“A criança interessa-se por tudo o que está a sua volta e, aos poucos, vai especificando seus materiais. Quando tem acesso a
um espectro amplo de matérias, ela escolhe algumas para brincar sozinha ou em grupo, rege-se por um anseio alimentar,
por aquilo que melhor nutrirá sua vida anímica.”
(Gandhy Piorski)
Te convido agora a entrar um pouquinho na nossa aula...
“...nossos olhos não veem nem de menos, nem demais.”
(José Saramago)
Relatório de grupo – 2º semestre/2018
Turma: Jardim I Professora: Andrea Desiderio
Professora auxiliar: Julinda e Carla Coordenadora: Lucy Ramos
Olhe as imagens desse relatório, pois elas podem contar histórias, recortes outros de um mesmo encontro...
O que você vê?
O que não vê?
O que você criança faria nesse lugar?
O que você imagina que foi feito aqui?
“Criança pequena, brincar e escola da infância este tripé constitui hoje o ponto de partida para minhas pesquisas e ações pedagógicas no trabalho com criança pequena.
Entendendo que o brincar é a linguagem da criança, que criança pequena é sujeito na nossa sociedade e que a escola da infância é o lugar potente para encontros, tateios e
experiências.”
Sabe, venho pesquisando a infância há mais de 13 anos, mas me dei conta disso a pouco tempo. O olhar curioso, investigativo, questionador, estar refletindo sobre qualquer coisa são características de uma pesquisadora. Não apenas executo, ou copio, uma aula de Educação Física como está nos manuais, nos referenciais, nos parâmetros, nem mesmo nos cadernos escritos por você para uma extensa quantidade de colegas de profissão.
Estou conseguindo refletir sobre a profundeza da docência, da infância.
Por ser, pesquisadora na área da infância e das práticas corporais, debruço-me sempre aos relatórios como um desafio. O desafio de mostrar em palavras o que foi a experiência vivida por nós durante esse semestre nas aulas de educação física. Escrever sobre a experiência proposta pelo professor/pesquisador Jorge Larrosa torna o desafio ainda maior. Como falar sobre o que acontece com
cada um durante as aulas é de certa forma impossível. Escrevo aqui sobre o que os meus olhos conseguem enxergar a partir dos óculos que decidi usar naquele dia, naquela aula. Carolyn Ellis, também professora e pesquisadora me ensinou que a gente não consegue capturar a experiência. Ela está, no campo do sensível, no campo dos afetos. Espinoza bem sabia falar sobre os afetos.
O que te afeta?
Quais as suas experiências corporais quando criança pequena?
Na Escola do Sitio, na Educação Infantil principalmente, aula de educação Física é sinônimo de aula da Andrea. A pessoa humana vem antes da área de conhecimento, isso deve querer dizer algo você não acha?
Considero a potência das pessoas, não considero as crianças tolas e incapazes, MUITO pelo contrário, sei que se não interferirmos demais nos processos, todos se desenvolverão com respeito.
Um dia cheguei mais animada do que o normal e comecei uma canção de outro mundo:
“É um sabero sapi pi
É um sabero sapi É um sabero sapi pi É um, ë um, É um Misclof tarotaro tiruliro
Clim Clim clof taro taro tirolo flum flum
Mis clof taro taro tirulilro
Clim Clim clof taro taro tirolo flum flum Sung Sung Sung
Sibiribisibi catapariung Sung Sung Sung
Sibiribisibi catapariela primavera!
Essa lembra muito a minha infância! E a turma começou a me imitar. Somos uma mesma turma agora na aula da Andrea. Crianças do jardim 1 A, crianças do jardim 1 B, eu, Julinda e Carla nos encontramos semanalmente e brincamos juntas. Já sou velha conhecida.
Sabe que também tivemos um dia de histórias ao redor da fogueira. Durante a semana cultural montamos um acampamento com barracas e fogueira, mas o fogo, ah fogo danado, faltou bem nesse dia!
O que pode uma criança com um pneu?
Com um toco de madeira?
O que propor de novidade em uma estrutura metálica com passagens
mágicas e esconderijos?
Um andaime é um brinquedo pedagógico?
Qual o meu papel diante de tanta imaginação?
Trago aqui novamente Gandhy Piorski:
“Uma das leis centrais da imaginação na criança é a insuspeitável formulação generativa, os sonhos do gênesis, primeiros. O imaginar, na primeira infância, ainda se liberta do charco
amniótico. Move-se da inconsciência uterina para as constelações da memória coletiva. Ainda está distante da consciência seletiva, separadora. Gravita nos símbolos de totalidade impulsionada por suas forças de formação. Peregrina na noite da alma. É quase só alma recordada de reminiscência. Seu fruir imagético está no reino da “vontade que sonha”. Pouco
espaço ainda há para a “vontade que pensa”.
Esse semestre estivemos juntos em ambientes preparados para receber a imaginação e as possibilidades de cada um. Parei muitas vezes para observar o que estava sendo criado pelas pessoas que estavam na aula comigo. Observar pessoas de nossa turma realizando desafios corporais ou mesmo mostrando suas descobertas e suas confianças, é um enorme aprendizado.
Olhar, querer imitar, solicitar ajuda, aceitar o que não consegue, respeitar seus limites, aceitar e também vencer medos.
Apenas deixemos ser e confiemos, no ambiente preparado, com acolhimento e carinho, somos/seremos corpos em constante comunicação.
Brincamos com os materiais do outro semestre