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A OMISSÃO DO ESTADO EM RELAÇÃO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

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A OMISSÃO DO ESTADO EM RELAÇÃO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: DA FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS AO CAOS DO SISTEMA CARCERÁRIO

BRASILEIRO1

THE OMISSION OF THE STATE IN RELATION TO THE DIGNITY OF THE HUMAN PERSON: LACK OF PUBLIC POLICIES TO THE CHAOS OF THE BRAZILIAN CARCERARY

SYSTEM

Luís Antonio Barboza da Silva2; Adilsen Cláudia Martinez3 RESUMO

Este artigo traça um paralelo entre a omissão do estado brasileiro em relação ao seu dever de garantir direitos fundamentais mais básicos, como a dignidade da pessoa humana, e seus reflexos no aumento da população carcerária brasileira, demonstrando que quanto mais o Estado se omite ao não garantir educação, saúde e segurança de qualidade, um maior número de administrados se desvirtua. Em busca de sobrevivência e na falta de oportunidades, o crime é a opção. Porém, ao ser condenado pelo Estado, sua dignidade continuará a ser desrespeitada quando encarcerado, já que o desrespeito começa no nascimento e atinge níveis ainda piores no aprisionamento.

Palavras-chave: Dignidade da pessoa humana. Estado brasileiro. Omissão. Direitos fundamentais. Sistema

carcerário brasileiro. ABSTRACT

This article draws a parallel between the Brazilian state 's omission in relation to its duty to guarantee more basic fundamental rights, such as the dignity of the human person, and its repercussions on the increase of the Brazilian prison population, demonstrating that the more the state is omitted by not guaranteeing quality education, health and safety, a greater number of administrated ones are distorted. In search of survival and lack of opportunities, crime is the option. However, when condemned by the state, his dignity will continue to be disrespected, when imprisoned, since disrespect begins at birth and reaches even worse levels in imprisonment. Key words: Dignity of the human person. Brazilian state. Omission. Fundamental rights. Brazilian prison system.

SUMÁRIO

1. Introdução; 2. A dignidade da pessoa humana: breve tentativa de conceituação; 3. O papel natural do Estado como garantidor maior de direitos; 4. O Estado na prática: a omissão em relação às garantias fundamentais dentro e fora do cárcere; 5. A desídia do Estado quanto aos investimentos necessários: omissão e improbidade administrativa; Considerações finais; Referências bibliográficas.

1 Projeto de pesquisa exigido pela Faculdade de Direito do Centro Universitário Braz Cubas, como requisito para aprovação do 10º semestre na disciplina Projeto Integrador X. Professora orientadora: Adilsen Claudia Martinez. 2Graduando do Curso de Direito pelo Centro Universitário Braz Cubas, Mogi das Cruzes/SP. labs.info@uol.com.br

3 Mestrado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Docente junto ao Curso de Direito do Centro Universitário Brazcubas.

Revista do Curso de Direito Brazcubas V2 N1: Dezembro de 2018

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1 INTRODUÇÃO

Ao ponderarmos se o Estado Brasileiro vem efetivamente implementando políticas públicas suficientes para atender toda a população, podemos perceber a grande distância entre o que vem sendo realizado e aquilo que a Constituição Federal de 1988 consagrou como o mínimo necessário, em termos de direitos fundamentais, para garantir a todos que, por exemplo, a dignidade da pessoa humana seja de fato respeitada. E isso ocorre tanto pela falta de escolas de boa qualidade, quanto pelos baixos investimentos em segurança pública, construção de postos de saúde dignos, ou mesmo meios de transportes adequados. Quando abordamos esse princípio fundamental sob a ótica do sistema prisional brasileiro temos uma realidade ainda mais cruel e distante da teoria.

Prevista no inciso III, do Artigo 1º da Constituição Federal de 1988, a dignidade da pessoa humana é princípio fundamental da República Federativa do Brasil. É tratada por nosso Superior Tribunal Federal como o “verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso país”4.

Não obstante, vemos o Estado falhar dia após dia, ao não garantir o devido respeito à dignidade da pessoa humana, implementando de forma precária políticas públicas que não oportunizam a contento o devido acesso, por exemplo, à educação e saúde de qualidade, em seus patamares mais básicos e, assim, o próprio Estado abre campo para desvios de conduta, pois havendo desrespeito por parte do Estado ao contrato tacitamente formalizado entre este e seus administrados, o cidadão, diante da omissão daquele que deveria “dar o exemplo”, vê a sua frente “a ocasião”5 para se socorrer em soluções alternativas e, já que não há oportunidades para todos, é óbvio que todo aquele à margem de seus direitos, irá procurar um caminho alternativo de sobrevivência. E não é raro ver o crime ser o escolhido.

O Estado, valendo-se do seu direito de punir, no momento em que retira esses cidadãos da sociedade para ressocialização, negligencia novamente, ao condená-los a estadias subumanas no caótico sistema penitenciário brasileiro, hoje comparado a depósitos de gente ou aos porões dos primeiros navios negreiros que aqui chegaram, considerando que a grande maioria desses infratores tiveram seus direitos mais básicos desrespeitados por toda uma vida,

4 Supremo Tribunal Federal. HABEAS CORPUS. HC 1013357 MC, Relator: Min. Celso de Mello,

DJE-051-22/03/2010. STF Jurisprudência. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000083 730 &base=baseMonocraticas> Acesso em 27 maio 2018.

5 LACERDA, Roberto Cortes; ABREU, Estela dos Santos; LACERDA, Helena da Rosa Cortes de. Dicionário de provérbios: francês, português, inglês (Provérbio português a ocasião faz o ladrão)-2. ed. ver. ampl. São Paulo: Editora UNESP, 2004. pág. 344. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=gobwq-c9w34C&printsec=frontcover&dq=inauthor:%22Roberto+Cortes+de+Lacerda%22&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ah UKEwj3gtC2nqfbAhVGkpAKHdUnBSgQ6AEIJzAA#v=onepage&q&f=false>. Acesso em 27 maio 2018.

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por esse mesmo Estado. Chico Buarque, ao escrever sua recente composição “As Caravanas”6, ao pontuar acerca da grande população nas celas, lembrou que “essa zoeira dentro da prisão” parece a mesma que faziam os “crioulos empilhados no porão” (dos navios); porões esses que ainda traduzem o exemplo máximo da violação de direitos e da dignidade da pessoa humana.

