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Bem-estar no trabalho, clima social e estratégias de enfrentamento do estresse

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(1)

Fábio Rocha Sobrinho

Bem-Estar no Trabalho, Clima Social e Estratégias de

Enfrentamento do Estresse.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília para obtenção do título de Mestre em Psicologia

Orientadora: Profª. Drª. Juliana Barreiros Porto

(2)

7,5cm

R672b Rocha Sobrinho, Fábio

Bem-estar no trabalho, clima social e estratégias de enfrentamento do estresse / Fábio Rocha Sobrinho. – 2009.

94 f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2009. Orientação: Juliana Barreiros Porto

1. Clima organizacional. 2. Ambiente de trabalho. I. Porto, Juliana Barreiros, orient. II.Título.

(3)

Dissertação de autoria de Fábio Rocha Sobrinho, intitulada Bem-Estar no Trabalho,

Clima Social e Estratégias de Enfrentamento do Estresse, requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre em Psicologia, defendida e aprovada em 22 de junho

de 2009, pela banca examinadora constituída por:

________________________________________________ Profª. Drª. Juliana Barreiros Porto

Universidade Católica de Brasília - UCB Orientadora

_______________________________________________ Profª. Drª. Maria das Graças Torres da Paz

Universidade Católica de Brasília - UCB Membro interno

________________________________________________ Profª. Drª. Tatiane Paschoal

Universidade de Brasília - UnB Membro externo

(4)

AGRADECIMENTOS

Deus me dá sustentação

Minha mãe, Célia, discernimento e acalanto

Meu pai, Nilton, mansidão e sabedoria

Dilermando, oportunidade e confiança

Carlos, ousadia e motivação.

Meu irmão, Daniel, por sua vez, confiante

Meus amigos, equilíbrio

UCB, estrutura física e suporte

UBEE-UNBEC, planejamento estratégico, espaço e revelação.

Psicologia me constituiu homem

Fez-me reenrraizar origens

Escolher meus rumos, horizontes e trilhas

Mais do que isso, provocou-me.

Hoje sou Mestre

Não só no sentido acadêmico

Mas, enquanto descobridor

Mais curioso que nunca

Mais eu mesmo, sensível ao amor.

Juliana, chaveira sensata

Abre portas com segurança

Vai à frente, fiel parceira

Orientadora companheira

Obrigado! Nessa homenagem

(5)

É sublime pensar a vida como uma desconstrução

de um muro. Tijolo por tijolo são retirados,

cuidadosamente, para servirem como calçamento

de um novo caminho.

Antes limitação, agora, horizonte.

(6)

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo principal identificar o impacto de

variáveis demográficas, do clima social e das estratégias de Enfrentamento do

estresse (coping) no Bem-estar no trabalho, além de validar a escala de clima social

para o contexto das organizações. Para tanto foram utilizadas as escalas de

Bem-Estar no Trabalho; Avaliação de Clima Social (EACS), adaptada para o contexto

organizacional e Coping Ocupacional (ECO). Participaram da pesquisa 2.438

funcionários de uma organização. Concluiu-se que idade e escolaridade impactaram

positivamente sobre a variância do Bem-estar no trabalho, porém, gênero não

impactou. Após validação, a Escala de Avaliação de Clima Social adaptada ao

contexto das organizações ficou composta por três fatores: inovação e desempenho

( α = 0,95), reconhecimento (α = 0,94) e autonomia (α = 0,84). Juntos os três fatores

explicam 62,14% da variância do construto. A solução fatorial encontrada é

teoricamente pertinente, pois, o conteúdo abordado pelos fatores identificados após

a validação se mantém dentro dos limites teóricos do construto que se propõe a

medir. As análises de correlação e regressão demonstraram que os fatores de clima

impactam no Bem-estar, dentre esses, autonomia apresentou correlação positiva e

de moderada a alta com Bem-estar e os fatores Inovação e Desempenho e

Reconhecimento apresentaram correlações mais fortes. No caso dos fatores de

Coping, esquiva teve resultado fraco na correlação, porém, manejo e controle

tiveram resultado significativo. Concluiu-se que o clima social e as estratégias de

Enfrentamento do estresse (coping) impactam no Bem-estar no trabalho. Sugestões

para pesquisas futuras foram apresentadas.

Palavras-chave: clima social, clima organizacional, felicidade, estratégias de

(7)

ABSTRACT

The current study has as its main goal to identify the influence of demographic

variables, social climate and coping on the work well-being. Furthermore, it aimed at

validating the scale of social climate to the context of organization. As tools for this

achievement, the scales of work well-being, Social Climate adapted to the

organizational context and occupational coping. Were used 2.483 employees of an

organization took part on this research. As observed, age and education levels have

influenced positively over the variation of work well-being, however, gender has not

influenced. After validation, the scale of social climate was composed by three

factors: innovation and performance (

α

= 0,95), recognition (

α

= 0,94) and autonomy

(

α

= 0,84). Together, the three factors explain 62,14% of the variation of the

construct. The factorial solution found is, in line with the theory since the contents of

the factors are within the theory boundaries of the construct which is supposed to

measure. The analysis of correlation and regression show that all factors of the social

climate influence on work well-being, among then, autonomy presented a moderate

to high positive correlation, and recognition with work well-being and the factors

Inovation and Performance have shown the strongest correlations. Factors of coping

such as problem focus had mild result in the analysis. Nevertheless, appraisal focus

and emotion focus had stronger appearance upon the results. It is concluded that

Social Climate and coping mastering have a meaningful role for predicting work

well-being. Suggestions for future research have been made.

Key-words: social climate, organizational climate, strategies for stress mastering,

(8)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Dados demográficos ... 45

Tabela 2 Resultados da análise paralela ... 50

Tabela 3 Resultados da matriz fatorial e precisão dos fatores da Escala de Avaliação de Clima Social das Organizações .... 51

Tabela 4 Resultados da análise descritiva - frequência, média, desvio padrão e intervalos de confiança da escala de Avaliação de Clima Social adaptada ao contexto das organizações ... 53

Tabela 5 Resultados da análise descritiva - frequência, média e desvio padrão da escala de Bem-estar no Trabalho (EBET) ... 53

Tabela 6 Resultados da análise descritiva - frequência, média e desvio padrão da Escala de Coping Ocupacional (ECO) ... 54

Tabela 7 Resultados das correlações entre os fatores ... 55

Tabela 8 Resultados da regressão para Afeto positivo ... 56

Tabela 9 Resultados da regressão para Afeto negativo ... 58

(9)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 10

2. REFERENCIAL TEÓRICO... 12

2.1 Bem-estar... 12

2.1.1 Bem-estar: perspectiva hedônica... 12

2.1.2 Bem-estar: perspectiva eudaimônica... 14

2.1.3 Relação entre a perspectiva hedônica e eudaimônica... 16

2.1.4 Bem-estar no trabalho... 18

2.1.5 Antecedentes do Bem-estar... 21

2.2 Clima social... 24

2.3 Estratégias de Enfrentamento do Estresse (coping)... 32

3. PROBLEMA, OBJETIVOS E HIPÓTESES... 38

4. MÉTODO... 43

4.1 Caracterização da organização estudada... 43

4.2 Amostra... 44

4.3 Instrumentos... 46

4.4 Procedimento de coleta de dados... 48

4.5 Tratamento dos dados... 49

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO... 50

5.1. Validação da Escala de Clima Social das Organizações... 50

5.2. Análises descritivas da Escala de Bem-Estar no Trabalho... 53

5.3. Análises descritivas da Escala de Coping Ocupacional... 53

5.4. Correlação e Regressão... 54

5.5. Discussão... 60

6. CONCLUSÃO... 67

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 70

ANEXO A_ESCALA DE BEM-ESTAR NO TRABALHO... 87

ANEXO B_ESCALA DE CLIMA SOCIAL (ADAPTADA)... 89

ANEXO C_ESCALA DE COPING... 91

ANEXO D_CAPA EXPLICATIVA... 93

(10)

1. INTRODUÇÃO

O estudo da felicidade tem crescido nos últimos anos. Segundo Ryan e Deci

(2001), o estudo da felicidade está focado na busca da compreensão das

experiências de prazer versus desprazer. De acordo com Tamayo (2004), a felicidade, principalmente hoje, é uma preocupação científica.

