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ESFERAS PÚBLICAS SOBRE DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

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Academic year: 2023

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JOSÉ KENNEDY LOPES SILVA

ESFERAS PÚBLICAS SOBRE DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

LAVRAS - MG

2023

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JOSÉ KENNEDY LOPES SILVA

ESFERAS PÚBLICAS SOBRE DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Tese apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Administração, área de concentração em Organizações, Gestão e Sociedade, para obtenção do título de Doutor.

Prof. Dr. José Roberto Pereira Orientador

LAVRAS - MG 2023

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JOSÉ KENNEDY LOPES SILVA

ESFERAS PÚBLICAS SOBRE DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA PUBLIC SPHERES ON DEFORESTATION IN THE BRAZILIAN AMAZON

Tese apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós- Graduação em Administração, área de concentração em Organizações, Gestão e Sociedade, para obtenção do título de Doutor.

APROVADA em 31 de agosto de 2022.

Dra. Patrícia Aparecida Ferreira UFLA Dra. Sabrina Soares da Silva – UFLA Dr. Osmar Siena – UNIR

Dr. Valderí de Castro Alcântara – UFMG

Prof. Dr. José Roberto Pereira Orientador

LAVRAS-MG 2023

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DEDICATÓRIA

Dedico esta tese aos amazônidas que vivem cotidianamente pela sobrevivência da Amazônia.

Aos que lutam diuturnamente por um Brasil melhor.

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AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos em trabalhos científicos são, para mim, uma seção que permite ao leitor entender e se aproximar do autor do trabalho. Por isso, trato, além de tudo, como algo íntimo em que é possível conhecer o que alimenta e constrói a sensibilidade do autor. Quem não gosta dessa seção, por favor, reveja seu pensamento sobre isso e comece a ler os agradecimentos de teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso, porque, às vezes, é o que há de mais belo em um trabalho científico.

Dito isso, não há como não começar os meus agradecimentos pela minha companheira Maristela Abadia Guimarães, ela anteviu, antes de mim, que eu poderia ser professor, ter uma carreira acadêmica e chegar até o doutorado. Ela viu naquele “moleque”

que terminava a graduação tudo isso, algo que sequer eu cogitava e sonhava. O seu olhar, a sua sensibilidade me fez mudar de opinião, acreditar que poderia ser um professor, mestre e doutor. Sem ela, eu não sei o que seria da minha vida, só sei que não seria essa, só sei que não estaria escrevendo essas linhas. Por isso e muito mais do que isso, MEU MUITO OBRIGADO, MINHA FLOR DE PIMENTA, “TE AMO, SIMPLES ASSIM”.

Aos meus pais, Maria Antônia, vulgo “Gum” e Zé Bodinho, vulgo “Pai Bidu”, não há palavras, não há habilidade de escrita que me faça descrever o sentimento de agradecimento para esses dois, sem eles nada seria possível, tudo que faço na minha vida é com eles, para eles e por eles. Gum foi literalmente a minha professora, alfabetizou-me e me incentivou a estudar desde sempre, e sempre disse aonde eu poderia chegar. Meu pai, por outro lado, mesmo sem ter estudado, sempre acreditou em mim e me incentivou; acreditou que, pelos estudos, eu poderia ser alguém. Eles são os doutores da minha vida, como diz Emicida na música Oásis “Não confunda diploma com vivência e visão, não”. Meus pais são os meus orientadores desde sempre, me guiam, me ensinam todos os dias a ser uma pessoa melhor, um professor melhor e agora um doutor melhor.

Ao meu irmão, Keny Rogenis, que, com a sua simplicidade e modo de ver o mundo, me faz voltar ao meu lar e não esquecer de onde vim. Ao nosso modo, respeitamo-nos e nos amamos. Sem ele não seria possível que eu pudesse andar e voar por este País em busca dos meus sonhos. A Janiqueli, minha cunhada, por aguentá-lo e por garantir que ele me pague uma cerveja pela tese.

A dona Irani (in memorian), minha sogra, que pude aprender com a sua experiência até os últimos momentos de sua passagem por este plano. Aprendi com ela que nunca

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devemos abrir mão de nossos desejos, de nossa personalidade, de nossa essência e também como professor e agora doutor não posso falar “memo” é “meSSSSSmo”, leiam com sotaque bem mineiro, ouvirei eternamente: “que coisa feia, um professor que não sabe falar, que fala

“memo” é “MESSSSSSSSSSSSSSMO”.

Às gatas, Selma que sempre me ensina, com o seu humor (mau) e carência, a importância de fazer bem a alguém e por ter sido quem mais acompanhou a escrita desta tese, todos os dias dormia sobre a minha mesa de trabalho. À Josefa, que só sabe amar e fazer arte, quem em tempos tão tristes, trouxe alegria.

A minha família e amigos, pessoas que não convém mencionar, mas elas sabem o quanto foram importantes desde a minha infância em Peixoto de Azevedo-MT, a adolescência, juventude em Sinop-MT e a vida por Goiás, Mato Grosso e Rondônia. Tenho um pouco de cada um neste texto, tenho um pouco de cada em tudo que faço, vocês têm culpa nisso. Péra, vou mencionar a minha cunhada Onélia porque senão ficará muito braba ao não ver o nome dela aqui. Obrigado por me construírem.

Aos amigos que a Unir me deu. Sem vocês não haveria como chegar aqui. Emerson, com seu apoio e amizade, com ele aprendi que o mundo tá aí para ser vivido para sermos felizes, “sabe viver!”. Aline, sem ela, a minha vida, dentro da Unir e em Vilhena, seria muito mais difícil, uma linha é pouco para agradecê-la pelo carinho de sempre, obrigado pelo estojo e por toda a sua sensibilidade que me permite enxergar o mundo de outra maneira. Juçara, a

“tucaninha paulista”, que sabe cozinhar e que não vota no PSDB, eu nunca errei tanto em julgar uma pessoa pelo seu estereótipo, que bom!

Em Lavras-MG, reencontrei uma pessoa que tive a oportunidade de me aproximar ainda mais, Gigi. Eu a conheci no mestrado em Porto Velho-RO e a reencontrei do outro lado do País, eu no doutorado e ambos fincando a bandeira do Norte e de “RONDONHA”. Gigi me resgatava para o mundo, dos buracos profundos aos quais um programa de doutorado pode levar, na leveza de sua risada, de pegar uma flor na rua, de um feijão tropeiro na praça, de “litrão” no bar, OBRIGADO por não me deixar afundar na solidão dos dias frios em Lavras.

Eu não posso deixar de falar da Lívia Luz. Do nada, eu encontro essa amizade em uma disciplina aleatória do doutorado, ela nem devia tá ali, ou devia, devia muito. Lívia foi luz, risada, amor e espiritualidade. Lívia me levou ao Sul de Minas. Lívia me colocou na casa dela, me levou para a família dela, o que aliviava a saudade da minha família. Nascer no mesmo dia que ela foi a mais simples das nossas coincidências e afinidades, e pelo menos

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aqui eu vou concordar com a “oposição” que a chama de “Lívia Fofinha”.

Aos amigos que fiz no doutorado, Adriano e Elvis por acolher aquele nortista que reclamava do frio. Sem eles, a minha adaptação ao primeiro semestre seria muito mais difícil.

Adriano, devo a você a disciplina de métodos quantitativos e seu “Cabuloso” me deve o Dedé. Elaine, “minha veterana preferida”, que sempre tinha algo bom para falar (e como fala, rsrs), seus conselhos de veterana me guiaram para ser sua “irmã” de orientação. Thatiana, minha maior companheira nos artigos e apresentações de disciplinas, tomamos menos cervejas juntos do que devíamos, não pedalamos, mas um dia eu entro em forma para corrigir a falta desse pedal, estarei sempre na sua torcida para você trilhar a sua carreira docente. A Rafaela Caetano, a pessoa que faz até pão de queijo por uma planilha de Excel, ouvir você falar sobre as suas perspectivas da Economia era sempre um momento de risadas e de aprendizado.