Curiosamente, embora a Constituição Federal de 1988 afirme que a República Federativa do Brasil tem como objetivos fundamentais, dentre outros, construir uma sociedade justa, erradicar a pobreza e promover o bem de todos, matrizes diretamente ligadas à essência da dignidade do homem, cada dia mais vemos nos meios de comunicação em geral, propostas do Estado para reduzir os investimentos em políticas públicas que tenham como foco direitos básicos como segurança, educação e saúde, como é o caso da aprovação do recente Projeto de Emenda Constitucional, que ficou conhecida como a PEC7 do teto dos gastos públicos, que congelou os investimentos nas citadas áreas por 20 anos. A medida em que isso ocorre, assistimos quase que impotentes ao aumento da violência de todas as formas, seja física, psicológica ou moral. Há aqui uma relação direta de causa e efeito.

E, diante dessa dura realidade, nos inquieta a necessidade de refletir acerca dessa relação, sobrevindo um questionamento ainda maior, no sentido de mensurar de que forma o próprio Estado contribui para o aumento da população carcerária ao não garantir, principalmente à população mais pobre, um direito tão básico e, ao mesmo tempo, tão fundamental, como a Dignidade da Pessoa Humana.

Considerando que tais situações estão diretamente relacionadas e constatando que a população carcerária brasileira cresce vertiginosamente, o presente artigo, com base em variada e diversificada bibliografia de pesquisa, tanto em livros e artigos, quanto em dados oficiais disponíveis em órgãos públicos, pretende trazer algumas reflexões e buscar algumas respostas, sem esgotar o tema, acerca da relação direta entre a omissão do Estado quanto aos direitos fundamentais e o crescimento da população carcerária brasileira.

1 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: BREVE TENTATIVA DE CONCEITUAÇÃO

Na antiguidade, para pensadores, filósofos e políticos, constatamos que a dignidade estava diretamente relacionada com a posição social ocupada pela pessoa, e de que maneira havia, por parte dos membros da sua comunidade, mais ou maior reconhecimento, 6 HOLANDA, Chico Buarque de. Caravanas. As Caravanas. Biscoito Fino, 2017. 1 CD. Faixa 9 (3 min 01).

Disponível em < https://biscoitofino.com.br/produto/caravanas/#descricao>. Acesso em 27 maio 2018.

7 Proposta de Emenda à Constituição n° 55, de 2016 - PEC DO TETO DOS GASTOS PÚBLICOS. Disponível

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forjando assim a ideia de quantificação e modulação da dignidade, no sentido de se admitir a existência de pessoas mais ou menos dignas. Mas foi no pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, que a concepção da dignidade da pessoa humana sobreveio com uma noção fundamental da igualdade entre todos os homens, em dignidade e liberdade. Thomas Hobbes afirmou que “o valor público de um homem, aquele que lhe é atribuído pelo Estado, é o que os homens vulgarmente chamam dignidade”8.

Nesse mesmo caminhar, o Constituinte de 1988, ao se referir à dignidade da pessoa humana, colocou-o como fundamento da República e do Estado Democrático de Direito Brasileiro. Nas palavras de BUCH (2014, p. 19), trata-se de um emaranhado ordenamento jurídico na esfera penal e processual penal, voltado às mais importantes garantias constitucionais, como preservação da liberdade, acesso à Justiça, à motivação das decisões e à dignidade da pessoa humana, entre outros.

Ainda mais contemporaneamente, BARROSO asseverou que a noção de dignidade humana varia no tempo e no espaço, sofrendo o impacto da história e da cultura de cada povo, bem como de circunstâncias políticas e ideológicas9. Sendo assim, é impossível falar sobre dignidade da pessoa humana sem citar a Declaração dos Direitos Universais do Homem (ONU/1948); a Convenção europeia para a salvaguarda dos direitos do homem e das liberdades fundamentais (Roma/1950); o Pacto internacional de direitos civis e políticos (1966); a Convenção dos Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), ratificado pelo Brasil em 1992, entre outros.

SARLET (2011, p. 24) afirma que há quem aponte para o fato de que a dignidade da pessoa não deve ser considerada, pelo menos não exclusivamente, como algo inerente à natureza humana (no sentido de uma qualidade inata pura e simplesmente), isto na medida em que a dignidade possui também um sentido cultural, sendo fruto do trabalho de diversas gerações e da humanidade em seu todo, razão pela qual as dimensões natural e cultural da dignidade da pessoa se complementam e interagem mutuamente, refutando-se a tese de que a dimensão ontológica da dignidade possa ser equiparada a uma dimensão por assim dizer biológica. SARLET (2011, p. 24, apud Ernst Benda, 1984, p. 23), sugere ainda que, para que a noção de dignidade não seja mero apelo ético, impõe-se que seu conteúdo seja determinado no contexto da situação concreta, tanto da conduta estatal que toma para si o direito de punir, quanto do comportamento de cada pessoa humana, pois, ainda segundo SARLET (2011, p.

8 MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São Paulo: Nova Cultural, 2004. 495 p.

9 Luís Roberto Barroso, A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâneo: Natureza

Jurídica, Conteúdos Mínimos e Critérios de Aplicação. Versão provisória para debate público. Mimeografado,

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24, apud M. Sachs, Verfassungsrecht II – Grundrechte, p. 178 e ss.), temos que a dignidade da pessoa humana é ao mesmo tempo e concomitantemente limite e tarefa dos poderes estatais e da comunidade em geral, de todos e de cada um, condição dúplice esta que também aponta para uma paralela e conexa dimensão defensiva e prestacional da dignidade.

Longe de alcançar um conceito acabado, SARLET (2011, p. 31 apud L. Luiz Streck e J. L. Bolzan de Morais, Ciência Política e Teoria Geral do Estado, p. 83 e ss.) nos diz ainda que fato é que a dignidade da pessoa humana continua, talvez mais do que nunca, a ocupar um lugar central no pensamento filosófico, político e jurídico, do que dá conta a sua já referida qualificação como valor fundamental da ordem jurídica, para expressivo número de ordens constitucionais, pelo menos para as que nutrem a pretensão de constituírem um Estado Democrático de Direito.

