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UMA ABORDADEM DA LUTA SOCIAL PELO ACESSO À JUSTIÇA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL: considerações preliminares

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São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005

UMA ABORDADEM DA LUTA SOCIAL PELO ACESSO À JUSTIÇA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL:

considerações preliminares

Ulisses Pereira Terto Neto*

RESUMO

O trabalho analisa a luta social pelo acesso à justiça como uma expressão da questão social. Tece considerações teóricas sobre o tema a partir da historicização da problemática “acesso à justiça”, adotando como divisor de águas a vitoriosa revolução política francesa. Indica os elementos constitutivos da questão social em conexão com a luta social pelo acesso à justiça no Brasil e no Maranhão, explicitando sua conditio sine qua non de exigências dos demais direitos fundamentais. Resultante do processo histórico das lutas de classes, este fortemente pautado pela divisão do trabalho na sociedade, a questão do acesso à justiça revela, através das especificidades históricas e sociológicas de cada país e região, a luta social contemporânea pelo combate à pobreza e pela eliminação da exclusão social, assim como pelo pleno respeito à dignidade da pessoa humana, garantindo o eficaz exercício dos direitos fundamentais da pessoa humana. Palavras-chave:Questão social. Luta social. Acesso à justiça. Direitos fundamentais. Pobreza. Exclusão social. Dignidade da pessoa humana.

ABSTRACT

The present work analyzes the social struggle for access to justice as an expression of the social question. It makes theoretical considerations about the theme from a historical perspective of the category “access to justice”, adopting the victorious French political revolution as the ignition point. It indicates the forming elements of the social question in connection with the social struggle for access to justice in Brazil and in the State of Maranhão, showing its condition sine qua non for requesting the applicability of other fundamental rights. As a result of the historical process of class struggles, which is strongly marked by the division of work in society, the question of access to justice reveals, through historical and sociological specificities of each country and region, the actual social struggle for combating poverty and eliminating social exclusion as well as for full respect to human dignity, guaranteeing the efficient exercise of human being’s fundamental rights. Keywords: Social question. Social struggle. Access to justice. Fundamental rights. Poverty. Social exclusion. Human dignity.

1 INTRODUÇÃO

Com o advento da Revolução Francesa, notadamente de caráter político-revolucionário, dá-se início a uma nova fase na História da Humanidade, com a pessoa

humana1 como centro e a razão como norteadora das práticas científicas, sociais e políticas.

*

Advogado; membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA e mestrando em Políticas Públicas na UFMA.

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Sob essa era da razão, que se inicia a partir desse recorte epistemológico com o surgimento da Modernidade, a pessoa humana passa a ser titular de direitos, ocasionando uma mudança na relação política até então presente, ou seja, houve uma inversão da relação

direitos x deveres entre o soberano e a coletividade, o que pode ser interpretado como um

dos marcos do nascimento dos direitos humanos.2

Nesse sentido, faz-se salutar evidenciar que a partir da Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana de 1948 dá-se início a uma “nova fase do desenvolvimento da luta em defesa dos direitos humanos, com o surgimento de um novo ramo do direito, caracterizado como um direito de proteção: o Direito Internacional dos Direitos Humanos” (HIDAKA, 2002, p. 23). Com isso, o reflexo imediato desse novo quadro mundial é percebido com a implementação do processo de universalização dos direitos humanos, através de pactos e tratados internacionais, norteadores dos processos legislativos nacionais, gerando a institucionalização das demandas dos movimentos sociais organizados, com a positivação dos direitos fundamentais da pessoa humana. Obviamente que esse processo de mudança social tem ocorrido de forma gradativa, através de um embate dialético de forças contrárias, principalmente no tocante à garantia efetiva dos direitos, estes que passaram a ser positivados em diplomas legais, comumente em constituições políticas. Em decorrência, tem-se que ainda hoje persiste a luta social pela total implementação dos direitos humanos, ou seja, ainda persiste a necessidade de se garantir, no plano empírico, os direitos fundamentais que propiciem a plena dignidade da pessoa humana.3

A situação se agrava consideravelmente, tomando dimensões amplificadas, quando observamos o paradigma do acesso à justiça4, este que coloca a todos, independentemente de raça, cor, fé ou condição econômica, como titulares desse direito fundamental, que é conditio sine qua non à exigência dos demais. De fato, tem-se que o direito fundamental ao acesso à justiça deveria ser assegurado com absoluta prioridade pelo Estado, tanto quanto pela sociedade civil, em todas as instâncias competentes. Entretanto, tal realidade não se apresenta como verdadeira na sociedade brasileira, o que, por via de conseqüência, gera desigualdade, posto que a grande maioria dos cidadãos não dispõe de mecanismos efetivos para terem suas necessidades satisfeitas, seus direitos fundamentais efetivados; donde se conclui que a pobreza e a exclusão social constituem-se em um persistente problema nacional.

