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Na literatura de Bem-estar, o relacionamento interpessoal positivo e a autonomia aparecem como fortes preditores de Bem-estar, principalmente, no contexto do trabalho. As ‘relações calorosas e confiáveis’ e a autonomia são duas das seis dimensões do Bem-estar apresentados por Ryff e Keyes (1995), os outros são: crescimento pessoal, auto-aceitação, domínio do ambiente, e, propósito na vida, corroborando o modelo desenvolvido por Ryan e Deci (2000), no qual apresentam a autonomia, competência e os relacionamentos interpessoais positivos como uma das três necessidades psicológicas básicas que, quando satisfeitas, levam ao Bem-estar. Estudos de Ryan e Deci (2001) também encontraram relevante importância da qualidade das relações interpessoais no Bem-estar. Estas pesquisas sugerem que aspectos como a intimidade e o afeto são inerentes às relações humanas e uma necessidade básica para o Bem-estar. Também na literatura de clima, as ‘relações interpessoais positivas’ e a autonomia no trabalho aparecem como preditores do bom desempenho.

Ao examinarem o efeito da autonomia para execução de tarefas sobre afetos positivos e vitalidade, Nix et al (1999) demonstraram que o término de uma tarefa realizada sob pressão associava-se com afeto positivo, mas não com vitalidade. Por outro lado, ao realizar uma tarefa com autonomia, o resultado associava-se tanto aos afetos positivos quanto à vitalidade. Paz (2004) também cita a importância desses preditores ao definir autonomia como uma das gratificações que levam ao Bem-estar pessoal.

Schneider (1983) afirmou que o clima social do trabalho se constrói a partir das atitudes pessoais orientadas a um objetivo, das relações de troca com o meio ambiente, das características físicas do local de trabalho, assim como das relações entre os empregados. Billings e Moos (1991) afirmaram que o clima social é um conjunto de características sociopsicológicas, entre as quais estão incluídas as atitudes dos empregados em relação às suas tarefas, os sistemas de comunicação organizacional e as relações sociais do indivíduo com os outros trabalhadores, com os supervisores e com as chefias. Segundo Puente-Palacios e Freitas (2005), as investigações relativas ao clima social devem incluir, além da autonomia e a inovação, o gerenciamento das relações interpessoais. Martins et al (2004)

observaram que instrumentos psicometricamente validados tinham componentes semelhantes, um deles é a autonomia, corroborando os estudos de Puente-Palacios e Carneiro (2005), que apontaram a autonomia como componente presente em mais de 80% dos instrumentos identificados na literatura da área. Nesse cenário surgiram dois autores que realizaram um importante estudo sobre o campo teórico do clima, são eles Koys e DeCotiis. Em 1991 eles avaliaram todos os estudos dos autores da área com o objetivo de identificar as dimensões propostas como constituintes de clima. Encontraram 80 dimensões e as caracterizaram de forma a agrupar e eliminar aquelas que fazem parte de outros constructos. Os resultados encontrados apontaram para oito dimensões constitutivas de clima, entre elas a autonomia.

Considerando estes estudos, a partir da interação do trabalhador com a organização e seus membros, surgem possibilidades de explicação do Bem-estar. Sobre este foco, a responsabilidade do Bem-estar não é somente do trabalhador, mas também da organização, considerando aqui, entre diversos fatores, o clima social.

Não existem estudos que demonstrem empiricamente uma relação direta entre Bem-estar e clima social. Há estudos empíricos (PAZ, 2004; WARR, 1987, 1994; KOYS e DECOTIIS,1991; PUENTE-PALACIOS, 2002), no entanto, que apontam para possibilidades de impacto entre essas variáveis, tais como relações interpessoais; dimensão social do trabalho; reconhecimento; suporte ambiental. Dessa forma, é possível indagar se realmente há relação entre o Bem-estar ocupacional e clima social.