2 O PAPEL NATURAL DO ESTADO COMO GARANTIDOR MAIOR DE DIREITOS

Partindo do princípio de direitos e deveres impostos pelo Estado, às pessoas e a si mesmo, onde não houver respeito pela vida e pela integridade física e moral do ser humano, onde as condições mínimas para uma existência digna não forem asseguradas, onde não houver limitação do poder, enfim, onde a liberdade e a autonomia, a igualdade (em direitos e dignidade) e os direitos fundamentais não forem reconhecidos e minimamente assegurados, não haverá espaço para a dignidade da pessoa humana; e a pessoa, por sua vez, poderá não passar de mero objeto de arbítrio e injustiças, pois tudo, portanto, converge no sentido de que também para a ordem jurídico-constitucional a concepção do objeto (ou homem-instrumento), com todas as consequências que daí podem e devem ser extraídas, constitui justamente a antítese da noção de dignidade da pessoa, embora esta, à evidência, não possa ser, por sua vez, exclusivamente formulada no sentido negativo (de exclusão de atos degradantes e desumanos), já que assim se estaria a restringir demasiadamente o âmbito de proteção da dignidade (SARLET, 2011, p. 28).

O Estado, detentor do direito de punir e garantidor natural dessas premissas básicas, é, na prática, o violador maior desses direitos fundamentais e quando ele não possibilita que sua população tenha acesso aos mais básicos direitos, sem distinção de cor, raça, religião, etc., e consequentemente tenha oportunidades iguais para formação pessoal e profissional, por exemplo, não contribui para formar cidadãos íntegros, honestos, descentes e vai na contramão daquilo que se espera, propiciando diretamente o aumento de sua população carcerária, na medida em que seus cidadãos irão procurar as mais variadas formas de

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sobreviver, iniciando por delinquências, infrações, contravenções, chegando até mesmo aos crimes hediondos.

E essa obrigação natural por parte do Estado em relação aos direitos mais básicos está muito presente em nosso ordenamento jurídico. Prova disso é o comprometimento legal do Estado com a ressocialização de presos durante o cárcere, mesmo considerando que o homem faz suas escolhas, ao não proceder como se espera diante das vedações que o diploma legal prevê, ainda assim é papel do Estado aplicar a punição visando, essencialmente, a ressocialização. Independentemente das posições divergentes acerca da obrigação x a não obrigação do Estado, nos lembra SARLET (2011, p. 28-29), que temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando num complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais seres que integram a rede da vida. Assim, tanto o cidadão livre, quanto aquele encarcerado, merecem tratamento igual no que se refere à dignidade da pessoa humana, sendo necessário haver obrigações e restrições legais, mas, sobretudo, respeito aos direitos fundamentais de ambos.

BUCH (2014, p. 12), afirma que, numa perspectiva ética que percebe a falta do Estado, violador maior dos direitos dos seres humanos detidos, ainda é factível concretizar a dignidade da pessoa humana no cárcere. Até porque, dentre o vasto emaranhado de leis do nosso ordenamento jurídico, encontramos por diversas partes a obrigação do Estado em preservar a dignidade e, mais ainda, de promover a ressocialização e reinserção do apenado na sociedade.

A título de exemplo, acerca dessa obrigação estatal de preservar a dignidade de todos, inclusive dos infratores, podemos tomar como base o artigo 1º da Lei de Execução Penal, que estabelece que a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. E, muito antes até do artigo supra, durante a elaboração da redação da referida lei, os legisladores, quando se ocuparam da exposição dos motivos da lei10, já expunham nos itens 13 e 14, que deve o Estado ofertar meios com os quais os apenados e os submetidos às medidas de segurança venham a ter participação construtiva na comunhão 10 Legislação Informatizada LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984. Institui a Lei de Execução Penal

-Exposição de Motivos. Disponível em <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-1987/lei-7210-11-julho-1984-356938-exposicaodemotivos-149285-pl.html> Acesso em 27 maio 2018.

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social e que as penas e as medidas de segurança devem realizar a proteção dos bens jurídicos e a reincorporação do autor na comunidade. A redação é tão cristalina que não há margens para interpretações, não restando dúvida que é preceito impositivo ao Estado zelar pela dignidade de seus cidadãos, até mesmo na ressocialização daqueles encarcerados.

Mas, conforme veremos adiante em números, apesar de ser grandiosa a mencionada rede de proteção estatal brasileira aos direitos fundamentais, como a dignidade por exemplo, temos que da teoria à prática há um longo caminhar e, diante de uma sociedade em caos e um Estado cada vez mais inoperante, conforme nos ensina o BUCH (2014, p. 14), a função oficial da pena, seja geral ou especial, positiva ou negativa, não vem servindo para o que oficialmente se propõe, ou seja, a prevenção, considerando que a violência urbana é um fenômeno muito mais complexo, que passa pela anomia, desorganização social, ideologia da felicidade de consumo, simbolismos, estigmatizações, as cifras negras, etc.

3 O ESTADO NA PRÁTICA: A OMISSÃO EM RELAÇÃO ÀS GARANTIAS FUNDAMENTAIS DENTRO E FORA DO CÁRCERE

Tomando por base as palavras de BUCH (2014, p. 14-15, apud FRANCO, 2013), não é difícil entender porque as prisões brasileiras encontram-se em situação tão calamitosa, quando se olha o baixo investimento do Estado em políticas públicas preventivas e normalmente se socorrendo de atitudes paliativas e até populistas. Conforme ele nos lembra, na maior parte do Brasil os equipamentos prisionais estão esgotados e não suportam a enorme carga de sua clientela, que proferem inclusive decisões equivocadas, oriundas de uma manifesta indiferença judicial, resultando num escandaloso número de presos provisórios, em verdadeiras jaulas, onde pessoas se entredevoram, pois não há assistência material, de saúde, jurídica e social, tornando a execução penal brasileira um convite deliberado ao ingresso num processo de dessocialização

Some-se a isso uma prestação jurisdicional por vezes equivocada, como mencionado por BUCH (2014, p. 30, apud MUÑOS 2013, p. 15) acerca do registrado no Editorial do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCRIM11, nº 124, que observou que Magistrados criminais devem agir conscientes de seus deveres constitucionais, não se intimidando com campanhas moralizadoras de fachada, e até sensacionalistas, de grande parte da imprensa ou de quem quer que seja. Lembremos aqui da lição de Sócrates12, acerca das

11 IBCCRIM – Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. Entidade não-governamental, sem fins lucrativos, de utilidade pública e promotora dos Direitos Humanos. Disponível em <https://www.ibccrim.org.br/quemsomos> Acesso em 27 maio 2018.