Beth, que tem o que mais este País tem de bom, alegria e leveza. Se seu dia tá ruim procure a Beth. Era isso que eu fazia. Beth é o Brasil que eu quero. A docência em Administração precisa de pessoas como ela. Juliano, com a sua malemolência, ensina as pessoas a ver o mundo de maneira menos pesada, sobrevive para viver, ele me disse algo sobre mim que é uma das coisas mais marcantes que já me falaram em toda a minha vida.

Flávia, como era bom conviver com este talento acadêmico, sua inteligência e vontade de trabalhar salta aos olhos e em toda a conversa com ela eu aprendia algo. Almoçar no RU e sentar à grama com vocês era o que se tinha de mais prazeroso para fazer no campus da Ufla.

Depois veio Maria Denise para colocar o tempero do nordeste nas minhas amizades, um pouquinho do aconchego e do forró cearense na minha passagem por Minas; as conversas sobre a vida debaixo das árvores, próximo ao DAE, tiveram o melhor sotaque. Pâmela, a primeira pessoa que conheci do Programa, já a conhecia de Eneo, sempre elétrica, sempre com sangue nos olhos, não tem como se desligar próximo dela. Ela me deu a notícia da minha aprovação no Programa e, no seguinte, eu dei a notícia da aprovação dela, das lindas coincidências da vida.

José Edemir da Silva Anjo, nome completo, porque ele quer assim. Zé Edemir provocou a minha admiração desde as primeiras palavras trocadas, somos parecidos, histórias em comum, foi e é um parceiro de estudos, de escritas, de ideias, de teses; a minha tese, tem muito de Zé Edemir em minha tese, tem escolhas, tem conselhos dele aqui. Direi aos meus alunos, ao longo da vida; “Eu conheço o Prof. José Edemir da Silva Anjo, ele foi meu colega de doutorado”.

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Samanta, minha companheira de lereias, me fez e faz enxergar que o mundo gira fora da academia, fora de uma sala de aula de doutorado e de seus artigos. Com ela, entendi que eu posso ir muito além dos ritos acadêmicos com um diploma de doutorado. Não houve sequer um diálogo entre nós que eu não tenha aprendido algo com ela, foi e é professora, foi e é amiga. Com ela, vivi os momentos mais intensos que envolve o doutorado e escrevi textos que me farão ter orgulho por toda a minha trajetória acadêmica. “Escreve, Kennedy, Escreve!!!”; sempre acreditou mais na minha tese do que eu. A subjetividade e sensibilidade desta tese têm a sua assinatura. Sul de Minas. Cervejas. Política. Lar. Lula, o Brasil para os brasileiros.

Quando parti para o doutorado, não fui em busca apenas de um diploma. Fui em busca de novas experiências e todas essas pessoas que encontrei em Minas Gerais me fizeram perceber que essa aventura “saiu melhor do que a encomenda”.

Tenho de agradecer ao Clube de Regatas Vasco da Gama, precisamos de paixão, precisamos de ópio e o Vasco me completa nesse sentido, me faz esquecer por 90 minutos pelo menos duas vezes por semana que há problemas maiores na vida. Respiro!

Para a “Dôtora”, minha bicicleta que me conduziu, literalmente, à Ufla e seu temível morro, subimos juntos, ela trazia os bons ventos ao meu rosto pelas curvas e subidas de Lavras.

Ao Twitter, por ser o meu jornal.

Ao presidente Luis Inácio LULA da Silva, eleito pela terceira vez presidente do Brasil, e à ex-presidenta Dilma Vana Rousseff; com os dois reconheço a importância dos atores políticos e das políticas públicas para que pessoas como eu e da minha origem pudessem ter suas vidas transformadas.

Aos professores da graduação, Alexandre Nascimento e Marinês Orlandi e do mestrado, professor Osmar Siena, sem seus ensinamentos não chegaria até aqui e nem iria adiante. Nas minhas aulas, tem um pouco de cada um de vocês, espero honrá-los sempre.

Ao meu orientador, Prof. José Roberto Pereira, além da experiência compartilhada e ensinamentos teóricos e científicos da tese, levo comigo o aprendizado de como conduzir o diálogo e a educação entre orientado e orientador. Minhas relações de orientação de agora em diante sempre terão um pouco do jeito José Roberto Pereira de ser.

Aos membros da banca, professores Dr. Valderí de Castro Alcântara, Dra Renata Pedretti Morais Lima, Dra. Sabrina Soares da Silva – UFLA, Dr. José de Arimatéia Dias Valadão (UFLA) e Dr. Marcelo Leles Romarco de Oliveira, por dedicarem seu tempo e

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experiência na condução e conclusão da minha pesquisa, os seus conselhos foram e serão valiosos para a minha tese e trajetória acadêmica.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Administração da Ufla, em especial as professoras Flávia e Mônica, cada uma ao seu jeito me tocaram em como ser um melhor professor.

Aos colegas da Universidade Federal de Rondônia, em especial aos professores do Departamento Acadêmico de Administração do campus de Vilhena-Ro. Por fim, a todos que de alguma forma cruzaram e me “atravessaram” durante a minha vida de alguma maneira, o MEU MUITO OBRIGADO!

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Epígrafe - O que me inspira:

Por tudo isso, minha terra envolve também o meu sonho de liberdade que não posso impor a ninguém, mas por que sempre lutei. [...]A Terra da gente é sua geografia, sua ecologia, suas terras, seus vales, suas montanhas, suas florestas, seus rios, seus minerais, seus animais, seus pássaros, seus campos, suas colinas, seus desertos, mas é também o que mulheres e homens fazemos dela. [...]. A Terra da gente envolve também o processo de luta por sonhos diferentes, às vezes antagônicos, como os de suas classes sociais.

Minha Terra não é afinal uma abstração.

(FREIRE, 2019a, p. 45)

Quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles os seus sentidos, considerando que isso é atributo exclusivo dos humanos, nós liberamos esses lugares para que se tornem resíduos da atividade industrial e extrativista. Do nosso divórcio das integrações e interações com a nossa terra mãe, a Terra, resulta que ela está nos deixando órfãos, não só aos que em diferente graduação são chamados de índios, indígenas ou povos indígenas, mas a todos.

(KRENAK, 2019, p. 49-50)

Viver é partir, voltar e repartir.

Trecho da Música: “É tudo para ontem” de Felipe Vassao, Leandro Roque (Emicida) e Thiago Jamelão.

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RESUMO

A Amazônia brasileira, diante de sua relevância social e ambiental, envolve diversas discussões a partir de seu contexto histórico e de suas relações com o Estado, o Mercado e a Sociedade, o que possibilita afirmar que há diversas esferas públicas sobre esse importante território para o Brasil e o mundo. Na intenção de contribuir para o debate científico, social e político, esta pesquisa se propõe a responder como as esferas públicas sobre o desmatamento na Amazônia brasileira, no âmbito internacional, nacional e regional, foram capazes de influenciar decisões políticas. Para isso, foram selecionados os discursos das publicações dos jornais Amazônia Real, Folha de São Paulo e The New York Times, considerando o período entre 2011 e 2020. Para responder à questão de pesquisa e atender aos objetivos do trabalho, buscou-se apoio na fundamentação teórica da Teoria da Ação Comunicativa (TAC), das Esferas Públicas de Jürgen Habermas, da Análise do Discurso Crítica (ADC), da Gestão Social e do contexto histórico da região Amazônica brasileira, explicitando os conflitos e as políticas públicas relacionadas à proteção ambiental. Nos três jornais, foram levantados, no período escolhido para análise, 1.272 textos relacionados ao desmatamento na Amazônia brasileira. Dos quais, foram excluídos 629, restando para a análise 643 matérias. Para organização das informações, foi utilizado o software de análises de dados MAXQDA. Os discursos analisados nos jornais investigados foram analisados por meio de quatro estruturas discursivas: Política Pública, Empresarial, Técnico-Científica e Ambientalista. Essas estruturas permitiram que os discursos dos sujeitos sociais fossem caracterizados de forma orgânica para o entendimento das esferas públicas. As esferas públicas identificadas foram: “Código Florestal”, “INPE”, “Dia do Fogo”, “Fiscalização”,

