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Altenesch: técnica, estética e modernidade na arquitetura de Aracaju nos anos 1930

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Academic year: 2021

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(1)

FACULDADE DE ARQUITETURA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

CARLOS CESAR MENEZES MACIEL FILHO

ALTENESCH:

TÉCNICA, ESTÉTICA E MODERNIDADE

NA ARQUITETURA DE ARACAJU NOS ANOS 1930

Salvador

2018

(2)

ALTENESCH:

TÉCNICA, ESTÉTICA E MODERNIDADE

NA ARQUITETURA DE ARACAJU NOS ANOS 1930

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Carolina de Souza Bierrenbach

Coorientadora: Profa. Dra. Juliana Cardoso Nery

Salvador

2018

(3)

Maciel Filho, Carlos Cesar Menezes

Altenesch: técnica, estética e modernidade na arquitetura de Aracaju nos anos 1930 / Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. -- Salvador, 2018.

361 f. : il

Orientadora: Ana Carolina de Souza Bierrenbach. Coorientadora: Juliana Cardoso Nery.

Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo) -- Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Arquitetura, 2018.

1. Aracaju. 2. História urbana. 3. História da arquitetura do século XX. 4. Modernidade

arquitetônica. I. Bierrenbach, Ana Carolina de Souza. II. Nery, Juliana Cardoso. III. Título.

(4)

CARLOS CESAR MENEZES MACIEL FILHO

ALTENESCH:

TÉCNICA, ESTÉTICA E MODERNIDADE

NA ARQUITETURA DE ARACAJU NOS ANOS 1930

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo, pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia.

Aprovada em 6 de setembro de 2018.

Banca examinadora:

________________________________________ Ana Carolina de Souza Bierrenbach – Orientadora Doutora em Teoría e Historia de la Arquitectura pela Universitat Politècnica da Catalunya, Barcelona

FAUFBA/PPGAU – Universidade Federal da Bahia

________________________________________ Juliana Cardoso Nery – Coorientadora

Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia FAUFBA/MPCECRE/PPGAU – Universidade Federal da Bahia

________________________________________ Ana Maria de Souza Martins Farias – Avaliadora Externa

Doutora em História Urbana pela Universidade Federal de Pernambuco DEC-Universidade Federal de Sergipe

________________________________________ Aline de Figueirôa Silva – Avaliadora Interna

Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo FAUFBA/PPGAU – Universidade Federal da Bahia

(5)

A

Aracaju, meu lugar.

A todos(as) aqueles(as) que ofertaram e ofertam diariamente seus braços, mentes e corações pelo bem desta cidade amada.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço:

A Deusa-MÃE/Deus-PAI e aos Cristos MARIA, JESUS e GABRIEL pela concessão desta oportunidade de aprendizado e serviço.

Ao Líder Espiritual, Professor e amigo Benjamin Teixeira de Aguiar e aos Espíritos Eugênia-Aspásia e Matheus-Anacleto, meus Orientadores Espirituais, pelos estímulos constantes à busca da realização plena do meu ser.

À minha mãe Romana e ao meu pai Cesar pelo amor que se revela nas atitudes de apoio incondicional.

Ao meu príncipe Leandro por ter sido a maior testemunha das alegrias e frustrações que permearam a construção deste trabalho e por ter reagido sempre com paciência e aconchego.

A minha irmã Joana pela torcida perene e amorosa.

Ao meu amigo-irmão Italo Cristóvão pela presença leal e estimulante.

Às irmãs que pude encontrar em Salvador, igualmente recém-diplomadas Mestras Ariane Pedrotti, Mariane Dall’Agnol e Naiara Amorim, por se terem feito família para mim. À tão querida Caroline Dall’Agnol, que chegou depois, ficou por pouco tempo em terras baianas e conseguiu ocupar um lugar todo espacial em meu coração. O interesse de vocês pelo meu trabalho e os constantes estímulos foram fundamentais para que eu conseguisse chegar até o fim.

À amada prima-irmã-dinda Rosevânia Fonseca, que me prometeu achar uma fotografia de Altenesch (risos), à amada tia Salete, ao amado amigo Pedro Campos e a todos os familiares e amigos que torceram sinceramente por uma conclusão bem-sucedida desta etapa de minha jornada acadêmica. Aos irmãos e irmãs em Ideal do Salto Quântico pelas vibrações de amor.

Às minhas queridas orientadoras Professoras Dra. Ana Carolina Bierrenbach e Dra. Juliana Nery por terem entrado de coração e mente nesta aventura comigo e pela condução afetuosa e engajada em todas as etapas deste trabalho.

(7)

À minha avaliadora interna Professora Dra. Aline de Figueirôa pelo cuidado minucioso com meu texto e pelas contribuições precisas e valiosas.

À minha avaliadora externa Professora Dra. Ana Maria Farias por acompanhar minha trajetória acadêmica desde a graduação, por saber do meu afeto pela pesquisa e por isso se fazer efetivamente presente e contribuir na minha subida de mais um degrau.

À minha primeira avaliadora interna, a Professora Dra. Anna Beatriz Galvão, por sua avaliação norteadora para a consolidação do meu projeto de pesquisa.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela oferta da bolsa de mestrado.

Ao Professor Dr. Nivaldo Andrade, que generosamente se fez receptivo às primeiras ideias para este trabalho e que de modo eficiente me conduziu às minhas maravilhosas orientadoras.

Às Professoras Dra. Márcia de Sant’Anna e Dra. Paola Berenstein e aos Professores Dr. Rodrigo Baeta, Dr. José Carlos Huapaya, Dr. Luiz Freire e Dr. Luiz Antonio Cardoso por suas aulas que abriram novos panoramas para o meu entendimento da arquitetura e do meu objeto de pesquisa.