12 Sócrates (470 a.C.-399 a.C.) foi um filósofo grego. “Conhece-te a ti mesmo” é a essência de todo seu ensinamento. O saber, de acordo com Sócrates é uma virtude. Sócrates tinha a profissão de escultor, mas raramente nela trabalhava. Preferiu moldar ideias abstratas. Sua maior ambição era ser não somente um mestre,

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quatro características que deve ter um juiz, quais sejam, ouvir cortesmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente.

BUCH (2014, p. 11, apud MELLO, 1994, p. 45), nos diz ainda que os atores jurídicos acabam por aceitar como algo dogmático que o direito seja uma expressão das classes dominantes e de como garantir a dominação, pouco se fazendo no mundo jurídico para resgatar sua real posição global de transformação do presente e construção de um futuro melhor. Também segundo ele (2014, p. 11-12), se há crise na execução penal, é porque os Poderes Constituídos não têm feito sua lição de casa, no investimento sério e numa política de estado para o sistema prisional, independente das mudanças de governo e dos agentes políticos.

E de fato, quando olhamos números, estatísticas e gráficos, eles não nos deixam mentir. O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias do INFOPEN13, informa que, em 2016, o Brasil possuía 726.712 pessoas privadas de sua liberdade, seja no sistema penitenciário regular, em secretarias de segurança, carceragens de delegacias ou no Sistema Penitenciário Federal. Ainda segundo o mesmo levantamento, o Brasil possui ao todo, hoje, 368.049 vagas e, no comparativo entre vagas disponíveis x população carcerária, temos 2 presos ocupando o espaço onde caberia apenas um, ou seja, uma ocupação de 197,4%. Vê-se claramente a omissão do Estado, ao não proporcionar escolas, transporte, saúde, etc., reincidindo no mesmo erro com seus administrados em situação de cárcere. É certo que o Estado não vem respeitando a dignidade da pessoa humana, em condições supostamente favoráveis ao administrado, menos ainda quando da privação da liberdade.

Tanto é assim, que essa omissão por parte dos Poderes Constituídos está comprovada no Relatório de Gestão de 2017 do DMF do Conselho Nacional de Justiça14, que observa não ser a crise do sistema carcerário brasileiro um fato recente, registrando ainda a conotação de drama humanitário à ela associada, já que o Brasil é o 3º país entre aqueles que mais detêm pessoas em situação de privação de liberdade.

Analisando ainda o elevado índice de reincidência que dela decorre, fica evidenciado no relatório que o sistema carcerário brasileiro carrega a marca da ineficiência, ou seja, o Estado brasileiro não garante direitos básicos e não cumpre sua obrigação legal de recuperar o apenado. E vai além, ao afirmar que sepulta direitos historicamente conquistados,

mas um benfeitor da humanidade. Desejava ver a justiça social estabelecida em todo o mundo. Disponível em < https://www.ebiografia.com/socrates/>. Acesso em 20 maio 2018.

13 INFOPEN – Departamento Nacional Penitenciário – DEPEN, órgão subordinado ao Ministério da Justiça. 14 Relatório de Gestão do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas do Conselho Nacional de Justiça. 2017. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/04/23902dd211995b2bcba8d4c3864c82e2.pdf> Acesso em 20 maio 2018.

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consagrados na Constituição Federal e nos Tratados Internacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil é signatário. O relatório observa ainda que recente ranking divulgado pelo Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Criminal denuncia que no Brasil encontra-se um terço das 50 cidades mais violentas do mundo e que, fato notório, a desigualdade social tem grande peso na explicação dessa realidade.

Um outro relatório, este do grupo de trabalho sobre Detenção Arbitrária da ONU15, descreveu a realidade carcerária brasileira como alarmante e, embora o sistema de justiça criminal brasileiro trabalhe sob matrizes garantistas, há um desencontro entre a lei e sua aplicação. Ou seja, o mesmo Estado que não garante a preservação da dignidade da pessoa humana em relação aos direitos básicos do cidadão, irá puni-lo mais tarde e tornar a desrespeitar sua dignidade, considerando que o relatório da ONU constatou que a sanção infligida aos apenados ultrapassa os limites e o sentido da punição, de forma a tornar o Estado tão criminoso quanto àqueles que confinou, na medida em que tolera esse quadro de violações, sem intervir adequadamente para remediar essa realidade. E vai além ao afirmar que o Estado, ao retirar essas pessoas da sociedade, vai colocá-las em celas imundas, desprovidas de salubridade. Aqueles encarcerados acabam por estar relegados à própria sorte, ficando à margem da dignidade que o Estado tem por princípio e obrigação preservar. Em vez de ressocialização, estarão sujeitos às torturas, maus-tratos, proliferação de doenças infectocontagiosas, falta de água potável, violência sexual, comida estragada, falta de componentes básicos de higiene pessoal, ao ócio penitenciário, etc.

E esse quadro assustador está longe de sofrer mudanças positivas, haja vista que dados disponíveis em sites oficiais só corroboram a flagrante omissão dos governos em relação aos direitos fundamentais. Em rápidas pesquisas é possível traçar um parâmetro entre investimentos realizados nas áreas de educação e segurança, sendo factível que essa omissão se dá a partir do exato momento em que o Estado deixa de priorizar políticas públicas preventivas, como a construção de escolas, e passa a dar ênfase a gastos com as corretivas, como construção de presídios ou medidas paliativas e emergenciais, como deslocamento das forças armadas e de segurança nacional, para conter situações cada vez mais corriqueiras e que só confirmam a falta de planejamento e investimentos em ações preventivas. Essas desesperadas ações, que a cada dia se mostram mais ineficazes e equivocadas, comprometem os orçamentos com gastos que não geram nenhum retorno ao estado e ocorrem apenas naqueles momentos em que, por exemplo, rebeliões acontecem em presídios que não prezam pelo princípio da humanização da pena e muito menos pela dignidade da pessoa humana. 15 Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária da ONU. Disponível em <

https://nacoesunidas.org/grupo-de-trabalho-sobre-detencao-arbitraria-declaracao-apos-a-conclusao-de-sua-visita-ao-brasil-18-a-28-marco-de-2013/ > Acesso em 20 maio 2018.

