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o
. ?• y-CARTAS INÉDITAS
DA
RAINHA D. ESTEFÂNIA
ACADEMIA DAS SCIENCIAS DE LISBOA
CARTAS INÉDITAS
DA
RAINHA D. ESTEFÂNIA
PREFACIADAS E COMENTADAS
POR
JÚLIO DE VILHENA
SÓCIO EFECTIVO DA ACADEMIA DAS SCIENCIAS DE LISBOA
COIMBRA
IMPRENSA DA
UNIVERSIDADE1922
L.
Ao terminar a parte principal do
nossoestudoacerca de D. Pedro V
e o seu reinado,escrevemos
que, seo Príncipe de Hohen:{ollern-Sigmaringen
nos facilitasseo conhecimento das
cartasda Rainha D.
Estefânia, existentesno
seu arquivo,o
nossoúltimo
livro teriapor
objectoa vida
e virtudes destaPrincesa.
Vamos cumprir a
nossapromessa,
vistoestarmos
hojena posse dos papéis com
tantoempenho
solicita- dos, ecom tamanha generosidade
concedidos.Mas
antesde principiar
a nossa tarefa,cumpramos o dever que impende a todo o
historiador,ainda que
seja omais humilde
cronistacomo
nós,de mostrar a autenticidade dos documentos em que
assentaa sua narração.
As
cartasda Rainha D. Estefânia que
são,além de
uma
fotografia^da formosa alma da sua
autora,tam- bém documentos de
altovalor para a
históriado
rei-nado de
seumarido, encontramse no Arquivo da
casade Sigmaringen há mais de
sessenta anos,sem
que, atéagora,
fosseconhecida a sua
existência ali.VI
l
Como
asdescobrimos
ecomo
asobtivemos
?Coiwém
di:{ê-lo,porque também
issodeve jicar per- tencendo à
história.Quando discutíamos a
questão,não levantada por
nós,
mas posta em debate havia tempo, da
realou
su-posta anafrodisia de D. Pedro, lembrou-nos que
talve^no Arquivo da família da Rainha
houvessequalquer documento redigido por sua mão, uma
confidência,por exemplo, com sua mãe, que
viessesubministrar algum esclarecimento que
contribuíssepara a solução do problema.
Pedimos à Academia das
Sciènciasde Lisboa
e,em
especial,
ao
seu ilustrado secretário, sr. conselheiroCristóvão
Aires,que
nos auxiliasse neste propósito,pois que apadrinhados por
esta jiotávelcorporação
scientífica,
conhecida em todo o mundo, poderíamos mais facilmente conseguir
o quedesejávamos.
Perguntou-se,
pois, seexistiam
osdocumentos que
se
procuravam.
A pergunta
foidirigida em
ide Março\dc
ig2i, elogo em 21
recebia-se estacarta:
ARQUIVO
IA
CASA
E DOS domínios60
PRÍNCIPEDE HOHENZOLLERN
«Sigmaringen, 21 de
Março
de ig2i.— A
Academia das Scièncias de Lisboa.— O
Arquivo do Príncipe con-VII
finiiãarecepçãodavossaestimadacartadeidocorrente mês, quefoi dada ao conhecimento de suaalteia real, o Príncipe de Hohen^ollern.
Sua
alte^^a, o Príncipe^ con- cedeulicença de vosfa^er a remessada cópiadas cartas da defunta RainhaEstefânia, de Portugal, Princesa de Hohen^ollern,com a condiçãoqueestas cartassirvam ex- clusivamentepara elaboraçãoduma
obrahistórica equo todo o abusoseja excluido.«
O
Arquivo do Príncipe contémum
grande número (maisde loo ex.) decartas da Rainha D. Estefânia,queDeus
haja,dirigidas a seus pais, irmãos, preceptores, etc, faltaporém
quásiporcompleto a correspondência com o Rei D. Pedro, da qual aparecerei apenas alguns rascu- nhos. As cartas estãonasua maioriaescritasem
francês.O
Arquivo do Príncipeestápronto amandar
copiar todas as cartaspara aAcademia dasSciênciasem
Lisboa, caso assimodeseje, epedeofavor das vossasnotíciasem
caso afirmativo.<i
A
pequenabiografiadaRainha escritaem
portuguêsepublicada
em
i85fj, assimcomouma
outrapublicadaem
j864yporCatarina Diej,sob otitulo Estefânia,Rainhade Portugal eeditadapor Scheitlinem
Stuttgart,devemser- -vos conhecidas.—
Dr. Hebeisen, Arquivista do Príncipe.— Ao
Sr. Christ. Aires, Secretário geral da Academia das Sciências».Animados com
esta resposta,escrevemos novamente,
e
agora com a direcção pessoal ao
sr. dr.Hebeisen,
di:{endo que,por
emqiianto,não
desejavaa Aca- demia toda a correspondência da Rainha, mas
so-mente qualquer
trecho,que porventura
existisse, con- cernente à frigide:{de D. Pedro nas
suas relações conjugais.— vm —
£/« 2g de Abril de
ig2i,respondia-nos
o sr. dr.He-
beisen:«Sigmaringen, 29 de Abril de igzi.
— Ex.mo
senhor.— Em
respostaàvossaamávelcartan.o55, de8deAbrildo ano corrente, participo a V. Ex.a que as cópias das cartas da Rainha D. Estefânia seguirão para ai por
estes dias.
«
Ao mesmo
tempo,peço queiradesculpar-me o atraco deste assunto,mas
intrometeram-setrabalhos inadiáveis eem
consequência disso as cópias só agorapuderam
ser concluídas.((
Com
a mais altaconsideração—
Dr. Hebeisen«.E ainda
sobreo mesmo
assunto:«Sigmaringen, 22 de Junho de jg2i.
— A
Academia dasS
ciências de Lisboa.— O
Arquivo do Príncipe con- firmaa recepçãoda vossa cartade4
deAbrildo anocor- rente.A
correspondência muito volumosa da Rainha D. Estefâniafoi entretanto minuciosamente examinada, no sentidodo assunto especial indicadoporV. Ex.^^«Encontrei, porém, só duas passagens aprovriadai ao vosso fim, cuja cópia remeto junto a estacarta.
Não
encontrei mais nenhuns elementos para o vosso traba- lho.
«
Com
a maisalta consideração—
Dr.Hebeisen, Arqui- vistado Príncipe».As
cartaSjou
antes os trechosdas
cartas, relativosà
questão,chegaram,
eforam aproimtados no
livroD. Pedro V
e o seu reinado, vol. 11,págs. 401 a
406,mas como
tivéssemosdúvidas
sobre se esses trechosIX
haviam
sido escritosem francês ou em alemão,
in-terrogámos
sobreo
caso o sr.Hebeisen, que nos
r,espondeu:«Sigmaringen, 2de Agosto de ig2i.