À equipe da Secretaria do PPGAU, em especial a Sra. Maria Henriques, pela sempre cordial disposição em prontamente tirar minhas dúvidas e me auxiliar com os processos acadêmicos.

À Professora Dra. Gicélia Mendes pelas orientações sobre a administração do tempo e pelas palavras de ânimo.

À Professora Ma. Carolina Chaves pela receptividade ao meu trabalho dentro da sua pesquisa sobre a arquitetura moderna em Aracaju.

À querida amiga Professora Iris Souza pela contribuição generosa na revisão do uso do inglês para o Abstract.

Agradeço, pelas contribuições para o desenvolvimento desta pesquisa e construção deste texto ao (à):

(8)

Sr. Murillo Melins, Professor Luiz Soutelo, Sr. Wellington Mangueira, Sr. Cássio Barreto, Dr. Humberto de Aragão Filho, Sr. José Augusto Machado, Dr. Waldefrankly Almeida e Dra. Verônica Nunes pela generosidade das partilhas de suas memórias, informações e conhecimentos e pelo interesse em minha pesquisa.

Arquiteta Marilia Ismerim, Sr. Carlos Aurélio Barreto, Sra. Cândida Barreto, Sra. Cleia Barreto, Sr. Humberto de Aragão Neto, Arquiteta Solange de Aragão, Sra. Maria Isabel Dantas, Dra. Léa Maciel Machado, Sr. Marcos Araújo (MPK Contabilidade), Sra. Kadja Felix (MPK contabilidade), Sr. Augusto Fábio dos Santos (Secretaria Municipal do Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura Municipal de Aracaju) e Arquiteto Décio Carvalho (Secretaria do Estado da Saúde de Sergipe), pelas contribuições para a minha aproximação aos objetos arquitetônicos que compõem este trabalho.

Sra. Rita de Cássia Valença (Arquivo Público Municipal de Aracaju), Dr. Samuel Albuquerque (Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe), Professora Aglaé d’Ávila Fontes (IHGSE), Sr. Alex Almeida (IHGSE), Sr. José Tomaz Dávila (Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas de Sergipe), Sr. Valdomiro Nascimento (CEHOP), Professor Milton Barboza (Arquivo Público do Estado de Sergipe), Professor Pedrinho dos Santos (Biblioteca Pública Epifânio Dória), Sra. Monika Marschalck (Hansestadt Bremen Staatsarchiv) e equipes do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Arquivo Público do Estado da Bahia, Arquivo Nacional, Biblioteca Central do Estado da Bahia, Biblioteca Nacional e Instituto Tobias Barreto pelo auxílio no acesso aos acervos consultados.

Sra. Edna Hartl e Sra. Ingeborg Hartl pelo auxílio na lida com o idioma alemão.

Sr. Expedito Souza, Dr. Humberto de Aragão Filho, Professor Msc. Rogério Freire Graça, Arquiteto Benjamimvich Schuster, Arquiteta Ana Libório, Arquiteta Karoline Mendonça, Arquiteto Adriano Linhares e Sra. Bianca Teixeira pela autorização do uso de imagens de seus acervos pessoais.

Agradeço assim a todos e todas que dedicaram parcelas de seu tempo, atenção, conhecimento e afeto. Foram combustíveis essenciais para que eu pudesse chegar feliz ao término deste percurso. Sigamos rumo às próximas paradas!

(9)

Von Altenesch morreu. Mas não choremos a morte dos artistas porque êles não são simples mortais. Seu nome ficará unido à marcha evolutiva da cidade que êle transfrormou e a posteridade dirá sempre, no futuro mas [sic] remoto, glorificando sua passagem pela terra. Glória, na imortalidade, ao renovador da cidade!

Departamento de Propaganda e Divulgação Estadual (Aracaju, 22 jun. 1940, p. 6)

(10)

MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes. Altenesch: técnica, estética e modernidade na arquitetura de Aracaju nos anos 1930. 2018. 361 f. il. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018.

RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivo investigar a trajetória e a atuação do construtor alemão Hermann Otto Wilhelm Arendt von Altenesch no que concerne a sua ação e interferência no âmbito da arquitetura residencial e institucional na cidade de Aracaju na década de 1930, compreendendo a questão como fomentadora de uma discussão acerca da modernidade e diversidade no fazer arquitetônico no Brasil da primeira metade do século XX. Esta pesquisa se alicerça sobre os discursos jornalísticos e oficiais da época, bem como a partir da bibliografia subjacente a este trabalho, que posicionam a figura do alemão enquanto um renovador da cidade, introdutor de novidades como a tipologia do bungalow, o uso do cimento/concreto armado, bem como de vetores estéticos vinculáveis a supostos neocoloniais, Art

Déco e expressões de caráter racionalista. Partindo da compreensão de Walter

Benjamin, do objeto histórico visto como uma “mônada”, a obra de Altenesch em Aracaju é analisada a partir de suas especificidades, de suas características intrínsecas. Parte-se da hipótese de que as modernidades arquitetônicas por ele propostas para a cidade, não só estariam alicerçadas em vetores modernos advindos de padrões importados, mas primeiramente estariam atreladas aos processos de tensionamento entre o seu conhecimento técnico, expressividade estética e as demandas de seus clientes, em que teriam pesado os aspectos da subjetividade e da busca pela novidade, fios essenciais na construção das tramas da modernidade, da busca pela experiência do moderno. Este trabalho se propõe a uma compreensão mais aproximada da dimensão da obra do alemão na cidade, pela busca de dados mais precisos sobre a autoria dos projetos que são atribuídos a ele, a partir de fontes iconográficas, textuais, por meio das memórias de usuário dos objetos arquitetônicos analisados e também por intermédio da pesquisa de campo para reconhecimento in loco destas arquiteturas. A análise destes objetos é lastreada pelas categorias de análise propostas por Kenneth Frampton em seu livro

