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A entrada da África do Sul no BRIC

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Academic year: 2021

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BRICS

Monitor

A entrada da África do Sul no BRIC

Abril de 2011

Núcleo de Análises de Economia e Política dos Países BRICS BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisa BRICS

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A entrada da África do Sul no BRIC

Abril de 2011

Núcleo de Análises de Economia e Política dos Países BRICS BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisa BRICS

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A entrada da África do Sul no BRIC

A entrada da África no Sul no BRIC

Paula Sitonio

A entrada oficial da África do Sul no grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China deu-se durante a realização da III cúpula dos BRIC, na cidade de Hainan, em 14 de abril. Este acontecimento foi precedi- do por uma série de visitas realizadas aos países membros em 2010 pelo presidente sul-africano, Jacob Zuma1 . Como respos- ta ao intenso lobby, em 24 de dezembro de 2010, o Ministro de Relações Exteriores chi- nês, Yang Jiechi, realizou o convite oficial à Ministra de Cooperação sul-africana, Maite Nkoana-Mashabane2 . Segundo a mesma, a entrada da África do Sul trará “a economia mais avançada e desenvolvida do continen- te, oferecendo oportunidades para a integra- ção e crescimento de toda a África”3.

O recente alargamento do grupo, en- tretanto, causou reações diversas na mídia internacional. As considerações dos analis- tas divergem, principalmente, em relação à escolha e aos ganhos da África do Sul, às verdadeiras motivações dos países mem- bros, e às consequências de tal aconteci- mento para o cenário internacional.

Segundo Jim O’Neil, chefe de pesqui- sa em economia global do Goldman Sachs e criador do termo “BRIC” (2003), as capacida- des econômicas sul-africanas não qualificam o país a entrar no grupo4, já que o tamanho de sua economia, de sua população e a taxa de seu crescimento econômico são conside- ravelmente menores às presentes no grupo . Além disso, o secretário ainda apontou qua-

tro potências emergentes mais adequadas a figurarem entre os BRIC, sendo elas Indo- nésia (com um PIB de 700 bilhões de dóla- res), Turquia ($725 bilhões), México ($1.050 bilhões) e Coréia do Sul ($1.000 bilhão)5 . Logo após a criação do BRIC, o Goldman Sachs identificou outra série de países com grandes perspectivas econômicas, denomi- nando os mesmos de N-116 . A África do Sul não se encontrou elencada entre eles.

Por outro lado, alguns especialistas defendem a entrada do país no grupo de emergentes. Um dos principais motivos é encontrado em considerações estratégicas:

A África do Sul é o polo de desenvolvimento da África7 , sendo representada por compa- nhias espalhadas pelo continente que pos- suem acesso a informações privilegiadas sobre os diferentes ambientes comerciais.

Segundo Martyn Davis, presidente da Fron- tier Advisory, “A expertise e o capital da África do Sul são muito importantes para a facilita- ção de negócios em muitas partes da África, sendo essenciais para a integração do conti- nente com o mundo”. Além disso, apesar de seu baixo crescimento econômico, o chefe do departamento comercial do Troika Dialog Group, Jacques Der Megreditchian, afirmou que “A economia madura da África do Sul, a sua reconhecida estrutura de governan- ça corporativa e forte estrutura regulatória permitem que o país atraia investidores que procuram um ambiente financeiro seguro”8 . Já em termos políticos, diplomatas afirmam

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país no grupo “busca representar um con- tinente de mais de 1 bilhão de pessoas”13. Neste contexto, o Quênia se destaca como país africano que mais se beneficiará com a integração da África do Sul com os BRIC.

Segundo analistas, muitas companhias sul- -africanas se estabeleceram em Nairobi nos últimos anos. O crescimento de fluxo de ca- pital estrangeiro e da transferência tecnológi- ca para as mesmas incentivará a economia queniana, ao permitir o aumento do número de aquisições, fusões e abertura de subsidi- árias no país14.

Entretanto, a participação da África do Sul no grupo de emergentes não é bem recebida por todos no plano interno. O Líder da Liga Jovem do Congresso Nacional Afri- cano (CNA), Julius Malema, declarou que

“As pessoas usam a África do Sul para en- trar na África e tomar os recursos minerais do continente. A China é o país número um que recorre a esta prática. Os investidores chineses não dão nada, nem trabalho. Eles apenas abrem cidades chinesas e providen- ciam tudo... Eles não deixam nada”. O temor do jovem líder consiste na possibilidade de marginalização dos interesses sul africanos em um grupo que comporta as maiores eco- nomias e populações do mundo. Segundo o mesmo, a África do Sul pode ser utilizada para facilitar a exploração da África pelos de- mais países15.

