Vida de Fotógrafo
Autodidata, o fotógrafo de moda Júnior Luz faz
trabalhos autorais criativos. No mais recente,
registra mulheres submersas em piscinas e rios
Mergulho em retratos
subaquáticos
N
ão é qualquer fotógrafo que consegue rapidamente desenvolver uma lin-guagem pessoal e acertar na técnica, principalmente sendo um autodidata. O curi-tibano Júnior Luz, de 31 anos, é uma dessas exceções. Novato na área e à procura de um caminho para se aperfeiçoar nos trabalhosau-torais, ele já tem a criatividade como marca. Fotografou belas modelos usando máscaras de gás; nus em preto e branco com estética que se assemelha ao grafite; e rostos com maquia-gens escandalosas. Seu último trabalho, iniciado há seis meses, é ainda mais diferente: registra mulheres embaixo d’água.
POR GABRIELLE WINANDY
O trabalho subaquático autoral de Júnior Luz é geralmente feito em piscinas de amigos
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gundo ele. Depois de um ano, comprou uma Nikon D80. O passo seguinte foi ter a
best-seller Canon EOS 5D Mark
II, câmera que usa até hoje. Ficou na Inglaterra por cinco anos e foi nesse período que se especializou em foto-grafia por meio da leitura em sites e blogs. Ao voltar para o Brasil, há um ano e meio, já estava consolidado no mer-cado de fotografia de moda como criador de imagens com cenários excêntricos. Mas o plano de apostar em produ-ções embaixo d’água sempre esteve na mente do fotógrafo. Portanto, há
aproximadamen-te seis meses, ele resolveu se jogar, metafórica e literalmen-te, no mundo subaquático.
Por ação e reação
A maior parte do apren-dizado na área foi na prática, como a percepção de que ca-da ambiente tem prós e con-tras. Fotografando nos rios de Bonito (MS), por exemplo, o profissional tem a vantagem de trabalhar com uma água mais límpida e cenários mais complexos e prontos. A des-vantagem é a possibilidade de sofrer com a correnteza.
Em outubro de 2012, Jú-nior ficou oito dias em Bo-O interesse pela fotografia
era antigo, mas ele não sabia por onde começar. Na época, Júnior trabalhava no restau-rante Pizza Express com a mãe, proprietária, quando decidiu ir para Londres, Inglaterra (seis anos e meio atrás), onde seus dois irmãos viviam.
Na capital inglesa, passou a frequentar nightclubs e fez amizade com o fotógrafo Ale-xandre Camieri, com quem aprendeu várias técnicas. A partir daí, passou a fazer ten-tativas em fotografia de even-tos. Ganhou da família uma compacta Mirage de 3 MP, “uma câmera muito ruim”,
se-Na foto acima, Júnior Luz se inspirou na russa Elena Kalis, que fez um ensaio baseado em Alice no País das Maravilhas
No nonono nonon nonono no nono nono no nono nono no nono nono no nono nono no nono no
A foto foi produzida em dois momentos: primeiro só as águas-vivas, depois a modelo; a junção foi feita via computador
Fo to s: J ún io r L uz
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nito para fazer um ensaio no fundo do Rio Sucuri com uma a modelo vestida de sereia. Ele enfrentou sérios proble-mas com o fluxo d’água, que não apenas desestabilizava a câmera como movia a “se-reia”. No entanto, essa acabou nem sendo a maior das difi-culdades: os peixes do rio ata-caram a cauda da sereia, cau-sando pânico na modelo – que quase se afogou.
O cenário mais frequente para os ensaios é a piscina da casa dos amigos. Mas a visibi-lidade embaixo d’água é me-nor por conta do cloro. O fo-tógrafo também não gosta do fundo das piscinas, o que exige
uma produção maior no ce-nário subaquático: ele coloca tecidos de voil sobre o azulejo, presos por lastros (pesos de academia) para não flutuarem. Outro aspecto aprendido na prática foi o figurino. Júnior trabalha com a costureira pro-fissional produtora de moda Michele Cordeiro. Eles des-cobriram que o ideal nessa si-tuação é que a modelo use rou-pas leves, e o fotógrafo, rourou-pas de mergulho (neoprene).