Sem dúvida, o entendimento de políticas públicas perpetradas pelo Estado e voltadas à garantia do acesso pleno e efetivo à justiça passa em torno da reflexão da

questão social, uma tarefa que se apresenta, oportunamente, em relação às perspectivas

nacionais, particularmente no referente ao novo quadro sóciopolítico brasileiro; este que, a

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sociedade brasileira um permanente embate dialético presente nas lutas sociais pelo acesso à justiça, cujos reflexos demonstram que a problemática ora levantada se configura como uma expressão da questão social.

2 A LUTA PELO ACESSO À JUSTIÇA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL

Considerando a problemática da garantia aos direitos fundamentais no Brasil, a questão central das lutas sociais pelo acesso à justiça configura um processo dialético necessário e permanente, especialmente em áreas onde a distribuição das riquezas nacionais é injusta, o que ocasiona grande exclusão social 5. Com isso, pode-se afirmar que a luta social pelo acesso efetivo e pleno à justiça é uma das principais dimensões da

questão social, tanto pela sua conditio sine qua non para exigência dos demais direitos

fundamentais, quanto pela sua importância histórico-social de viabilização de demandas políticas e ações sociais do Estado brasileiro que visem, como resultado último, a eliminação da pobreza e o pleno gozo da dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, tem-se que no percurso histórico da humanidade evidencia-tem-se que a preocupação com a questão social tem sido objeto de estudo por diversos pensadores, principalmente em torno das manifestações sociais adversas, como por exemplo, “la pobreza, el desempleo, la

desprotección social, el abandono de niños y de ancianos, las minusvalías físicas, la violência, etc” (LOPES, 2000, p. 24), relacionando-se, em última análise, com a necessidade

de intervenção positiva junto a essas manifestações sociais adversas, objetivando suprir as necessidades humanas em busca de uma vida digna para os indivíduos. Dessa forma, a partir do século XVIII dá-se início ao processo de reconhecimento da questão social pela comunidade acadêmica européia, destacando-se, nesse cenário, o ilustre pensador J. J. Rousseau que, em seu “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre

os Homens” (1754), concebe, na espécie humana:

[...] duas espécies de desigualdade: uma a que chamo natural ou física, por ser estabelecida pela natureza, e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito ou da alma; a outra, a que se pode chamar desigualdade moral ou política, por depender de uma espécie de convenção e ser estabelecida, ou pelo menos autorizada, pelo consentimento dos homens. Esta consiste nos diferentes privilégios que alguns usufruem em prejuízo dos outros, como serem mais ricos, mais reverenciados e mais poderosos do que eles, ou mesmo em se fazerem obedecer por eles. (ROUSSEAU, 2002, p. 159, grifo nosso).

Na mesma linha de raciocínio, referindo-se à contribuição de Rousseau, este que admitiu como argumento basilar que há desigualdade entre os homens, Gonçalves, em

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São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 “Da Desigualdade entre os Homens ao Contrato Social em Jean-Jacques Rousseau: há resolução do dilema?”, explica:

Para Rousseau, é natural o homem ter atributos físicos diferentes, mas é instituída a desigualdade social. E é neste ponto que a teoria desse autor se presta para sustentar o debate sobre a questão social, uma vez que esta última trata das lutas e concorrências entre classes sociais no decurso da história humana, em cujo vértice estão as condições de desigualdade e exclusão social. (GONÇALVES, 2002, p. 77).