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Tanto é assim, que o próprio sítio do governo federal informa que no ano de 2017 a União foi acionada pelos estados em vários momentos para ajudar em questões de segurança pública. Conforme amplamente divulgado nas mídias e até mesmo pelo próprio Governo Federal16, este atendeu aos pedidos com o envio de tropas da Força Nacional e das Forças Armadas. Consta também que, no mesmo ano, foram repassados R$ 1,2 bilhão do Fundo Penitenciário Nacional – FUPEN, para cada unidade da federação – o maior volume de recursos da história – para os estados construírem e reformarem presídios e penitenciárias. Cada Estado-membro foi contemplado com R$ 47,7 milhões. Chama a atenção que desse total, R$ 32 milhões eram para a construção de novos presídios17, e o restante para equipamentos e outros gastos, sendo que esse montante foi entregue sem qualquer necessidade de contrapartida, reafirmando uma política de omissão cada vez mais presente, que não preza por medidas preventivas e só corrobora ainda mais a ideia de ações apenas paliativas.

A falta de priorização do Estado em investimentos como saúde e educação está muito clara nos próprios números que ele nos apresenta. Tanto em relação aos alarmantes contingentes totais da população carcerária brasileira, quanto aqueles milhões gastos na construção de novas unidades prisionais e os investidos na construção de escolas. Dados oficiais mostram que em 2017 haviam 240.061 detentos no estado de São Paulo, ou seja, um terço dos presos do país, seguido por Minas Gerais com 68.354, o Estado do Paraná em terceiro, com 52.608, seguido de perto pelo estado do Rio de Janeiro, com 50.219. Hoje seriam necessários construir unidades prisionais equivalentes ao total de vagas já existentes no país, para que tivéssemos cada preso ocupando seu metro quadrado com dignidade, o que ao mesmo tempo seria também mais um gasto exorbitante. No entanto, se o Estado, entre outras diversas políticas públicas, priorizasse investimentos básicos em educação, que ao mesmo tempo são investimentos na dignidade da pessoa humana, certamente não seria necessário construir novos presídios.

Nesse sentido, dados do sítio do MEC – Ministério da Educação e Cultura18, em matéria publicada em 2009, informavam acerca do lançamento de um projeto básico para orientar a construção, ampliação e reforma de escolas das redes públicas estaduais de ensino

16 Ministério da Jusitça do Brasil. FUNPEN – Fundo Penitenciário Nacional. Disponível em <http://www.justica.gov.br/news/mais-de-r-1-27-bilhao-para-enfrentar-a-crise-no-sistema-prisional> Acesso em 20 maio 2018.

17 Presidência da República. Portal do Palácio do Planalto. Governo repassa maior volume de recursos da

história para construção de presídios. Disponível em

<http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/noticias/2017/01/governo-repassa-maior-volume-de-recursos-da-historia-para-construcao-de-presidios>. Acesso em 20 maio 2018.

18 Portal do Governo do Brasil. Ministério da Educação. Sai novo projeto básico para construção de escolas técnicas. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/209-564834057/13986-sai-novo-projeto-basico-para-construcao-de-escolas-tecnicas>. Acesso em 20 maio 2018.

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médio integradas à educação profissional e tecnológica, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. A medida fazia parte das ações do programa Brasil Profissionalizado, que repassa recursos do governo federal para a modernização e expansão das escolas técnicas no país. Tal projeto previa que cada nova escola a ser construída teria 12 salas de aula, oito laboratórios, auditório, biblioteca e quadra poliesportiva coberta, num terreno com 12 mil metros quadrados e com previsão do custo médio por obra de R$ 6 milhões. Ou seja, se pegarmos somente o valor emergencial liberado pelo Governo Federal no ano de 2017, para a reforma e construção de novos presídios, seria possível construir 200 novas escolas em todo o país, já totalmente equipadas. Se considerarmos que cada escola viesse a funcionar em três turnos, com 35 vagas por sala de aula, seriam abertas 216 mil novas vagas na rede de ensino. E aqui é importante refletirmos, pois é inegável que ao construir uma escola tem-se um retorno imediato para toda a sociedade e segue-se pelo caminho da dignidade da pessoa humana, enquanto que a construção de um presídio revela-se como um grande ralo de dinheiro público, considerando que, estando o sistema carcerário brasileiro no fundo do poço, acaba por agigantar-se diuturnamente como um grande consumidor de verbas públicas.

A falta de priorização do Estado em políticas públicas preventivas e dignas se faz presente em diversos dados e números. Informação constante do portal da União afirma que, em 2016, o governo federal buscou valorizar a educação, do nível básico ao superior, pontuando que houve, inclusive, reajuste nos salários dos professores, investimentos em capacitação e infraestrutura e garantia de financiamento estudantil. No entanto, matéria publicada no sítio do Jornal Estadão19, em 04 de fevereiro deste ano, revela que os gastos do governo federal com saúde e educação caíram 3,1% em 2017, se comparados a 2016 e que tal recuo ocorreu no primeiro ano de vigência da medida que cria um teto, a chamada PEC dos gastos públicos. Em termos nominais, o gasto total nas duas áreas ficou congelado, ficando em R$ 191,3 bilhões, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), feito com base em dados do Tesouro. Porém na educação, o gasto efetivo em 2017 foi de R$ 84,04 bilhões, ante R$ 84,19 bilhões em 2016, uma queda nominal de 0,2% e real de 3,5%.

Vemos que o Estado brasileiro caminha na contramão daquilo que se entende como implementação de políticas públicas e ações preventivas. Em matéria extraída do sítio

19 FERNANDES, Adriana; e RODRIGUES, Eduardo. Gastos do governo federal com saúde e educação caem 3,1% em 2017. O Estado de São Paulo. Disponível em

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,gastos-do-governo-federal-com-saude-e-educacao-caem-3-1-em-2017,70002179425. Acesso em 20 maio 2018.

