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REFLEXÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS

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REFLEXÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS

Micaela Dominguez Dutra

Advogada de Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRAS. Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Mestranda em Direito Constitucional e Pós-Graduada em Direito Tributário e Finanças Públicas pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Colaboraram com o levantamento bibliográfico Flávia Affonso, Francisca Auxiliadora Norjosa e Vanessa Barbosa da Silva.

31/08/2008

Muito se fala em direitos humanos, seja de modo defensivo ou incoerente, como no caso do atual presidente norte-americano, que utiliza esse discurso para justificar intervenções militares que desrespeitam o mais básico direito do ser humano: à vida.

Assim, pergunta-se: Qual a origem dos direitos humanos? O que são e por que existem? Seria viável dar um norte a esse enunciado que parece um coringa, já que usado na defesa de qualquer interesse? Cabe falar em universalidade dos direitos humanos? Têm eles efetividade ou apenas servem para aquecer debates ideológicos?

Tais questionamentos ensejaram a elaboração deste artigo, que visa aguçar o debate em torno da efetividade dos direitos humanos no mundo.

HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS

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Uma boa parte da doutrina se reporta à Antigüidade como a origem dos direitos humanos.1 Como bem recorda FÁBIO KONDER COMPARATO2, a proto-história dos direitos humanos teve início nos séculos XI e X a.C., com a unificação do reino de Israel por Davi, que atuava como um rei-sacerdote, um

“delegado de Deus” adstrito ao cumprimento das leis divinas. Segundo o autor, tem-se aí o embrião do Estado de Direito. Não se pode olvidar, contudo, que a evolução dos direitos humanos está ligada diretamente à limitação do poder dos governantes sobre os governados.

Durante o período axial – situado entre os séculos VIII e II a.C. – foram enunciadas as diretrizes básicas sobre o direito à vida, ainda em vigor. Como relata o autor, haviam inúmeros mini-Estados e cidades-Estado, com cultura própria e em permanente guerra entre si. Com o decorrer do tempo, houve uma aproximação, motivada pelo comércio, o que acabou por gerar um respeito maior pela diversidade cultural.

No século VI a.C., em Atenas, a limitação do poder político se deu com a democracia, que tinha por fundamentos a preeminência da lei e a participação ativa do cidadão nas funções de governo. Vale lembrar que, além da lei escrita, havia também a crença na existência de um direito natural, superior e preexistente, o qual foi muito bem invocado na peça Antígona, de Sófocles (441 a.C.).

No século V a.C., surgiu a Filosofia, que trouxe o saber pela razão, transformando o homem em um ser capaz de criticar racionalmente a realidade que o envolve. Nesse mesmo período, as tragédias gregas colocam o homem como um problema a ser analisado racionalmente.

ALEXANDRE DE MORAES3 aponta o Código de Hamurabi (1690 a.C.) como a primeira codificação a prever um rol de direitos para todos os homens, sem qualquer distinção, como o direito à vida, à propriedade, à honra e à família. Ressalte-se a previsão quanto à supremacia das leis sobre os governantes.

No transcorrer desse período histórico, a religião passou por uma profunda transformação, tendo deixado o aspecto ritualístico para ligar-se às

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questões éticas. De acordo com FÁBIO KONDER COMPARATO4, “busca-se alcançar uma esfera transcendental ao mundo e aos homens”.

A religião teve grande influência no desenvolvimento dos direitos humanos. Com efeito, 500 a.C. Buda já pregava a igualdade de todos os homens. Jesus Cristo, por sua vez, teria apenas reafirmado essa idéia, adicionando-lhe a noção de solidariedade e de perdão, que trazem consigo o sentido do amor universal.

ALEXANDRE DE MORAES5 aponta a Lei das XII Tábuas (450 a.C.) como sendo a nascente dos escritos protetores da liberdade, da propriedade e dos direitos do cidadão. E que, na fase da República romana, a limitação do poder político se deu com a criação de “um complexo sistema de controles recíprocos entre diferentes órgãos políticos”.

Na Idade Média, a instauração do Feudalismo trouxe profundas modificações ao exercício do poder político e econômico. A partir do século XI, iniciou-se um movimento, por parte dos monarcas, de retomada e centralização deste poder, outrora dividido.

MARIA CAETANA CINTRA SANTOS6 ensina que a Idade Média foi marcada pela influência da teoria do direito natural, que deu origem a leis limitadoras do poder do monarca (forais, pactos e cartas de franquia), e pelo humanismo.

