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A cultura e a política: encontros frutíferos de uma agenda de pesquisa

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Academic year: 2018

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BH/UFC

-A CULTUR-A E -A POLíTIC-A: ENCONTROS

FRUTíFEROS DE UMA AGENDA DE PESQUISA

IRLYS ALENCAR FIRMO BARREIRA*zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A

"cultura" e a "polí-tica" enquanto esfe-ras conceituais e analíticas de compreensão da vida social, percorreram caminhos de aproximação e distanciamento. Ao en-lace característico das ex-plicações presentes nas grandes teorias sucedeu-se a divisão do trabalho inter-disciplinar, que conformou o plano das especializa-ções, separando os espa-ços do conhecimento.'

Atualmente, uma co-nexão mais orgânica entre os temas convencionalmen-te relacionados à "cultura" ou à "política" está em cur-so. Dois movimentos sinali-zam essa perspectiva. De um lado, urna espécie de re-pensar das teorias do mun-do social, nomeada por alguns de "crise de

paradigmas", que traz efeitos sobre o modo como se pensa o sentido das ações cotidianas. De outro, o arejamento oriundo de pesquisas voltadas para "comportamentos coletivos" que procuram incorporar uma visão de totalidade dos fenômenos sociais. Buscar a política fora da "política" ou procurar a dimensão simbólica das relações de poder constituem indicações des-sa interação entre domínios da vida social.

O presente artigo, que parece partir de urna reflexão ambiciosa, aponta condusões mo-destas: mais atestar sintomas de confluências temáticas que ultrapassam fronteiras discipli-nares que propriamente discutir aspectos

te-óricos e epistemológicos subjacentes a essa questão. As reflexões tampouco pre-tendem uma "história" das teorias interpretativas do mundo social. Ames, pon-tuações até certo ponto ale-atórias, condicionadas pela experiência da autora como professora da disciplina "cultura e política" e pes-quisadora da linha de pes-quisa que tem o mesmo nome.

A referência à cultu-ra como elemento importan-te para a compreensão dos fatos sociais (incluindo gru-pos, instituições, atores e processos sociais) vem gradativamente impondo-se no cenário das ciências so-ciais. Não tanto pela novi-dade, visto que a cultura é um tema que constitui o próprio objeto antropológi-co, tornando-se também dássico nas discus-sões sociológicas que enfatizaram o papel das normas e padrões na estruturação de papéis e estratificação social.'

O elemento importante, e talvez novo, a considerar é a existência de temas de pes-quisa que atualmente privilegiam manifes-tações culturais e políticas como dimensões que se articulam e se alimentam, formando espécies de "campos temáticos" que ultra-passam a divisão convencional das especia-lidades disciplinares.

É, sobretudo pela constatação da

diver-sidade, da historicidade de processos sociaisjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

R E S U M O

o a rtig o tra ta d a s a rtic u la ç õ e s e n tre o s te m a s lig a d o s à c u ltu ra e à p o lític a , c o n -s id e ra n d o a e x is tê n c ia d e u m a re c e n te c o n e x ã o o rg ã n ic a , a d v in d a d e u m re p e n -s a r -s o b re a s te o ria s d o m u n d o s o c ia l e d e u m m o v im e n to c o n c re to d a s p e s q u i-s a i-s , q u e s u p e ra m o s lim ite s fo rm a is e n -tre o s c a m p o s d o c o n h e c im e n to . A s re fle x õ e s fu n d a m e n ta m -s e in ic ia lm e n te e m u m p la n o c o n c e itu a l, a b o rd a n d o e m s e g u id a o s m o d o s c o m o o s c o n c e ito s d e c u ltu ra e d e p o lític a p a s s a m a s e r a rtic u -la d o s e a n a lis a d o s n o in te rio r d a s d is c u s -s õ e -s s o b re m o v im e n to s s o c ia is e c a m p a n h a s e le ito ra is . O "d iá lo g o ' e n tre o s c o n c e ito s d e c u ltu ra e p o lític a p ro m o -v e u m a re la ç ã o d e e n riq u e c im e n to m ú -tu o q u e re tira a a n á lis e d o s fe n õ m e n o s p o lític o s d e u m e n q u a d ra m e n to re s trito . a o m e s m o te m p o q u e a c re s c e n ta à s p e r-c e p ç õ e s d o s p ro c e s s o s c u ltu ra is o s te -m a s re fe re n te s a o c o n flito , in c lu in d o a s e s tra té g ia s d o p o d e r s im b ó lic o .

• D o u to ra e P ro fe s s o ra T itu la r d o D e p a r-ta m e n to d e C iê n c ia s S o c ia is e F ilo s o fia d a U F C .

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que a cultura em sua expressão pluralista volta à cena para nos lembrar o plano complexo e contraditório das formas de pensar e agir no mundo. Desvinculada, portanto, de uma ótica universalista e padronizada que marcou a per-cepção da ordem, a exemplo da escola funcionalista, a invocação feita atualmente à dimensão cultural ocorre através da pluralidade ou dos conflitos que presidem a constituição do campo simbólico.

Cardoso de Oliveira (990), nos lem-bra, nesse sentido, que no campo da antropo-logia o paradigma hermenêutico começa a se impor a partir da recuperação da subjetividade do indivíduo e da história, enquanto elemen-tos que foram anteriormente domesticados sob o princípio norteador de uma ordem cons-titutiva do mundo social. Sem entrar no mérito das discussões epistemológicas dessa questão enfrentada pelo autor, importa simplesmente evidenciar as dimensões múltiplas e diver-sificadas, recuperadas nas recentes abordagens que recolocam a questão da cultura no cem e das reflexões.

A partir de diferentes objetos de inves-tigação, o olhar sobre a "cultura" aponta uma espécie de inflexão na maneira de perceber os fenômenos sociais. A trajetória complexa e contraditória desses fenômenos evidenciaria a expressão pluralista da cultura, atuando como uma espécie de pano de fundo, a lembrar a multiplicidade de experiências que cercam o comportamento humano.

Contra a absolutização normativa de práticas sociais, as abordagens que en-fatizam os temas mais diretamente ligados à cultura buscam, a partir de uma visão não funcional, simultaneamente, afirmar a tra-dição e a diversidade de experiências. Se através da tradição a cultura pode tornar-se expressão de uma ordem social, pela di-versidade, ela atesta o lado emergente de um mundo social em constante

transforma-ção." As discussões sobre a importância da "cultura" como variável explicativa dos com-portamentos sociais são, no entanto, atraves-sadas por polêmicas. Entre elas, destaca-se a crítica ao seu caráter afirmador de diferen-ças que terminam postulando ou

solidifican-do desigualdades sociais entre países, raças e grupos sociais. Trata-se de um argumento fortemente contestado por Shalins (1997), para quem a experiência da ação humana através de meios simbólicos de que trata es-pecialmente a "cultura" não pode ser aban-donada. Isso colocaria em risco a própria explicação da vida em sociedade. A "cultu-ra" não estaria, na sua acepção, fadada ao desaparecimento face ao processo crescen-te de globalização, tendo em vista situações de florescimento, exemplificadas através de estudos etnográficos que apontam a rela-ção di ai ética entre contatos culturais e re-novação de culturas locais.