Genealogy of Modern Architecture. A partir dos achados da pesquisa são elaboradas

novas hipóteses sobre a trajetória e formação de Altenesch, bem como se revelam informações inéditas sobre a sua atuação e obras em Aracaju. Estrutura-se também, a partir do estudo da arquitetura identificada do alemão, um entendimento aproximado do seu fazer arquitetônico, de seus partidos estéticos, técnicos e espaciais. Esta análise dos projetos e obras do construtor europeu possibilita não só a demonstração de sua adesão às multiplicidades de referências disponíveis no período, como também é eficaz em delinear um repertório de elementos e soluções que agrupam estes objetos arquitetônicos em uma produção pessoal e coesa. Assim, assinalam-se as características das intervenções de Altenesch, compreendidas como vetores centrais na renovação e formatação da modernidade arquitetônica da Aracaju na primeira metade do século XX.

Palavras-chaves: Altenesch. Aracaju. História da Arquitetura do século XX. Modernidade Arquitetônica.

(11)

MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes. Altenesch: technique, aesthetics and modernity in the architecture of Aracaju in the 1930s. 2018. 361 pp. il. Master Dissertation – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018.

ABSTRACT

This research has the aim to investigate the path and performance of the German builder Hermann Otto Wilhelm Arendt von Altenesch regarding his action and interference in the scope of residential and commercial buildings in the city of Aracaju in the 1930s as a way to promote a discussion on modernity and diversity in architectural making in Brazil in the first half of the twentieth century. This paper is based on journalistic and official discourses of that time as well as on the bibliography underlying this work, which place the German as a restorer of the city who introduced novelties such as the typology of bungalow, the use of reinforced concrete, aesthetic vectors supposedly linked to neocolonialism, Art Deco and rationalist expressions. Grounded on Walter Benjamin's understanding of the historical object as a "monad", Altenesch's work in Aracaju is analyzed from its specificities, its intrinsic characteristics. It is grounded on the hypothesis that the architectural modernities that he proposed for the city would not only be based on modern vectors derived from imported standards but would also first be linked to the processes of tension between his technical knowledge, aesthetic expressiveness and the demands of his clients, in which they would have weighed the aspects of subjectivity and the search for novelty, essential threads in the construction of the plots of modernity, the search for the experience of the modern . This research proposes a closer understanding of the dimension of the German’s work in the city, by searching for more precise data about the authorship of the projects that have been attributed to him based on iconography, textual sources, the user memories of analyzed architectural objects and also on the fieldwork to recognize such architecture in loco. The analysis of these objects is backed by Kenneth Frampton’s categories of analysis proposed in his book Genealogy of Modern Architecture. From these findings, nine hypotheses are elaborated on Altenesch’s path and formation as well as unpublished information about his performance and works in Aracaju are revealed. From the study of the identified German’s architecture, a close understanding of his architectural making including his aesthetic, technical and spatial parties is structured. This analysis of the projects and works of the European constructor not only shows his adherence to the multiplicities of references available in the period but also shows the efficacy in delineating a repertoire of elements and solutions that group these architectural objects into a personal and cohesive production. The characteristics of Altenesch’s interventions, understood as central vectors in the renovation and formatting of the architectural modernity of Aracaju in the first half of the twentieth century, are indicated thus.

Keywords: Altenesch. Aracaju. The History of 20th-century architecture. Architectural Modernity.

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 13

2 POR UMA TRAJETÓRIA DE ALTENESCH: ENTRE NARRATIVAS, RASTROS E HIPÓTESES... 45 2.1 EM BUSCA DAS ORIGENS... 45

2.2 OS INDÍCIOS DA PASSAGEM PELO RIO DE JANEIRO... 52

2.3 ALTENESCH EM ARACAJU: UMA NARRATIVA AMPLIADA... 57

2.3.1 A construção de relações profissionais em terras sergipanas... 57

2.3.2 A questão da formação e da atuação profissional... 66

2.3.3 Entre propagandas e novidades na arquitetura residencial... 72

2.3.4 Entre editais públicos, projetos e obras institucionais... 80

2.3.5 A atuação para além do projeto e construção... 92

2.3.6 O encerramento de um ciclo: das homenagens ao silenciamento.. 97

3 A ARQUITETURA RESIDENCIAL DE ALTENESCH... 101

3.1 OS BUNGALOWS DA RUA VILA NOVA E A NOVIDADE DA TIPOLOGIA... 102

3.2 AS RESIDÊNCIAS FLÁVIO PRADO, GERVÁSIO PRATA, TORQUATO FONTES E AS EXPERIÊNCIAS DAS FORMAS PURAS... 138

3.3 A RESIDÊNCIA CARVALHO NETO E AS EXPERIMENTAÇÕES DA PLASTICIDADE ORNAMENTAL... 174

4 A ARQUITETURA INSTITUCIONAL DE ALTENESCH... 204

4.1 O PROJETO PARA O PALÁCIO DAS LETRAS... 205

4.2 A SEDE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SERGIPE 224 4.3 O QUARTEL DO CORPO DE BOMBEIROS MUNICIPAIS DE ARACAJU... 238

4.4 O PALÁCIO SERIGY... 248

4.5 A SEDE DA ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA DE SERGIPE... 270

4.6 A SEDE DO COTINGUIBA SPORT CLUB... 281

4.7 A CIDADE DE MENORES “GETÚLIO VARGAS”... 290

5 CONCLUSÃO... 308

(13)

APÊNDICE A – Obras de Altenesch e atribuições indicadas no mapa

de Aracaju (bairros centrais)... 343

APÊNDICE B – Esquematização das informações referentes à atuação de Altenesch em Aracaju... 344