Para Albuquerque e Tróccoli (2004), com o passar dos anos a literatura da

área adotou o Bem-estar como um sinônimo de felicidade. Segundo Paschoal

(2008), diversos autores têm se dedicado a desenvolver pesquisas para

compreender o Bem-estar, principalmente pelo fato de entenderem que o Bem-estar

corresponde a mais de uma esfera da vida. Para Tamayo (2004), o tempo dedicado

ao trabalho, o qual representa uma parte significativa da vida do indivíduo, consiste

num componente fundamental para a construção e o desenvolvimento do Bem-estar

pessoal e da felicidade. Assim, é fundamental o estudo do Bem-estar no trabalho.

Apesar de escassos, nas últimas décadas, surgiram estudos empíricos com o

objetivo de entender as variáveis envolvidas na predição do Bem-estar no trabalho.

Autores como Walton (1973), Werther e Davis (1983), Nadler e Lawler (1983),

Diener (1984), Huse e Cummings (1985), Brief e Roberson (1989), Ryff (1989),

Waterman (1993), Warr (1987; 1994), Cropanzano (1996), Daniels (2000), Horn et al

(2004), Paz (2004), Paschoal (2008) entre outros, ressaltaram a importância de se

estudar o Bem-estar ocupacional e desenvolveram modelos teóricos e empíricos

sobre a estrutura desse fenômeno e sobre as variáveis situacionais e pessoais que o

determinam.

Este estudo busca contribuir com a literatura do Bem-estar no trabalho, a

partir da identificação de variáveis que se relacionam a este fenômeno.

Especificamente, este estudo tem o objetivo de identificar o impacto do clima social

e das estratégias de Enfrentamento (coping) do estresse no Bem-estar no trabalho. Não foram encontrados estudos que apontem para uma relação direta entre estas

três variáveis: clima social, estratégias de Enfrentamento e Bem-estar no trabalho.

No entanto, há estudos empíricos (PAZ, 2004; WARR, 1987, 1994; KOYS e

DECOTIIS,1991; PUENTE-PALACIOS, 2002), que apontam para possibilidades de

impacto entre fatores destas variáveis, tais como autonomia; dimensão social do

trabalho; reconhecimento e suporte ambiental. Dessa forma, este estudo torna-se

(11)

Enfrentamento e Bem-estar no trabalho. Para tanto, este texto foi dividido em cinco

partes. Na primeira, são discutidas importantes abordagens (hedônicas e

eudaimônicas) e como elas se relacionam no estudo do Bem-estar geral e

ocupacional, considerando seus antecedentes e definição. Na segunda parte será

apresentada a revisão de estudos sobre clima social com foco no Bem-estar

ocupacional.

Na terceira parte desse texto serão apresentadas as estratégias de

Enfrentamento (coping) do estresse adotadas pelos trabalhadores, suas definições e conceito e até que ponto estas estratégias impactam no Bem-estar das pessoas no

trabalho.

Em seguida, os resultados que demonstraram que idade e escolaridade

impactaram positivamente sobre a variância do Bem-estar no trabalho, porém,

gênero não impactou. Após validação, a Escala de Avaliação de Clima Social

adaptada ao contexto das organizações apresentou solução fatorial teoricamente

pertinente, pois, o conteúdo abordado pelos fatores identificados após a validação

se mantém dentro dos limites teóricos do construto que se propõe a medir. As

análises de correlação e regressão demonstraram que os fatores de clima impactam

no Bem-estar, dentre esses, autonomia apresentou correlação positiva e de

moderada a alta com Bem-estar e os fatores Inovação e Desempenho e

Reconhecimento apresentaram correlações mais fortes. No caso dos fatores de

Coping, esquiva teve resultado fraco na correlação, porém, manejo e controle

tiveram resultado significativo. Concluiu-se que o clima social e as estratégias de

Enfrentamento do estresse (coping) impactam no Bem-estar no trabalho. Na

(12)

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Bem-estar

Bem-estar e felicidade são termos considerados, por muitos autores da área,

como sinônimos. Para Albuquerque e Tróccoli (2004), Bem-estar refere-se ao estudo

científico da felicidade. De acordo com estes autores, o número de pesquisas na

área de Bem-estar está crescendo e destas pesquisas derivam duas perspectivas

gerais: 1) hedônica, cujo o foco está na felicidade e define Bem-estar subjetivo nos

termos das ligações de prazer e desprazer; 2) eudaimônica, cujo o foco está no

significado da auto-realização e define Bem-estar psicológico em termos do grau de

satisfação que uma pessoa tem em sua vida em geral. De acordo com Albuquerque

e Tróccoli (2004), a principal diferença entre elas reside na concepção de felicidade

adotada.

Este estudo considera ambas as perspectivas hedônica e eudaimônica

sobre a natureza do Bem-estar e seus antecedentes. A seguir serão apresentadas

estas visões tomando como base as diferentes pesquisas da área e os estudos que

levam à adoção de ambas perspectivas.

2.1.1 Bem-estar: perspectiva hedônica

O estudo do Bem-estar subjetivo busca compreender a avaliação que as

pessoas fazem de suas vidas. A ciência social tem uma longa tradição de análise

teórica e de pesquisa nesta área. O construto tem recebido um crescente interesse

por parte dos pesquisadores nos últimos anos e cobre estudos que têm utilizado as

mais diversas nomeações, tais como felicidade, satisfação, estado de espírito, afeto

positivo, sendo também considerada por alguns autores uma avaliação subjetiva da

qualidade de vida. As definições desses conceitos, e conseqüentemente sua

operacionalização em termos de medida, ainda são um pouco confusas. Não existe

um consenso entre os estudiosos do assunto, o que dificulta a investigação do

(13)

Hedonismo, sob a visão do Bem-estar, é expresso em muitas formas, como

no prazer corporal, no apetite e no auto-interesse (PASCHOAL, 2008). Psicólogos

que têm adotado a visão hedônica têm tendência a focalizar a concepção mais

ampla do hedonismo que inclui as preferências e os prazeres da mente como

também do corpo. Desta forma, a visão predominante entre os psicólogos hedônicos

é que o Bem-estar consiste na felicidade subjetiva e preocupação de que a

experiência do prazer versus desprazer esteja incluída em todos os julgamentos sobre os bons e maus momentos da vida (RYAN; DECI, 2001). Desta forma a

felicidade não é reduzida ao hedonismo físico, por isso pode ser derivada de

objetivos ou valores amplos e variados (DIENER et al, 1999).

Em seus estudos, Kahneman et al (1999) sugerem claramente que

Bem-estar e hedonismo são essencialmente equivalentes. Por definir o Bem-Bem-estar em

termos de prazer versus desprazer, a psicologia hedônica aparece para si mesma com objetivos focados no crescimento da felicidade humana.

De acordo com Albuquerque e Trócolli (2004) e Diener et al (1999), o

Bem-estar subjetivo é conceituado a partir de três dimensões: 1) O afeto positivo pode ser

concebido como um sentimento transitório, como “[...] um contentamento hedônico

puro experimentado em um determinado momento como um estado de alerta, de

entusiasmo e de atividade.” (ALBUQUERQUE; TRÓCOLLI, 2004, p. 154); 2) O afeto

negativo consiste num sentimento transitório que “[...] inclui emoções desagradáveis

como ansiedade, depressão, agitação, aborrecimento, pessimismo e outros

sintomas psicológicos aflitivos e angustiantes.” (ALBUQUERQUE; TRÓCOLLI, 2004,

p. 154); 3) A satisfação com a vida consiste num “[...] julgamento cognitivo da própria

vida e inclui as circunstâncias da vida da pessoa e os padrões escolhidos por ela.”

(ALBUQUERQUE; TRÓCOLLI, 2004, p. 154).

Bem-estar subjetivo apresenta necessariamente três características

fundamentais que juntas podem distingui-lo dos outros conceitos: a subjetividade,

medidas positivas e uma avaliação global (DIENER, 1984). Campbell (1976)

argumenta que Bem-estar subjetivo é uma experiência interna de cada indivíduo.

