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As interrogativas-Q do Português de Moçambique: contribuição para uma análise comparativa com o Português Europeu e o Português Brasileiro

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(1)

F A C U L D A D E D E L E T R A S U N I V E R S I D A D E D O P O R T O

Versão definitiva Danifo Ismael Chutumiá

2º Ciclo de Estudos em Linguística

AS INTERROGATIVAS-Q DO PORTUGUÊS DE MOÇAMBIQUE: CONTRIBUIÇÃO

PARA UMA ANÁLISE COMPARATIVA COM O PORTUGUÊS EUROPEU E O

PORTUGUÊS BRASILEIRO

2013

Orientadora: Professora Doutora Ana Maria Brito

Classificação: Ciclo de estudos:

(2)

ii

À minha mãe

(3)

iii

AGRADECIMENTOS

O meu primeiro agradecimento é a Allah (S.T), pela proteção, pela oportunidade de viver com saúde, reunindo forças retiradas, quem sabe de onde, para que eu pudesse enfrentar todos os obstáculos nesta caminhada.

Agradeço especialmente à minha orientadora, a Professora Doutora Ana Maria Brito, por toda a dedicação, compreensão e amizade patenteadas, pelos desafios cada vez mais complexos que me foi colocando na realização deste trabalho e pelo estímulo e exigência crescente que me foi impondo à medida que caminhávamos para a sua conclusão.

Aos meus professores do Mestrado em Linguística, nomeadamente os Professores Doutores Fátima Oliveira, João Veloso, Fátima Silva, Graça Pinto, Clara Barros.

Um agradecimento especial à Professora Doutora Fernanda Martins pela ajuda na descrição dos dados apresentados na tese.

À Universidade Pedagógica Sagrada Família pela oportunidade de frequentar o mestrado no Porto. Agradeço igualmente ao Dr. Alberto Mathe por aplicar os inquéritos aos estudantes desta universidade.

Aos meus pais, Bilal Ismael Chutumiá e Amélia Otília dos Anjos por acreditarem em mim, meus mestres para a vida.

Aos meus tios Akbar Sayaad e Najma Sayaad, que, apesar das suas vidas complexas, receberam-me gentilmente e prestaram um contributo fundamental nesta minha estadia em Portugal.

À Maria Gonzalez Vivo pela compreensão, paciência e cumplicidade.

Aos meus colegas e amigos, especialmente o Cristóvão Felisberto Seneta e o Fabiano Simas, pelas oportunas manifestações de companheirismo e de encorajamento.

A todos os que de uma forma ou de outra contribuíram para a concretização deste trabalho, o meu “Kanimambo”.

(4)

iv

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ……….iii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ………..vi

RESUMO ………....vii

ABSTRACT ………...viii

ÍNDICE DE QUADROS ………..ix

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO I O “WH MOVEMENT” NA LITERATURA FUNDAMENTAL: DA TEORIA DA REGÊNCIA E LIGAÇÃO AO PROGRAMA MINIMALISTA ... 14

1.1. Introdução ... 15

1.2. Bach (1968), Baker (1970) Bresnan (1970) e os primeiros autores em Sintaxe Generativa ... 15

1.3. Chomsky (1981), (1982) e (1986)………...…….. 18

1.4. Huang (1982): O Parâmetro do Movimento-WH ... 25

1.5. Rizzi (1996): The WH Criterion ... 26

1.6. Rizzi (1997) e (2004): The Left Periphery of the Clause... 29

1.7. Chomsky (1995) e Cheng & Rooryck (2000): breve abordagem do movimento Q no programa minimalista ... 33

1.8. Síntese do Capítulo ... 36

CAPÍTULO II PE E PB: PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS DAS INTERROGATIVAS PARCIAIS E ALGUNS TRATAMENTOS ... 37

2.1. Introdução ... 38

2.2. As interrogativas parciais na Gramática Tradicional ... 38

2.3. Interrogativas-Q no Português Europeu e no Português Brasileiro ... 40

2.3.1. Interrogativas-Q no Português Europeu ... 41

2.3.1.1. O movimento-Q e a alteração da ordem de palavras. ... 41

2.3.1.2. A sequência “é que” e a inversão sujeito-verbo ... 44

2.3.1.3. Interrogativas-Q sem movimento Q – Q in situ ... 45

(5)

v

2.3.2.1. Com movimento Q para Esp de SCOMP/CP e com movimento do V para

COMP………..47

2.3.2.2. Sem V+I para C e com/sem é que………...48

2.3.2.3. O fenómeno in situ no PB………...……50

2.4. Síntese do Capítulo ... 54

CAPÍTULO III AS INTERROGATIVAS PARCIAIS DO PORTUGUÊS DE MOÇAMBIQUE: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 56

3.1. Introdução ... 57

3.2. Enquadramento socio-histórico e a Gramática do Português de Moçambique ... 57

3.3. Aquisição e aprendizagem da língua portuguesa: O Português no contexto das línguas maternas em Moçambique ... 59

3.4. Questões metodológicas e recolha de dados ... 62

3.4.1. A natureza dos dados ... 62

3.4.1.1. O Corpus escrito ... 63

3.4.2. Tratamento dos dados escritos ... 66

3.5. As interrogativas Q do PM: uma abordagem sintática ... 67

3.5.1. As interrogativas Q encontradas no corpus PM ... 69

3.5.2. O movimento Q, o movimento do verbo e a ordem SU-V no PM ... 70

3.5.2.1. A sequência "é que" nas interrogativas Q do PM ... 72

3.5.2.2.A sequência “Q+que” nas interrogativas Q do PM ... 72

3.5.3. As interrogativas Q in situ no PM ... 74

3.5.4. O morfema Q na posição média: movimento parcial de Q? ... 81

3.6. Síntese do Capítulo ... 85

CONCLUSÕES ... 87

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……….90

(6)

vi

RESUMO

O objetivo deste estudo é analisar a sintaxe das interrogativas Q no Português de Moçambique comparando-as com as do Português Europeu e do Português Brasileiro, pois os estudos de natureza comparativa contribuem para um maior conhecimento do PM e consequentemente para a fixação da respectiva norma.

Para o efeito, servi-me de um corpus escrito que resultou da aplicação de dois testes distintos a 87 estudantes dos cursos propedêuticos da Universidade Pedagógica Sagrada Família: (i) uma tarefa de produção provocada, em que os falantes tinham que elaborar uma ou duas perguntas para cada situação apresentada; (ii) uma tarefa de juízos de gramaticalidade. Nalguns casos recorri à minha competência linguística enquanto falante do Português de Moçambique.

Os dados analisados parecem sugerir que existem algumas semelhanças nas propriedades das interrogativas Q destas três variedades do Português: por exemplo, os falantes do PM têm preferência por interrogativas com movimento Q para posição inicial, como no PE, e ainda por interrogativas com movimento Q mas sem inversão sujeito-verbo e interrogativas com o «COMP duplamente preenchido», como as do PB. Apesar destas semelhanças, no PM ocorrem interrogativas com o constituinte Q numa posição intermédia, que nos parece ser um caso particular desta variedade, revelando uma mudança inovadora relativamente às outras duas variedades do Português.

A análise permitiu elaborar uma hipótese unificadora das interrogativas in situ e das interrogativas com movimento Q para uma posição intermédia no PM, segundo a qual o constituinte Q, embora não esteja na mesma posição nos dois tipos de interrogativa Q, é legitimado por um operador de concordância à distância, C [+int].

(7)

vii

ABSTRACT

The aim of this study is to analyse the syntax of the wh-interrogatives on the Mozambican Portuguese (MP), comparing them with those of European Portuguese (EP) and Brazilian Portuguese (BP). It is my understanding that comparative studies contribute to a better comprehension of MP and, consequently, to the setting of the respective standard.