ANEXO A – Certidão de nascimento de Hermann Otto Wilhelm Arendt... 353

ANEXO B – Declaração de morte de Hermann Otto Wilhelm Arendt... 354

ANEXO C – Recibo em papel timbrado do escritório de Altenesch em Aracaju... 356

ANEXO D – Matéria sobre a atuação de Altenesch em Aracaju... 357

ANEXO E – Matéria sobre a atuação de Altenesch em Aracaju... 358

ANEXO F – Texto em homenagem a Altenesch... 360

(14)

1 INTRODUÇÃO

DECRETO-LEI N.39 De 19 de Agosto de 1940 Denomina rua nesta Capital

O Prefeito do Município de Aracaju, na conformidade do disposto no art. 12, n. 1. Do Decreto-Lei n. 1202, de 8 de Abril de 1939 e de acordo com a resolução do Departamento Administrativo do estado,

considerando que cumpre o poder público homenagear a memória dos homens que, pelos relevantes serviços que prestaram, se fizeram credores da admiração coletiva;

considerando que o engenheiro civil Herman Otto Wilhelm Arendt von Altenesch, aliando, a sua notável competência técnica, extraordinário senso estético, transformou completamente, a fisionomia arquitetônica da cidade;

considerando que ele, trazendo para ao nosso meio a influência de novos métodos e modelos de arquitetura, contribuiu, decisivamente, para o desenvolvimento e belesa1 de Aracaju;

considerando que foi ele, a rigor, quem introduziu entre nós a inovação americana do bungalow, realizando, assim, pelo conjunto dos próprios elementos construtivos, a agradável variedade de tipos habitacionais;

considerando que, em toda a sua longa convivência entre nós primou pela nobreza das suas atitudes e nítida compreensão dos seus deveres humanos, sociais e profissionais;

considerando que foi ele, na consagração unânime da opinião popular, o renovador da Cidade de Aracaju, afastando, pela implantação de sua arte na paisagem urbana, a monotonia passadista dos nossos motivos arquitetônicos,

considerando que ele, embora não sendo brasileiro, aqui realisou grandes cousas em favor da nossa terra e da nossa gente, aqui deixando, portanto, muito do seu cérebro e do seu coração, no exemplo vivo de uma existência devotada ao trabalho, em homenagem a sua memória,

DECRETA:

Art. 1º Fica denominada Rua Altenesch a atual Rua Vila Nova, nesta Capital.

Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.

Gabinete do prefeito do município de Aracaju, 19 de Agosto de 1940. GODOFREDO DINIZ GONÇALVES.

Pedro Pais de Azevedo.2

DECRETO-LEI Nº 22

Dá a denominação de Rua Duque de Caxias à Rua Altenesch

1

Para a escrita deste texto se decidiu pela manutenção das grafias originais de trechos transcritos conforme redigido nas fontes. Esta escolha foi feita de forma a evitar excessiva repetição do [sic] e uma consequente poluição do texto. O [sic] apenas foi empregado em casos de erro provável na grafia das palavras, como aqueles referentes a nomes próprios.

2

ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 39, de 19 de agosto de 1940. Denomina rua nesta Capital. Decretos-Leis e Atos 1940, Aracaju, Tip. Costa, p. 13-14, 1941.

(15)

O Prefeito do Município de Aracaju, na conformidade do art. 5º do Decreto-lei nº 1.202, de 8 de abril de 1939,

DECRETA

Art. 1º - A Rua Altenesch, nesta cidade, passa a ter a denominação de Rua Duque de Caxias.

Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.

Gabinete do Prefeito do Município de Aracaju, 21 de agosto de 1942.3

―Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E assim, como a cultura não é isenta da barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura‖, escreveu Walter Benjamin em 1940, em ―Sobre o conceito de história‖4

. Elaborado no auge do nazi-fascismo, este texto, fruto de seu tempo, mas também prenhe de sementes a serem germinadas no porvir, sugere como a história e a transmissão de cultura têm sido construídas a partir de um processo de sobreposições de vozes, por vezes de silêncios estabelecidos e condenações ao esquecimento, que livremente poderíamos compreender enquanto artifício da barbárie. É evidenciada a compreensão de uma história construída a partir da eleição de um monumento — e aqui o discurso é entendido como monumento — que se faz legítimo transmissor de uma memória coletiva em detrimento de outros vetores. Esta noção de legitimidade permeia o pensamento positivista de progresso, de uma história linear, daquele que vence ou se quer vencedor, em cuja narrativa não há espaço para outras vozes, reveladoras da existência de outros monumentos. Benjamin se insurge contra essa versão de história baseada na oficialidade, na passividade e monocromia de um discurso que se propõe homogêneo, ideologias refletidas na construção dos estados nazifascistas e das polarizações que pervagaram a geopolítica dos anos 1930 e 1940.

Foi neste contexto de polarizações que o nome de Altenesch perdeu o seu posto na nomeação do logradouro de Aracaju. A homenagem oficial àquele que ―embora não sendo brasileiro, aqui realisou grandes cousas em favor da nossa terra e da nossa gente, aqui deixando, portanto, muito do seu cérebro e do seu coração‖

3

ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 22, de 21 de agosto de 1942. Dá a denominação de Rua Duque de Caxias à Rua Altenesch. Decretos-Leis e Atos da Prefeitura Municipal de Aracaju, Aracaju, separata da Revista de Aracaju, n. 1, p. 13-14, 1943.

4

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: ______. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987, cap. 15, p. 225.

