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O sintoma na psicanálise com crianças

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o

SIN T O M A N A PSIC A N Á L ISE C O M C R IA N Ç A S*

M a r ia n a d e A g u ia r

utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Alcântara'"

M a r ia G e r c ile n i C a m p o s d e Araújo"?"

RESUMO

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E s t e e r t i g o o b j e t í v a t e c e r c o n s i d e r e ç õ e s a c e r c a . d a P s í c a .n á l í s ec o m c r i e n ç s s n o q u e ser e f e r e

KJIHGFEDCBA

àprobleméiice d a c o n s t r u ç ã o d o s i n t o m a ed e s u a c í r c u l a ç ã .o d e n t r o d a t r a m a p s r e n t e l . E s s a . í n v e s t í g a ç ã .o f o í r e s l i z e d e : a t r a v é s d e

e s t u d o s t e ô r i c o s er e l a t o s d e c a s o s c l í n í c o s q u e a p o n t a m q u e ai n t e r v e n ç ã o e n e l i t i c s . d e v e v i r n a d í r e ç ã .o d e e l u c i d e r os e n t i d o d o s i n t o m a , o b s e r v a n d o q u e e l e r e v e l a .av e r d a d e d o s u j e i t o ed a t r a m a f a m í l í a .r .

P a l a v r a s c h a v e : S i n t o m a . P s í c a .n á l í s e . C r i e n ç e .

ABSTRACT

T h í s p s p e r e i m s t o d i s c u s s

m e

p s y c h o s n e l y s i s o f c h í l d r e n r e f e r í n g t o

m e

p r o b l e m s o f s y m p t o m c o n s t r u c t í o n e n d l t s c i r c u l e i i o n w i t h i n

m e

f a m í l y f i e l d o f a c t í o n . T h i s i n v e s t i g e t i o n wasm e d e t r o u g h t h e o r e t i c e l s t u d i e s e n d n e r r e t i v e s o f c l í n í c a .l c a s e s w í c h p o i n t o u t t h e r t h e e n e l y t i c e l i n t e r v e n t i o n m u s t b e d i r e c t e d t o e l u c i d e t e t b e

m e a n í n g o ft b e s y r n p t o m , o b s e r v í n g t h s : í t r e v e e l s

m e

t r u t h o f

m e

p e t i e n t e n d o f

m e

f a m í / y c o n t e x t o

K e y / w o r c l s : S y m p t o n . P s y c h o e n e l y s i s . C h í l d r e n .

*Trabalho apresentado no XIV Encontro Universitârio de Iniciação à Pesquisa! UFC sob a orientação da professora Maria Gercileni

C. de Araújo. Este artigo fOi desenvolvido a partir de uma versão menos elaborada, que consta do Caderno Reflexo, veículo de

divulgação de trabalhos dos alunos do PET Psicologia da UFC. Circulação restrita.

** Psicóloga, Professora Substituta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará - UFC.

*** Psicóloga, Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo - USP. Professora do Departamento de Psicologia da

Universidade Federal do Ceará - UFC (Orientadora).

(2)

M a s e u d e n u n c i o . D e n u n c i o n o s s a I T a q u e z a ,

d e n u n c i o

utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

oh o r r o r a l u c i n a n t e d e m o r r e r e r e s p o n d o a t o d a e s s a i n & .m í a c o m , e x a t a m e n t e , i s t o q u e v a i

a g o r a f i c a r e s c r i t o e r e s p o n d o a t o d a e s s a i n f i .m i a c o m aa l e g r i a P u r í s s i m a e l e v í s s i m a a l e g r i a A m i n h a

ú n i c a . s a l v a ç ã o é a a l e g r i a U m a a l e g r i a s t o n s ] d e n -t r o d o It e s s e n c i a l .

N ã o f ã z s e n t i d o ? P o i s t e m q u e f ã z e r . P o r q u e

éc r u e l d e m a i s s a b e r q u e a v i d a éú n i c a . e q u e n ã o

t e m o s c o m o g a r a n t i a s e n ã o afée m ~v.as 'p o r q u e é c r u e l d e m a i s , e n t ã o r e s p o n d o c o m a d u r e z a . i n d o -m á v e l . R e c u s o - m e a f i c a r t r i s t e . S e j a m o s a l e g r e s .

