DIÁLOGOS SOBRE
0
“NÃo
AI>RI‹:NDER”
Florianópolis
REGJNA
CÉLIA
L11\HAR1:s
Hosrms
D1ÁLoGos soBRE
0
“NÃo
A1>R1‹:NDER”
Dissertação apresentada ao Centro de Ciências da Educação, Curso de
Mestrado
do Programa
de Pós-Graduação
em
Educação,da
Universidade Federal de Santa Catarina,como
requisito parcial para obtençãodo
grau de Mestre
em
Educação, sob orientação da Professora Dra. Sílvia ZanattaDa
Ros.F
lorianópolis'<.¢:
,Í É-§§_,4 :U
uN|vERs|DADE
FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
D1:CIÊNCIAS
DA EDUCAÇÃO
zPROGRAMA
DE Pós-GRADUAÇÃO
0CURSO
DE
MEs'mADO
EM
EDUCAÇÃO
z ,
“DIALÓGOS
SOBRE
O NÃO
APRENDER”.
Dissertação
submetida
ao
Colegiado
do
Curso
de
Mestrado
em
Educação do
Centro
de
Ciênciasda
Educação
em
cumprimento
parcial
para a
obtenção
do
títulode
Mestre
em
Educação.
APROVADO
PELA COMISSÃO
EXANIINADORA
em
23/11/2000Dra. Silvia Zanatta
Da
Ros
-UFSC
(Orientadora)i~
Á
Dra.
Maria
Mana
Furlaneto-
UFSC
(CO-Orientadora) il/L,'\/'
6063/Dra.
Carmen
Silviade Arruda Andaló
-
UFSC
(Examinadora)W
Dra. Cássia Ferri -
UNIVALI
(Examinadora)~gJ@
Dra. Célia Regina Vendramini
-
UFSC
(Suplente)Dr: Lucidio Bianchetti
Coordenador
PPGEICEDÍUF
SC
Regina
CéliaLinhares
HostinsA
minha
mãe, que,mesmo
não estando fisicamente entre nós, continuame
ensinando;A
todos os professores(as) que ensinamo
prazer e a dor de aprender;A
minha
filha,que
estáem
processo de aprendizagem ecom quem
desejo compartilhar, por muito tempo, essa experiência;Às
mães
e filhos(as) quetêm
vivido os sofrimentos e as alegrias de ensinar e aprender.Este
momento
representa quaseum
ritual.É
hora de se amrmar, se perfumar, secolocar inteira para abraçar as pessoas que nos são gratas, olhá-las de frente e dizer
com
emoção: muito obrigada!Não
foram poucas as vezesem
que
pensei nestemomento:
no
instantemesmo em
queme
indagava sobre otema
a investigar tinha razões para agradecer à Cassia pelas valiosas interlocuções que tivemos naquelemomento
e apartir de então.
quando
discutia o projeto, buscava aprofiindarmeus
estudos sobre ométodo
eingressava nas primeiras análises da pesquisa,
como
deixar de agradecer à Olinda,rigorosa professora que talvez
nem
tenha idéiado
quantome
fez crescer;nas horas mais duras de estudo e de produção, de solidão, de incertezas, queria agradecer à Silvia,
minha
orientadora, por haver compartilhadocomigo
essa dor e delícia de analisar os erros, desfazer equívocos, redefinir caminhos, intensificar estudos;nas situações
em
que
preciseime
reconciliarcom
a Língua Portuguesa e afinarmeu
modo
de escrever,como
deixar de agradecer à Elisabeth Leal, porme
haverdado
oprivilégio de contar
com
a sua leitura critica e sugestões valiosas,nos
momentos
de insegurança por ousar trabalharnum
campo
de conhecimento atéentão desconhecido,
como
o da análisedo
discurso, tinha razões para agradecer à Maria Marta, por haverme
encaminhadocom
competência e segurança nestes caminhos desconhecidos;nos importantes
momentos
em
que precisei dos amigos, para dividir angistias, alegrias, sucessos e dissabores, contei especialmentecom
Laureci, Giovana, Helena, Águida, Aninha, Claudia, Sérgio,Maria
Helena, Jane e Nadircom
quem
realizeioutros trabalhos de estudos e pesquisas na
FCEE
e usufrui da amizadedo
dia-a dia;nas horas -em que
me
dedicava a ler cuidadosamente os relatórios pedagógicos escritos pelos professores, queria agradecer-lhes, porme
terem emprestado suas palavras não para a crítica,mas
para pensar omodo como
historicamente se constitui nossos discursos sobre os alunos que “não aprendem”;no
exame
de qualificação,quando
buscava outras possibilidades de pensarmeu
projeto, tive bons motivos para agradecer às Prof's
Carmem
Andaló
e Célia Regina Vendramini pelas importantes contribuições, advertências e sugestões para a continuidade deminha
pesquisa;e, nos
momentos
mais íntimos, na horado
recolhimento para o estudo e a criação, tinha e tenho especiais motivos para agradecer à Bárbaraminha
filha, que apesar de haver se ressentido daminha companhia
e atenção, é a grande responsável pelaminha
força,coragem
e esperança; e a você,Mario
Rubens,meu
marido,que
acompanhou
todo esse processo, assumindocom
carinho e dedicação mais encargos para que eu pudesseme
dedicar a dissertação, esempre confiou no
valordo
meu
trabalho e
em
minha
capacidade para completa-lo;nessas horas de estudo e criação, nos intermináveis dias e frias madrugadas,
agradecia a
um
grandeamigo
que tive aomeu
lado,o
nosso cachorro Billy,que
me
dava a sensação de aconchego e confiança, aquela que experimentamos na
companhia
de grandes amigos;e
como
coroamento
dessesmomentos
todos, agradeço sempre aosmeus
pais, porme
ensinarem a cultivar as amizades
com
humildade e verdade, ame
dedicarcom
seriedade àquilo que faço e a assumircom
coragem
todos os desafios.Este estudo
tem
como
propósito analisar os discursos pedagógicos sobre sujeitos que“não aprendem”,`
com
vistas a apreender suas condições de produção,bem como
ascontradições
que
determinam sua construção;Sua
principal fonte de investigação é 0 conjunto dedocumentos
que encaminha alunos das escolas da rede regular de ensino de Santa Catarina para o Serviço deApoio
Pedagógico, modalidade de ensino especializadoem
funcionamento nessas escolas.Os
discursosmereceram
um
estudo aprofundadono
sentido de compreender:
Como
e por que são produzidos ?Em
que condições são produzidos?Com
quem
dialogam?O
que expressam das relações sociais?As
análisessuscitaram a discussão de conceitos
como:
diferença e deficiência; linguagem, discurso e dialogia; pertencimento, exclusão e desfiliação. Para compreendê-los procurou-se aprofundar o diálogocom
interlocutorescomo
Vygotsky
e Bakthin, expandindo-se as possibilidades de análise mediante articulaçõescom
estudosno
campo
da história e da sociologia-
com
as obras de Ginzburg,Thompson, Goflinami
e Castel-bem como com
estudos de Eni Orlandi
no
campo
da análisedo
discurso.O
processo de pesquisaconsistiu na descrição e análise dos textos (68 relatórios pedagógicos), elaborados por professores e especialistas das escolas regulares,
no
sentido de rastrear sua conexão íntima e identificar as suas marcas discursivas.À
primeira vista, os textosem
análise pareceram fortementemarcados
pela repetição. Todavia, o que se observou,num
olhar mais detido, foram as contradições quepermeiam
esse jogo instável de sentidos. Nesses discursos encontra-se, então, não só as palavrasdo
outro, ocultasou
semi-ocultas naspalavras de professores e especialistas,
como
também,
as ressonâncias longínquas e quase inaudíveis de elos anteriores, próximos e distantes, da comunicação cultural. Neles manifesta-seum
diálogo entre as opiniões que seproduzem
na vida cotidiana, o sistema de crenças e superstições, as tendências teóricas, a ciência e a política.A
compreensão
dessa dinâmica conduziu ao estudo das metamorfoses da desfiliação
ou da
invalidação social e suas manifestações na escola, para compreender a constituição desse processohistórico que
ameaça
setores mais amplosda
sociedade, criando os “inúteis para omundo”.