A presença da categoria cultura na aná-lise de comportamentos e processos sociais pode ser percebida através de exemplos con-cretos. Desde 1994, o título de propostas de Grupos de Trabalho apresentados para apro-vação na ANPOCS tinha o tema da cultura como complemento. "Cultura e Mídia", "Cultura e Identidade", "Cultura e Etnia" são exemplos de que há um sentido implícito de busca de ex-plicações que remetem ao tema da cultura, atuando como variável mediadora entre pro-cessos e comportamentos sociais.

Particularmente, o Grupo de Trabalho da ANPOCS denominado Cultura e Política abrigou discussões que associavam, de dife-rentes maneiras, o conteúdo político de práti-cas culturais ou os valores e símbolos que estruturam as ações políticas efetivadas por diferentes grupos sociais. Além desses exem-plos, a construção de uma linha de pesquisa nomeada de cultura e política, em diferentes programas de pós-graduação, bem como a existência de pesquisas que tentam relacionar esses conceitos, anteriormente retidos no es-paço das divisões disciplinares, oferecem a oportunidade de reflexão.

As temáticas da "cultura" e da "política" sinalizam um encontro complexo abordado por investigadores que se debruçaram sobre essa problemática no espaço concreto de suas pes-quisas e teóricos preocupados em romper as cadeias lirnitadoras das fronteiras disciplinares, veiculando pontos de interseção entre

diferen-tes domínios do conhecimento. Em termos dejihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

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organização das discussões, pretende-se nes-te artigo apontar inicialmente a presença da "cultura" e da "política" no espaço das divi-sões disciplinares. Em seguida, serão aborda-dos os moaborda-dos como esses conceitos passam a ser articulados e analisados no interior das dis-cussões sobre movimentos sociais e campanhas eleitorais. A escolha desses campos temáticos para fundamentar os argumentos justifica-se tanto pela experiência de pesquisa da autora nesses assuntos, como pela constatação da existência de deslocamentos de percepção da política da esfera institucional (Estado, sindi-catos e partidos) para o plano dos espaços

socioculturais.jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAÉ nessa perspectiva que se es-tabelecem laços orgânicos entre símbolos,

com-portamentos políticos e representações sociais.

CULTURA E SOCIOLOGIA: UMA ANTIGA CONVIVÊNCIA

Não por acaso, o fenômeno denomi-nado de "pós-rnodernidade" é apresentado sob a forma de mudanças culturais que aparecem na construção de categorias novas para se pen-sar o tempo e o espaço, explicitadas através de novas linguagens estéticas (Giddens, 1991).

Efeitos dessa discussão no âmbito da retematização dos objetos de investigação são importantes para o prosseguimento dessa re-flexão. A valorização do imaginário ou do sim-bólico, enquanto planos imprescindíveis à explicação de práticas coletivas, fez com que antigos temas, antes pensados sob a ótica dos conflitos clássicos, referidos sobretudo à es-trutura produtiva, passassem a ser mediados pelo espaço das representações culturais. Es-tas funcionando como espécies de lugar de mediação entre os espaços coletivos e indivi-duais, ora como crenças, ou mitos que consti-tuem a vida social.

Tudo o que se quer chamar atenção nesse momento é para a presença marcante, na área da sociologia, de temas referentes a cultura, que incidem sobre o enfoque dos objetos de investigação e a maneira de pensar-mos a sociedade contemporânea.

A influência da hermenêutica, o desen-volvimento da semiótica e a valorização da

36 R E V IS T AD E O ~ N C lA S S O C IA IS v.2 8 N .1 /2 1 9 9 7

sociologia de Durkheim, da perspectiva de re-cuperação do simbólico, têm-se constituído como espécie de movimento renovador que atravessa pensadores europeus e americanos.

E aqui, valeria a pena retomar os argu-mentos de Alexander (987), quando afirma que a solução para o debate sociológico, que opôs durante a história dessa disciplina os con-ceitos de ação e estrutura, é a percepção da cultura como elemento explicativo para a aná-lise da sociedade contemporânea. Segundo suas palavras:YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

H á u m a b i s m o c r e s c e n t e e n t r e a m a i o r i a d a s n o v a s t e n d ê n c i a s s i n t é t i c a s e m t e o r i a g e r a l , d e u m l a d o , e a a t e n -ç ã o à t e o r i a d a c u l t u r a q u e t e m c a r a c -t e r i z a d o a n o v a t e o r i z a ç ã o m a c r o e m s u a s fo r m a s m a i s s u b s t a n t i v a s , d e o u -t r o . A p e n a s s e o s t e ó r i c o s g e r a i s e s t i v e -r e m p -r e p a -r a d o s p a r a e n t r a r n o c a m p o d o s " e s t u d o s c u l t u r a i s " - e q u i p a d o s , é c l a r o , c o m s e u i n s t r u m e n t a l s o c i o l ó g i c o - é q u e a p o n t e p o d e s e r g r a d u a l m e n t e

c o n s t r u í d a s o b r e oa b i s m o 0987, p .27).

o

que há de importante nas formula-ções de Alexander é o reconhecimento de uma agenda crescente de "questões culturais", que precisa articular-se com as teorizações macrossociais, de modo a enriquecer ou reno-var o pensamento sociológico.

Tal articulação tem, no entanto, raízes já firmadas. Dias (993), analisando a tradição pré-sociológica dos estudos culturais no Bra-sil, pensa em diferentes eixos a partir dos quais essa questão foi discutida. Segundo ele, o pe-ríodo inicial de formação da sociologia brasi-leira no século XIX, tem expressividade nos trabalhos de Sílvio Romero, autor preocupado com a temática da evolução cultural. Gilberto Freyre, em C a s a G r a n d e e S e n z a l a , postula as diferenças a serem estabelecidas entre raça e cultura, colocando-se também como estudio-so preocupado em estabelecer diretrizes à com-preensão da dinâmica sociocultural brasileira.

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expressivos, os quais, sob a influência de Roger Bastide, enfatizaram a importância de fenôme-nos que foram considerados como expressões emblemáticas da sociedade brasileira.

Os debates que se efetivaram na déca-da de 50, incluíram a formulação de projetos políticos para a nação, através da busca de autenticidade cultural e da crítica da relação entre colonizador e colonizado. Posteriomente, muitos trabalhos dedicaram-se a discutir ques-tões de identidade nacional e identidades re-gionais, mais especificamente o papel que os intelectuais, na função de mediadores, desem-penharam no desenvolvimento da "cultura popular".