O u e m n ã o t i v e r m e d o d e f i c a r a l e g r e e e x p e r i m e o

-t e r u m a . s ó v e z s e q u e r a . a l e g r i a d o i d a e protunde

t e r á om e l h o r d e n o s s a v e r d a d e .

(Clarice Lispector, Água Viva pago 98,99 1990.)

HGFEDCBA

1 . S o b r e o S in to m a : u m a in tr o d u ç ã o

o

sintoma se caracteriza como tentativa de

equilibração, que efetivamente foi possível de ser

construída por um sujeito frente a uma situação an-gustiante. Com Lacan (1986), este pode ser entendi, do não somente como sendo constituído pelo huma-no mas como lhe sendo constituinte. Noutras palavras, o homem é em si um sintoma, já que vive sob a cons-tante impossibilidade de uma satisfação, ou mesmo de um encontro que possa encerrar a sua relação com o outro. Com Freud, diríamos que a inevitabilidade do sintoma, em última análise, adviria da própria

clivagern da sua subjetividade em consciente e

incons-ciente, que faz gerar um não saber, que gera angús-tia, que produz sintoma.

De acordo com Freud (1926), o sintoma vem representar uma solução de compromisso entre a rea-lização de um desejo inconsciente e a censura advinda da insuportabilidade do eu para tolerar sua realização. Apoiando esse pensamento, Bleichmar (1994) afirma que o sintoma pode ser entendido como o substituto de uma satisfação pulsional não realizada, ou mesmo, como algo de prazer recalcado, o que podemos com, preender como a própria possibilidade encontrada pelo sujeito de dar vazão ao desejo sem, no entanto, correr

o risco de uma desestruturação maior para o eu,

fa-zendo deste o seu fiador.

Como exemplificação recorremos ao sintoma his-térico que tem em sua base a condição de manutenção de sua atividade sexual protegida através de uma paralisa,

ção, ou mesmo de um deslocamento de prazer a um

outro órgão não considerado genital, que garante acesa a chama do desejo sexual envolvido na gênese do sintoma, a saber, a mão que paralisa ao mais leve toque em um piano, a mesma que outrora era usada em práticas rnasturbatórias, ou mesmo a cegueira adquirida logo após a visão do ato sexual entre os pais.

Assim, o sintoma é um enigma e vem represen-tar sempre uma verdade. Ele traz o paradoxo de

enco-brir algo ao mesmo tempo que o revela; é essa

dirnen-são simbólica do sintoma, que Lacan (1992) aponta quando o situa enquanto uma metáfora, ou seja, uma palavra no lugar de outra, pelo mecanismo de

con-densação. Ou ainda, enquanto uma metonímia, algo

que eclode entre dois significantes, dos quais um

subs-titui o outro, ocupando um lugar nessa cadeia, pelo

mecanismo do deslocamento.

Nesse sentido, o sintoma pode ser compreendido sempre enquanto representante de um conflito entre dois sistemas, como no caso dos sonhos, ou mesmo enquan-to uma fala emudeci da. Assim, o sinenquan-toma se constitui como uma das formações do inconsciente e nele existe algo da ordem do indizível, onde não é possível uma significação.

Lembramos que justamente a esse resto não

sirnbolizável. a esse bagaço que insiste em reclamar

seu lugar na dinâmica psíquica, Freud, em 1920, no seu texto Além do Princípio do Prazer, veio a chamar de Pulsão de Morte.

Pensando nisso, é possível afirmar que não existe nada mais real que o sintoma, e neste também há es-paço para algo de desejo que se realiza de uma forma imaginária.

