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Respeitável público! Bem-vindos a um percurso pela formação do Circo Grock e pela história da minha família nas artes circenses!

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM TEATRO

MARINA GABRIELLA GADELHA ROZA

Respeitável público! Bem-vindos a um percurso pela formação do 

Circo Grock e pela história da minha família nas artes circenses!

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MARINA GABRIELLA GADELHA ROZA

Respeitável público! Bem-vindos a um percurso pela formação do 

Circo Grock e pela história da minha família nas artes circenses!

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de licenciado.

Orientadora: Profa. Dra. Melissa dos Santos Lopes

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MARINA GABRIELLA GADELHA ROZA

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado junto ao curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Teatro, e considerado aprovado com a nota final ____________ atribuída pela banca examinadora constituída pelo (a) professor (a) orientador (a) e membros abaixo mencionados.

Data: ___/___/___ Banca examinadora:

__________________________________________ Prof. Dr. Melissa dos Santos Lopes

Orientador

___________________________________________ Prof. Dr. André Carrico

_______________________________________________ Ms. George Rocha Holanda

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus avós (​in memoriam​). Aos paternos, Marina Jardim e António Filipe pelas trajetórias de vidas que serviram como inspiração para este trabalho de conclusão de curso. Aos maternos, mãe Vilma e Gadelha por todo amor e confiança que em mim depositaram e por serem exemplos de determinação que eu sigo e guardo para sempre no coração.

Ao meu pai Sérgio Jardim Roza por ter compartilhado suas memórias, e a meu filho Linus Miguel, que por meio deste trabalho poderá conhecer suas origens e dar continuidade a esse amor que tenho pelas artes.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, depois a minha mãe Andréa Gadelha pela sua dedicação, que nunca mediu esforços para me ajudar e a qual sou grata pela minha vida.

Ao meu irmão Sérgio Filipe que é e sempre foi a minha inspiração e um exemplo a seguir.

A minha tia Luzineide Gadelha pelos seus esforços na minha alfabetização, e por ter me ensinando o beabá.

Ao meu noivo Henri Cavalcante por sempre me incentivar e motivar a concluir a faculdade, por priorizar os meus estudos, e por ser um ótimo companheiro e excelente pai.

Aos professores e colegas André Carrico e George Holanda por terem aceitado meu convite para integrar a banca e principalmente por contribuírem com esse trabalho.

E por último, mas não menos importante, aos meus professores, meus mestres que depositaram em mim seus tempos e conhecimentos, a todos, mas em especial a Melissa Lopes, que sem ela esse trabalho não seria possível.

A Laura Figueiredo, Monize Moura e Mayra Montenegro, por serem exemplos de mulheres fortes e inteligentíssimas e por tantos momentos que me compreenderem como mulher/mãe em meio a correria da vida acadêmica.

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RESUMO

Este artigo tem como objetivo abordar a temática do circo a partir das trajetórias dos artistas circenses potiguares, Nil Moura e Gena Leão desde seus primeiros anos de investigação na arte da palhaçaria até a fundação do Circo Grock. O presente texto está ancorado em entrevistas e alguns textos de pesquisadores das artes circenses, a saber: Ermínia Silva e Mário Bolognesi. A escrita deste trabalho de conclusão de curso tem como fim, colaborar com o trabalho de atrizes/atores que trabalham nessa interface teatro e circo.

Palavras-chave: ​Circo tradicional; Circo-teatro; famílias circenses; palhaço.

ABSTRACT

The objective of this article is to talk about the circus theme and the trajectory of Brazilian circus artists Nil Moura, and Gena Leão from their early years of research in the art of clowning until the founding of Circo Grock. This text is based on interviews and some circus arts texts by researchers Ermínia Silva and Mário Bolognesi. The writing of this final course work aims to collaborate with the work of actresses/actors who work in this interface between theater and circus.

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“Não sei se eu nasci no circo ou se o circo nasceu em mim mas de uma coisa estou certo e aqui assina quem diz:

O circense, minha gente tem mania de ser feliz.”

(Benedito Sbano)

O CIRCO VEM DE BERÇO

Após sete anos como graduanda no Curso de Licenciatura em Teatro, finalmente me deparei com o desafio de escrever meu trabalho de conclusão de curso (TCC). Fiquei durante meses pensando sobre o que eu gostaria de escrever, até que finalmente o tema surgiu a partir de algumas conversas familiares. Em um encontro que tive com meu pai descobri que ele, quando criança, viveu e trabalhou num circo, que percorreu os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Essa história aconteceu na década de 1960 e a lona de circo tinha o nome de Guarani.

Depois de saber sobre essa história e não compreender porque meu pai tinha tanto receio que eu seguisse a carreira artística, me propus a investigar esse fato que até então era desconhecido por mim.

Foi então que descobri que o sangue circense veio da minha avó, que se chamava Marina da Silva Jardim, e que antes de ser artista, era de origem cigana ou Rom1 como os ciganos mesmo se autodenominavam, no caso da minha avó, ela                        fazia parte do ​subgrupo Boiash​2​ .

A relação entre os povos ciganos e o circo é mais comum e antiga do que a

maioria das pessoas imaginam. ​No livro O circo no ​Brasil - História visual (TORRES, 1998), o autor relata que no século XVII, já havia relatos de padres que criticavam as condutas dos ciganos, porque os mesmos se apresentavam nas praças públicas logo após as missas da Igreja.

1727 - Dom Frei Antônio de Guadalupe, bispo do Rio de Janeiro (com jurisdição nas Minas Gerais) pede instrução ao Santo Ofício

1 Os rom são ciganos, vindos do Leste Europeu, tem vários subgrupos organizados de acordo com

suas profissões.