“Moratória da Carne”, “Moratória da Soja”, “CAR” e “Grandes Obras de Infraestruturas”,

“Arco do Desmatamento” e “Acordo de Paris”. Os resultados dessas esferas influenciaram o comportamento da Sociedade, do Estado e do Mercado sobre os problemas causados pelo desmatamento na Amazônia brasileira. Reflexo disso foram as aprovações do Código Florestal e de outras ações que provocaram a ampliação das desigualdades no território amazônico. Os discursos relacionados às estruturas discursivas Ambientalistas e Técnico- Científica apresentaram-se com maior capilaridade pontos de vistas convergentes com a perspectiva ambiental. Nos conjuntos discursivos das estruturas Políticas Públicas e Empresarial, verificou-se haver uma diversidade de opiniões públicas em relação aos contextos ambientais e econômicos. Algumas contribuições foram a constatação do desmatamento como motivo para a criação de políticas públicas; a identificação de discursos convergentes entre ambientalistas e empresários que buscam atender aos acordos ambientais internacionais; ea identificação de que os estudos científicos ainda não se consolidaram ao ponto de impactarem na redução do desmatamento da Amazônia brasileira. Os jornais investigados precisam se aproximar dos amazônidas, pois constatou-se que estes influenciam as ações governamentais. Comprovou-se que as esferas públicas interferem nas práticas dos órgãos internacionais e dos governos. Foi evidenciado que há a interligação entre Estado e Mercado – sistema – em detrimento das discussões sociais e ambientais, o que se confirma a

“colonização do mundo da vida” em relação às práticas ambientalistas.

Palavras-chaves: Amazônia Brasileira. Desmatamento. Esferas Públicas. Teoria da Ação Comunicativa. Análise do Discurso Crítica. Rondônia.

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ABSTRACT

The Brazilian Amazon, given its social and environmental relevance, prompts several discussions based on its historical context and its relations with the State, the Market and Society, which makes it possible to affirm that there are several public spheres on this important territory for Brazil and the world. With the intention of contributing to the scientific, social and political debate, this research aims at answering how the public spheres on deforestation in the Brazilian Amazon, at the international, national and regional levels, were able to influence political decisions. In order to do that, the discourses of the publications of the newspapers Amazônia Real, Folha de São Paulo and The New York Times were selected, considering the period between 2011 and 2020. To answer the research question and meet the objectives of the work, the theoretical foundation of the Theory of Communicative Action, of Jürgen Habermas’ Public Spheres, of the Critical Discourse Analysis, of the Social Management and of the historical context of the Brazilian Amazon region were used, the latter explaining the conflicts and public policies related to environmental protection. In the three mentioned newspapers, 1,272 texts related to deforestation in the Brazilian Amazon were collected in the chosen analyzed period, of which, 629 were excluded, which accounts for 643 articles remaining for the analysis. For an organization of the information, the MAXQDA data analysis software was used. The discourses analyzed in the investigated newspapers were analyzed through four discursive structures: Public Policy, Business, Technical-Scientific and Environmentalist. These structures allowed the discourses of social subjects to be characterized in an organic way for a better understanding of the public spheres. The public spheres identified were: “Forest Code”, “INPE” [Brazilian National Institute for Space Research], “Fire Day”, “surveillance”,

“Beef Moratorium”, “Soy Moratorium”, “CAR” [Brazil’s Rural Environmental Registry]

and “major infrastructure works”, “Arc of Deforestation” and “Paris Agreement”. The results of these spheres influenced the conducts of Society, of the State and of the Market on the problems caused by deforestation in the Brazilian Amazon. A reflection of this was the passing of the Forest Code and other actions that caused the expansion of inequalities in the Amazon territory. The discourses related to the Environmentalist and Technical-Scientific discursive structures were presented with greater capillarity points of view converging with the environmental perspective. In the discursive sets of Public Policy and Business structures, it was found that there was a diversity of public opinions in relation to environmental and economic contexts. Some contributions were the observation of deforestation as a reason for the creation of public policies; the identification that there are convergent discourses between environmentalists and businessmen who seek to comply with international environmental agreements; and the identification that scientific studies have not yet been consolidated to the point of having an impact on reducing deforestation in the Brazilian Amazon. The investigated newspapers need to get closer to the Amazonians, as it was found that they influence government actions. It was demonstrated that the public spheres interfere in the practices of international bodies and governments. It was evidenced that there is an interconnection between State and Market – system – to the detriment of social and environmental discussions, which confirms the “colonization of the world of life” in relation to environmentalist practices.

Keywords: Brazilian Amazon. Deforestation. Public Spheres. Theory of Communicative Action. Critical Discourse Analysis. Rondônia.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura da tese. ... 47

Figura 2 - Síntese dos fatos do processo histórico da Amazônia. ... 60

Figura 3 - Desmatamento por categoria fundiária. ... 64

Figura 4 - Mapa do desmatamento da Amazônia brasileira em 2021. ... 65

Figura 5 - Mapa do desmatamento da AMACRO. ... 66

Figura 6 - Constituição e conscientização do sujeito em relação com os mundos. ... 90

Figura 7 - Categorias Teóricas da Gestão Social. ... 109

Figura 8 - O lócus da Gestão Social e as inter-relações e tensões entre sistema e mundo da vida. ... 115

Figura 9 - Etapas da construção da pesquisa. ... 117

Figura 10 - Percurso Metodológico. ... 126

Figura 11 - Fases de identificação, exclusão e seleção das reportagens. ... 132

Figura 12 - Inserção e separação das reportagens selecionadas para o MAXQDA. ... 133

Figura 13 - Codificação dos trechos das reportagens. ... 134

Figura 14 - Seleção e análise dos segmentos codificados, estrutura discursiva e jornal. ... 134

Figura 15 - Triangulação para análise das informações. ... 144

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Taxas de desmatamento da Amazônia brasileira ... 62 Gráfico 2 - Taxas de desmatamento no Estado de Rondônia ... 67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Textos produzidos pelos portais de notícias. ... 128

Tabela 2 - Número de textos produzidos pelos portais de notícias no período de 2011 a 2020. ... 129

Tabela 3 - Número de textos produzidos por ano pelos portais de notícias, no período de 2001-2020. ... 130

Tabela 4 - Número de matérias excluídas a partir das leituras. ... 132

Tabela 5 - Resumo quantitativo das notícias publicadas no Amazônia Real... 136

Tabela 6 - Resumo quantitativo das notícias publicadas na Folha de São Paulo. ... 138

Tabela 7 - Resumo quantitativo das notícias publicadas no The New York Times. ... 139

Tabela 8 - Número de matérias relacionadas às estruturas discursivas nos jornais pesquisados. ... 158

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Busca de artigos na Spell. ... 72 Quadro 2 - Relação dos artigos sobre desmatamento na Amazônia... 72 Quadro 3 - ODMs e suas metas. ... 146 Quadro 4 - Os ODS e metas que se relacionam com a discussão das esferas públicas sobre desmatamento da Amazônia. ... 150 Quadro 5 - Leis, Decretos, Resoluções e planos dos ODMs e ODSs. ... 155 Quadro 6 - Síntese dos principais resultados das estruturas discursivas. ... 215

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LISTA DE SIGLAS ADC Análise do Discurso Crítica

ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração APA Áreas de Proteção Ambiental

BASA Banco da Amazônia

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações CAR Cadastro Ambiental Rural

CNA Confederação Nacional e Pecuária do Brasil

CNODS Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

CONABIO Comissão Nacional da Biodiversidade CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente DCE Diretório Central dos Estudantes

DETER Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real

ECO-92 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

ENAPEGS Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social FENEAD Federação Nacional dos Estudantes em Administração FERS Florestas Estaduais de Rendimento Sustentado

FUNAI Fundação Nacional do Índio

GSI Gabinete de Segurança Institucional GEE Gases de Efeito Estufa

GTSC A2030 Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBC Interesse Bem Compreendido

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IFRO Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Rondônia IMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPAM Instituto de Pesquisas Ambientais na Amazônia IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LGBTQIAPN+ Lésbicas, Gays, Bi, Trans/Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agenêro, Pan/Poli, Não-binárias e mais.

