-estar animal para obtenção de uma matéria-prima de qualidade.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, L. A. M. Manejo no pré-abate de bovinos: aspectos comportamentais e perdas econômicas por contusões. 2005. 5 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Preventiva) – Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2005.

ALVES, A. R.; JUNIOR-FIGUEIREDO, J. P.; SANTANA, M. H. M.; ANDRADE, M. V. M.; LIMA, J. B. A.; PINTO, L. S.; RIBEIRO, L. M. Efeito do estresse sobre a qualidade de produtos de origem animal. Pubvet, v. 10, n. 6, p. 448-459, 2016.

(13)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761 BERTOLONI, W.; SILVA, J. L. da; ABREU, J. S. de; ANDREOLLA, D. L. Bem-estar e taxa de hematomas de bovinos transportados em diferentes distâncias e modelos de carroceria no estado do Mato Grosso – Brasil. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.13, n.3, p.850-859, 2012.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento Instrução Normativa nº 3, de 17 de janeiro de 2000. Estabelece Regulamento técnico de métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 de janeiro de 2000, Seção 1, p. 14-16. Disponível em:<www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/bem-estar.>. Acesso em 13 maio 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de

dezembro de 2012. Disponível em: <

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html.> Acesso em: 22 nov. 2019.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento. Bovinos e bubalinos. 2016. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/animal/especies/bovinos-e-bubalinos> Acesso em: 13 abr. 2017.

BRASIL. Conselho Nacional de Trânsito. Resolução CONTRAN nº 675 de 21/06/2017.

Dispõe sobre o transporte de animais de produção ou interesse econômico, esporte, lazer e exposição. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 de junho de 2017, Seção 1, p. 52. Disponível

em:<https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=345298>. Acesso em 13 maio 2019.

CANEO, A.; DIAS, M. de S. C. Transporte de Cargas Vivas. In: 9ª FATECLOG, 2018, São

Paulo. Anais... São Paulo, 2018, p. 1-9. Disponível em:

<https://even3.blob.core.windows.net/anais/86862.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2019.

GALVÃO, L. B.; REZENDE, J. E. V.; PORTILHO, L. P. de C.; MORA, N. H. A. P.; SILVA, G. C. P. da. Acompanhamento da prática do bem estar animal no manejo pré- abate de um bovino submetido ao abate de emergência: relato de caso. Agrarian Academy, v.6, n.11; p. 15-21, 2019.

GARCIA, A. R. Conforto térmico na reprodução de bubalinos criados em condições tropicais. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.37, n.2, p.121-130, 2013.

GUERRERO, A., VALERO, M. V.; CAMPO, M. M.; SAÑUDO, C. Some factors that affect ruminant meat quality: from the farm to the fork. Review. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v.35, p.335-347, 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estados. 2017. Disponível em: <http://www. ibge.gov.com.br.> Acesso em: 18 jun. 2019.

MACHADO, G. B.; MOURA, S. V.; FORTES, T. P.; FACIN, D. V.; LANSINI, V.; SILVA, É. F. Principais causas de descarte em búfalos abatidos no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Science and Animal Healt, v. 4, n.1, p. 56-66, 2016.

ROÇA, R. O. Abate humanitário de bovinos. In: I CONFERÊNCIA VIRTUAL GLOBAL SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE BOVINOS DE CORTE, 2002, Mato Grosso do Sul.

(14)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.28714-28727 may. 2020. ISSN 2525-8761

Anais... Mato Grosso do Sul, 2002, p. 1- 15. Disponível em: <

http://www.conhecer.org.br/download/MANEJO%20NO%20ABATE%20DE%20BOVINOS/l aitura%20anexa%202.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2019.

ROÇA, R. O. Bem-estar animal no Brasil: receita de primeiro mundo. Revista Carne, n. 320, 2003.

SANTOS, J. J. N. dos; SOUSA, I. C. dos; BEZERRA, D. C.; COIMBRA, V. C. S.; CHAVES, N. P. Nível tecnológico e organizacional da cadeia produtiva da bubalinocultura de corte no estado do Maranhão. Arquivo do Instituto Biológico, v.81, n.4, p. 315-321, 2014.

SANTOS, C. L. R. dos; SANTOS JÚNIOR, J. B. dos; CUNHA, M. C. da; NUNES, S. R. F.; BEZERRA, D. C.; TORRES JÚNIOR, J. R. de S.; CHAVES, N. P. Nível tecnológico e organizacional da cadeia produtiva da bubalinocultura de corte no estado do Maranhão. Arquivo do Instituto Biológico, v.83, 1-8, e0022014, 2016.

SCHARAMA, J. W.; VAN DER HEL, W., GORSSEN, J.; HENKEN, A.M.; VERSTEGEN, M. W. A.; NOORDHUIZEN, J. P. T. M. Required thermal thresholds during transport of animals. The Veterinary Quartely, v.18, n.3, p.90-95, 1996.

SILVA, A. A. da.; BORGES, L. F. K. Considerações sobre o bem estar animal na produção de bovinos – Revisão Bibliográfica. Revista Ciência e Tecnologia, v. 1, n. 1, p. 1-8. 2015.

Imagem

Figura 1. Caminhão tipo truck utilizado para o transporte de bubalinos a abatedouros-frigoríficos no município de  São Luís - MA
Figura 2. Espécies bubalina e bovina transportadas conjuntamente a abatedouros-frigoríficos no município de São  Luís - MA
Figura 3. Dispositivo elétrico para manejo de bubalinos no desembarque de bubalinos em abatedouros-frigoríficos  no município de São Luís - MA

Referências

Documentos relacionados

Deve-se ressaltar, que o baixo número de observações (4) é um item limitador, mas não é impeditivo para a conclusão de que mais recursos financeiros para a

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

[9] Em pesquisas de 2012 que envolveram todos os continentes constatou- se que, mundialmente, cerca de 38 mil casos de câncer de cabeça e pescoço são atribuídos à infecção por

Os resultados indicaram que a armadura transversal aumenta a ductilidade de vigas que se rompem por cisalhamento tanto de concretos de resistência usual como alta e que a ductilidade

No caso da IES oferecer formação integrada, a estratégia está naquilo que as próprias diretrizes apontam como possibilidades de conteúdos e te- mas que devam ser oferecidos em ambas

This means that the formation of niobium oxyhydroxide instead of niobium oxide permits the generation of the peroxo- species (oxidizing agent) while also facilitating the anchoring

O 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) é um estágio profissionalizante (EP) que inclui os estágios parcelares de Medicina Interna, Cirurgia Geral,

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o