2 Subgrupo do clã Rom. Os Rom-Boiash são treinados especificamente para o Circo. Ou seja, estão

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sobre como proceder com os ciganos que infestam ‘as povoações da Capitania’, principalmente instaladas na Vila Rica de Ouro Preto, realizando com grande aparato, comédias e óperas imorais. (TORRES, 1998, p. 20-21)

Por onde passavam, os ciganos encantavam novos públicos com sua dança e seus truques. Mas, ao mesmo tempo, as referências a esse grupo de pessoas normalmente eram negativas, principalme​nte por estes não terem moradias fixas. Seus deslocamentos se davam em busca de novas oportunidades e também devido à fuga das perseguições. Rodrigo Corrêa Teixeira, em História dos Ciganos no Brasil (2008) relata a maneira como esses povos eram tratados:

De forma ambígua, embora estivessem individualmente estigmatizados negativamente enquanto artistas, os ciganos eram muitíssimo apreciados. O mais curioso é que os mesmo que os aplaudiam enquanto artistas, rechaçavam-nos enquanto indivíduos. (TEIXEIRA, 2008, p. 53-54)

Por conta disso, muitos ciganos artistas começaram a esconder sua origem, e passaram a se assumir como famílias circenses. ​Em uma entrevista cedida para a revista Rudge Ramos online3​, em 2008, o cigano e palhaço há mais de 65 anos, Benedito Sbano, ou Picoly como era conhecido por seu nome de palhaço, relata que as semelhanças entre os ciganos e o circo são nitidamente notáveis.

O circo tinha barraca e o cigano também. O circo vivia viajando, o cigano também. Cada circo era uma família. A vida do cigano e a do circo sempre foi a mesma. E os dois nunca se preocuparam em ter pátria…. a pátria era o mundo. (SBANO, 2008)

Benedito Sbano comenta ainda que muitas famílias circenses no Brasil são ciganas, mas que não assumem por medo de discriminação. S​ua filha Adriana Sbano, cigana do clã Kalderash, professora de circo e integrante de uma família

3http://www.metodista.br/rronline/noticias/entretenimento/pasta-3/nao-sabemos-de-quando-data-a-ori

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tradicional circense, diz4 que prefere esconder sua origem nos colégios de classe alta em que ministra aulas.

Em conversa com minha tia, irmã mais velha de meu pai, e que conviveu mais tempo com minha avó em vida, ela descreveu um pouco a trajetória de vida de minha avó Marina e fez uma referência a passagem dela pelas praças durante a década de 1950:

Ela me contava sempre e sempre com sorriso no rosto.

Dizia que eram dias alegres. Todos eles eram alegres, e cada um tinha uma função, apesar de todos aprenderem um pouco de tudo lá dentro. Mãe dançava, ela até me ensinava. [...] Seu pai não lembra não, ele era muito novo, ainda de colo. Mas eu lembro. Ela tinha uns vestidos compridos coloridos, e quase todos eram com os ombros de fora. Ela falava que os homens não a respeitavam, chamavam ela e as outras de “puta” mesmo. Nessa época eles trabalhavam também com outras coisas, como vendas. Ela largou a família cigana quando conheceu o Antônio, que foi meu padrasto, ele disse que ia assumir eu e seu pai, mas que ela teria que morar em uma casa com ele. Depois disso não teve mais contato com ninguém da família. Os outros partiram e ela ficou. E naquela época não tinha telefone ou internet para encontrar no Facebook (risos). (PIRES, 2020)

Mesmo depois de casada, minha avó sofreu muita discriminação e perseguição por pessoas que faziam parte de seu convívio social, pelo fato de ser cigana e artista. Por conta do distanciamento de sua família, de sua cultura e, por sofrer essa opressão da sociedade, Marina teve depressão e tirou sua própria vida de forma precoce. Motivo pelo qual meu pai tinha muito receio que eu entrasse para a vida artística.

Infelizmente, até hoje os ciganos carregam uma “má fama”. Mas, é importante frisar, que muitas das vezes essa itinerância tão característica no povo cigano não começou de forma espontânea, e sim para fugir de perseguições, ou simplesmente ir em busca de novas oportunidades.

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Minha avó não teve seu próprio circo, mas aprendeu muito desse universo e ensinou ao seu marido Antônio Filipe da Silva (padrasto do meu pai), o que sabia sobre a arte circense.

Após o falecimento de Marina, Antônio que agora tinha que trabalhar e ao mesmo tempo cuidar dos filhos, se viu sem muita opção, e decidiu seguir o estilo de vida nômade que a esposa levava, comprou uma lona de circo e começou a itinerar por várias cidades. É importante ressaltar que meu avô não era circense, mas aprendeu alguns números com minha avó, além de aulas de palhaçaria em um circo local. Meu pai que saiu das lonas ciganas com poucos meses de vida, não se recorda de nada que viveu por lá, mas lembra com carinho dos anos vividos no circo a partir dos seus 4 ou 5 anos de idade.