Não obstante, destacam-se também os trabalhos de Agnes Heller no tocante à

questão social, interpretando-se sua abordagem como um segundo movimento na

construção teórica da questão social, particularmente pela associação da categoria “necessidades humanas” às lutas sociais e de classes na sociedade capitalista (OLIVEIRA, 2000, p. 42). A despeito da temática “necessidades humanas”, tem-se que os ensinamentos de Heller são reveladores de per si. Dessa forma, em “Teoría de las Necesidades en Marx”, ela apresenta o seguinte enunciado:

El desarrollo de la división del trabajo y de la productividad crea, junto con la riqueza material, también la riqueza y la multiplicidad de las necesidades; pero las necesidades se reparten siempre en virtud de la división del trabajo: el lugar ocupado en el seno de la división del trabajo determina la estructura de la necesidad o al menos sus limites. Esta contradicción alcanza su culminación en el capitalismo, donde llega a convertirse (como veremos) en la máxima antinomia del sistema (HELLER, 1978, p. 23).

Assim, amparada por uma análise profunda da obra de Marx, Heller sustenta que as necessidades radicais distribuem-se e estão relacionadas com a divisão social do trabalho, caracterizando-se em consonância com o contexto das históricas desigualdades sociais. Desta feita, uma vez que a superação da questão social, sob a perspectiva da histórica luta de classes, somente é possível com a satisfação dessas necessidades radicais, tem-se como imprescindível a própria superação do sistema capitalista (OLIVEIRA, 2000, p. 42). Nesse diapasão, convém mencionarmos a importância histórica da concepção de Castel – em muito para se saber o agente (quem) e as condições da coesão estabelecida na sociedade – que, em “As Metamorfoses da Questão Social: uma crônica do salário“, apresenta o seguinte conceito para a categoria questão social, senão vejamos:

A questão social é uma aporia fundamental sobre a qual uma sociedade experimenta o enigma de sua coesão e tenta conjurar o risco de sua fratura. Ela é um desafio que interroga, põe em questão a capacidade de uma sociedade (o que em termos políticos se chama uma nação) de existir como um conjunto ligado por relações de interdependência. (CASTEL, 1998, p. 30).

Dessa forma, tem-se que a compreensão da questão social se apresenta como um desafio a ser superado para que se efetive uma mudança social eficaz, rompendo-se com essa coesão para a eliminação da exclusão social, tendo-rompendo-se como premissa maior o

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fim da pobreza. Assim, tem-se que a luta social pelo acesso à justiça constitui-se, sem dúvida, como expressão da questão social, vez que estão presentes nesse processo histórico-dialético de luta por direitos, todos os elementos constitutivos da categoria questão social: desigualdade, necessidade, lutas sociais e o Estado.

3 A QUESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO E MARANHENSE

Evidenciando o caráter das lutas de classes como lutas histórico-sociais, presentes em todas as fases da história escrita da humanidade, Marx e Engels, em “Manifesto do Partido Comunista”, afirmam que “a história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história de lutas de classes” (MARX; ENGELS, 2004, p. 45-46). Nesse sentido, em consonância com o que Lopes explicita em seu artigo “Cuestión Social y

Politicas Sociales: respuestas del Estado y de la Sociedad Civil”, reafirma-se aqui o

entendimento de que:

[...] la cuestión social ha existido en todas las formas de sociedad, sintetizándose en la lucha social de clases hacia la satisfacción de necesidades, las cuales ‘se reparten siempre en virtud de la división del trabajo’ (Heller, 1978:23) y se expresan de acuerdo con el contexto de las históricas desigualdades sociales (LOPES, 2000, p. 25-26).

Entretanto, ressalte-se que a abordagem desenvolvida no presente texto adota como ponto de ignição a origem da problemática do acesso à justiça; esta que, em nosso entender, originou-se com a organização dos ordenamentos jurídicos nacionais, estes influenciados pelos ideais da Revolução Francesa (Burguesa). Por isso, quando nos referimos à problemática do acesso à justiça mister ter-se em mente tratar-se de uma justiça

burguesa.

Dessa forma, adota-se aqui entendimento similar ao exposto por Cerqueira Filho na obra “A ‘Questão Social’ no Brasil: crítica do discurso político”, quando argumenta que:

A “questão social” aparece como um problema concreto no Brasil e, de resto, no mundo, no quadro do processo de industrialização e de implantação do modo de produção capitalista e do surgimento do operariado e da fração industrial da burguesia. (CERQUEIRA FILHO, 1982, p. 57).