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do Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da Universidade de São Paulo – GECAP-USP20, temos que o processo e custo da prisionalização é uma atividade cara não só no Brasil, mas em todo o mundo e especialmente mais custosa em países pouco desenvolvidos ou em desenvolvimento, onde os recursos financeiros são dirigidos para áreas como infraestrutura e saúde.

Estimativas mostram que um preso pode chegar a custar mensalmente para um Estado-Membro, cerca de R$ 1.500,00, valor que pode triplicar em se tratando de presídio federal, considerando ainda que outros cálculos apontam valores ainda maiores, ultrapassando substancialmente R$ 1.500,00 por mês, tanto que a Ministra Carmem Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, afirmou em novembro de 2017, durante um evento21, que um preso no Brasil custa R$ 2,4 mil por mês e um estudante do ensino médio custa R$ 2,2 mil por ano e, nas palavras delas, “é possível constatar que alguma coisa está errada na nossa Pátria amada”. E está mesmo. Dados do sítio do GECAP-USP, acerca de cálculo elaborado pela 1ª Vara das Execuções Criminais da cidade de São Paulo, apontou um gasto médio de R$ 733,62/preso/mês no Estado de São Paulo, no ano de 2006. A mesma Vara elaborou cálculo de custos para a criação (construção) de uma vaga, tendo chegado ao valor de R$ 38.112,31 válidos para maio de 2007.

O sítio do GECAP-USP traz ainda importante definição acerca dos “custos ponderáveis da prisionalização”, que são aqueles aferidos com base em gastos com alimentação, água, energia, saúde e pessoal, por exemplo. Ao lado deles, há ainda os “custos imponderáveis da prisionalização”, decorrentes da dessocialização e da violência ocasionada pelo próprio processo de prisionalização. E, num quadro ainda mais tenebroso, as estatísticas mostram que a prisão é grande produtora de violência, em diversos níveis, num ciclo que se alimenta diariamente, tendo, entre outros resultados, altos níveis de reincidência e considerando ainda que a violência gerada a partir do sistema prisional gera custos que não podem ser medidos com antecedência, já que são gastos aferíveis somente após a medição do fato prejudicial que lhes dá origem.

O GECAP-USP informa também que a ausência do Estado nas prisões abre espaço para organizações criminosas estabelecerem-se nas unidades prisionais. Assim, um preso “comum” frequentemente terá como seu referencial de segurança o preso ou grupo de presos que é líder de seu pavilhão. O Poder Público não será, portanto, o referencial desse

20 Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. Números da Prisionalização – 7

Informações básicas sobre encarceramento. GECAP-USP – Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da

Universidade de São Paulo. Disponível em < http://guteweb.com.br/gecap/index.php/informacoes /noticias? start=390>. Acesso em 20 maio 2018.

21 4º Encontro do Pacto Integrador de Segurança Pública Interestadual e 64ª Reunião do Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública (CONSESP), em Goiânia/GO.

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preso “comum” durante o período de encarceramento. Ao sair da prisão por livramento condicional, por exemplo, esse preso “comum” pode ser requisitado para realizar trabalhos criminosos para as organizações ilícitas que o ajudaram durante o tempo em que esteve encarcerado, a fim de pagar por dívidas contraídas durante o tempo em que esteve preso ou mesmo pela proteção que teve dentro da cadeia. Se imaginarmos que esse preso “comum” venha a realizar um assalto e que durante a ação criminosa, terceiras pessoas, as vítimas ou o próprio egresso venham a sofrer uma lesão permanente, causada por uma bala perdida, por exemplo, será o Estado quem arcará com os custos de saúde decorrentes dessa ação desastrosa e infeliz. O resultado da omissão estatal será um custo imponderável.

Nesse mesmo sentido, o Conselho Nacional do Ministério Público22, afirma que não foi por acaso que as três principais organizações criminosas brasileiras – o Primeiro Comando da Capital (PCC – São Paulo), o Comando Vermelho (Rio de Janeiro) e o Primeiro Comando do Maranhão – nasceram no interior de estabelecimentos prisionais, diante da negação de direitos que os apenados padecem nestes locais e de tamanha omissão do Estado acerca de políticas públicas e falta de garantismo aos direitos mais básicos, como a dignidade da pessoa humana, faltas que começam muito antes dos apenados adentrarem o sistema penitenciário, em idades ainda escolares e se agravam dentro do cárcere.

Vemos a negação do Estado aos direitos básicos, por exemplo, quando pegamos o dispositivo legal do artigo 88 da Lei de Execução Penal, que afirma que o condenado deve ser alojado em cela individual que contenha dormitório, aparelho sanitário e lavatório, sendo que os requisitos básicos da unidade celular passam pela salubridade do ambiente, adequada à existência humana, bem como uma área mínima de 6,00m² (seis metros quadrados). Vale lembrar, como já dissemos acima, que o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - INFOPEN, realizado pelo Departamento Nacional Penitenciário – DEPEN em 2016, ao comparar vagas disponíveis x população prisional, mostrou que há pelo menos 2 presos ocupando cada vaga, ou seja, essa unidade celular que nem de longe possui a salubridade determinada, tem, no mínimo, 1 preso a cada 3,00m² (três metros quadrados).

O Conselho Nacional do Ministério Público observa ainda que qualquer política criminal que tenha como objetivo reduzir a criminalidade, deve buscar mecanismos que façam com que as pessoas se sintam desestimuladas a delinquir no futuro. Por sua vez, alguém que eventualmente tenha infringido norma penal dificilmente será convencido pelo Estado a deixar as atividades criminosas se não lhe for mostrado algum caminho que traga mais 22 Conselho Nacional do Ministério Público. A visão do Ministério Público sobre o sistema prisional brasileiro –

2016. Conselho Nacional do Ministério Público. Brasília: CNMP, 2016. 344 p. il. Disponível em <

http://www.cnmp.mp.br/portal/publicacoes/9948-a-visao-do-ministerio-publico-sobre-o-sistema-prisional-brasil-eiro-2016>. Acesso em 20 maio 2018.

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benefícios que o crime. Em palavras mais simples, se o apenado, antes mesmo de se encontrar nesta condição for desrespeitado pela falta de políticas públicas e oportunidade e diante de um Estado que comete faltas graves em relação à dignidade humana, uma vez saindo do sistema prisional e não vendo vantagens na ressocialização, provavelmente ele voltará a delinquir, tornando-se reincidente. E, por essa ótica, há de se convir que é o Estado o reincidente maior e diário.