Minha família começou a fazer apresentações em praças, num palco improvisado, meu avô Antônio se apresentava como palhaço Niquinho. Após as apresentações eles passavam o chapéu para pedir dinheiro ao público, meses depois conseguiram comprar a própria lona e se juntaram a um parque de diversões. Meu pai relembra seus anos no circo:

Filha, começou eu tinha de 4 para 5 anos. Eu e Sandra que o acompanhávamos, pois a mais velha ficou com a vizinha para ajudar a cuidar dos mais novos que ainda eram de colo. Eu ajudava passando o chapéu e recolhendo os objetos. Quando passamos a itinerar, ficando 6 meses em cada cidade, os grupos locais se juntavam a gente, e eu sempre ia aprendendo coisas novas.(...) Uma parte engraçada era que eu ganhava dinheiro fingindo lutas no parque, tipo os telecatch5​, os garotos para impressionar as meninas,

me pagavam para simular uma luta e eu ia né. Era minha parte preferida. Depois disso eu fiquei na bilheteria, eu lembro que meu colchão ficava logo atrás, e eu ficava contando as horas para ir deitar. (...) Eu também fazia locuções, aprendi a trabalhar com o círculo de fogo e a gente ia se virando. (...) Tinha as partes ruins também, quando os garotos passavam a me aceitar no grupo da escola, eu já tinha que partir de novo. Passamos anos assim, passando por várias cidades como Mauá, Resende, Lorena, São Paulo e outras. (...)

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Antônio foi se perdendo nas bebidas e nas namoradas que trazia para lona, cada uma de uma cidade. E eu era maltratado por elas, filha, passei um mal bocado. Aí, na adolescência eu saí, fui embora, passei a cuidar de mim mesmo. Comecei a fazer grafite, depois tatuagem. Depois que saí, o Antônio também se desfez do circo. Foi cada um para um lado. (ROZA, 2020)

Em busca por mais informações, recorri à internet e a vários familiares que moram no Rio de Janeiro, mas infelizmente todos os registros dessa época foram perdidos, restando apenas as memórias de meu pai e de alguns tios e tias, o que não seria suficiente para escrever um artigo sobre essa experiência pessoal.

Por este motivo e ainda inspirada com a história da minha família resolvi manter o tema do circo como mote principal desse artigo. E, para isso, decidi aprofundar essa pesquisa me aproximando da história e realidade do circo Grock, que é sediado em Natal, Rio Grande do Norte.

Além de realizar entrevistas com as (os) artistas do Circo Grock, pretendo abordar alguns aspectos que surgiram durante as entrevistas, a partir dos estudos realizados pelos pesquisadores ​Mario Bolognesi, Luís Otávio Burnier e Ermínia Silva, ​a fim de compreender melhor alguns conceitos e nomenclaturas.

Espero com esse trabalho de conclusão de curso adentrar um pouco na história circense do Rio Grande do Norte e contribuir com outras (outros) estudantes de teatro que se interessem por esse tema e ou curiosos sobre esse assunto.

“EU NÃO NASCI NO CIRCO, MAS O CIRCO NASCEU EM MIM”

Foi assim que Nil Moura, um dos fundadores do Circo Grock, que tam​bém é conhecido como palhaço Espaguete respondeu a minha primeira pergunta 6​. Assim como meu pai, Nil também não vem de uma família tradicional de circo.

Ermínia Silva, em suas pesquisas, apresenta dois conceitos que se complementam e podem nos ajudar a entender melhor essa conjunção, sobre o que significa os termos “circo-família” e “circo tradicional”. Com relação ao primeiro, a pesquisadora afirma que se trata de um termo complexo, pois ele é constituído a

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partir da intermediação de vários aspectos que conformam a ideia do que vem a ser uma família circense. Ermínia vê o “circo-família” como:

A formação através da transmissão oral do saber, passado de ‘geração-a-geração’, de ‘pai para filho’, intermediado pela memória. (SILVA, 1996, p. 5)

A respeito do termo “circo tradicional, a pesquisadora defende que,

Ser tradicional, para o circense, não significava e não significa apenas representação do passado em relação ao presente. Ser tradicional significa pertencer a uma forma particular de fazer circo, significa ter passado pelo ritual de aprendizagem total do circo, não apenas de seu número, mas de todos os aspectos que envolvem a sua manutenção.

Ser tradicional é, portanto, ter recebido e transmitido, através das gerações, os valores, conhecimentos e práticas, resgatando o saber circense de seus antepassados. Não apenas lembranças, mas uma memória das relações sociais e de trabalho, sendo a família o mastro central que sustenta toda essa estrutura. (SILVA, 1996, p. 56)

Um exemplo de família tradicional de circo no Brasil são os Sbano, que mencionei anteriormente, esta família já passa da quinta geração de circenses. Mas existem outras que têm resistido bravamente.

Mas o ​circo-família só existiu até o momento em que estava fundamentado na forma coletiva de transmissão dos saberes e práticas; através da memória e do trabalho, e na crença de que era necessário que a geração seguinte fosse depositária do saber circense. Saber transmitido oralmente, que pressupõe também todo um ritual de aprendizagem para fazer-se e torna-se circense.

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Para melhor explicar o trecho acima, Ermínia Silva salienta que o “circo-família” não deixou de existir, ele perdura até os dias de hoje. ​Mas, esse aprendizado passou por modificações, um exemplo disso é que com o tempo os pais passaram a decidir se seus filhos iriam ter uma educação escolar ou no circo. E muitos passaram a dar novos passos fora da lona.

Como todo o conhecimento era passado pela oralidade, com receio de que essa arte ficasse esquecida ou se perdesse com o tempo e também por uma questão financeira, esses artistas mais experientes decidiram repassar o conhecimento à frente, para os “não-circenses”. Ou seja, as próprias companhias tradicionais foram as responsáveis por formar artistas amadores e profissionais na arte do circo.