ABSTRACT
The
purpose of this study is to analyze the pedagogical discourseson
disabled subjectswith the intention to
leam
their producing conditions, as well as the contradictionswhich
determine its construction. Being the
main
source of investigation the collection ofdocuments which
orient studentsfrom
the regular teaching schools of Santa Catarina to the Pedagogical Support Service, a specialized type of education functioning in theseschools.
The
discourses received a deep approach with regard to understand:How
andwhy
are they produced?Under what
conditions are they produced?Whom
do
they dialogme with?What
do
they expressfrom
the social relations?The
analysis aroused thediscussion of concepts such as: difference and deficiency; language, speech and dialogy;
belongingness, exclusion and unfiliation. In order to understand
them
intense dialogueswere
taken vvith authors such asVygotsky
and Bakthin, expanding the possibilities of analysis through articulations with studies in the field of history and of sociology-
withworks by
Ginzburg,Thompson
and Castel- as well as studiesby
Eni Orlandi in the field of the analysis of the discourse.The
processof
research consisted of the description and analysis of text (68 pedagogical reports), elaboratedby
teachers and specialistsfrom
theregular schools, with the intention to tract
down
its intimate connection and to identifyits discourse marks.
At
first sight, the texts under analysisseemed
stronglymarked by
the repetition.However,
upon
amore
detailed observation the contradictions pervading thisunstable
match of
significancewere
observed. In these discourseswere
found not onlythe
words
of the other, hidden or half-hidden in thewords
of the teachers and specialists,but also the distant resonance and almost inaudible prior links either close or distant of the cultural communication. In
them
is manifested a dialoguebetween
the opinionsproduced in daily life, the system of beliefs and superstitions, the theoretical tendencies, science and politics.
The
comprehensionof
this dynamic lead to the studyof
the metamorphosis of the unfiliation or social invalidation and its manifestations at school, tounderstand the constitution of this historical process
which
threatens wider sectorsof
theREFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
... ..LISTA
DE
SIGLAS
... .. 9INTRODUÇÃO
... .. 10Delimitação e organização
do
campo
de investigação ... .. 141
OS
INTERLOCUTORES
E OS PERCURSOS:
um
esboço teórico-metodológico da pesquisa ... .. 212
O
JOGO E
SEUS
JOGADORES:
uma
primeira aproximação aos sentidos e significadosque vão
constituindo O sujeito ... ..34
2.1 Construindo os dispositivos de análise ... ..
34
2.2
Os
jogadores e as regras aparentemente visíveisdo
jogo ... .. 38-3
AS
MARCAS
E
AS
PROPRIEDADES
DOS
DISCURSOS:
regrasdo
jogo à. descobrir ... ._49
3.1As
marcas gramaticais ... .. 533.2
As
marcas das possibilidades ... .. 593.3
As
marcasdo
social ... _.62
3.4As
marcas da medicalização ... ..64
3.5
As
marcas de interação ... ..67
3.6
As
marcas da reprovação ... ..69
4
A
DIALOGIA
DO
DISCURSO:
um
encontrocom
O discurso deoutrem
... .. 735
AS
METAMORFOSES
DA
DESFILIAÇÃO:
suas manifestaçõesno
ensinar eno
aprender ... ..90
5.1
Um
modo
de compreender a lógicado
processo histórico ... ..90
5.2
As
metamorfoses da desfiliação ... ... .. 965.3
A
manifestação da desfiliação na escola ... .. 1115.4
A
desfiliação hoje e os indicadoresda
direçãodo
seufluxo
futuro ... .. 119CONSIDERACOES
FINAIS
... .. 125DOCUMENTAÇÃO
... .. 131LISTA
DE
SIGLAS
CRE
=
Coordenadoria Regional deEducação
CENEI
=
Centro deEducação
IntegradaDIFM
=
Diretoria de Ensino Fundamental eMédio
DIEF =
Diretoria de Ensino FundamentalFCEE
=
Fundação
Catarinense deEducação
EspecialGEENF
=
Gerência de Ensino FundamentalDurante anos segiidos de atuação na educação especial, tenho convivido,
77
interagido e
me
inquietadocom
os discursos sobre sujeitos que “nãoaprendem
1e
com
o papel desses discursos na consagraçãoou
legitimação da diferença/deficiência/dificuldades de aprendizagemcomo
desvantagem.Refiro-me
adeterminadas significações produzidas socialmente, que postulam às'_ diferenças
individuais, principalmente às diferenças significativas de
ordem
fisica, cognitiva e/ousensorial,
uma
valoração classificatória e quantitativa. Tais significações sãointerpretadas, tratadas e mantidas pelo
gmpo
social e pelo próprio sujeitoda
significaçãocomo
uma
desvantagemz. Dentre os discursos que dealguma
forma contribuem para a consagração dessa idéia, destacoo
discurso pedagógico que, por sua configuração, se diferencia de outroscomo
o jornalístico, o teológico, o assistencial,mas
que,como
estes,desempenham
um
papel na dinâmica das relações sociais.O
discurso pedagógico adquireuma
forma eum
estilo peculiar nas relações queenvolvem
o ensinar eo
aprender,uma
vez que é produzido “porum
falante determinado, paraum
interlocutor determinadocom
finalidades específicas”(Orlandi, l996b)_Embora
aparentemente enfocado de maneira particular,
contém
em
si a multiplicidade dediscursos “alheios” que,
num
processo demútua
interação, dialogam sobre otema
em
questão.
Falas
como
asque
seguem testemunham
a configuração desse discurso:1 Os “discursos sobre”, na compreensão de Orlandi (1990, p.37), “são
uma
das formas cruciais deinstitucionalização dos sentidos”, quer dizer, o discurso, por operar no plano da ideologia, é regido por condições de produção de sentidos específicos e determinados, que se apresentam e se consagram não como
uma
interpretação, mas como a interpretação, com o “sentido deum
lugar só, universalizado”. 2 Estudos desenvolvidos por profissionais da Educação Especial (Amaral, 1998; Bianchetti e outros,1998; Omote, 1991) aprofundam as discussões sobre as diferenças nesta perspectiva; alguns deles serão abordados mais adiante.