Sendo assim, trata-se de um desejo alienado e conservador, que de alguma forma faz relação com a

própria constituição do eu do í n f a n s , onde a mãe é

justamente o espelho que fascina, seduz e paralisa, fim, dando ao mesmo tempo em que aliena com o seu olhar o desejo na criança. De uma forma ou de outra, o sintoma se apresenta como um pedido de socorro, como uma maneira de o sujeito se fazer ouvir.

Na clínica com crianças ele pode representar uma forma de afetar os pais ou pode aparecer na dinâmica familiar, no lugar de algo que foi bloqueado, não ela, borado das relações desses pais com seus próprios genitores, podendo servir para reatualizar conflitos.

Enfim, podemos pensar em diversas formas de apresentar o sintoma tal qual ocorre na clínica com crianças, no entanto o que parece ter mais relevância nesse momento, seria buscar trazer à luz reflexões acer-ca da relação do sintoma que a criança traz para a clínica, com seus pais.

(3)

2. A quem pertence o sintoma?

A clínica com crianças parece estar sempre

re--pleta de pais que demandam, seja um saber sobre o

sintoma instaurado em seus filhos, seja um conserto

para essa criança que de uma forma ou de outra

sinto matiza, denunciando a verdade de seu meio

fami--liar, através de seus atrasos escolares, agressividade e muitas outras "incapacidades".

Em nossa compreensão, essa clínica urge ser pen--sada, ser falada, a fim de não vir a servir em favor de

uma ética convencional na qual a criança tida como

"normal" é aquela que convém e aprende a ser discre--ta no que se refere ao seu contexto familiar.

Assim, autoras precursoras no atendimento de

crianças como, Françoise Dolto e Maud Mannoni, com--preendem a questão da gênese do sintoma na criança advindo sempre dos não-ditos e das mentiras constitu--intes dos mitos familiares.

A história de desejo que implica o nascimento de uma criança está estritamente relacionada com a his--tória de vida de seus pais, que por sua vez remetem a história de seus próprios ascendentes, não em um sen--tido biológico, genético e sim em nível simbólico, já que a palavra antecede a qualquer um de nós. Isso fica

mais claro com Coin, quando diz

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Uque o indivíduo,

e n q u a n t o s u j e i t o , n ã o s e r á . e n t e n d i d o c o m o d e t e n n i ...

n a d o p o r 'c i r c u n s t â n c i a s g e n é t i c a s ' m a s s i m c o m o u m

p o n t o , u m s i g n i f i c a n t e q u e o c u p a l u g a r c e r t o n u m a

e s t r u t u r a s o c i a l e , m e s m o , f a m i l i a r " . (1994, pago 95).

No intuito de buscarmos uma compreensão mais acertada dessa questão, utilizaremos, a partir de ago--ra, recortes de entrevistas feitas com profissionais psi--canalistas da clínica com crianças, a fim de ilustrarmos com maior precisão facetas desse sintoma incluso na problemática familiar. Sobre isso faremos referência a uma de nossas entrevistadas, que se utiliza do referencial lacaniano, que vem apontar para a importância dessa

"pré-história" da criança, a saber, a história de cada

um desses pais e sobre a importância de uma compre--ensão acerca dessa questão no nível da simultaneidade

e não apenas uma preocupação cronológica de que

história é anterior. Nessa compreensão mesmo um fato sucedâneo é capaz de reativar um fato anterior. Esta

nos ilustra essa problemática citando um caso que

acompanhou durante seu trabalho em um hospital in-fantiJ, onde uma criança com menos de 3 anos de idade teria de submeter -se a uma cirurgia no intuito de

Uretirar o estômago ou parte desse", devido a um

qua--dro de recorrentes diarréias, seguidas por intensos

sangramentos. Nessa circunstância, a psicanalista

pas-sou a atender a mãe da criança. Esta não suportou ser impelida a falar de sua história e reagiu retirando a criança do hospital às vésperas da cirurgia. Depois de algum tempo, essa mulher voltou ao hospital para a retirada de seu próprio estômago, a criança não mais estava doente. Foi possível perceber que a mãe havia liberado a filha de seu sintoma, pagando ela mesma

todas as conseqüências.