In order to achieve that, I've used a body of writing which resulted from the application of two distinct tests to 87 students of Universidade Pedagógica Sagrada Família's propaedeutic courses: (i) a generated exercise of production in which the speakers had to engender one or two questions for which situation; (ii) an exercise on grammaticality judgements. In some cases I've resorted to my linguistic competence as speaker of MP. The analysed data seems to suggest that there are a few similarities in the wh-interrogatives' attributes on the three varieties of Portuguese: for instance, the speakers of MP have a preference for interrogatives with wh-movement (movimento Q) to the initial position, as in the EP, and also for interrogatives with wh-movement but without subject-verb inversion, and for interrogatives with doubly filled COMP filter (COMP

duplamente preenchido), as those of the BP. Notwithstanding these similarities, there

are in MP interrogatives with the wh-constituent on an intermediate position, which seems to be a particularity of the MP, revealing an innovative change in relation to the other two standards of the Portuguese language.

The analysis enabled the establishment of a unifying hypothesis for in situ interrogatives and for interrogatives with wh-movement to an intermediate position in the MP, according to which the wh-constituent, although it is not in the same position on the two types of wh-interrogatives, is checked by an long distance agreement by C [+int].

(8)

viii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

PM – Português de Moçambique PE – Português europeu

PB – Português brasileiro LP – Língua portuguesa LB – Língua Bantu

L1 – Língua 1 ou Língua materna L2 – Língua 2

LE – Língua estrangeira CP – Complementizer Phrase

SCOMP – Sintagma Complementador COMP – Complementador

C – Complementizer ESP – Especificador SU – Sujeito

V – Verbo

SADV – Sintagma Adverbial WH – Q (wh question) OD – Objeto direto

(9)

ix

ÍNDICE DE QUADROS

QUADRO 1. Distribuição percentual da população por língua materna………….………58 QUADRO 2: Variável Independente: números e percentagens……..………...63 QUADRO 3. Resultados da tarefa de juízo de gramaticalidade (%) …….……….67

(10)

10

INTRODUÇÃO

“A variedade moçambicana do Português está a emergir num contexto multilingue, onde a maior parte das línguas maternas (L1) dos falantes pertencem à família bantu” (Gonçalves, 2010:13). Apesar disto, o Português de Moçambique é oficialmente regulado pela norma europeia adaptada à realidade deste país.

O Português falado em Moçambique possui uma variabilidade de regras e traços gramaticais específicos da sua gramática, maior do que aquela que se verifica em línguas adquiridas como L1, pois muitos locutores têm «competências múltiplas1», sendo o seu discurso gerado por traços e regras não só do PE como da «nova» gramática. Neste contexto, são necessários estudos sobre as especificidades desta variedade africana do Português.

A presente dissertação tem por objetivo fazer uma abordagem sintática das interrogativas Q no Português de Moçambique (PM), comparando-as com as interrogativas do Português europeu (PE) e do Português brasileiro (PB).

Serão analisadas a produção e a compreensão de quatro tipos de interrogativas Q extraídas de um corpus escrito elaborado a partir de uma tarefa de produção provocada e de juízos de gramaticalidade dos estudantes de cursos propedêuticos universitários da UniSaF: (i) as interrogativas com movimento Q para posição inicial, com ou sem alteração da ordem de palavras (cf. (1)); as interrogativas sem movimento Q, as chamadas Q in situ, com duas interpretações (cf. (2)); as interrogativas com «COMP duplamente preenchido» (cf. (3)) e as interrogativas com o Q numa posição intermédia (cf. (4)).

(1) a. Onde esteve o João na noite passada? b. Onde o João esteve na noite passada?

(2) a. Os miúdos fizeram o quê? (interrogativa verdadeira) b. Os miúdos fizeram o quê? (interrogativa-eco) (3) Quem que chegou?

(4) Fizeram o quê os miúdos?

1

(11)

11 Neste estudo as questões ligadas à prosódia das interrogativas terão um lugar secundário. Este facto prende-se com o facto de os nossos dados, que na sua quase totalidade são resultado de aplicação de inquéritos, não nos permitirem perceber as diferenças entoacionais entre as interrogativas2.

A pertinência e escolha deste tema advêm de dois fatores fundamentais. Em primeiro lugar, por razões de investigação linguística, pois há escassez ou quase inexistência de estudos sistematizados sobre construções interrogativas no Português falado em Moçambique. Em Santos (2009) apresentam-se dados sobre a sintaxe das interrogativas parciais do Português falado em Maputo, alguns dos quais são retomados e analisados do ponto de vista sintático na nossa dissertação, como é o caso dos dois tipos de in situ e das interrogativas com Q na posição intermédia. Em segundo lugar, os estudos efetuados para as variantes PE e PB têm mostrado que existe uma diferença entre a produção de interrogativas nestas duas variantes, sobretudo no que tange às in situ, alteração na ordem de palavras e ocorrência de «COMP duplamente preenchido». Deste modo, uma vez que, nas palavras de Gonçalves (1999), “o Português de Moçambique vem sofrendo mudanças paramétricas ao longo dos anos”, uma análise comparativa deste fenómeno, descrito para o PE e o PB, relativamente ao PM constitui um bom domínio de estudo.

O objetivo deste trabalho é analisar a produção e compreensão de interrogativas Q em PM numa perspetiva comparada com o PE e PB, tentando responder às seguintes questões:

(i) como atua o movimento Q nesta variedade do Português e para que posições são movidos os morfemas-Q?

(ii) é a inversão sujeito-verbo obrigatória ou opcional?

(iii) ocorrem ou não no PM interrogativas com «COMP duplamente preenchido»?

(iv) são as interrogativas-Q in situ uma mera opção relativamente às de constituinte movido ou a sua interpretação difere?

2

Quando invocar diferenças de entoação usarei a minha própria prosódia, enquanto falante do Português de Moçambique.

(12)

12 De modo a responder às questões que se colocam, foram elaborados dois inquéritos, um com tarefa de produção provocada, em que os estudantes deviam elaborar possíveis perguntas para as situações apresentadas e outro com tarefa de juízo de gramaticalidade. Os resultados mostram não só semelhanças relativamente às interrogativas Q das outras variedades comparadas (PE e PB), como também assimetrias que revelam uma gramática inovadora relativamente às interrogativas do Português de Moçambique, caracterizada em particular pela possibilidade de interrogativas com o constituinte Q numa posição intermédia.

O trabalho está organizado em três capítulos, seguido de conclusões, referências bibliográficas e anexos.

O capítulo 1 corresponde a um enquadramento teórico, composto por um percurso histórico acerca do tratamento do movimento Wh/Q, desde a Teoria da Regência e da Ligação até ao Programa Minimalista. Neste capítulo são descritos, em primeiro lugar, as interrogativas Q na visão dos primeiros autores da Sintaxe Generativa, onde se destacam Bach (1968), Baker (1970) e Bresnan (1970). A seguir, discute-se as duas grandes perspetivas de abordagem da Periferia Esquerda das interrogativas-Q; uma feita por Chomsky, que se subdivide em dois momentos: em (1981), o movimento Q por adjunção e, posteriormente, em (1982), o movimento Q para Esp de COMP; e outra, a abordagem cartográfica de Rizzi (1997, 2004), que propõe que o SCOMP (CP) possui diferentes núcleos funcionais e as suas projeções. E, por fim, faz-se uma breve abordagem do movimento Q à luz do Programa Minimalista, destacando Chomsky (1995) e Cheng & Rooryck (2000).

No capítulo 2 apresenta-se uma análise das interrogativas Q no PE e no PB, a partir de várias abordagens de linguistas portugueses e brasileiros sobre estas interrogativas nas duas variedades do Português.

O terceiro e último capítulo, reservado à descrição e análise de dados, começa por apresentar o enquadramento socio-histórico do Português de Moçambique e abordar o contexto de aquisição e aprendizagem do Português em Moçambique, tendo em conta que este é L2 da maioria dos falantes. Seguidamente, procede-se à apresentação das questões metodológicas que envolveram a recolha de dados.

(13)

13 Em seguida faz-se uma abordagem sintática dos dados, analisando os diferentes tipos de interrogativas Q em PM, comparando-os com as do PE e PB.

Finalmente, esta dissertação inclui as conclusões gerais da pesquisa, as referências bibliográficas e os anexos.

(14)

14

CAPÍTULO I

O “WH MOVEMENT” NA LITERATURA FUNDAMENTAL:

(15)

15

1.1. Introdução

Desde o início dos seus estudos, a Linguística vem-se preocupando com a variação sintática encontrada nas línguas naturais. Entre os vários aspetos passíveis de serem analisados à luz das teorias sintáticas, o presente estudo discute o movimento wh nas interrogativas parciais, que constitui um aspeto relevante para o estudo da estrutura sintática das línguas naturais.