(16)

— nas palavras do então Prefeito Godofredo Diniz Gonçalves5 — foi apagada e em

seu lugar o enaltecimento de um herói da independência. Este fato ocorreu como consequência dos ataques à costa brasileira por Parte do Eixo. Com a quebra da neutralidade do Estado Novo de Getúlio Vargas diante da Grande Guerra, qualquer ligação com a Alemanha se tornou suspeita e evitável. Assim, Aracaju, que recebeu em sua costa os corpos de inúmeras vítimas dos bombardeios de embarcações por submarinos alemães, se tornou cenário de uma comoção popular contra a presença dos estrangeiros dos países do Eixo, como alemães e italianos. Sobre isso, Luiz Antônio Barreto6 fala que:

[...] alguns súditos estrangeiros passavam o constrangimento da suspeição, fossem presos e revistados e tivessem suas casas e bens atingidos pela violência produzida pela revolta popular, que desde o dia 16 de agosto tomou as ruas de Aracaju e de Estância, principalmente. Sergipe viveu, então, entre dois caminhos: o da dor e do sofrimento pelos mortos e feridos, que exigia socorro e solidariedade, e a revolta pela traição. Era tempo de prosperar toda a boataria, suspeita, não faltando injustiças cometidas contra pessoas de estrangeiros e suas famílias [...] Casas, móveis e outros pertences foram retirados das casas dos estrangeiros, jogados na rua, queimados, quebrados, como uma vingança desesperada, no transe agressivo que mutilou a sociedade sergipana.7

Barreto8 também propõe que foi de Sergipe que ecoou o brado de revolta que acabou contagiando todo o Brasil e ―mobilizando nas capitais do País as forças esclarecidas, os jovens dos dois sexos, os estudantes, todos os patriotas inconformados com a traiçoeira ação de guerra dos alemães e seus parceiros na

5

Godofredo Diniz Gonçalves nasceu em Aracaju em 1898 e faleceu na mesma cidade em 1994. Foi jornalista, técnico em seguros, industriário e presidente da Associação Sergipana de Imprensa. Foi eleito prefeito de sua cidade natal em 1934 pelo Partido Liberal e com a instauração do Estado Novo por parte de Getúlio Vargas em 1937, foi mantido no cargo até 1941. Em 1962 foi novamente eleito a prefeito de Aracaju pelo Partido Republicano e no cargo ficou até o final do mandato, em 1966. Cf. GODOFREDO Diniz Gonçalves. In: FGV CPDOC. (verbete biográfico). Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/godofredo-diniz-goncalves> Acesso em: 24 jul. 2018.

6

Luiz Antônio Barreto, membro da Academia Sergipana de Letras, foi um advogado, jornalista, escritor e historiador sergipano, nasceu em Lagarto, Sergipe, em 1940 e faleceu em Aracaju, em 2012. Cf. SANTOS, Osmário. Luiz Antônio Barreto: o maior historiador que SE já teve. Jornal da Cidade, Aracaju, 06 maio 2012. Disponível em: <http://jornaldacidade.net/noticia-leitura/129/27953/luiz-antonio-barreto-o-maior-historiador-que-se-ja-teve.html#.WtkvbS7waM8>. Acesso em: 19 abr. 2017.

7

BARRETO, Luiz Antônio. Os náufragos, uma história sangrenta no mar de Sergipe. Coisas de Socorro, Nossa Senhora do Socorro, 8 fev. 2012. Disponível em: <http://www.coisasdesocorro.com.br/2012/02/os-naufragos-uma-historia-sangrenta-no.html>. Acesso em: fev. 2017

8

(17)

guerra‖. A mudança do nome da rua de Altenesch para Duque de Caxias, como se pode aferir, foi uma tomada de postura ideológica, em que pesou o enaltecimento do patriotismo reativo em detrimento de qualquer referência ao inimigo atacante. Não havia espaço, naquele instante, para uma homenagem, ainda tão fresca na memória local, a um cidadão alemão. Silenciou-se oficialmente, portanto, todo o valor que lhe tinha sido atribuído, numa tentativa de excluir da história da cidade a marca de sua presença. ―Desmonumentalizou-se‖, assim, pela tentativa de condenação ao esquecimento, a figura de Altenesch.

O silêncio que se tentou estabelecer sobre a sua presença em Aracaju — presença esta circunscrita à década de 1930 — parece ter se refletido também no silenciamento acerca do conjunto de sua obra arquitetônica e das propostas de modernidades a ela atinentes. Da mesma forma que vozes ultranacionalistas apagaram a homenagem a ele feita pela prefeitura em 1940, por ser alemão, o processo de valoração acerca do que seria uma arquitetura moderna genuína e digna de rememoração também se estabeleceu por mecanismos de sobreposições e silenciamentos. A construção da própria historiografia da arquitetura moderna brasileira, que se refletiu nos discursos e práticas conservativas, procurou apagar da memória coletiva todo um conjunto plural de modernidades possíveis e de manifestações cotidianas destas modernidades, dentro do qual a obra de Altenesch se insere.

Quase oitenta anos foram vividos desde que a segunda mudança do nome da rua foi feita. Neste intervalo de tempo, o nome de Altenesch começou, pouco a pouco, a ser revisitado e inserido nas reflexões sobre a cidade de Aracaju, numa quebra sutilmente elaborada do silêncio que buscou sombrear a sua presença. A sua arquitetura, resistente na cidade, fez ecoar o nome que se quis esquecer. Elaborou-se, assim, um conjunto de narrativas que se propuseram a compreender a atuação — utilizando-se aqui novamente das palavras presentes na homenagem a ele realizada pela prefeitura em 1940 — do ―renovador da Cidade de Aracaju‖, bem como os ―novos métodos e modelos de arquitetura‖ por ele propostos e implantados. Estes textos são indicados aqui de forma a que se possa compreender a dimensão da narrativa subjacente a este trabalho, e, por consequência, o arcabouço informacional que norteia e serve de referencial para a pesquisa aqui elaborada. A ordem de indicação está de acordo com a cronologia das publicações.