Constata Dias que os debates culturais no Brasil associaram identidade nacional e cultural, diferentemente de pensadores euro-peus, que trabalharam com maior diversidade conceitual, absorvendo, portanto, com maior eficácia, a dinâmica interna da coletividade. Essa diversidade conceitual permitiu pensar as interações existentes entre diferentes áreas do conhecimento, fundamentadas no solo comum da percepção da importância da cultura como elemento de análise da vida social.

Em acréscimo às formulações de Dias, é possível pensar nesse crescente complexo interativo entre cultura e sociologia, que passa a ocorrer de forma institucionalizada, através da designação de grupos de trabalho, em even-tos científicos e pesquisas que relacionam es-sas temáticas de forma mais ou menos explícita.

As reflexões que fundam a sociologia estão também fortemente fmcadas em preocu-pações políticas, tomando-se como exemplo as discussões teóricas e pesquisas envolvendo os temas da estratificação, mobilização, industria-lização e conjugação de processos sociopolíticos. A sociologia latino-americana e a sociologia brasileira, a partir da busca da identidade naci-onal, voltavam-se para entender as raízes políti-cas da chamada "dependência", considerada por excelência a teoria paradigmática para explicar os processos sociais e políticos que marcaram nossa história desde o início.

As conexões entre "cultura" e "política" respondem também a mudanças que se pro-cessam no mundo da teoria, com base no

flu-xo de debates e correntes intelectuais que po-voam o campo intelectual. Nesse sentido, par-te da recuperação de temas vinculados à cultura na área da sociologia deve-se à crítica dirigida a análises de influência marxista, que minimizaram o mundo das representações ou o perceberam como reflexo das condições objetivas da vida social.

As formulações de Castoriadis (982) sobre o imaginário, por exemplo, repousam na crítica à explicação objetivista dos compor-tamentos coletivos ou ao papel das instituições, percebido como fruto de uma racionalidade econômica ou política. O imaginário, que em sua dimensão restrita ou radical, aglutina ex-periências e percepções cristalizadas no espa-ço do inconsciente, é analisado pelo autor como cimento que constitui o mundo social.

Esse é um exemplo, entre tantos ou-tros, de teorizações que criticaram as aborda-gens estruturais da sociedade, considerando fortemente a presença de dimensões culturais como aspecto relevante na explicação de fatos sociais, não redutíveis ao espaço da chamada "superestrutura" .

Outra forma de abordagem do fenôme-no político refere-se às tentativas de percep-ção do poder, inspiradas em Foucault, apontando linguagens e dispositivos discipli-nares que repercutem sobre a visão da políti-ca em seus meandros menos visíveis. A polítipolíti-ca, não só como exercício prático de efeitos dire-tos sobre as relações de poder, mas constituí-da a partir de saberes e crenças que solidificam e regulam adesões, demanda a necessidade de percepção da dinâmica cultural em torno do qual diferentes temas são abordados.

Em termos genéricos, e sem abarcar as possibilidades de categorização temática, po-deríamos destacar três vertentes interpretativas que ínter-relacionam cultura e política a partir de ângulos diferentes. Citaríamos a tradição de estudiosos da política que se referenciam na noção de sistema Dahl (956), procurando en-tender de que modo sistemas culturais articu-lam-se a sistemas políticos. Menos receptivo à compreensão das ligações cotidianas entre cultura e política, o modelo sistêmico

congre-ga um conjunto interdependente de funçõesjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

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dotado de uma lógica interna e capacitado a conectar-se com outros sistemas.

Em outra direção, as relações entre ide-ologia e política, situadas a partir de uma pers-pectiva marxista, trabalham a necessidade de entendimento de comportamentos coletivos a partir de vivências culturais e históricas. Lem-bramos aqui as contribuições de Gramsci, Luckacs e Lefebvre que, entre outros, condu-ziram as discussões que aproximam os cami-nhos da cultura e da política, a partir de uma ótica não linear. Nesse sentido, valorizaram as dinâmicas processuais ou as vivências do mun-do cotidiano como sendo propulsoras de cul-turas diferenciadas e espaços potenciais de transformação histórica.

A descoberta ou redescoberta do plano simbólico como elemento constitutivo das prá-ticas políprá-ticas coloca um conjunto de novas formulações que aparecem de diferentes ma-neiras. Nelas, vemos a valorização da lingua-gem como estratégia de poder (Bourdieu), de mitos ou mitologias que se encarnam em lide-ranças políticas (Girardet) ou as formas cotidi-anas de poder, exerci das a partir de práticas disciplinares (Foucault).

Essas vertentes, selecionadas de modo arbitrário e sem o rigor de uma história subs-tantiva dessa interação, sinalizam apenas interfaces temáticas que parecem, recentemen-te, superar paradigmas clássicos, para constituírem-se em ferramenta teórica utiliza-da em pesquisas que se alimentam através de problemáticas relativas aos temas da "cultura" e da "política"."

Da perspectiva antropológica, as apro-ximações entre cultura e política recobrem um conjunto de questionamentos que, embora antigo, é redimensionado à luz da sociedade contemporânea. Partindo do suposto de que o lugar do exercício da política não se encontra uniforme e centralizado, diferentes antropólo-gos buscaram pensar os mecanismos sociais a partir dos quais se estruturam as disputas e conflitos. Com base em estudos sobre socie-dades africanas ou asiáticas, antropólogos pas-saram a repensar o conceito de Estado, ampliando também a noção de poder não res-trita à sua ótica convencional.

38jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAR E V IS T A D E O ~ N C IA S S O C IA IS V . 28 N .1/2 1997

Assumindo a questão da diversidade cultural, Balandier (969), por exemplo, cri-tica a perspectiva essencialista de poder, de-finida por princípios filosóficos, baseado no argumento de que o político não é o mesmo em cada sociedade. Assim, analisar o senti-do de sociedades onde o Estado "não apare-ce", pelo menos com as mesmas características da sociedade moderna, constituiu-se num de seus desafios de investigação. Nesse senti-do, a política não deveria ser pensada a par-tir de instituições, mas de processos, nos quais os conflitos ou espaços diferenciados, que demarcam os limites. do poder, apare-cem mais ocultos.

Uma outra forma de interpretação que buscou repensar a política de um ângulo ino-vador diz respeito a sua expressão através de símbolos circunscritos ao espaço dos rituais. A valorização dessa dimensão responde a crítica aos modelos estritamente racionais, que pen-saram os fenômenos rituais como simples ma-quilagem de apresentação da realidade ou sobrevivência do passado.

A compreensão do símbolo como modo de instauração do próprio social rom-pe, nessa nova perspectiva, com a idéia da separação entre "crença" e "realidade", con-cebendo a política em sua face interativa com a vida cotidiana. O ritual seria assim, mais que um fenômeno de legitimação da ordem social, a maneira de dar sentido à cultura e as relações sociais. A tal ponto que Kertzer (988) afirma que o ritual já se circunscreve ao social.