MAPBIOMAS Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil

MMA Ministério do Meio Ambiente

MRE Ministérios das Relações Exteriores

MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MST-RO Movimentos dos Trabalhos Rurais Sem Terra em Rondônia ODM Objetivos do Desenvolvimento do Milênio

ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ONG Organizações Não-Governamentais

ONU Organizações das Nações Unidas PAC Plano de Aceleração do Crescimento PAINELBIO Painel Brasileiro de Biodiversidade PAS Plano Amazônia Sustentável

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PDES Plano do Desenvolvimento Estadual Sustentável de Rondônia

PDF Portable Document Format

PND Plano de Desenvolvimento Nacional PNE Plano Nacional de Energia

PNF Programa Nacional das Florestas

PNGATI Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas

PNMA Política Nacional do Meio Ambiente

PNPSB Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

POLOAMAZÔNIA Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia PPCDAM Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento da Amazônia PROARCO/IBAMA Programa de Prevenção e Controle às Queimadas e aos Incêndios

Florestais no Arco do Desflorestamento

PRODES Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite

PROVEG Política Nacional de Recuperação Vegetal PRV Plano de Recuperação Verde

RESEX Reservas Extrativistas

RIO+20 Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável SEDAM Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental

SEMA-MT Secretaria de Estado do Meio Ambiente

SEUC-RO Sistema Estadual de Conservação da Natureza de Rondônia SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SRB Sociedade Rural Brasileira

SPELL Scientific Periodicals Electronic Library

SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia TAC Teoria da Ação Comunicativa

UC Unidades de Conservação

UEE-MT União Estadual dos Estudantes de Mato Grosso UEG Universidade Estadual de Goiás

UFAC Universidade Federal do Acre UFAM Universidade Federal do Amazonas UFLA Universidade Federal de Lavras UFPA Universidade Federal do Pará UNB Universidade Nacional de Brasília UNIR Universidade Federal de Rondônia USP Universidade de São Paulo

ZEE Zoneamento Econômico Ecológico

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 21

1.1. Quem é o amazônida que escreve a tese ... 21

1.2. No meio do doutorado havia uma pandemia, havia uma pandemia no meio do doutorado: a Covid-19 e a sua interferência no processo subjetivo de escrita da tese ... 25

1.3. A trilha da tese: sua apresentação e seus propósitos ... 34

2 CONTEXTO HISTÓRICO, SOCIAL E AMBIENTAL DA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA ... 48

2.1. Estudos ambientais sobre o desmatamento na amazônia brasileira ... 70

3 TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA, ESFERAS PÚBLICAS E GESTÃO SOCIAL ... 81

3.1. Teoria da Ação Comunicativa (TAC) de Jürgen Habermas e a formação de esferas públicas ... 81

3.2. Análise do Discurso Crítica (ADC) ... 98

3.3. Gestão social e a amazônia brasileira ... 107

4 PARADIGMAS EPISTEMOLÓGICOS, MÉTODOS E TÉCNICAS ... 117

4.1. Paradigmas científicos, ontologia e epistemologia aplicada na tese ... 118

4.2. Análise dos discursos que consolidam as esferas públicas sobre desmatamento na amazônia brasileira ... 123

4.3. Inventário das publicações dos jornais investigados ... 126

4.3.1 Sistematização da coleta e análises das reportagens ... 133

4.3.2. A publicação de notícias no Amazônia Real ... 135

4.3.3. A publicação de notícias na Folha de São Paulo ... 137

4.3.4. A publicação de notícias no The New York Times... 139

4.4. Estruturas discursivas das esferas públicas sobre desmatamento da amazônia brasileira ... 140

4.5. Triangulação e análise dos documentos... 142

5. ANÁLISES DOS ODMs/ODSs, DAS LEIS FEDERAIS e DO ESTADO DE RONDÔNIA ... 145 5.1. Análises sobre os Objetivos do Milênio e dos Objetivos do Desenvolvimento

(21)

Sustentável ... 145

5.2. Leis, decretos e resoluções emitidas pela união ... 154

5.3. Leis, decretos e resoluções emitidas pelo governo de rondônia ... 156

6 OS DISCURSOS SOBRE O DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA NO PERÍODO ENTRE 2011 e 2020 ... 158

6.1. Estrutura discursiva Política Pública ... 160

6.2. Estrutura discursiva Empresarial... 171

6.3. Estrutura discursiva Técnico-Científica ... 180

6.4. Estrutura discursiva Ambientalista ... 189

6.5. Os discursos sobre a Agenda 2030 ... 204

7 PRINCIPAIS ARGUMENTOS DAS ESTRUTURAS DISCURSIVAS QUE SUSTENTAM AS ESFERAS PÚBLICAS SOBRE DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA... 208

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 220

REFERÊNCIAS... 230

APÊNDICES ... 247

APÊNDICE A – Reportagens citadas na Estrutura Discursiva Política Pública ... 247

APÊNDICE B - Reportagens citadas na Estrutura Discursiva Empresarial ... 249

APÊNDICE C - Reportagens citadas na Estrutura Discursiva Técnico-Científica ... 251

APÊNDICE D - Reportagens citadas na Estrutura Discursiva Ambientalista ... 253

APÊNDICE E - Reportagens citadas nas discussões sobre a Agenda 2030 ... 256

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1 INTRODUÇÃO

A tese está organizada em sete partes. A primeira uma introdução geral, em que me apresento como pesquisador, meu lugar, minha posição ontoepistemológica e os motivos que me instigaram a estudar a Amazônia brasileira. Na segunda parte, descrevo o contexto histórico, social e ambiental da Amazônia brasileira, e, na terceira, discorro acerca da teoria da ação comunicativa que sustenta os argumentos sobre a formação das esferas públicas a respeito do desmatamento na Amazônia brasileira. Na quarta, anuncio o paradigma epistemológico, os métodos e as técnicas utilizadas na coleta de informações, nas análises e interpretações. Na quinta, descrevo e explico as estruturas discursivas e os discursos analisados entre os anos 2011 e 2020 sobre o desmatamento da Amazônia brasileira. Na sexta parte, está a síntese dos principais argumentos e as esferas públicas identificadas e, por fim, as considerações finais, onde são sintetizadas as principais reflexões sobre a pesquisa realizada.

1.1. Quem é o amazônida que escreve a tese

Em termos ontológicos, apresento a minha trajetória profissional no contexto temático desta tese, envolvendo o local de pesquisa, a Amazônia, e os jornais de grande circulação que tratam do tema. Nesse sentido, reconheço as implicações de tal posicionamento e o que pode acarretar para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa e de construção do texto. Portanto, meu posicionamento envolve uma breve apresentação de quem sou “eu” na pesquisa e como me posiciono em relação aos contextos investigados, aspectos importantes para a compreensão do que me levou, como pesquisador, ao desafio de desenvolver este estudo.

Acredito na importância e no compromisso de apresentar as minhas posições socio- históricas por me considerar um cidadão amazônida. O amazônida é um ser que se posiciona em favor da natureza e que causa estranheza entre os visitantes e cidadãos não-amazônidas por protagonizar a sua relação com o território amazônico a frente de outros valores econômicos e sociais. O ser amazônida se apoia na leveza ao praticar modos de vida, atrelados ao tempo mais lento, orientados pelos ciclos da natureza. Ele se perfaz pelo devaneio e retroalimentação da vivência com a Amazônia, numa relação umbilical e telúrica com rios, árvores e animais que sustentam o entremeio ser e território amazônico (COLFERAI, 2014). A fauna, a flora e a hidrografia são consideradas pelo amazônida os elos que o interligam a uma relação afetuosa e de respeito com a Amazônia. Para Pinto (2018, s.p.), “o conceito de Amazônida envolve a

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individualidade da região, para cuja caracterização, existência e persistência a sua vinculação à água, a luz e a floresta, como um organismo integrado, é indispensável”.