(18)

Em 1955, Bonifácio Fortes9 em seu livreto ―Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju‖10

, lançado para celebração do centenário da fundação de Aracaju, inaugura a discussão sobre a presença da obra de Altenesch na cidade, ao dedicar um parágrafo de seu texto a reflexões sobre o construtor alemão. Além de reforçar um suposto caráter revolucionário da obra de Altenesch para Aracaju — de acordo com o que foi propagado no discurso oficial da supracitada homenagem feita em 1940 — citando a introdução dos bungalows, novas características arquitetônicas, a reforma do Palácio Serigy e o uso do cimento armado11, Fortes traz à tona uma problematização acerca da atuação do alemão, rompendo com a monocromia otimista das falas até aquele momento. Assim, o autor apresenta uma crítica a uma suposta inadequação climática dos bungalows construídos pelo alemão, mais especificamente os construídos na Rua Duque de Caxias. Em 1980, com ―Aracaju, etc e tal‖, Alencar Filho12

reforça de modo sumário a problematização lançada por Fortes acerca da suposta inadequação climática.

Em 1988, as historiadoras Verônica Nunes e Rosemary Helbing redigem um artigo, não publicado, que destaca a figura de Altenesch como central na difusão de um suposto Art Déco em Aracaju13. Este é o primeiro esforço que se tem conhecimento acerca de uma investigação e reconhecimento dos edifícios aracajuanos enquadráveis nesta modernidade que se convencionou chamar Art

Déco assim como também é a primeira tentativa de se listarem as obras públicas

atribuídas a Altenesch. Estas atribuições foram feitas por personalidades (não identificadas no texto), que teriam convivido com Altenesch, e que, ao serem entrevistadas pelas pesquisadoras, indicaram as seguintes obras como sendo de autoria do construtor: a Biblioteca Pública do Estado — atual sede do Arquivo Público do Estado de Sergipe (APES) —, a sede do Instituto Histórico e Geográfico

9

José Bonifácio Fortes Neto, membro da Academia Sergipana de Letras, foi bacharel em Direito, jornalista e escritor sobre a história e geografia de Sergipe. Nasceu em Aracaju em 1926 e faleceu em 2004. Cf. BARRETO, Luiz Antônio. Bonifácio Fortes. Serigy: A História de um povo, 12 jul. 2006. Disponível em: <http://clientes.infonet.com.br/serigysite/ler.asp?id=121&titulo=Biografias> Acesso em: 20 abril 2018.

10

FORTES, Bonifácio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju. Aracaju: Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, 1955, p. 39.

11 A utilização das expressões ―cimento armado‖ e ―concreto armado‖ nos documentos e textos do

período estudado (década de 1930), que lastreiam este trabalho, parece sugerir que eram tidas como sinônimas. Assim no correr deste texto as duas expressões são utilizadas livremente, partindo-se da hipótese de que se referem a uma mesma tecnologia construtiva.

12

FILHO, Alencar. Aracaju etc & tal. Aracaju: Edições Desacato, 1980, p. 105.

13

NUNES, Verônica Maria Meneses; HELBING, Rosemary Bezerra. Manifestações da Arte Déco em Aracaju. Aracaju, 1988, 11 f. (inédito), p. 3.

(19)

de Sergipe (IHGSE), o Palácio Serigy, o Quartel do Corpo de Bombeiros e o Santuário Nossa Senhora Menina. As autoras também indicam a autoria de um edifício chamado ―Guilhermino Rezende‖, cuja planta baixa teria sido localizada no APES. Também neste artigo é transcrito o supracitado Decreto-Lei nº 22 de 1942, que indica a mudança do nome da Rua Altenesch para Duque de Caxias.

Em seu livro de 1999, ―Ponte do Imperador‖14

, a historiadora Ana Maria Fonseca Medina indica que o Engenheiro Lauro Fontes15, em carta direcionada a ela, teria afirmado que a última remodelação do famoso atracadouro aracajuano — que dá nome ao livro — teria sido traçada pelo alemão.

Em 2000, em monografia de conclusão de curso em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Tiradentes (UNIT), em Aracaju, sob o título ―A Residência Aracajuana no Centro e Bairro São José‖16

, Benjaminvich Costa Schuster, ao analisar o casario de Aracaju em seus bairros centrais, faz a indicação de dois

bungalows na Rua Duque de Caxias como sendo de autoria de Altenesch: aqueles

de números 508 e 521. Neste trabalho ele também estuda a residência Flávio Prado, localizada na Praça Camerino, número 101, associando-a ao Art Déco. Em seu texto ele não conecta esta casa diretamente a Altenesch, como é posteriormente feito por outros autores. No entanto, a insere dentro das discussões acerca da arquitetura da capital sergipana.

Em 2002, com a sua monografia de conclusão de curso em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) intitulada ―‗Fragmentos de uma modernidade‘: Arte Decó na paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945‖17

, o historiador Waldefrankly Rolim de Almeida Santos dá continuidade à pesquisa de sua orientadora, Verônica Nunes, coautora do artigo supracitado, e apresenta um conjunto de informações mais concisas, frutos de um aprofundamento na busca e

14

MEDINA, Ana Maria Fonseca. Ponte do Imperador. Aracaju: Gráfica J. Andrade, 1999, p. 42.

15

Lauro Barreto Fontes, sergipano de Laranjeiras, formou-se em Engenharia Civil em 1942 na Bahia, foi agente do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Sergipe por volta de 1960. Cf. FRAGATA, Thiago. Cinquentenário do MHS em 3 tópicos (1960/2010). Blog do Museu Histórico de Sergipe MHS, 13 maio 2010. Disponível em: < https://seer.ufs.br/index.php/RASL/article/download/8011/6404> Acesso em: 05 fev. 2018.; MACHADO, Manoel Cabral. Um sergipano na Bahia: Lauro Barreto Fontes. Aracaju: 23 set. 1984. Disponível em: <http://museuhsergipe.blogspot.com.br/2012/05/cinquentenario-do-mhs-em-3-topicos.html> Acesso em: 05 fev. 2018.