Os circenses sempre indicavam uma figura que se responsabilizava e possibilitava que se tornassem profissionais do picadeiro. O condutor do processo de aprendizagem que formava um artista era considerado um mestre. Mestre da arte circense, mestre de um modo de vida, mestre em saberes - Ou seja, um mestre “pertencente à tradição”, pois durante toda a sua vida participou das experiências de socialização/formação/aprendizagem que caracterizam o circo-família. (SILVA,1996, p. 77)

A oralidade continuou presente como ferramenta fundamental para transmissão do conhecimento, a nova geração de artistas circenses nasceu sob essa batuta de grandes mestres que traziam em si a tradição do circo.

A partir disso, surgiram então as escolas. A pioneira no Brasil foi a Academia Piolin das Artes Circenses, localizada em São Paulo7​, e que funcionou de 1978 a 1983, encerrando suas atividades por falta de verba. Ainda no ano de 1983, surgiu a Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro8 que é ainda hoje uma referência mundial e a Escola de Circo Picolino, de Salvador, anos 1980. Na Europa e na Inglaterra essa prática de profissionais de circo transmitirem seus conhecimentos para artistas e não artistas já existia bem antes da inauguração da primeira escola do Brasil.

7Ver mais em:​https://academiapiolin.wordpress.com/about/

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Essa oportunidade de um artista não-circense fazer parte, ou até mesmo ser proprietário de circo iniciou uma nova fase que foi denominada de “circo moderno”, tendo o inglês, Philip Astley9​(1742-1814) como o pioneiro desse movimento.

Muitos foram os grupos que se formaram no século XVIII, tendo destaque o de Philip Astley, que iniciou suas apresentações por volta de 1766, juntamente com outros ex-oficiais da cavalaria Britânica. Em 1770, alugou um terreno vago, construindo tribunas em frente a uma pista circular, ainda a céu aberto, construindo assim as bases do circo moderno. (SILVA, Ermínia. 2003)

A principal diferença entre o circo tradicional e o moderno é que no primeiro existe uma tradição que é passada entre gerações, já no segundo os conhecimentos são adquiridos através da formação em escolas ou grupos de estudos circenses, que dão a oportunidade de troca de saberes. Vale se ater que esses períodos aconteciam em paralelo e um se inspiravam no outro.

Partindo dessas definições, posso afirmar que, apesar do Circo Grock em suas apresentações utilizar elementos do circo tradicional, eles não são o que podemos denominar de “uma família tradicional”. Ao contrário, trata-se de artistas que fazem parte de uma nova geração, que buscou na formação acadêmica e no intercâmbio com outros artistas circenses mais experientes, maneiras de enriquecer o seu fazer artístico.

A fundadora e o fundador do Circo Grock, Gena Leão (palhaça Ferrugem) e Nil Moura (palhaço Espaguete) são artistas formados pelo Curso de Educação Artística: Habilitação em Teatro da UFRN, que movidos pela paixão pelo circo resolveram construir suas trajetórias no picadeiro.

A história de amor pelo circo na verdade nasceu um pouco depois da paixão que já sentiam um pelo outro. A vida no circo é um dos frutos dessa união.

9 É considerado o “pai do circo moderno”. Além de realizar seus números em cima de um cavalo foi

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Palhaça Ferrugem e Palhaço Espaguete Fonte: site do grupo

Durante o período da graduação, os dois artistas iniciaram uma pesquisa sobre alguns espetáculos de circo que poderiam ser realizados no formato teatral, e foi a partir daí que eles começaram a se interessar mais pelo tema. Além dos livros, o casal procurou se aproximar e trocar experiências com outros artistas de circo, a saber, o Palhaço Facilita 10​, o Palhaço Xupetim 11 e o palhaço Gravêto12​. Nil e Gena iam assistir as apresentações desses artistas mais de uma vez e anotavam tudo que viam num caderninho. Não chegaram a ter aulas propriamente ditas, mas

10 José Milton Mariano da Silva, nasceu na cidade alagoana de São José da Laje e virou cidadão

natalense em 2019. Começou a trabalhar no circo ainda adolescente: trabalho na limpeza, na venda de pipoca e anos depois se tornou o Palhaço Debulha. O nome “Facilita” foi uma sugestão do grande músico Luiz Gonzaga, na época em que os dois se apresentavam na mesma lona. Facilita é nome de uma música do rei do baião. Ver mais no documentário” O Circo do Palhaço Facilita”: https://www.youtube.com/watch?v=0wxd8V_PdAg

11José Oscar Espínola, é um palhaço paraguaio que já ganhou muitos prêmios e é considerado um

dos maiores do Brasil. Na época, em que os artistas do Circo Grock entraram em contato, ele fazia parte do elenco do “Grande Circo Popular do Brasil” (RJ), coordenado pelo ator Marcos Frota.

12 Granval Galeguito era filho e neto de artistas circenses. Foi trapezista e equilibrista antes de ser

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tiveram conversas enriquecedoras que contribuíram muito para o pontapé inicial. Ambos os artistas tiveram uma grande influência no trabalho da dupla.

Nil Moura em 1997, no espetáculo teatral “Cara Melada”, realizado no Teatro Alberto Maranhão (Fonte: Instagram do Grupo).

No final do ano 2000, Nil e Gena começaram o projeto de seu tão sonhado circo. Iniciaram em um projeto de extensão em parceria com o Museu Câmara Cascudo (UFRN) chamado: Museu Educação Patrimônio Picadeiro Potiguar. Foi um projeto que consistiu em apresentar espetáculos educativos e oferecer oficinas permanentes de artes circenses voltadas para as escolas públicas. Além das escolas, o projeto também atendia estudantes dos cursos de Artes e Educação Física, da UFRN. Nesse primeiro momento, a lona de circo recebeu o nome de “Grand Circo Trampolim”, depois com a saída de um outro integrante que participou do projeto, eles batizaram a lona de “Circo-teatro Cara Melada”. Com esse último, eles se apresentaram em Natal e circularam pelo interior durante três anos até resolverem se mudar para a Europa.

