TJMG - Jurisprudência Cível
Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 58, n° 180, p. 89-372, janeiro/março 2007 143
“exclusiva”, o que não se pode vislumbrar quando ocorre quebra do dever de infor- mação pela parte acionada com que contra- tou o consumidor diretamente (Tribunal de Alçada de Minas Gerais, Apelação Cível nº 2.0000.00.298316-6/000, Rel. Juiz Duarte de Paula, DJUde 29.04.2000).
Ora, está claro dos autos que a empresa Eurovip´s está diretamente ligada à empresa responsável pela distribuição dos ingressos - Prime Sport International -, visto que as duas
‘sociedades’ firmaram pacto para compra dos bilhetes que seriam distribuídos aos clientes, inexistindo, portanto, no âmbito da responsabi- lidade subjetiva, qualquer obrigatoriedade da apelante em responder pelo dano ocorrido.
Verifiquem o teor do comunicado oficial prestado pela PSI (Prime Sport International), que confirma a ligação contratual existente entre ela e a operadora de turismo - Eurovip´s:
... Por este motivo reiteramos que a Eurovip´s não é de nenhuma maneira responsável pela situação que envolve a falta de entrega dos ingressos para os seus clientes. A Eurovip´s cumpriu corretamente com todos os termos do contrato firmado entre as nossas duas empre- sas. A Eurovip´s pagou em tempo hábil as quan-
tias indicadas no mesmo contrato, comprando o número suficiente de ingressos para todos os passageiros, vendidos em forma de pacote.
Dessarte, em razão de inexistir, no âmbito subjetivo, participação da apelante para a ocorrência do dano em desfavor do consu- midor, pertinente a ação de regresso aviada, devendo a apelada, verdadeira responsável pelo prejuízo sofrido, ser compelida a ressarcir, integralmente, os valores despendidos pela demandante no pagamento do acordo realizado nos autos da ação indenizatória.
Em razão do exposto, dou provimento ao recurso para reformar a sentença monocrática condenando a apelada a ressarcir à apelante os valores expendidos na exordial que deverão ser corrigidos monetariamente, acrescidos dos juros legais a partir do desembolso.
Invertam-se os ônus sucumbenciais.
Custas recursais, pela apelada.
Votaram de acordo com o Relator os Desembargadores José Flávio de Almeida e Nilo Lacerda.
Súmula- DERAM PROVIMENTO.
-:::-
UNIÃO ESTÁVEL - PROVA - AÇÃO DECLARATÓRIA - PROCEDÊNCIA - SUCESSÃO - FALECIMENTO DA AUTORA - DIREITO REAL DE HABITAÇÃO - PERDA DO OBJETO - BENS ADQUIRIDOS COM ESFORÇO COMUM - MEAÇÃO - APURAÇÃO - EXECUÇÃO DA SENTENÇA
- AQÜESTOS - USUFRUTO - EXAME DA MATÉRIA - VIA JUDICIAL - INVENTÁRIO E PARTILHA Ementa: União estável. Aqüestos. Usufruto. Habitação. Direito personalíssimo.
- Caracterizada a união estável, garante-se à autora o direito à meação dos bens adquiridos durante a união estável, desde que comprovado o esforço daquela na aquisição dos bens, o que será apurado quando da execução da sentença.
- O falecimento da autora de ação declaratória de união estável julgada procedente implica a perda de objeto quanto às disposições sobre direito real de habitação. Quanto aos aqüestos e ao direito de usufruto dos bens do falecido, referentes aos bens adquiridos na constância da união estável, é caso de apuração em sede de inventário e partilha, porquanto não houve iden- tificação dos mesmos nestes autos.
Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 58, n° 180, p. 89-372, janeiro/março 2007
144 Acórdão
Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO.
Belo Horizonte, 29 de março de 2007. - Cláudio Costa- Relator.
Notas taquigráficas
Assistiu ao julgamento, pelo apelante, o Dr. Leonardo Miguel de Lima.
O Sr. Des. Cláudio Costa- Presentes os requisitos subjetivos e objetivos do juízo de admissibilidade, conheço do recurso.
Trata-se de apelo aviado por J.P.N. e outros contra sentença de f. 633/659-TJ, que julgou proce- dente o pedido em sede de ação declaratória movi- da por R.P.S., para declarar a existência de união estável com A.G.P., com início em novembro de 1992 e término em 27 de maio de 1999, com o fale- cimento daquele, bem como direito de usufruto dos bens do falecido e direito real de habitação e aos aqüestos referentes aos bens adquiridos na cons- tância da união estável, condenando os requeridos nos ônus da sucumbência e honorários em quinze por cento do valor dado à causa. Os requeridos apelaram às f. 705/739-TJ, aduzindo a inexistência de união estável em face da existência de contrato de convivência e da ausência de vida more uxorio, além da instabilidade do relacionamento entre o falecido e a autora, inexistindo relacionamento intuitu familiae;a inconstitucionalidade do “usufruto”
previsto no art. 2º da Lei 8.971/1994 e do “direito real de habitação” previsto no parágrafo único do art. 7º da Lei 9.278/1996; a inexistência de direito real de habitação pela apelada; a necessidade de determi- nar o pagamento, pela apelada, das despesas rela- tivas ao referido imóvel; que o usufruto não pode
incidir sobre os bens que forem considerados aqüestos, sob pena de bis in idem; a necessidade de partilha para apuração do usufruto, que só pode incidir sobre a parte disponível da herança, sem afe- tar a legítima, além de a apelada já ser beneficiária de alimentos por conta do espólio; a necessidade de estipulação de caução pela apelada caso mantida sua quota de usufruto; que a apelada não atende ao disposto no art. 5º da Lei 9.278/96; a injustiça da cumulação de direito real de habitação, usufruto, aqüestos e pensão alimentícia; a necessidade de desoneração do espólio em relação aos alimentos prestados ao menor R. em face do usufruto de um quarto da renda dos bens do falecido pela apelada;
a incorreta e prejudicial presunção de paternidade lançada em união estável. Em contra-razões de f.