Diante de tamanho desrespeito e falta de organização estatal, O GECAP-USP conclui que os custos com presos na verdade são gastos e não investimentos, na medida em que não trazem ganho social real e, mais ainda, considerando que, em grande parte, a superlotação carcerária brasileira é agravada em razão do excessivo número de presos provisórios, que hoje são cerca de 40% (quarenta por cento) do total de internos, enquanto a média mundial encontra-se por volta de 25% (vinte e cinco por cento). Lembrando ainda que esses dados dão conta da precariedade estrutural das instalações, além de outros que versam sobre a insuficiência das políticas de acesso ao estudo e ao trabalho.

A ausência – ou mesmo que existindo raros exemplos de programas de ressocialização para o condenado – e a superpopulação carcerária, que elimina qualquer tentativa de reinserção social, faz do sistema prisional brasileiro um dinossauro que toma recursos financeiros do Estado sem devolver à sociedade benefícios sensíveis para a paz social e incremento da cidadania.

4 A DESÍDIA DO ESTADO QUANTO AOS INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS: OMISSÃO E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Embora os Governos afirmem que não há verbas públicas para priorizar cada vez mais investimentos em segurança pública, por exemplo, dados oficiais apontam que com frequência Estados-membros firmam convênios com a União, visando conseguir investimos emergenciais voltados aos seus sistemas prisionais, mediante parcerias e contrapartidas. Não obstante, com a mesma frequência e nenhuma justificativa plausível, também é comum que os Estados-membros não executem os projetos ou os apresentem de forma inviável e não executável, acabando por devolver a verba não investida.

Recente caso emblemático ilustra bem tal situação absurda, ocorrida no Estado do Rio Grande do Norte. Informações do DEPEN davam conta que, durante o início do mandato de uma ex-governadora, havia previsão de criação de 1.511 novas vagas para internos do sistema prisional. No entanto, nenhuma delas foi criada, tendo havido a devolução de milhões de reais ao Governo Federal, além de ter sido frustrada a liberação de outros milhões de reais, por absoluta inação da gestora pública, o que levou o Ministério Público Federal a afirmar que

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se configurou a prática de atos de improbidade administrativa e propor, em parceria com o Estadual, perante a Justiça Federal, Ação de Improbidade Administrativa em face da ex-governadora, com pedido de ressarcimento de danos materiais aos erários federal, estadual e danos morais em favor da coletividade.

Vê-se claramente a omissão do Estado ante a real possibilidade de proporcionar melhores condições aos encarcerados para cumprirem suas penas, norteando-se pelo princípio basilar da dignidade da pessoa humana, constatando-se que diante de um cenário tão calamitoso, é incompreensível que os Estados simplesmente abdiquem dos recursos federais para melhoria das condições de vida em seus presídios.

E prova maior que isso de fato ocorre há muito, é que na instrução do procedimento o MPF verificou que durante as gestões de dois ex-governadores do mesmo Estado, foram firmados quatro contratos entre o DEPEN e aquele Estado, tendo por objeto a realização de obras de construção e reforma de unidades prisionais, tendo sido disponibilizados pelo governo federal à então nova governadora o valor total de mais de R$ 14.370.556 (quatorze milhões, trezentos e setenta mil, quinhentos e cinquenta e seis reais) para investir no sistema prisional. No entanto, nenhum desses contratos foi executado, tendo ensejado a devolução integral dos recursos federais ao DEPEN.

E, não havendo implantação de medidas preventivas e planejamento sério, a consequência dessa omissão resultou em 16 (dezesseis) contratos emergenciais, mediante dispensa de licitação, com empresas privadas para recuperação dos presídios, caracterizando um quadro de prejuízos financeiros, ante à necessidade de contratação emergencial para a realização de obras que seriam absolutamente desnecessárias, caso tivessem sido executados os contratos que foram cancelados e cujas verbas federais foram integralmente devolvidas ao DEPEN. E cabe aqui frisar que diante de tamanha omissão quanto à administração de seu sistema carcerário, o Brasil fatalmente sofrerá sanções e exposição na ordem internacional, abalando sobremodo a imagem do país na opinião pública para além dos nossos limites territoriais.

Tais reflexos ao país, tanto internos quanto externos, não passam em branco aos olhos dos leigos e muito menos dos juristas e pensadores do direito brasileiro, pois segundo a doutrina de direito administrativo, a omissão por parte do Estado configura a chamada “emergência fabricada”, que se refere à situação de emergência que decorre da ação dolosa ou culposa do administrador, quer como consequência da falta de planejamento, quer da desídia administrativa ou da má gestão dos recursos públicos. No caso do Estado-membro mencionado, a emergência foi “fabricada” pelo próprio agente público responsável, ou seja,

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prova maior da omissão praticada pelo Estado brasileiro em relação ao seu sistema carcerário e às condições mínimas de dignidade a que uma pessoa precisa e tem direito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tantas reflexões é possível concluir que tivesse o Estado brasileiro garantido, desde a mais tenra idade, acesso aos mais fundamentais direitos constitucionais a sua grande população, e com isso fomentado a todos as mesmas oportunidades, por certo teríamos uma clientela muito maior em salas de aula e universidades e uma consequente redução da população carcerária.

A implementação de políticas públicas bem definidas, combate ao desperdício de recursos públicos e investimentos maciços em educação, só para citar algumas diretrizes para uma agenda positiva, têm o poder transformador de fazer o Estado ser preventivo, zeloso e eficiente, consequentemente mais justo e, certamente, bem menos punitivo. Nesse sentido, vale lembrar que, por volta de 500 a.C., Pitágoras23 já asseverava que educando as crianças, não seria preciso punir os homens. Reforçando essa ideia, para gerar oportunidades iguais para todos, em consonância ao princípio basilar da dignidade da pessoa humana, vale trazer também o ensinamento do grande educador Paulo Freire24, quando afirmou que a educação não transforma o mundo, mas muda as pessoas e essas transformam o mundo. E, ainda no campo da reflexão, acerca de como o Estado vem agindo ao não garantir direitos mínimos em seus domínios carcerários, lembremos de Nelson Mandela25, grande defensor Sul Africano de direitos fundamentais, ao afirmar que uma nação não pode ser julgada pela maneira como trata seus cidadãos mais ilustres e sim pelo tratamento que dá aos mais marginalizados: seus

23 Pitágoras (570 - 496 a.C.). A biografia deste filósofo é envolta por lendas e relatos de outros escritores pois tudo o que dele sabemos deve-se ao que foi transmitido oralmente não tendo deixado nada escrito. Pitágoras foi quem criou a palavra "Filósofo" e "Matemática". Disponível em < http://www.filosofia.com.br /historia_show.php?id=12> Acesso em 25 maio 2018.