No presente capítulo examinamos a evolução das análises do movimento wh ao longo de algumas décadas, destacando-se os trabalhos de Bach (1968), Baker (1970), Bresnan (1970), Chomsky (1981, 1982 e 1986), Huang (1982), Rizzi (1996, 1997, 2001 e 2004); Chomsky (1995) e Cheng & Rooryck (2000).

1.2. Bach (1968), Baker (1970) Bresnan (1970) e os primeiros autores em Sintaxe Generativa

Em Sintaxe, as primeiras observações realmente interessantes sobre o comportamento das interrogativas-wh foram feitas por Greenberg (1966). Segundo este autor, há uma correlação entre a construção de interrogativas-wh ou parciais e a ordem dos constituintes maiores (SU e V) das línguas. Assim, considera que línguas SVO caracterizam-se pelo movimento do sintagma interrogativo-wh para o início de frase, e as línguas SOV não compartilham desta característica.

Baseando-se nas ideias de Greenberg, Baker (1970), estudando este fenómeno sob a égide da Sintaxe Generativa, assume que somente línguas com partículas interrogativas no início de frase movem os seus sintagmas interrogativos-wh; propõe ainda que tais interrogativas têm na sua estrutura profunda um constituinte abstrato «Q» («question»), que marca a estrutura profunda de qualquer interrogativa, atraindo os morfemas wh, no caso do Inglês pela regra de «wh Movement» (apud Brito, 1991:56). Para derivar as interrogativas, Baker apresenta duas regras:

(5) a. Uma regra de inserção do traço (+wh) num determinante ou num SN que contivesse o traço (-DEF) sendo a F encabeçada pelo constituinte Q;

(16)

16 b. Uma regra de movimento do sintagma marcado (+wh) (-DEF) Baker (1970) foi, provavelmente, o primeiro sintaticista a notar que os morfemas-wh em japonês podem ocupar posições in situ. Além disso, notou que o Japonês dispõe de um marcador final de interrogação:

(6) a. Jun-wa nani-o katta –ka? João-TOP o que-ACC comprou Q

O que comprou o João?

(7) a. Kimi-wa Jun-ga nani-o katta-tte iuta-ka? Você-TOP João-NOM o que-ACC comprou-Comp2 disse-Comp1 O que você disse que o João comprou?

Em línguas como o Japonês em que o operador interrogativo é final, o movimento do sintagma-wh para uma posição junto do marcador interrogativo não é aplicável. Por isso, Baker considera que a posição do marcador interrogativo é o maior fator para a ausência de movimento no japonês.

A partir das observações das interrogativas em várias línguas, Baker formula então o “Universal de Interrogativa”, segundo o qual, por um lado, há uma regra universal de movimento nas interrogativas, diferindo de língua para língua apenas nos morfemas particulares deslocados e, por outro lado, os morfemas interrogativos são a realização lexical do constituinte Q (Baker, 1970: 207 apud Brito, 1991:56).

Seguindo a sugestão de Bach (1968), que afirma que “Q funciona como um operador”, Baker analisa uma interrogativa múltipla em inglês, como a de (8), que, sendo uma interrogativa múltipla, contém um constituinte-wh in situ which book. Para o autor, há duas diferentes leituras para a frase (8), parafraseadas em (8a) e (8b):

(8) Who remembers where we bought which book? a. John and Martha remember where we bought which book.

b. John remembers where we bought which physics book and Martha and Ted remember where we bought The Wizard of Oz.

(17)

17 A função crucial do operador Q é que “liga” um ou mais constituintes de frase. (8a) e (8b) são duas leituras diferentes de (8). No caso de (8a) o operador Q encaixado liga os dois constituintes-Q which book e where; em contraste, em (8b) o operador matriz liga tanto who como which book. Tratando Q como um operador, o escopo do

constituinte-wh in-situ em (8) pode ser explicado.

Nestes textos, Q era considerado apenas um nó extra acima de uma frase. Com Bresnan (1970) Q é visto como um Complementador WH. Apoiando-se nas propostas de Baker, Bresnan desenvolve um outro universal, a chamada Hipótese Universal de COMP, que relaciona as construções que têm morfemas interrogativos com as construções que comportam complementadores. Repare-se que os complementadores e os morfemas wh estão em distribuição complementar em Português e em Inglês, como se mostra nos exemplos:

(9) a. Eu perguntei quem chegou. b.*Eu perguntei se quem chegou (10) a. I asked who came.

b.*I asked if/whether who came.

E considera que «somente línguas com o complementador no início da frase permitiam o movimento dos sintagmas interrogativos Q» (Bresnan, 1970:317).

Esta autora propõe que todas as frases devem conter um nó inicial, COMP, introduzido pela seguinte regra sintagmática (Bresnan, 1970:300 apud Brito, 1991:56):

(11) a. F´ COMP F

e que, em Inglês, COMP seria expandido por that, for ou WH (Bresnan, 1970:312 apud Brito, 1991:56):

b.COMP (that /for/ WH)

Estabelecendo a diferença entre o complementador abstrato WH (equivalente ao constituinte «Q» de Baker) e o traço (+/- wh), que faz parte da entrada lexical de todos os morfemas interrogativos em Inglês, Bresnan (1970) argumenta que uma interrogativa subordinada de whether seria analisada com o complementador wh e o traço (+wh); e

(18)

18 numa interrogativa independente um morfema wh é movido para COMP e o complementador wh é suprimido (cf. Brito, 1991:57).

Bresnan dá exemplos do Japonês, uma língua S O V e possuindo uma partícula interrogativa e o complementador no final da frase, como já vimos acima; portanto, esta língua não move os seus sintagmas interrogativos-Q para a posição inicial da frase; e o marcador interrogativo permanece in situ tanto na sua forma subjacente como na manifestação fonética, como mostra o exemplo (12):

(12) a. John-wa nani-o kaimasita ka? João-TOP O que-ACC comprou Q

O que o João comprou?

Voltando de novo ao Inglês, Chomsky & Lasnik (1977) propõem que o movimento wh opera para uma posição à esquerda de COMP.

Este movimento deriva sequências como Who that ou to whom for, agramaticais em Inglês contemporâneo; por isso, os autores propõem que se aplique o Filtro de COMP duplamente preenchido, como se mostra em (13); e uma regra de apagamento livre em COMP:

(13) Filtro de COMP duplamente preenchido:

« * [morfema Q α ], α ≠ [v] COMP

Em que [v] representa um elemento sem realização lexical» (Chomsky & Lasnik, 1997:446 apud Brito, 1991:40)

1.3. Chomsky (1981), (1982) e (1986)

A década 80 representa uma viragem na perspetiva da Teoria da Gramática, muito por culpa do surgimento do Programa de Princípios e Parâmetros (P&P), do qual a Teoria da Regência e da Ligação, TRL (GB – Government and Binding Theory) é o elemento essencial.

Em (1981), Chomsky desenvolveu uma teoria que tenta caracterizar dois tipos de objetos: a Gramática Universal e as “core grammars” das línguas naturais, as chamadas gramáticas nucleares ou centrais. A Gramática Universal é o conjunto de operações e princípios comuns às gramáticas.

(19)

19 Nesta perspetiva, a variação entre as línguas tem a ver com a escolha da gramática nuclear, embora existam fatores “periféricos” que também contribuem para tal; ou seja, “uma gramática particular é constituída pela «gramática nuclear», sendo a parte não marcada, derivada mais ou menos diretamente da GU pela fixação dos parâmetros específicos da língua e pela «periferia»” (Chomsky, 1981:8).

Quanto à forma da Gramática neste período, assume-se que a análise das expressões linguísticas deve seguir níveis de representação sintática:

(14) LÉXICO

Estrutura-P

Mover-α

Estrutura-S

FF (Forma Fonética) FL (Forma Lógica)

A Estrutura-P está devidamente articulada com o Léxico de uma língua. A Estrutura-S é obtida a partir da estrutura-P pela aplicação de movimentos de constituintes

(«mover-α»). As regras de mapeamento da Estrutura-S para representações em forma lógica são

aplicadas na Forma Lógica. As regras de mapeamento da Estrutura-S para a representação da forma fonética são aplicadas na Forma Fonética.