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A busca de continuidade entre vida cultural e Estado pode ser sentida nas palavras de Geertz:YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A n t e s d e t u d ojihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo m a i s , o E s t a d o b a l i n ê s e r a u m a r e p r e s e n t a ç ã o d a fo r

-m a c o m o a r e a l i d a d e e s t a v a o r g a n i z a -d a ; u m a v a s t a i m a g e m d e n t r o d a q u a l o b j e t o s c o m o o sk r i s , e s t r u t u r a s c o m o o s

p a l á c i o s , p r á t i c a s c o m o a c r e m a ç ã o , i d é i a c o m o ' d e n t r o ' , e a c t o s c o m o os u i -c í d i o d i n á s t i c o , t i n h a m c a p a c i d a d e s p r ó p r i a s . A i d é i a d e q u e a p o l í t i c a é u m j o g o i m u t á v e l d e p a i x õ e s n a t u r a i s , p a r a

c u j a e x p l o r a ç ã o s e r v i r i a m , c o m o m e r o s d i s p o s i t i v o s , i n s t i t u i ç õ e s d e d o m i n a ç ã o c o n c r e t a s , é e r r a d a e m q u a l q u e r p a r t e ; e m B a l i , o a b s u r d o d e s s a i d é i a t o r n a - s e p a t e n t e . A s p a i x õ e s s ã o t ã o c u l t u r a i s

q u a n t o o sd i s p o s i t i v o s ; e o m o d o d e p e n -s a r - h i e r á r q u i c o , s e n s o r i a l , s i m b o l i s t a e t e a t r a l - q u e i n s p i r a u m i n s p i r a oo u -t r o 0980, p.155).

o

que Geertz traz de relevante nas suas descobertas a respeito da organização estatal Bali do século XIX, é a complexidade da vida social que impede a análise em separado dos fenômenos que cercam o "mundo da política" e o "mundo da cultura". O Estado teatro en-globa um campo variado de significados dife-rentes e imagens já consagradas do Estado Leviatã, percebido somente em seu ato de pu-nição ameaçadora.

Atos políticos que envolvem emoções ritualizadas constituem, para o autor, uma espé-cie de matéria-prima, só passível de ser revelada através de uma poética do poder que não se restringe a uma simples mecânica, a exemplo do Estado balinês que "ia buscar a sua força, que era deveras real, às suas energias imaginativas, à sua capacidade semiótica de fazer com que a desigualdade encantasse" Cp.156,o p . c i i ) .

As proximidades entre a "política" e a "cultura" atravessam caminhos já sedimentados sobre a compreensão dos valores que regem as escolhas partidárias, os valores que incidem sobre os grupos de poder e, mais recentemen-te, as articulações entre política e meios de

co-municação." A análise das pautas, dos textos e imagens que incidem sobre os comportamen-tos políticos estão atualmente fortemente pre-sentes em pesquisas que gradativamente encaminham-se para entender as motivações eleitorais, o uso do marketing político e demais fenômenos envolvidos por essa percepção da política em sentido mais amplo. Não seria exa-gero afirmar que assistimos mais recentemente a uma espécie de "culturalização da política", por diferentes vias e interfaces, vindas de modi-ficações operadas no plano de teorias e pesqui-sas distintas. Pensar as dimensões políticas da cultura implica também analisar os conflitos de poder presentes no mundo simbólico, evitando uma concepção integradora e harmônica da vida social. Esta é uma crítica que Thompson (995) faz a Geertz, considerando que as construções significativas da cultura estão implica das em re-lações de poder e conflito.

Não cabe, nos limites deste texto, uma reflexão sobre o significado mais profundo desse diálogo ou uma análise sobre os efeitos dessa articulação no cerne dos diferentes cam-pos do conhecimento. O interesse dessas re-flexões é tão-somente salientar a existência dessa interface, não restrita às discussões que cercam o tema da interdisciplinaridade.

No espaço concreto das pesquisas, as interações entre temáticas que convencional-mente habitavam áreas especializadas, segun-do diferentes campos do conhecimento, são fecundas para o aprofundamento desse deba-te. Nesse sentido, as discussões sobre as interações entre "cultura" e "política", feitas com base em pesquisas e experiências típicas da realidade brasileira, merecem ser mencionadas.

CULTURA E POLíTICA NO CAMPO TEMÁTICO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

O estudo dos movimentos sociais cons-titui um dos exemplos mais significativos em torno do qual os temas culturais e políticos têm uma profícua convivência. Trata-se de uma articulação que acontece tanto no plano das discussões teóricas mais gerais, como no âm-bito de análises mais concretas sobre compor-tamentos coletivos. Os problemas a respeito

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da identidade dos movimentos sociais ou das representações culturais que subsidiam as prá-ticas políprá-ticas são aí fortemente discutidos.

Se recordarmos os momentos iniciais de discussão sobre essa temática no Brasil, verifi-caremos que se vislumbrava a hipótese de que, a partir do objeto "movimentos sociais", surgi-ria um novo paradigma capaz de perceber a construção da política na vida cotidiana. Uma outra concepção de política capaz de acolher práticas sociais não institucionalizadas passou a freqüentar os objetivos de muitos trabalhos, interessados em entender organizações coleti-vas existentes em diferentes recantos do país,

que apareciam como uma espécie deYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAe m e r g i r

da sociedade civil.

A busca da política "fora da política" orientou muitas das análises preocupadas em não estreitar o universo de práticas sociais, caracterizado por formas de organização não estritamente partidárias. Captar o significado do que à primeira vista parecia espontâneo e não enquadrável nos formatos tradicionais de expressão política, constituiu O esforço singu-lar de pesquisadores dos movimentos sociais ocorrentes em diferentes espaços da sociedade.

Paralela à tentativa de alargar o concei-to de política, ampliando-o a formas de ação mais voltadas para a problemática do cotidia-no, assistimos à percepção de movimentos de contestação como esferas importantes, capa-zes de sinalizar transformações na ordem soci-al. Um autor que já se tornou referência importante na discussão sobre movimentos sociais sinaliza bem essa questão:

É d e n t r o d e s s a e s t r u t u r a c e l u l a r d a s o c i e d a d e q u e o

fazer

d i fe r e n t e ' q u o -t i d i a n o d o s n o v o s g r u p o s s o c i a i s g u a r -d a s u a s m e t a s . E x a t a m e n t e p o r q u e e s s a " m i c r o fi s i c a d o p o d e r " d e p e n d e d a r e a

-l i z a ç ã o s u b c o n s c i e n t e , a t é m e s m ojihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo s

m o d e l o s r a r o s e d é b e i s d e u m a p r á t i c a s o c i a l d i v e r g e n t e r e p r e s e n t a m u m p e r i -g o e m p o t e n c i a l , p e l o m e n o s e n q u a n t o a t e n d ê n c i a fo r n o s e n t i d o d e q u e s t i o -n a r o a u t o m a t i s m o i n c o n s c i e n t e d a o b e d i ê n c i a . C r i a n d o e s p a ç o s d e c o n s c i -ê n c i a m e n o s d i r i g t d a p e l o m e r c a d o , d e

40 R E V IS T A D E O e :N C IA S S O C IA IS v . 2 8 N .1 /2 1 9 9 7

m a n i fe s t a ç õ e s c u l t u r a i s m e n o s a l i e n a -d a s o u -d e v a l o r e s e c r e n ç a s b á s i c a s d i -fe r e n t e s , e s t e s m o v i m e n t o s r e p r e s e n t a m

u m a c o n s t a n t e d o s e d e e l e m e n t o e s t r a -n h o d e -n t r o d o c o r p o s o c i a l d o c a p i t a l i s -m o periférico (Evers, 1994, p.15).

