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Avaliação do patrimônio geomorfológico do spit de Galinhos-RN

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Academic year: 2021

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MARIA DAS VITÓRIAS DA SILVA

Avaliação do Patrimônio Geomorfológico

do

spit

de Galinhos-RN

NATAL-RN

(2)

Avaliação do Patrimônio Geomorfológico do spit de Galinhos-RN

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientadora: Profª Drª Zuleide Maria Carvalho Lima.

Coorientador: Prof. Dr. Marcos Antonio Leite do Nascimento

NATAL-RN 2020

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Silva, Maria das Vitórias da.

Avaliação do patrimônio geomorfológico do spit de Galinhos-RN / Maria das Vitórias da Silva. - Natal, 2020.

135f.: il. color.

Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2020. Orientadora: Profa. Dra. Zuleide Maria Carvalho Lima. Coorientador: Prof. Dr. Marcos Antonio Leite do Nascimento.

1. Geodiversidade - Dissertação. 2. Patrimônio Geomorfológico Dissertação. 3. Geoconservação Dissertação. 4. GalinhosRN -Dissertação. I. Lima, Zuleide Maria Carvalho. II. Nascimento, Marcos Antonio Leite do. III. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 551.4(813.2)

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Avaliação do Patrimônio Geomorfológico do spit de Galinhos-RN

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia. Aprovada em:_____/_____/_____.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Profª Drª Zuleide Maria Carvalho Lima – Orientador(a) PPGE/UFRN

____________________________________________________ Profº Dr. Marcos Antonio Leite do Nascimento – Coorientador(a)

PPGG/UFRN

____________________________________________________ Lutiane Queiroz de Almeida (Examinador interno)

PPGE/UFRN

____________________________________________________ Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes (Examinador externo)

Instituto Federal do Maranhão (IFMA)

(5)

Este trabalho é dedicado: Aos meus pais Manoel Francisco (Daniel) (in memorian)

(6)

Gratidão!!!

À Deus, pela vida, pela coragem para sempre seguir em frente toda vez que um obstáculo surge e a vontade de desistir, de deixar tudo “pra lá”, parece ser mais forte. A ti Senhor, MUITO OBRIGADA! Ah, também sou grata a ti por, no percurso da minha vida, encontrar pessoas especiais, que me apoiaram, que, de alguma forma, me ajudaram nesta ou em outras etapas da minha vida, que me desejaram o bem e que torcem sempre pelo meu sucesso. Neste meio incluo também os órgãos e instituições que fortemente contribuíram para que este trabalho acontecesse. Assim, meus sinceros agradecimentos também à:

Meus professores: Dra. Zuleide Lima (orientadora) que me orienta desde a graduação, a quem eu tenho a maior consideração e respeito e Dr. Marcos Nascimento (Coorientador), que tem me proporcionado grande aprendizado, principalmente na temática trabalhada nesta dissertação. Agradeço demais as orientações e, claro, a paciência, a confiança e parceria. Como sempre fala o professor Marcos: #tamosjuntos.

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior pela imensurável ajuda financeira através da concessão da bolsa de mestrado por meio do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, fundamental para realização da minha pesquisa.

Todos os professores do programa, em especial àqueles com quem tive o prazer vivenciar momentos de muito aprendizado. Ao professor Lutiane Almeida pela grande colaboração na minha qualificação. A André Fabrício, Secretário da Pós Graduação, pela sua gentileza e pela seriedade no desenvolvimento do seu trabalho.

Prefeitura Municipal de Galinhos, representada pelos secretários Saulo Leão (Turismo), que gentilmente me atendeu todas as vezes que busquei informações pertinentes a minha área de trabalho e Vivaldo Rodrigues Neto (Planejamento, Administração e Desenvolvimento Econômico) pelo apoio logístico durante o trabalho de campo.

Minhas amigas: Raphaela Rhayane e Tereza Medeiros que tem me apoiado, mesmo se mantendo um pouco distantes fisicamente. À minha amiga Ivaniza Batista

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Professora “arretada” Ana Beatriz (Bia) que, principalmente nesses últimos dias, tem compartilhado comigo as dúvidas e, claro, as angústias dos momentos finais do meu mestrado e do seu doutorado (rsrsrs). À minha nova amiga Tânia Xavier, por sua doçura e simplicidade e pela parceria (de muito estudo) que pretendemos construir nos anos que seguem.

Minha sogra, Maria Lenilde, com quem também pude contar todo esse tempo, embora me “tire o juízo” de vez em quando (rsrsrs).

Meus irmãos e sobrinhos, em especial a minha sobrinha Ana Letícia que, mesmo com sua rotina de estudo e trabalho, sempre se dispunha a me ajudar, principalmente dando especial atenção ao meu pequeno Samuel.

Meus pais, Maria (dona Moça) e Daniel (in memorian), os quais me ensinaram a ser uma pessoa do bem, que sabe amar e se importar com o próximo.

Meus filhos, Inês e Samuel, que pela inocência de criança, nem sempre entenderam os momentos de minha ausência, que por muitas vezes me desconcentraram nos momentos de estudo (rsrsrs) querendo mais atenção. Tenho certeza que um dia entenderão que todo esse esforço é, acima de tudo, por eles e para eles.

Meu esposo, Rogério Cavalcante, pelo grande ser humano, pai, companheiro, amigo e confidente. A você todo o meu amor e meu carinho. Muito obrigada pela dedicação a sua família, pelo apoio em todos os momentos. Tenho certeza que sem você eu não teria chegado até aqui e talvez nem tivesse o sonho de ir além. Seus filhos e eu te amamos .

Obrigada, e que Deus abençoe a cada um como sempre tem me abençoado!

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ganhando destaque no âmbito das áreas das Ciências da Terra, diante, principalmente, da crescente preocupação com a conservação dos elementos abióticos. O solo, o clima e o relevo são alguns dos fatores que sempre condicionaram a forma como o ser humano explora a superfície terrestre. Foi considerando o contexto da exploração do patrimônio natural (vertente abiótica e biótica), e especificamente do patrimônio geomorfológico, que se desenvolveu esta pesquisa, cujo objetivo foi avaliar o patrimônio geomorfológico do spit de Galinhos-RN. A paisagem, na qual se insere a área de trabalho, dispõe de uma diversidade de elementos naturais, capazes de promover o desenvolvimento do turismo, sendo uma das mais importantes atividades da região. A metodologia utilizada nessa pesquisa permitiu a avaliação quali-quantitativa do patrimônio geomorfológico da área, por meio da utilização da ficha de caracterização dos elementos da geodiversidade, seguida da atribuição de valores aos indicadores: Valor Científico, Valor de Uso Geoturístico, Valor de Uso Educativo e Grau de Suscetibilidade. Dessa forma, foram avaliados seis locais de interesses abióticos que representam a geodiversidade do

spit de Galinhos: geomorfossítios Duna do André, Dunas do Capim, Eolianito de

Galinhos, Praia de Galinhos, Praia do Farol e Recifes da Praia de Galinhos. Na avaliação da geodiversidade da área foram identificadas algumas ameaças as quais podem vir a ocasionar a descaracterização de alguns dos seus elementos e consequentemente da sua paisagem natural. Nesse sentido, algumas medidas de geoconservação foram sugeridas como forma de minimizar o impacto negativo das interferências antrópicas na área.

Palavras-chave: Geodiversidade. Patrimônio Geomorfológico. Geoconservação. Galinhos-RN.