Segundo este modelo, a Estrutura-P é em grande parte a projeção do Léxico3, em interação com os princípios da GU e com os parâmetros fixados pela língua. Os princípios da GU e as várias assunções a eles associadas agrupam-se em várias subteorias, dando à GU um caráter “modular” elevado (Chomsky 1981).

No modelo da TRL, estas subteorias ou sistema de princípios incluem: a Teoria X-Barra, a Teoria dos Nós-Fronteira, a Teoria da Regência, a Teoria Temática, a Teoria de Caso, a Teoria da Ligação e a Teoria do Controlo.

3 “O Léxico consiste num conjunto (não ordenado) de entradas lexicais. Cada entrada lexical contém a informação pertinente de natureza fonológica, sintática, semântica sobre o item lexical que representa” (Raposo, 1992:96)

(20)

20 A Teoria X-Barra é uma teoria sobre a forma ou estrutura das categorias sintáticas4. A

Teoria dos Nós-Fronteira ou «Bounding Theory» dá conta de condições de localidade,

nomeadamente de condições que dizem respeito à distância entre as posições de destino, ocupadas pelos constituintes movidos por Mover-α, e as posições base desses constituintes, ocupadas pelos vestígios (Ambar, 1992:155). A gramática obedece também a princípios que regulam a marcação lexical pela qual um núcleo lexical marca os complementos que rege e, em geral, todos os argumentos. A descrição das relações temáticas que se estabelecem entre argumentos e predicados é do foro da Teoria

Temática5. Uma subteoria que compõe o aparato da Teoria da Regência e da Ligação é a

Teoria do Caso, ligada tanto à Estrutura-P como à Estrutura-S, que estipula a atribuição

de caso (abstrato ou morfológico) aos SN´s das frases6.

A Teoria da Regência desempenha um papel central na TRL. Chomsky tem de certo modo a ideia de que regência deve implicar a exigência de domínio por uma mesma projeção máxima7.

Finalmente, a Teoria da Ligação ou “Binding Theory” é um módulo determinante na legitimação das categorias vazias deixadas por Mover-α. Neste subsistema define-se o domínio em que se estabelece a relação de ligação entre um antecedente numa posição-argumental e a categoria por ele ligada (Ambar, 1992:162) e a Teoria do Controlo, que

4

Chomsky começa por formular assim o princípio que assegura tal requisito:

“Representations at each syntactic level (i.e., LF, and D- and S-structure) are projected from the lexicon, in that they observe the subcategorization properties of lexical items.” (Chomsky, 1981:29).

Dada a estreita ligação entre propriedades de subcategorização e propriedades de marcação temática, em 1982 Chomsky reformula este mesmo princípio de forma a deslocar a tónica para a atribuição dos papéis temáticos:

“(…) the Projection Principle which states informally that the Ɵ- marking properties of each lexical item must be represented categorically at each syntactic level: at LF, S-structure, and D-structure.” (Chomsky, 1982:8).

Na TRL, o Princípio de Projeção é um dos princípios fundamentais que regulam a boa formação da estrutura-P e dos outros níveis gramaticais.

5

Encerra este subsistema um princípio fundamental: o Critério-Ɵ. Informalmente, este critério requer que:

“a cada argumento deve ser atribuído um e só um papel temático e cada papel temático deve ser atribuído a um e só um argumento” (Chomsky, 1981:36 apud Brito, 1991).

6

É agramatical qualquer sequência em que um SN com realização lexical não tenha caso. O Filtro do Caso, formulado por Chomsky (1981:49), especifica o que foi dito acima:

Filtro do Caso: «*SN, se SN tiver realização lexical e não tiver caso» 7 A noção de regência apresentada em Barriers pode definir-se do seguinte modo:

α rege β sse α m-comanda β e não há um γ, γ uma barreira para β, tal que γ exclui α. (Chomsky, 1986:9 apud Brito, 1991)

(21)

21 Chomsky (1986) admite que é um módulo de GU responsável pela determinação da referência livre ou ligada de PRO.” (Ambar, 1992:168).

No que concerne ao tratamento do movimento nas línguas, os conceitos anteriormente introduzidos são retomados de modo a regular as condições que operam sobre o movimento de SN´s, o movimento wh e o movimento de núcleos.

Em Chomsky (1981), o movimento WH é ainda analisado como regra de adjunção a

COMP (Brito, 1991:57). Assim, dada a Estrutura-P8:

(15) [F´ [COMP ± wh […sintagma wh…]]]

o output da regra é o seguinte (apud Brito, 1991:57):

(16) [F´ [COMP´ Sintagma whi [COMP ± wh]] [F...[v]i....]]

A esta estrutura aplica-se o Filtro de COMP duplamente preenchido já referido acima, mas sabendo-se que algumas línguas ou variantes de línguas permitem sequências como: quem que ou whom that e outras que não o permitem, propõe-se que o Filtro de COMP duplamente preenchido é específico a certas línguas, podendo mesmo ser específico a certas construções.

8

A posição criada por adjunção é uma posição não argumental (Ā) no sentido em que não é potencialmente uma posição temática. E a relação entre um constituinte movido e o seu vestígio é uma relação de ligação, que deve obedecer a uma condição de localidade. No caso do movimento por adjunção, a ligação que se estabelece é uma ligação-Ā, porque o local de poiso do constituinte movido é uma posição não argumental (Chomsky, 1981:47)

F COMP [±wh] F’ Sintagma wh COMP Sintagma whi [V]i F COMP F’

(22)

22 O movimento wh deixa um vestígio; o vestígio deixado pelo movimento dos morfemas

wh é uma variável9; a relação que se estabelece entre morfema wh e o seu vestígio é uma relação operador-variável, um caso particular de ligação Ā (Brito 1991:41).

Em Chomsky (1982) aplica-se a convenção X-Barra ao domínio de frase (simples e complexa). Assim, assume-se que o núcleo funcional COMP tem Esp e complemento. Dada esta concepção, o Spec de um COMP interrogativo só poderá alojar uma expressão interrogativa, um elemento-wh, se COMP tiver o traço [+WH]; logo, o movimento wh é um movimento de substituição e não de adjunção como era anteriormente considerado (Chomsky 1986), pela qual os sintagmas wh ocupam a posição de ESP de COMP, uma posição vazia em Estrutura-P.

Quer dizer, Chomsky parte do pressuposto de que SCOMP não tem uma estrutura defetiva em termos da X´; pelo contrário, é dotado de núcleo, uma posição de complemento, a Frase (SFLEX), que, de acordo com Abney (1987), é um complemento funcionalmente selecionado (Brito 1991:58).

Vejamos como estas propriedades se aplicam a interrogativas-Q10 em Português; veja-se o exemplo (17):

(17) Que artigo os alunos leram?

a.E.P. [SCOMP ESP [COMP´ COMP [+INT] [SFLEX [SN os alunos] [FLEX´ FLEX

[+T +C] [SV V (ler) [SN que artigo]]]]]]

b.E.S. [SCOMP que artigoi [COMP´ COMP (+INT) [SFLEX [SN os alunos] [FLEX´

FLEX [+T +C] [SV V (ler) [SN (v)i]]]]]]

Neste exemplo, por movimento Q é deslocado o SN que artigo, a variável deixada é uma categoria vazia nominal, que ocupa uma posição A, sendo, por isso, acessível quer à marcação temática quer à marcação casual.

Dado que há uma categoria vazia numa posição periférica à frase, o Movimento wh pode ser desencadeado; sendo o local de poiso do morfema interrogativo o ESP de SCOMP, é obtida a Estrutura-S de (17b).

9 Chomsky (1981:185) afirma que α é uma variável se e só se for uma categoria vazia, se ocupar uma posição A e se for localmente ligada por β numa posição Ā.

10

(23)

23 Nesta perspectiva, a motivação do movimento wh tem a ver com a natureza do operador do morfema interrogativo e a escolha do seu local de poiso relaciona-se com os problemas de escopo (Brito, 1991:39): os morfemas wh deslocam-se «para uma posição anterior a SFLEX com escopo sobre SFLEX» (Chomsky, 1986:5).