Importa destacar, no pensamento do autor, a presença de novas variáveis para pen-sar as dinâmicas de poder, descentralizadas em grupos e sujeitos que encarnam a experiência cotidiana de elaboração da vida social. A "reapropriação da sociedade por si mesma", para usar as palavras do próprio Evers, funda-menta a tese de que a riqueza potencial dos movimentos é sociocultural.

Os recortes da identidade e da cultura ofereceram questões importantes à discussão do tema, em sua tentativa de apreender o di-verso. Movimentos múltiplos, diferenciados e acontecendo em situações diversificadas.

Entender a especificidade de atores, que eram os protagonistas dos movimentos soci-ais, implicou reconstruir o espaço de experi-ências em processo de elaboração. Por esse motivo, a reconstrução de trajetórias de orga-nização e mobilização foi valorizada, dando sentido a ações coletivas não imediatamente classificáveis dentro de amplos marcos con-ceituais disponíveis.

Eis porque a noção de experiência em Thompson (1979) constituiu uma espécie de alavanca teórica, importante para recompor tra-jetórias de grupos que não se definiam somente através de posições objetivas que ocupavam na estrutura produtiva, mas a partir de urna identidade de interesses historicamente construída. Entender a forma de organização e mobilização de grupos sociais implicou conhe-cer sua linguagem interna, sua cultura de con-testação, explicável a partir de sua historicidade. Em substituição a uma definição prévia do sentido, das lutas sociais, Thompson recu-pera a perspectiva de uma caracterização das classes sociais a partir de seu agir cotidiano, de sua ideologia gestada no plano concreto dos acontecimentos e na experiência acumulada.

(8)

da cultura, entendida como experiência acumu-lada de elaboração de conflitos. Muito embora o autor não tenha usado propriamente o con-ceito de "cultura política", deu elementos para a introdução de práticas e percepções que permeiam os conflitos de classes, dando a estes especificidades ou contornos peculiares. Trata-se de uma ruptura com a noção de essência freqüente em concepções que vislumbram um papel histórico a ser desempenhado, indepen-dente das tramas conjunturais e posições so-ciais concretas vivenciadas pelos atores soso-ciais. Outras interações encontram também raízes fecundas no pensamento de Hannah Arendt (991), que tomou como referência a sociedade grega para pensar a atividade polí-tica como constitutiva da vida social e, portan-to, da própria condição humana. A dimensão política, para a autora crítica do pensamento totalitarista, estaria referida nos registros da ação e do discurso, capazes de estabelecer re-gras de sociabilidade e princípios que estruturam o mundo social. Essa visão alarga da da política, além da dimensão institucionalizada do Estado, influenciou pesquisas sobre movi-mentos sociais, preocupadas em destacar o papel da linguagem e da memória na consti-tuição de novas sociabilidades políticas.

O universo da cultura na análise dos mo-vimentos sociais não se restringiu, portanto, à sua face instrumental politizada. Comportou também o estudo de modos de vida capazes de condicíonar crenças e representações sobre a sociedade e a política construídas pelas classes populares. As-sim, a análise do contexto cultural no qual se moviam as classes populares oferecia perspectiva para a compreensão das linguagens e práticas coletivas com repercussões variáveis no plano da sociabilidade e das dinâmicas interativas. Nes-se Nes-sentido, muitas pesquisas que enfocaram o tema da periferia colocaram a necessidade de pensar as práticas coletivas de organização den-tro de uma ótica mais ampla e capaz de ultra-passar uma visão restrita de política.

A proliferação das associações de mo-radores, que reflete a especificidade dessa forma através da qual as classes populares se constituem como sujeitos

políticos foi ressaltada por grande nú-mero de pesquisadores. Entretanto, os processos propriamente culturais subjacentes a essa movimentação polí-tica ainda não foram suficientemente esclarecidos (Duhram, 1986, p.87).

Um outro espaço dessa interface, que aparece na discussão sobre movimentos soci-ais, está na busca de compreensão da cultura como espaço que dá sentido às formas políti-cas de organização. Assim, modos de contes-tação ou elaboração de discursos foram percebidos como expressão da historicidade de determinados grupos sociais. Mulheres, ne-gros, moradores, homossexuais, entre outros, constituíam seu processo de organização ten-do em vista especificidades que não se totalizavam a partir de um único referencial, visto que as experiências que constituem as "identidades" desses distintos grupos percor-riam diferentes zonas de constituição.

Uma teoria sobre o poder implícita nas teorizações sobre movimentos sociais aponta a ruptura com a noção tradicional de política, lo-calizada em um ponto determinado da estrutura social. Os movimentos, percebidos enquanto recria dores de um social totalizante, acenavam com práticas diferenciadas e descentralizadas de poder construindo áreas de experiências dota-das de uma espécie de micropolítica. Nessa

pers-pectiva, as formulações de Bruni são elucidativas:YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C a d a m o v i m e n t o c r i a u m e s p a ç o p r ó p r i o d e i n t e n s a p o l i i i z a ç ã o , n ã o p e l a s u a r e -l a ç ã o c o m oE s t a d o , m a s p e l a l u t a p o r n o v o s d i r e i t o s . M u l t i p l i c a m - s e a s e x p r e s -s õ e -s p o l í t i c a -s d e o p r e s s ã o , p o r q u e a s o p r e s s õ e s s ã o d i v e r s a s , s ã o d a d o s d e e x -p e r i ê n c i a q u e c o n t i n u a m e n t e d e s l o c a m

a s fr o n t e i r a s e n t r e oq u e s e r i a ' p o l í t i c o ' e

oq u e s e r i a ' n ã o p o l í t i c o ' 0988, p.13).