Na Península Ibérica, o Rei Afonso IX firmou a Declaração das Cortes de Leão, em 1188, comprometendo-se a preservar a paz e a justiça, e a respeitar os direitos das pessoas à segurança, à propriedade, ao domicílio e à atuação em juízo.7

Na Inglaterra, o Rei João Sem Terra vê-se obrigado a assinar a Magna Carta, de 1215, que, além de trazer o princípio da legalidade tributária, limita o rei em diversos outros aspectos.

O século XVII foi um período marcado pelo questionamento em relação ao poder absoluto, ficando constatada a necessidade de limitá-lo, de modo a garantir os direitos e liberdades individuais.

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A partir dessa constatação, advieram os seguintes documentos: Petition of Rights, de 1628, Habeas Corpus Act, de 1679, Bill of Rights, de 1689, e Act of Seattlement, de 1701. Com o Bill of Rights, a noção de um governo representativo começa a se firmar como garantia fundamental das liberdades civis.

A Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia, de 1776, norteada por uma visão jusnaturalista dos direitos, é o primeiro registro histórico do nascimento dos direitos humanos, pois reconhece a igualdade dos homens entre si, bem como sua incompletude, na medida em que estão em constante aperfeiçoamento.

Para JOSÉ MARTINEZ, os direitos humanos, por serem naturais, resultam invioláveis, inalienáveis e imutáveis. Esse ideal foi repetido na Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, também de 1776.

Com a eclosão da Revolução Francesa, surge a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que traz em seu bojo a reafirmação dos direitos à igualdade e à liberdade, bem como a noção de fraternidade8, visando libertar os povos da opressão. E esse espírito, segundo PAULO AFONSO LINHARES9, espalhou-se pela Ásia Menor, América Latina, dentre outros continentes.

Referidas declarações de direitos, que têm sua origem no Iluminismo, marcaram a primeira geração dos direitos humanos, que exigem uma atuação negativa do Estado, no sentido de não obstar o exercício das liberdades fundamentais. Tem-se o predomínio de uma visão individualista do ser humano, que passa a ser protegido pela lei, a qual deveria garantir igual tratamento a todos.

Com o advento da Revolução Industrial (século XVIII), constatou-se que a garantia de tratamento igual nem sempre é o ideal, dada a existência de relações jurídicas envolvendo pessoas de diferente condição social e econômica. De fato, nesse período, poucos detinham vultosas quantias em detrimento de muitos, que constituíam um exército disponível para a mão-de- obra. Diante de tão triste e injusta realidade, onde a igualdade formal só servia

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para agravar ainda mais o quadro de desigualdade material, surgiram os direitos humanos de caráter social e econômico. A Constituição francesa de 1848 reconheceu, porém de forma singela, os direitos sociais e econômicos, que, no entanto, vieram a tornar-se realidade somente no século XX. Com efeito, a Constituição mexicana de 1917; a soviética de 1918; e a de Weimar de 1919, bem como a Declaração Soviética dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, de 1918, e a Carta do Trabalhador (Itália), de 1927, marcam o início da segunda geração de direitos humanos, que exige uma prestação positiva do Estado relativamente ao trabalho, à saúde e à habitação. Surge, então, o Estado do Bem-Estar Social. A terceira geração10 dos direitos humanos, segundo JOSÉ CARLOS TEIXEIRA GIORGIS11, foi desencadeada pela industrialização e urbanização. Vem marcada pela Declaração Universal de Direitos humanos de 1948, que, além de reforçar os direitos pertencentes às gerações anteriores, traz a proteção de interesses difusos, coletivos ou metaindividuais, que perpassam a esfera do indivíduo ou de um grupo, abrangendo toda a coletividade (p. ex., direito a um meio ambiente equilibrado, à preservação do patrimônio histórico e cultural etc.). Atente-se para o fato de que a internacionalização dos direitos humanos se deu em duas etapas: a primeira, que vai da segunda metade do século XIX até a Segunda Guerra Mundial, caracterizou-se pela defesa de um direito humanitário, ou seja, pela luta contra a escravidão e regulação dos direitos do trabalhador assalariado; a segunda teve início com o reconhecimento de que a dignidade da pessoa humana foi relegada ao oblívio durante a Segunda Guerra, sendo a Declaração Universal de Direitos do Homem, aprovada pela ONU em 10 de dezembro de 1948, apontada como o marco da definitiva internacionalização dos direitos humanos. FLÁVIA PIOVESAN12 leciona que a Declaração Universal dos Direitos Humanos introduz “a concepção contemporânea de direitos humanos, que se caracteriza pela universalidade e indivisibilidade desses direitos.