Conseqüentemente, condições externas objetivas, tais como saúde, conforto, virtude

ou riqueza, não devem fazer parte das definições do Bem-estar subjetivo. Embora

tais condições sejam vistas como influências potenciais no Bem-estar subjetivo, elas

não são consideradas como parte inerente e necessária a ele. A segunda

característica, expressar aspectos positivos, não implica exatamente na ausência de

(14)

negativos. E, por último, o terceiro aspecto significa que o Bem-estar subjetivo inclui

necessariamente uma avaliação global dos diversos aspectos da vida de uma

pessoa (CAMPBELL, 1976).

Diener (2000) define Bem-estar subjetivo como a avaliação que a própria

pessoa faz sobre sua vida e a partir de seus valores e critérios pessoais. Diener

(2000) ainda conclui que esta avaliação pode ser feita em termos de dois

indicadores. O primeiro de natureza cognitiva, diz respeito ao julgamento da

satisfação com a vida em geral ou referenciada a domínios específicos, como a

capacidade física e mental ou os relacionamentos sociais. O outro, de natureza

emocional, diz respeito a prevalência entre afetos positivos e negativos relatados

pela pessoa.

Assim, Bem-estar subjetivo elevado inclui freqüentes experiências

emocionais positivas, rara experiência emocional negativa (depressão ou ansiedade)

e satisfação não só com aspectos específicos da vida, mas com a vida como um

todo (ALBUQUERQUE; TRÓCOLLI, 2004). Naturalmente, o humor das pessoas,

suas emoções e julgamentos auto-avaliativos, mudam com a passagem do tempo,

caracterizando a satisfação com a vida como um construto não só multidimensional,

mas também dinâmico. Isto, no entanto, não implica instabilidade do fenômeno.

Flutuações momentâneas não obscurecem um julgamento mais abrangente do que

pode ser considerado como o nível mais estável que a pessoa julga caracterizar a

sua satisfação com a vida (ALBUQUERQUE; TRÓCOLLI, 2004).

2.1.2 Bem-estar: perspectiva eudaimônica

Bem-estar psicológico é uma expressão adotada pela perspectiva

eudaimônica, que vai além da visão hedônica de felicidade. Aristóteles defendia a

proposição de que a eudaimonia era a expressão ativa de virtudes, isto é, a

expressão do que cada indivíduo tem de melhor. Neste sentido, sentimentos de

expressão pessoal e de auto-realização seriam elementos centrais e definidores da

eudaimonia ou felicidade (WATERMAN, 1993). Todavia, para Ryan e Deci (2001), o

termo eudaimonia é distinto da felicidade. Segundo eles, teorias eudaimônicas

(15)

pois, mesmo que eles produzam prazer, alguns destes resultados podem não ser

bons para a pessoa, portanto, não poderiam promover o Bem-estar geral.

De acordo com Waterman (1993), a eudaimonia ocorre quando as atividades

de vida das pessoas são mais congruentes com suas expressões pessoais. Sobre

tais valores, as pessoas poderiam sentir intensamente a vida de forma autêntica,

agindo como realmente são. Empiricamente, Waterman (1993) mostrou que

medidas de gozo hedônico e de expressões pessoais estão fortemente

correlacionados, corroborando, principalmente, os estudos de Ryff et al (1989,

1995).

De acordo com Ryff e Keyes (1995), o Bem-estar pode ser alcançado

mediante a realização do próprio potencial e a felicidade nada mais é do que um

sub-produto de uma vida bem vivida. Fundamentando-se em tais pressupostos,

autores (RYFF, 1989; RYFF e KEYES, 1995) tem conduzido uma série de pesquisas

nas quais vem reunindo evidências acerca dos determinantes pessoais e

sócio-demográficos dos diferentes componentes do Bem-estar psicológico, bem como dos

processos psicossociais a ele subjacentes.

Ryff e Singer (1998, 2000) exploraram questões de Bem-estar no contexto

de desenvolvimento da vida do ser humano. De acordo com estes autores,

Aristóteles descreveu o Bem-estar não simplesmente como prazer, mas, como a

busca da perfeição que representa a realização dos seus verdadeiros potenciais

individuais. Com base na perspectiva de Aristóteles, Ryff e Keyes (1995)

distinguiram o Bem-estar psicológico do Bem-estar subjetivo e apresentaram uma

visão multidimencional para medir o Bem-estar psicológico - o que corrobora e

confirma os estudos de Ryff (1989) – modelo composto por seis dimensões

associadas a diferentes desafios que os indivíduos encontram na tentativa de obter

a realização pessoal: 1) autonomia (busca de desenvolvimento da

auto-determinação e a autoridade pessoal), 2) crescimento pessoal (aproveitamento

máximo dos seus talentos e capacidades), 3) auto-aceitação (tentativa de se sentir

bem consigo mesmo, ainda que tenha consciência de suas limitações), 4) relações

positivas com os outros (procuram desenvolver e manter relações interpessoais

calorosas e confiáveis), 5) domínio do ambiente (busca do controle do seu ambiente

de modo a conseguir a satisfação de suas necessidades e desejos), e, 6) propósito

na vida (tentativa de dar um sentido a seus esforços e desafios).

Ryff e Keyes (1995) testaram a estrutura teórica de Ryff (1989) para

(16)

construtos mais comuns da literatura – afetos e satisfação com a vida. Os resultados

indicaram que o melhor modelo foi composto por seis fatores, contemplando as seis

dimensões, e indicaram relação dos afetos e da satisfação com os fatores

auto-aceitação e controle do ambiente. De acordo com Ryff (1989) e Ryff e Keyes (1995),

um indivíduo com alto Bem-estar é aquele que apresenta altos índices nestes seis

construtos.

A proposta de Ryan e Deci (2000) é que o Bem-estar seja considerado como

um funcionamento global positivo do indivíduo e também como vitalidade e saúde

mental. Ryan e Deci (2000) acreditam que os seis fatores utilizados para definir o

Bem-estar psicológico sejam antecedentes do Bem-estar, contudo, concordam com

a ênfase eudaimônica do modelo de Ryff (1989). Segundo Ryan e Deci (2000),

autonomia, competência e relacionamento são três necessidades psicológicas

básicas que, quando satisfeitas, levam ao Bem-estar.

Ao examinarem o efeito da autonomia para execução de tarefas sobre afetos

positivos e vitalidade, Nix et al (1999) demonstraram que o término de uma tarefa

realizada sob pressão associava-se com afeto positivo, mas não com vitalidade. Por

outro lado, ao realizar uma tarefa com autonomia, o resultado associava-se tanto

aos afetos positivos quanto à vitalidade. Para Ryan e Deci (2000), experiências de

prazer e de expressão/realização constituem o Bem-estar, apesar de serem

construtos diferentes. De acordo com Paschoal (2008), estudos como esse

suportam a idéia de que o Bem-estar pode ser mais bem concebido como um

fenômeno multidimensional, que engloba aspectos das concepções hedônicas e

eudaimônicas de felicidade e este é o tema da seção seguinte.

2.1.3 Relação entre a perspectiva hedônica e eudaimônica

De acordo com Ryan e Deci (2001), o debate entre os teóricos hedônicos e

eudaimônicos são frequentemente intensos. Porém, há uma preocupação em

aproximar estas duas posições pela importância prática e teórica de ambos os

conceitos.

De acordo com Ryan e Deci (2001), muitos filósofos designaram felicidade

como o critério principal do Bem-estar. Aristóteles, por exemplo, definiu a felicidade

(17)

desejos. Ele considerou que a felicidade verdadeira se encontra na expressão da

virtude. Fromm (1981), considerando a visão de Aristóteles, discutiu que Bem-estar

requer uma distinção entre desejos subjetivos, que superam o prazer momentâneo,

e desejos que estão enraizados na natureza humana, que cuja realização conduz ao

crescimento humano, gerando eudaimonia ou Bem-estar psicológico.