Os argumentos de Bruni caminham no sentido de indicar transformações sociais que incidem no deslocamento de fronteiras entre diferentes campos do conhecimento, sendo os temas da diversidade e diferenciação

evoca-dos para demonstrar a necessidade da socio-jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(9)

logia lançar mão de novas formulações

conceituais. Segundo suas palavras:YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A s s i m , oq u e é p r o b l e m á t i c o p a r a a s o c i o l o

-g i a , a h e t e r o -g e n e i d a d e , a p l u r a l i d a d e , a s

i n c o e r ê n c i a s , e d i s p e r s ã o , e t c , t o r n a - s e v i r

-t u d e p a r a a a n t r o p o l o g i a n a m e d i d a e m

q u e s u a s p r e o c u p a ç õ e s n ã o e n v o l v e m d i

-r e t a m e n t e a s o c i e d a d e c o m o u m t o d o , m a s

s i m a c u l t u r a c o m o u m m o d o d e e x p r e s

-s ã o e m a n i fe -s t a ç ã o d e s e n t i d o d a e x i s t ê n

-c i a h u m a n a (Bruni, o p . c i t . p.32).

A prática dos movimentos sociais como instância de constituição de uma nova "cultura política" foi enfatizada por diferentes autores que percebiam as circunstâncias de mobilização, reivindicações e conflitos como a construção de uma alternativa critica às instituições do re-gime autoritário (Barreira, 1992). Uma espécie de ação política não convencional, porque mais ampliada que a instância partidária, redí-mensionava o curso de experiências que repre-sentavam o cerne de uma outra forma de aprendizagem diferenciada, por exemplo, das instâncias partidárias ou estritamente sindicais.

Assim, como os grupos sociais constituí-am os movimentos, estes erconstituí-am constitutivos de sujeitos, "novos personagens", que na visão de Saader (991), eram protagonistas de um cenário emergente de consolidação da sociedade civil.

As discussões sobre movimentos soci-ais também colocaram em pauta questões que são caras à ciência política, referentes ao tema da representação e delegação de poderes. As práticas de organização e escolha de lideran-ças no âmbito das experiências associativas foram percebidas, por muitos estudiosos, como formas de aprendizagem política efetivadas em níveis microssociais. A passagem dessa expe-riência restrita para uma outra de caráter mais amplo, relativa a cargos disputados na Câmara de vereadores foi percebida em conexão com uma "cultura política" típica dos movimentos sociais. Esta, dotada de elementos corporatívos separa as formas cotidianas de representação daquelas que dizem respeito à política institucionalizada em cargos eletivos e

parti-dos (Barreira, 1995).jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

4 2 R E V IS T A D E O {;N C IA S S O C IA IS v . 2 8 N .1 /2 19 9 7

CULTURA POLÍTICA E TRANSiÇÃO DEMOCRÁ TICA

Um outro eixo analítico correIa to à dis-cussão dos movimentos sociais refere-se a for-mulações sobre a transição democrática brasileira. A partir do conceito de "cultura po-lítica" discutem-se as possibilidades de efetivação da democracia, tendo por base a criação de instituições que processaram a com-plexa pluralidade de objetivos presentes na sociedade brasileira (Moisés, 1992).

A cultura política foi então entendida como o conjunto de representações culturais que informam o agir político, direcionando tanto os processos de escolha partidária como as adesões a ideologias e visões de mundo.

Trata-se de uma perspectiva mais gené-rica do que aquela atribuída aos movimentos sociais, de vez que o conceito de cultura polí-tica empregado

e n v o l v e , e n t r e o u t r a s c o i s a s , a g e n e r a l i

-z a ç ã o d e u m c o n j u n t o d e v a l o r e s , o r i

-e n t a ç õ -e s e a t i t u d e s p o l í t i c a s e n t r e o s

d i fe r e n t e s s e g m e n t o s e m q u e s e d i v i d e o

m e r c a d o p o l í t i c o e r e s u l t a t a n t o d o s p r o

c e s s o s d e s o c i a l i z a ç ã o , c o m o d a e x p e r i

-ê n c i a p o l í t i c a c o n c r e t a d o s m e m b r o s d a

c o m u n i d a d e p o l í t i c a ( o p . c i t , p.Z).

o

dado importante a considerar nessas reflexões é a crítica à construção da política enquanto obra exclusiva das elites, minimizando, assim, a importância de amplos setores da soci-edade na consolidação da democracia. A dimen-são cultural abrange também a análise de estilos arcaicos e inovadores de se fazer política que corroboram para a criação de alternativas varia-das de representação e delegação de poderes.

(10)

formas autoritárias de poder. Nesse sentido, espaços diversificados da sociedade civil são politizados, criando conexões fortes entre ati-vidades culturais, políticas e religiosas.

Trata-se de um pensamento de inspira-ção gramsciana, que motivou intelectuais de diferentes países a perceberem o conjunto de representações, de práticas e sistemas ideoló-gicos heterogêneos que se colocam como es-tratégia de mudança. O que estaria em jogo seriam as possibilidades de produção da soci-edade civil, limitadas pela absorção de um Es-tado centralizador, tal como a situação francesa analisada por Rosanvalon (977).

RITOS ELEITORAIS: ARTICULAÇÃO DE PROCESSOS CULTURAIS E POLíTICOS

Os momentos eleitorais são especialmen-te ricos para se pensar nos entrelaçamentos de processos culturais e políticos. Nesse contexto, estudiosos da temática postulam uma crítica aos modelos clássicos de política, que analisam os comportamentos eleitorais fundamentando-se em escolhas racionais e baseando-se em variá-veis que são deduzidas de condições socioeco-nômicas. Talvez, não seja exagero afirmar que foram as "surpresas eleitorais" ou a ausência de uma lógica previsível das escolhas, que torna-ram evidente a busca de compreensão das

elei-ções, tendo por referência umYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAc o n t i n u u m entre crenças e valores políticos.

A introdução do marketing político, com seus apelos dirigidos a segmentos diferentes da sociedade, é sintoma de que o fenômeno eleitoral abarca temas e comportamentos que não se explicam somente no plano da racionalidade ou lógica partidária. Nessa pers-pectiva, Pacheco (994) afirma que o "marketing eleitoral está mais próximo da an-tropologia que da política". Segundo ele, não por acaso a análise mais aguda da eleição Collor versus Lula foi elaborada por Gilberto Velho.

A contribuição da cultura como elemen-to importante para a compreensão dos fenô-menos políticos coloca em cena a presença, cada vez mais forte, de aspectos simbólicos que, antes de serem meros adornos ou sim-ples estratégia de marketing, corroboram para

a própria constituição da política enquanto ação dotada de sentidos e estratégias.

A presença crescente de artistas em cam-panhas eleitorais, ou a existência de rituais que acenam com práticas religiosas e festivas, co-locam para o pesquisador a necessidade de lançar mão de variáveis culturais capazes de equacionar essa "expansão gradativa da políti-ca para outros políti-campos da vida social".