Universalidade, porque clama pela extensão universal dos direitos humanos sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a dignidade e titularidade desses direitos. Indivisibilidade, porque a garantia dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais, e vice-versa. Quando um deles é violado, os demais também o são.

Os direitos humanos se constituem unidade indivisível, interdependente e inter-

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relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis e políticos com o catálogo de direitos sociais, econômicos e culturais. (...). Fortalece-se, assim, a idéia de que a proteção dos direitos humanos não deve se reduzir ao domínio reservado do Estado, isto é, não deve se restringir à competência nacional exclusiva ou à jurisdição doméstica exclusiva, porque revela tema de legítimo interesse internacional. Por sua vez, esta concepção inovadora aponta para duas importantes conseqüências: (i) a revisão da noção tradicional de soberania absoluta do Estado (...); (ii) a cristalização da idéia de que o indivíduo deve ter direitos protegidos na esfera internacional, na condição de sujeito de direito”. Vivemos, portanto, numa época em que os direitos humanos abrangem direitos de liberdade, sociais, econômicos, culturais, coletivos, metaindividuais e difusos. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE “SER HUMANO”

A história dos direitos humanos se mistura com a da evolução do conceito de ser humano, de sua identidade e da posição que ocupa no mundo.

Inicialmente, é importante ressaltar que concordamos com a idéia de THOMAS HOBBES de que o ser humano é, por essência, mau e egoísta, mas é exatamente esse egoísmo que o permitiu evoluir. Explicamo-nos melhor. Na realidade, as revoluções são sempre provocadas pelas minorias, que as promovem visando chegar ao poder e/ou assegurar seus direitos básicos.

Originam-se, portanto, de um dissenso estrutural, derivado da pluralidade cultural e ideológica. A concepção de “véu da ignorância”, criada por JOHN RAWLS13, casa-se perfeitamente com a essência egocêntrica do ser humano, afinal, não sabendo que posição ocupará na sociedade, tem que garantir o mínimo para não restar prejudicado. A noção de que todos os seres humanos devem ser tratados de forma igual ganhou força com o advento da lei escrita, todavia, inicialmente, esta igualdade só se dava no plano espiritual. Foi no período medieval que se iniciou a elaboração do princípio da igualdade de essência, com a análise do ser humano em sua substância. KANT aduz que só o ser racional tem vontade, que é a razão prática que lhe permite viver de forma autônoma, segundo leis que edita. O homem é um fim em si mesmo, tendo dignidade e não preço, como as coisas. Para o filósofo, “o fim natural de todos os homens é a realização de sua própria felicidade. Não basta agir de modo a não prejudicar ninguém. Isto seria uma máxima meramente negativa.

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Tratar a humanidade como um fim implica o dever de favorecer, tanto quanto possível, o fim de outrem, pois, sendo o sujeito um fim em si mesmo, é preciso que os fins de outrem sejam por mim considerados também como meus”.14 A dignidade humana tem valor absoluto para KANT, que nos abriu os olhos para o mundo dos valores. Quanto a estes, é importante lembrar que “a lente da subjetividade é um espelho deformante”15, justamente porque vemos os fenômenos de acordo com nossa pré-compreensão, que é composta de inúmeros valores que cultivamos ou nos foram impostos. Ora, se o ser humano é racional e, em essência, igual aos demais, dirigindo sua vida em torno dos valores que preza, inquestionável é a importância dos direitos humanos, pois garantem o núcleo essencial de direitos que qualquer homem quer ver reconhecido. E, lembrando-nos da essência puramente egoísta do ser humano, compreendemos que os direitos humanos, de fato, são garantias mínimas que o próprio homem, pela sua razão, descobriu serem necessárias à sua existência. NOÇÕES GERAIS DE DIREITOS HUMANOS

Tem-se certo que a origem dos direitos humanos está na necessidade egocêntrica do homem de obter proteção quanto a direitos essenciais, independentemente da posição que venha a ocupar na sociedade. Os direitos humanos foram se formando à medida que o ser humano identificava as prioridades a merecer garantia, o que demonstra não ser apenas o homem incompleto, mas que os direitos humanos também o são, pois representam um constante vir a ser. As próprias gerações de direitos humanos comprovam ser o conceito um devir, o que nos leva à conclusão de que não se pode estabelecer uma conceituação fechada para os direitos humanos, sob pena de engessá-los. MARCELO NEVES16 conceitua direitos humanos como