Segundo Paschoal (2008), estudiosos do Bem-estar psicológico acreditam

que a felicidade está centrada na experiência de expressão pessoal e de

auto-realização. Contudo, Ryff (1989) afirma que há uma preocupação dos autores sobre

a relação de medidas com definições operacionais de hedonismo e eudaimonia e a

validade do Bem-estar subjetivo e do Bem-estar psicológico. De acordo com

Paschoal (2008), pesquisas na área do Bem-estar subjetivo ignoram aspectos

importantes do funcionamento positivo do indivíduo por estar fundamentada em

concepções de Bem-estar com pouca consistência teórica. Neste sentido, de acordo

com Ryan e Deci (2001), podem-se aceitar ambas, tanto a visão hedônica quanto a

visão eudaimônica e seus indicadores quanto aceitar o uso do Bem-estar subjetivo

como definição operacional do Bem-estar, mas defendendo a visão eudaimônica.

Sem questionar este debate, Bem-estar subjetivo tem sido concebido como índice

primário do Bem-estar desde as décadas passadas, e muitas das pesquisas da área

revisaram os estudos que empregam o Bem-estar subjetivo como a principal variável

adquirida, principalmente ao discutir os princípios da chamada felicidade. Mas, qual

a relação entre a felicidade eudaimônica e a felicidade hedônica?

Segundo Waterman (1993), a eudaimonia é uma condição suficiente, mas

não necessária para a felicidade hedônica. Segundo Paschoal (2008), isso significa

que a experiência de expressão pessoal e auto-realização geram satisfação com a

vida e prevalência dos afetos positivos sobre os negativos. Por outro lado, de acordo

com Waterman (1993), as experiências de prazer hedônico podem ser alcançadas

em uma quantidade muito maior de situações, uma vez que afetos positivos

acompanham a satisfação de necessidades físicas e sociais.

Para Waterman (1993), o Bem-estar é um estado afetivo, de modo que os

afetos positivos prevalecem sobre os negativos e a expressão pessoal e

auto-realização referem-se à experiência subjetiva de desenvolvimento de habilidades,

realização dos próprios potenciais e nos avanços de seus propósitos na vida.

Portanto, evidências encontradas nestas diferentes pesquisas indicam que o

Bem-estar, provavelmente, é melhor conceituado como fenômeno multidimensional que

(18)

Outro exemplo disto está na pesquisa de Compton (1996). Eles investigaram

a relação entre dezoito indicadores de Bem-estar e saúde mental, identificando dois

fatores, um que parece refletir o Bem-estar subjetivo e outro, o crescimento pessoal.

Estes dois fatores estavam correlacionados. O resultado deste estudo sugeriu que

hedonismo e eudaimonismo são distintos e que o entendimento do Bem-estar pode

ser melhorado através de diferentes medidas e caminhos. Assim, os resultados mais

interessantes podem ser aqueles que demonstram importantes fatores para a

divergência ao invés de apenas convergência dos indicadores hedônicos e

eudaimônicos do Bem-estar (RYAN; DECI, 2001).

Conceituar estas perspectivas torna-se importante a partir do momento que

tentamos aproximar este tema ao mundo do trabalho. Uma vez que é esta a

proposta deste estudo, a seguir será explorado até que ponto a literatura do

Bem-estar geral influencia os estudos sobre Bem-Bem-estar ocupacional; a influência do

contexto do trabalho no Bem-estar e, a visão dos autores da área sobre hedonismo

e eudaimonia no cenário organizacional.

2.1.4 Bem-estar no trabalho

A breve revisão de pesquisas sobre Bem-estar ocupacional evidencia que

esse campo de estudos tem sido marcado por algumas confusões conceituais, com

a adoção de termos como qualidade de vida no trabalho, satisfação no trabalho e

afeto no trabalho. Algumas vezes, as definições destes termos se aproximam na

conceituação e, em outros estudos, se distanciam. Esta falta de clareza também se

apresenta nos indicadores desses construtos, em diferentes dimensões, física,

psicológica e social.

Do ponto de vista sócio-técnico, a qualidade de vida no trabalho deriva da

satisfação das necessidades básicas dos empregados. De acordo com Brooks e

Anderson (2005), esta perspectiva teve origem nos estudos realizados no Instituto

Tavistock de Londres em 1950, por Trist et al, cujo objetivo era promover a

re-organização do trabalho, mediante a análise e reestruturação da tarefa, como forma

de otimizar as metas organizacionais de produtividade e as necessidades dos

(19)

Fundamentados nesta perspectiva, de acordo com Rodrigues (1995), os

anos seguintes foram marcados pelo surgimento de vários modelos (WALTON,

1973; HUSE; CUMMINGS, 1985; WERTHER; DAVIS, 1983; NADLER; LAWLER,

1983). Estes modelos foram desenvolvidos com a preocupação básica de

caracterizar e especificar as diferentes dimensões da tarefa e da organização,

associadas à qualidade de vida no trabalho, bem como fornecer subsídios ao

desenvolvimento de programas voltados à implementação de mudanças

organizacionais destinadas a aumentar a satisfação do trabalhador. O movimento de

qualidade de vida no trabalho estimulou não apenas a realização de pesquisas

sobre seus determinantes, mas também sobre suas conseqüências, ou seja, sobre

os indicadores individuais de Bem-estar e saúde no trabalho.

Por muito tempo, o afeto no trabalho foi considerado como a satisfação no

trabalho, a principal manifestação de Bem-estar no trabalho (SOUZA-POZA;

SOUZA-POZA, 2000). Todavia, de acordo com Brief e Roberson (1989), as últimas

décadas foram marcadas por descobertas que demonstraram que o Bem-estar

ocupacional não envolve apenas elementos afetivos como a satisfação no trabalho.

Nesta perspectiva, Van Horn et al (2004), basearam-se na teoria de Ryff (1989) ao

explicarem que, apesar do afeto ser uma dimensão central do conceito de Bem-estar

ocupacional, ele pode ser entendido como a avaliação positiva de várias dimensões

do trabalho, especificamente, afetiva, profissional, social, cognitiva e psicossomática.

Além disso, diferentes estudos apontam as características do ambiente de trabalho

como um importante determinante do Bem-estar do empregado, desde que facilitem

a aquisição de metas pessoais (TER DOEST et al, 2006). Contudo, de acordo com

Warr (2006) existem três outros fatores que devem ser considerados na concepção

do Bem-estar ocupacional: 1) o processo cognitivo usado para interpretar a situação;

2) opiniões de outras pessoas; e, 3) traços de personalidade.

Segundo Van Horn et al (2004), o Bem-estar não se reduz à avaliação

afetiva dos fatos da vida, é mais que isto, cobre dimensões como estado emocional,

motivação, competência, eficácia do indivíduo. Neste sentido, a definição de

estar ocupacional de Van Horn et al (2004) está calcada na perspectiva do

Bem-estar psicológico.

De acordo com Paschoal (2008), o termo afeto no trabalho surge em

diferentes estudos, sustentado na literatura de humores e emoções. Nestes estudos

também foi constatado que a experiência afetiva é mais do que a satisfação no

(20)

considerados as causas da satisfação no trabalho ou indicadores dela (BRIEF;

WEISS, 2002). Esta consideração corrobora os estudos de Weiss e Cropanzano

(1996) ao definirem a satisfação como um julgamento avaliativo acerca do trabalho.

De acordo com Diener (1984), a satisfação com a vida e os afetos positivos

e negativos são sub-dimensões do Bem-estar subjetivo. Corroborando esta

afirmação, Waterman (1993), em seus estudos, demonstra que, tanto as emoções

prazerosas quanto a percepção de realização são importantes, assim, situações

diferentes levam a experiências de Bem-estar distintas. De acordo com Waterman

(1993), o Bem-estar pode ser considerado como o estado afetivo do indivíduo e

como a percepção de expressão e desenvolvimento de potenciais e avanço dos

propósitos de vida. Desta forma são considerados critérios da perspectiva hedônica

e eudaimônica.

Segundo Daniels (2000), o Bem-estar ocupacional pode ser considerado o

Bem-estar afetivo no trabalho, a prevalência das emoções positivas no trabalho. De

acordo com Paschoal (2008), definindo Bem-estar ocupacional desta forma, Daniels

(2000) dá a merecida relevância às respostas do indivíduo, às experiências

resultantes das interações do ambiente de trabalho e às suas características

pessoais.