Segundo alguns especialistas, o in- gresso do país foi realmente impulsionado por interesses privados dos membros. O Brasil, por sua vez, vem fomentando desde a última década empreendimentos privados no continente, como os desenvolvidos por que o ingresso da África do Sul consagra a

dimensão global do grupo, confirmando o fó- rum como o mais importante agrupamento de emergentes9 .

A administração do presidente Jacob Zuma, por sua vez, se encontra bastante sa- tisfeita com as perspectivas. O embaixador da África do Sul no Brasil, Bangumzi Sifin- go, atestou que “o convite para nos unir aos membros originais do BRIC foi um reconhe- cimento da nossa importância como portão para o continente, além da relevância da África para o mundo. A África do Sul, agora, figura em um dos mais importantes grupos de emergentes, possuindo uma maior pers- pectiva nos fóruns internacionais”10. Além disso, segundo o presidente, “O grupo abri- rá um importante mercado lucrativo para os bens e serviços sul-africanos, além de gran- des oportunidades para a implementação do Plano de Ação Política Industrial e da infra- estrutura do Novo Caminho de Crescimento.

Haverá a promoção ativa de comércio e in- vestimento, incentivando tanto a industriali- zação como a criação de empregos. A África do Sul se tornará cada vez mais competitiva no mercado internacional”11. Em termos tec- nológicos, a participação do país no BRIC incentivará a transferência de tecnologia avançada, oferecendo às companhias sul- -africanas, principalmente do setor aeroes- pacial e de defesa, acesso às maiores eco- nomias do mundo12.

É importante ressaltar que a entrada da África do Sul no BRIC também oferece novas perspectivas ao continente africano.

Segundo o embaixador da África do Sul na China, Bheki Langa, a participação do

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Vale e Petrobras, além de buscar ampliar a corrente de comércio e as parcerias ins- titucionais, como as das áreas de produção de alimentos e biocombustíveis16. A Rússia, apesar de não ter estabelecido laços eco- nômicos fortes como os outros membros, acredita que um aprofundamento de rela- ções com a África do Sul poderia ser be- néfico para a economia do país. De acordo com o presidente russo, Dmitry Medvedev,

“A Rússia está preparada para desenvolver várias formas de cooperação com os nossos parceiros sul-africanos, inclusive no formato BRICS”17.

Segundo alguns analistas, entretan- to, a China foi a maior interessada na partici- pação sul-africana no BRIC. O país se esta- belece como o maior parceiro comercial da África do Sul, desejando estender sua influ- ência política e econômica por todo o conti- nente africano. É importante ressaltar, neste ponto, que estes estudiosos acreditam exis- tir uma grande estratégia chinesa de garantir recursos naturais de mercados não explora- dos, especialmente da África e da América Latina. Deste modo, o convite chinês deseja- ria demonstrar boa vontade política à África do Sul, reconhecendo sua importância. Se- gundo o diplomata indiano de carreira, MK Bhadrakumar, “A China sabia do interesse sul-africano de se juntar ao BRIC. Seu con- vite demonstra que Beijing está preparado a se esforçar ao máximo para proteger os inte- resses de seu parceiro africano número 1”18. A Índia, por sua vez, não demostrou o entu- siasmo dos outros membros. O país deverá tomar algumas decisões estratégicas difíceis caso o grupo assuma uma orientação políti- ca, já que Délhi tem ajustado a sua política

externa de acordo com os interesses de Wa- shington, principal parceiro em sua demanda por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A Índia enfrentará um sério dilema caso os BRICS assumam uma posição comum em assuntos internacionais que vá de encontro às estratégias globais estadunidenses19.

Apesar dos interesses econômicos e estratégicos de cada país, alguns especialis- tas acreditam que a principal motivação para a entrada da África do Sul no grupo é de natureza política. Segundo Antônio Patriota, Ministro das Relações Exteriores do Brasil,

“o ingresso da África do Sul no grupamen- to ampliará a representatividade geográfica deste mecanismo, no momento em que se busca, no plano internacional, a reforma do sistema financeiro e, de modo geral, maior democratização da governança global”20. Já de acordo com o Dr. Sehlare Makgetlaneng, pesquisador do Instituto Africano da África do Sul “a entrada da África do Sul no BRIC é a clara indicação de que o grupamento se tornará uma força política”.

Deste modo, percebe-se que o alar- gamento do grupo busca fortalecer as de- mandas dos países emergentes acerca da reestruturação da ordem mundial. Apesar da África do Sul não apresentar as mesmas capacidades dos países que integram o gru- pamento, sua presença confere uma maior representatividade a um grupo que almeja maior voz e influência no cenário internacio- nal. A estratégia utilizada por estes países, que buscam um sistema internacional mul- tipolar, aposta no fortalecimento de arranjos multilaterais cada vez mais representativos,

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em um esforço de melhor distribuir o poder mundial.