A "festa na política", bem exemplificada na campanha das eleições diretas para a presi-dência da República, coloca em evipresi-dência o emergir de discursos e práticas sociais, cuja teia de significações evoca enredos e narrativas de cunho ético, simbólico e estético. As reflexões de Meyer e Montes (985), sobre o alcance po-lítico da festa cívica, que englobou os momen-tos de mobilização popular em torno da votação do colégio eleitoral, doença e morte de Tancredo Neves, são bastante significativas. Os eventos, distribuídos em torno de quarenta dias, permitiram

a n t e s d e m a i s n a d a , a c o m p r e e n s ã o d e q u e , a o l o n g o d e l e s , c o n s t r u i u - s e u m o u t r o d i s c u r s o e s p e c í fi c o s o b r e op o d e r e a p o l í t i c a , q u e a a n t r o p o l o g i a , m a i s d o q u e a c i ê n c i a p o l í t i c a , n o s a j u d a a d e s v e n d a r C M e y e re Montes, 1985, p.68). Essas práticas interativas entre política e atividades outras da vida social não podem ser consideradas propriamente novas. A pesquisa histórica de Burke (994), a respeito da corte de Luís XIV, coloca em evidência mecanismos de persuasão, de construção e apresentação de imagem, que são reveladores de uma compre-ensão larga da questão política para além da esfera restrita do poder. A busca de legitimida-de já apontada por Weber, como elemento im-portante de consagração da política coloca-se como percurso importante de investigação para Burke, que realizou o estudo do passado a par-tir de novas categorias de percepção.

Pesquisas recentes de base antropoló-gica a respeito de processos eleitorais são reveladoras da busca de referências culturais, capazes de explicar não só as escolhas eleito-rais, mas processos mais amplos que informam

as práticas de poder e ação política.jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(11)

As motivações para o voto baseadas em supostos da antropologia social e cultural per-mitem, segundo Goldman (994), superar al-gumas das análises da ciência política que tanto explicam o voto pela localização econômica do eleitor, como pela identificação partidária. A recuperação das tramas micropolíticas im-plicaria, nessa direção, reconhecer as comple-xidades das motivações individuais e fatores diversos de ordem cultural que interferem no voto. As atribuições de irracionalidade a com-portamentos não previsíveis, ou distantes de uma lógica partidária, terminariam por desco-nhecer que a política deve ampliar-se a distin-tas esferas do social que não se esgotam na própria política. Em síntese, as conclusões de Goldman vão na seguinte direção:

ÉYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAh o r a , p o i s , d e d e i x a r d e t r a b a

-l h a r c o m u m a c o n c e p ç ã o a p r i o r i s t i c a d o

q u e s e j a a p o l í t i c a , c o n c e p ç ã o r a r a m e n t e

p a r t i l h a d a p o r a g e n t e s s o c i a i s e fe t i v o s ,

oq u e c o s t u m a c o n d u z i r a u m a e s p é c i e d e s u r p r e s a q u e a c a b a p o r r e d u z i r c o n

-c e p ç õ e s p o s i t i v i s t a s e e s p e c í fi c a s a c a r ê n

-c i a s e fa l t a s .jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAO r e c o n h e c i m e n t o d e q u e

e x i s t e m d i fe r e n t e s fo r m a s d e p e n s a r e

v i v e r op o l í t i c o e d e q u e e s s a s c o n c e p

-ç õ e s i n fo r m a m d e m o d o e s p e c í fi c o a p r á

-t i c a e a s d e m a i s r e p r e s e n t a ç õ e s d o s

a g e n t e s n o s p a r e c e u m p a s s o p r e l i m i n a r

p a r a a r e n o v a ç ã o d o s e s t u d o s a r e s p e i t o

d e s t e c a m p o , a fa s t a n d o - n o s d o s fa n t a s

-m a s d e " i r r a c i o n a l i d a d e " , s e m p r e i n v o

-c a d o s o u e x o r c i z a d o s q u a n d o n ã o

c o m p r e e n d e m o s n e m a q u i l o q u e p r e t e n

-d e m o s fa l a r C G o l -d m a n , 1 9 9 4 , p.16).

A percepção da política em sua dimen-são discursiva constitui uma outra vertente que valoriza a influência das crenças e percepções sobre as escolhas eleitorais. No caso das elei-ções presidenciais de 1994, o eixo da oposi-ção entre as candidaturas de Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva foi construído em torno de valores relativos à "ordem ou caos". A polaridade sugere o cará-ter móvel do discurso político circunstanciado em representações sociais que se encontram

44 R E V IS T AD E C lt= N C IA SS O C IA IS V . 2 8 N .1 /2 1997

difundidas em diferentes espaços da vida social Pinto Jardim (995).

Se a "política" não se reduz a um espa-ço restrito da sociedade, sua expressão em um momento específico, como é o caso das elei-ções, possui também linha de continuidade com o cotidiano.v O "tempo da política" explidtado nos momentos eleitorais, representa a oportunidade de afirmação de processos so-ciais pouco visíveis na vida cotidiana. Isso porque d u r a n t e o tempo da política,

a s fa c ç õ e s p o l í t i c a s , q u e , n o d i a a d i a ,

s e d i s s o l v e m e m m ú l t i p l a s r e d e s d e r e

-l a ç õ e s p e s s o a i s , m o s t r a m - s e p o r i n t e i r o

e , p o r a s s i m d i z e r , g a n h a m e x i s t ê n c i a

a o s o l h o s d o s m e m b r o s d a q u e l a s o c i e

-d a -d e . N a -d i s p u t a fa c c i o n a l q u e s e e s t a

-b e l e c e n e s s a o c a s i ã o , e s t á e m j o g o m e n o s

u m a d i s p u t a e l e i t o r a l stricto sensu d o

q u e a a fi r m a ç ã o d e p e s o r e l a t i v o d e d i

-fe r e n t e s p a r t e s d a s o c i e d a d e u m a d i a n

-t e d a s o u t r a s , o q u e é d e c i s i v o p a r a o

o r d e n a m e n t o d a s r e l a ç õ e s s o c i a i s "

CHerediae Palmeira, 1995,p.34).

(12)

con-vivência de uma utopia democrática com um sistema hierarquizado, cuja ambigüidade gera a negociação em torno de um projeto nacional.

UM DESLOCAMENTO DE FRONTEIRAS

Os campos temáticos de pesquisa que englobam o estudo de movimentos sociais ou análises de campanhas eleitorais apontam possi-bilidades interativas entre os temas da "cultura" e da "política" a partir dos seguintes pontos: a bus-ca do signifibus-cado da polítibus-ca no bus-campo das re-presentações culturais; análise das práticas políticas fora das instâncias convencionais tais como Estado, partidos políticos e sindicatos. A busca do significado das práticas políticas no espaço das representações culturais implicou a análise de escolhas eleitorais ou adesões ideoló-gicas para além das expectativas formalistas que associavam, naturalmente, situações de classe, etnias ou sexo a formas de comportamento polí-tico. Nesse sentido, o que antes se nomeava de "irracional", por não corresponder a comporta-mentos esperados, passou a fazer sentido no es-paço de uma compreensão mais totalizante das ações sociais. A dimensão simbólica da política apontou para a análise dos diferentes sentidos que constituem o campo múltiplo das ações so-ciais. Assim, os espaços da vida cotidiana e o que se convencionou chamar de "política" en-contram modos diversos de entrelaçamento.