Esse termo ainda não é utilizado com frequência nos estudos acadêmicos, principalmente em pesquisas realizadas por cientistas e universidades externas ao território amazônico, mas sim por moradores, que o utilizam como adjetivo gentílico para designar aquela pessoa que é da região amazônica, que com ela se identifica, numa referência regional, simbólica, poética e política. Portanto, amazônida carrega o sentido de identidade e pertencimento à cultura e aos hábitos existentes na Amazônia.

Nasci no município de Itaituba-PA, localizado à beira do Rio Tapajós, um dos principais afluentes do Rio Amazonas. Meus pais, nordestinos, saíram do interior do Maranhão em busca de novas possibilidades de trabalho nos tempos áureos de garimpo no interior do Pará, final da década de 1970.

No início dos anos de 1980, entre idas e vindas entre a região sul do Pará e norte de Mato Grosso ainda em atividades de exploração da natureza com o garimpo, meus pais e eu mudamos para Peixoto de Azevedo-MT, à época Distrito de Colíder-MT. Marcado pelas mazelas de localidades com grandes índices populacionais e sem estrutura, com pessoas de diversas regiões do País, o Distrito de Peixoto de Azevedo-MT se tornou município em 1986 e, nesse processo, meus pais resolveram se estabelecer ali para garantir o meu acesso à educação. Assim, estudei e comecei a trabalhar nessa cidade, ainda sem nenhum vínculo com as causas ambientais e populações tradicionais.

Em 1995, meus pais, já desiludidos e cansados da vida no garimpo, resolveram se mudar para uma cidade que poderiam lhes oferecer algum emprego formal e uma melhor educação para mim e para meu irmão, nascido em Peixoto de Azevedo-MT. Mudamos para Sinop-MT, a maior cidade da região norte de Mato Grosso, naquele momento reconhecida como capital mundial da madeira. Nessa localidade, meu pai arrumou emprego em uma madeireira e minha mãe, logo em seguida, arrumou um trabalho como zeladora em um restaurante.

Para ajudar nas despesas, comecei a trabalhar em uma marcenaria, fabricando casas de cachorros, as quais eram enviadas para região sul e sudeste do País, além de continuar meus estudos no ensino médio em uma escola pública. Os anos se passaram, meu pai mudou de trabalho, ainda em uma madeireira, e permaneceu neste trabalho até a sua aposentadoria em 2018. Minha mãe passou a trabalhar na função de auxiliar de serviços gerais em um hospital particular até ser acometida por um câncer. Eu, nesse processo, passei a trabalhar em uma clínica médica no setor administrativo. Vale ressaltar que comecei a trabalhar na clínica quando

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finalizei meus estudos no ensino médio, no ano de 1997. Assim, houve um intervalo de seis anos entre o término do ensino médio até entrar em uma universidade pública para cursar Administração.

Ao chegar à Universidade, não demorou muito para eu começar a me questionar sobre o que seria necessário para compreender a Amazônia, também me instigaram as questões sociais, lembro-me de que estava imbuído também pela esperança de um Brasil novo, de um País esperançoso, de um governo popular eleito, o ano era 2003. Todo esse clima me fez enxergar o movimento estudantil como uma âncora para me ensinar a ser um agente político:

comecei a participar do movimento estudantil em entidades locais como Diretório Central dos Estudantes (DCE), estaduais como a União Estadual dos Estudantes de Mato Grosso (UEE- MT) e até nacionais como a Federação Nacional dos Estudantes em Administração (FENEAD).

Toda essa experiência dentro da universidade nos bancos escolares e na atuação em movimentos políticos me fizeram amadurecer sobre a realidade ambiental em que eu vivia.

Com o passar dos anos, cheguei à docência, a priori, em faculdades particulares na região norte de Mato Grosso, em Cursos de Turismo e de Administração, e, posteriormente, aprovado em concurso público, comecei a trabalhar na Universidade Estadual de Goiás (UEG), em 2010. A experiência de morar fora da Amazônia legal pela primeira vez me fez refletir sobre os meus hábitos e cultura que são heranças das minhas vivências nesse território.

A aproximação com as questões ambientais de forma acadêmica aconteceu ao adentrar, em 2012, no Curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), quando conheci a realidade de Porto Velho, das comunidades ribeirinhas, indígenas e de agricultores familiares e também as atividades de três organizações ambientalistas do interior de Rondônia e de Mato Grosso, o que gerou a produção da dissertação defendida em 2014 com o título “Concepções Ambientais em Organizações Ambientalistas” sob a orientação do professor Dr. Osmar Siena. Essa pesquisa analisou quais as concepções ambientais que orientam a gestão e atuação das organizações ambientalistas.

Naquele momento, a experiência de morar em Porto Velho-RO, a convivência com seus moradores e também com os sujeitos que entrevistei e convivi no processo de pesquisa e construção da dissertação me ajudaram a compreender o sentido do que ser um amazônida e, a partir dessas reflexões e vivências, consegui verificar que minha trajetória de vida convergia com o conceito do que é ser amazônida e, neste processo, hoje me reconheço como tal.

Ao finalizar o curso de mestrado, em 2014, tendo sido aprovado em concurso público, mudei-me para Vilhena-RO para assumir a função de professor na UNIR no campus daquele

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município. Novamente, conheci outra realidade da Amazônia, o que me fez questionar mais uma vez os modos de vivência das populações desse território.

Em todo esse processo, ficaram reflexões da dissertação e surgiram novas com o prosseguimento de trabalhos acadêmicos na área de Sustentabilidade, de Gênero e de Raça na Amazônia.

Na sequência, cheguei em 2018 ao Doutorado em Administração na Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a nova realidade de viver na região sudeste, onde o clima frio da região foi o primeiro grande impacto na minha nova vivência.

No entanto, é importante dizer que ao longo da minha trajetória de vida a a relação com o território amazônico se transforma, de exploração no garimpo (pelo meus pais), onde assumo sua importância para ser o que sou como adulto; ao ambientalista, que reconhece que a Amazônia deve ser protegida antes de qualquer atividade econômica que não seja saudável à permanência da fauna e da flora nesse território. E, finalmente, como pesquisador, realizando, como se faz no método antropológico, um “estranhamento” momentâneo para alcançar uma nova aproximação.

Desse modo, residi, ao longo da vida, em três estados e três regiões diferentes, Pará, Mato Grosso e Rondônia, todos pertencentes à Amazônia brasileira, o que me permitiu a familiaridade com o tema, o envolvimento com o adjetivo amazônida e a me apropriar dele como sendo necessário para a compreensão das discussões, da cultura e dos hábitos praticados pela população do território amazônico. Portanto, vejo-me, simultaneamente, como sujeito pesquisador e sujeito pesquisado neste estudo e, por isso, o caráter intersubjetivo sobre as esferas públicas está presente no processo de pesquisa e de vivência com os demais sujeitos amazônidas e não-amazônidas pertencentes à investigação.

Moret (2020; 2021) argumenta que a Amazônia foi e é povoada por várias comunidades além dos povos originários que possuem hábitos culturais, sociais e crenças diferentes, que resultam em modos de vidas diferentes sobre a maneira de se relacionarem com o Estado, a Sociedade e o Mercado. Por ser assim, é necessário relatar que, para Bezerra (2012, p. 534), a:

A Amazônia é única, mas não é homogênea. Sua diversidade fica evidente quando se tornam claras as diferentes fronteiras no interior da própria floresta brasileira. Ela tampouco se restringe a elementos naturais. A definição política da floresta brasileira vai além dos limites biofísicos do bioma. Nela existem diferentes realidades físicas, biológicas e antropológicas; diferentes características que transformam a floresta em várias florestas. Há, portanto, várias Amazônias dentro das fronteiras amazônicas.