KJIHGFEDCBA

Énesse sentido que se diz que a criança, ao

nas--cer, vem ocupar um lugar já sobredeterminado no

de--sejo de seus pais, vindo mesmo para obturar suas fal-tas. A criança parece ter a função de realizar os sonhos perdidos de seus pais, de ser a criança que seus própri--os pais não conseguiram ser.

Esse lugar ocupado pela criança, de suprir esse ideal, não se dá sem conseqüências. O sintoma que se apresenta nesta aponta justamente para a emergência dessa falha narcísica, que eclode no corpo da criança fazendo laço com o dizer que os pais trazem com suas queixas. Nesse momento lançamos uma questão de Lerude --Fléchet (1989) que vem nos interrogar se a própria infância não pertenceria ao real. Podemos in--ferir sobre a questão que a infância nos coloca, como vindo representar todo esse inominável que constitui nossas vivências primevas nesse mundo de palavras ocas e silêncios denunciadores.

Sobre isso, recorremos a uma outra entrevistada, que vem citar a questão das crianças adoradas. onde mesmo aquelas para quem os pais contaram sua

ver-dadeira história, desde o início, apresentam um alto

nível de angústia por se fazer um tabu acerca desse assunto. Segundo nossa colaboradora, a criança enco--bre esse mistério com uma porção de teorias, às vezes positivas e às vezes não, sobre seus verdadeiros pais. No entanto, nos pais essa angústia também parece ser colocada servindo para aumentar ainda mais a dimen-são de segredo em tomo da adoção. A psicanalista

entrevistada acredita que a intervenção do psicólogo

nesse momento é de extrema eficácia, no sentido de apontar para ambas as partes envolvidas sobre a ne--cessidade de se falar diversas vezes e de diversas for-mas sobre o assunto.

Uma das grandes dificuldades no atendimento de crianças é a resistência dos pais. Estes demandam a todo custo uma mudança para um estado anterior em seus filhos, mas, no entanto, pedem para o analista não se aprofundar muito nas questões que emergem dessa problemática.

Ainda dentro desse contexto, buscando dar con--ta juscon--tamente da problemática suscicon--tada pela questão do sintoma que a criança carrega, mas que, no

entan-105

(4)

to, muito tem a dizer do imaginário dos próprios pais,

Melman (1987) em seu texto,

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

" s o b r e a í n f â n c i a d o

s i n t o m a ', propõe que se distingue, o sintoma própria-mente dito das manifestações sintomáticas.

O sintoma propriamente dito seria próprio da

construção da neurose infantil. Seria estrutural e se articularia com o Complexo de Castração e Cornple-xc de Édipo. Nessa perspectiva, os pais estariam im-plicados no que se refere a suas funções simbólicas.

As manifestações sintomáticas representam o pro-duto da organização parental inconsciente, ou seja, se, riam respostas da criança às neuroses de seus próprios pais, seriam os próprios déficits apresentados na esco-Ia, nos comportamentos que servem para desestruturar as idealizaçées dos pais sobre a criança que eles gosta' riam de ter. Nesse sentido, seriam o resultado da rela-ção com esses "outros reais", a saber, os pais reais.

É necessário acrescentar que essas manifestações sintomáticas. que fazem laço com o imaginário dos pais e o real do corpo da criança. podem tornar-se matriz da neurose infantil.

A discussão sobre o sintoma da criança traz à luz alguns questionamentos: seria possível uma análise com

crianças antes do Complexo de Édipo? Ou de que

maneira estariam os pais implicados na gênese do sin-toma da criança? A criança sinsin-tomatiza devido à exis-tência de seus pais? Seria melhor então não tê-los?

parafraseando o poeta pelo avesso.

KJIHGFEDCBA

I

Essas questões por mais fundamentais e fundantes que sejam do arcabouço teórico-clínico da Psicanálise, surgem aqui. muito mais para abrir possibilidades de reflexão do que no intuito de fechar caminhos ou rnes-mo de ter um fim ou um últirnes-mo terrnes-mo.