As pesquisas sobre movimentos soci-ais, na medida em que pensaram na emergên-cia de espaços de sociabilidade como potencialidade de mobilização e elaboração de conflitos, deslocaram a esfera do político de sua centralidade habitual. Nesse contexto, tor-nou-se evidente a percepção de processos da vida social capazes de viabilizar experiências e constituir espaços de conflito. Sob a ótica da transformação ou da expressividade de ações na esfera pública os movimentos sociais sina-lizaram o sentido da política em uma perspec-tiva ampla, capaz de englobar a esfera das ações cotidianas. Observa-se portanto, um desloca-mento do sentido da política explicitado em instituições para o campo dos processos soci-ais e cultursoci-ais, recuperando, de algum modo, o sentido originário da política."

DIÁLOGOS DE UM ENRIQUECIMENTO MÚTUO

As conexões entre "cultura" e "políti-ca", apontadas a partir de diferentes perspecti-vas, estão além das divisões ordenadas do conhecimento, valorizando as redes de rela-ções que se processam na vida cotidiana.

A diversidade de pesquisas e conse-qüente formação de "novos campos ternáticos" têm revitalizado modelos que ultrapassam as fronteiras exc1usivistas do conhecimento. A vigência desses espaços "interdisciplinares" afirma a crença na pesquisa e não nas respos-tas lógicas que deixam à margem a complexi-dade e riqueza das relações sociais.

As concepções de cultura e política têm, nesse horizonte, espaços modificados a partir

de algumas características:jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 1 . Mudanças na visão da política como

teleologia;

2. Modificação na noção de cultura como expressão uniforme de padrões culturais;

3. "Cultura" e "política" como temas ar-ticulados.

A busca da política em suas expressões não institucionallzadas, ou seja, a elaboração da política no fazer cotidiano de grupos associativos e entidades profissionais motivou a percepção das ações coletivas como não estando restritas a uma dimensão teleológica: a política sem a fina-lidade da grande transformação ou acontecimento grandioso. Personagens que "fazem a política" sem o cargo oficial da representação acenam com a construção da cidadania com base no artefato presente e rotineiro da vida social.

A perspectiva da cultura em sua diversida-de representa, atualmente, uma crítica à noção diversida-de sistematicidade ordenada de normas e valores, que foi herdada da concepção funcionalista. O reco-nhecimento da diferença e a desconstrução das hierarquias simbólicas apontam a pluralidade como repertório de significantes, realimentado no ãmbi-to das pesquisas.

Na realidade, as vinculações entre cul-tura e política já fazem parte do exercício coti-diano de muitos pesquisadores, entre os quais antropólogos que pensaram o objeto etnográ-fico como totalidade indivisível Peirano (995). Nesse sentido, as interações, em si mesmas, não constituiriam nenhuma novidade.

(13)

ÉzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBApossível argumentar, no entanto, que as formas de articulação conceitual são

variá-veis no tempo, sobretudo tendo por base a afluência sempre presente de pesquisas que não cessam de deslocar fronteiras disciplina-res. Elas são, assim, zonas de arejamento atra-vés das quais os temas vinculados à cultura e à política têm se realimentado.

Não por acaso, as manifestações políti-cas passam a ser repensadas, tanto pela socio-logia como pela ciência política e a própria antropologia sob o ponto de vista da cultura. Seja porque a esta permite introduzir a noção de desordem, seja porque permite flexibilizar concepções de causalidade ou finalidade que freqüentam muitas análises sociológicas.

Processa-se, nesse diálogo, uma relação de enriquecimento mútuo que retira a análise dos fenômenos políticos de um enquadramento restrito, ao mesmo tempo em que acrescenta às percepções dos processos culturais os temas referentes ao conflito, incluindo as estratégias do poder simbólico. Sob essa dinâmica os te-mas recentes da "globalízação" ou "desencanta-mento da política" podem ganhar novos significados, na medida em que o escopo do olhar seja ampliado para se pensar na interface entre processos culturais e políticos.

NOTAS

1 Embora as ciências sociais em seu conjunto

te-nham incorporado às suas análises discussões que priorizam a "cultura"e a "política" como variáveis analíticas, no âmbito das divisões dis-ciplinares a cultura passou a ser o "objeto" por excelência da antropologia, enquanto a "políti-ca" passou a ser assunto da ciência política.

2 Uma sistematização sobre a evolução do

con-ceito de cultura encontra-se em Thompson (1995, p.165). Também Shalins (1997, p. 41) desenvolve uma polêmica discussão sobre as diferentes acepções de cultura no campo da antropologia.

3 A discussão de Otávio Velho (1991) sobre o

relativismo chama atenção para as dificul-dades do elogio da diversidade, que pode-rá trazer como conseqüência o particularismo generalizado, que abdica da

46 R E V IS T A D E C llô N C IA S S O C IA IS v . 2 8 N .1 /2 1997

discussão sobre as grandes opções cultu-rais. A crítica ao relativismo cultural encon-tra-se fundamentada em Rouanet (1993).

4 Goldman e Palmeira (1997) destacam

dife-rentes concepções assumidas pela antropo-logia. Desde a década de 40 o estrutural funcionalismo desloca a questão do poder do Estado para as instituições sociais. Na década de 60 a "antropologia política" pro-pôs a substituição do estudo de grupos pelo de redes e processos, valorizando as interações sociais. Ao longo da década de 70 ocorreram alguns "descentrarnentos" mais radicais, oriundos de discussões teóricas e movimentos da década de 60. Tais "descen-tramentos" foram viabilizados por autores que enfatizaram o poder como feixe de relações sociais ou lutas simbólicas em diferentes ní-veis e antropólogos preocupados em pensar interações entre política e vida cotidiana, fora do crivo restrito da dominação.

5 A influência dos meios de comunicação na

pro-dução, circulação e recepção de bens simbóli-cos é explorada em Thompson 0995, p.l72).

6 A análise da política como constituição de um tempo que mobiliza práticas diferencia-das, percepções e rituais que aparecem no cotidiano das pequenas cidades encontra-se bem explicitada na pesquisa de Heredia e Palmeira (1995, p. 34) sobre os comícios e políticas de faccções.

7 A política em seu significado clássico,

deri-vado deYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAp ó l i s incluía tudo o que é relativo à cidade, portanto, civil, social e público. Ao longo do tempo, o uso do termo passa a designar especificamente atividades ligadas ao Estado e às formas de governo CBobbio e Matteucci, 1986, p. 954 -962).

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