“expectativas normativas de inclusão jurídica de toda e qualquer pessoa na sociedade (mundial) e, portanto, de acesso universal ao direito enquanto subsistema social (autônomo)”. Ou seja: considerando que, em essência, somos todos iguais, há que se assegurar o exercício das garantias fundamentais, quer por meio do ordenamento jurídico interno de cada Estado, quer mediante tratados e demais atos normativos pertencentes ao Direito Internacional. Ressalta o autor17 que, na modernidade, os direitos humanos têm como forte característica o dissenso estrutural, que marca seu discurso

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tanto em relação à “integração sistêmica conflituosa entre as esferas de comunicação com pretensão de autonomia, a heterogeneidade dos jogos de linguagem, quanto à divergência de valores, expectativas e interesses das pessoas e grupos”. Sob esta ótica, tem-se claro que os direitos humanos são universais e que o processo de internacionalização, que se efetivou com o advento da Declaração Universal de Direitos do Homem de 1948, só veio trazer à tona essa essência universalizante que eles possuem. Faz-se necessário esclarecer que direitos humanos podem ser direitos fundamentais, mas não quer dizer que sempre o sejam; isto porque se utiliza a expressão “direitos fundamentais” com o fim de apontar os direitos essenciais ao homem, positivados nas Constituições dos Estados soberanos. Já a expressão “direitos humanos” é usada para indicar os direitos reputados essenciais ao homem, independentemente de estarem ou não positivados na Constituição. Quando os autores indicam as características dos direitos humanos, na verdade, fazem-no em relação aos direitos fundamentais, isto porque os direitos humanos situam- se no ordenamento jurídico, cujo fundamento maior é a Constituição. Nesse sentido, ALEXANDRE DE MORAES aponta as seguintes características:

imprescritibilidade; inalienabilidade; irrenunciabilidade; inviolabilidade;

universalidade; efetividade; interdependência e complementariedade.

REFLEXÕES SOBRE O TEMA

Fala-se muito em internacionalização dos direitos humanos, o que é, de certa forma, cair na obviedade, já que os ditos direitos têm intrinsecamente uma característica universalizante por serem desenvolvidos em prol da humanidade. Mas, antes de criticar tal colocação, é importante recordar que o indivíduo só passou a ser reconhecido como sujeito de direitos no cenário internacional com o advento da Declaração Universal de Direitos humanos de 1948, o que, ainda, não lhe garante amplo acesso nesse âmbito, já que o exercício destes direitos, normalmente, encontra-se condicionado a uma representação a ser feita por organizações internacionais. Portanto, apesar de KANT18 já defender a idéia de uma cidadania universal, não fazia isto apoiado nos indivíduos, e sim num sistema internacional que garantisse a paz entre as nações, a qual se regeria pelos seguintes postulados: (i) Em todo Estado, a Constituição Política deve ser republicana; (ii) o Direito das Gentes deve se

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basear em uma Federação de Estados independentes; e (iii) o Direito de Cidadania Mundial deve se limitar às condições de uma hospitalidade universal. Apesar de só agora admitirmos que o homem é sujeito no plano internacional, capaz de reivindicar a proteção de seus direitos (exercício este bastante limitado no momento), no que tange aos direitos humanos, defendemos que ele sempre teve essa garantia, pois provém da essência egoísta do ser humano. Por conseguinte, a legitimidade e a efetividade dos direitos humanos têm que ser dadas pelo próprio homem, que é quem cria os governos, os Estados e as organizações internacionais. Mas, apesar de o discurso pela proteção dos direitos humanos se multiplicar, o homem se distancia cada vez mais da sua essência, coisificando-se. Ora, se vira coisa, como poderá proteger os direitos humanos? Se perde a essência humana, a qual se compõe de sentimento e razão, como defender o exercício de direitos que lhe garantam o mínimo necessário a uma sobrevivência digna? A partir do momento que avalio uma pessoa pelo que ela tem, pelo cargo ou emprego que ocupa, distancio-me da sua essência, adentrando no reino material. Ou seja:

com certeza, estou coisificando a análise deste ser. Aliás, a onda de violência, desrespeito e de falta de ética que assola a sociedade deve ser imputada ao próprio homem, que se perdeu no meio da evolução tecnológica e, deslumbrado, sonha em se tornar um robô, que não morre, não adoece, está sempre na moda (basta fazer upgrade) e é dotado de vários recursos que lhe asseguram um alto custo e valor econômico, mas nada sente e, portanto, não vê que o sofrimento de setores da humanidade pode refletir-se, mais cedo ou mais tarde, em sua rotina. Cada vez mais permitimos que o consumismo e a avalanche de informações tome conta de nossas vidas, fazendo-nos esquecer da própria humanidade. Em verdade, se o indivíduo não consegue respeitar-se, como fazê-lo em relação aos demais? Impossível!!! Por isso, é fundamental que, no processo de defesa e luta pelos direitos humanos, o homem recupere a sua essência, deixando de ser coisa, e comece a pensar. A racionalização o conduzirá ao entendimento de que tudo depende dele e que, por isso, deve exigir muito, ser participativo, lutar pelo que é seu. E mais: há que travar essa batalha de forma inteligente, no plano racional eloqüente. É inadmissível que, no estágio atual, a humanidade continue a guerrear, provocando a morte de milhares de pessoas em vão. Os direitos humanos só vão deixar de serem

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vistos como política e filosofia quando o homem compreender a importância de ser racional, igual aos demais em essência, livre e incompleto, mas que, por ser egoísta, precisa de limites. O destino da humanidade está nas mãos do próprio homem, que, no entanto, precisa de um empurrãozinho para se redescobrir... Ou, quem sabe, permitir que o egoísmo da coletividade sufoque o egoísmo de um único governante, que manipula os direitos humanos de acordo com interesses mesquinhos e transitórios. E você, o que fará após ler este texto? Guarda-lo-á na estante? Fingirá que não leu? Criticará sua autora pelo devaneio? Ou começará a pensar no que pode fazer para resgatar a sua humanidade e conferir legitimidade aos direitos humanos? Lembre-se de que você é co-autor da história da humanidade e que sua ação ou alienação será registrada, independentemente de aprovação. Pois bem, faça a diferença!!

NOTAS

Esta coluna é de responsabilidade do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). 1 Excetuam-se desta lista Dimitri Dimoulis e Leonardo Martins que, em sua obra Teoria Geral dos Direitos Fundamentais, RT, 2007, consideram tal afirmativa sem fundamento histórico, pois, para se falar em direitos fundamentais, tem-se que ter bem delineados a idéia de Estado, de indivíduo e um texto normativo regulador da relação entre Estado e indivíduo.

Entendemos que tal crítica obrou em erro interpretativo, pois os autores, ao remontarem a origem dos direitos humanos à Antigüidade Clássica, referem-se aos direitos humanos independentemente de sua positivação. 2 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 4. ed., 2. tiragem, São Paulo: Saraiva, 2006. 3 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 4 Op. cit., p. 10. 5 Op. cit., p. 43.

6 SANTOS, Maria Caetana Cintra. Direitos Humanos e Tributação: uma tentativa de conciliar. Dissertação de Mestrado pela PUC-SP. São Paulo, 2001, p. 67. Orientador: Professor Doutor Paulo de Barros Carvalho. 7 SANTOS, Maria Caetana Cintra. Op. cit., p. 68. 8 Esta só veio a ser efetivamente

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desenvolvida na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, quando surgiu a necessidade de organização solidária da vida comum. 9 LINHARES, Paulo Afonso. Direitos Fundamentais e Qualidade de Vida. São Paulo: IGLU, 2002, p. 65. 10 Adotamos a tripartição das gerações, por considerar que a quarta e quinta gerações de direitos, apontadas por alguns autores, na realidade são desdobramentos da terceira geração, englobando-se nela. 11 GIORGIS, José Carlos Teixeira. As Gerações de Direitos. Informativo Semanal da COAD 03, ano 27, 21.01.07, p. 63. 12 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e a Constituição Brasileira de 1988. Revista dos Tribunais, São Paulo, ano 94, nº 833, mar.

2005, pp. 43-45. 13 RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 14 Apud Fábio Konder Comparato, op. cit., p. 23. 15 GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Petrópolis-RJ: Vozes, 1997, p. 416. 16 NEVES, Marcelo. A Força Simbólica dos Direitos Humanos. Revista Eletrônica de Direito do Estado, Bahia, nº 4, out./dez. 2005. Disponível em: . 17 Op. cit., p.

9. 18 KANT, Immanuel. La Paz Perpetua. Buenos Aires: Longseller, 2001, p.

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