24 Paulo Freire (1921) foi um educador brasileiro, criador do método inovador no ensino da alfabetização, para

adultos, trabalhando com palavras geradas a partir da realidade dos alunos. Seu método foi levado para diversos países. Por seu trabalho na área educacional, foi reconhecido mundialmente e é o brasileiro com mais títulos de Doutor Honoris Causa de diversas universidades, sendo 41, ao todo, entre elas, Harvard, Cambridge e Oxford. Lecionou na Universidade de Harvard. Durante dez anos, foi consultor especial do Departamento de Educação do Conselho Municipal das Igrejas, em Genebra, na Suíça. Viajou por vários países do Terceiro Mundo dando consultoria educacional. Em 1980, com a anistia, retornou ao Brasil, estabelecendo-se em São Paulo. Foi professor da UNICAMP e da PUC. Foi Secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Luisa Erundina. Seu livro "Pedagogia do Oprimido" é o único brasileiro a aparecer na lista dos 100 títulos mais pedidos pelas universidades de língua inglesa. Paulo Freire faleceu em São Paulo, no dia 2 de maio de 1997. Disponível em < https://www.ebiografia.com/paulo_freire/> Acesso em 20 maio 2018.

25Nelson Mandela (19182013) foi presidente da África do Sul. Foi o líder do movimento contra o Apartheid

-legislação que segregava os negros no país. Condenado em 1964 à prisão perpetua, foi libertado em 1990, depois de grande pressão internacional. Recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”, em dezembro de 1993, pela sua luta contra o regime de segregação racial. Em abril de 1994, houve eleições na África do Sul, quando Mandela foi eleito presidente da República. Foi premiado pela Anistia Internacional, em 2006, pela sua luta em favor dos direitos humanos. Disponível em < https://www.ebiografia.com/nelson_mandela/>. Acesso em 20 maio 2018.

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presos. E, por derradeiro, lembremos também do professor e antropólogo brasileiro, Darcy Ribeiro26 que, em 1982, durante uma conferência observou que se os governadores brasileiros não construíssem escolas, em 20 anos faltaria dinheiro para construir presídios.

As penas criminais brasileiras, com seu caráter repressivo, em toda as suas vertentes oficiais, acabam sendo absolutamente ineficazes, para aquilo que se propõem, que são a redução da violência e a manutenção da paz social, já que a grande maioria da população carcerária, vem sendo desrespeitada desde o nascimento, havendo na verdade reincidência por parte do Estado em relação à omissão quanto a sua obrigação garantista aos direitos mais básicos. O Estado não oportuniza ao cidadão escola, saúde e trabalho dignos e muito menos depois de encarcerado consegue garantir um cumprimento de pena criminal digna, que ressocialize o apenado e, consequentemente, não promove a redução, mas sim o aumento da violência e da desordem social.

Se queremos mais segurança e menos violência, devemos primeiro exigir que o Estado garanta efetivamente aquilo que, por direito, já está consagrado na lei maior e na farta legislação que o país já possui. Se o Estado, como garantidor maior dos direitos fundamentais, como a dignidade da pessoa humana, não preza, na prática, pelo garantismo do cumprimento desses direitos aos seus cidadãos tidos como de bem, não conseguirá ser ele o grande moralizador, a ponto de, em fase prisional, preservar a dignidade dos presos.

E enquanto o Estado brasileiro viver sob a égide da falta de uma agenda com medidas verdadeiramente positivas, que sejam concretas e viáveis, e continuar a priorizar políticas públicas paliativas, atendendo ao clamor do momento, ou juízes que decidem no calor da emoção ou julgam para os “holofotes da mídia”, e ainda legisladores que defendem a diminuição da menoridade penal e a construção de novos “presídios-berçários”, em detrimento de mais investimentos em educação e construção de escolas e universidades, entre outras questões, não se poderá vislumbrar uma sociedade mais justa, segura e que contemple no todo o conceito de dignidade da pessoa humana, pois vale enfatizar uma vez mais que a construção de uma escola é um investimento, evolução e retorno para toda coletividade, enquanto que a de um presídio, nos moldes em que se encontram hoje, se reflete em gastos públicos sem retorno de nenhuma ordem.

Concluímos que o Estado, que tem a obrigação de ser o garantidor dos direitos fundamentais é, na verdade, o grande violador desses direitos e, consequentemente o causador

26 Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um antropólogo, sociólogo, educador, escritor e político brasileiro, que destacou-se pelo trabalho em defesa da causa indígena. Em 1964, teve seus direitos políticos cassados e foi exilado no Chile e no Peru. Em 1976, de volta ao Brasil, dedicou-se à educação pública. Durante o governo de Leonel Brizola, implantou no Rio de Janeiro os Centros Integrados de Ensino Público (CIEP). Escreveu várias obras sobre etnologia, antropologia, educação, além de romances. Foi eleito para a cadeira nº 11, da Academia Brasileira de Letras.

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maior do atual cenário de abandono em que se encontra a população carcerária brasileira – que tem o princípio da dignidade humana desrespeitado do nascimento ao aprisionamento – e que a situação de degradação do sistema prisional brasileiro, que afeta milhões de pessoas diariamente, reflete diretamente o caos em que se encontra a segurança pública do país, diante da falta de políticas públicas e investimentos prioritários em direitos básicos, já não sendo possível saber, dentre uma população brasileira com quase 208 milhões de pessoas, se os encarcerados são os milhares que estão sob a guarda e vigilância do estado, seja em presídios ou delegacias, ou os demais milhões de administrados, que, em tese, são livres para ir e vir, mas que também se veem “encarcerados”, diante de tamanha omissão e aumento da violência.

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