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Há múltiplas Amazônias, a indígena, a ribeirinha, a negra, a rural, a urbana dividida em do interior e a dos grandes centros. Nesse contexto, considero-me um amazônida urbano do interior. Identificar-me assim e compreender o significado da palavra para o povo amazônico é um passo importante para uso e entendimento ontoepistemológico do trabalho, pois me faz perceber a necessidade de pesquisar sujeitos e processos relacionados à Amazônia brasileira com respeito às falas e aos hábitos culturais dos amazônidas.

1.2. No meio do doutorado havia uma pandemia, havia uma pandemia no meio do doutorado: a Covid-19 e a sua interferência no processo subjetivo de escrita da tese

Esta parte do trabalho tem como objetivo explicar como se deu o processo reflexivo e de escrita do autor em relação aos fatores externos como a Pandemia da Covid-19, a realidade pela qual o País passava entre os anos de 2019 e 2022 e em relação às ocorrências das discussões ambientais sobre saúde e políticas públicas que interferiram no processo de construção desta pesquisa.

Em meados de dezembro de 2019, organizei-me para fazer uma última reunião do ano com o orientador, uma das quais considerava a mais importante, pois, a partir da reunião, retornaria a Mato Grosso, lugar onde passaria os próximos meses na construção da tese.

Naquela reunião, definimos os objetivos, problema de pesquisa, possibilidade de leituras, cronograma de estudos e organização da tese.

Essa reunião objetivou, portanto, organizar os pensamentos, entre mim e meu orientador, nossas afinidades de visão sobre o tema empírico e teórico da pesquisa que seria realizada a partir dali. Saí dela animado, pois poderia pensar a prática e no que fazer durante a construção da tese, ir a campo e, finalmente, colocar o “pé” numa parte das várias amazônias que compõe a Amazônia brasileira.

Durante os primeiros 18 meses do Programa, concentrei-me nos estudos teóricos para conclusão dos créditos das aulas de doutorado. Foi um período importante, porquanto me permitiu refletir e aprimorar a escrita científica. Concomitantemente a esse processo, vieram as reflexões em relação a como realizar a pesquisa, quais mudanças precisariam ser feitas no projeto de tese submetido quando do processo seletivo ao Programa, o que acarretou ao longo do primeiro semestre na mudança da ideia proposta no projeto inicial de pesquisa.

Retomando ao período dos estudos, no segundo semestre de 2019, não mais havia disciplinas a cursar. Havia cumprido todos os créditos e planejava para a expectativa de definir

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o projeto e começar a escrevê-lo, seria o início da “ida ao campo”. Ocorreu, nesse momento, uma mudança inesperada, em uma reunião no mês de agosto de 2019, com o primeiro orientador, chegamos à conclusão de que não poderíamos continuar com o trabalho e parceria.

Após esse diálogo, fui em busca de uma nova orientação que aceitasse a ideia de realizar uma pesquisa na Amazônia, que sempre foi meu desejo quando decidi fazer o doutorado.

A vontade em realizar um trabalho na Amazônia se deu por diversos fatores, como já dito na primeira seção desta tese, nasci na Amazônia e sou professor numa universidade federal no Estado de Rondônia e, desse modo, as diversas amazônias sempre estiveram presentes na minha formação. Escrever e estudar sobre a Amazônia seria uma maneira de retribuir e contribuir social e politicamente às oportunidades que tive e que foram subsidiadas pelas pessoas daquela região.

Encontrado novo orientador, cabia-me agora repensar a pesquisa. Havia sido aceita a proposta e a Amazônia seria a pauta, falamos e trocamos impressões sobre a minha vivência acadêmica no território amazônico. O orientador apresentou a sua proposta teórica e ensaiamos um objetivo e problema de pesquisa. Enfim, principiava a tese. Em dezembro de 2019, alguns dias depois da reunião citada no início desta seção, enviei o primeiro plano de trabalho ao novo orientador e a intenção ali exposta buscava compreender como a Amazônia brasileira é interpretada pelos meios de comunicações, organizações ambientalistas e populações tradicionais localizadas na Amazônia Rondoniense. O propósito seria realizar, a partir de fevereiro, os primeiros contatos com os sujeitos amazônidas que seriam pesquisados e, a partir disso, pensar um cronograma de visitas e de coletas de dados na sede da organização ambientalista, nas comunidades indígenas, ribeirinhos, rurais e ou quilombolas que aceitassem participar da pesquisa.

A proposta metodológica do plano de trabalho se baseava numa interação

“sujeito/sujeito”, em que tanto o pesquisador e sujeitos participantes da pesquisa interagissem entre si para o maior envolvimento e proximidade em todo o processo da pesquisa. A intenção era a comunicação in loco, na sede de uma organização ambientalista e nas localidades em que residem as populações ribeirinhas, quilombolas, indígenas que poderiam ser entrevistadas e observadas.

Conviver por alguns meses em um processo antropológico e etnográfico no campo de pesquisa era uma das principais expectativas por mim criadas, aprender e conviver com os povos amazônidas em suas aldeias, assentamentos e quilombos é considerado por mim uma das mais importantes fases para a minha aprendizagem e formação como professor e pesquisador

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amazônida e da Amazônia.

Ao iniciar o ano de 2020, já com notícias sobre a COVID-19 na Ásia e Europa, ainda não se tinha as informações do que poderia se tornar nosso País com a chegada da doença, mas já entendia que não se tratava de uma patologia qualquer.

Retornando ao processo da tese, entre janeiro e fevereiro de 2020, escrevi as primeiras páginas com as aspirações iniciais e planejamentos do que se pretendia a “ida ao campo” e enviei ao orientador. Ansioso, aguardava o retorno sobre as primeiras ideias para assim dar início à escrita definitiva do projeto. Enquanto isso, dei início ao fichamento e seleção das leituras sobre a teoria base da tese; sobre a Amazônia, suas populações e os procedimentos metodológicos. Encontrava-me, naquele momento, em profunda imersão teórica, o que aguçava mais a vontade e a necessidade de ir ao contato direto com os amazônidas.

Em março, após feitas as reflexões em torno das primeiras aspirações e leituras, enviei uma proposta mais concisa do projeto de tese ao orientador e, naquele mesmo mês, houve o reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de que a Covid-19 se tratava de uma pandemia. Com esse reconhecimento, começaram as primeiras orientações por parte dos governos federal, estaduais e municipais em relação às restrições sociais para a prevenção da doença. Ainda não havia a preocupação em relação ao andamento da pesquisa, o receio se relacionava tão somente ao número alto de pessoas que começaram a morrer em todas as regiões do País e, em alguns estados da federação, onde ocorriam altos índices de infectados e óbitos, o que resultara num colapso da saúde.

Em abril, após os primeiros quinze dias de quarentena, identificou-se que a pandemia era muito grave e o número de infectados era alarmante, e, em consequência, havia muitos óbitos. O caos se instalou em vários estados e municípios do País.

No início do ano de 2020, além do projeto, realizava junto com o orientador ainda uma outra pesquisa com quilombolas no pantanal mato-grossense como uma atividade recorrente do doutorado que permitia cumprir créditos referentes às pesquisas que devem ser realizadas concomitante à construção da tese. No mês de janeiro e fevereiro, realizei o contato e aproximação com a associação quilombola que seria pesquisada e começávamos a agendar as entrevistas e observação do campo. Na pesquisa junto à população quilombola, buscaria compreender as suas práticas de sustentabilidade. Produzimos um resumo expandido com o trabalho em construção para apresentar no Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social (ENAPEGS). Essa versão foi aprovada e poderia, assim, dar sequência à coleta de dados e à conclusão da pesquisa. Essa pesquisa ficou inconclusa devido à pandemia e, posteriormente,

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o próprio evento foi cancelado pelo mesmo motivo, a pandemia, e remarcado para maio de 2021 na modalidade de encontro virtual, que foi realizado.