—
Ex.mo Senhor— De
posse das vossas duas cartas de 21 e 27 deJulho, tenho o prai^erde comunicar a V.Ex.ao seguinte:«Quanto àvossapergunta se as cópiasdas cartasre- metidas a V.
ExA
são traduções outextos originaisposso assegurar-vos que todas as cópias das cartasda Rainha D. Estefâniaforam
tiradasde textos originais».«
Com
oprotestodamaisdistintaconsideração—
Dr.He-beisen,Arquivistado Príncipe».
E, ainda
sobre omesmo ponto, em
vistaduma
nossa
insistência,o
sr.Hebeisen
conjit^mavaa carta anterior
:
«Sigmaringen, 7de Outubro de jg2i.
—
Ex.f^oSenhor— Em
resposta ã carta de V.ExA,
datada de 27 de Setembro, tenho o prazer de comunicar que todas as cópias das cartas da Rainha D. Estefânia são textuais e podem, sem mats preâmbulos, ser inseridasnum
tra- balho scientifico.Não
existem aqui mais cartas ou do- cumentos, que se relacionem com o assuntoem
questão.Parece-me ser esta a respostaquea carta de V.Ex." re- quer,
mas
caso haja, contra a minhavontade,algumerro oumal-entendido,peço desdejá desculpa eprontifico-me a dartodososesclarecimentos.«
Com
a mais alta consideração— De
V. Exfi—
Dr. Hebeisen, Chefe do Arquivo do Príncipe de Hohen-
^ollernn.
35
e o coração melhor formado é aquele A^ue encontra lugarpara todos os deveres,para todas as afeiçpes» (i).
E
assim,sempre com
tristespensamentos,
lheiam decorrendo
os diasque precediam
o consórcio.#
* *
Em
Diisseldorfo dia i5de Dezembro de
iSSy ficou assinalando.A
cidade esteveem
festa.A
noite,quando
a Princesa,
ao
ladode
seus pais,apareceu no
teatrocoroada de
rosas e vestidade
branco, os espectadoresnuma profunda comoção aclamaram
aondina do
seuRheno que
viriaem breve para
asmargens do
Tejo.No
palco a figurade Camões saudou
a Princesa e viu-se Lisboa, e atorrede Belém,
estaocidental praialusitana,onde
essa criançasublime
haviade
deixar o seucoração
feito
para
a terra,desprendendo
o espírito feitopara o
céu,na
frase eloquente e doloridado Rei
malfa-dado.
Então
eratudo
alegria eesperança num
risonho futuro.O Rei esperava
adoce companheira
e elacada vez amava mais
o futuro esposo,que
pelas suas cartas iamelhor conhecendo
dia a dia.O enxoval da Princesa preparava-se no meio da
geraladmiração
(2), eD. Pedro ocupava-se da
re-cepção da sua
noiva, jáentão
ligada a ele pelo pri-meiro casamento.
Nada
lheescapava que pudesse
contribuirpara
a beleza desse acto.(1) Papéisda Ajuda. Rascunhosemseguimento.
(2) Mendes dos Remédios, Cartas inéditas de D. Pedro V, pág. XLVII.
— 36 —
Revia cuidadosamente o programa
naval e fazia-lheemendas
eanotações
(i).Km
i8de Março de i858
foinomeado
oduque da Terceira para
celebrar e firmaro
autode recepção da nova Rainha.
Em 29 de
Abril realizou-seem Berlim o casamento por procuração
(2).Quem representou D. Pedro
foi seucunhado o
príncipeLeopoldo.
Ninguém
foiencarregado de
servir detestemunha.
Era
esseo costume
antigo (3).(i) Vê-se isto
numa
cartadoinfante D.Luísao então visconde de Sá:«Meu
caro visconde—
El-Rei ordena-me de remeter ao visconde o programa do cerimonialmarítimo que o viscondedei-xouhojeno Paço. Elefez-lhe algumasalterações à
margem;
no entanto parece queserábom
ainda conversarmos sobre algumascoisas. Adeus
meu
visconde.—
Seu amigo—
D. Luís.—
Lisboa, 4de Maio de i858u.Este programa,cora asemendasfeitaspela
mão
doRei,acha-se arquivadonaBiblioteca daAjudacom
a designação 52—
xii—
28n." 123, e no programa de recepção da corte decretavaD. Pedro que de ali
em
diante ficaria abolido o beija-máo. (Decreto que aprova o programa, de5 de Maio de i838).(2)
O
Rei quisera evitar o casamento por procuração.Em
carta para o tio, o príncipe Alberto, dizia ele (Papéisda Ajuda, i56):
«Escrevo ao conde de Lavradio emquanto a
um
ponto ares- peito do qual eledesejou ouvirasuaopinião,eem
quecreiocon- cordamos. Falo da possibilidade de se dispensar o casamento por procuração, que exigiriauma
segunda missão àAlemanha
que eu pordiversas razões, quenãovêem
a propósito enumerar, desejaria que pudesseserdispensada.Comquanto
Lavradiocreia dever abandonar estaideia, não penso pelo relatório que êleme
faz da sua entrevista
com
Mr.Kratz, aquem
o principe deHo-
henzoUernenviou ao encontro do conde, queseja baldado o tra- tar devir aum
acordo emquantoaesteobjecto».Naturalmente, o sogro levantou qualquer objecção.
Não
que- reria talvez que a filha deixasse a casa paterna, senãodepois de casada.(3)
Não
consta,dizum
documento existente naBiblioteca da- 37 -
O
acto foi grandioso.E
o próprioduque da Terceira que
vai fazer a nar-ração do que
presenciou:«
No
dia 29 deAbrilfindo,pelasduashoras datarde, tevelugarem
Berlim, na igreja de-Santa Hedwige, a celebração do casa- mento, por procuração, de SuaMagestadeEl-Rei oSenhorD. Pe- dro V,com
SuaAlteza Sereníssima a SenhoraPrincesa D. Este- fânia.oAssistiram a estasolenidade a família real,o corpo diplomá- tico, lodos osaltos funcionários,e mais pessoas dedistinção.