Em relação às restrições relativas ao movimento, Chomsky (1986) diz que certas configurações são barreiras para a regência e para o movimento, isto é, são ilhas fortes. Observe-se os seguintes exemplos11:

(18) a. Ela está a ler um livro que trata de SIDA. b. *De que é que ele está a ler um livro que trata?

(19) a. Que o ministro daria uma entrevista era tido como assente. b. * O que é que que o ministro daria era tido como assente?

Como afirma Brito (1991), a agramaticalidade das construções (18b) e (19b) mostra que o Movimento Q é regulado por uma condição de localidade, isto é, o local de poiso do morfema Q não pode estar «demasiado» afastado do seu local de partida.

Em particular, a Restrição do SN complexo, que postula que «Nenhum elemento numa frase dominada por SN com um núcleo lexical pode ser movido fora desse SN por uma transformação», explica a agramaticalidade de (18b); e a Restrição do SU frásico, que estipula que «Nenhum constituinte dominado por uma F pode ser movido para fora dela se essa F for dominada por um SN por sua vez dominada por F» explica a agramaticalidade de (19b). As duas restrições são consideradas dois casos particulares de uma condição mais geral – a Subjacência.

É possível, a partir de algumas construções, mostrar que, em Português SFLEX (F) não é um nó-fronteira para a Subjacência e que apenas SCOMP e SN são nós-fronteira ou ilhas fortes. Confira-se os exemplos abaixo:

(20) a. [SCOMP Que livros tu ignoras [SCOMP que pessoas [SFLEX

leram?]]]

b. [SCOMP Quantos estudantes é que tu não sabes [SCOMP que

artigos [SFLEX leram?]]]

11

(24)

24 Para explicar a aceitabilidade de (20a) e (20b), Duarte (1987) e Brito (1991:47) formulam duas hipóteses que se afiguram possíveis: o movimento Q não obedece à Subjacência ou o nó SFLEX não é um nó-fronteira. Como vimos acima, a agramaticalidade de (18b) e (19b) é imputável à violação da Subjacência (sendo SN e SCOMP nós-fronteira ou ilhas fortes); portanto, as autoras chegam à conclusão de que SFLEX não é em Português um nó-fronteira para a Subjacência.

Em frases como (21a), a posição-A de onde parte o sintagma-wh interrogativo encontra-se distante da posição-Ā onde o sintagma pousará, encontra-sendo encontra-separado pelo complementador. Chomsky, para explicar a boa formação deste tipo de frases, propõe que o movimento, nessas condições, se dá de forma sucessivamente cíclica (apud Brito,

1991:44). Os exemplos (21a) e (21b) ilustram este processo: (21) a. Que livros disseste que a Maria perdeu?

b. I wonder [Who [you think [t [John said [t [you will see t]]]] Eu me pergunto [quem [tu pensas [t [que o João disse [t [que tu verás t]]]]]]

Em (21b), o sintagma-wh Who (quem) moveu-se ciclicamente de um COMP mais baixo para o mais alto, num processo composto por passos intermediários (o movimento de COMP-a-COMP).

Em síntese, o Movimento wh está sujeito a algumas condições, restrições e princípios, em que destacamos: o Princípio de Subjacência (ou princípio equivalente), além de princípios da Teoria da Ligação que regulam a relação operador-variável.

No entanto, o Movimento-wh é um fenómeno que, como se disse inicialmente, apresenta variações nas línguas, tal como nos mostra, Huang (1982), através do “Parâmetro do movimento-wh”.

(25)

25

1.4. Huang (1982): O Parâmetro do Movimento-WH

A observação de várias línguas quanto à posição inicial ou final dos constituintes interrogativos justificou por parte de alguns linguistas a formulação de parâmetros que dessem parte da variação. Um deles foi Huang (1982) com o seu Parâmetro-wh:

(22) «Os sintagmas-Wh movem-se em dois momentos: Sintaxe Visível (Overt Syntax) na Estrutura-S e Sintaxe Não-Visível (Overt Syntax) na Forma Lógica.»

Das línguas que movimentam os sintagmas-wh em sintaxe visível é exemplo o Inglês, que não dispõe da possibilidade de ter interrogativos in situ (23); só em interrogativas múltiplas ou numa interrogativa eco um constituinte interrogativo pode permanecer na sua posição básica, como se mostra em (23) e (24):

(23) *She met whom? Ela encontro quem? (24) Who met whom?

Quem encontrou quem?

Pelo contrário, embora seja claro que numa interrogativa wh no Chinês o

constituinte-wh é gerado na sua posição de base, Huang (1982:370) argumenta que “só na

componente LF interpretativa o constituinte-wh é movido para uma posição c-comandando a frase, deixando um traço interpretado como uma variável ligado a ele12”, como em (25): (25) Ni xihaun shei? Tu gostas quem Tu gostas de quem? FL [sheii {nixihaun ei] De quem tu gostas?

De acordo com o autor, a diferença entre línguas como o Inglês e o Chinês reside na forma como estas satisfazem o [+WH]-CP´s Principle. O Inglês satisfaz na Estrutura-S (Overt Syntax), enquanto que o Chinês na Forma Lógica (Covert Syntax).

12

(26)

26 Huang mostra ainda que “mover wh” no Chinês está também sujeito a condições de “ilha”:

(26) *[S [NP [S tou-le sheme de ] neige ren bei dai-le]?

roubou o que DE aquela pessoa por apanhado O homem que roubou o que foi apanhado?

(27) *[S [S Zhangsan tao-le shei], zhen kexi]?

Z. casou quem realmente pena Com quem Zhangsan casou é uma pena?

(28) *[S [S Zhangsan tao-le shei], ni zhidao-le]?

Z. casou quem tu conheces Com quem Zhangsan casou, tu conheces?

Nas interrogativas diretas acima procura-se obter a resposta do ouvinte de forma a que este dê o valor do constituinte-wh que ocorre na frase relativa em (26), no sujeito frásico em (27) ou no tópico da frase em (28). Porém, estas frases são agramaticais. Este facto sugere, segundo Huang (1982:380), que Mover-wh no Chinês opera em FL e obedece à Subjacência.

Também (29) é agramatical, mostrando que Mover wh obedece à Restrição do SN Complexo, um subcaso de Subjacência:

(29) [S [NP [S shei yao mai de ] shu ] zui gui]? quem quer comprar DE livro muito caro ´*Os livros que quem quer comprar são muito caros?´

O constituinte wh shei ocorre dentro de um SN complexo e a frase é agramatical.

Em síntese, para Huang (1982) há línguas em que o movimento wh opera em Sintaxe visível (Overt Syntax), e outras línguas em que opera em Forma Lógica (Covert Syntax), mas as condições a que obedecem na Forma Lógica são as mesmas.

(27)

27

1.5. Rizzi (1996): The WH Criterion13

O Parâmetro-Wh tal como foi formulado por Huang (1982) – as línguas dividem-se entre as que têm movimento Wh em Sintaxe Visível e as que têm o movimento Wh em Sintaxe Não Visível, i.e., em Forma Lógica – não dá conta da diferença entre línguas como o Inglês (cf. (23) e (24), aqui repetidos em (30) e (31)), e línguas como o Português (cf. (32), (33) e (34))14 e o Francês (cf. (35) e (36)15:

(30) *She met whom? (agramatical se não for interrogativa eco) (31) Who met whom?

(32) O corvo comeu o quê? (33) Deste o quê a quem?

(34) Queres saber se podes ir aonde? (35) Elle a rencontré qui?

(36) Qui a rencontré qui?

Vemos que línguas como o Português e o Francês têm duas ordens de palavras possíveis para as interrogativas parciais: frases com movimento para a esquerda e frases com os morfemas Wh in situ, daí que a formulação do Parâmetro Wh deva ser revista.