Ainda cabe considerar que a percepção do Bem-estar pode ser impactada por estratégias de Enfrentamento ao estresse. Pois, Segundo Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998), a resposta de estresse é qualquer ação envolvendo uma reação emocional ou comportamental espontânea. Ao propor este esquema, os autores salientam a diferença entre resultados de Enfrentamento, que são as conseqüências específicas da resposta de Enfrentamento e os resultados de estresse, ou seja, as conseqüências imediatas da resposta de estresse. E, segundo eles, ambos podem promover, ou não, o Bem-estar. Folkman e Lazarus (1980) salientam que o Enfrentamento focalizado no problema constitui-se em um esforço para atuar na situação que deu origem ao estresse, tentando mudá-la. Segundo eles, a função desta estratégia é alterar o problema existente na relação entre a pessoa e o ambiente que está causando a tensão. A ação de Enfrentamento pode ser direcionada internamente ou externamente. Esta distinção se faz necessária, uma

vez que neste estudo serão pesquisadas as estratégias de Enfrentamento, especificamente, as ações do sujeito que podem impactar no Bem-estar no trabalho. Segundo Pinheiro (2002), apesar da grande variedade de estudos conduzidos sobre Enfrentamento nas últimas décadas, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos para verificar a utilização de estratégias de Enfrentamento voltadas para o ambiente ocupacional, justificando assim, a inclusão desta variável neste estudo.

A partir dessa constatação, além de indagar se o clima social tem impacto sobre a percepção do Bem-estar organizacional, cabe ainda questionar se as estratégias de enfrentamento ao estresse também impactam a percepção do Bem- estar. Sendo assim, argumenta-se que o nível de percepção do clima social percebido na organização e as estratégias de Enfrentamento adotadas pelo indivíduo tendem a trazer maior Bem-estar no trabalho, ao passo que o inverso também pode ser verdadeiro, ou seja, percepção negativa do clima social e poucas estratégias de Enfrentamento adotadas pelo indivíduo podem gerar menor Bem- estar, uma vez que o Bem-estar no trabalho envolve, em grande parte, emoções, metas de vida e interações com o ambiente e as pessoas, que são diferentes entre os indivíduos. Essa relação, no entanto, ainda é carente de verificação empírica, que é a proposta deste estudo. Nesse sentido, o problema de pesquisa deste estudo propõe investigar os efeitos do clima social e das Estratégias de enfrentamento do estresse no Bem-estar no trabalho.

O objetivo principal deste estudo consiste, portanto, em identificar o impacto do clima social e das estratégias de Enfrentamento do estresse no Bem-estar de indivíduos no trabalho.

Os objetivos específicos constituem:

a) Validar a Escala de Clima Social nas Organizações;

b) Analisar a relação entre as variáveis demográficas idade, gênero, estado civil e escolaridade e o Bem-estar no trabalho;

c) Analisar a relação entre o clima social e o Bem-estar no trabalho;

d) Analisar a relação entre estratégias de enfrentamento ao estresse e o Bem-estar no trabalho;

A relação entre as variáveis propostas neste estudo (modelo de pesquisa) apresenta-se conforme Figura 1.

Figura 1: Modelo da pesquisa

A variável dependente deste estudo é o Bem-estar ocupacional, que corresponde ao grau de “[...] prevalência de emoções positivas no trabalho e a percepção do indivíduo de que, no seu trabalho, expressa e desenvolve seus potenciais/habilidades e avança no alcance de suas metas de vida.” (PASCHOAL, 2008, p. 20).

Os fatores demográficos gênero, estado civil, idade e escolaridade apresentam-se como variáveis independentes, uma vez que, na literatura de Bem- estar aparecem em alguns estudos como preditores de Bem-estar no Trabalho.

O clima social configura-se como variável independente, sendo operacionalizada como a um fenômeno multidimensional, relativamente estável, formado pela percepção compartilhada dos membros da organização sobre as experiências no trabalho e que tem a função de influenciar o comportamento individual. São dimensões de clima social: autonomia; inovação; gerenciamento das relações entre gestor e colaborador; valorização e reconhecimento do desempenho (KOYS; DECOTIIS, 1991 p. 266).

As estratégias de Enfrentamento, nesse contexto, apresentam-se também como variável independente. O conceito de estratégias de Enfrentamento adotada neste estudo é de Lazarus e Folkman (1984), que definem estratégias de Enfrentamento como uma variável individual representada pelas formas como as pessoas comumente reagem ao estresse, determinadas por fatores pessoais, exigências situacionais e recursos disponíveis.

A hipótese principal desta pesquisa é a de que o gênero, estado civil, idade, escolaridade, clima social e as estratégias de Enfrentamento do estresse (coping) tem impacto sobre o Bem-estar no Trabalho.

Considerando esses objetivos e hipótese, será apresentado a seguir o contexto da organização do estudo e o delineamento metodológico utilizado para a verificação empírica.

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