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Saúde mental dos profissionais de saúde no contexto da covid-19

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Academic year: 2022

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Saúde mental dos profissionais de saúde no contexto da covid-19

Artigo | A doutoranda em Enfermagem Franciele Savian Batistella busca uma pista para pensarmos sobre nossa relação em sociedade

2020 é o ano em que uma pandemia parou o mundo, que está matando milhares de pessoas; ano em que muitos processos de trabalho mudaram a fim de se adequar à nova realidade imposta.

Isso tudo por causa de um vírus que desafia a capacidade de resposta dos sistemas de saúde e coloca em questão nosso modo de viver, os hábitos que adquirimos, a velocidade com que nos locomovemos, as trocas por segundo que fazemos. Um vírus que coloca em crise nossa forma e nosso modo de estar no mundo.

Pairam, de maneira potencializada, a incerteza, a dúvida e as inseguranças em relação àquilo que entendemos como presente e futuro.

Nesse cenário pandêmico, milhares de profissionais de saúde – em sua maioria mulheres – estão na linha de frente da assistência, arriscando suas vidas e realizando suas atividades com uma carga de trabalho excessiva. Muitos profissionais e sindicatos relatam condições de trabalho precarizadas, higiene inadequada, jornadas extenuantes, falta de treinamento e insuficiência ou indisponibilidade de equipamentos de proteção individual. Ainda, segundo o relatório do International Counsil of Nurse (2020), o Brasil é o país em que mais morrem trabalhadores de enfermagem do mundo.

Nesse período de pandemia, ocorreu, entre os profissionais de saúde, aumento da prevalência de Transtornos Mentais Comuns

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(TMC), entre eles fadiga, agressividade, estresse agudo, episódios de pânico, até a manifestação de preditores de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e ansiedade. Essa prevalência foi associada à exposição constante de notícias sobre a covid-19 em mídias sociais.

O cenário discursivo que trata os profissionais de saúde como heróis implica um processo que pode desumanizá-los, e as fake news, que aumentaram com a pandemia, também podem afetar de maneira negativa a saúde mental dos profissionais de saúde.

Entre os que atuam em hospitais e unidades básicas, há registros de exaustão, redução da empatia, ansiedade, irritabilidade, insônia e decaimento das funções cognitivas e do desempenho.

Como se não bastasse, houve um aumento de violência a esses profissionais, como ameaças, hostilidades e agressões.

Passaram também a ser vítimas dessas violências extramuros de seus locais de trabalho, sofrendo com o estigma e a discriminação, pois muitas vezes são vistos como possíveis transmissores do vírus.

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A carga de trabalho excessiva decorrente da exigência do trabalho de profissionais da saúde durante a atual pandemia de Sars-CoV-2 explicitou os problemas de saúde mental a que esses trabalhadores ficam expostos. Na capa e nas imagens acima, enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, profissionais de higienização e fisioterapeutas que atuam na CTI para Covid 19 do Hospital de Clínicas de Porto Alegre trabalham há várias semanas com a ocupação quase completa dos leitos disponíveis (Fotos: Flávio Dutra/JU)

Todo esse cenário demonstra um estado de crise ou, como tem sido chamada, de uma catástrofe sanitária e psicossocial resultante da superposição e interpenetração das catástrofes sanitária e social.

Uma das perguntas que fica é o que pode uma sociedade que produz discursos muitas vezes midiáticos que supervalorizam seus profissionais de saúde os comparando a heróis, que das sacadas dos prédios produz aplausos e agradecimentos, mas que, ao mesmo tempo, trata seus profissionais de saúde com tanto desprezo, desrespeito e desvalorização, se negando, por exemplo, a usar máscaras em ambiente público, a fazer

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isolamento ou distanciamento social? O que podem essas contradições dizer, narrar sobre nós e sobre o que estamos vivendo?

As respostas estão em processo. Suponho que seja preciso pensá-las coletivamente numa reflexão profunda do que queremos p a r a o m u n d o e p a r a a s n o s s a s r e l a ç õ e s e n q u a n t o sociedade/civilização. A velocidade com que a pandemia de covid-19 nos afeta coloca proporcionalmente em questão a capacidade de os sistemas de saúde responderem aos desafios impostos.

Uma pista é que de fato vivemos uma crise/catástrofe sanitária e psicossocial que evidencia cada vez mais a inter- relação entre questões ambientais, econômicas, sociais, políticas e culturais, e em que a saúde mental dos p r o f i s s i o n a i s d e s a ú d e p o d e s e r u m i m p o r t a n t e analisador/termômetro de como temos lidado e como podemos lidar com esses processos.

Como apontado em diferentes pesquisas, há a necessidade de se produzirem estratégias e dispositivos coletivos que sejam capazes de ressignificar este momento. Instituições públicas e privadas, governos e sociedade precisam valorizar e respeitar os profissionais de saúde, sendo de considerável importância a implementação e a garantia de políticas que permitam a assistência de saúde/saúde mental adequada a esses trabalhadores, que, longe de serem super-heróis, são pessoas que com seus corpos têm mediado os efeitos trágicos de uma pandemia.

Franciele Savian Batistella é enfermeira e doutoranda no PPG em Enfermagem.

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