•
Além
do que seachavadisposto noprograma, depoisdecon- cluída a ceremónia, e antes que o real cortejo saisseda igreja, tiveram a honra de beijar amão
de Sua Majestade aRainha o duque daTerceira,marquesesde Ficalho, eSouzaHolstein,barão de Santa Quitéria, José Ferreira Borges de Castro, José Emídio daSilva Cabral e AntónioJoséViale, assimcomo
a duquesa da Terceirae D.Maria das Dores de Sousa Coutinho.«O
príncipe bispo de Breslau recitouuma
oração, quea todos impressionou, e quefoi muitoelogiada.a
Uma
hora antesda partidapara aigrejarecebeu oduque da Terceira asinsígnias de gran-cruz daAgma
Negra.O
marquês deFicalho e o barão de Santa Quitéria as daOrdem
da Águia Vermelha; o marquês de Sousa Holstein e José Ferreira Borges de Castro, as da segunda classe damesma Ordem
; e o adido à legação. SilvaCabral,as da quartaclasse.«Conforme
estava designado no programa, teve lugar o al-moço
àsduas horas da tarde, nopalácio do príncipe da Prússia.Sua alteza real fez
uma
saúde a Suas MajestadesEl-Reie aRainha de Portugal,àqualSuaMajestadeaRainha correspondeu, fazendo igual brinde aSuas Majestades El-Rei e a Rainha da Prússia.oPelas sele horasda tardedo dia 3o,Sua MajestadeaRainha,
acompanhada
das pessoas da sua corte, e dos duques da Ter- ceira, e mais pessoas que a acompanhavam, saiu dos seusapo- sentos para as salas de recepção, onde o corpo diplomáticoAjuda, assinado por Camilo MartinsLage
em
9 de Abril de1817, oficialmaiordaSecretariados Negócios Estrangeijos,dosexames a que seprocedeu nesta Secretariade Estado que para os casa- mentos dos senhores reisD. João V, D. José 1 eD. JoãoVI fossemandada
pessoa alguma,com
o fim expresso deassistircomo
tes- temunha no acto do casamento por procuração.— 38 —
esperavaa
mesma
Augusta Senhora para ter a honra de lhe ser apresentado; surpreendendo a todos omodo
majestoso e afávelcom
queSuaMajestade,dirigindo apalavra aoschefes demissão, sedignoufalar-lhesnoqueacada um' interessava respectivamente.o
Em
seguida aeste acto, tevelugar na sala brancaum
con- certo,como
estava designado no programa.A
entrada de Sua Majestade a Rainha, e à sua saída da Sala aorquestra tocou o hino daCarta.«No mesmo
diahouveum
jantarnopalácio de suaalteza real o príncipeFrederico Guilherme, para oqual foiconvidada acorte de SuaMajestadeaRainha e o barão de Santa Quitéria».Também
Viale seocupa do casamento por
procura- ção, dizendo:«Em
29 domesmo
mês se celebraram na igreja de Santa Hedwiges os reais desposórios por procuração, assistindo aeste soleníssimo acto suas altesàs reais os príncipesda casada Prús-sia, os augustospaiseos doisirmãos maisvelhosdanovaRainha, ospríncipesLeopoldoeCarlos,emuitos outros personagens. Re- presentou Sua MajestadeFidelíssima,
como
seu procurador, sua altesa o príncipeLeopoldo (que depoisacompanhou
sua augusta irmã até Lisboa). Oficiou nesta sagrada e festiva ceremónia o príncipe bispo de Breslau, o qual pronunciouem
tão fausta oca- siãoum
eloquente discurso»(i).Mas quem descreve com o perfume, que
lhedá uma
formosa pena de mulher,
aceremónia do casamento na
igrejade Berlim,
éCatarina
Diez,que nem mesmo
omitiu
o
discursodo
bispo:«Teve
lugar o casamento na igreja de Santa Edwiges pelo bispo Forsier de Breslau.O
irmãomais velho da Princesa Este- fânia, o príncipe hereditário Leopoldo, foi escolhido para repre- sentar o noivoausente.«A
excepção do rei enfermo, estava presente toda a família real daPrússiae formavauma
deslumbrante eimponentereuniãocom
aembaixada portuguesa e osnumerosos convidados da no- bresa e mais altos cargos do reino.«Passou no meio detodos estes senhores anoivareal, que pa-
(i) Ob. cit., pág. II.
- 39 -
recia
uma
brilhanteaparição angélica,com
o seu vestido branco de neve e a coroa de murta a cingir-lhe a fronte. ;Não
era o amoi terrestre que davabrilhoaos seus olhos, não! Era oamor
celeste, e,
como uma
sacerdotiza inspirada, ela secolocou aos pés do altar, para depor namão
querida do irmão o juramento deuma
eterna fidelidade e do cumprimento perfeito dos seus deve- res.«
O
bispo, depois dedescrever as bênçãosdo casamento, prin- cipalmente asdosreis, dissequeerauma
hora muitosoleneaquelaem
que se reuniam dois corações reais; dela esperava o reino de Portugal edos Algarves a sua Rainha,um
povo inteiro a mãe, quedando-lheoexemplo deamor,fidelidadee temor deDeus, lhe abra o caminho que conduz ao céu».E com mais
alguns lugarescomuns do
estilo encer- rou-se aceremónia.
Três
dias depois(em
2 deMaio)
regressou a Diis- seldorf.Então,
jálegitimamente
casada, levavana
sua comitiva,além do duque da
Terceira, comissárionomeado para
a receber e conduzir a Portugal,também
a
duquesa,
suamulher,
investidanas funções decama-
reira-mór,D. Maria de Sousa Coutinho, dama cama-
rista, os
marqueses
de Ficalho e deSousa
Holstein, obarão de Santa
Quitéria, ministroem
Berlim,o
secre- táriode missão
extraordináriaBorges de
Castro, e Silva Cabral, adido à legaçãoda
Prússia.Na
noite desse dia 2de Maio chegava
a Dussel- dorf.O
dia 3 foide
felicidade ede
lágrimaspara
a ci-dade.
De
felicidadeporque
os seus habitantesviam coroada
a princesa querida; de lágrimasporque viam
partir
para sempre
o anjo protectordesvelado da
po- bresa, a santa cujo espírito dulcíssimo pairava sobre os habitantescomo um
hálito de Deus.Viam-na,
le-vando
àsescondidas
o sustento e as consolações aosenfermos, frequentando sem
hipocrisia as igrejas, aju-dando
as artescom
a sua protecção, tendopara
todos os infelizesuma
palavra deamor
e de piedade, e— 40 —
lamentavam
a sua partida,como
se todos ficassemaban- donados do
auxílio divino.A
entradaem Dusseldorf
éassim
descrita:
«
O
trem chegou a Dusseldorf pelas nove horas da noite,Na
estação estavam as autoridades da cidade, parte daguarnição, e
um
grandenúmero dé pessoas distintas.«SuaMajestade entrou na sua carruagem, e seguiram
em
ou- trastambém
pertencentes asua alteza o príncipe deHohenzollern Sigmaringenas pessoas da real comitiva.O
cortejo real passou a custo entre as alas dopovo.As
ruas estavamtodasiluminadas e armadas deflores e bandeiras portuguesas e prussianas, e nos lagos,em
gôndolasiluminadas, achavam-se bandas demúsica to-candoo hino português.
Ao
lado da carruagemem
que ia Sua Majestade a Rainhacaminhavam
mais decem
pessoascom
lan- ternas de cores. Seguia a carruagemuma
banda de música tocando o hino de Sua MajestadeEl-Rei; o povo vitorioucom
entusiasmo aSua Majestadea Rainha.