11
O
alunoem
questão apresenta dificuldade acentuadana
pronúncia
(não sabe falar),não
assimila conhecimentos,não
gosta de participar de trabalhosde grupos
(..)Tem
dificuldadeem
montar
cálculos atémesmo com
material concreto.[O
alunoJtem
dificuldade de concentração,coordenação motora
e equilíbrio,embora
insisteem
acertar e socializar-se.Foi
aplicadoo
teste de maturidade (testeABC)
no
qualo
aluno encontroudificuldades sensíveis, incompatíveis
com
sua faixa etária.O
rendimento cognitivonão
corresponde
ao
nívelde
3“se'rie.-
Embora
responsável e dedicada, apresentauma
dificuldade muito acentuada decompreensão
e assimilação (Santa Catarina, 1996a)_Falas
como
essas e tantas outras permitiram-me construir a hipótese deque
tallinguagem, na qual prevalecem atributos de apreciação negativa, gera impasses na ação da escola.
Por
manifestaremuma
certa crença de que as dificuldades dos alunos residem nas suas características individuais, os educadores sevêem
como
que
impossibilitados de, através de sua ação, provocar avançosno
desenvolvimento desses alunos.O
tema
queproponho
para estudo-
Diálogos sobreo
não
aprender -tem
suaorigem
em
meu
percurso profissionalcomo
educadorado
Centro deEducação
Integrada daFundação
Catarinense deEducação
Especial -FCEE,
onde
atuavacomo
membro
da equipe responsável pelo
encaminhamento do
Serviço deApoio
Pedagógico, nosníveis nuclear (no
campus
daFCEE)
e extensivo (no Estado de SC).3Este Serviço constitui-se
numa
das modalidade de atendimento especializadopara alunos
com
necessidades especiais integrados nas escolas regulares de ensino, e por esta razão seu desenvolvimento é de responsabilidade daFCEE
e da Secretaria de3
O
Centro de Educação Integrada -CENEI
- erauma
escola de ensino regular, estniturada no campusda Fundação Catarinense de Educação Especial - FCEE, no período de 1985 ~ 1999, que oferecia
educação infantil e ensino fundamental (la à 4” série) a aproximadamente 400 crianças e adolescentes.
O
trabalho ali desenvolvido norteava a definição da politica de educação especial no Estado de Santa Catarina, de responsabilidade da FCEE, quanto à integração de alunos
com
necessidades especiais no sistema oficial de ensino; realizava, ainda, orientação técnica às modalidades de atendimento especifico- salas de recursos para portadores de deficiência sensorial
e serviço de apoio pedagógico para portadores de deficiência mental - oferecidas
em
horário oposto ao da freqüência do ahmoem
classe regular.
No
início de 2000, essa escola sofreu modificações na sua estrutura e não mais funciona como unidade de Serviço da FCEE.Estado da Educação, Cultura e Desporto. Estes dois órgãos estaduais, mediante o trabalho integrado das suas equipes técnicas,
definem
eacompanham
em
conjunto as ações relacionadas ao desenvolvimento da Política de Integração de alunoscom
necessidades especiais na rede regular de ensinono
Estado.Nos
inúmeros episódios que vivencieino
interior da escola,em
atividadesrelacionadas a Conselhos de Classe, reuniões de estudo de caso, entrevistas
com
familias,bem como
nos contatosextemos
com
profissionais das escolas estaduais,em
que
se tratava de alunoscom
história de deficiência e de dificuldades de aprendizagem,predominavam
os discursos cujo sentido dominante centrava-se nas caracteristicas peculiaresdo
aluno, na sua incapacidade de aprender eacompanhar
a tunna. Evidenciavam-secom
certa regularidade tennos específicoscomo:
desorganízado, lento, agressivo, esquecido, que pareciam caracterizar marcas inquestionáveis e definitivas da incapacidade desses alunos.O
esforçono
sentido deromper
com
o discurso desqualificador centradono
indivíduo não
me
impedia de participar na sua produçãocomo
interlocutor, tanto que, na definição de propostascom
vistas à integração dos alunoscom
necessidades educativasespeciais na rede estadual de ensino4, das quais participei, reproduzia discursos
com
asmesmas
características. 'Por
um
certotempo
estive convencida deque
esse discurso ideológico era exclusividade da escola e se pautava fundamentalmente na falta e na incapacidades.Com
esse pressuposto formulei a seguinte questão de pesquisa paracompor
meu
projeto de ingressono
curso deMestrado
em
Educação:como
se constroem os discursosda
faltae da diferença nas práticas da escola frente à diversidadehumana?
O
ingressono
curso de Mestrado,em
1998, possibilitou-me,não
só o aprofiindamento dos princípios teórico-metodológicos necessários à investigação,como
também
acompreensão
mais ampliada e críticado fenômeno
que pretendia pesquisar.Em
face desses estudos,pude
redefinir o projeto inicial, fundamentalmenteno que
se4 Ressalto a participação na equipe responsável pela elaboração dos documentos: Processo de desenvolvimento do Serviço de Apoio Pedagógico na Unidade de Educação Integrada da
FCEE
- 1990e Redefinição das diretrizes para estruturação e funcionamento do serviço de apoio pedagógico no
ensino fundamental no Estado de Santa Catarina - 1994.
5 Falta: no sentido de dar ênfase à ausência de certos atributos no indivíduo e, pela exclusão de
uma
13
refere à superação da leitura unilateral que fazia a respeito
do tema
.Por
exemplo, separto
do
princípio de que na escola se produz sóum
discurso - o da falta - eque
este éda escola, corro o risco de, na análise das fontes, buscar apressadamente confirmações legitimadoras dessa hipótese,
propondo
perguntas direcionadas para estefim
e reafirmando-acom
conhecidos argmmentos de estudos consagrados. Destaforma
já saberia previamente o resultado de rninha pesquisa por estar utilizando “procedimentos autoconfirmadores”, na expressão deThompson
(1981, p.49).Compreendi
que,no
processo de investigação, deveria buscar a sistemáticainterrogação das evidências (no caso, os textos dos discursos), pois
mesmo
os fatos aparentemente indiscutíveismerecem
ser questionados; compreendi ainda que,implicitamente a qualquer fato, existe
uma
estrutura de relações sociais que aomesmo
tempo
mostraum
movimento
e inibe outro, alimenta alguns discursos e descarta outros.Negar
as inúmeras facetas deum
discurso seria negar a presença ativa doshomens
na produção da linguagem.Com
o propósito geral de analisar os discursos pedagógicos sobre os alunosque
“não aprendem”, a partir dos
documentos
e relatóriosque encaminharam
alunos para o Serviço deApoio
Pedagógico na rede regular de ensinono
período de 1994 a 1996,levanto algumas indagações preliminares:
Como
e por que são produzidos esses discursos?Em
que condições são produzidos? Quais são seus significados?Quem
são os interlocutores, ou,com quem
dialogam?O
que expressam das relações sociais ecomo
ossujeitos que os
produzem atuam
na constituição destas relações?No
trabalho de análise desses textos, considerando cadaum
delescomo
um
todo,manifestação e alicerce de
uma
dada concepção sobre o “não aprender”, procuro descrever as relações organizadoras das concepçõesque permeiam
os discursos,com
vistas a apreender suas condições de produção,bem como
as contradições que determinam suaconstmçãoõ
6 Para Orlandi (l996b, p.117) o texto, visto “como unidade de significação, é o lugar mais adequado para se observar o fenômeno da linguagem. Porque parto da totalidade e não das partes segmentadas,
Delimitação e organização
do
campo
de
investigaçãoA
delimitaçãodo
problema de investigação decorreu deum
trabalho de pesquisacoletivo desenvolvido na
FCEE,
orientado pelo Prof' ElisabethJuchem
Machado
Leal,do
qual participeicomo
pesquisadora, anteriormente aomeu
ingressono
mestrado. Essa pesquisa, intitulada: Avaliaçãodo
processo de integraçãode
alunoscom
necessidades especiais -na rede regular de ensino, tinhacomo
propósito “descrever e analisar oprocesso de integração ocorrido
no
período de 1988 a 1997, notadamente a partir daperspectiva dos educadores, educandos e famílias”(Santa Catarina, 1997).