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prominence in the areas of Earth Sciences, against, mainly, the growing concern about the conservation of abiotic elements. Soil, climate and relief are some of the factors that always conditioned the way humans explore the earth’s surface. It was by considering the context of natural heritage exploration (abiotic and biotic), and specifically the geomorphological heritage, that this research was developed, whose aim was the evaluation of Galinhos-RN spit’s map. The landscape, in which the work field is inserted, has a diversity of natural elements, able to promote tourism development, being one of the most important activities in the area. The methodology used in this research allowed the qualitative and quantitative assessment of the geomorphological heritage of the area, through the usage of characterization form of geodiversity elements followed by assigning values to the following indicators: Scientific Value, Geoturistic Usage Value, Educational Usage Value and Susceptibility Degree. Thus, six sites of abiotic interests that represent the Galinhos spit’s geodiversity: geomorphosites Dune of André, Dunes of Capim, Eolianite of Dunes of Capim, Galinhos Beach, Farol Beach, and Galinhos Beach’s Reefs. In the area’s geodiversity assessing, some threats were identified, which may cause the de-characterization of some of its natural landscape. Seen in these terms, some geoconservation measures were suggested as a way to minimize the negative impact of anthropic interference in the area.

Keywords: Geodiversity. Geomorphological Heritage. Geoconservation. Galinhos-RN.

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CAPITULO 1 – INTRODUÇÃO

Figura 1.1 - Mapa de localização da área de trabalho 21 Figura 1.2 - Pontos de acesso ao spit de Galinhos: (A) píer do estacionamento Prata Gil e (B) píer da cidade de Galinhos 22

CAPITULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

Quadro 2.1 - Conceituação do termo geodiversidade, segundo vários autores 29 Quadro 2.2 - Valores atribuídos à geodiversidade. 30

CAPITULO 3 – METODOLOGIA

Figura 3.1: Mapa turístico do município de Galinhos-RN. 45 Quadro 3.1- Ficha de caracterização utilizada nesse trabalho. 46 Quadro 3.2 - Critérios de quantificação do Valor Científico - (VCi). 51 Quadro 3.3 - Critérios de quantificação do Potencial Turístico (PT). 53 Quadro 3.4 - Critérios de análise do Valor de Uso Educativo (VUE). 55 Quadro 3.5 - critérios de análise do Grau de Suscetibilidade (GS). 57

CAPITULO 4 – CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO

Figura 4.1- Coluna cronoestratigráfica da área de estudo. 60 Figura 4.2 - (A) Mapa geológico da porção norte de Galinhos destacando as áreas de ocorrências dos elementos abióticos estudados nessa pesquisa dispostos sobre

o spit; (B) Localização da área de estudo. 61

Figura 4.3 - Mapa geomorfológico do spit de Galinhos-RN. 66 Figura 4.4 - Presença de vegetação de caatinga em área de mangue. 69

CAPITULO 5 AVALIAÇÃO QUALITATIVA DO PATRIMÔNIO

GEOMORFOLÓGICO DO SPIT DE GALINHOS

Figura 5.1- Aspectos gerais da Duna do André (vista para sudeste) evidenciando o canal de maré. Localização do geomorfossítio (estrela vermelha) no canto superior

(11)

superior direito da foto. 75 Figura 5.3- Subfósseis vegetais denominados de rizoconcreções encontrados: (A) em campo sobre as Dunas do Capim preservando feição vertical, posição que remonta a época de sua formação; (B) detalhes de rizoconcreções com tecido vegetal substituído por quartzo e cimento carbonático. 76 Figura 5.4- Visão geral das Dunas do Capim mostrando: (A) disposição do afloramento de eolianito e (B) detalhe da estrutura compondo camadas plano-paralela formadas predominantemente por quartzo. Localização do geomorfossítio (estrela vermelha) no canto superior direito da foto. 78 Figura 5.5- Visão panorâmica da Praia de Galinhos. Localização do geomorfossítio (estrela vermelha) no canto superior direito da foto. 80 Figura 5.6- Praia de Galinhos: (A) destaque para a prática de kite surf (ao fundo da foto); (B) pequena lagoa formada a partir do desenvolvimento de bancos de areia, por ações das marés altas, no compartimento do pós-praia, utilizadas por banhistas.

81 Figura 5.7- Vista aérea da Praia do Farol, destacando a lagoa (lado esquerdo da foto) formada pelas águas do mar durante os períodos de marés altas; ao fundo um belo pôr do sol, e o farol (monumento que deu nome a praia), instalado sobre os recifes que se desenvolveram na faixa de praia, dando sua configuração atual. Localização do geomorfossítio (estrela vermelha) no canto superior direito da foto.

82 Figura 5.8- Charretes utilizadas por visitantes/turistas para passeio entre as praias

de Galinhos e do Farol. 82

Figura 5.9- (A) Recife da Praia de Galinhos destacado nesse trabalho; (B) detalhe do material bioclástico e fragmento de rochas constituindo a estrutura. Localização do geomorfossítio (estrela vermelha) no canto superior direito da foto. 84 Quadro 5.1 - Características gerais dos geomorfossítios do spit de GalinhoS 86

CAPITULO 6 AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DO PATRIMÔNIO

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Figura 6.2 - (A) área externa da pousada Peixe Galo; (B) vista aérea da pousada Amagali, ambas localizadas de frente para o canal de maré em Galinhos. 94 Figura 6.3 - (A) Presença de subfósseis vegetais e (B) material sugestivo de sambaqui, ambos encontrados nas dunas do Capim. 95 Figura 6.4 - Aula de campo de alunos do curso de Geografia-UFRN, (A) nas dunas do Capim (2010) e (B) na praia de Galinhos (2019). 97 Quadro 6.1- Pontuação atribuída aos critérios do indicar Valor Científico. 88 Quadro 6.2- Pontuação atribuída aos critérios do indicar Valor de Uso Geoturístico. 92 Quadro 6.3 - Pontuação atribuída aos critérios do indicar Valor de Uso Educativo. 96 Quadro 6.4 - Pontuação atribuída aos critérios do indicar Grau de Suscetibilidade.

99 Quadro 6.5 - Somatório dos indicadores Valor Científico (VCi), Valor de Uso geoturístico (VUG), Grau de Suscetibilidade (GS) e Valor de Uso Educativo (VUE).

101 Gráfico 6.1 - Distribuição da pontuação atribuída aos critérios do indicar Valor

Científico. 89

Gráfico 6.2 - Distribuição da pontuação atribuída aos critérios do indicar Valor de Uso Geoturístico. 92 Quadro 6.3-. Distribuição da pontuação atribuída aos critérios do indicar Valor de

Uso Educativo 96

Quadro 6.4- Distribuição da pontuação atribuída aos critérios do indicar Grau de

Suscetibilidade. 99

Gráfico 6.5 - Valor total dos indicadores dos geomorfossítios. 101

CAPITULO 7 – AMEAÇAS À GEODIVERSIDADE DO SPIT DE GALINHOS

Figura 7.1 - Algumas ameaças identificadas no spit de Galinhos. 105 Figura 7.2 - Torres eólicas instaladas sobre as Dunas do capim. 107 Figura 7.3 - Pontos de evidências do afloramento do lençol freático. 108

(13)

deposição dos sedimentos éolicos com destaque para as camadas plano-paralelas. 109 Figura 7.5- Figura 7.5 - Mapa destacando as alterações ocorridas na linha de costa, com maior evidência no setor sul das Dunas do Capim. 110 Figura 7.6- Pós praia e estirâncio da Praia de Galinhos ocupada por diversas obras

de infraestruturas. 111

Figura 7.7 - Geomorfossítio Praia de Galinhos em dois momentos distintos: (A) período de marés baixas com formação de lagoa na zona de estirâncio (jan/2019) e (B, C) ocorrência de maré mais alta (out/2019) com ondas atingindo diretamente as construções instaladas no pós-praia. (Círculo amarelo indicando a mesmo local em momentos distintos). 112 Figura 7.8- Praia de Galinhos horas depois da ocorrência de uma das marés mais altas do ano (outubro/2019). Destaque para as várias tentativas de contenção dos

moradores contra a ação das ondas. 113

Quadro 7.1- Síntese das principais ameaças aos geomorfossítios do spit de

Galinhos. 114

(14)