Em seu depoimento, Nil explica que o fato ​do novo nome incluir o termo “Circo-teatro” atrapalhou muito a itinerância da companhia pelo interior do estado.

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necessariamente o mesmo. ​(Entrevista com Nil Moura realizada em 02/09/2020)

Imagem do projeto de extensão da UFRN, quando a lona ficou durante um tempo fixada no Museu Câmara Cascudo. O espetáculo tinha duas horas de duração e era apresentado apenas pelos palhaços Ferrugem e Espaguete (Fonte: Instagram do grupo).

Para compreender melhor como se deu o “circo-teatro”, recorro ao pesquisador, Mario Bolognesi13 (2013) que relata que, no final do século XVIII, desde que o circo se constituiu como espetáculo, no formato moderno do termo, o mesmo despertou o interesse de uma gama de artistas. Dado o seu potencial cênico anti-iluminista, os teatrólogos do início do século XX que investiram no rompimento com a cena realista não escaparam deste mesmo encanto pelo circo. Encenadores, cenógrafos, iluminadores e atores foram buscar inspirações e referências para a criação teatral.

Mas, enquanto o teatro buscava novidades no circo para as novas obras, o mesmo acontecia com o circo.

O circo também encontrou no teatro muitas possibilidades de ampliação de seu espetáculo. Esquetes, mimodramas e hipo

13 Mario Fernando Bolognesi é autor do livro “Palhaços”. Atualmente é professor visitante junto ao

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dramas, desde a formação do circo, compunham o conjunto apresentado no picadeiro. (Bolognesi, 2006, p. 09)

No Brasil, a consolidação do circo-teatro se deve ao primeiro palhaço negro, Benjamin de Oliveira14​, ele foi o idealizador e criador do primeiro circo-teatro do nosso país.

A princípio, o circo-teatro era uma apresentação teatral, que na maioria das vezes surgia no final dos espetáculos de circo e normalmente eram comédias e melodramas. Em uma entrevista cedida para a TV cultura durante o evento Palhaçaria em 201115​, Benedito Sbano relembra um pouco de sua experiência no circo-teatro:

Eu comecei com o circo-teatro, onde era palco e picadeiro. Se apresentava a primeira parte com um número de circo e depois um melodrama, uma comédia. Então esse circo-teatro ficava 3, 4 meses na cidade, porque a gente levava uma peça por dia, então podia ficar. Depois trabalhei também em circo de tiro. (Sbano, em entrevista para a TV cultura em 2011)16

Em uma outra entrevista17 Sbano comenta que o “circo-teatro” sofreu decadência após os anos 1960, e explica o que ele chama de “circo de tiro”, eram os circos que levavam para as cidades apenas os números circenses e que rodavam poucos dias nos interiores dos estados. Segundo ele, chegavam e saíam rápido “como uma bala de festim”.

Ainda sobre o “circo-teatro”, Ermínia Silva prefere resumir o conceito como sendo a presença da teatralidade no circo.

14 Benjamim de Oliveira foi um artista, compositor, cantor, ator e palhaço de circo. Ele é mais

conhecido por ser o primeiro palhaço negro do Brasil. Morreu aos 83 anos, dia 3 de Maio de 1954, na cidade do Rio de Janeiro.

15 Trata-se do sexto evento de palhaçaria paulistana, que aconteceu na cidade de São Paulo e foi

realizado no dia 06/11/2011.

16 Entrevista promovida pela TV Cultura. Ver mais em:

tvcultura.com.br/videos/9056_benedito-sbano-mobile-06-11-2011.html

17 Entrevista concedida para Camila Oliveira e Kallyny Portugal, da revista online Rudge Ramos. Ver

em:

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A história polifônica e polissêmica do circo brasileiro nos autoriza mais a falar em teatro no circo apresentando todas as modalidades possíveis de representações teatrais do que em circo-teatro com um gênero único, ou pelo menos dois como se tem definido: comédia e (melo)drama.

A formação do artista circense em cada período histórico e dentro do complexo significado do conceito de teatralidade circense. Uma das principais características desse fazer circense de todo o século XX, até pelo menos 1950, era sua contemporaneidade com a diversidade de gêneros teatrais, musicais e da dança produzidos, o que garantia presença nos palcos/picadeiros diálogo e mútua constitutividade que estabeleciam com os movimentos culturais da sua época. (SILVA, 2009, p.03 )

Desse modo, essa teatralidade no circo vai além das peças apresentadas ao final de cada espetáculo circense, ela passou a estar presente também na preparação dos artistas circenses. Ainda que o “circo-teatro” tenha perdido seu espaço no picadeiro, é possível perceber sua influência nos circos atuais, em que a teatralidade é um traço característico na condução dos espetáculos e na realização dos números.

Os artistas do Circo Grock por serem de teatro e de circo, conforme mencionei anteriormente, tinham o “circo-teatro” como característica forte em seu repertório. Mas, por conta da circulação no interior não ter dado muito certo, resolveram partir para uma nova experiência. Entre idas e vindas do Brasil para a Europa, o casal resolveu se dedicar a estudar as raízes do circo tradicional e a arte do palhaço. Nil conta que estudou palhaçaria na Itália e na Suíça, onde fizeram uma especialização em palhaçaria na Last Minute Circustheater, que ​pertencia ao Theater Gesselschaft Malters. Trata-se de um projeto que foi coordenado pelos artist​as, Urs Steiner (teatro) e Andrey Togni (circo).