As
razões que desencadearam a pesquisa supra citada centravarn-se na necessidadesentida pela instituição, após dez anos de adoção
da
medida
políticaque
garantia matrícula às pessoascom
necessidades educativas especiais na rede estadual de ensino (Plano Anual de Matrícula, 1988), de realizaruma
“análise mais acurada das ações desencadeadasno
âmbito desse processo e seus desdobramentos na rede estadual de ensino, face aosrumos
futuros de sua atuação.7Dos
documentos
e dados estatísticos resgatados então, alguns foram fiindamentais para a delimitaçãodo
presente trabalho. Entre eles destacam-se os dadosque
se referem à “matrícula final de educandoscom
necessidades educativas especiais atendidosem
serviços de educação especial na rede regular de ensino de Santa Catarina,
no
período de 1988 a 1994” (Santa Catarina, 1998).No
que diz respeito aos alunos atendidosem
salade apoio pedagógico, destinada às crianças e adolescentes
com
dificuldades de aprendizagem e/ou deficientes mentais, observou-se, de 1989 a 1993,um
significativonúmero
de matrículas,ou
seja, 13.039em
1989, caindo para 5.331,em
1993,mas
mantendo-se aindaem
patamares elevados.No
entanto,em
1994, ornúmero
dematrículas reduz-se drasticamente para 253 alunos.
7 Cabe situar, ainda, que esta pesquisa teve início
em
1997, noGovemo
doPMDB,
sendo Governador Paulo Afonso Evangelista Vieira. Tinha como objetivo avaliar os 10 anos deuma
proposta implantada também no governo doPMDB
quando era então Governador Pedro Ivo de Figueiredo Carnpos.De
acordocom
Michels (1999, p.45),“A
política de integraçãoem
Santa Catarina, é legalmente iniciada nomesmo
ano da promulgação da Constituição Federal de 1988. Esta foi encaminhada pela Secretaria de Estado da Educação e pela FCEE, com a assinatura da Portaria n° 011/87/SE, que garantia o direito a vaga nas escolas estaduais para crianças e jovenscom
idade entre sete e 14 anos. Não excluindo os portadores de deficiência desta faixa etária, abriu-se a possibilidade de efetuar-se matricula para estas15
Os
documentos
oficiais, orientadoresdo
Serviço deApoio
Pedagógico nesseperiodo, evidenciam alguns elementos que
podem
esclarecer as razõesdo
excessivonúmero
de alunos que freqüentavam o serviço até 1993 (5.331 alunos) eo
conseqüente decréscimo da matrícula a partir de 1994 (253 alunos).8Nesse
ano foi possível acompanhar,como membro
integrante da equipe daFCEE,
as discussões junto à equipedo
ensino fundamental daSED
quanto às dificuldades e preocupaçõesque
decorriam
do encaminhamento
a este serviço.A
primeira referia-se ao elevadonúmero
de alunos
do
sistema regularque
estavam sendo caracterizados, inadequadamente, tanto pela escola quanto pelos órgãos oficiais,como
clientela da educação especial.A
segunda preocupação dizia respeito aos desencontros deordem
teórico-metodológica presentes nas definições técnicas destes dois órgãos.A
FCEE
encarninhava orientações baseadas nos princípios da psicanálise de Freud e da epistemologia genética de Piaget, a partir das proposições da psicopedagogia clínica, enquanto aSED
procurava encaminhar algumas discussões, pelomenos
teóricas, na perspectivado
materialismo histórico. Tal pressuposto norteava odocumento
da proposta curricular, de conhecimento da rede desde 1988.A
partir desses argumentos, aSED
posiciona-se pela extinçãodo
serviço, encaminhando orientações à rede de ensino neste sentido.A
FCEE
adota posiçãocontrária à decisão tomada, apesar de considerar que o
número
excessivo de alunos matriculadosno
serviço revelavaum
fracasso escolarem
massa,camuflado
sob a indicação deuma
necessidade especial. Entretanto, considerava que nessa população havia efetivamente alunoscom
necessidades educativas especiaisque
legitimavam oserviço.
Sua
extinção comprometeriao
processo de integração iniciadoem
1988,com
possível retorno desses alunos para a escola especial.
Com
base nessas preocupações, a equipe daFCEE
procurou manter conversaçõescom
a Secretaria e,no
segundo semestre de 1994, reiniciavam-se as discussões queresultaram na redefinição
do
serviço, a partir da elaboração conjuntado documento
8
O
documento Processo de desenvolvimento do Serviço de apoio pedagógico na Unidade deEducação Integrada da
FCEE
(1990) enfatizava que o referido serviço destinava-se “aos alunoscom
dificuldades de aprendizagem, decorrentes de fatores intemos ao individuo,
bem
como aos alunos comfracasso escolar, decorrentes de fatores de ordem externa”. Tal encaminhamento contribuiu para a legitimação do atendimento a
uma
grande clientela que não necessariamente precisava de serviçosRedejinição
das
Diretrizespara
estruturação efuncionamento
do
Serviço deApoio
Pedagógico
no
ensinofundamental
(I “à
4 asérie)no Estado
de Santa Catarina.No
decorrer de 1995,com
amudança
degovemo
e das equipes nasCREs,
o trabalho daFCEE
e daSED
voltou-se para a capacitação dos profissionais das equipesregionais de educação, segundo os princípios que norteavam a redefinição
do
serviço,bem como
foram encaminhadas negociaçõescom
onovo
Secretário daEducação
com
vista à contratação de professores para o serviço na redeg.