Não que se queira defender a idéia de que não havia pobreza antes do processo de industrialização e do surgimento do operariado. Ao contrário, quer-se apenas evidenciar que com o advento da sociedade capitalista, a questão social passa a ser encarada como um problema concreto, de diferentes matizes, vindo mesmo a tomar corpo sua interpretação atual, sem embargo das diversas concepções decorrentes. Quer-se, também, evidenciar o

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elo de ligação entre o surgimento do capitalismo industrial e a percepção da questão social como fenômeno real (concreto) da sociedade. Na verdade, esse vínculo, irrefutável, e suas nefastas manifestações sociais apresentam-se sob a face da pobreza e da exclusão social. Desta feita, observa-se que a questão social, no contexto da realidade brasileira, relaciona-se, em demasia, com a problemática da pobreza e da exclusão social. Por via de conseqüência, tem-se que a inacessibilidade à justiça liga-se, embrionariamente, com a

pobreza generalizada presente em nosso país; perpetuando-se a histórica luta de classes,

donde se evidencia que aos excluídos dos processos de produção nega-se o acesso pleno e efetivo à justiça, inviabilizando, por via de conseqüência, o acesso aos demais direitos fundamentais.

No Tocante ao contexto maranhense, tem-se que o Estado do Maranhão tem sido historicamente caracterizado por ser um Estado socialmente injusto, onde os desrespeitos aos direitos dos menos favorecidos pela estrutura de poder, particularmente quanto aos direitos fundamentais, sempre se fizeram presentes. Tal realidade persiste, indubitavelmente, até os dias atuais. Nesse sentido, observa-se que o paradigma do acesso à justiça, assegurado na Constituição Federal, assim como em alguns dispositivos infraconstitucionais (pelo menos formalmente); este que deveria colocar a todos, independentemente de raça, cor, fé ou condição econômica, como titulares desse direito fundamental, que é condição sine qua non à exigência dos demais; mostra-se deveras ineficaz em solo maranhense, tendo em vista seu trágico quadro social. Adicione-se a isso, o fato de que 63,3% da população maranhense percebem rendimentos inferiores a dois salários mínimos6,o que significa dizer que a má distribuição das riquezas do Estado é também elemento fundante para a compreensão da luta social pelo acesso à justiça como expressão da questão social no Maranhão.

Em decorrência, tem-se que a pobreza e a exclusão social estão ainda presentes em solo maranhense, como reflexos da histórica luta de classes, marcada pela dicotomia capital x trabalho presente na sociedade capitalista. Dessa forma, observa-se, no quadro maranhense, a presença de todos os elementos constitutivos da questão social –

desigualdade, necessidade, luta social e a figura do Estado; cujos reflexos podem ser

notados na pobreza que se encontra generalizada no Estado.

Nesse cenário, fica evidente a luta social pelo acesso à justiça (e, conseqüentemente, pelo acesso aos demais direitos fundamentais) como expressão da questão social. Conseqüentemente, tem-se que a inacessibilidade à justiça (ou a falta de garantias eficazes ao pleno gozo do direito fundamental de acesso à justiça), tanto no Brasil como particularmente no Estado do Maranhão, relaciona-se, embrionariamente, com a

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4 CONCLUSÃO

Salutar que se compreenda que a luta pelo acesso aos direitos em geral, e pelo gozo pleno e irrestrito do direito fundamental de acesso à justiça em particular, apresentam-se como expressões da questão social, objetivando a construção de novas perspectivas que enfrentem a problemática relacionada com a pobreza e com a exclusão social. Ou dito de outra forma: as condições sociais adversas ocasionaram forte resistência aos mecanismos de controle social (comandados pela elite burguesa) que perpetuam o quadro de desigualdade e de injustiça social no Brasil. Por via de conseqüência, possibilitou-se o surgimento de movimentos sociais organizados que passaram a lutar pelo acesso aos direitos fundamentais (pelo acesso à justiça em particular), estes notadamente ligados aos movimentos dos direitos humanos.