Todas as vestimentas re-gistradas são feitas por Mi-chele que, com isso em mente, usa muito seda, voil e tule. O fotógrafo ainda precisa con-tornar o desafio de esconder
pesos de até dois quilos em-baixo da roupa da modelo, para que o corpo não flutue antes da hora.
A maquiagem poderia ser mais um problema. Mas o ma-quiador Renato Cezzar, outro membro indispensável à equi-pe de Júnior, usa aequi-penas ma-quiagem à prova d’água. “Mas partir do momento em que a modelo entra na água, a ma-quiagem não resiste e começa a desmanchar”, diz Júnior. Por isso, é necessária a reaplicação a cada hora.
Nos primeiros trabalhos da série, Junior contratava mo-delos usuais. Agora, apenas as que têm curso de mergulho
Ensaio nos rios límpidos de Bonito (MS), possibilitou fundos mais complexos e realistas (acima); já em piscinas, como na página ao lado, as fotos pedem mais criatividade na produção das modelos
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ou alguma experiência para fi-car sob a água. É imprescindí-vel que elas saibam conter a respiração para conseguir dei-xar o rosto natural enquanto estão dentro da piscina.
Antes do ensaio, que dura cerca de duas horas, Júnior combina com a modelo uma comunicação por mímica pa-ra que não precisem emergir toda vez que ele precisar dar um toque sobre a posição ou expressão dela.
Iluminação aquática
A técnica para um ensaio como esse exige bastante cau-tela. Para que a EOS 5D Mark II possa ser usada embaixo d’ água, Júnior usa uma caixa-estanque feita sob medida, com adaptações para as duas
Mesmo sendo à prova d’água, a maquiagem começa a desmanchar logo após a submersão da modelo e, por isso, é necessária a reaplicação a cada hora
Fo to s: J ún io r L uz
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únicas lentes que usa: uma grande angular 15 mm e uma “normal” 50 mm. Para ajustar o foco na primeira vez, Júnior pode demorar até dez minutos. Apesar de automático, o ajuste é dificultado pela interferência da caixa-estanque.
Por causa das ondulações naturais da água, ele diz que é é necessário regular uma ve-locidade alta, como 1/1000 s. Isso influencia diretamente na captação da luz, que, na opi-nião dele, deve ser natural. Por isso, o fotógrafo também pre-fere piscinas abertas, já que as-sim aproveita a luz do dia.
Caso a luz natural não seja suficiente, Júnior usa lanternas subaquáticas, LEDs ou tochas, mas nunca o flash. “Abomino flash porque acho artificial”, opina. Depois do ensaio, pe-quenos ajustes, como de
con-traste e saturação, são feitos no Photoshop e Lightroom. O trabalho o atrai tanto que ele está se programando para assistir a um workshop da fotógrafa russa Elena Kalis que, hoje morando nas Baha-mas, faz fotografias subaquá-ticas de pessoas. O workshop deve acontecer em janeiro de 2013 no Caribe e, com as ima-gens resultantes, a fotógrafa montará um livro que preten-de lançar até o final preten-de 2013. Mesmo trabalhando com fotografia de moda e fazendo cursos para se especializar na subaquática, Júnior Luz é mo-desto: “Não me considero um fotógrafo profissional ainda. Tenho muito para aprender”. Algo raro num mundo em que os egos muitas vezes se sobre-põem ao trabalho em si, nem sempre de qualidade.
Imagens em movimento dentro da água exigem velocidade alta para que as ondulações não interfiram na composição; abaixo, o fotógrafo Júnior Luz que, aos 31 anos, vem experimentando novas estéticas no seu trabalho autoral
Marcel Savery