Somente
em
1996 foiautorizada a estruturação de
um
serviço por região e encaminhadas orientações àsCREs
para levantamento
da
clientela (alunoscom
história de deficiência mental) matriculada nas escolasda
região.As
orientações enfatizavam a observância aos critérios explicitadosno documento
citado.Das
vinte e duas regiões educacionais, quatro apresentaram relatório deencaminhamento
de alunos àSED
(169no
total) para estruturaçãodo
pólo deatendimentom
As
orientações de criaçãodo
serviço, segundo o documento, exigiam: “1) oficio deencaminhamento
paraSED/DIFM/GEENF;
2) justificativa; 3) relatório síntese da avaliação (produzido pelo professor e/ou especialista) sobre: a dinâmica de trabalhodesenvolvida
em
sala de aula, a relaçãodo
alunocom
o conhecimento e a história evolutiva dos alunos; 4) relaçãocom
o
nome
dos alunos; 5)nome
do
professor; 6) parecer da equipe regional”(Santa Catarina, 1994, p.29).Assim, observa-se que o período
de1993
a1996
evidencia, questões relevantesdo
ponto de vista
da
política de integração das pessoascom
necessidades educativasespeciais, das relações entre as instituições, das concepções sobre as necessidades educativas especiais, das congruências e incongmências
no
atendimento a essas necessidades.As
evidências semostram
nas pistas e sinais impressos nos documentos.São
discursos queproduzem
efeitos de sentidoem
muitas direções, “que dizem e silenciam” (Orlandi, 1990).9
A
partir de 1995, assume o govemo doPMDB,
em
substituição ao govemo do PFL, passando a ocupar o cargo de Secretário da Educação o professor Deputado João Batista Mattos e como Diretor Geral daFCEE
o Dr. Zalmi Luiz Fabre.10 Considera-se pólo
uma
escola que centralize o atendimento recebendo alunos de outras escolas próximas.É
necessário esclarecer ainda que foram cinco as regiões que manifestaram interesse pela estruturação do Serviço (Tubarão, Laguna, Jaraguá do Sul, Xanxerê e Itajaí), no entanto, não foram encontrados nos arquivos daSED
os documentos do processo da região de Itajaí.17
É
importante analisar que as ações desencadeadas nesse período,no
Estado de Santa Catarina,com
vistas à integração de pessoascom
necessidades educativasespeciais na
Rede
Regular de Ensino, são a expressão localizada de políticas mais amplas, desencadeadasem
nível mundial e nacional. Isso se dá principalmente a partir de1994,
quando
o Ministério deEducação
e Cultura, orientado por organismos internacionais, implementa sua política educacional, mediante a publicação dedocumentos
orientadores, encaminhando açõesque
visavam à integraçao de alunoscom
necessidades especiais, nas escolas regulares. Essesdocumentos
defendiam,como
principal política pública para a Educação.Especial, a integração dos portadores de necessidades especiais na
Rede
Regular de Ensino.U
Todavia, cabe esclarecer
que
omovimento
pela integraçãotem
inicio muito antesdessa data, e
em
decorrência das grandes guerras mundiais,do
fortalecimento dosmovimentos
sociais pelos direitos humanos,bem como
dos avanços científicos ocorridos na época.No
finalda
década de 50, por exemplo, já havia sidopromulgada
uma
lei, naDinamarca, que defendia a “normalização”,
ou
seja, a criação de condições de vida nos padrões considerados normais para essa parcela da população, assimcomo,
nos demais países da Europa, na década de 60, observa-se essamesma
orientação na regulamentação de suas leis (Santos, 1995).Porém
é a partir de 1994,quando
ocorreu a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, na Espanha, que a integraçãoassume
maior peso na definição das políticas públicas para a Educação.Nessa
Conferência foi aprovada aDeclaração
deSalamanca
de Principios, Políticas e Práticas das Necessidades Educativas Especiais.A
partir dessas diretrizes “passou-se a se considerar ainclusão dos alunos
com
necessidades educativas especiaisem
classes regularescomo
a forma mais avançada de democratização das oportunidades educacionais” (Bueno, 1998, s.p.).A
partir de 1996, na esteira das políticas neoliberais para a educação,temos
acessoà
nova
LDB
que no
Capítulo V,define
três artigos, entre eles o artigo 58,que
situa a11 Este encarrrinlramento das políticas públicas
vem
sendo traçado pelas políticas neoliberais e pode serobservado nos documentos orientadores do Banco Mundial, da Comissão Econômica para a América
Latina e Caribe (CEPAL) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
educação especial
como
a modalidade de ensino destinada aos educandos portadores de necessidades especiais, preferencialmente, na rede regular de ensino. 12Com
baseno
exposto, defini o periodo de 1993 a1996
como
foco deminha
investigaçao,
devendo
analisar o conjunto dedocumentos
(aquitomados
como
textos dos discursos) que encaminha alunos para o Serviço deApoio
Pedagógico nesseperíodo. 13
A
investigação foi organizadaem
tomo
do
seguinte roteiro:1 - Escolha dos textos produzidos nesse período, tendo
como
critério específico ofato de tratarem de alunos que apresentam supostas histórias de deficiência e/ou de dificuldades para aprender, vinculados a essa modalidade de atendimento.
2 - Consulta e levantamento de informações presentes nos textos escolhidos:
a)
busca de
um
conjunto de elementos que permitissem situar os textos quanto aos autores, datas, escolas,números
de alunos, idade, série e outros dados de identificação; b)uma
primeira aproximação de agrupamentos dos textos de acordo
com
a regularidade de enunciados,denominados
de classificadores,que
evidenciassem elementos úteis àconstmção
de hipóteses relativas ao conteúdo dos textos.A
escolha dos discursos para análise recaiu sobre o conjunto dos quatro processos solicitando estruturaçãodo
Serviço deApoio
Pedagógico, encaminhadosem
1996, pelas escolas das seguintes Coordenadorias Regionais deEducação
-CRES:
2”(Tubarão), 20” (Laguna), 19” (Jaraguá
do
Sul), e 17” (Xanxerê), e arquivados, desde então, naSED.
Para localizar o conjunto desses
documentos
recorri àDIEF
- Diretoria de EnsinoFundamental da
SED,
tendo sido atendida pela coordenadorado
Serviço deApoio
Pedagógico
no
Estado, que disponibilizou para pesquisa todoo
material ali registrado earquivado.
Como
já citei anteriormente, naquele anotambém
a 13”CRE
(Itajai) solicitou12 Lei n° 9394/96, de 20 de dezembro de 1996.
13 Tomar 0 documento como texto significa dizer que ele é
um
objeto histórico no sentido atribuído por Eni Orlandi: “[...] quando afirmo queum
texto não éum
documento, masum
discurso, estou produzindo algo mais ftmdamental; estou instalando na consideração dos elementos submetidos à análise - nomovimento contínuo entre descrição e interpretação - a memória.
Em
outras palavras, os dados não têmmemória, são os “fatos” que nos conduzem à memória lingüística” (1998, p.58). Mas, qual a distinção que a análise de discurso estabelece entre discurso e texto? “Eles se equivalem, mas
em
niveisconceituais diferentes. Isto significa que o discurso é tomado como,conceito teórico e metodológico e o
l9
a instalação desse Serviço na região, todavia
o
processo não se encontrava registrado earquivado na
SED.
Destemodo,
osdocumentos
desta região não farão partedo
conjunto que será estudado
no
presente trabalhoOs
quatro processos encaminhados pelas escolas das quatro regiõesdo
Estadocompõem-se
de:a) relatório
com
parecer da equipeda
CRE
sobre a estruturaçãodo
Serviço deApoio
Pedagógico na sua região;
b) relatório
do
diretor e/oudo
especialista, justificando e solicitando a estruturaçãodo
serviço na sua escola;
c) relatório pedagógico elaborado pelos professores e especialistas sobre os alunos que consideram apresentar história de deficiência, totalizando 169 relatórios;
d)
em
alguns casos (duas regiões), relatórios de observação da dinâmicaem
sala de aulaelaborado pelo especialista.