Para dar conta desta diferença, Rizzi (1996) propõe que tanto as línguas como o Inglês como as línguas como o Português e o Francês fixam como valor para o parâmetro a existência de movimento Wh em Sintaxe Visível, mas que se distinguem entre si porque o Inglês dispõe de processo de concordância estática, i.e., uma concordância entre os constituintes que dispõem dos mesmos traços, enquanto o Português e o Francês dispõem de um processo de concordância dinâmica, através do qual um operador-Wh movido para Esp de COMP (C) pode atribuir, por concordância especificador-núcleo, o traço [wh] ao núcleo COMP (C) (Duarte, 2001:116), como exemplificado em (37):

(37) [CP operador-wh [C´ C°] → [CP operador-wh [C´ C°]16

[+Wh]

13 A apresentação de Rizzi (1996) é baseada em Duarte (2000) e (2001). 14 Duarte (2001:115).

15

Duarte (2001:116). 16

(28)

28 O autor desenvolve assim o Critério Wh (Wh Criterion ou Critério Q) como uma forma de tratar do fenómeno da compatibilidade de traços, um tipo de concordância que deve existir entre o especificador e o núcleo de uma categoria. Assim, de acordo com Rizzi, há três suposições iniciais:

(a) Existe o Critério Q17 que regula as frases interrogativas: (38) Critério Q

(i) Um operador Q deve estar em relação Spec-Núcleo com um núcleo Q.

(ii) Um núcleo Q deve estar em relação Spec-Núcleo com um operador Q.

(b)O Critério Q aplica-se na Estrutura-S ou na FL;

(c) Existem línguas em que o traço [Q], presente nas interrogativas, se ancora na Flexão, isto é, o núcleo de F.

A observação mais importante é a contida em (c).

A partir dos exemplos do Inglês abaixo em (39), Rizzi (1996) mostra que há línguas em que tanto uma expressão Wh como a Flexão (no Aux/V) deve ser movida para a esquerda da frase, para haver uma boa formação de frase:

(39) a. What has John seen? O que tem o João visto? b. *Has John see what? Tem o João visto o quê? c. *What John has seen? O que o João tem visto? d. *John has seen what? O João tem visto o quê?

17 cf. The Wh Criterion:

A. “A wh-operator must to be in a Spec-Head configuration with X° [+wh]; B. An [+wh] must to be in a Spec-Head configuration with a wh-operator.” Rizzi (1996:63)

(29)

29 A partir destes fenómenos, Rizzi constrói uma análise das interrogativas segundo a qual a única frase gramatical em que o operador-wh what e Flexão presente em has se encontram em relação Spec-núcleo em CP é a (39a), satisfazendo assim o Critério WH, o que não acontece nas restantes frases em (39); em (39c), apesar de existir um morfema WH na primeira posição, o núcleo de CP não tem o traço [+WH], por não ter operado o movimento do V, e a frase é agramatical.

No Inglês, o Spec de COMP das interrogativas encaixadas deve ser preenchido por um elemento-WH na Estrutura-S (Rizzi, 1996:63):

(40) a. I wonder what John saw. b. *I wonder what did John see.

Em casos de interrogativas encaixadas em que se tem um verbo auxiliar, só vai para C um constituinte com traço [+WH] e o auxiliar não deve mover-se, explicando a agramaticalidade de (41):

(41) a. *I wonder what did John see.

1.6. Rizzi (1997) e (2004): The Left Periphery of the Clause

Nestes dois trabalhos Rizzi propõe que o sistema de complementador (SCOMP/CP) consiste em diferentes núcleos funcionais e nas suas projeções.

Apoiando-se nesta conceção, Rizzi (1997) propõe um sistema de CP em camadas que corresponde à Periferia Esquerda da frase, representando a relação entre o conteúdo da frase (TP ou ST) e o discurso. Partindo desta hipótese, propõe-se projeções funcionais para esse domínio com o intuito de derivar ordens lineares e valores interpretativos diferentes; algumas projeções funcionais são possivelmente agrupáveis18.

A análise proposta em Rizzi (1997) postula uma componente fixa, envolvendo os núcleos Força e Finitude, e uma componente acessória, que envolve os núcleos Tópico

e Foco, que são ativados só quando necessário, ou seja, quando há um tópico ou foco

18 cf. Amaral (2009:63).

(30)

30 para ser acomodados na periferia esquerda da frase, como se ilustra na estrutura em (42):

(42) FORCE (TOP*) FOC (TOP*) FIN IP (Rizzi, 1997)

Este autor considera que o principal papel do sistema complementador (CP) é a expressão da Força (Ilocutória), que distingue os diferentes tipos de frases (frases declarativas, interrogativas, exclamativas) e Finitude, que estabelece a distinção entre frases finitas e não finitas.

Trata-se de dois núcleos distintos fechando o sistema complementador nas suas margens, acima e em baixo, respetivamente (e, talvez, aglomerando-se em um único núcleo nos casos simples). A necessidade de duas posições distintas torna-se visível quando o campo Tópico/Foco é ativado.

O paradigma a seguir é apresentado em Rizzi (1997), envolvendo um Tópico e os Complementadores che ("que") e di ("de"), que ocorrem em Italiano em frases finitas, respectivamente, como ilustra a proposta do autor sobre o sistema CP:

(43) a. Maria crede che potrà leggere il tuo libro.

Maria acredita que (ela) será capaz de ler o teu livro b. Maria crede di poter leggere il tuo libro.

Maria acredita (de) ser capaz de ler o teu livro (44) a.* Maria crede, il tuo libro, che lo potrà leggere.

Maria acredita, o seu livro, que (ela) vai ser capaz de ler b. Maria crede che, il tuo libro, lo potrà leggere.

Maria acredita que, o seu livro, ela será capaz de lê-lo (45) a. Maria crede, il tuo libro, di poterlo leggere.

Maria acredita, o seu livro, de ser capaz de ler b. * Maria crede di, il tuo libro, poterlo leggere. Maria acredita de, o seu livro, ser capaz de lê-lo

(31)

31 De acordo com o pressuposto tradicional, che e di ocupam a mesma posição. A abordagem da camada múltipla abre a possibilidade de che e di, enquanto elementos do sistema C, ocuparem posições distintas.

Para Rizzi, esta possibilidade é apoiada diretamente pela ordenação dos dois complementadores em relação a outras posições estruturais: che deve preceder o Tópico na construção de Deslocamento à Esquerda, como se percebe pela diferença entre as frases (44a) e (44b); enquanto di deve seguir o Tópico, como em (45a) e (45b). Este e outros dados são evidências para a conclusão de que che ocupa a posição mais elevada de C, a Força, enquanto di ocupa a posição mais baixa, Finitude, neste caso [-finito]. Em 2004, Rizzi desenvolve esta perspetiva, mas numa direção ainda mais forte. Assim, propõe o Princípio de Simplicidade Local, que acaba com as representações globais que envolvem a articulação muito rica em estruturas funcionais (Rizzi, 2004:8). O pressuposto básico deste princípio é:

(46) “Um núcleo funcional é composto por exatamente uma característica sintaticamente relevante, não há originalmente núcleos complexos, ou seja, os núcleos funcionais entram na derivação como a representação de exatamente uma característica.” (Rizzi 2004:8). Tradução minha.

Como consequências desta concepção temos as seguintes propostas:

- O domínio C é radicalmente decomposto, cada função de C pode ser analisada como um distinto núcleo, seja Força seja Finitude.

- Cada núcleo funcional pode compor (merge) com um especificador, no máximo, de modo que qualquer frase deslocada acaba como o único especificador de um núcleo distinto.

Rizzi mostra ainda que Int é requerido no Italiano nas interrogativas totais (e em certas interrogativas Wh adverbiais). Nas interrogativas indiretas, o complementador ocorre mais baixo que a posição superior de Top mas acima de Foc, como em (47):

(47) a. Non so, a Gianni, se averbbero potuto dirgli la verità.

(32)

32 Assim sendo, Rizzi propõe a seguinte hipótese de representação estrutural:

(48) [Force [Top* [Int [Foc [Top* [Mod* [Top* [Fin [IP ]]]]]]]]] (Rizzi, 2004:242)

De novo, em CP só Force e Fin são obrigatórios. As outras categorias (Top, Int, Foc e

Mod), só são projetadas, se necessário. Em Italiano, Force é o lugar para o

complementador declarativo che; Esp de FocP é “landing site” dos sintagmas interrogativos wh e Int é o lugar de se.