«Chegado
o cortejo ao palácio de sua altesa, tiveram ahonra de ser apresentadas a Sua Majestade as autoiidades de Dussel- dorf, e a todos amesma
augusta Senhora se dignoudirigir algu-mas
palavras de agradecimento; pedindo-lhes queem
seunome
fizessem saber ao povo da cidade quanto apreciava aquela de- monstração de respeitosa simpatia.
«As onze horas danoite serviu-se
uma
magnífica ceia de ses- senta talheres,finda a qualSua Majestade se retirou.«No
dia seguinte pelas onze horas da manhã,recebeu SuaMa-
jestade no palácio do governo as pessoas principais da cidade e
do exército que
comanda
sua altesa.«Nestaocasiãoofereceu amunicipalidade aSuaMajestade
um
rico álbum, contendo vistas dos pontos favoritos de SuaMajes- tade
em
Dusseldorf, desenhados pelos melhores artistas da aca- demia da cidade.«Concluída esta recepção, retirou-se Sua Majestade para o palácio da suaresidência,onde às trêshoras houve
um
excelente banquete, no qual estiveram presentes asmesmas
pessoas que tinham tidoahonradeassistir à ceiada noite anterior».Mas
era precisodeixar Dusseldorf,partindopara
asua nova
pátria.Era
o dia4 de
Julho.O trem do
reida
Bélgica esperava-a
na
estação,devidamente preparado:
«No
dia 4 às dez horas damanhã
partiu aRainha.As
ruas— 41 —
estavam igualmente apinhadas de povo, quenão cessava de dar vivas a SuaMajestade.
Em
todasas estações atéà fronteira, di- rigiram asautoridades das localidades discursos, queSuaMajes- tade ouviu sem descerdo vagon.«Em
Verviers estava o conde de Marnix, grao-marechal da corte de sua majestade el-rei dos belgas, esperando Sua Majes- tade a Rainha,a qualdepois de sedemorarpoucas horasem
Bru- xelas, aonde se dirigiu por convite de sua majestade el-rei Leo- pondo, prosseguiu asua viagem para Inglaterra».A
entrega oficialda Rainha
fez-seem Ostende:
«Logo
depoisdeSuaMajestadeterchegado abordo dovapor de guerra Mindelo, pelauma
hora da tarde do dia 5, acompa- nhada de seusaugustos pais e irmão, o príncipeLeopoldo, desua augusta avó, a gran-duquesa Estefânia de Baden, que de Paris veio expressamente para sedespedir de sua augustaneta, de sua altesa real o duque de Brabante, ede todas as pessoas, tanto na- cionaiscomo
estrangeiras, que vinham na suareal comitiva; e tendo euobtido a préviaautorização de SuaMajestade,procedeu o secretário,nomeado
para assistir ao dito acto, à leitura,em
primeiro lugar, do protocolo da entrega da
mesma
augusta Se- nhora, de que incluo o próprio original, assinado pelo barão de Stillfried, ministro comissário por parte da corte da Prússia, eem
seguida do protocolo de recepção, assinado pormim, e pelo dito secretário, de que junto a respectiva cópia; e findaesta ce- remónia, rompeu aguarnição.e os circunstantesem
vivas entu- siásticos à Rainha de Portugal.«Havendo
Sua Majestade recebido depois o embaixador de sua majestade el-rei dos Países-Baixos, de quefaz menção o vis-conde de Seisal na sua dita participação, e tendo-se servido o jantar a Sua Majestade e às pessoas reaisque se achavam na sua companhia, serviu-se
em
seguida o deestado, e à noitehouveilu-minação abordo, o que tudo tinhasido disposto na véspera pelo marquês de Ficalho, que nos tinha precedido para Ostende, de combinação
com
o visconde deSeisal, ecom
a cooperação de Mr. Duelos, nosso vicecônsul naqueleporto, o qual muito se dis- tinguiu nesta ocasião.«Ao
governo de Sua Majestade já foram presentes osponde- rosos motivos que obstaram a que Sua Majestade pudesse em- barcar ali na corveta Bartolomeu Dias, para nela ser conduzida a Inglaterra.A mim
só compete declarar que aos incançáveis esforços egrande arrojo, tanto daparte do conselheiroFrancisco— 42 —
Soares Franco,
como
da do conselheiroDomingos
Fortunato do Vale ede todos os maisoficiais, sem amenor
excepção,e tripu- lações dos dois vapores, se deve o ter-se evitado algum grave contratempo,em
consequênciade dificilmentecomportar o porto de Ostende embarcações do lotedos ditosvapores; e tenhouma
verdadeirasatisfação,apresentando-mea indicar atodos,
em
geral,como
merecedores dos maioreselogios pelobom
desempenho de seus respectivos deveres.«Tendo-se sucessivamenteretirado de bordo sua alteza real o duquede Brabante, sua alteza agranduquezaEstefâniade Baden, e sua alteza a princeza Josefina de HohenzoUern-Sigmaringen, largou o vaporMindelo na madrugada do dia 6, sendo acompa- nhado atéDover pelacorveta Bartolomeu Dias,e pordois hiates reais, queSuaMajestadeaRainhaVitória sedignou
mandar
para aquele fim,incumbindo aomesmo
tempo o capitão Deumann, da marinha britânica, devir oferecer os seus serviços a SuaMajes- tade a Rainha.«Pela 1 hora da tardedo
mesmo
dia,desembarcou SuaMajes- tadeem
Dover, lançando-se do cais para o portaló do vapor Mindelouma
ponte forrada de bandeiras. Sua Majestade era aliesperada pelo conde de Lavradio e todo o pessoal da Legação portuguesa, e pelo duque de Richmond, lord Shefield, general Wylde,eváriasoutraspessoasdacortedesuamajestadebritânica.
«SuaMajestade,depois dehaver tomado
um
lunch queoconde de Lavradiohaviamandado
preparar, partiuem um
tremespecial paraLondres».Em Londres
foi recebida pelo príncipeAlberto que
aconduziu
atéBuckingham-Palace, onde
aesperava
a rainha Vitóriacom
toda a sua família. A.Íperma- neceu
quatro dias, durante os quaisnão houve honras que
lhenão dispensassem,
e à comitivaque
aacom- panhava,
e atenções e favorescom que não
a favore-cessem.
A
estadaem
Inglaterra é descritapor
Estefâniaem
três cartas,
de Londres,
dirigidas a suamãe.