1 INTRODUÇÃO ... 17

1.1 Importância e justificativa desta pesquisa ... 20

1.2 Localização e aspectos gerais da área de trabalho ... 20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA-CONCEITUAL ... 25

2.1 A paisagem e os estudos geográficos ... 25

2.2 Geossistema, geodiversidade e os estudos geográficos ... 26

2.3 Geodiversidade. ... 28

2.4 Patrimônio natural e patrimônio geomorfológico ... 30

2.5 Geoconservação ... 34

2.6 Geoturismo ... 38

3 METODOLOGIA ... 43

3.1 Avaliação qualitativa da geodiversidade ... 45

3.2 Avaliação quantitativa da geodiversidade ... 49

3.2.1 Valor Científico (VCi) ... 50

3.2.2 Valor de Uso Geoturístico (VUG) ... 52

3.2.3 Valor de Uso Educativo (VUE). ... 55

3.2.4 Grau de Suscetibilidade (GS) ... 57

4 CARACTERIZAÇÃO FISIOGEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO ... 60

4.1 Geologia ... 60

4.1.1Formação Jandaíra ... 61

4.1.2 Coberturas sedimentares Quaternárias... 62

4.2 Geomorfologia ... 65

4.2.1 Recifes praiais ... 66

4.2.2 Zona de estirâncio ... 67

4.2.3 Planície de deflação ... 67

(15)

5 AVALIAÇÃO QUALITATIVA DO PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO DO SPIT

DE GALINHOS ... 72

5.1 Análise qualitativa da geodiversidade do spit de Galinhos ... 72

5.1.1 Dunas ... 72

5.1.2 Ambiente Praial ... 79

5.1.3 Recifes ... 83

6 AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DO PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO DO SPIT DE GALINHOS ... 88

6.1 Valor Científico ... 88

6.2 Valor de Uso Geoturístico ... 91

6.3 Valor de Uso Educativo ... 95

6.4 Valor do Grau de Suscetibilidade ... 98

7 AMEAÇAS À GEODIVERSIDADE DO SPIT DE GALINHOS ... 104

7.1 Propostas de medidas de geoconservação... 114

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 118

(16)

1

INTRODUÇÃO

(17)

17

1 INTRODUÇÃO

A diversidade de elementos dos meios abiótico e biótico distribuídos na superfície terrestre tem sido objeto de estudo das diversas áreas do conhecimento. Nesse contexto, o termo geodiversidade vem ganhando cada dia mais espaço, principalmente quando se trata de conservação dos elementos que compõem essa parte abiótica do planeta, indispensável para o desenvolvimento de qualquer forma de vida.

Embora considerado recente no Brasil, a aplicabilidade do termo vem contribuindo, de forma significativa, para a compreensão da dinâmica dos elementos naturais, bem como das complexas relações homem-natureza, fundamental nos estudos geográficos.

De acordo com Reynard e Coratza (2007), a avaliação da geodiversidade pode ser vista como uma questão geográfica que diz respeito tanto à geografia física (análise dos componentes da geodiversidade) quanto ao planejamento regional, ou seja, a inserção da geodiversidade em estratégias de planejamento territorial.

A biodiversidade tem sido a essência da compreensão do imenso e complexo mundo dos seres vivos, de forma a não considerar fundamental o papel dos elementos abióticos no processo de desenvolvimento da vida. Dessa forma, a constante preocupação em cuidar do meio ambiente, diante da busca incessante do ser humano por espaços que lhes proporcionem bem-estar e qualidade de vida, tem evidenciado ainda mais a necessidade de também entender, cientificamente, os elementos do meio físico.

A dependência direta das sociedades em relação aos elementos da natureza ocorre desde o início do desenvolvimento da espécie humana. O clima, o relevo, as rochas, a vegetação e os corpos d´água, por exemplo, são alguns dos fatores que sempre condicionaram a forma como o ser humano ocupa e explora a superfície terrestre.

Essa antiga relação vem provocando, cada dia mais, a curiosidade de estudiosos de áreas relacionadas com as Ciências da Terra, que buscam compreender a intrínseca relação entre o ser humano e a geodiversidade, no sentido de melhor avaliar, conforme destaca Brilha (2015) aqueles elementos/lugares que

(18)

18 apresentam características geológicas e/ou geomorfológicas capazes de se fazer entender a evolução do planeta Terra.

Neste sentido, as interferências antrópicas bem como suas consequências passam a ser foco da análise geográfica, objetivando também minimizar os impactos negativos desse processo.

Assim, as ações voltadas à geoconservação vêm sendo assunto de grande relevância entre os estudiosos da área, que buscam encontrar estratégias para o desenvolvimento sustentável, destacando medidas que garantam que as gerações futuras possam usufruir e, ao mesmo tempo, conhecer sobre o que está sendo, por elas, explorados.

O Brasil, em sua grande extensão territorial, apresenta uma riqueza incomparável em biodiversidade e geodiversidade. A beleza cênica e a grande variedade elementos naturais chama a atenção do ser humano e, quase sempre, as ações humanas sobre esses elementos provocam impactos, seja em micro ou macro escala, que resultam em perda, muitas vezes irreversível.

Tal perda ocorre tanto com a biodiversidade, considerada à vertente mais frágil, quanto com a geodiversidade, embora essa seja considerada a vertente mais resistente e “infinita”.

Algumas áreas apresentam uma maior fragilidade natural, como é o caso das zonas costeiras. Esses ambientes se destacam por terem sido, principalmente nas últimas décadas, áreas de grande concentração populacional, o que tem tornado os impactos mais aparentes, tornando-se temas de debates acadêmicos, conforme destaca Oliveira (2010).

O estado do Rio Grande do Norte, não diferentemente do restante do país, tem belas paisagens que chamam a atenção de gente do mundo inteiro. É considerável número de turistas que vem ao estado buscando apreciar e aproveitar ao máximo o que está sendo oferecido quando o assunto é lazer e diversão, ambos voltados aos aspectos físicos da natureza aqui encontrada.

O litoral, com suas características particulares, proporciona o desenvolvimento de atividades voltadas, principalmente, à exploração de elementos naturais como dunas, praias, falésias, entre outros e, neste sentido, vale destacar a importância que esses elementos apresentam, tanto em termos de potencialidades/limites de uso, quanto em relação de sua conservação.

(19)

19 No contexto da temática apresentada, uma atividade que atualmente vem se destacando é o geoturismo. Considerada uma nova vertente do turismo, essa atividade está focada nos aspectos geológicos, bem como nos processos e nas formas de relevo da Terra.

Para Dowling (2011) o geoturismo é uma forma de turismo sustentável, apresentando como foco principal o conhecimento sobre as características geológicas da Terra, promovendo, assim, a compreensão ambiental e cultural, além da apreciação e da conservação dos elementos abióticos.

Com isso, destaca-se a importância de avaliar os elementos que apresentem interesse voltado aos seus aspectos geológicos e/ou geomorfológicos, sendo esse último o foco desta dissertação. Na literatura estes elementos ou o conjunto deles, são denominados de sítios geomorfológicos ou geomorfossítios (PANIZZA, 2001).

Dessa forma, a questão central dessa pesquisa é: Quais os elementos da geodiversidade encontrados na área de estudo podem ser considerados representativos da geodiversidade local?, enquanto que os questionamentos secundários são: (a) No contexto do Patrimônio Geomorfológico, quais as características dos elementos da paisagem que compreende a porção norte de RN? (b) Que critérios podem ser atribuídos a geodiversidade de Galinhos-RN que os classifiquem como passíveis de conservação? (c) Diante das possíveis ameaças, quais medidas de conservação podem ser adotadas para cada geomorfossítio destacado?