Com a complicação da pandemia, as atividades acadêmicas foram ficando escassas, a circulação das pessoas sendo corretamente diminuída por parte da população e, então, o andamento da pesquisa de tese começou a ficar comprometida. O Estado de Rondônia, local de desenvolvimento do campo de pesquisa, ficou em alerta, os principais municípios tiveram seus sistemas de saúde colapsados.

Via-se, sobretudo, e passava a se ter consciência de que o acesso às populações ribeirinhas, indígenas e rural não seria possível durante aquele processo pandêmico, o que acarretaram dúvidas em torno de todo o processo de construção e execução do projeto. Como apresentar a ideia de pesquisa para a organização ambientalista e convidá-la a participar da pesquisa caso tivesse interesse? Era um momento que essas populações começavam a se proteger utilizando-se de suas próprias estratégias, para que a Covid-19 não fosse levada até as comunidades e aldeias. Infelizmente, chegou às aldeias, comunidades e aos quilombos, o que causou grandes perdas.

A organização ambientalista até então escolhida para a pesquisa ampliou seu foco de atividade e passou a trabalhar arduamente no atendimento das populações à margem dos centros urbanos de Rondônia, com campanhas para arrecadação de cestas básicas, produção de máscaras e compras de álcool em gel. Houve mobilização dos movimentos sociais, organizações do terceiro setor, grupos de pesquisas e professores ligados a UNIR para atender a essas populações.

Além da pandemia, as queimadas no Pantanal e na Amazônia, no ano de 2020, foram recordes, atingindo extensas áreas onde vivem animais em extinção, matando rios e degradando áreas de pequenos agricultores. Todo o processo pandêmico contribuiu para a falta de controle dos incêndios, para o aumento da degradação da fauna e flora desses territórios.

Era a vida e a terra dessas populações sendo mortas pela Covid-19 e pelas queimadas.

Como se organizar para proteger suas terras se não era possível aglomerar? Se não é possível se organizar de maneira mais rápida e objetiva? Como conciliar e pensar a tese ao ver o território amazônico e pantaneiro sendo literalmente queimado? O primeiro passo seria ajudar os pantaneiros, amazônidas e ambientalistas, que trabalhavam na linha de frente, pois ficaram desguarnecidos pelos governos federal e estaduais.

Embora com esse cenário, busquei a interação e o diálogo com movimentos sociais, pesquisadores da UNIR e do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO)

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para me aproximar de suas práticas e pesquisas e, assim, conhecer melhor os sujeitos que, porventura, pudessem participar da pesquisa.

Esse processo de tentativa de contato com o campo foi realizado de modo direto e indireto, a partir do diálogo com colegas da UNIR e com alguns professores do IFRO, onde eu já havia realizado atividades de extensão e pesquisa. Mantive sempre em planejamento contatar essas pessoas desde o início do Programa, o que faltava para iniciar esses diálogos e aproximação com os campos da pesquisa eram as definições do problema e objetivos do projeto, o que foi ocorrer concomitante ao período da Pandemia em todo o ano de 2020.

Durante todo o primeiro semestre de 2020, procurei dialogar com parceiros pesquisadores do Estado de Rondônia. Assim, por meio de uma colega pesquisadora da UNIR, entrei em contato com a Coordenação do Movimento dos Trabalhos Rurais Sem Terra em Rondônia (MST-RO), que me apresentou a possibilidade de realizar a pesquisa em dois assentamentos rurais. Conversamos por mais de uma hora ao telefone, e o coordenador se apresentou de forma muito receptiva em me ajudar com as informações necessárias para a realização da pesquisa e me apresentar aos trabalhadores rurais que residiam nos dois assentamentos sugeridos para realizar a pesquisa. Naquela conversa com o Coordenador do MST, ele me apresentou artigos, teses e dissertações de dois pesquisadores da UNIR e IFRO que poderiam me ajudar no processo de pesquisa.

Fiquei muito animado com as possibilidades discutidas na conversa com ele, tanto que marquei imediatamente uma reunião com o orientador para discutir e tomar decisões em relação a qual assentamento contatar para realizar a pesquisa.

Em outra frente, dialoguei com uma servidora da Secretária de Estado de Desenvolvimento Ambiental (SEDAM) sobre a minha pesquisa e, assim, discuti sobre as comunidades de trabalhadores rurais, quilombolas e ribeirinhos que a SEDAM atende e, possivelmente, poderia participar da pesquisa da tese como uma das entrevistadas. Esse diálogo com a servidora sempre permaneceu aberto, no entanto, não foi possível ir adiante com o planejado em decorrência da pandemia.

Dialoguei também com colegas da Organização Não-Governamental (ONG) que atuam com a prática do cooperativismo na agricultura familiar por meio da economia solidária, onde também articulava a conversa e aproximação com comunidades de trabalhadores e trabalhadoras rurais que são parceiros da ONG.

Reuniões virtuais foram marcadas e remarcadas diversas vezes com diversas pessoas dos movimentos sociais, instituições de ensino superior de Rondônia e servidores públicos

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relacionadas ao meio ambiente no Estado.

Todas essas indefinições em decorrência da pandemia interferiram no processo de escrita do projeto a ser defendido na banca de qualificação. Foram indefinições que geraram inseguranças em relação à construção do projeto e, consequentemente, da tese, pois poderia, e foi questionado durante as arguições pelos membros da banca na qualificação: como faria contato direto se o momento vivido não permitia? Todas essas articulações feitas com colegas professores, servidores públicos, membros de ONGs e militantes de movimentos sociais ficaram em suspenso e indefinidas; todas as portas que foram abertas não puderam ser naturalmente utilizadas, pois o contexto da pandemia não permitiu a aproximação com os parceiros e sujeitos de pesquisa.

Nesse contexto, comecei a refletir em como realizar a minha pesquisa, em como faria as investigações propostas no meu projeto de tese, haja vista que os principais sujeitos da pesquisa se encontravam desprotegidos e expostos aos vírus e aos problemas econômicos e sociais causados pela pandemia.

Uma inquietude moral me assolava e ainda assola, o fato de eu estar protegido e essas pessoas amazônidas, que eram o sentido até então de minha pesquisa, encontravam-se e se encontram lutando pela vida em comunidades desassistidas pelo Estado. Como prosseguir com a pesquisa? Como renunciar ao contato e aprendizado com essas populações? Esses questionamentos foram reflexões que atenuaram a minha relação com a tese e proposta de pesquisa inicial e a minha atuação como pesquisador e professor, causando-me uma desilusão.

O ideal não seria estar na linha de frente no auxílio dessas populações em relação aos diversos problemas sociais e econômicos gerados pela pandemia e que os expuseram desumanamente?

Acompanhava as informações e procurava manter contato com pessoas que estavam próximas aos indígenas, agricultores familiares e ribeirinhos de Rondônia e com eles dialogar, assim como conversava com meus colegas de trabalho da UNIR, onde sou servidor. Esses diálogos me deram uma noção da realidade, para além dos números apresentados pelos órgãos e mídia televisiva, sobre os números de infectados e óbitos, e percebia que a realidade vivida era sempre maior que a apresentada. Tudo isso influenciou o meu processo de escrita e envolvimento com a tese. Concentrar-me para as leituras da tese se tornou um fardo, concentrar- me para escrever era tarefa difícil. Às vezes passava o dia conversando e articulando como, de certo modo e de longe, poderia auxiliar essas populações e, assim, a concentração com rigor e aproximação acadêmica acabavam por ficar em segundo plano.

Passavam-se os dias e semanas e a concentração nas leituras e as atividades do

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doutorado foram divididas com a atenção à situação da pandemia em todo o Brasil. No Estado de Mato Grosso e em sua capital, onde atualmente estava, por ser a cidade onde mora e trabalha minha companheira, a saúde se encontrava em colapso desde março de 2020 e, em 2021, a partir do mesmo mês, a situação piorou. Na cidade dos meus pais, no mesmo Estado tudo se agravou também, o que acabou interferindo na minha produção de leituras e de escrita do projeto de pesquisa. Em 2020, procurei, pelo menos, manter as leituras e escrita em relação à teoria e à metodologia da tese.