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A gente trabalhou em parques temáticos no estilo Disneylândia por exemplo, porque eles tem circos dentro dos parques.(...) Mas o circo com um espetáculo de circo mesmo, normal. Nós trabalhamos num teatro que era uma réplica do Globe Theatre, de Shakespeare, dentro de um parque temático também. Já trabalhamos em um circo chamado Circo Revú que foi na época que vivemos no Sul da Alemanha e no Europa Park, que fica na cidade de Rust, também no Sul da Alemanha. Nós trabalhamos um bom tempo lá, com um espetáculo aberto, um espetáculo ao ar livre que a gente fazia em cima de um trailler que se transformava em um palquinho. Logo no começo foi um espetáculo traduzido para língua alemã, depois de tanto tempo a gente já sabia falar, e contávamos uma história de circo. Eu e minha esposa, meu filho era pequeno na época. E a gente viveu um bom tempo assim, fazendo esse tipo de trabalho. Fizemos trabalhos de rua, trabalhos de teatro, trabalhos nas praças e por fim, terminamos trabalhando em grandes companhias de circo. Nós nos apresentamos também no Circo Nacional da Suíça, que é o circo Knie. Nós tivemos contato com o Circus Nock que era dirigido por Eugene Chaplin, filho de Charlie Chaplin. Quando nós tivemos por lá conhecemos o Eugene, que era o diretor dos espetáculos, tivemos contato, recebemos muitas e muitas informações, muitas coisas boas e toques interessantes. Enfim, nós tivemos uma carreira bem extensa na Europa. Nos primeiros 4, 5 anos a gente estava mais estudando mesmo e nos últimos 10 anos a gente foi desenvolver tudo o que a gente estudou e aprendeu. (Entrevista com Nil Moura, realizada em 24/10/2020 via videoconferência)

Durante esses quinze anos que passaram na Europa, os artistas do Circo Grock mantinham um trabalho em paralelo aqui no Brasil. Como o visto que eles tinham permitia que passassem apenas nove meses na Europa, os outros três meses que estavam no Brasil eles faziam apresentações compartilhando o que tinham aprendido fora do país. Ainda na Europa, tiveram contatos com vários artistas de rua como o italiano Nino D’Angelo 18​, e com ele fizeram diferentes performances de praça. Posteriormente, fizeram circulação em circos, parques 18​É ator e mímico na cidade de Milão. Nil aprendeu mímica com o amigo e juntos se apresentaram 

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temáticos, teatros, ruas e praças, em países como a Bélgica, França, Itália, Suíça e Alema​nha.

Muitas vezes, a dupla fazia espetáculos de duas horas, atuando apenas como palhaços. Ao longo de cinco anos, a atriz Gena Leão fazia um palhaço com traços e roupas masculinas. Isso porque anos atrás, era muito difícil encontrar mulheres fazendo palhaços, geralmente elas eram dançarinas, partners, dubladoras no circo, ou seja, não existia o protagonismo da mulher no picadeiro e também era mais difícil de ser contratada. Contudo, em 1986, Gena já tinha certeza do que queria e resolveu encarar esse novo desafio de se tornar uma palhaçA.

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Eu tive no momento para não ficar sem trabalho, foi realmente ser palhaço, mas não que eu quisesse. Se eu tivesse mais uma companheira ou duas eu me sentiria mais fortalecida. - Palhaça, é isso que eu sou! (Trecho da entrevista de Gena Leão para Manuela Matusquella, postado no instagram do Circo Grock em 17/09/2020)19 Esse movimento de mulheres se tornarem palhaças nos picadeiros, da que Gena se refere, teve início na década de 1990. Mas não foi apenas essa a mudança, atualmente as mulheres no Circo têm assumido cada vez mais funções e ganhado mais espaço entre os homens.

Nos últimos anos, por exemplo, a atriz Andrea Macera (palhaça Mafalda Mafalda) fundou, em São Paulo, a Escola de Palhaças e está à frente do EIMPA - Encontro Internacional de Mulheres Palhaças, que já está em sua 6a edição.

SEJAM TODOS BEM VINDOS AO CIRCO GROCK!

De volta ao Brasil, já tinham uma nova visão de circo, juntaram um bom dinheiro com os trabalhos feitos fora do país e compraram uma lona própria e menor para facilitar a itinerância pelo país. A dupla resolveu mudar novamente o nome de sua lona de circo para marcar esse recomeço, dessa vez para o Circo Grock. Este novo circo, que permanece até os dias de hoje, teve sua estreia oficial em Abril ​de 2006, no Largo do Machadão, na cidade de Natal RN.

Fonte: Acervo Pessoal (2018)

19 Entrevista concedida para Manuela Matusquella para o quadro palhaças do mundo, trecho retirado

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A escolha do nome do circo foi uma homenagem ao rei dos palhaços, o Karl Adrien Wettach, mais conhecido como palhaço Grock, que nasceu no dia 10 de janeiro de 1880, na Suíça. Esse artista se converteu no rei dos palhaços no começo do século XX. Uma figura icônica, de talento ímpar. O casal Nil e Gena tem uma grande admiração por esse artista, e foi por esse motivo que se deu a escolha do nome, além de segundo eles, ser de fácil pronúncia e grande impacto.

Foto do palhaço Grock. Fonte: internet.