Finalmente,
partiupara Plymouth,
a fimde embarcar na Bartoloíneu
Dias.AÍ
despediu-sede
seu paique
aacompanhara desde
Dússeldorf, ficandoda
famíliaapenas
seuirmão
o prín- cipeLeopoldo, que
veiocom
ela até Lisboa.- 43 -
Agora
anarração da viagem desde Plymouth:
«Na
madrugadaseguinte deixámos Plymouth, vindoem
nossa^
conservaanau Renown, eas fragatasDiadem,Curaçau,eRocoon, comandadas pelo almirante Sir Henry Ducie Ghads, a
quem
sua magestade britânicahaviadado ahonrosa missão de acompanhar a SuaMajestade nasua viagem paraLisboa.«
O
tempo,que ao princípiosehaviamostradomuito favorável,mudou
inteiramente na altura deCabo
Raso, e o vento contrário de tal formaparalizou oandamento dacorveta,que apenas podia deitaruma
milha,que julgámos mais prudente,a fim de seevitar maiores incómodos aSuaMajestade a Rainha,em
consequência da grandeagitaçãodo mar,odemandar oporto de Corunha, que nos ficava mais próximo.oEntrados ali na madrugada do dia i5, e tendo sido muito obsequiados pelasautoridades espanholas,deixámosaquele porto na
manhã
seguinte, navegando todo o dia à vista de terra.Mas
sobrevindo anoite, eapesar dosvivos desejos que tinha decomu- nicarcom
o Porto, sóporviade sinais, pois que de outromodo
seria necessário perder muitas horas, oque obrigaria a Sua
Ma-
jestade a passar depois mais
uma
noite no mar, responsabilidade esta que não quis de forma alguma tomarsobre mim,sobretudo depois doque havia sucedido na baía de Biscaia,vi contudofrus- tradas as minhas esperanças por causa da grande perração que havia, quenem
nos permitiu ver o farol da Luz.Não
nos deti- vemos,,por conseguinte, mais tempo, e seguimos para Lisboa correndo a costa até ali entrarmos na tarde do dia 17, para nós e para todos os portugueses da mais feliz recordação.aAqui finda aimportante quanto honrosa missão que El-Rei houve por
bem
confiar-me.«Permita-me V. Ex.» que,aoconcluí-la,eurogue aV.
Ex/
que,em meu
nome, e no dos mais q'ueme
acompanharam, e que tão grandesserviçosprestaram nesta ocasião,se sirva beijaramão
a SuaMajestadepela altamercê quesedignou conceder-nos, epôr aos pésdo trono os ardentes votos que fazemos pela ventura de Sua Majestade, de Sua Augusta Esposa, e de toda a sua real família»(1).(i) Relalóriocit., do duquedaTerceira, de4deJunhodei^58.
Diário do Governo n." 143, de 21 de Junho.
— 44 —
No
dia i8 deMaio de
i858,ao despontar da manhã,
as salvas
das
fortalezasda
cidadeanunciavam ao povo que
era aqueleo
dia destinadopara
ocasamento do seu
Rei.A Bartolomeu Dias que
transportara a noiva gentil estava à vista,ancorada em
frenteda Praça do Comércio. O
diamostrava-se formoso: um
belo diade primavera,
claro, cheiode
luz e deperfumes, como
são os
de
Portugal,em que
as rosas e os lírios desa-brocham debaixo do firmamento
azul.O
sol espelha-va-se
no Tejo
sereno; etudo
pareciasorrirpara
acolherno coração
alegreaquela
que,em breves
horas, viria sentar-seno
trono, dignificadopor
Isabelde Aragão
eFihpa de
Lencastre.As 9 horas
e 12minutos,
a artilhariaanunciava que
El-Rei havia saídodo Paço das Necessidades,
e 8mi-
nutos antes das 10chegava
àPraça do Comércio o
cortejo real,
seguindo em tudo o programa publicado na
folha oficial.O
infanteD.
João,formoso
e elegante,comandava o
regimento
decaçadores
a cavalo,que
desfilava à frenteda guarda de honra composta de
toda a força de cava- laria existenteem Lisboa
eque
seguiao coche
real(i).D. Pedro,
recebido pela corteque
já seencontrava no
pavilhão, e pelaCâmara
Municipal,passou
logo aembarcar para
a Baríolof?ieu Dias.O
espectáculo eraimponente. As músicas dos regimentos,
oestrondoda
artilharia, os vivas
dos marinheiros nas vergas dos
navios, os foguetesrebentando no
espaço, a agitação e os aplausos frenéticosdo povo, tudo
convertia aquele(\) Archivo Piltoresco, i.»vol., i858; pág. 377-379e 385-387.
- 89 -
vie, ait
pu
s'accomplirau
Jourde
naissance dema mère
qui est,en même temps,
ranniversairedu mariage
demes
bien-aimés parents. J'ai lacroyance que
celame
portera
bonheur
et j'ose alors dire aussi,un peu
à vous, Sire, carmon bonheur
consisteradonc
parti- culièrementen
celuide Votre
Majesté!Je
La
prie d'agréerTexpression
dema profonde
es- time et de bien vouloir croire à la confiance avec la- quelle je suís, Sire,— De Votre Majesté —
la toutede'vouée cousine
—
Stéfanie.Sigmaringen le 24 Octobre iSSy.
III
Sire
— Je
suis le voeu demon
coeuren
écrivant àVotre Majesté pour Lui
direque
j'étaisbeaucoup
avefcEUe
enpensées
eten
prièrespendant
cetemps
sima- Iheureux pour
la villede Lisbonne,
sitristepour
vous, Sire, et c'estavec bonheur
et reconnaissancepour
leCiei
que nous
recevons de meilleures nouvelles.—
Votre Majesté me permettra de Lui
dire ceque
j'aipense
bien des fois: c'estque
j'aurais étéheureuse
de partager cestemps
simalheureux
avec Elle,mais Dieu Ta voulu
autrement.Cest
avec émotion,bonheur
et reconnaissance envers Celui qui dirige lescoeurs de ses enfants sur terre,que nous avons
suiviVotre Majesté dans son dévouement aux pauvres malades
;mais
IIvous
a aussi accordé, Sire, la plusgrande
et la plus bellebénédiction qu'ilpeutdonner aux
souverains,cellede Tamour
etde la confiancede
leurs peuples.—
Veuil- lez agréer, Sire,Texpression de mes remerciments
sin- cères,pour Thonneur que Votre Majesté m'a
fait deme
donner Tordre de
la Sainte Elisabeth; c'esten
tâchant d'imiter les vertus de Celle dont il porte lenom, que
je pourrai
L'en
rémercier le plusdignement.
J'ai été— 90 —
bien
touchée
de labonne
etaimable
attentionde Votre
Majesté, qui avoulu que
j'oâreen son nom Tordre
àma
bien-aiméeMère. — Cest un
trêsgrand
plaisirque Votre Majesté m'a
fait enm'envoyant M.
lecomman- deur
Viale,pour apprendre
lalangue
portugaise, jeLui en
suis bien reconnaissante et je prendrai avec zelemes
leçons.Nous
regrettonsbeaucoup que Monsieur
le
comte
deLavradio
n'aitpu prolonger son
séjourici,car il est si
bon
et il inspire tantde
confiance,que nous Taimons
vraiment, ainsique
M.'"^ lacomtesse,
etque
leur départnous
laisseun grand
vide.Veuillez, Sire, croire
aux
sentiments deprofonde
es-time
etcomplet dévouement,
avec lesquels je suis, Sire,— De Votre Majesté —
ladévouée Cousine —
Stéphanie.Diisseldorfle20Décembre iSSy.