Paz (2004) pressupõe que as características pessoais mediam o impacto da

organização sobre os indivíduos que nela trabalham, afetando assim o Bem-estar

destes indivíduos, a depender da subjetividade de cada um. Neste sentido, Paz

(2004) define Bem-estar pessoal nas organizações como a satisfação de

necessidades e realização de desejos dos indivíduos no desempenho de seu papel

organizacional e apresenta dois pólos os quais o indivíduo pode experimentar: a

gratificação e o desgosto. De acordo com Paz (2004), a gratificação seria a

valorização do trabalho, reconhecimento pessoal, autonomia, expectativa de

crescimento, suporte ambiental, recursos financeiros e orgulho; e, o

descontentamento seria o sentimento de mal estar no indivíduo mediado por

diferentes situações (desvalorização do seu trabalho; medo de não atender às

exigências da organização; falta de habilidade para conseguir imprimir o seu estilo

pessoal na execução de suas tarefas; falta de condições adequadas de trabalho

para o alcance do desempenho esperado; percepção de injustiça salarial e;

sentimento de frustração por pertencer à organização). Apesar de o desgosto estar

presente na definição, sendo avaliado pela inversão do pólo oposto, são enfatizados

(21)

mantenham no mercado com produtividade e Bem-estar dos funcionários (PAZ,

2004).

É possível constatar até o momento que o afeto consiste num elemento

essencial do Bem-estar ocupacional, assim como defende Daniels (2002), porém,

não se pode ignorar a percepção de expressão e auto-realização, que propõe

Waterman (1993) e, ainda, a proposta semelhante de Paz (2004), sobre a realização

de desejos dos indivíduos. Considerando-se que todas as abordagens tratam da

problemática da saúde no trabalho, sendo esta tratada como o Bem-estar físico,

mental e social do trabalhador, e não simplesmente a ausência de doença (PAZ,

2005), torna-se fundamental o estudo do Bem-estar pessoal também no contexto

organizacional.

Uma vez que este estudo considera a perspectiva hedonista e eudaimônica

do Bem-estar e, ainda, considerando que o Bem-estar ocupacional engloba tanto

aspectos afetivos quanto cognitivos, o conceito de Bem-estar ocupacional adotado

neste estudo defende a definição de Paschoal (2008, p. 23). A autora define o

Bem-estar ocupacional como a “[...] prevalência de emoções positivas no trabalho e a

percepção do indivíduo de que, no seu trabalho, expressa e desenvolve seus

potenciais/habilidades e avança no alcance de suas metas de vida.”

Definido o conceito de Bem-estar ocupacional adotado por este estudo, será

possível proceder à investigação de variáveis antecedentes desse Bem-estar.

Algumas variáveis já têm sido apontadas na literatura como capazes de influenciar o

Bem-estar dos indivíduos nas organizações. A seguir, são apresentadas as

principais pesquisas da área.

2.1.5 Antecedentes do Bem-estar

Os estudos na área do Bem-estar no trabalho envolvem importantes

dimensões do Bem-estar geral. Nas últimas décadas diversos autores investigaram

o Bem-estar ocupacional com o objetivo de entender seus antecedentes, propósito

relevante para o avanço das pesquisas da área.

No nível individual, podemos destacar os fatores demográficos. Segundo

Ryan e Deci (2001); Ryff (1995) e Diener et al (1999), não há resultados que

(22)

Bem-estar. No entanto, as pesquisas de Diener e Diener (1995) indicam que a satisfação

com a vida tende a aumentar com a idade e que homens e mulheres vivenciam a

experiência de Bem-estar de forma equivalente. Quanto ao estado civil, estes

mesmos autores, observam que em diferentes estudos pessoas casadas tendem a

apresentar Bem-estar maior do que as divorciadas, separadas, viúvas ou que nunca

casaram. Segundo Diener et al (1999), a presença de um parceiro pode significar

maior oportunidade de suporte social.

Ao examinar a força das relações entre satisfações em domínios

específicos, como família, amigos e finanças com satisfação geral na vida de

estudantes universitários de 31 nações, Diener e Diener (1995) descobriam que

entre as diferentes relações, o status financeiro teve uma maior correlação com

satisfação geral na vida em nações mais pobres do que em nações mais ricas. Ryan

e Deci (2001) citam o estudo de Diener e Biswas-Diener (2001) que demonstra que,

do ponto de vista do Bem-estar subjetivo, 1) pessoas de nações mais ricas são mais

felizes que pessoas de nações mais pobres; 2) a diferença entre nações ricas e

pobres mostram somente uma pequena correlação positiva com a felicidade; 3) o

aumento da riqueza pessoal não resulta o aumento de felicidade; e 4) pessoas que

almejam fortemente ter maior poder aquisitivo são mais infelizes que pessoas que

não tem este desejo. Estes dados corroboram os estudos de Diener et al (1999), que

afirmam que os eventos da vida, quando atrapalham ou facilitam o avanço nas

metas individuais, podem afetar o Bem-estar.

De acordo com Diener et al (1999), diferenças genéticas no sistema nervoso

podem interferir em características de personalidade das pessoas, o que por sua

vez, impacta no Bem-estar. Segundo estes autores, pessoas extrovertidas, com alta

auto-estima e otimismo, geralmente apresentam afeto positivo.

Ryan e Deci (2001) também abordam diferentes pesquisas que consideram

que sentimentos de competência ou eficácia com metas de vida podem estar

associados com maior afeto positivo e Bem-estar. Paschoal (2008), em seu estudo,

cita a pesquisa longitudinal de Brunstein et al (1998) com estudantes. A partir de

uma escala de afeto, estes autores verificaram que o Bem-estar aumentava na

medida em que havia o avanço nas metas compatíveis com motivos individuais e

quando havia um alto comprometimento com metas possíveis de serem atingidas.

Estes resultados corroboram os estudos de Wiese e Freund (2005) no campo do

trabalho. Em uma pesquisa também longitudinal, estes pesquisadores concluíram

(23)

percepção de sucesso dos trabalhadores. Todavia, os resultados sobre alcance de

metas não são conclusivos, especialmente porque as medidas de Bem-estar

ocupacional divergem em função das diferentes concepções teóricas do construto

(PASCHOAL, 2008).

No contexto do trabalho, os antecedentes que merecem destaque são:

cultura organizacional, fatores estressores, justiça e relações interpessoais. De

acordo com Paschoal (2008), a percepção de estressores (conflito de papéis e

características de determinadas tarefas) e justiça organizacional impacta no

Bem-estar do trabalhador.

Weiss et al (1999), realizaram uma pesquisa com 122 estudantes com o

objetivo de investigar aspectos relativos a justiça organizacional. Estes estudantes

foram convidados a descreverem as emoções positivas ou negativas geradas pela

percepção de justiça organizacional. Foram descritas reações emocionais de

felicidade, como resultado da justiça organizacional e culpa, raiva, e, em menor

medida, orgulho, como emoções relacionadas à injustiça organizacional. Estes

resultados apontaram que a percepção de justiça distributiva afeta positivamente o

afeto positivo no trabalho.

Na literatura de Bem-estar, o relacionamento interpessoal positivo aparece

como um forte preditor de Bem-estar, principalmente, no contexto do trabalho. No

modelo de Ryff e Keyes (1995), o relacionamento interpessoal é uma dimensão do

Bem-estar psicológico e, apesar das críticas, estes autores consideram

antecedentes do Bem-estar pessoal nas organizações, além da autonomia,

crescimento pessoal, auto-aceitação, domínio do ambiente, e, propósito na vida.

Corroborando com o modelo desenvolvido por Ryan e Deci (2000), no qual

apresentam a autonomia, competência e os relacionamentos interpessoais positivos

como uma das três necessidades psicológicas básicas que, quando satisfeitas,

levam ao Bem-estar. Ryan e Deci (2001) identificaram na literatura relevante

importância da qualidade das relações interpessoais no Bem-estar. Estas pesquisas

sugerem que aspectos como a intimidade e o afeto são inerentes às relações

humanas e uma necessidade básica para o Bem-estar.