Nesse contexto, foi objetivo geral desta pesquisa Avaliar o Patrimônio Geomorfológico do spit de Galinhos-RN, enquanto que os objetivos específicos foram: (a) Caracterizar os possíveis geomorfossítios (b) Analisar quantitativamente os elementos da geodiversidade segundo critérios estabelecidos (c) Identificar as principais ameaças à geodiveridade da área e propor medidas de conservação para os geomorfossítios selecionados.

Partiu-se, portanto, da hipótese de que o município de Galinhos compõe uma geodiversidade em que determinados elementos apresentam características particulares capazes de inseri-los no contexto do Patrimônio Geomorfológico, o qual, por sua importância deve ser conservado e garantido a gerações atuais e futuras.

Nessa perspectiva, esta pesquisa foi realizada considerando a relação sistêmica e dinâmica entre os elementos abióticos, a partir da aplicabilidade da

(20)

20 paisagem como conceito e como categoria de análise geográfica, embasada na abordagem geossistêmica.

1.1 Importância e justificativa desta pesquisa

A importância do desenvolvimento desta dissertação, dentro do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (PPGE), está no fato de que a mesma vem destacar como a Geografia pode contribuir para os estudos voltados à geodiversidade, uma vez que busca estabelecer o sentido das relações entre o ser humano e os elementos abióticos.

Além disso, cabe também ao geógrafo destacar a importância da conservação da geodiversidade, de modo a sensibilizar a sociedade no sentido de garantir para gerações futuras a mesma experiência, pensando sempre na melhoria da qualidade de vida das populações.

Assim, espera-se que este trabalho possa contribuir para a sociedade, e mais diretamente para os galinhenses, permitindo-lhes desfrutar de um produto que: (a) destaque a valorização dos aspectos abióticos; (b) contribua para o uso racional dos recursos naturais (geoconservação) e (c) possa fomentar a realização de estudos futuros que venham tratar da temática geodiversidade.

1.2 Localização e aspectos gerais da área de trabalho

A pesquisa desenvolveu-se no recorte espacial que compreende o spit de Galinhos (Figura 1.1), no litoral setentrional do Rio Grande do Norte. Segundo o Ministério do Turismo, Galinhos passou a partir do ano de 2017, a integrar o mapa turístico do estado, fazendo parte daqueles destinos que, apesar de não possuírem fluxo turístico nacional e internacional expressivo, tem papel importante no fluxo turístico regional.

(21)

21

(22)

22 O município de Galinhos limita-se à norte com o Oceano Atlântico, à leste com Caiçara do Norte, à Sul com Jandaíra e à oeste com Guamaré. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) Galinhos apresentava uma população de 2.159 habitantes e uma estimativa de 2.726 no ano de 2018.

Ainda segundo este órgão, o referido município possui uma extensão territorial de 342,215 km2, resultando em uma densidade demográfica de 7,96

hab/km2.

A distância entre Natal, a capital do estado, e o município de Galinhos é de 166 Km e o acesso, a partir da capital, se dá por meio da BR-406 até o entroncamento com a RN-402. A partir desse ponto, segue-se até o entroncamento com a RN-221 pela qual se chega ao píer (Figura 1.2) de onde, com uso de barco, se tem acesso à cidade de Galinhos, através de outro píer.

Figura 1.2 - Pontos de acesso ao spit de Galinhos: (A) píer do estacionamento Prata Gil e (B) píer da cidade de Galinhos.

Fonte: Pesquisa de campo da autora (2019).

Assim, a dissertação está estruturada em oito partes incluindo a introdução e as considerações finais, de acordo com a sequência descrita abaixo:

Introdução: desenvolvida, inicialmente, a partir de uma abordagem contextualizada da temática Geodiversidade no âmbito dos estudos geográficos, além de apresentar os questionamentos norteadores da pesquisa, os objetivos, a hipótese, a importância e justificativa do trabalho e localização da área.

Capítulo 2- Fundamentação Teórica-conceitual: nessa etapa são apresentados os principais autores que serviram para o embasamento teórico e conceitual da temática Geodiversidade, discorrendo de acordo com os seguintes subtemas: A paisagem e os estudos geográficos; Abordagem geossistêmica no

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23 âmbito da análise da paisagem; Geodiversidade; Patrimônio Geomorfológico; Geoconservação e, por último, Geoturismo.

Capítulo 3- Metodologia: descrição detalhada do caminho metodológico seguido, destacando a metodologia para a inventariação, com a descrição da ficha de caracterização da geodiversidade da área de estudo, além do passo a passo para a quantificação, com detalhes dos critérios utilizados.

Capítulo 4- Caracterização fisiogeográfica da área de estudo: nesse aborda-se a caracterização geral das unidades repreaborda-sentantes da geologia, geomorfologia, vegetação e hidrografia da área.

Capítulo 5 - Avaliação qualitativa do Patrimônio Geomorfológico do spit de Galinhos: nesse capítulo estão apresentadas as principais características dos elementos da geodiversidade da área de trabalho.

Capítulo 6 - Avaliação quantitativa do Patrimônio Geomorfológico do spit de Galinhos: Abordagem quantitativa dos elementos abióticos selecionados a partir da valoração dos indicadores/critérios estabelecidos.

Capítulo 7 - Ameaças a geodiversidade do spit de Galinhos: destaque para as principais ameaças naturais e antrópicas a qual está disposta a geodiversidade da área e algumas propostas visando a sua conservação.

Capítulo 8 - Considerações finais: conclusão da dissertação com exposição dos resultados obtidos de acordo com os objetivos propostos.

Referências: exposição da lista de todos os trabalhos utilizados durante a elaboração da dissertação.

(24)

2

FUNDAMENTAÇÃO

TEÓRICA-CONCEITUAL

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25

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA-CONCEITUAL

2.1 A paisagem e os estudos geográficos

A paisagem, numa conceituação mais simples, seria o conjunto de elementos (naturais e antrópicos) observáveis pelo olhar humano. No entanto, a noção de paisagem deve estar pautada no entendimento das complexas relações entre o homem e o meio natural ao qual esse pertence.

Assim, muito mais que observar, cabe, principalmente ao geógrafo, buscar elementos que explicite esta intrínseca relação, tão antiga quanto o surgimento do ser humano na Terra. Segundo Salgueiro (2001), o conceito de paisagem é um dos exemplos de áreas privilegiadas pelos geógrafos na sua missão de conhecer e estudar a superfície terrestre. Nesse sentido,a amplitude de concepções que envolvem o conceito de paisagem é bastante antiga. Mesmo antes da sistematização da ciência geográfica, a paisagem já era vista como elemento de observação e contemplação.

Na Alemanha, no século XVIII, por exemplo, o naturalista e pioneiro nos estudos da paisagem, o alemão Alexander Von Humboldt analisou a paisagem a partir da observação da vegetação, bem como por meio das diferenças paisagísticas da vegetação (MAXIMIANO, 2004). Ainda segundo este autor, tais diferenciações permitiam, segundo a percepção de Humbolt, o entendimento das leis que regiam as feições da natureza, estudadas a partir do método explicativo e comparativo.

Embora o conceito de paisagem ainda não apresentasse exatidão, o termo “Paisagem Natural” (landschaft) foi utilizado por Humboldt se configurando como elemento integrador de todas as variáveis naturais disponíveis no planeta. Nesse contexto, o ser humano ainda não estava incluso nos estudos relacionados à paisagem, o que veio ocorrer apenas décadas depois.

No século XIX, quando a Geografia já se definia enquanto disciplina científica, Maximiano (2004) destaca que outro importante estudioso da paisagem, Ratzel, traz sua contribuição sobre o conhecimento das paisagens, numa perspectiva determinista, com sua linha de pensamento sobre as relações causais existentes na natureza, o que indicava uma relação entre os elementos naturais e o ser humano. Percebe-se, então, que:

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26 Os estudos da paisagem, inicialmente muito focados na descrição das formas físicas da superfície terrestre, foram progressivamente incorporando os dados da transformação humana do ambiente no tempo, com a individualização das paisagens culturais face às paisagens naturais, sem nunca perder de vista as interligações mútuas. Pelo contrário, a ação humana é considerada fator decisivo ou principal de transformação [...] (SALGUEIRO, 2001, p. 40).