IV
Sire — Votre Majesté m'a cause une grande
joiepar
la
bonne
lettre qu'Ellem'a
écrite àToccasion de ma
fête; je
L'en remercfe
de toutmon
coeur et j'oseLui
direque
c'est avecune
biengrande
ferveurque
j'aiforme
lesmêmes
vceuxpour Son bonheur, au commen- cement
d'uneannée
qui doit être siimportante pour nous! Que Dieu
voiis bénisse etqu'Il soit toujours, etdans
tout ceque vous
entreprendrez, avecvous
Sire, etvous
serezheureux,
j'en suis sure, etvous
rendrez/heu-reux ceux
dont IIvous
a confie legouvernement
et lebonheur
et c'est là, surtout, ceque
je souhaite de toutemon ame pour
vous, car je sensque
c'est ce qui con- tribuera le plusau
votre!Avec un
vif désir, je suis convaincue,que Ton peut
atteindre ce but et si.Ton
ne voitpas
de suite le ré- sultatde
ses eíforts, je crois qu'il n'en existe pasmoins,
que
letemps nous
le révèle. Jerends
grâceau
Ciei— 91 —
pour
lesbonnes
nouvellesque nous apprenons
de Lis-bonne; Dieu
merci, je suis bienheureuse que
lama-
ladie ait disparue;
Dieu
veuille qu'ellene
revienne ja-mais! — Cest avec beaucoup
de plaisirque
jeprends
les leçons
de M.
Viale, qui lesdonne
d'unemanicre
fort agre'able etfort interessante, car ilme
donne, enmême
temps, un coup
d'oeilgeneral surlalitteVatureportugaise.Plus
j'apprends à connaitreM.
Viale, plus je dois être reconnaissante àVotre Majesté
deme
Tavoirenvoyé.
L'attachement
si vrai qu'ilvous
porte, Sire, semontra
en toute occasion; lorsque je lui aimontré
votre portraitil était tout touche' et
heureux
de revoir son roi bien-aimé! Mes
chers parentsme chargent
delesrappelerau bon
souvenirde Votre Majesté
etjeLa
priede
bienvou-
loir avoir la
bonté d'exprimer
àSa Maj.
Tlmpératrice, saGrand-Mère, ma
reconnaissance d'avoir pense' àmoi
et
de
lui oífrirmes
respectueuxhommages!
Jevous
prie, Sire, de bien vouloir croireaux
sentimentsde complet dévouement
avec lesquels je suis deVotre Majesté
—
-la
bonne Cousine
ettrêsheureuse
fiancée—
Stéphanie.
5í're
—
"Si Je n'avais
pas
craint d'être indíscrète, jevous
aurais écrit plus tôtpour vous
remercierpour
labonne
lettreque vous m'avez
écrite enréponse de
lamienne du 20 Décembre.
N'est-ce pas,vous
nem'en voudrez pas
si jevous
écris encore aujourd'hui,mais
c'est
que
c'estune grande
joiepour moi
dem"adresser
à vous, et en le faisant je suisun
vceude mon
coeur.La
lettreque
la Princesse, votre sceur,m'a
écritem'a
bientouchée
et je n'aipu
résister au plaisir deTen
re-mercier
tout de suite et de lui direcombien
je seraisheureuse de
partager avecvous
tous les sentiments d'affectionque vous
portez àvos chers sceurs et frères,- 92 —
Oui,
Sire, cela seramon
plusgrand bonheur de m'unir
àtous
vos
sentiments,de
partagervosjoies etvos
peines etvous m'aiderez
à remplir tousmes
devoirspar vos
conseils,par vos
désirs, car j'en aurai bienbesoin;
vous
aurezbesoin de beaucoup
d'indulgence et de pa- tience avecmoi; mais,
sinous avons
toujours lavolontédu
bien,Dieu nous
aidera, j'en ai laferme
conviction, et alors àdeux Ton
est plus fortque
seul! Je doisvous annoncer,
Sire,que
je suis à la veilled'unvoyage
à Beríin, oíi
mes
chers parents vontpasser quelques
jourspour
Tarrivéede
la jeune PrincesseFrédéric Guillaume,
cousinede
votreMajesté;
j'aieu
le plaisirde
faire saconnaissance
aujourd'hui àson passage
ici;c'était surtout
un grand
plaisirpour moi parce
qu'elle est votre cousine;quoique nous
n'ayonseu qu'un mo- ment
leplaisirde
lavoir,nous avons
été biencharmes par
sa grâce, sa simplicité etson
air de bonté.Quoi- que
jeme
réjouisse de lavoir àBerlin ainsique
M.""*laV. de Prusse
quiestpleinede bonté pour moi,
jene
puispas
direque
jeme
réjouisse d'allerdans
le troubledu grand monde;
carquand on
a tantde sujetsde bonheur
quivous
élèvent le coeur,quand on
a tantde pensées
sérieuses quivous
occupent,on
voudrait fuir lemonde
et jouir
de son bonheur
seulavec ceux que Pon aime!
Mais,
jene
doisabuser
pluslongtemps
de votrebonté
etde
votretemps, permettez-moi seulement de vous
direencbre que
c'estwte
biengrande
joiepour moi quand
je reçoisune
lettrede
votreMajesté
etque
je
La
prie biende
tout coeur,quand
Elle trouveun moment ou
Elle n'estpas
disposée à faire autre chose, dene pas
se laisser arrêterpar
lareserve etde penser
qu'elleme
faitcauser une
joie bien vraieen
m'écrivantquelques
lignes.Mes
chers parentsme chargent de
les rappeler
respectueusement au bon souvenir de Votre Majesté que
je prie...
DUsseldorfle 5 Février.
