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Difusão e Controle de armas em Mariana (MG):

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Difusão e Controle de armas em Mariana (MG): 1707-1736

Izabella Fátima Oliveira de Sales

O objetivo de nosso trabalho é analisar a difusão e o controle de armas no termo de Mariana, entre 1707 a 1736. Esse período é marcado por várias revoltas e pela instauração de instituições representativas do poder reinol.

Pretendemos constatar de que forma a metrópole tentou evitar que seus vassalos se armassem para as lutas contra a ordem estabelecida e impedir que o sistema escravista fosse ameaçado por escravos armados. Poderemos conferir, também, se o controle do porte de armas tinha a finalidade outra de diminuir o número de possíveis revoltas. A partir daí, nosso trabalho foi constatar se as leis eram ou não respeitadas pela população da Vila de Nossa Senhora do Carmo e região.

Para a realização desse trabalho utilizamos como fonte: inventários post morten e processos crime, que se encontram na Casa Setecentista de Mariana; autos de Devassas eclesiásticas, que pertencem ao acervo da Arquidiocese de Mariana; ordens régias e bandos de governadores que dizem respeito ao porte de armas, publicados na Revista do Arquivo Público Mineiro e documentos diversos que tratam sobre a questão encontrados no Arquivo Histórico Ultramarino e no Códice Costa Matoso.

Em nosso trabalho analisamos a difusão e o controle das armas em Mariana, tendo como objetivo verificar se, no período que vai de 1707 a 1736, as autoridades que representaram a coroa tentavam restringir o uso de armas pela população. Dentro desse contexto, privilegiamos os instrumentos criados especificamente como meio de ataque ou defesa; com exceção das facas, já que apesar de serem objetos destinados a outros fins, são muito utilizadas nas agressões físicas. A partir daí, nos detivemos nos mecanismos que a metrópole utilizava para controlar o porte de armas entre livres e escravos, com o intuito de evitar que eles se armassem, podendo colocar em risco a ordem estabelecida; ademais, essas medidas tinham como finalidade diminuir os crimes praticados na colônia. E, finalmente, verificamos se essas leis foram ou não respeitadas pela sociedade.

As armas são utilizadas desde os primórdios da humanidade. Servem para

caçar animais ou para se defender deles; são usadas como instrumentos de ataque e

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defesa entre os próprios homens e de agressão, tanto na fundamentação de hierarquias sociais como na conquista de povos. Por isso mesmo, não é de se estranhar que as armas de fogo tenham sido um dos principais elementos utilizados pelos europeus, para a conquista do Novo Mundo.

Na luta contra os animais selvagens e contra os povos locais, os colonizadores empregaram regularmente as armas de fogo. Os efeitos desses “instrumentos” são discutidos pelos historiadores. Inicialmente, as tribos indígenas se aterrorizavam com o estouro e com o fato de o projétil ser invisível; depois as armas tornaram-se objetos comuns aos próprios nativos, que as empregaram contra os invasores.

Quando nos voltamos para a análise da tentativa da coroa em controlar a difusão, circulação e uso de armas, no seio da população em geral, é marcante a preocupação com os acontecimentos ocorridos durante a Guerra dos Emboabas. Ao se preocuparem com a revolta, as autoridades metropolitanas tinham suas razões: vários documentos consultados revelaram que, durante o referido conflito, o uso de armas foi mais generalizado. Em 1750, um autor anônimo, por ordem do ouvidor Costa Matoso, relembrava o início da ocupação de Minas Gerais, afirmando que nas minas (...) ouro era aos montes, mas também as mortes a chumbo(...) eram muitas, todos os dias.

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Além disso, era comum (principalmente em momentos de revoltas) que os senhores armassem seus escravos, gerando uma contradição, pois, durante o período colonial, garantir a permanência do sistema escravista, através da restrição das armas aos escravos, era uma preocupação tanto da coroa portuguesa quanto dos senhores. Nas ordenações, leis extravagantes, cartas régias e determinações expedidas pelas autoridades locais existiam constantes menções à repressão aos quilombos, à proibição de ajuda aos fugitivos, assim como indicação das medidas que deveriam ser tomadas quanto aos roubos, brigas e assassinatos praticados pelos cativos.