Segundo Maximiano (2004), há entre os geógrafos um consenso de que a paisagem resulta da relação dinâmica de elementos físicos, biológicos e antrópicos. É possível perceber que essa relação ocorrida entre todas as variáveis que compõem a paisagem, passa a ser explicada a partir de uma abordagem sistêmica já no século XIX.

Assim, de acordo com Salgueiro (2001), a paisagem, que era identificada como uma fisionomia caracterizada por formas, passa a ser vista como o resultado das relações funcionais entre seus componentes, bem como da sua evolução genética.

Nos dias atuais, em que a apropriação dos elementos componentes da paisagem por parte do ser humano, se consolida com mais intensidade, por meio do desenvolvimento de atividades diversas,

[...] a paisagem deixa de ser considerada apenas um limite estético para se tornar um recurso, com importância em meio ao conjunto dos recursos naturais e culturais aproveitáveis pelo ser humano, é um sistema dinâmico com estrutura espacial (FIGUEIREDO, 2008, p.4).

Ou seja, a paisagem, conceito-chave da geografia, passa também a ser utilizada como produto, valorizada segundo a percepção humana, tornando-se “o cenário que se oferece ao olhar familiarizando-se com o que está a sua frente” (FIGUEIREDO, 2008, p. 5).

Dentro da temática Geodiversidade, é a partir dessa visão que se tem atualmente da paisagem que ocorre o desenvolvimento de diversas atividades, cujo foco principal são os elementos físicos que dão características espetaculares a paisagem como é o exemplo das regiões costeiras.

2.2 Geossistema, geodiversidade e os estudos geográficos

A análise da dimensão das relações entre os diferentes elementos disponíveis na superfície terrestre (abióticos, bióticos e antrópicos), estudadas numa perspectiva sistêmica ganhou espaço a partir do desenvolvimento da Teoria Geral dos Sistemas

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27 por Ludwing Von Bertalanffy (1973). Essa teoria poderia, portanto, ser aplicada a todas as áreas do conhecimento.

No âmbito da ciência geográfica, a mesma permitiu o desenvolvimento da análise sistêmica de todos os elementos a partir da criação do termo geossistema, por Sotchava (1978). Segundo esse autor, nos geossistemas os fenômenos naturais se processam e interagem de maneira harmônica, ao mesmo tempo em que sofrem influências dos fatores antrópicos. Segundo Santos e Girão (2015) o geossistema

[...] vem embasando inúmeras pesquisas no campo da geomorfologia nas duas últimas décadas, pois esta apresenta um importante arcabouço teórico-metodológico capaz de orientar a ocupação da superfície terrestre de modo que seja possível minimizar o desequilíbrio da dinâmica natural causados pela ação ocupacional humana, mesmo reconhecendo que ainda existam alguns aspectos nesta teoria que necessitem ser revisto e reformulados, o que não implica, porém em depreciação de sua relevância (SANTOS e GIRÃO, 2015, p. 5).

Nessa perspectiva, o geossistema é o resultado da constante interação entre os fatores geomorfológicos, climáticos, hidrológicos e fitogeográficos (GIRÃO, 2007) e ainda das interferências humanas por meio do desenvolvimento de suas diversas atividades de ordem socioeconômicas, conforme destaca Christofoletti (1999).

De fato, a análise da geodiversidade engloba, além do destaque de elementos físicos com representatividade científica, econômica, cultural etc, os impactos das ações humanas sobre a mesma e, dessa forma, aponta para a emergência do entendimento da relação do sistema sócio-econômico com o sistema ambiental físico, na busca pela conservação da natureza e, como consequência, o bem-estar humano.

Nesse sentido, o solo, o clima, os corpos d’água, o relevo e a vegetação, e ainda podem ser incluídas nessa interação as rochas, são fatores fundamentais para o desenvolvimento das atividades socioeconômicas, servindo de suporte para a instalação de infraestrutura para a indústria e agricultura, exploração dos recursos naturais (como por exemplo, a mineração) e o desenvolvimento das cidades, compondo o conjunto de elementos-chave para a análise geográfica.

Os estudos voltados ao entendimento da geodiversidade não fogem dessa perspectiva, uma vez que buscam apresentar a importância que esses elementos físicos representam para a sociedade numa relação que deve ser harmoniosa para ambas às partes. Considera-se que nos estudos sobre geodiversidade, embora a análise se realize sobre cada elemento, destacando suas características individuais,

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28 deve-se levar em conta a relação entre os elementos em si e a relação do ser humano com os mesmos, por meio do desenvolvimento de suas atividades.

2.3 Geodiversidade.

A importância dada a vertente biótica do planeta se justifica pelo fato da mesma ser composta por todas as formas de vida aqui existentes, não devendo assim se permitir a perda de nenhuma espécie, evitando-se o desequilíbrio ambiental, por meio das ações voltadas a conservação biológica.

Essa preocupação foi e ainda é uma constante no âmbito das ciências da natureza que buscam meios de garantir a manutenção e o bom desenvolvimento da biota. No entanto, a parte abiótica, fundamental para o desenvolvimento e manutenção da vida, nem sempre recebeu especial atenção.

Só a partir da década de 1990, com o uso do termo geodiversidade, os geólogos e os geomorfólogos começaram a se preocupar com essa questão, utilizando o termo, inicialmente, para descrever as características físicas do planeta.

Sua origem, portanto, está relacionada a um movimento de conscientização da importância de se proteger os elementos não bióticos da natureza (MACHADO e AZEVEDO, 2015).

Nessa perspectiva, vários autores têm tentado definir o que é geodiversidade. Porém, segundo Carcavilla (2012), mesmo depois de algumas décadas, ainda surgem questionamentos a respeito da sua definição, em função das diversas abordagens relacionadas ao termo. Isso ocorre, provavelmente, devido aos complexos processos de formação e transformação do planeta, atribuindo aos estudos sobre geodiversidade um papel importante no sentido de apresentar as inúmeras relações entre os elementos que formam a Terra, visando destacar também a necessidade de se proteger, mesmo sendo, os elementos abióticos, considerados estáveis e de difícil destruição.

Embora ainda não tendo se chegado a um consenso sobre o que é Geodiversidade, vários autores destacam, na maioria das definições, os processos que resultam na variedade de elementos abióticos disponíveis (Quadro 2.1).

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29

Quadro 2.1 - Conceituação do termo geodiversidade, segundo vários autores.

AUTORES CONCEITUAÇÃO

STANLEY (2000)

Geodiversidade é a variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos ativos que fazem paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que fornecem a estrutura para a vida na Terra. É também o elo entre as pessoas, paisagens e sua cultura através da interação da biodiversidade com os solos, minerais, rochas, fósseis, processos ativos e o ambiente construído.

NIETO (2001)

O número e a variedade de estruturas (sedimentares, tectônicas, geomorfológicas, hidrogeológicas e petrológicas) e materiais geológicos (minerais, rochas, fósseis e solos), que constituem o substrato físico natural de uma região, na qual se baseia a atividade orgânica, incluindo o antrópico.

SHARPLES (2002)

A gama ou diversidade de características geológicas (rocha), geomorfológicas (relevo) e do solo, conjuntos, sistemas e processos.

GRAY (2004)

Extensão natural (diversidade) da geologia (rochas, minerais, fósseis), geomorfológica (forma da terra, processos) e características do solo, incluindo suas assembleias, propriedades, interpretações e sistemas.