O
conjunto de textos, provenientes das escolas,pode
nos oferecerum
quadro rico e vivo das concepções demundo,
da multiplicidade de textos existentes, possíveis e imaginários, dos sujeitos e da situação.A
partir delespoderemos
alcançar outros dizeres,outros sentidos possíveis, ,outros textos.
Para empreender esta tarefa o trabalho foi organizado da seguinte forma:
nd
primeiro capítulo indico os
caminhos
teórico-metodológicos escolhidos e apresento os autorescom
os quais mantive interlocução sistemáticano
sentido de estabelecerum
diálogo
com
as evidências;no
capítulo II apresento:Ojogo
e seus jogadores,como
uma
primeira aproximação aos sentidos e significados quevão
constituindo os sujeitos queparticipam desse diálogo social ininterrupto sobre o “não aprender”. Procuro descrever os sujeitos sobre os quais se escreve,
ou
seja, os alunos, suas experiências na escola e fora dela, e os sentidos que atribuem ao não aprenderem
face destas experiências.Realizo
também
algumas reflexões sobre as experiências dos professores que, na produção dos textos sobre seus alunos, significamtambém
a si próprios, constituindo-secomo
sujeitos na intersubjetividade.No
capítulo III procuro realizar a análise dasmarcas
e propriedades dos discursos manifestas nos textos,no
caso os relatórios pedagógicos das escolas queencaminham
alunos parao
Serviço deApoio
Pedagógico,no
sentido de apreender amultiplicidade de sentidos presentes nos discursos sobre
o
“não aprender”, suas formas sedimentadas e suas possibilidades emergentes.Com
o propósito de identificar e discutir a díalogicidade (Bakhtin, 1998) presente nos discursosem
estudo,no
capítuloIV
, examinei omodo como
se interpõemnas falas dos professores e especialistas os discursos de outrem, discursos “alheios”
que
dialogam e se constroem penetrados por idéias gerais, por pontos de vista, por
apreciações de outros, por produções da ciência, pela ideologia.
No
último capítulo, ao qual atribui o título deAs
metamorƒosesda
desfiliação: suas manifestaçõesno
ensinar eno
aprender , apresentoum
estudo sobre os processos dedesenvolvimento da desfiliação
ou
da invalidação social, unidade de análise que permeia o produção dos discursos sobre o não aprender, ou, mais propriamente, sobre os alunos pobres consideradoscomo
incapazes para tal. Mediante a análise dos resíduos vivos queunem
o presente eo
passado procuro compreender as formasde
produção e de manifestação desse processo social,numa
tentativa de pensar o presentecomo
história e de procurar a relaçãoque
existe entre os “inúteis para a sociedade”no
passado e os“inúteis para a sociedade” hoje, os “incapazes de aprender” para a escola de
ontem
e os “incapazes de aprender” para a escola de hoje.21
CAPÍTULO
1OS
INTERLOCUTORES
E
OS
PERCURSOS
:um
esboço teórico-metodológicoda
pesquisaEm
cadaum
dos pontos do diálogo que se desenrola, existe uma multiplicidade inumerável, ilimitada de sentidos esquecidos, porém, num determinado ponto, no desenrolar do diálogo, ao sabor da sua evolução, eles serão rememorados e renascerão numa forma renovada (num contexto novo).(Bakhtin, Estética da criação verbal)
O
eixoque
tem
noiteadomeus
estudos centra-se na busca de aportes teóricos e metodológicos que subsidiem a definição de alguns conceitos suscitados pela temática de investigação eque
viabilizemum
procedimentoadequado
na leitura dos discursos que constituem a empiria desta pesquisa.Conceitos
como
diferença/deficiência, linguagem/discurso/ideologia, pertencimento/exclusão/desfiliação, experiência humana/determinação, intimamente articulados e compreendidosem
sua dimensão histórico-cultural, constituemo
arcabouço central da temática. Para compreendê-los procuro aprofilndar,no
decorrer da pesquisa, o diálogocom
alguns interlocutorescomo
Vygotsky, Bakhtin,Thompson
e Castel articulando suas idéiascom
outros autores, algunsdo
campo
da
educação especial, quetêm
desenvolvido estudos sobre a deficiênciacomo
construção, a partir de processoshistón`co-culturais que
produzem
formas de inclusão/exclusão.Poderia situar previamente
um
conjunto de autores que, nestecampo,
de maneira amplaou
específica,aprofundam
o
estudo destas formas de inclusão/exclusão,manifestas
ou
implícitas,no
âmbito das políticas, das relações na escola,no
trabalho eem
outros grupos sociais. Autorescomo:
LígiaAssumpçao
do Amaral
(1998), Eniceia GonçalvesMendes
(1985), José Geraldo SilveiraBueno
(1993),Sadao
Omote
(1991),Lucidio Bianchetti e outros (1998),
Rós
(1997), Carneiro (1996) apresentam contribuições nesse sentido.O
estudo da linguagem, na perspectiva de autorescomo
Vygotsky
e Bakhtin, que compartilham amesma
herança intelectual marxista, nãopode
estar separado da prática social que a produz, isto é, dos processos que entramem
jogo na constituição dalinguagem, quais sejam, os processos histórico-sociais. Então, os interlocutores, a situação, o lugar de
onde
falam os interlocutores, as representações dessas circunstânciasconcretas constituem as condições de produção de
um
discurso.Neste sentido, tanto
Vygotsky
quanto Bakhtin enfatizam a existência deuma
unidade dialética entre sujeito e objeto e analisam a experiência doshomens
simultaneamente
em
sua totalidade eem
sua singularidade. Falam, portanto, deum
sujeito histórico, datado, concreto,
marcado
por sua cultura. Partindo da concepçãodialética,
ambos
constroemuma
visão da realidade, não fragmentada,mas
enraizada nahistória, que busca compreender o
homem
constituídono
conjunto das relações sociais.A
linguagem,no
sentido atribuído por Marx, é a consciência real, prática, que se produzcom
a necessidade dos intercâmbioscom
os outros homens.“Onde
existeuma
relação ela existe paramim”
(1998, p.25). Desta forma, para apreender o que expressa a consciênciahumana
deum
determinadomomento
histórico é preciso tomarem
conta as relações sociais que determinam essa consciência. Parte-se doshomens
realmente ativos, pois “é a partir deum
processo de vida real que representamostambém
o desenvolvimento dos reflexos e das repercussões ideológicas desse processo vital”(1998, p.19).
Com
baseno
pressuposto de que ohomem
não existe dissociado da cultura,Vygotsky, em. suas obras, desenvolveu suas idéias principais sobre a “mediação simbólica”, a “linguagem” e o “papel
do
outro”no
desenvolvimento e aprendizagemdo
ser
humano.