Uma análise só existe no sentido de suscitar a emergência de um sujeito relativo à ordem do incons-ciente. Se uma análise tem algum objetivo seria o de restituir ao sujeito a sua possibilidade de estar compro' metido com seu próprio desejo.

Essa possibilidade de liberdade e autonomia faz

parte dos ideais da Modemidade, no entanto. é

neces-sário refletir sobre que liberdade é essa que a psicaná-lise parece nos oferecer. para que não caiamos em ideologias ainda mais alienantes.

Alguns autores. quando tratam da psicanálise

en-quanto Clínica do Social- de forma mais específica

Calligares (1993) -, nos dizem que, o sujeito é um efeito da cultura que o produz. e o Inconsciente não ficaria para trás. Afinal. o desejo, e o próprio

lncons-ciente sempre é de um Outro. e esse Outro nada

mais é que o social, entendido aqui como uma rede.

um tecido, onde as diferenças que cada um recalca

de uma forma particular fazem um ponto perdido

nesse tecido.

Para Lacan (1992. pago 38). n ã o h á s u j e i t o q u e

n ã o s e j a j á s e m p r e s u j e i t o d e u m c o n t r a t o p e l o q u a l a

p a l a v r a s e g e r e n t e " .

Assim. a alienação ao Outro parece ser constitutiva da subjetividade. No entanto. não nos é possível não

levar em conta o comprometimento do sujeito por seu

desejo. Um sintoma não é um simples parasita. ele é sempre uma tentativa de construção.

O sujeito ao mesmo tempo que é produzido pro-duz esse social. Assim. o social modela o homem en-quanto espécie única e também o homem modela esse social com a sua singularidade.

Pensar numa gênese ou numa origem parece sem' pre constituir um objetivo do humano. no entanto essa tentativa parece apontar para algo da ordem do inefá-vel, do rnítico, já que o que nos é possível é a possibili-dade de uma reconstrução.

É necessário pontuar que não devemos nos es-quecer do contexto da criança. Pode ser sedutor aten-tar-se somente às histórias dos pais e sua implicação no sintoma da criança. mas é necessário ter uma compre, ensão lógica dessa história e não apenas cronológica. tentando resgatar a simultaneidade dos fenômenos.

Além disso. fazemos referência a uma terceira entrevistada. que pontuou sobre a importância de não se perder de vista a perspectiva da dinâmica familiar. onde muito mais que causa e efeito. existe uma com' plexidade de fatores que se interrelacionam.

Para esta. o sintoma nunca é apenas de um do, ente da família e sim vem expressar a doença da famí-lia. Pais e filhos parecem formar uma teia. onde segun-do Kupfer (1994. pago I 09) palavras e segun-doenças parecem

ir e vir 'áp o n t o d e od e s a p a r e c i m e n t o d e u m t r a ç o n o

p a í oun a m ã e p o d e r p r o v o c a r e f e í t o s s o b r e s e u ! i l h o ':

Assim, atender ou não uma criança antes do

Complexo de Édipo já não se coloca nos mesmos ter, mos, já que ao pensarmos pais e filhos submetidos à lei da linguagem, imersos numa teia de mão dupla. pode, mos supor que. do mesmo jeito que esses pais afetam suas crianças por seus próprios problemas sexuais. que remetem à questão de seu próprio nascimento, sobre a morte e outras castrações envolvidas. a criança tarn-bém pode exercer a função de reconfiguração da

tra-1Referência a Vinícius de Moraes. famoso poeta brasileiro que diz "filhos, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabê-los?"

(5)

ma parental se conseguir apontar para a questão do

desencontro constituinte de todas as relações

huma-nas, a saber, a questão da falta que nos é fundante. Além disso, as entrevistas preliminares aparecem enquanto fundamentais na escuta de uma real

deman-da de análise, pois têm como função apontar que

sujeito impõe uma questão, ou mesmo sobre quem aparece implicado na questão.

Se podemos pensar em alguma especificidade na clínica com crianças é justamente na possibilidade de se oferecer uma escuta também aos pais e não decidir antes dessa escuta quem realmente está implicado em um sintoma analítico, ou seja, atentar-se para quem demanda um saber sobre o inconsciente.