Particularmente no Estado do Maranhão, apresenta-se um quadro gravíssimo uma vez que o órgão encarregado de realizar a política pública de assistência jurídica, no caso a Defensoria Pública, não dispõe de estrutura suficiente para atender à demanda exigida; o que tem contribuído para a perpetuação das desigualdades sociais históricas, com a proliferação da pobreza e da exclusão social. Com isso, mesmo tendo o órgão realizado mais de cinco mil atendimentos em 2003, entre consultas, ações judiciais e acompanhamento de presos7, milhares de cidadãos continuam ainda sem acesso à justiça porque não se implementou a Defensoria Pública em todas as 95 comarcas8 existentes no Estado do Maranhão. Nesse particular, convém salientar-se que para a realização dos objetivos atribuídos às políticas sociais, particularmente no tocante à redução das desigualdades sociais e à luta contra a pobreza, tem-se que o acesso à justiça é condição sem a qual não se dá a efetivação dos demais direitos fundamentais da pessoa humana, estes que refletem a problemática da condição de existência dos indivíduos e as responsabilidades sociais.

Portanto, como alternativa para enfrentar a questão social referente à luta pelo acesso à justiça, particularmente no Estado do Maranhão, e para a consecução dos objetivos atribuídos às políticas sociais nacionais, faz-se imprescindível a implementação de políticas públicas voltadas para o acesso pleno e irrestrito à justiça, no caso, faz-se salutar a implementação de políticas públicas de assistência jurídica, garantindo-se, dessa forma, a realização integral da dignidade da pessoa humana.

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Notas

1. Adota-se essa expressão terminológica no presente trabalho em reconhecimento às históricas lutas sociais dos movimentos de gênero pelo fim da discriminação contra a mulher, particularmente no uso de expressões de conotação “machista” pelas línguas nacionais.

2. Segundo Mendes, Coelho e Branco (2002, p. 125), a “expressão direitos humanos, ou direitos do homem, é reservada para aquelas reivindicações de perene respeito a certas posições essenciais ao homem. São direitos postulados em bases jusnaturalistas, contam índole filosófica e não possuem como característica básica a positivação numa ordem jurídica particular. A expressão direitos humanos, ainda, e até por conta da sua vocação universalista, supranacional, é empregada para designar pretensões de respeito à pessoa humana, inseridas em tratados e em outros documentos de direito internacional. Já a locução direitos fundamentais é reservada aos direitos relacionados com posições básicas das pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Estado. São direitos que vigem numa ordem jurídica concreta, sendo, por isso, garantidos e limitados no espaço e no tempo – pois são assegurados na medida em que cada Estado os consagra.” Não obstante, por imperativo da didática, exigência quanto ao método e por questão prática, a terminologia usada no presente artigo será ora direitos humanos, ora direitos fundamentais.

3. Arrimado nas lições de G. Durig e K. Stern, Sarlet (1998, p. 104) afirma que “a dignidade, como qualidade intrínseca da pessoa humana, é algo que simplesmente existe, sendo irrenunciável e inalienável, na medida em que constitui elemento que qualifica o ser humano como tal e dele não pode ser destacado, de tal sorte que não pode cogitar na possibilidade de determinada pessoa ser titular de uma pretensão a que lhe seja concedida a dignidade. Esta, portanto, como elemento integrante e irrenunciável da natureza da pessoa humana, é algo que se reconhece, respeita e protege...”.

4. Adota-se aqui o mesmo entendimento de CAPPELLETTI (1988, p. 12), segundo o qual “o acesso à justiça pode, portanto, ser encarado como o requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos”.

5. Tendo em vista que as lutas sociais pelo acesso a direitos, desenvolvidas pelos diversos movimentos sociais (gênero, etnia, orientação sexual, dentre outros), particularmente a luta social pela efetividade do direito fundamental de acesso à justiça, relacionam-se com o quadro de pobreza generalizada no país; trabalha-se, neste artigo, com a idéia da pobreza como causa de inacessibilidade à justiça, o que ocasiona a exclusão social. Neste contexto, onde também se apresenta a histórica luta de classes, a categoria exclusão social deve ser entendida como a negação ao proletariado do exercício efetivo do direito fundamental de acesso à justiça, ou seja, como a exclusão do proletariado da justiça burguesa.

6. Fonte: IBGE/PNAD 2002

7. Fonte: Corregedoria Geral da Defensoria Pública do Estado do Maranhão;

8. “Limite espacial da jurisdição; delimita o âmbito de atuação de um magistrado”, conforme Acquaviva (1989, p. 108).

REFERÊNCIAS

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MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Instituto Brasileiro de Direito Público – IDP, 2002.

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Referências

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