Paschoal (2008) cita diferentes estudos que, de uma forma geral,

encontraram influência de diferentes preditores no Bem-estar ocupacional são eles:

mudança de local de trabalho (COSTA,1998); configurações de poder da

organização (DESSEN, 2005); condições de trabalho, horários de trabalho e tipos de

(24)

trabalho, considerando o conflito trabalho-família (WILLIANS et al,1991); emoções

envolvidas nas diferentes tarefas (GEORGE et al, 1993); características de

personalidade (DESSEN, 2005). De acordo com a revisão de Diener et al (1999), a

personalidade é o preditor mais forte e consistente do Bem-estar geral e, pode estar

também predizendo o Bem-estar pessoal nas organizações.

Considerando estes estudos, a partir da interação do trabalhador com a

organização surgem possibilidades de alcance e avaliação deste Bem-estar. Sobre

este foco, a responsabilidade sobre este Bem-estar não é somente do trabalhador,

mas também da organização, considerando aqui, entre diversos fatores, o clima

social e as estratégias de Enfrentamento do estresse. Como um dos objetivos deste

estudo é entender o impacto do clima social no Bem-estar ocupacional, a partir do

próximo capítulo será apresentada a revisão de estudos sobre clima social.

2.2. Clima social

Segundo Puente-Palacios e Carneiro (2005), em relação ao foco de atenção

dado pelos estudiosos do clima organizacional, pode ser traçado um paralelo entre a

literatura nacional e a internacional. Os pesquisadores americanos, por exemplo,

começaram a estudar essa temática na década de 1960, época na qual foi publicado

um dos primeiros artigos a discutir a natureza dos fenômenos (FOREHAND;

GILMER, 1964). No Brasil, os estudos dessa área tiveram início na década de 1970,

com o trabalho de Saldanha intitulado Atmosfera organizacional, em que o autor

fazia um alerta sobre a importância do Bem-estar psíquico dos indivíduos nas

organizações.

Publicações posteriores tomaram como foco de interesse a investigação do

efeito do clima sobre comportamentos e desempenhos organizacionais ou ainda as

comparações entre o clima percebido por diferentes grupos de uma mesma

organização (GUTIERREZ, 1988; SBRAGIA, 1983; SEXAS, 1993; SOUZA, 1980).

Porém, as pesquisas realizadas no Brasil interessavam-se pela investigação do

efeito do clima entre outras variáveis do cenário organizacional, e não, como

acontecera nos Estados Unidos, pelas discussões sobre a própria natureza e origem

(25)

De acordo com Puente-Palacios (2002), existem divergências na estrutura

atribuída ao conceito do clima organizacional e essas diferenças constituem um

indicador da existência de correntes teóricas diversas. Os estudos de James e

Jones (1974), Schneider (1975), Schneider e Reichers (1983), Koys e DeCotiis

(1991), Moran e Volkwein (1992) e Puente-Palacios (2002) demonstram que o clima

é composto por variáveis que interagem entre si. Ao revisar estes autores,

Puente-Palacios (2002) demonstra diferentes propostas que são superadas umas pelas

outras apontando a complexidade da estrutura do conceito e, na tentativa de

conseguir melhor compreensão sobre sua extensão e sua natureza, sugere a

redefinição a partir da linha de pesquisa de clima social.

As propostas apresentadas por Moran e Volkwein (1992) enfatizam

diferentes características estruturais e etiológicas do construto apontando para

quatro principais abordagens: estrutural, perceptual, interativa e cultural.

Puente-Palacios (2002) reúne estudos de Schneider e Reichers (1983) e Forehand e Gilmer

(1964) para explicar a abordagem chamada estrutural. Segundo ela, estes autores

definem o clima organizacional como um conjunto de características que descrevem

a organização. Sugerem que o clima seja avaliado a partir da percepção dos sujeitos

que compõe a organização, a respeito das regras de controle do comportamento,

tamanho da organização, divisão hierárquica, centralidade e tipos de tecnologias. A

partir dessa perspectiva, o clima pode ser definido como as atitudes, os valores e as

percepções das pessoas que compõem esta organização, impactados por estas

características.

De acordo com James e Jones (1974) esta abordagem não se sustenta, pois

não apresenta consistência nas pesquisas empíricas e não explica como

organizações com estruturas semelhantes apresentam climas organizacionais

diferentes e ainda complementam que o clima existe independente da percepção

dos membros.

Segundo Puente-Palacios (2002), a partir da lacuna apresentada pela

abordagem estrutural, surge a abordagem perceptual que concebe o clima

organizacional a partir das percepções dos membros da organização. Nesta

abordagem, as percepções dos indivíduos que compõem a organização constituem

o clima organizacional. Diferente da abordagem estrutural, segundo James e Jones

(1974), essa perspectiva considera os indivíduos como protagonistas, atores que

percebem as condições organizacionais e, a partir delas, cria representações

(26)

abordagem apresentar uma concepção mais completa acerca do tema,

Puente-Palacios (2002), aponta que existe fragilidade ao se considerar processos internos

do indivíduo como fatores preponderantes na definição do clima, pois segundo ela,

dessa forma as relações de troca entre indivíduos fica em segundo plano.

De acordo com James e Jones (1974), a relação entre aspectos estruturais

da organização e processos de percepção do sujeito não atribui, por si, um

significado a essas percepções. O significado é atribuído a partir do valor ou da

importância que determinados aspectos organizacionais têm para o grupo de

indivíduos que compõem a organização. É possível afirmar que o significado é

socialmente construído (JAMES; JONES, 1974). Puente-Palacios (2002) corrobora

esses autores ao apresentar a abordagem interativa, que, diferente da abordagem

anterior, reconhece, além do indivíduo e seus processos internos, a importância das

relações sociais. Essas afirmativas vão ao encontro de um conceito relativamente

novo chamado clima social, que é uma tentativa de definir clima organizacional a

partir das dimensões que realmente compõem esse constructo.

Moran e Volkwein (1992) são autores que propõem esse novo olhar para o

estudo do clima, que vai além dos aspectos contemplados nas abordagens

anteriores. Esses autores consideram as formas de comportamento da organização,

como normas, valores ou padrões de desempenho que exercem influência sobre as

práticas organizacionais e fazem parte da cultura organizacional. Chamada de

abordagem cultural, este conceito considera a forma como os indivíduos entendem,

interpretam e constroem a realidade, processos que, segundo estes autores, são

permeados pela cultura organizacional, complementando as abordagens anteriores.

Apesar de a abordagem cultural apresentar as principais características que

compõem o clima, justamente por incluir elementos da cultura, ao chegar neste

ponto de discussão, os estudiosos da área se deparam com um questionamento –

qual a diferença entre clima e cultura? Alguns autores estabelecem uma relação

estreita entre estes dois temas, como é o caso de Schneider (1987), Tamayo (1998)

e Puente-Palacios (2002). De acordo com Puente-Palacios (2002), por serem dois

conceitos que tem como cenário a organização, apresentam semelhanças, mas não

são sinônimos. Para esta autora, os estudos de Verbeke, Volgering e Hessels

(1998), revelam esta incongruência entre os conceitos. Ao reunir uma comissão de

peritos com o objetivo de identificar as categorias constitutivas dos conceitos,

Verbeke, Volgering e Hessels (1998) encontraram categorias conceituais estáveis

(27)

maneira esporádica, mas tratar-se de elementos constantes, são elas: organização,

membros, comportamento, compartilhar, conjunto e práticas. As categorias

apontadas pelos autores como sendo comuns a ambos os conceitos demonstram

que há espaço compartilhado entre eles. Todavia, não existe completa superposição

entre ambos, portanto, são fenômenos diferentes (VERBEKE; VOLGERING;

HESSELS, 1998).

Puente-Palacios (2002) afirma que a cultura organizacional é composta por

um conjunto de elementos como normas, valores, crenças, regras e constitui um

modelo de definição de padrões de comportamento, construídos ao longo da história

da organização e capaz de influenciar o comportamento dos seus membros.