Este sistema foi recentemente aplicado ao Português por Matos & Brito (2013). Porém, estas autoras defendem que no PE a categoria Int não é seleccionada tal como no Italiano (cf. (47)).

No seu texto, estas autoras argumentam que, nas frases encaixadas do PE, os complementadores declarativos e interrogativos comportam-se da mesma forma: “eles sempre precedem o constituinte topicalizado” (Matos & Brito, 2013:107), como ilustram os exemplos (49) e (50)19:

(49) a. Sei que, ao João, podemos dizer a verdade. b. *Sei, ao João, que podemos dizer a verdade. (50) a. *Não sei, ao João, se podemos dizer a verdade.

b. Não sei se, ao João, podemos dizer a verdade

Portanto, no PE, Force é o único lugar de poiso para força ilocutória, e a proibição do complementador declarativo que em interrogativas indiretas encontra explicação. Matos & Brito (2013) propõem a seguinte representação (51) para as interrogativas indiretas no PE:

(51) [ForceP [WhPi [Force´ [Force <int> [FocP [Foc´ [Foc (é que)

[FinP [TP ]]]]]]]]]

Em (51), WhP ocupa a posição de Esp de ForceP, devido a um traço forte, EPP-feature de Force. FocP é projectado, o núcleo pode ser preenchido por é que, como em (52):

(52) Eu perguntei que livro é que a Maria leu.

19

(33)

33

1.7. Chomsky (1995) e Cheng & Rooryck (2000): breve abordagem do movimento Q no programa minimalista

O Programa Minimalista (PM) vem resolver alguns problemas não tratados pela Teoria da Regência e da Ligação (TRL), descrevendo e explicando os fenómenos sintáticos de forma mais simples e geral possível, para atingir a universalidade do conhecimento linguístico, através de uma estrutura económica e abstrata.

Este programa abandona as noções de estrutura-P e de estrutura-S, e “define apenas dois níveis de representação (as interfaces FF e FL), que têm de obedecer a condições de legibilidade estritas impostas pelos sistemas de performance, (o Princípio FI20); as derivações devem convergir; caso contrário, fracassam” (Raposo, 1998:35). E, ainda, na economia derivacional, as derivações mais económicas bloqueiam as menos económicas, de acordo com o Princípio de Economia.

Com o surgimento do Programa Minimalista, as questões relativas às operações de movimento, vestígios e cadeias reaparecem sob uma nova forma, visto que grande parte do aparato teórico assumido anteriormente foi abandonado.

Chomsky (1995) incorpora no Programa Minimalista a “teoria de movimento por cópias”, de acordo com o qual os vestígios são interpretados como cópias dos constituintes movidos, i.e., quando um sintagma é movido para uma posição mais alta na estrutura sintática, deixa uma cópia na sua posição de base, que é apagada na componente fonológica, mas está disponível para interpretação em FL.

Tal como na TRL, no PM a relação entre o constituinte movido e a respetiva cópia é encarada através da noção de cadeia, garantindo que cada elemento da cadeia codifica todos os traços do constituinte movido. Vejamos o exemplo:

(53) A quem deste o livro?

A estrutura relevante que subjaz à frase (53), por exemplo, deve ser representada como em (54), onde a quem se move deixando uma cópia/vestígio coindexado:

(54) [A quemi [deste o livro [a quemi ]]]

20 Do Inglês «Full Interpretation»; o princípio “concebe como uma exigência de economia nas representações de interface: estas devem ser tão parcimoniosas quanto possível, sem objetos supérfluos (não interpretáveis pelos sistemas externos)”. Raposo (1998:27)

(34)

34 Uma das aplicações mais interessantes do Programa Minimalista relativamente às interrogativas foi feita por Cheng & Rooryck (2000).

A análise destes autores recupera muitas das análises iniciais, ao proporem que as interrogativas, quer de sim/não quer interrogativas Q, têm todas um operador de interrogação (Q) nulo, lembrando o Q silencioso proposto por Baker (1970), que tem repercussões sobre a sintaxe e sobre a prosódia.

Cheng & Rooryck (2000), ao analisar as Wh in situ do Francês, consideram que o morfema Q entoacional é como o morfema Q est-ce que, que também ocorre em interrogativas sim/não e em interrogativas Q, como se ilustra em (55):

(55) a. Est-ce que Jean a acheté un livre? é que João comprou um livro?

O João comprou um livro?

b. Quel livre est-ce que Jean a acheté? Qual livro é que João comprou?

Que livro é que o João comprou?

Quer dizer, est-ce que e o morfema Q entoacional são subespecificados para as interrogativas sim/não e para as Q. Analisemos o exemplo (56):

(56) Jean a acheté un livre? João comprou um livro?

A interrogativa sim/não em (56), de acordo com Cheng & Rooryck (2000:8), pode ser representado (em sintaxe visível) como em (57):

(57) Q Jean a acheté un livre [Q: ] João comprou um livro

Estes autores argumentam que este tipo de morfemas Q, não especificado completamente, precisam de ser verificado. Em (55a) e (57), a subespecificação do morfema Q é resolvida pela operação padrão, gerando um valor de [sim/não] para o atributo Q em FL. Por outras palavras, a FL de [Q: ] é definido pelo padrão para [Q:

sim/não]. Como resultado, (57) é interpretado como uma interrogativa sim/não, assim

(35)

35 Cheng & Rooryck (2000:9) propõem que nas interrogativas Q in situ o operador Q nulo é inserido para verificar Q em C, e os morfemas Q ocorrem em Cpara verificar Q de C, como se mostra na representação de (58) em (59):

(58) Jean a acheté quoi? João comprou o quê (59) Q Jean a acheté quoi?

[Q: ] João comprou o quê

Se nenhuma operação ocorresse em FL de (59), iria produzir uma interpretação ilegítima, uma vez que o padrão de fixação de subespecificação Q é [Q: sim/não], como em (57). Esta interpretação padrão deixaria a interpretação do morfema Q quoi por verificar. Por isso, além de preencher o valor padrão, “a subespecificação Q pode ser verificada de outra maneira: em FL, a subespecificação de Q pode ser verificado através do movimento do morfema Q quoi para C0” (Cheng & Rooryck, 2000:9) (minha tradução). Seguindo Chomsky (1995), estes autores assumem que apenas os traços se movem na FL. “O movimento de Q para C0 define a mudança do valor de [Q: ] para [Q: Wh]” (Cheng & Rooryck, 2000: idem). Quer dizer, a natureza subespecificada do morfema Q desencadeia o movimento Q. Se não se dá o movimento, a interrogativa acaba por ter a interpretação de [Q: sim/não].

Em suma, Cheng & Rooryck (2000) consideram que ocorre um operador Q entoacional nas interrogativas sim/não e nas interrogativas Q em línguas como o Francês. Diferentemente das interrogativas sim/não, nas interrogativas Q o morfema Q move-se para desambiguar a subespecificação de Q, definindo o seu valor para [Wh], e não para verificar C, pois este é verificado pela própria prosódia.

Retomaremos esta questão quando discutirmos as interrogativas Q in situ e as interrogativas com o Q na posição intermédia no PM.

(36)

36

1.8. Síntese do Capítulo

Neste capítulo, fizemos um percurso histórico acerca do tratamento do movimento Wh/Q. Apesar das diferenças no tratamento, pensamos que os diferentes tratamentos subdividem-se em duas grandes perspetivas de abordagem da Periferia Esquerda das interrogativas-Q. Vejamos quais as principais ideias:

A primeira abordagem é a de Chomsky (1981, 1982) que teve dois momentos: (i) o movimento Q é analisado como regra de adjunção a COMP. A esta estrutura aplica-se ou não, conforme as línguas, o Filtro de COMP duplamente preenchido; (ii) O movimento Q é um movimento de substituição e não de adjunção, como era anteriormente considerado; portanto, os sintagmas Q ocupam a posição de Esp de

COMP e a existência ou não de sequências wh/que fica sujeita a variações paramétricas.