3. O

HGFEDCBA

s e n t id o d o S in t o m a

Antes de Freud. o sintoma era visto como um defeito que deveria ser corrigido através de tratamen-tos, no intuito de promover um "conserto", com uma clara intenção adaptativa de controle disciplinar. Com Freud, a busca ao sentido do sintoma no que ele tem de valor de mensagem e de significação singular para o sujeito, se mostra como caminho possível, pois tudo o

que é dito pelo sujeito - mesmo sua mentira - passa

KJIHGFEDCBA

à

ser dotado de um sentido, sentido este que se remete a estrutura do inconsciente.

O sintoma para a psicanálise vem demarcar um campo outro que não o do saber - poder médico, que o percebe como um índice, um sinal, um indicador, onde é priorizada a sua descrição no intuito de um diagnóstico, gerando assim a existência de rótulos que servem ao controle ideológico onde o excluir e o do-mar se apresentam em detrimento do ouvir.

Assim, o sintoma para a psicanálise com crianças não se apresenta como um fim em si mesmo e nem como algo a ser descrito, calado, ajustado ou muito menos resolvido, o sintoma representa sim uma ponte, ou mesmo um caminho no qual pais e crianças pare-cem capturados, mergulhados em uma armadilha onde

real, imaginário e simbólico, parecem se

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

c o n fu n d ir .

Segundo Lerude - Flechét (1993), uma análise com crianças serviria ao intuito de fazer com que os pais procurassem sustentar seus lugares dentro da di-nâmica familiar. A procura por um atendimento com crianças se dá quando algo está insuportável, quando não se consegue mais lidar com os filhos. Neste senti-do, podemos nos questionar se essa demanda não se

trata de uma confissão acerca da incompetência em

sustentar o lugar de um pai, e ou, de uma mãe. Lerude -Flechét (1993), afirma que a angústia

dos pais diante do filho parece ter relação com os

obs-táculos de sua própria castração, quando estes

verbalizam " e u q u e r i a p o d e r d a r a o m e u / i l h o t u d o o

q u e e u n ã o t i v e ':

Nossas entrevistadas enfatizam a necessidade de, em alguns casos, encaminhar os pais para uma análise. Para estas, quando os pais já passaram pelo drama que uma análise suscita fica mais fácil de permitir que seu filho possa vivenciar o seu próprio atendimento.

Além disso, um recurso bastante utilizado por uma de nossas entrevistadas, devido aos próprios limi-tes de sua atuação em hospitais, é a escuta dos pais diante da criança. O simples fato de a criança f1agrar sua mãe enquanto falante, desejante, embaraçada frente sua própria falta diante de um outro já possibilitaria, segundo nossa entrevistada, uma reversão do sintoma da criança.

Frente a essas possibilidades, o que parece se des-tacar é a importância da criação de um espaço para os pais, já que o que se evidencia nessa clínica não é apenas o sofrimento da criança, mas a relação com a

questão da paternidade e da maternidade que

pare-cem aí implicadas.

Diante disso, a clínica com crianças, em todas as suas vicissitudes, nos obriga ao contínuo exercício da ética, que vem ao encontro ao respeito à singularidade humana. A intervenção analítica deve sair do lugar de procurar culpas e culpados e ir em direção ao que o sintoma esconde e o que ele tem a nos dizer. Buscar nomear esse inominável, que grita mudo no corpo da criança e que faz laço com a fala dos pais sobre suas próprias histórias de desejo, é o desafio que uma

análi-se oferece. Desafio esanáli-se também metonímico, tanto

quanto o desejo, impossível chegar a um último ter-mo, mas que, no entanto, parece nos conceder a

gra-ça de podermos r-ir com o nosso próprio sintoma.

R e f e r ê n c ia s B ib lio g r á f ic a s

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107

(6)

d i s c u r s o d o O u t r o , u m e x e r c í c i o d e P s i c a n á l i s e .

utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

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Referências

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