Puente-Palacios (2002) faz a seguinte distinção entre os conceitos de clima e cultura

organizacionais: cultura compreende um conjunto de valores, crenças, pressupostos

básicos, artefatos e criações que, compartilhados por um grupo, formam a

identidade da empresa. Clima organizacional compreende um conjunto de

percepções globais compartilhadas pelos indivíduos, referente às variáveis

organizacionais que compõe o ambiente de trabalho.

Uma vez feita a reflexão sobre o conceito de clima organizacional, é

necessário entender a partir de agora o porquê da real necessidade de redefinir

clima a partir da idéia de clima social. A partir dos estudos de clima fica evidente que

os autores da área não apresentam consenso nas dimensões constitutivas deste

fenômeno. Isso fica claro quando autores da área tentam aproximar clima e cultura.

Uma vez que este estudo corrobora Puente-Palacios (2002) e Tamayo (1998) ao

afirmar que clima e cultura são conceitos distintos, a seguir as discussões que

permeiam a complexidade da definição de clima. De acordo com Puente-Palacios e

Carneiro (2005), a dificuldade em delimitar as dimensões constitutivas de clima é o

desafio que circula as pesquisas da área, os autores concordam que há a

necessidade de realizar pesquisas com o objetivo de definir de maneira clara os

limites do conceito nos quais se pretende trabalhar.

Puente-Palacios (2002) realizou uma pesquisa com o objetivo de identificar

as dimensões constitutivas do clima organizacional, a partir da análise de diversos

instrumentos de mensuração. Os resultados apontaram a presença de 34

dimensões teóricas defendidas por pelo menos um autor, como componentes do

clima. A partir destas análises, Puente-Palacios (2002), concluiu que os elementos

considerados pelos autores da área como constitutivos dos construtos, são, na

(28)

(2004) observaram que instrumentos psicometricamente validados tinham

componentes semelhantes, como recompensa, segurança e riscos, inovação,

reconhecimento e feedback, flexibilidade, coesão, relacionamento entre superior e

empregado, controle, suporte do chefe, liderança, clareza e promoções, pressões no

trabalho, apoio e autonomia. De acordo com Puente-Palacios e Carneiro (2005),

esses componentes estão presentes em mais de 80% dos instrumentos identificados

na literatura da área. Isto demonstra a grande quantidade de dimensões defendidas

como componentes do clima organizacional.

A partir dessas verificações fica evidente a necessidade da revisão rígida

dos elementos essenciais do construto, pois muito daqueles assinalados como

componentes são, de fato, construtos teoricamente diferentes do clima

organizacional. Por essa razão, Puente-Palacios (2002) afirma ser incoerente

incluí-los como dimensões a serem investigadas por uma escala de avaliação do clima

organizacional. Essa autora sugere, portanto, que os pesquisadores interessados

nesse campo restrinjam os elementos considerados constitutivos do clima e

sintetizem os tópicos a ser investigados. Essa sugestão caminha para a redefinição

do construto e na adoção da denominação definitiva de clima social, abreviando sua

abrangência àquilo que concede ao construto natureza característica, específica e

diferente e permite distingui-lo dos outros conceitos que permeiam o campo das

organizações.

Autores como Litwin e Stinger (1968) e James e Jones (1974) afirmaram que

é a partir das atribuições de significados compartilhados socialmente que o clima

social se constrói. Segundo essa abordagem, o clima sofre influência da cultura da

organização que molda os processos sociais e individuais de percepção. Schneider

(1983) afirmou que o clima social do trabalho se constrói a partir das atitudes

pessoais orientadas a um objetivo, das relações entre os empregados, das relações

de troca com o meio ambiente. Isso é importante para verificar a relação entre as

características físicas do local de trabalho e a sua influência no desempenho dos

empregados.

Outros autores que desenvolveram trabalhos que contribuíram para este

campo foram Finney e Moos (1984), que manifestam que o clima social do trabalho

aparece fortemente ligado ao comportamento individual podendo afetá-lo, tanto

quanto o ambiente, as políticas organizacionais e os aspectos físicos do local de

trabalho. Adicionalmente, Moos afirma que o trabalho provê o indivíduo de estrutura

(29)

às tarefas que realiza. Moos (1986) afirmou que o clima também pode sofrer

influência da própria estrutura organizacional e de fatores pessoais como a

proporção de homens e mulheres, o nível de escolaridade e o estado civil das

pessoas. Cada um destes fatores exerce e recebe influência do clima social

imperante. O clima social pode determinar o perfil de pessoas selecionadas, as

políticas organizacionais e os parâmetros físicos esperados do local de trabalho.

Segundo Moos e Schaefer (1987), a percepção do clima resulta da interação entre

eventos atuais, qualidade da organização, valores e crenças individuais.

Billings e Moos (1991) afirmaram que o clima social é um conjunto de

características sócio-psicológicas, entre as quais estão incluídas as atitudes dos

empregados em relação às suas tarefas, aos sistemas de comunicação

organizacional e as relações sociais entre colegas e supervisores. Embora se fale de

características sócio-psicológicas, clima social envolve também características

físicas do ambiente de trabalho. Quanto ao âmbito social, Billings e Moos (1991)

incluem a relação do indivíduo com os outros trabalhadores, com os supervisores e

com as chefias. Adicionalmente leva em conta o controle sobre o acesso de outros

ao seu local de trabalho, o nível de privacidade, a densidade populacional e a

personalização da sala.

A partir da análise do texto de Puente-Palácios (2002), é possível verificar

que a concepção de clima social sofreu mudanças ao longo dos últimos anos,

apresentando diferenças na forma como sua natureza é entendida. Como

demonstrado anteriormente, as abordagens estrutural, perceptual, interativa e a

cultural são as vertentes teóricas que tratam do conceito de clima social.

Corroborando os estudos de Puente-Palacios e Carneiro (2005), a abordagem

cultural apresenta a real amplitude do clima social, neste sentido, este estudo é

sustentado por esta vertente e toma por base as seguintes definições.

Segundo Litwin e Stinger (1968) o clima social é a qualidade ou propriedade

do ambiente organizacional que é percebida pelos membros e influencia seus

comportamentos. Waters, Roach e Batlis (1974) definem o clima social como um

conjunto de atributos específicos que caracteriza uma organização e reflete como

seus membros agem em seus respectivos ambientes.

Nesse cenário surgiram dois autores que realizaram um importante estudo

sobre o campo teórico do clima, são eles Koys e DeCotiis. Em 1991 eles avaliaram

todos os estudos dos autores da área com o objetivo de identificar as dimensões

(30)

caracterizaram de forma a agrupar e eliminar aquelas que fazem parte de outros

constructos. Os resultados encontrados apontaram para oito dimensões constitutivas

de clima: autonomia, coesão, confiança, pressão, suporte, reconhecimento,

igualdade e inovação. A partir desse estudo, Koys e DeCotiis (1991) concluíram

ainda que clima é um fenômeno de descrição multidimencional a partir das

percepções dos empregados e de suas experiências dentro de uma organização.

Segundo eles, baseado no acúmulo de experiência dentro de uma organização as

pessoas obtém percepções, essas percepções servem como um mapa cognitivo

individual de como funciona a organização e, portanto, ajuda a determinar qual é o

comportamento apropriado em cada situação, assim, o clima é útil para adaptar o

comportamento individual às demandas da vida na organização.

Segundo Koys e DeCotiis (1991), as percepções de clima têm certas

características. Primeiro, o clima resume uma descrição individual da experiência

organizacional ao invés de reações afetivas ou avaliativas as quais têm sido

experimentadas. Embora as descrições não possam ser completamente separadas

de suas evoluções, as distinções entre reações descritivas e avaliativas das

experiências organizacionais distinguem clima de satisfação no trabalho. Segundo,

as percepções do clima são relativamente estáveis. Terceiro, são elas amplamente

compartilhadas pelos membros da organização. Ainda, múltiplos climas podem

existir dentro da mesma organização desde que esta organização esteja presente

em diferentes locais. A partir dessas considerações, Koys e DeCotiis (1991 p. 266)

definem o clima como um fenômeno multidimensional, percebido e compartilhado

pelos membros de uma mesma organização o qual influencia o comportamento

individual.