741/752-TJ, o menor R.J.P., representado pela tuto- ra, D.T.S., na qualidade de substituto processual, em face do falecimento da apelada, afirma estar ca- racterizada a união estável, com o nascimento de dois filhos de R. e A., o ora apelado e seu irmão, cuja paternidade se discute em outros autos; o direito real de habitação como corolário do falecimento de seu pai em face da união estável; que os alimentos são devidos a ele pelo espólio de seu pai, e não à sua falecida mãe; a comunicação dos aqüestos e o direito da apelada ao usufruto de bens do falecido, independentemente de caução. A douta Procu- radoria-Geral de Justiça opinou às f. 759/765-TJ pelo provimento parcial do recurso. Foi regularizada às f. 777/780-TJ a representação da apelada, por meio de sua inventariante, D.T.S., tudo conforme relatório que passa a fazer parte deste voto.
Mérito.
Manifesta a perda de objeto das dis- posições exaradas em sentença sobre o direito real de habitação em face do falecimento da auto- ra. Tratando-se de direito personalíssimo, este se extingue com sua morte, sendo despicienda sua discussão neste momento processual.
Afasto a alegada inconstitucionalidade do
“usufruto” previsto no art. 2º da Lei 8.971/1994 e Apelo improvido.
APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0016.99.009392-0/001 - Comarca de Alfenas - Apelantes: J.P.F.N. e outro - Apelado: Espólio de R.P.S., representado pelo inventariante D.T.S. - Relator: Des. CLÁUDIO COSTA
TJMG - Jurisprudência Cível
Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 58, n° 180, p. 89-372, janeiro/março 2007 145 do “direito real de habitação” previsto no pará-
grafo único do art. 7º da Lei 9.278/1996, porquanto os apelantes fazem mera alegação, sem demonstrar onde reside a suposta inconsti- tucionalidade nos referidos diplomas, qual o princípio ou regra constitucional que vulneram, não havendo como apreciar o pedido neste item.
Persiste, entretanto, a questão da exis- tência ou não de união estável entre a requeren- te e o requerido, a ser analisada neste momento.
Embora um tanto quanto vacilante a prova testemunhal produzida, esta, conjugada com a pro- va documental coligida nos autos, convence-me de que os pressupostos legais da união estável ficaram bem configurados nos autos, autorizando, a meu entender, o desprovimento do recurso.
O conceito de união estável se exaure no art. 1º da Lei nº 9.278, de 10.5.96, segundo o qual
“é reconhecida como entidade familiar a convivên- cia duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de consti- tuição de família”.
Aliás, bem antes do advento do art. 226 da Constituição Federal de 1988, já Moura Bittencourt sinonimizava concubinato e união estável, afirmando:
Em poucas palavras, concubinato é a união estável no mesmo ou em teto diferente, do homem com a mulher, que não são ligados entre si por matrimônio (Concubinato. São Paulo: Leud, 1975).
Neste egrégio Tribunal de Justiça, já se julgou:
A partir da Lei n. 9.278/96, passou-se a enfocar o concubinato fora da área dos fatos econô- micos, tornando-se majoritário o entendimento quanto à desnecessidade de comprovação de que o patrimônio foi adquirido com a colaboração efetiva da companheira, bastando a simples pro- va da existência da união estável para que esta tivesse direito à meação. Comprovada, através de prova irrefutável dos autos, a constituição de uma vida em comum, de uma união estável, tal como definida pelo art. 226 da CF e pelo art. 1º da Lei nº 9.278/96, estabelecida como incontro-
versa a existência desta união estável, aplica-se, por via de conseqüência, o art. 5º da lei supraci- tada, que não deixa nenhuma margem à dúvida, ao estabelecer que a companheira, dentro da união estável, tem direito à meação dos bens adquiridos com esforço próprio do companheiro ou com o esforço comum. A lei não distingue (Jurisprudência Mineira145/68).
Dos autos, deflui a existência de união estável, pelo menos a partir de 1992 até o falecimento do requerido.
O “pacto” de f. 151/153-TJ não afasta esta conclusão na medida em que, se fosse a intenção dos pactuantes levá-lo a termo, se teriam casado naqueles termos.
A convivência do casal demonstra o abandono do referido “contrato” porquanto as- sumiram relacionamento com características de união estável.
Caracterizada então a união estável, garantir-se-ia à autora, ora sucedida por seu inventário, o direito à meação dos bens adquiridos durante a união estável, desde que comprovado o esforço daquela na aquisição dos bens, o que será apurado quando da execução da sentença.
Entretanto, em face do falecimento da autora de ação declaratória de união estável jul- gada procedente, perdem objeto as disposições sobre direito real de habitação.
Quanto aos aqüestos e ao direito de usufru- to dos bens do falecido, referentes aos bens adqui- ridos na constância da união estável, é caso de apuração em sede de inventário e partilha, por- quanto, como bem salientou o Juízo sentenciante, não houve identificação dos mesmos nestes autos.
Posto isso, nego provimento ao apelo.
Custas, pelos apelantes.
O Sr. Des. Dorival Guimarães Pereira - De acordo.
A Sr.ª Des.ª Maria Elza- De acordo.
Súmula- NEGARAM PROVIMENTO.
-:::-