16

SCHUSTER, Benjaminvich Costa. A Residência Aracajuana no Centro e Bairro São José. 2000. 174 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2000.

17

SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. “Fragmentos de uma modernidade”: Arte Decó na paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945. 2002. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002.

(20)

análise de documentos. Altenesch, como se vê pelo título do trabalho, é novamente inserido na discussão sobre a introdução de uma suposta modernidade Art Déco em Aracaju. Em seu texto, Waldefrankly Santos relaciona a figura de Altenesch com a inserção de novas estéticas na cidade como instrumento de legitimação da aderência da modernidade por parte do Estado após a Revolução de 1930 e com a instauração do Estado Novo. Também há um esforço por parte do pesquisador em estabelecer as relações entre as intervenções e modernizações no campo da arquitetura e a construção da cidade. Pela primeira vez são trazidas à escrita as vinculações do nome de Altenesch à elaboração de um novo Código de Posturas para a cidade18 bem como a íntegra da supracitada homenagem feita pela Prefeitura de Aracaju a Altenesch, com a atribuição de seu nome à rua anteriormente chamada Vila Nova. Waldefrankly Santos também apresenta um tratamento cuidadoso referente às obras atribuídas ao nome do alemão19. Ele cita no âmbito público os edifícios do IHGSE, a Biblioteca Pública do Estado (atual sede do APES), o Quartel do Corpo de Bombeiros, o Palácio Serigy e a Associação Atlética de Sergipe e, no campo residencial, a casa de Flávio Prado na Praça Camerino e várias casas nas Ruas Itabaianinha, Duque de Caxias e na Avenida Barão de Maruim, sem indicá-las, contudo. No entanto, indica que apenas nos casos da sede do IHGSE, da casa Flávio Prado e da Associação Atlética seria possível afirmar uma conexão direta com o alemão, já que em suas pesquisas pôde encontrar fotografias das construções destas edificações nas quais estava presente a placa profissional de Altenesch. Estas fotografias compõem uma publicação comemorativa do governo20 do Interventor Eronides Ferreira de Carvalho21 que havia sido indicada nas referências bibliográficas do supracitado artigo de Nunes e Helbing, mas que não foi localizada por Waldefrankly Santos à época da escrita de sua monografia. Há neste trabalho também um esforço por dar continuidade às reflexões de Fortes sobre a qualidade da obra do alemão e a adaptação desta ao clima da cidade. Assim, o autor lança a

18 SANTOS, 2002, p. 41. 19 Ibid., p. 44-45. 20

SERGIPE (revista). Revista Comemorativa do Governo de Eronides Ferreira de Carvalho. São Paulo - Rio de Janeiro: Graphicas Romiti & Lanzara, [1937].

21

Eronides Ferreira de Carvalho nasceu em Canhoba, então povoado do município de Propriá, Sergipe, em 1895 e faleceu em 1969 no Rio de Janeiro. Formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1917, foi eleito governador de Sergipe entre os anos de 1935 e 1937 e com a instauração do Estado Novo de Getúlio Vargas, em 1937, assumiu o posto de interventor federal em Sergipe até 1941. Cf. PECHMAN, Roberto. Eronides Ferreira de Carvalho. In: FGV CPDOC. (verbete biográfico). Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/eronides-ferreira-de-carvalho> Acesso em: 24 jul. 2018.

(21)

hipótese de que esta suposta inadequação estaria relacionada à formação de Altenesch, que não teria sido propriamente um engenheiro, mas um construtor ou mestre de obras formado nos canteiros europeus22.

Venícia Celi de Souza Rodomar, em trabalho intitulado ―Registros da arquitetura moderna em Aracaju: Residência Almeida Maciel‖23

, elaborado para disciplina da graduação de Arquitetura e Urbanismo da UNIT, em 2002, sob orientação da professora Juliana Cardoso Nery, oferta uma nova informação. Segundo ela, a residência de número 565 na Avenida Barão de Maruim seria de autoria do alemão, e esta informação teria sido coletada no contato com o projeto original, localizado à época da pesquisa Junto aos proprietários da residência.

A publicação que se revela de maior relevância para este trabalho é certamente o livro ―Alguns nomes antigos do Aracaju‖24 de 2003, escrito por Fernando Figueiredo Porto25. A escrita de Porto apresenta uma característica ímpar que o destaca entre os autores consultados e lhe pode conferir um status de maior precisão aos escritos e memórias referentes ao construtor alemão. Refere-se aqui ao fato de ter sido ele contemporâneo de Altenesch, ter travado contato pessoal e de ter acompanhado de perto a sua atuação, já que à época Porto era engenheiro civil atuante na Prefeitura de Aracaju e, consequentemente, participou de processos de avaliação, licenciamento e acompanhamento de obras públicas e privadas na cidade. Desta perspectiva, da memória de quem esteve próximo aos fatos narrados, Porto oferta em seu texto indicações mais aproximadas concernentes às edificações de autoria de Altenesch. No âmbito dos edifícios institucionais ele afirma estarem vinculados ao alemão: a sede do IHGSE, o Palácio Serigy, o Quartel do Corpo de Bombeiros (apenas o projeto), a Cidade de Menores "Getúlio Vargas", e um projeto,

22

SANTOS, 2002, p. 45.