93 -
Ví
S&e — Cétait une
privationpour moi de
nevous
écrire de silongtemps, mais
ce n'estque
depuispeu de
joursque nous sommes
de retour d'unvoyage que mes
chers parents ont faitpour que
Je voie encore diffé- rents parents etbons amis
etque
j'enprenne
congé, avant lemoment ou
je dois allerdans ma
nouvelle pa- trie, qui m'est chère déjà, jevous
priede
le croire,parceque
c'est la vôlre,parceque vous Taimez
etque vous
êtes appelé à vivrepour
elle; etpendant
cetemps
je n'avais
guère un moment pour moi,
cardans un voyage comme
celui-là ily
a tantde personnes
etde choses
aussique Pon
veut et qu'il faut voir encore.—
Cest en
routeque
j'ai reçu la lettredu
i8FeVrierque vous avez eu
la bontéde
m'écrire; c'étaitpour moi Tun
desmoments
les plus agre'ablespendant
tout cetemps,
carvos
lettresme rendent
si hereuse, c'est alorsque
je trouve
une
re'ponseaux
sentiments quimaintenant occupent principalement mon
cceur;chaque
foisque
j'ai
de vos
nouvelles jeme
sens plusrapprochée de
vous,vous pouvez
juger alorsde ma
joie lorsque jereçus votre
bonne
lettredu
27. Jevous
enremercie
de toutmon
coeur, car ellem'a rendue
bieií heureuse.Mais
jevous
prieencore une
fois bieninstamment
dene
jamaisvous
laisser arrêter d'e'crire,quand
etcomme
vous
levoudrez, par
lareserveou par
la craintede me
fatiguer, c'est
donc une chose
impossible!Quoique
encore loinde vous
je vis et je senscependant
déjàpour
vous, c'estdonc
ledoux
devoirque
laProvidence m'a imposé
etpour
lequel je lui rends grâce toujours, etmon bonheur
consiste à partager vos sentiments, vos joies et vos peines;mais pour
cela il fautque vous m'en
parliez et, sivous ne
le faites dês à présent,vous
me
causerezune grande
privation.— Quelle
est la vie— 94 —
qui soit sans difficultés, sans peines? plus
on apprend
à vivre et pluson remarque
qu'elles sontau fond
le pain quotidien etque
les joies véritablesne
sontque
desrayons lumineux
quinous
sontenvoyés de temps en temps pour que nous ne perdions pas
courage,pour nous
relever,nous
aider àreprendre
des forcesnou-
vellesdans
la luttede
la vie. J'ai, naturellement, des expériencesencore
bien faibles,mais
j'ai lesentiment
qu'il doit en être ainsi
dans
la vie et que, pluson y
avance, plus les luttes deviennent grandes,mais
les forcesaugmentent
aussi et les expériences,souvent peu
agréables,que Ton
adú
faire,vous
aident envous
éclairant.Cest
Thistoirede
lavie dechaque humain, quelque
petitque
soit le cercledans
lequel il semeut, combien
plus cela doit-il êtredans une
position e'levée,ou
les devoirs sont plus grands, plus etendus!Mais
alors,
Dieu
qui est justedonne
aussi plus de force etde lumiòre
et,quand on
a coníianceen
Lui,on
arriveau
bien en reconnaissantcependant
lapropre impuissance.
Je crois aussi qu'il peut
y
avoir le vicedu
travai!,comme
le vice de Toisiveté, quoiqu'il soitbeaucoup moins commun que
ce dernier; il ason danger
aussi, car ce n'estpas
toujourspour
avoir travailléénormé- ment qu'on
arrivede
suiteau
meilleur résultat; jecrois qu'il faut avoir aussidu temps
librepour
réfle'chir surson
travail, afin d'en recueillir les meilleurs fruits; et puis c'estun
devoirde
nepas pousser lavertu du
tra- vail, qui est aussiune
sourcede bonheur
ve'ritable, àun
excès qui,au bout
d'un certaintemps, rend
inca-pable de
Texercer.Ah!
Sire, ilme semble que vous
avez bien raisonen
disantque
lacour
estle frottementdelahauteur
etde la bassesse; c'estpour
cela que, lorsqueTon y
vit et sur- tout lofsquePon
doit en être à la tête, il faut tâcherde
la
regarder
d'un pointde vue
bien elevepour ne pou-
voir êtfe atteintde
ses intrigues etde
ses petitesses et- 95 '-
avoir à côté
un
sanctuaireque
ses ennuis nepeuvent
atteindre.Cest
la famille; c'est le sanctuaire,ou vous devrez
toujourspouvoir vous
retirerpour vous reposer
des atfaires,pour
oublier le bruitdu monde, pour
jouirde
ces joies sidouces que
la viede
famille seulepeut vous
donner.Que Dieu accorde pour
cela sa sainte béne'diction,que
ces liens-làLuisoientconsacrés
entière-ment,
afin qu'Il les preserve,pour
qu'ils deviennent toujours plus étroits et plusdoux,
car toutheureux,
tout étroits qu'ils soient, ils sonthumains
etpour
cela imparfaits et fragiles, sansson
aide, sans sa grâce.J'ai
une chose encore
sur le cceur, qu'il fautque
jevous
dise,quoique dans
toute autre relationque dans
la nôtre celapourrait peut-être
presque
paraítrecomme
une
aífectation, ce qui entrenous ne peut
exister, c'estqu'en voyant
lamanière beaucoup
trop bienveillante, trop flatteusedont vous pensez
demoi,
jene
puism'em- pêcher de
la craintede
nepouvoir répondre en
réalité à ceque vous
attendezde moi,
et jevous
priede
coeur dene
croireque
ce qui est la vérité: c'estque
je n'au- raisdans Taccomplissement
dema mission que mon amour pour vous
etma bonne
volonté, tout le restedépendra de
la grâce de Dieu.Cétait
bienbon
à vous, d'avoir bien voulu tenircompte
demon
de'sird'apprendre
à connaítreun peu
la presse politique
de ma
nouvelle patrie et dem'avoir envoyé
à cet eífet les journaux-les plusmarquants;
re-cevez en
tousmes remerciments
!
Mes
chers parents serecommandent
bien affectueuse-ment
à votrebon
souvenir, Sire; labonne
lettreque
vous
avez écrite àma bien-aimée Maman, Ta
bien tou- chée etTa rendue
heureuse.Permettez-moi de recom-
mander
à votre bienveillancemes
frères etma
jeune sceur qui sontbons
et pleinsde
tendressepour moi
et qui reportent, dès à pre'sent,une
partie des sentiments qu'ilséprouvent pour moi
sur vous, Sire.-96-
Est-ce
que
j'osevous
prierde
bien vouloirme
rap- pelerrespectueusement au
souvenirdu Roi
votrePère
et de prèsenter
mes
tendreshommages
à S.M. Tlmpé-
ratrice douairière.
Vil
Sire
— Vous pouvez
jugerde ma
joie lorsquedans
la soirée
du Dimanche
dePâques Ton m'annonça
lapersonne
qui étaitporteur de
volre lettre,de
cettebonne
lettrepour
laquelle jevous
priede
recevoir tousmes remercíments
bien tendres; je
ne
sauraisvous
direcombien
ellem'a
touche'e etcombien
la confiance qu'ellem'expnme me rend
heureuse. Jene
puism'empêcher de vous
dire,quoique
lapensée de
la séparationde mes
bienaimés
parents,du
toit paternel,de ma
fa- mille,me
soit bien pénible, je suisheureuse de
voirapprocher
lemoment ou
cene
será pluspàr
lettresque nous causerons ensemble
etque
jevous
diraicom-
bien je suis reconnaissante àDieu
quim'a permis de vous consacrer ma
vie; oh! oui Sire, je reconnais tou- jours d'avantagemon bonheur. Qu'y
a-t-il de plusbeau, de
plusdoux dans
cemonde que Tunion de deux
coeurs qui secomprennent,
qui s'aiment, qui sontanimes du
même
désir; ilme semble que
quelsque
soient les évé-nements de
lavie, ils doivent êtreplus faciles àsuppor-
ter;mais
je croisque
ce qui est le plus essentielpour qu'une union
pareilledevienne
toujours plus intime,pour
qu'ellene
soit jamais troubléepar
le plus légernuage,
c'estde ne
se laisser arrêterpar
rienpour
se dire toujours lavérite', quoi qu'ilen
coute; car il a tantde choses
faciles àchanger au commencement par un
seul
mot,
qui,quand on
les laisse aller, grandissentcomme
toute chose, car il n'y a jamais d'arrêt, et peu- vent devenirune cause de
de'sagre'mentou de
trouble;et aussi c'est
une
prière bien ardenteque
jevous
adres-— 97 -
serai,
de me
dire toujours la vérité car j'y suis habitue'e et qu'elle m'estextrêmement
nécessaire, ceque vous
verrez, Sire, et cela seráune grande
tranquillitépour moi,
si j'osey compter.