Essas idéias oferecemum
referencial interessante para a compreensão dos fatores determinantes na produção histórica da linguagem,fenômeno
que possibilita a interaçãohumana
e a constituição da consciência edo
pensamento.De
acordocom
Vygotsky
(1993, p. 132),O
pensamento e a linguagem, que refletem a realidade deuma
forma diferente daquela da percepção, são a chave para a compreensão da natureza da consciência hurnana. As23
palavras desempenham
um
papel central não só no desenvolvimento do pensamento, mas também na evolução histórica da consciência comoum
todo.Vemos
emergir, assim, a dimensão sígnica da palavra na produção da consciência. Através dela ohomem
não só se das`mais diversas produções culturais,como também
compreende
sua própria consciênciacomo
um
ato de pensamento,como
atividade mental. Para ele, todo conhecimento é construído inicialmente entre pessoas, através da linguagem,em
interação social, e só depois este conhecimento se intemaliza, quer dizer, setoma
intrapessoal.A
consciência individual não é nada mais que“um
contato consigomesmo
a partir dos outros” (Vygotsky, 1993).As
concepções deVygotsky abrem
perspectivastambém
para a redefiniçãodo
conceito de deficiência ao desenvolver trabalho teórico e aplicado junto a criançascom
deficiências fisicas, sensoriais e mentais de origem orgânica. Seus estudosem
“Defectologia” indicam quea idéia de soma de defeitos como
uma
linritação puramente quantitativa do desenvolvimento, indiscutivelmente, se encontraem
afinidade ideológicacom
a teoriapeculiar do preformismo paidológico, de acordo
com
o qual o desenvolvimento extra-uterino da criança se reduz exclusivamente ao crescimento quantitativo e ao aumento das funções orgânicas e psicológicas. (...)
A
defectologia luta atualmente pela tesefundamental
em
cuja defesa esta vê a única garantia de sua existência como ciência.É
precisamente a tese que desenvolve: a criança, cujo desenvolvimento está complicado por
mn
defeito, não é sensivelmente menos desenvolvida que seus coetâneos normais, éuma
criança, porém, desenvolvida de outro modo (Vygotsky, l989b, p.3). [Tradução minlra].
O
autor propõe que, dada a plasticidadedo
cérebrohumano,
pessoascom
limitações orgânicas
podem
compensá-las pormeio
da construção de caminhos altemativos de desenvolvimento, isto é, aproveitam órgãos, processos emecanismos
integros para processar, por outras vias sua aprendizagem.
Se
um
cego ouum
surdo alcança no desenvolvimento omesmo
que urna criança normal, então as crianças com deficiências o alcançam de modo diferente, por outra via,com
outros meios e para o educador é muito importante conhecer a peculiaridade da via pela qual ele deve conduzir a criança (Vygotsky, `1989b, p.7). [Tradução minlra].
Estes e outros conceitos
em
Vygotsky
constituem-senum
campo
fértil para oentendimento dos processos de aprendizagem/desenvolvimento das pessoas
com
históriade deficiência e
ou
dificuldades de aprendizagem,bem como
para acompreensão
das condições de produção da linguagem.Analisando as obras de
Vygotsky
e Bakhtin, observa-se que,embora
partindo de objetivos diferentes -o
primeiro da formulação deuma
psicologia histórico-cultural e osegundo da construção de
uma
concepção histórica e social da linguagem -, muitos sãoos pontos de encontro entre suas idéias (Freitas, 1997).
Bakhtin,
numa
abordagem
epistemologicamente próxima da de Vygotsky, oferece importantes contribuições para entendermos a linguagem a partirdo
campo
dalingüística e da filosofia da linguagem.
Como
Vygotsky, vêo
homem
nãocomo
um
serbiológico abstrato,
mas
histórico e social, historicizando a linguagem na existência dos homens. Entretanto,complementa
essa idéia introduzindo a detemtinação das marcas ideológicas nas práticas de significação,tomando
possível discutir a diversidadeindividual e cultural.
Ao
chamar
a atenção sobre a impossibilidade de interagircom
a linguagemcomo
se ela fosseum
“sistema abstrato de normas”, Bakhtin (1990)afirma
que:Não são as palavras que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas
boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc.
A
palavra estásempre carregada de
um
conteúdo ou deum
sentido ideológico ou vivencial (p. 85).E
acrescenta:É
preciso fazer urna análise profimda e aguda da palavra como signo social para compreender seu funcionamento como instrumento da consciência.É
devido a esse papel excepcional de instrumento da consciência que a palavra funciona como elementoessencial que acompanha toda a criação ideológica (p. 37).
Para esse autor, ideologia é a representação
do
real que possuium
determinado sentido,um
espaço de construção e de contradição e não apenas de “ocultamento”ou
“falseamento”. Representa, desse
modo,
a maneiracomo
osmembros
deum
determinado grupo socialvêem
omundo.Tudo
que é ideológico possuium
significado e26
pessoas, até as interações mais amplas entre enunciados.
Toda
enunciação éum
diálogo(mesmo
as produçoes escritas) “socialmente dirigido”.Antes de mais nada, ela é determinada de maneira mais imediata pelos participantes do
ato da fala, explícitos ou implícitos,
em
ligaçãocom
uma
situaçãobem
precisa. (...)A
situaçao e os participantes mais imediatos determinam a forma e o estilo ocasionais da enunciação. Os estratos mais profundos da sua estrutura são determinados pelas pressões
sociais mais substanciais e duráveis a que está submetido o locutor (Bakhtin, 1990,
p. 1 14).
Bakhtin enfatiza que existe
uma
forma importante da comunicação ideológica que não está diretamente vinculada auma
esfera ideológica particular(como
a científica, a moralou
a religiosa por exemplo): trata-se da comunicação na vida cotidiana,que
éextraordinariamente rica e importante, e cujo material privilegiado é a palavra. Trataremos
com
mais detalhe dessa questão, que é a ideologiado
cotidiano,no
decorrerdo
trabalho.Tanto Bakhtin quanto
Vygotsky
desenvolveram importantes formulações que revelam a importânciado
outro.Sem
eleo
homem
não penetra na cultura, não sedesenvolve, não
tem
acesso às funções psicológicas superiores, não forma suaconsciência,
enfim
não
setoma
sujeito. Suas palavras resultam da incorporação daspalavras de outrem.
“A
palavrado
outro se transforma, dialogicamente, para tomar-se palavra- pessoal-alheiacom
a ajuda de outras palavrasdo
outro, e depois palavra pessoal(com
poder-se-ia dizer, a perda das aspas)” (Bakhtin, 1997, 405- 406).Minha
experiência de aproximação analítica às evidênciasdemandou também
a necessidade de recorrer a outros estudos de natureza teórico-metodológica que oferecessemum
suporte consistenteno
modo
de conduzirmeu
trabalho de investigação.Tomando
como
ponto de partida e referência os aportes deVygotsky
(l989a;1989b;l993; 1995) e Bakhtin (1990; 1997;1998)
com
base nas tesesdo
papelativo da linguagem
no
processodo
conhecimento e da produção desta na prática social,procurei expandir as possibilidades de análise, estabelecendo articulações
com
estudosno
campo
da história, ou, mais especificamente,com
as contribuições metodológicas de Ginzburg (1998, 1991) e deThompson
(1981, 1997, 1988, 1989),bem como com
estudos
no
campo
da sociologia (Castel, 1998) e da análisedo
discurso.A
partir dosem
interação,ou
seja, aqueleem
que se considera a linguagemem
relação às suas condições de produção” (Orlandi 1996 a).Que
articulações sepode
estabelecer entre esses autores: lingüistas, psicólogos, historiadores, sociólogos que, de diferentes fronteiras,num
entrecruzamento de tempos,nos
propõem
um
modo
de pensar a práticahumana?