Com todo o cenário já conhecido da pandemia e o Estado e a população sem nenhum controle do contágio da Covid-19, era muito difícil pensar a pesquisa. Como modificá-la para se inserir à nova realidade imposta pela pandemia? Como trazer a Amazônia e a natureza para a centralidade do debate, se o momento pedia distanciamento social e reclusão domiciliar?

Além de acompanhar o processo da pandemia em nosso País, por questões de cidadania, senso crítico e dever cívico, vi-me também, mesmo morando em Mato Grosso, no compromisso de acompanhar as notícias em Rondônia para refletir sobre o cronograma da pesquisa e articular as ações metodológicas e teóricas da pesquisa para não precisar desistir de trabalhar com as populações amazônidas. Dialogava com meu orientador sobre como fazer em relação à condução do projeto e às interferências no processo de escrita diante da indecisão sobre o campo de pesquisa; e ficou decidido continuar a escrita teórica do projeto para qualificação.

Em vários momentos do processo de escrita e leituras do projeto, refleti se fazia sentido continuar com a ideia principal da tese, pois, a cada boletim, a cada informativo, cada ação dos movimentos sociais, o que se apresentava era e ainda é o cenário catastrófico da pandemia com os povos amazônidas. A cada líder indígena, ribeirinho, de movimento social que faleceu vítima da Covid-19, as dúvidas e insegurança sobre o sentido da pesquisa se reapresentavam. Apesar de tudo, continuava o processo de construção do projeto, leituras, textos, reflexões me fizeram montar a estrutura do projeto, pois o momento de qualificação do projeto se aproximava.

Além disso, o isolamento social interferiu nas possiblidades de diálogo sobre a tese, sentia falta de falar sobre a pesquisa, de conversar com os colegas do Programa sobre nossas atividades acadêmicas. Em outras palavras, essa falta de interlocução, que, para mim, é importante no processo de reflexão da tese, impactou diretamente a escrita do projeto de qualificação e, consequentemente, da tese. Quando participei de uma reunião do grupo de pesquisa e pude conversar com os colegas, ouvi-los sobre suas pesquisas, falar sobre a minha, seus progressos e dificuldades, isso me deixou mais animado para continuar e finalizar o projeto de qualificação que se daria no mês de outubro de 2020.

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Finalizada a versão do projeto para a qualificação, continuava cheio de dúvidas sobre a abordagem do problema e os objetivos da tese. Naquele instante, ainda teimava em colocar no cronograma a coleta de dados presencialmente nas comunidades para o ano de 2021.

Qualifiquei-me o projeto no final de outubro e a banca sugeriu que houvesse mudança na abordagem e na coleta de dados com os amazônidas. Racionalmente, foi tomada a decisão de entrevistar líderes das comunidades amazônidas por meio digital e realizar a análise documental das mídias e organização ambientalista, o que, com o passar os primeiros meses de 2021, também, por vários motivos, foi refutado por mim e pelo orientador.

Em dezembro de 2020, iniciaram-se as vacinas em alguns países e esta deveria chegar no Brasil em janeiro e isso me gerou otimismo, pois poderia, quem sabe, realizar a pesquisa com os amazônidas de modo presencial. Otimismo que se fortaleceu quando dos primeiros anúncios de vacinas autorizadas no Brasil em janeiro de 2021, sentimento que, em pouco tempo, arrefeceu-se devido à falta de planejamento em relação às compras, às falhas dos planos de imunização de aplicação das vacinas pelos governos federal, estaduais e municipais e pela falta de materiais e medicamentos hospitalares, principalmente de oxigênio nas unidades de tratamento de Covid-19. Fora consenso entre mim e o orientador que não tentaria ir a campo sem estar protegido e sem que os sujeitos participantes da pesquisa também estivessem, sobretudo porque não poderíamos expô-los a riscos maiores aos quais estavam já submetidos.

Esse cenário caótico diariamente apresentado na imprensa nacional e internacional de como a pandemia afetou o sistema de saúde público e privado no Brasil me impactou diretamente e refletiu no potencial da escrita, na concentração, levou-me ao questionamento: escrever uma pesquisa de doutorado em Administração em tempos de pandemia fazia sentido? Naquele momento, as pessoas estavam morrendo não somente pela doença, mas também por sequelas geradas pelas complicações da Covid-19, por questões sociais e econômicas e, sobremaneira, por falta de políticas públicas que, se existissem, poderiam lhes possibilitar dignidade mínima para sobrevivência.

A pandemia venceu o processo de construção do trabalho de campo. Assim, foi necessário readaptar a pesquisa, reajustando o problema e os objetivos. A oportunidade de se pesquisar a Amazônia fisicamente junto aos amazônidas, de maneira profunda foi adiada, por não ter sido possível realizá-la no ano de 2021, conforme cronograma prévio, cujo período fora determinado pelo Programa e pela UNIR. O uso do verbo adiar se fez necessário, porque a pesquisa proposta foi concluída, ainda que em prazo posterior, mesmo com os novos ajustes, porquanto colocou-se em sua centralidade as posições dos amazônidas sobre como se deu a

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formação, construção e gestão de seu próprio território. Ainda que tenha havido mudanças que contrariam a proposta inicial, há uma vida a ser vivida como cientista e cidadão amazônida, e esta permitiu conviver e aprender os modos de vida dessa população e interseccionar as ontologias e epistemologias amazônidas com a Universidade e chegar à conclusão de um estudo, que não finaliza aqui, mas que segue inerente à vida deste pesquisador amazônida.

Com o que me deparei, após ter me qualificado e saber que a projeção de uma pesquisa de doutorado, que prenunciava a vivência com os amazônidas in loco, não seria mais possível?

O principal objetivo da pesquisa que previa conhecer a Amazônia e os amazônidas se reconfigurou e, sem a participação mais efetiva desses sujeitos no processo de pesquisa, esta parecia ter perdido o sentido. Escrever uma tese, atender aos princípios científicos, às exigências do Programa, produzir artigos, a repercussão da pesquisa acadêmica sempre foram processos muito significativos para mim. Foi muito relevante, durante o processo de construção da tese, criar laços, aprender com os sujeitos, reencontrar a minha história de amazônida com os povos amazônidas de Rondônia. Esse (re) encontro, desde sempre, foi o principal motivo que alimentou a seleção pelos programas ofertados, a minha escolha de pesquisa. Entendi que não faria sentido pesquisar outro campo, interagir com outras pessoas, algo fora disso se trataria apenas de cumprimento de ritos acadêmicos que o Programa que fiz e a universidade em que trabalho exigem.

A reaproximação com essa Amazônia foi que nutriu a minha vida como professor universitário, foi o que deu sentido as minhas atividades acadêmicas. O contexto da pandemia de certo modo interferiu no tempo de ação e no que significa a pesquisa de doutorado para fazer um trabalho em que me permitiria organizar, cientificamente, a minha contribuição e atuação para os povos amazônidas e, o principal, o retorno que essa interação me proporcionaria como cidadão amazônida.

A responsabilidade de se falar sobre temas sensíveis como é uma pesquisa sobre a Amazônia e suas populações foi muito grande, não se tratou apenas de um contexto único, houve limitações importantes que tiveram de ser consideradas, foi necessário desmitificar muitas reflexões e práticas sobre esse território e seus moradores. Isso me exigiu um comprometimento e cuidado para não amplificar sensos-comuns sobre a vivências dos amazônidas.

A pandemia exigiu o “distanciamento social”, o uso de “máscaras”, a “lavagem de mãos”, o uso de “álcool em gel”, durante o principal período do meu doutoramento, o que me permitiu compreender que o trabalho realizado não se tratou de uma pesquisa superficial, mas

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