Je
vous
trouve bien sévèredan3
votremanière dont vous vous
jugez,mais
ilvaut mieux
celaque
le con- traire.Cest,
je crois,un grand bonheur quand on
re- connait,comme
vous, tout ce qui a influé sur le déve-loppement du
caractere aussi bien ce qui a étémoins
favorableque
ce quiPa
éte'; car pluson
se connaít et pluson
s'estrendu compte
de toutes ces impressions, pluson
doit arriver vite etsúrement au
but vers lequelon
tend etsouvent
je croisque Ton
arrive à reconnaitre plus tard ce qui,dans
lemoment,
n'e'taitpas
favorableou même ne nous
semblaitpas bon,
peutnous
servirdans
la suite; c'est larecompense
deDieu pour ceux
quicherchent
véritablement le bon, qui veulent le bien qui fait tourner toutpour
lemieux; quand on
a ce désirdu
bien je croisque
rien n'estperdu dans
la vie.Et, sij'ose dire, c'est labénédiction
de
votreMère
bienaimée que Dieu
a rappele'e si tôt, qui estavec vous
et qui será toujoursavec vous
etvous
porterabonheur.
Je
pense beaucoup
à votreMère
bien-aimée, Sire, quinous
a laisse'un exemple
de biengrandes
vertus,que
j'aurai toujours
devant
lesyeux
etque
je tâcheraide
suivre, et j'ai Pespoirqu'elle be'nira notreunion,comme
si
nous
avionsencore
lebonheur
de Iaposséder
sur terre.Voilà
cegrand
jour quinous
liera éternelle-ment Tun
ã Tautre, qui est bienproche,
et j'aiun
voeu bien ardent àvous exprimer, que vous
réaliserez n'est- ce-pas?Cest que nous nous
réunissions la veille de notre jour demariage dans
la S.^^Communion;
celame rendra
bien heureuse, j'ai laferme
convictionque
celanous
porterabonheur! Mes
chers parentsme
chargent de
les rappeler bienaífectueusement
à votrebon
souvenir et jevous
prie, Sire,de
diremes
compli--98-
ments
bien tendres à votre chère soeur.— Bien
desfois j'ai lu et je relis votrebonne
leitre et toujoursavec
de re'motion, et c'esten vous
enremerciant encore que
jeme
disde
toutmon
coeur.Votre
toutedévouée
etheureuse
íiance'e—
Stéphanie.VIII
Ma
chère etadorée Maman
(i)— Nous venons
d'arri- ver,dans
cemoment,
àBuckingham
Palace, et lepre-mier moment que
j'ai de libre doitvous
êtrevoué. Jevous
assureque
jene
puispas du
toutme Timaginer
en- coreque vous
êtes partie,que nous nous sommes
sé-parées
et le videque vous
laissez istfiir alie recht schme7^llich fiihlbar (2).La Reine,
laDuchesse de Kent,
lePrince Albert
ontexprime
des regretsvraiment
sincères, je le crois,de
ne pasvous
voir ici,on nous
attendait;mais nous avons
dit,Du
hàítestDich
so an- gegriffen gefiihlt, dassDu
es nichtivagen
konntest iind ichhabe sogar der Kônigin
gesagt, dass ichDir
nichtmehr ^ugeredet
habe, so schmer^lich esmir
jpar,Dich schon
jet^t verlassen {u rniissen(3).La
reine est lafemme
la plussimple que Ton
peut s'imaginer,on en
est írappé dès lepremier abord;
sie hat etivas so Gutes,Mildes und
Bescheidenes,was
sehr ^u ihr hin- :{ieht{4).— Pardonnez-moi,
chère et bien aime'eMaman,
(i) Sua alteza Josefina Frederico Luiza, filha do grão-duque de BadenCarlos Luís Frederico.
(2)
É
por todos sentidobem
dolorosamente.(3)
Tu
tinhas-te sentido tão cansada, que não podias arris- car-te, e até disse àRainha, que não tinha mais falado contigo, tão doloroso erapara'mim
o terdete deixar!(4) Ela temqualquer coisade bom, de suave, de discreto,que muito atrai.
— 14^ —
plaisir etje le
regarde
souvent.Mon
cherPedro vous
pre'sente sonhommage
filial etmoi
Je suis élernellement— Votre
fidèle vieille filie Stéphanie.(II doit
y
avoir iciunelettreégarée; voict cellequiparait ètre la suivante)(i).XXV
Ma
chère etadorée Mamaji. —
IIy
a déjàlongtemps que
je nevous
ai plus écrit, et j'ai àvous
remercierpour deux
chères etbonnes
lettres; J'espèreque vous
aurez reçu lamienne du
27,que
j'aienvoyée
à IJmkirch,par
voie de terre. Je suis tristeque vous
souífriez tantde maux
de tête etvous comprenez combien
je fais desvoeux
ardentspour que
le séjour de laWeinburg,
lebon
air desmontagnes
et lereposvous
fassentdu
bien;n'est-ce pas, chère
Maman, vous monterez souvent dans
lesmontagnes,
surtoutquand
les brouillardscom- menceront. Maintenant,
la route deWalsenhausen
doit être
achevée
et c'estune
bellepromenade
en voi- turepour
aller respirer là-hautun
air plus pur; etpuis, c'est si beau, si riche,si riant (sic) cette contrée!Cela
fait
du
bien à la voir seulement, ses habitantsy
sontheureux,
ils savent travailler, ils saventse faireun
chez- soi agréable et propre, et je croisque
cela doitmême
avoir de Pinfluence sur la moralité
du
peuple.Dieu
merci,que
cette année-ci le raisin amieux
réussi,pour
la
première
fois depuis je ne saiscombien
d'années!
Cela donne
de Tespoir, qu'à présent cela iramieux d'année
en année,comme
cela estdans
les autrespays ou
lamaladie
a regné aussi; cela seraitun immense bonheur,
car tout lemonde
s'accorde à direque
c'est là la véritable richessedu
Portugal. L'autre jour,(j) Nota do Arquivo de Sigmaringen.