Com mais de 30 anos de carreira como palhaços, o casal Nil Moura e Gena Leão gos​tam de dizer que tem um estilo bem diferente de se apresentar no picadeiro. Por terem uma formação teatral eles desenvolveram um estilo próprio, que os diferencia um pouco dos palhaços mais populares. Segundo Nil, ​“A gente buscou a linguagem do palhaço mais antigo, tradicional. Nosso estilo clownesco mistura linguagens do palco e do picadeiro, um palhaço bem teatral, mais poético”​.

Luiz Otávio Burnier que foi ator, clown e criador do Lume Teatro (Núcleo de Pesquisas Teatrais da Unicamp) relata que o termo ​clown vem de ​clod, ​que etimologicamente tem ligação com o termo inglês “camponês”. Já o termo palhaço vem do italiano ​paglia (palha), material que revestia colchões, o mesmo material de que era feita as roupas dos primeiros cômicos: panos dos colchões, tecido grosso, listrado.(BURNIER,2001, p. 205)

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(...) palhaço e clown são termos distintos para se designar a mesma coisa. Existem, sim, diferenças quanto a linha de trabalho. Como, por exemplo, os palhaços (ou clowns) americanos, que dão maior valor à gag, ao número, à ideia; para eles, o que o clown vai fazer tem um maior peso.

Por outro lado, existem aqueles que se preocupam principalmente com o como o palhaço vai realizar seu número, não importando tanto o que ele vai fazer; assim, são mais valorizadas a lógica individual do clown e sua personalidade; esse modo de trabalhar é uma tendência a um trabalho mais pessoal. (Burnier, 2001, p. 205)

Percebe-se da fala de Nil que ele ao mesmo tempo que trabalha números clássicos (gags), o que o liga à tradição, ele também traz uma carga poética relacionada ao teatro. Nos espetáculos do Circo Grock há números de malabares, equilibristas, atores, mágicos e os palhaços Espaguete e Ferrugem que além de realizarem os seus próprios números, conduzem as demais atrações como mestres de cerimônia. A dupla mistura e encanta o público, com um estilo de palhaço que une características teatrais e a linguagem circense.

Uma lona de circo que começou há 15 anos atrás, apenas com o casal Gena e Nil, e que hoje já se constitui como um circo de administração familiar. O filho do casal, Lion Nathan começou no circo aos 4 anos, hoje tem 32 anos e é formado em Comunicação pela UFRN. Ele é, inclusive, o responsável por toda a parte de divulgação do Circo Grock nas mídias, além de também ser artista do espetáculo, atuando como bilheteiro, palhaço e equilibrista. Lion conheceu sua esposa através do circo, pois ela já era de família circense, ela e sua família estão circulando junto com o Circo Grock e nesse momento, eles esperam um bebê que vai dar início a uma nova geração que vai nascer dentro do circo.

Além de seu filho e a família de sua nora, Nil relat ​a a chegada de outros artistas ao seu Circo, que agora passam a formar uma única família.

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que são como familiares mesmo pra nós, a gente considera da família também.

Agora família consanguínea só eu, minha esposa e meu filho. E agora está nascendo o filho do meu filho, que já se dá a geração dos ‘nascidos no circo’. (Entrevista com Nil Moura, realizada em 02/09/2020 via whatsapp)

Para compor os espetáculos, eles adotaram uma prática de contratar um grupo de artistas circenses em cada cidade por onde passam. Estes artistas ficam com eles apenas durante a estada na região, ou seja, por um curto período de tempo.

Mais do que artistas, o casal de palhaços também têm se dedicado à Escola de Circo Grock, local em que eles ensinam a arte da palhaçaria seja presencial com oficinas nas cidades onde chegam e agora também com turmas online por conta da pandemia do Covid 19. Anos atrás, eles foram responsáveis pela organização e direção da primeira escola de circo do RN, a EPAC (Escola Potiguar das Artes do Circo), que acontecia na própria lona da trupe, contava com a colaboração voluntária de quinze artistas e tinha como objetivo a formação e reciclagem de artistas circenses e a preparação de profissionais ligados ao mercado de entretenimento, tais como: recepcionista, auxiliares de montagem e manutenção, divulgadores, animadores e técnicos20​.

Tanto Nil como Gena acreditam muito em um projeto que envolve duas linhas distintas que são complementares: a produção artística e a formação de novos artistas circenses e público. Desde o início, eles buscam transitar nesses dois campos, pois acreditam que o contato direto com o circo é essencial para que tanto essa arte como seus artistas possam resistir e sobreviver.

Há algum tempo, Nil e Gena criaram um evento que se chama “Circo na Escola”, que consiste em propor nas escolas públicas, a aproximação da criança às artes circenses. Desse modo, esse público infantil pode vivenciar a arte circense, além de despertar o interesse desses espectadores em frequentar o circo.

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Fonte: Acervo Pessoal

Em seus quinze anos morando na Europa, Nil percebeu que mesmo com a concorrência das grandes mídias, o Circo tinha seu espaço na vida das pessoas e o motivo disso, é porque existem ações efetivas de inserção das Artes nas instituições escolares. Foi a partir dessa experiência, que os artistas do Circo Grock compreenderam que muito do seu trabalho necessitava de um engajamento para além da qualidade artística, mas também elaborando formas de proceder com sua

atuação profissional, diversificando seus locais de trabalho, procurando parcerias e

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O CIRCO GROCK AGRADECE A SUA PRESENÇA!

A escrita deste artigo despertou meu interesse por vários motivos, primeiramente porque a ideia surgiu a partir de um relato familiar que me permitiu voltar e conhecer mais sobre minhas próprias origens.