BRILHA (2005)

Compreende apenas aspectos não vivos do nosso planeta. E não apenas os testemunhos provenientes de um passado geológico (minerais, rochas, fósseis) mas também os processos naturais que atualmente decorrem dando origem a novos testemunhos.

CPRM (2006)

O estudo da natureza abiótica (meio físico) constituída por uma variedade de ambientes, composição, fenômenos e processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o educativo e o turístico.

CAÑADAS e FLAÑO (2007)

Variabilidade da natureza abiótica, incluindo os elementos litológicos, tectônicos, geomorfológicos, edáficos, hidrográficos, topográficos e os processos físicos na superfície.

GRAY (2013)

Variedade natural (diversidade) de elementos geológicos (rochas, minerais e fósseis), geomorfológicos (formas de relevo, topografia e processos físicos), do solo e hidrológico.

Fonte: Stanley (2000), Nieto (2001), Sharples (2002), Gray (2004), Brilha (2005),CPRM (2006), Cañadas e Flaño (2007) e Gray (2013.

No contexto atual, as ações antrópicas passam a fazer parte da construção do conceito conforme destaca autores como, por exemplo, Stanley (2000), Nieto (2001) e a CPRM (2006), em virtude da grande capacidade de alteração que o ser humano, hoje muito mais do que antes, tem sobre elementos abióticos. É possível perceber também que os aspectos geomorfológicos fazem parte da maioria dos conceitos apresentados, passando a ideia de sua significativa importância diante do entendimento dos processos e fenômenos que modelam a superfície terrestre.

Na definição trazida pelo Serviço Geológico do Brasil - CPRM (2006), também são apontados os valores atribuídos à geodiversidade, conforme Gray (2004) e Brilha (2005) (Quadro 2.2). Esse último autor relaciona a atribuição de valores ao ato

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30 de proteger algo, ou seja, nesta perspectiva, a valoração da geodiversidade de uma determinada área está diretamente ligada à sua geoconservação.

Quadro 2.2 - Valores atribuídos à geodiversidade.

VALORES DESCRIÇÃO

Intrínseco

Valor atribuído pela importância intríseca da geodiversidade. Nesse sentido, a mesma terá um valor intríseco independente da relação do homem com seus aspectos.

Cultural

Valor conferido pelo Homem quando se reconhece uma forte interdependência entre o seu desenvolvimento social, cultural e/ou religioso e o meio físico que o rodeia.

Funcional

Valor atribibuído segundo duas perspectivas: a geodiversidade in situ, de carácter utilitário para o Homem e o valor conferido à geodiversidade enquanto substrato para a sustentação dos sistemas físicos e ecológicos na superfície terrestre.

Estético

Valor atribuído segundo a percepção de cada indivíduo sobre o que este considera como belo, que causa deslumbramento e admiração. No entanto, é inegável que todas as paisagens naturais possuem algum tipo de valor estético

Econômico

Valor atribuído segundo a necessidade de exploração da geodiversidade para fins econômicos. A sociedade está habituada a atribuir um valor econômico a praticamente todos os bens e serviços oriundos da geodiversidade.

Educativo/ científico

Confere-se a atribuição deste valor a partir da capacidade apresentada pela geodiversidade em servir de aporte à investigação científica, bem como à atividades de cunho educativo, através da possibilidade de contato direto dos atores envolvidos com a educação com a geodiversidade.

Fonte: Adaptado de Gray (2004) e Brilha (2005).

2.4 Patrimônio natural e patrimônio geomorfológico

A importância atribuída aos vários bens considerados mais importantes enquanto herança das gerações passadas e legado para gerações futuras, bem como a necessidade de classificação, recuperação e conservação dos mesmos, está fortemente ligada ao conceito de patrimônio, seja ele cultural, histórico, natural, dentre outros (VIEIRA, 2014). Ou seja, depende da percepção de cada indivíduo, dentro do que ele considera mais importante.

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31 No seu sentido figurado, a palavra patrimônio significa aquilo que é considerado um bem comum, e que em função de sua importância merece ser conservado à medida que será passado de geração para geração.

Ainda segundo Vieira (2014), em muitos países, o Patrimônio Natural é cada vez mais identificado com uma herança coletiva que deve ser protegido e passado às gerações futuras, de forma a perpetuar os vestígios direta ou indiretamente ligados à história do homem e da sociedade. A ideia de patrimonialização natural, portanto, remete as vertentes biótica e abiótica, em que:

O património natural biótico é constituído pelo conjunto de seres vivos que, pelas suas características únicas e fragilidade dos ecossistemas exige medidas de protecção e valorização. Historicamente, o património biótico tem sido o objecto das políticas de conservação da natureza. O património abiótico é aquela parte da natureza abiótica cujas características únicas e importância para a preservação da biodiversidade se revelam fundamentais (PEREIRA, 2006 p. 22).

Esse patrimônio tem sido desde o início do surgimento da vida humana, objeto de exploração, utilizado, inicialmente, para atender necessidades básicas das populações, sem intenção de exploração comercial, prática essa tão marcante atualmente. Na perspectiva do que seria o Patrimônio Natural, a UNESCO evidencia que o mesmo se constitui de:

Monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou por grupos de tais formações, que tenham valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico; Formações geológicas e fisiográficas e as zonas nitidamente delimitadas que constituam o habitat de espécies animais e vegetais ameaçadas e que tenham valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação; Sítios naturais ou as zonas naturais estritamente delimitadas, que tenham valor universal excepcional do ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural (UNESCO, 1972. p. 02).

Considerando essa gama de elementos naturais que constituem o Patrimônio Natural, inclui-se nele o Patrimônio Geológico e como parte deste, o Patrimônio Geomorfológico que, por suas características, está ligado à história recente da Terra e, intrinsecamente, à história do homem.

Nesse contexto o Patrimônio Geomorfológico encontra condições ideais para a sua promoção, emergindo como um fator de relevo na valorização do próprio conceito de geodiversidade, no qual se integra a par dos demais elementos abióticos considerados (VIEIRA, 2014). Segundo Reynard e Panizza (2005) o conjunto de

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32 geoformas e processos associados ao relevo, são fatores que evidenciam uma parte do processo de evolução da superfície terrestre.

A importância de se atribuir uma definição precisa do que seria o Patrimônio Geomorfológico, surgiu a partir de diversos estudos voltados a essa temática. Embora já trabalhada por diversos autores, a vertente geomorfológica, enquanto patrimônio foi definido de forma mais precisa por Pereira (1995) que o define como sendo:

O conjunto de formas de relevo, solos e depósitos correlativos, que pelas suas características genéticas e de conservação, pela sua raridade e/ou originalidade, pelo seu grau de vulnerabilidade, ou ainda, pela maneira como se combinam espacialmente (a geometria das formas de relevo), evidenciam claro valor científico, merecendo ser preservadas (PEREIRA, 1995, p. 11).

Vários outros autores desenvolveram trabalhos nos quais apresentavam referências conceituais ao termo supracitado. Podem ser destacados os trabalhos de Grandgirard (1997), o qual denominou de geótopos geomorfológicos as porções da geoesfera que apresentam uma importância particular para a compreensão da história da Terra (VIEIRA, 2014); Rivas et al. (1997) os quais referem-se ao Patrimônio Geomorfológico como sendo Sítios de Interesse Geomorfológico; Pereira (2006), que o apresenta como o conjunto de locais de interesse geomorfológico aos quais possam ser atribuídos algum tipo de valor e Vieira (2014) que define como sendo o Patrimônio Geomorfológico:

Os elementos geomorfológicos constituídos por formas do relevo e depósitos correlativos, desenvolvidos a várias escalas, aos quais se atribui um conjunto de valores (científico, estético, cultural, ecológico e econômico) decorrentes da percepção humana (VIEIRA, 2014, p.38).