Onde
suas vozes se encontram e que interlocuções são possíveis? Pode-se delinearuma
analogia entre seusmétodos
de investigação? Estas e outras perguntas forampermeando
meu
estudo,como
indagações quecompõem
parte das preocupações deuma
pesquisadoraque
busca se apropriar deum
método adequado
à investigação histórica. Preocupações que se circunscrevemtambém
pelo cuidadoem
guardaruma
certa vigilância,uma
certa coerência epistemológica.“O
gosto pelo detalhe revelador” (Ginzburg, 1991) éo
que orienta profundamente o trabalho desses pesquisadores e é, naminha
compreensão, justamenteum
dos pontos essenciaisdo
eixo vital que os aproxima e queme
permiteme
aproximardeles.
Vemos,
em
seus trabalhos, a concepçãobem
marcada
deque
fatos aparentemente carentes de importância, desconectados, insignificantes, negligenciáveis, revelam sinais significativos para acompreensão
da totalidadedo
fenômeno
histórico que se quer estudar.Para aprofundar esse ponto de vista, vejamos mais de perto as discussões levantadas por
Vygotsky
nasObras
Escogidas III (1995), ao abordaro método
de investigação.O
autorafirma
que a partir “dos resíduosdo
mundo
dos fenômenos”,numa
expressão que atribui a Freud, é possível revelar“como
se manifestao
grandeno
mais pequeno” . Para ele o todo se faz presenteno
fragmento, quer dizer, seu conteúdo se fazforma nesse fragmento:
O
zoólogo, pelo resto insignificante deum
osso de animal fóssil, reconstrói seu esqueletoe, inclusive, seu modo de viver.
Uma
moeda antiga, que carece de todo valor real muitas vezes dá a conhecer ao arqueólogoum
complexo problema histórico.O
historiador, quedecifra
um
hieroglifo traçadoem
uma
pedra, penetra nas profimdezas dos séculos desaparecidos.O
médico estabelece o diagnóstico da enfermidade com baseem
uns poucos sintomas. Somente nestes últimos anos, vai superando a psicologia o temor antea valorização cotidiana dos fenômenos e aprende por minúcias insignificantes [...] adescobrir com freqüência importantes documentos psicológicos” (1995, p.64). [tradução minha]
28
Ginzburg,
em
A/Iitos, emblemas, sinais (1991) discute essamesma
idéiaafirrnando que existe
uma
profunda e estreita relação entrefenômenos
aparentementesuperficiais. '
A
representação das roupas esvoaçantes nos pintores florentinos do Sec. XV, os neologismos de Rabelais, a crua dos doentes de escófula pelos reis da França e da Inglatena são apenas alguns entre os exemplos sobre o modo como, esporadicamente, alguns indícios mínimos são assumidos como elementos reveladores de fenômenos maisgerais: a visão de
uma
classe social, deum
escritor, ou de todauma
sociedade” (p. 178).Neste
movimento
contraditório, particularidade/totalidade, fragmento/todo, pequeno/grande,vemos
revelar-seum
importante pressupostoque
fundamenta o trabalho destes pesquisadores, qual seja, os princípiosdo
materialismo histórico.Ao
afinnar a necessidade de observar o real, “a valorização cotidiana dos fenômenos” que existem e se
mostram
aparentemente desconexos, indiciários, e de se buscar as relaçõesdesses
fenômenos
com
a totalidade que os torna concretos, estão explicitando os elementos centrais que norteiamo
método
marxista de investigação.Para Marx, “a pesquisa
tem
de captar detalhadamente a matéria, analisar as suasvárias formas de evolução e rastrear sua conexão íntima.
Só
depois de concluído esse trabalho é que sepode
exporadequadamente
omovimento
real” (1983, p.20). Essespressupostos,
Marx
explicitano
estudoda
história,mas
podem
estender-se para outroscampos
de investigação, isto é,podem
ser considerados pressupostos metodológicosgerais. Eles nos ensinam
que
desvendar a totalidadeno fenômeno
implica partir de suaanálise
no
concreto, nas práticashumanas
e suas determinações, para a partir dessaanálise
recompor o
fenômeno, desta vezcomo
um
concreto pensado, isto é,um
produtodo
trabalhodo
conhecimentohumano.
Neste sentidoMarx
(1998, p.37), fazuma
crítica:Até agora toda concepção histórica deixou completamente de lado essa base real da
história, ou então a considerou como 'algo acessório, sem qualquer vínculo com a marcha
da história.
É
por isso que a história foi e sempre será escrita segundo tuna normasituada fora dela.
A
produção real da vida aparece na origem da história ao passo que aquilo que é propriarnente histórico aparece como separado da vidacomum
como extra e supra terrestre.Vemos
esse raciocínio manifesto nas posições assumidas porVygotsky
(1995) ao fazeruma
crítica aos que interpretam a psicologia histórica identificando-acom
o passado, fazendouma
cisão entreo
estudo histórico eo
estudo de manifestaçõespresentes, atuais. “Estudar algo historicamente significa estudá-lo
em
movimento”
(p.67). Isto quer dizer que qualquer investigação
pode
ser histórica, desdeque
osfenômenos
sejam estudadoscomo
um
processoem
movimento
e mudança, buscando-se conhecer sua gênese e transformação.Quer
dizer, procurando compreender os processos que o produzem, as relações que o alimentam e que determinam que semovimente
destemodo.
“A
luzda
história ilumina o presente e nos encontramos simultaneamenteem
dois planos: o que é e o que foi” (1995, p.65).Essas proposições suscitaram algumas indagações
no
decorrer daminha
pesquisa:
como
se expressam nos discursos atuais sobre os alunosque
“nãoaprendem”
esses vestígios históricos que indicam formas de condutas petiificados
em
relação a diferença/deficiência?Como
essas “pegadas” semostram no
texto?Bakhtin,
no
seu estudo sobre a linguagem,também
afinna
que “o melhor sistema para esclarecerum
fenômeno
é observa-loem
seu processo de formação e desenvolvimento”(apud
Freitas, 1997, p.315).Mas
o
estudodo
desenvolvimento nãosignifica que se
vá
analisá-lo de maneira linear, evolutiva, fragmentada. Seu desenvolvimento é causado por elementos contraditórios que coexistem na totalidadedo
fenômeno.
Em
face destacompreensão
Bakhtin,em
sua concepção dialógica de linguagem, colocaem
diálogo simultâneo e interdependente: falante e ouvinte, eu e outro, linguagem e consciência, passado e presente, ideologiado
cotidiano e ideologiadominante.
Também
Vygotsky
assim procedequando
estuda pensamento e linguagem, aprendizagem e desenvolvimento, plano interpessoal e plano intrapessoal, forma e conteúdo (Freitas, 1997).Os
pressupostosdo
materialismo históricofundamentam
também
as proposições deThompson
sobre ométodo
histórico de investigação.Na
sua obraA
misériada
teoriaou
um
planetário de erros (1981) encontramos importantes contribuições deordem
teórica sobre o método. Nele, o autor,