Puente-Palacios e Carneiro (2005) afirmaram que essa definição

apresentada por Koys e DeCotiis (1991) é a mais completa por apontar a função

principal do clima: guiar comportamentos individuais. A esse respeito,

Puente-Palacios (2002) menciona que o clima não é uma característica estática, mas

dinâmica, do âmbito organizacional, por isso a sua estrutura não está apenas

definida pela presença-ausência de determinados elementos, mas também pelo tipo

de relação estabelecida entre eles. Apesar de se haver evidenciado relativo

consenso quanto ao significado de clima, isso não acontece ao definir suas

dimensões constitutivas. A definição dos limites conceituais é importante, uma vez

(31)

Assim como concluíram Koys e DeCotiis (1991) a respeito do clima

organizacional, Puente-Palacios e Freitas (2005) apontam que as dimensões que

compõem o clima social devem ser reduzidas ao núcleo central do construto, de

forma a não invadir campos teóricos conceitualmente diferenciados, como o da

satisfação e da veiculação afetiva. Nesse sentido, ao adaptar uma escala de clima

social ao contexto de equipes de trabalho, Puente-Palacios e Carneiro (2005)

afirmaram que as investigações relativas ao clima social devem incluir autonomia;

inovação; gerenciamento das relações entre gestor e colaborador; valorização e

reconhecimento do desempenho. De acordo com esses autores, o trabalho realizado

por Koys e DeCotiis (1991) constitui um aporte fundamental para a compreensão do

construto clima por sinalizar as características que devem ser observadas para a

adequada delimitação e análise da sua estrutura. A partir das argumentações

teóricas e definições empíricas dos limites desse conceito dadas pelos autores, é

possível concluir que o clima se refere a percepções construídas e sustentadas

socialmente a respeito da organização. O clima social, portanto, é definido e adotado

neste estudo como um fenômeno multidimensional, relativamente estável, formado

pela percepção compartilhada dos membros da organização sobre as experiências

no trabalho e que tem a função de influenciar o comportamento individual. São

dimensões de clima social: autonomia; inovação; gerenciamento das relações entre

gestor e colaborador; valorização e reconhecimento do desempenho (KOYS;

DECOTIIS, 1991 p. 266).

Ao revisar o efeito do clima no contexto das organizações, verifica-se que

ele tem sido amplamente apontado como fenômeno que produz efeitos na satisfação

das pessoas, neste sentido, o presente estudo torna-se pertinente, uma vez que

busca identificar o impacto do clima social no Bem-estar do trabalhador. Todavia, o

ponto de partida do presente estudo será a adoção da escala de mensuração de

clima social elaborada por Puente-Palacios e Carneiro (2005), uma vez que este

estudo adota a definição de clima de Koys e DeCotiis (1991) e o cuidado

demonstrado por eles na definição das dimensões do construto. O conjunto de seus

itens constitutivos será tomado como ponto inicial dessa pesquisa. Assim, o primeiro

passo será adequar a redação dos itens ao contexto da organização, tendo em vista

que esse é o âmbito de interesse.

De acordo com Puente-Palacios e Carneiro (2005), pesquisas que busquem

entender os efeitos do clima no ambiente organizacional, podem contribuir para a

(32)

necessidade de realização de novas pesquisas. O conhecimento da extensão e dos

limites desse conceito pode ser o primeiro passo na procura de soluções para as

conseqüências que um clima inadequado pode ter sobre o Bem-estar dos

trabalhadores. Essas e outras seqüelas são claramente identificadas por quem

transita no cenário da organização e, por isso, sabe da necessidade de avanço

urgente nesse campo. Portanto, conhecer o impacto real do clima no Bem-estar dos

membros das organizações ganha importância nesse contexto de pesquisas e é um

dos objetivos deste trabalho. Ainda, este estudo também busca compreender o

impacto das estratégias de Enfrentamento (coping) do estresse no Bem-estar das pessoas nas organizações. No capítulo seguinte será apresentado o construto de

estratégias de Enfrentamento, definições e conceito adotado neste estudo.

2.3 Estratégias de Enfrentamento (coping) do estresse

De acordo com Folkman e Moskowitz (2004), há mais de quatro décadas

surgiram diversas pesquisas sobre Enfrentamento do estresse nas ciências sociais,

comportamentais, medicina, saúde pública e enfermagem. Segundo estes autores,

as pesquisas desta área buscam entender porque os indivíduos têm maneiras

diferentes de lidar com o estresse em suas vidas.

Segundo Vaillant (1994), desde o início do século, pesquisadores vinculados

à psicologia do ego têm concebido o Enfrentamento enquanto correlato aos

mecanismos de defesa, motivado interna e inconscientemente como forma de lidar

com conflitos sexuais e agressivos. Segundo Folkman e Moskowitz (2004), apesar

de a maioria das pesquisas de Enfrentamento ser baseada na psicologia do ego e

mecanismos de defesa, em 1966, em seu livro chamado Psychological stress and

the coping process, Richard Lazarus’s, apresentou uma explicação contextual ao

estresse a partir de estratégias de Enfrentamento. Assim, ele tirou o foco da

patologia e apresentou uma gama de estratégias cognitivas e respostas

comportamentais que as pessoas utilizam para se livrar do estresse e dos

problemas da vida diária. Com este estudo o campo ganhou raiz, estendeu-se pelas

duas décadas seguintes e várias pesquisas apontaram para uma nova perspectiva

(33)

De acordo com Suls, David e Harvey (1996), esta nova tendência buscou

enfatizar os comportamentos de Enfrentamento e seus determinantes cognitivos e

situacionais. Segundo Folkman e Lazarus (1985), pesquisadores passaram a

conceituar Enfrentamento como um processo transacional entre a pessoa e o

ambiente, com ênfase no processo, tanto quanto em traços de personalidade.

Lazarus e Folkman (1984) definiram Enfrentamento através dos comportamentos

que as pessoas usam para equilibrar as exigências internas e externas frente a

situações estressantes. Segundo Folkman e Moskowitz (2004), esta definição foi

amplamente aceita e a partir dela surgiram algumas das principais publicações da

área, incluindo Stress, “coping and development” (Aldwin, 1994) e “The handbook of

coping” (Zeidner e Endler, 1996).

Segundo Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998), mais recentemente, as

pesquisas da área têm se voltado para o estudo das convergências entre

Enfrentamento e personalidade. Esta tendência tem sido motivada, em parte, pelo

corpo cumulativo de evidências que indicam que fatores situacionais não são

capazes de explicar toda a variação nas estratégias de Enfrentamento utilizadas

pelos indivíduos. Por outro lado, o interesse despertado pela credibilidade científica

dos estudos sobre traços de personalidade, em especial, o modelo dos Cinco

Grandes Fatores tem ampliado os estudos nesta direção (HOLAHAN; MOOS, 1985;

MCCRAE; COSTA, 1986; O’BRIEN; DELONGIS, 1996; WATSON; HUBBARD,

1996). Os traços de personalidade mais amplamente estudados, que se relacionam

às estratégias de Enfrentamento, são otimismo, rigidez, auto-estima e lócus de

controle (CARVER; SCHEIER, 1994; CARVER; SCHEIER; WEINTRAUB, 1989;

COMPAS; BANEZ; MALCARNE; WORSHAM, 1991; LOPEZ; LITTLE, 1996;

PARKES, 1984).

Folkman e Lazarus (1980) propõem um modelo numa perspectiva

cognitivista, que divide o Enfrentamento em duas categorias funcionais:

Enfrentamento focalizado no problema e Enfrentamento focalizado na emoção. Esta

construção baseou-se em análises fatoriais que geraram dois fatores principais

utilizados pelos pesquisadores para definir estes dois tipos de estratégias de

Enfrentamento. Nesta perspectiva, de acordo com Lazarus e Folkman (1984),

enfrentamento é definido como um conjunto de esforços, cognitivos e

comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o objetivo de lidar com demandas

específicas, internas ou externas, que surgem em situações de estresse e são

Imagem

Figura 1: Modelo da pesquisa
Tabela 1. Dados demográficos da amostra.
Tabela 2 Resultados da análise paralela.
Tabela 3 Resultados da matriz fatorial e precisão dos fatores da Escala de  Avaliação de Clima Social das Organizações
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Referências

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