Já na segunda abordagem, a abordagem cartográfica de Rizzi (1997, 2004) propõe que o COMP (CP) possui diferentes núcleos funcionais e as suas projeções. Nesta abordagem, o sistema de CP é constituído por diferentes camadas correspondentes à Periferia Esquerda da frase, representando a relação entre o conteúdo e o discurso. Rizzi defende que na periferia esquerda existem componentes fixas (Força e Finitude) e acessórias (Tópico e Foco), que são activadas quando necessárias. Portanto, opta por uma abordagem cartográfica do sistema CP/SCOMP.

Nos próximos capítulos vamos ver que as duas abordagens têm sido propostas para as análises das interrogativas Q no PE e no PB.

Para a análise destas interrogativas Q no Português de Moçambique adotaremos a perspetiva que se mostrar mais económica.

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37

CAPÍTULO II

PE E PB: PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS DAS INTERROGATIVAS

PARCIAIS E ALGUNS TRATAMENTOS

(38)

38

2.1. Introdução

Nas interrogativas parciais de constituintes ou interrogativas-Q, o foco da interrogativa incide sobre um constituinte, daí a presença de palavras interrogativas, que a gramatica tradicional designa por “pronomes”, “adjetivos” ou “advérbios” interrogativos (Brito, 2003:463). No PE, tais constituintes são normalmente movidos para a posição inicial da frase interrogativa, embora possam não sê-lo (60c); e as interrogativas do PE não são

seguidasde que, o que pode acontecer em PB, como em (60d). Em PE há alteração da

ordem de palavras em certas interrogativas introduzidas por pronomes interrogativos “simples”, i.e., “não D-linked” enquanto em PB não, como se mostra em (60a) e (60b):

(60) a. O que fez o João? PE PB b. O que o João fez? *PE PB

c. O João fez o quê? PE PB d. Onde que esteve o João? *PE PB

Existem muitos estudos sobre estes fenómenos nas duas variedades, nomeadamente: Ambar (1992 e 2006); Brito (2003); Lopes Rossi (1993); Duarte (2000); Barbosa (2001); Amaral (2009); Alexandre (2009) e Kato (2013).

De diferentes modos estes autores têm dado resposta a algumas das seguintes questões: (i) É o movimento Q obrigatório ou opcional nas interrogativas destas duas variedades do Português? (ii) Como é que as duas variedades lidam com o chamado efeito de «COMP duplamente preenchido»? (iii) De que modo as interrogativas-Q estão relacionadas com a questão da ordem de palavras nestas variedades do português?

2.2. As interrogativas parciais na Gramática Tradicional

As gramáticas tradicionais limitam-se a descrever o valor e o emprego dos pronomes interrogativos, pouco ou nada dizendo sobre os problemas sintáticos com elas relacionados.

Na Gramática Histórica da Língua Portuguesa, Said Ali define frase interrogativa como sendo uma frase que transmite os seus pensamentos sob forma de pergunta, quer proferida isoladamente, quer em meio de um discurso (Said Ali, 1964:274).

(39)

39 Este autor considera que a tonalidade, nestas frases, é mais alta que as das frases expositivas, as quais em geral terminam por uma nota mais grave, veja-se o contraste nos exemplos:

(61) a. Chove. (normal) b. Chove? (+alta)

c. Perdeste um grande amigo. (normal) d. Perdeste um grande amigo? (+alta)

Said Ali (1964:274) considera ainda que a interrogativa indireta exprime-se por meio de oração composta com a tonalidade habitual da linguagem expositiva, constituindo-se a oração principal com o verbo denotador de desconhecimento ou desejo de ser informado, e enunciando-se sob a forma de subordinada, iniciada por partícula dubitativa ou expressão interrogativa, aquilo sobre que se deseja ter informação ou conhecimento:

(62) a. Não sei se ficarás.

b. Diga-me se ele está em casa.

c. Quisera saber onde anda, quando virá e porque se demora.

Nas gramáticas de Silva Dias (1970) Sintaxe Histórica Portuguesa e de Cunha e Cintra (1984) Nova Gramática do Português Contemporâneo, discute-se o valor e emprego dos pronomes interrogativos, porém, ainda sem tratar questões sintáticas como a alteração da ordem de palavras ou a posição do pronome interrogativo (inicial ou final), entre outras questões.

Silva Dias (1970) mostra, através de exemplos, os valores de determinados pronomes interrogativos, como que, quem, qual e quanto, que podem ocorrer em vários contextos. Por exemplo, que pode ocorrer, uma vez como adjetivo (cf. (63a)), outras como substantivo (cf. (63b)):

(63) a. Que dia da semana é hoje? (Lus., 1, 50)

b. Que sam os aplausos da fama, senão reclamo dos ódios? (Pe. António de Sá, serm. da Cinza, 13)

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40 Nas interrogativas indiretas, como as de (63b), o que equivale a «que cousa» e pode ser substituído por «o que» (Silva Dias, 1970:87).

Na opinião de Cunha e Cintra (1974), os pronomes interrogativos estão estreitamente ligados aos pronomes indefinidos. Tal como Silva Dias (1964), estes autores não se preocupam com questões sintáticas que envolvem as interrogativas e discutem mais o valor, a flexão e o emprego dos pronomes interrogativos.

“Chamam-se interrogativos os pronomes que, quem, qual e quanto, empregados para formular uma pergunta direta ou indireta.” (Cunha & Cintra, 1970:352).

Quanto ao valor e emprego de que, Cunha e Cintra (1974:353) consideram que, para dar mais ênfase à pergunta, em lugar de que podemos ter o pronome substantivo o que:

(64)a. O mundo? O que é o mundo, ó meu amor? (Florbela Espanca, S, 90.) Portanto, consideram que nenhuma razão assiste aos que condenam a anteposição do o ao que interrogativo.

Em síntese, como se pode notar, na tradição gramatical luso-brasileira, os gramáticos preocupavam-se mais em estabelecer o uso dos pronomes, e deixavam de lado questões sintáticas que marcam este tipo de construções.

2.3. Interrogativas-Q no Português Europeu e no Português Brasileiro

Nesta secção, faremos uma análise comparativa das propriedades fundamentais das interrogativas-Q nas variedades europeia e brasileira do Português, mostrando as reflexões de alguns linguistas portugueses e brasileiros. Particularmente procuramos estudar os seguintes aspetos: (i) as interrogativas com movimento-Q com ou sem inversão do sujeito-verbo; (ii) as interrogativas-Q com Q in situ (verdadeira e eco); (iii) as interrogativas com «COMP duplamente preenchido»; (iv) as interrogativas com é que com e sem inversão do sujeito.

(41)

41

2.3.1. Interrogativas-Q no Português Europeu

No Português Europeu, as interrogativas-Q envolvem em geral movimento do V obrigatório e alteração da ordem de palavras, exceptuando-se casos em que temos constituintes D-linked21 (Q + N) ou interrogativas Q com é que. Embora pouco frequentes nesta variedade do Português, encontramos ainda interrogativas in situ e a total rejeição de interrogativas Q com «COMP duplamente preenchido».

2.3.1.1. O movimento-Q e a alteração da ordem de palavras

Como é sabido, o PE contemporâneo exibe vários tipos de interrogativas-Q, entre as quais se destacam as interrogativas com movimento Q22 com alteração da ordem de palavras:

(65) a. O que comeu o corvo? b. *O que o corvo comeu?

Ambar (1992), que pertence a uma geração de linguistas formados no quadro da Gramática Generativa, estuda as questões sintáticas que envolvem as interrogativas-Q e mostra que a alteração de ordem de palavras nas interrogativas em Português não resulta de um só movimento do verbo mas de dois tipos de movimentos do verbo para justificar a alteração da ordem das palavras exibidos nalguns dos exemplos seguintes:

(66) a. Que/o que comprou a Joana? a’. * Que/o que a Joana comprou?

(67) a. Que vinho o João bebe habitualmente? a’. Que vinho bebe o João habitualmente? b. *Que o João bebe habitualmente? b’. Que bebe o João habitualmente? (68) a. Quando telefonam os teus amigos?

a’. *Quando os teus amigos telefonam? (69) a. Não sei que comprou o João.

21 Cf. Pesestsky (1987) sobre “D-Linked” e “D-Non-Linked”: D-linked é uma expressão nominal ligada ao discurso anterior, com um nome explícito.

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