Notas

1. Disponível em http://www.brasil.gov.br/

noticias/arquivos/2011/04/13/ingresso-da-africa- -do-sul-no-brics-reforcara-busca-pela-reform a- -do-sistema-financeiro-mundial, acesso em 22 de abril de 2011.

2. Disponível em http://g1.globo.com/econo- mia/negocios/noticia/2010/12/bric-convida-for- malmente-africa-do-sul-se-unir-ao-grupo1.html, acesso em 22 de abril de 2011.

3. Disponível em http://www.wantchinatimes.

com/news-subclass-cnt.aspx?cid=1101&MainCa tID=11&id=20110104000076, acesso em 22 de abril de 2011.

4. A África do Sul possui um PIB de $350 bilhões e uma população de aproximadamente 50 milhões de habitantes. Os demais membros do BRICS contam com os seguintes números: O Brasil possui um PIB de $2.000 bilhões, Rússia e Índia contam com $1.600 bilhões e China possui uma economia de $5.500 bilhões. Já a população brasileira é de 190 milhões de habitantes, a russa de 141 milhões, a chinesa de 1,33 bilhões e a indiana de 1,21 bilhões.

5.Disponível em http://www.investmentwe- ek.co.uk/investment-week/opinion/1935362/jim- -oneill-south-africa-bric, acesso em 22 de abril de 2011.

6.Os países do N-11 são: Coréia do Sul, Turquia, México, Indonésia, Irã, Paquistão, as Filipinas, Egito, Nigéria, Bangladesh e Vietnã.

Disponível em http://www.saiia.org.za/great-po- wers-africa-opinion/the-bric-pitfalls-and-south- -africa-s-place-in-the-world.html, acesso em 22 de abril de 2011.

7.Disponível em http://oglobo.globo.com/

economia/miriam/posts/2011/04/14/africa-do-sul- -reforca-bric-que-vira-brics-374799.asp, acesso em 22 de abril de 2011.

8.Disponível em http://www.tradeinvestsa.

co.za/feature_articles/345544.htm, acesso em 22 de abril de 2011.

9.Disponível em http://www.itamaraty.gov.

br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noti- cias/midias-nacionais/brasil/correio-brasilien- se/2011/04/11/brics-africa-do-sul-expoe-diferen- cas-internas, acesso em 22 de abril de 2011.

10.Disponível em http://www.correiobrazi- liense.com.br/app/noticia/economia/2011/04/11/

internas_economia,247173/diplomata-sul-africa- no-ve-ingresso-nos-brics-como-reconhecimento.

shtml, acesso em 22 de abril de 2011.

11. Disponível em http://www.hindustantimes.

com/BRICS-will-offer-huge-opportunities-for- -South-Africa-Zuma/Article1-684205.aspx , aces- so em 22 de abril de 2011.

12.Disponível em http://www.iol.co.za/busi- ness/international/brics-offers-technology-op- tions-1.1057498, acesso em 22 de abril de 2011.

13.Disponível em http://www.chinadaily.com.

cn/cndy/2011-04/11/content_12300878.htm, acesso em 22 de abril de 2011.

14. Disponível em http://www.theghanaian- journal.com/2011/04/15/nation-gains-as-south- -africa-joins-bric-economies/, acesso em 22 de abril de 2011

15. Disponível em http://www.iol.co.za/busi- ness/business-news/malema-launches-attack- -on-brics-1.1054512, acesso em 22 de abril de 2011.

16. Disponível em http://www.itamaraty.

gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-no- ticias/midias-nacionais/brasil/correio-brasilien- se/2011/04/11/brics-africa-do-sul-expoe-diferen- cas-internas, acesso em 22 de abril de 2011.

17. Disponível em http://www.digitaljournal.

com/article/296561, acesso em 22 de abril de 2011.

18.Disponível em http://www.wantchinatimes.

com/news-subclass-cnt.aspx?cid=1101&MainCa tID=11&id=20110104000076, acesso em 22 de abril de 2011.

19.Disponível em http://www.atimes.com/

atimes/China/MA04Ad02.html, acesso em 22 de abril de 2011.

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20. Disponível em http://www.brasil.gov.

br/noticias/arquivos/2011/04/13/ingresso-da- -africa-do-sul-no-brics-reforcara-busca-pela- -reforma-do-sistema-financeiro-mundial, acesso em 22 de abril de 2011.

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