Num segundo momento e graças ao desenrolar da p ​esquisa percebo que pude me reencantar pelo circo e porque não dizer, pelo teatro. Conhecer um pouco mais sobre a história dos artistas Nil e Gena me fez compreender, que muitas vezes arte e família caminham juntas e que isso pode ser feito de uma forma prazerosa e amorosa. Escrevo isso porque ao longo da minha trajetória na graduação, por vezes me vi bastante em crise tentando conciliar a vida pessoal com a acadêmica.

Meu processo de aprendizado como professora-artista aconteceu paralelamente ao nascimento do meu filho e em vários momentos me vi dividida sem saber o que fazer e se daria conta de tudo. Por isso, conhecer de perto a realidade dos artistas do Circo Grock nessa reta final da graduação, não só me fortaleceu como também me encheu de esperança para essa nova fase da minha vida que se inicia agora.

Não se trata apenas de uma família que agrega outros artistas para elaborar um espetáculo e que se esforçam dia-a-dia para o show não parar. E sim, o relato de uma experiência, que não só preza por qualidade e excelência, como também tem como missão resgatar o hábito das pessoas de frequentarem os circos.

Em tempos em que os grandes circos agregam em suas programações atrações como o Globo da Morte - com várias motocicletas - e que têm como temas super heróis e personagens infantis - que surgiram na TV e nas telas de cinema -, é essencial que algumas famílias de circo, como os artistas do Circo Grock, insistam em números tradicionais, na arte da palhaçaria, na poesia e nas características que de alguma forma nos fazem recordar da essência do circo: “artistas de carne e osso”, uma lona colorida, lampadinhas, palco, arquibancadas e, principalmente a relação próxima que se estabelece entre a (o) artista e a (o) espectador (a).

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mais em tempos tão difíceis como esse em que estamos vivendo em meio a uma pandemia.

Acompanhar um pouco da trajetória do Circo Grock é perceber que num momento como esse, completamente atípico, é possível se reinventar. E, nesse sentido, estes artistas com trinta e dois anos de palhaçaria, estão oferecendo pela primeira vez, cursos e palestras online.

Referências bibliográficas:

BOLOGNESI, Mario. ​CIRCO E TEATRO: aproximações e conflitos. ​11 p. Artigo para Unesp - SP, 2006.

_________________ ​O circo “civilizado”. ​11 p. Artigo para Universidade Estadual Paulista, 2002.

_________________​ Palhaços. ​São Paulo: Editora Unesp, 2003.

BURNIER, Luís Otávio. ​A arte de ator: da técnica à representação. ​Campinas: Unicamp, 2001.

CAIRUS, Brigitte Grossman. ​CIGANOS ROMS NO BRASIL: Imagens e identidades diaspóricas na contemporaneidade ​- 2018. 279 p.

LEITE, Emanuel Alvez. ​Lugar de circo é na escola: O estudo da palhaçaria em experiência artistica pedagógica. ​128 p. Natal - UFRN. 2018.

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PANTANO, Andreia Aparecida. ​A Personagem Palhaço. ​São Paulo: Unesp, 2007. RUIZ, Roberto. ​Hoje tem espetáculo? As origens do circo no Brasil. ​Rio de Janeiro: Inacen, 1987.

SILVA, Ermínia. ​Circo-teatro: é teatro no circo. ​Unicamp. 2009.

_____________O circo: sua arte e seus saberes. O circo no Brasil do século XIX a meados do XX. ​Dissertação (Mestrado). Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 1996.

_____________As múltiplas linguagens na teatralidade circense: Benjamim de Oliveira e o circo-teatro no Brasil no final do século XIX e início do XX. ​2003. 185 f. Tese (Doutorado) - Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.

SOUZA, Walter. ​De cor e salteado: ​Oralidade e memória do circo. São Paulo: comunicação & educação: USP, 2011.

TEIXEIRA, Rodrigo Corrêa. ​História dos ciganos no Brasil. ​Recife - Núcleo de Estudos Ciganos, 2008, 127 p.

TORRES, Antônio. ​O circo no Brasil. ​Rio de Janeiro: Funarte, 1998. Entrevistas:

Entrevista com Nil Moura, realizada nos dias 02/09/2020 e 24/10/2020 via videoconferência.

Depoimentos:

PIRES, Rubiane Jardim. ​Depoimento concedido a Marina Gadelha. ​Cabo frio, RJ,

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ROZA, Sérgio Jardim. ​Depoimento concedido a Marina Gadelha. ​Natal, RN, 26 jul. 2020.”

Sites e outras páginas que foram consultadas para a realização da pesquisa: http://www.metodista.br/rronline/noticias/entretenimento/pasta-3/nao-sabemos-de-qu ando-data-a-origem-do-circo2019​ ​acessado em 29/08/2020 ​https://www.funarte.gov.br/escola-nacional-de-circo-2/​ ​acessado em 29/08/2020 ​https://academiapiolin.wordpress.com/about/​ ​acessado em 02/10/2020 https://www.youtube.com/watch?v=0wxd8V_PdAg​ ​acessado em 29/08/2020 tvcultura.com.br/videos/9056_benedito-sbano-mobile-06-11-2011.html acessado em 29/08/2020 http://pontodeculturaepac.blogspot.com/​ ​acessado em 10/10/2020 http://www.oexplorador.com.br/benedito-sbano-o-palhaco-picoly-considerado-um-do s-palhacos-mais-antigos-do-brasil/​ ​acessado em 29/08/2020

BRIGITTE. Caravana do vento. 2013 via

Referências

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