Dentro do contexto que envolve o Patrimônio Geomorfológico, o termo geomorfossítio, sugerido primeiramente por Panízza (2001), faz referência a uma forma a qual um valor pode ser atribuído e que, como recurso, pode ser usado pela sociedade. O termo vem sendo utilizado pela comunidade científica geomorfológica para qualificar as formas de relevo que fazem parte desse patrimônio (REYNARD, 2009).

Segundo Reynard (2004b) existem três características principais que podem ser atribuídas aos geomorfossítios, são elas: (i) a característica estética, (ii) o seu aspecto dinâmico e (iii) a escala. De acordo com Reynard (2009) os aspectos

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33 estéticos dos geomorfossítios são o que, na maioria das vezes, o destaca, embora não deva ser a único meio de avaliação. Para isto, deve-se considerar também o seu dinamismo, a exemplo dos campos de dunas, os quais se modificam constantemente em função das características dinâmicas das regiões costeiras. A escala, portanto, refere-se ao nível de observação direta, e está relacionada com a dimensão espacial do geomorfossítio.

Sumariamente, o Patrimônio Geomorfológico é um bem natural que, por ser dotado de valores, de acordo com a percepção de cada indivíduo ou grupo de indivíduo, e por fazer parte do contexto histórico do planeta, necessita de proteção, estando diretamente relacionado com o bem-estar das gerações atuais e futuras, sendo fator determinante para o desenvolvimento de diversas atividades antrópicas.

Com relação aos métodos de análise do Patrimônio Geológico, a Grã-Bretanha foi o país que primeiramente se preocupou com o desenvolvimento de uma metodologia voltada à sua inventariação, em meados da década de 1970, culminando com o lançamento do “Geological Conservation Review” (GCR) em 1977, representando o primeiro programa de avaliação do Patrimônio Geológico, realizado à escala de um país (PEREIRA, 2010). Em nível mundial, o autor acima destaca a importância do desenvolvimento de uma lista global de sítios geológicos, já extinta, mas que foi fundamental para o processo de estabelecimento de critérios de inventariação.

Trata-se do Projeto GILGES, (Global Indicative List of Geologic Sites) iniciado no final da década de 1980, pela União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS), cujo objetivo era criar uma lista dos sítios geológicos e na sequência incorporá-los a lista do Patrimônio Mundial da UNESCO, e do Projeto GEOSITES, substituto do Projeto anterior (GILGES), iniciado em meados da década 1990, também pela IUGS.

Esse projeto tinha o objetivo de compilar um inventário global de geossítios de relevância, bem como a elaboração de uma base de dados com esses locais (PEREIRA, 2010).

Desde então, vem sendo desenvolvidas diversas metodologias cujo objetivo é avaliar as características físicas do planeta de acordo com as diversidades e particularidades de cada elemento e de cada área.

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34 No Brasil, o desenvolvimento das diversas metodologias disponíveis atualmente, teve início com instalação da Comissão Brasileira dos Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP) que, constituída por entidades públicas e privadas, com representação das comunidades geológicas, objetivava identificar locais de interesse geológico no país (NASCIMENTO et al., 2008).

Dentre os diversos projetos, vale também destacar o Projeto “Geoparque do Brasil”, criado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), em 2006, cujo objetivo é promover a identificação, a descrição e a avaliação do Patrimônio Geológico do país a partir de propostas de regiões com potencial para a criação de geoparques (SCHOBBENHAUS e SILVA, 2012; ROMÃO e GARCIA, 2017).

É importante frisar que a maioria dos projetos apresenta metodologias que tratam, de forma específica, dos aspectos geológicos, deixando uma lacuna no que diz respeito à avaliação dos aspectos geomorfológicos, tão importantes para o conhecimento da história da evolução do planeta, e por serem referências no tocante ao desenvolvimento de atividades antrópicas.

No contexto da elaboração de metodologias voltadas à avaliação do Patrimônio Geomorfológico, Panizza (2001) aponta que tal interesse proporcionou a fundação de um grupo de trabalho denominado de “geomorphosite” para lidar com questões voltadas a avaliação, proteção e promoção de sítios geomorfológicos, ocorrido durante a 5ª Conferência Internacional sobre Geomorfologia, realizada em Tóquio, no ano de 2001.

2.5 Geoconservação

Sendo a geodiversidade uma chave essencial para a compreensão do passado da Terra, dos processos atualmente em operação e da sua provável evolução, a atribuição de valores para elementos da geodiversidade, sob outras perspectivas que não a econômica, justificam a necessidade de conservação (MACHADO e AZEVEDO, 2015). O termo geoconservação, portanto, é comumente utilizado pelos geocientistas quando se referem à conservação dos elementos abióticos.

A aplicabilidade de estratégias voltadas à conservação do Patrimônio Natural do planeta está diretamente ligada à vulnerabilidade deste diante, principalmente, das ameaças antrópicas.

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35 Assim como ocorre com o meio biótico, os elementos do meio abiótico encontram-se constantemente ameaçados diante do que se considera como a “necessidade de sobrevivência do homem”, o que no início de sua existência se restringia, principalmente, a busca por alimentos e moradia.

Brilha (2005) apresenta importantes aspectos voltados a ameaças do Patrimônio Natural, indicando que há diversas situações demonstrativas da grande fragilidade dos elementos abióticos, embora maior parte desses apresente aparência de resistência e durabilidade. Esse mesmo autor reforça que

A maior parte das ameaças à geodiversidade advém, directa ou indirectamente, da actividade humana. Neste aspecto, não existem grandes diferenças no que diz respeito as ameaças para com a geo ou a biodiversidade. A geodiversidade encontra-se ameaçada a diversas escalas e em graus distintos. Podemos assistir desde a degradação da paisagem natural à destruição circunscrita a um pequeno afloramento (BRILHA, 2005, p. 40).

Essa percepção de que a geodiversidade também se encontra ameaçada a partir, principalmente, da maior interferência do ser humano sobre os elementos naturais, torna evidente a importância de se buscar o desenvolvimento sustentável por meio do uso também dos elementos abióticos que se destacam devido a características relevantes no contexto da geologia, geomorfologia, arqueologia, paleontologia, cultural entre outras.

Autores como, por exemplo, Gray (2004), Brilha (2005) e Hjort et al. (2015) apresentam algumas ameaças à geodiversidade, em função, na maioria das vezes, das interferências humanas. Nesse sentido destacam-se: exploração de recursos geológicos: a nível de paisagem (explorações a céu aberto, quando não são implementadas estratégias minimizadoras dos impactos que afetam, de modo negativo, a paisagem natural da região onde estão implantadas e a nível de afloramento (quando a atividade extrativa pode consumir objetos geológicos, como fósseis ou minerais, de valor científico, pedagógico ou outros; desenvolvimento de obras e estruturas (abertura de vias de comunicação, construção de barragens, diques e canais que alteram a dinâmica natural dos cursos de água, obras de proteção costeira, urbanização, construção - inclusive comercial e industrial);

implantação de parques eólicos; atividades recreativas e (geo)turísticas (utilização de veículos em locais sensíveis e

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36 ocasionando, muitas vezes, à destruição das frágeis estruturas cársticas; coleta de amostras geológicas para fins não científicos; iliteracia cultural (ausência do mínimo de conhecimento técnico-científico na área das Ciências da Terra, por parte dos representantes políticos, técnicos e do público em geral) e etc.

As transformações da superfície terrestre como resultado das ações antrópicas por meio da exploração dos recursos naturais, é um fato que está em evidência desde muitas décadas atrás. Isso tem provocado muitos agentes da sociedade na busca de medidas que minimizem os impactos negativos desse processo, como meio de garantir a sua manutenção. Para tanto é importante entender a que tipos de ameaças a geodiversidade está exposta, para que possam ser pensadas e construídas suas medidas de conservação (RABELO, 2018).