CONCLUSÃO

Ao estudarmos a difusão e o controle das armas em Mariana, concluímos que,

para as autoridades da época, era muito difícil controlar o porte de armas na região,

visto que o uso desses instrumentos era comum na sociedade portuguesa, prática que se

difundiu também no Brasil colonial. Mas, as armas não eram utilizadas somente por

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uma questão de status; para a ocupação do sertão seu uso foi indispensável. Após o surgimento das vilas e arraiais, a difusão das armas entre a população se tornou cada vez mais necessária.

No início da ocupação do sertão, a disseminação, o uso de armas tornou-se indiscriminado porque as instituições administrativas, judiciais e policiais da colônia ainda não estavam efetivamente instaladas, o que permitia aos senhores fazerem sua própria defesa e a de seu patrimônio, favorecendo até mesmo o recurso de armar seus escravos; a Guerra dos Emboabas prova bem esse fato.

Constatamos que para a coroa era extremamente difícil legislar sobre a posse, o porte e a utilização de armas no Brasil. Inicialmente, o Estado Português tentou impedir o uso de armas por parte dos escravos, pois, esses instrumentos se constituíam em elementos de definição da condição social e, com eles, a rebeldia escrava contra os senhores se tornava bem mais ameaçadora. Entretanto, desde o início da ocupação das minas, os homens brancos armavam seus escravos para garantir a defesa deles mesmos, os brancos, e a de suas propriedades. É nesse fato que se encontra uma das grandes contradições do sistema escravista, além do que os cativos eram armados para combater outros cativos.

Nos processos crimes, devassas eclesiásticas e consultas ao Conselho Ultramarino, percebemos que a circulação de armas foi bastante significativa entre a população em geral, e entre os escravos em particular. Os negros tinham acesso às mesmas, através da autorização dos próprios senhores, do roubo e do contrabando. Os delitos praticados por essa camada da população, especialmente pelos quilombolas, eram sempre freqüentes, mas não chegavam a ameaçar o sistema escravista.

Quando a coroa resolveu proibir o porte e uso de armas pelas pessoas de toda e qualquer condição, a população não aceitou, sob argumentos de que armas eram indispensáveis para conter os insultos e a rebeldia dos escravos. Além disso, os próprios brancos cometiam crimes até mesmo com armas proibidas, desrespeitando a lei.

A aplicação das leis era complicada; quase sempre servia aos interesses dos

senhores e à manutenção do sistema escravista; relembramos aqui o caso do menino

escravo, citado no capítulo II, que matou o cavalo de alguém com uma facada – o

corregedor da comarca tentou resolver a situação da forma que teria sido mais benéfica

ao senhor.

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A pesquisa indicou que a coroa portuguesa tentou de todas as formas conter o uso de armas no Brasil colonial, mas em vão. Nem o aparato legal rígido, como as Ordenações Filipinas, nem a organização administrativa, judicial ou policial conseguiram impedir que a população, incluindo os cativos, usasse armas. Através do aparato legal que dizia respeito à questão das armas, vimos que o maior temor da coroa não eram os motins e revoltas organizadas pela população livre, mas sim as fugas, crimes e rebeliões praticados pelos negros, pois a metrópole preocupava-se com o risco de que as armas nas mãos destes últimos ameaçassem a ordem escravista.

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- Livro de Devassas (1º) 1722-23 AHCSM

- Inventários post- mortem- 1713-1736 - Processos crime

1.3 - AHU

- Consultas feitas ao Conselho Ultramarino.

1.4 – APM

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Coord. Geral – Luciano Raposo de Almeida Figueiredo e Maria Verônica Campos, estudo crítico Luciano Figueiredo.

2.2- RAPM

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2.3- Ordenações Filipinas. Lisboa: Fundação Caloute Gulbenkiam.1985. Livros III, IV e

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