Henriques et al. (2011) aponta alguns que desses agentes preocupados com a conservação da natureza abiótica estão representados pela classe política, empresários, educadores, mídia e os geocientistas, sendo esses últimos responsáveis por, além de divulgar o conhecimento da história da Terra, também desenvolver e apresentar possíveis medidas de conservação.

É enorme a quantidade de trabalhos, no âmbito das geociências, nestas três décadas de estudos, que tratam, de forma mais consistente, da questão acima mencionada, seja falando da importância de se conservar a geodiversidade, seja definindo, ou apresentando metodologias possíveis de serem adotadas em diversas áreas do planeta.

Dentre a imensa lista de autores, podem ser citados: Sharples, (1993, 2002), Wimbledon et al. (1995, 2000), Barettino et al. (2000), Stanley (2000), Gray (2004, 2005, 2008, 2013), Brilha (2005, 2016), Mansur (2009), Henriques et al. (2011), Mansur et al. (2013), Carcavilla et al. (2009), Nascimento et al. (2008, 2015), Pereira (2010), Jorge e Guerra (2016), Prosser et al. (2018), Gordon et al. (2018), Migon (2018), Gray (2018) entre outros.

A geoconservação, portanto, aponta para a “conservação da diversidade das feições e sistemas da Terra (‘Geodiversidade’) e para a concessão da manutenção de seus processos para que esses continuem a funcionar e evoluir na sua forma natural” (SHARPLES, 1993, p. 7).

Esse autor ainda destaca alguns aspectos que tornam justificáveis a geoconservação, uma vez que, por exemplo, é uma ação que promove: a

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37 manutenção de processos naturais da terra (especialmente geomorfológicos, hidrológicos e do solo), a fim de garantir a sustentabilidade os ecossistemas; evitar ou minimizar os riscos de degradação do solo, tais como erosão acelerada, desabamento de terras, inundação, assoreamento e turbidez da água; a proteção de recursos de Terra como referência científica para o desenvolvimento de pesquisa e da educação; a manutenção de paisagens visuais, ou seja, a manutenção do aspecto estético da paisagem, etc.

Fontana et al. (2015) apresentam alguns exemplos de áreas, as quais contemplam os aspectos acima, que pode ter sua geodiversidade protegida como a exemplo dos: geossítios, geomorfossítios, locais/lugares de interesse geológico (LIG); sítios ecológicos/geomorfológicos de importância regional; sítios de interesse científico; geoparques; parques (nacionais, estaduais ou municipais), paisagem protegida/cultural, entre outros.

Nesse contexto, é evidente que o principal objetivo da geoconservação é proteger a geodiversidade, a qual está relacionada aos significativos processos e feições geológicas (substrato), geomorfológicas (formas de paisagem) e de Solos, de modo a manter sua evolução natural (SHARPLES, 2002).

Brilha (2016) ainda reforça que, para ser foco de geoconservação, a geodiversidade deve ser dotada de algum valor (científico, cultural etc). O fato de se atribuir algum valor denota a importância dos elementos naturais para a sociedade.

Assim, pode-se conceitualmente dizer que a geoconservação, de acordo o pensamento exposto por Brilha (2005), é a utilização de métodos e técnicas de exploração e de beneficiamento mais adequadas, que de forma sustentável, visam a preservação do Patrimônio Geológico, incluindo o geomorfológico, e dos processos naturais a ele relacionado.

Geoconservação pode ser também definida como uma ação tomada com a intenção de conservar e aprimorar características, processos, locais e espécimes geológicos e geomorfológicos (BUREK e PROSSER, 2008 p. 2). Segundo esses autores, as ações tomadas são ligadas a atividades de conscientização, o que indica o envolvimento de toda a sociedade como responsável pela conservação da geodiversidade.

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38 Atualmente, diversos atores da sociedade, como os cientistas da Terra e os praticantes da geoconservação estão cientes da importância do Patrimônio Natural que, por vezes ameaçado, é digno de conservação (BUREK e PROSSER, 2008).

No sentido da conservação abiótica, as Unidades de Conservação (UCs), no Brasil, por exemplo, se configuram como tipologia de área protegida para a efetivação da conservação da geodiversidade e do patrimônio geológico (SILVEIRA, 2018), inserindo o patrimônio geomorfológico. Essas Unidades são definidas, segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, como:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).

A criação de geoparques no Brasil e no mundo, também é um exemplo de ferramenta para o desenvolvimento da prática da geoconservação, além de garantir o uso sustentável dos elementos abióticos, na perspectiva da valorização da geodiversidade e do bem-estar social.

2.6 Geoturismo

O geoturismo tem sido uma atividade que nas últimas décadas, mais especificamente desde a década de 1990, se configurou como um dos meios de exploração do Patrimônio Geológico com o objetivo de, além de apreciar e conservar a geodiversidade, divulgar sua importância para a sociedade. O termo foi primeiramente definido por Hose (1995) como sendo:

A provisão de instalações interpretativas e de serviços que permitam que os turistas adquiram conhecimento e compreensão da geologia e geomorfologia de um sítio (incluindo sua contribuição para o desenvolvimento das ciências da terra) além do nível de mera apreciação estética (HOSE, 1995, p. 17).

Essa atividade tem nas formas geológicas/geomorfológicas e/ou nos seus processos seu principal foco e é na paisagem que os mesmos são evidenciados. Assim, o geoturismo foi definido por Newsome e Dowling (2010) como:

Uma forma de turismo de área natural que se concentra especificamente em geologia e paisagem. Promove o turismo aos geossítios, a conservação da geodiversidade e a compreensão das ciências da terra através da

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39 apreciação e aprendizagem. Isto é alcançado através de visitas independentes a características geológicas, uso de trilhas geográficas e mirantes, visita com guias, geoatividades e patrocínio de centros de visitantes de geossítios (NEWSOME E DOWLING, 2010. p.1).

Dessa forma, o geoturismo parte do princípio que a exploração da geodiversidade, por meio daqueles elementos que se destaque devido a características específicas, está atrelada a apreciação, conhecimento e conservação dos mesmos.

Ruban (2015) aponta alguns dos principais objetivos do geoturismo, sendo esses: a promoção do conhecimento geológico, o aumento da conscientização do Patrimônio Geológico e suas necessidades de conservação, e a diversificação e desenvolvimento sustentável da indústria do turismo. Nessa perspectiva, deve-se atentar para a importância dos aspectos geomorfológicos que devem estar inclusos nos objetivos desta atividade.

A atividade turística voltada aos aspectos físicos do planeta, melhor sistematizada a partir das últimas décadas, teve início muito antes. Trabalhos como, por exemplo, o realizado por Hose (2016), destaca que a apreciação da natureza abiótica começou a pelo menos três séculos atrás, quando em suas longas viagens, os viajantes da época, registravam suas experiências por meio de representações das paisagens e dos elementos que nelas estavam contidos.

Segundo Hose (2016), foi no século XIX que houve, inicialmente, o maior interesse público e maior envolvimento de diversos atores da sociedade com a geologia do planeta. Embora durante muitos anos a atenção dada a vertente abiótica do planeta tenha sido uma realidade, a falta de conhecimento sobre tal também era evidente.

Esse autor destaca que a lacuna existente sobre o conhecimento dos aspectos físicos da Terra ocasionou a organização de uma conferência intitulada de

Appreciating Physical Landscapes: Geotourism 1670–1970, evento esse organizado

em 2012 pelo History of Geology Group (HOGG), sendo este último afiliado à Sociedade Geológica de Londres. “A conferência buscou particularmente material que fosse além da mera descrição de eventos passados fornecendo análise crítica e contextualização da disposição moderna de geoturismo” (HOSE, 2016, p. 1).

Esse evento, certamente, abriu espaço para a discussão de forma mais concreta sobre o geoturismo que atualmente se configura como uma das atividades mais importantes no âmbito da geodiversidade. Nascimento et al. (2015) apontam

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