23

RODOMAR, Venícia Celi de Souza. Registros da arquitetura moderna em Aracaju: Residência Almeida Maciel. 2002. 16 f. Trabalho apesentado como requisito parcial para aprovação na disciplina História da Arquitetura e do Urbanismo III – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Tiradentes, Aracaju 2002.

24

PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade Ltda., 2003.

25

Fernando Figueiredo Porto nasceu em Nossa Senhora das Dores, Sergipe, em 1911 e morreu em São Carlos, São Paulo, em 2005. Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de Ouro Preto, Minas Gerais, ocupou importantes cargos públicos, como chefe da seção técnica da Prefeitura de Aracaju e Diretor de Obras do Estado de Sergipe. Foi professor universitário e escritor sobre a história e geografia de Aracaju. Cf. BARRETO, Luiz Antônio. Fernando Porto. Serigy: A História de um povo,

02 jun. 2006. Disponível em:

<http://clientes.infonet.com.br/serigysite/ler.asp?id=106&titulo=Gente_Sergipana.> Acesso em: 20 abril 2018.; REGISTRO: Aniversários. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 maio 1937, ano V, n. 1206, p. 4.

(22)

que não teria sido construído, da fachada de uma nova estação ferroviária para Aracaju26.

No âmbito das obras residenciais, Porto afirma serem de Altenesch dois

bungalows na Rua Duque de Caxias (os de números 521 e 529)27, a reforma da residência de Carvalho Neto (em uma das esquinas das Ruas Pacatuba e Estância, onde atualmente está situado o Edifício Paulo Figueiredo) e as residências de Gervásio Prata (na Rua Boquim, número 67), Flávio Prado (Praça Camerino número 101, na esquina com a Rua Boquim) e Deoclides Azevedo (na Rua Itabaiana, já desaparecida)28. Haveria inúmeras outras residências de sua autoria em Aracaju, segundo Porto, inclusive ele ilustra o seu texto com uma página da supracitada publicação comemorativa à Interventoria de Eronides Ferreira de Carvalho, em que foram dispostas fotografias de diversas casas dentre as quais estariam obras de Altenesch e algumas outras de outros profissionais diretamente influenciados, de acordo com Porto, pelas modernidades técnicas e estéticas do alemão.

Porto constrói o seu texto alicerçado na supracitada homenagem do Decreto-Lei de 194029. Na busca por investigar o suposto ineditismo das intervenções de Altenesch ele amplia a discussão acerca da condição estilística da obra do alemão, indo além de um enquadramento em uma condição Art Déco, mas indicando também associações a vertentes neocoloniais e modernidades arquitetônicas esteticamente mais simplificadas, associáveis a uma postura mais racionalista. Porto igualmente indica pormenores da prática profissional e das relações entretecidas por Altenesch e sua obra com os anseios por modernidade e novidade da sociedade aracajuana. O autor, assim, deixa pistas de como Altenesch lidava com as demandas de seus clientes, particularmente no quesito estilístico, e como se fazia receptivo aos seus gostos e preferências30.

Também em 2003, a então professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIT Juliana Cardoso Nery publica nos Anais do V Seminário DOCOMOMO Brasil o artigo intitulado ―Registros: as residências modernistas em Aracaju nas décadas de 50 e 60‖31

.Neste texto, que reflete os esforços iniciais pelo reconhecimento de uma

26 PORTO, 2003, passim. 27 Ibid., p. 22. 28 Ibid., p. 49. 29 Ibid., p. 24-25. 30 Ibid., p. 49. 31

NERY, Juliana Cardoso. Registros: as residências modernistas em Aracaju nas décadas de 50 e 60. In: V Seminário DOCOMOMO Brasil, 2003, São Carlos. Anais Eletrônicos... São Carlos:

(23)

arquitetura ―modernista‖ em Aracaju, é inserido pela primeira vez o nome de Altenesch dentro de uma discussão mais ampla acerca da história da arquitetura moderna na capital sergipana. A autora apresenta uma nova atribuição de obra a Altenesch: a sede dos Correios e Telégrafos de Aracaju, erguida nos anos 1930 em esquina da Rua Itabaianinha com a Rua Laranjeiras, contudo não há indicação da origem de tal informação.

Luiz Antônio Barreto, em 2004, publicou em seu blog no site Infonet dois textos que abordam a presença de Altenesch em Aracaju, a saber: ―Altenesch e Wladimir Pires‖32

e ―As casas modernas de Altenesch‖33. Estes trazem um apanhado de informações, que em sua maioria já haviam sido ventiladas pelos outros autores. Contudo, estes artigos apresentam algumas pistas inéditas, principalmente sobre a trajetória do alemão, como possível ano de nascimento, período da chegada à América e dados sobre sua partida de Aracaju e sua morte. Percebe-se que houve por parte deste historiador um contato com documentos que lhe teriam fornecido alguns dos dados que apresentou, contudo a ausência de indicação das fontes fragiliza sua narrativa, ainda que pistas sejam ofertadas a serem rastreadas em uma pesquisa mais atenta.

Em 2007, em sua dissertação de mestrado em Educação, obtida pela UFS e intitulada ―A educação da infância pobre em Sergipe: a Cidade de Menores ‗Getúlio Vargas‘ (1942-1974)‖34

, Alessandra Barbosa Bispo traz informações inéditas sobre aquele complexo arquitetônico e algumas pistas referentes à atuação de Altenesch no mesmo. Um dado importante que a autora revela é o Relatório do Serviço de Menores, de 1941, assinado pelo seu então diretor Abelardo Maurício Cardoso35, onde são encontrados alguns pormenores sobre o processo da construção daquela

USP/DOCOMO, 2003. Disponível em: <http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/079R.pdf> Acesso em: 6 nov. 2018.

32

BARRETO, Luiz Antônio. Altenesch e Wladimir Preiss. Infonet, Aracaju, nov. 2004. Disponível em: <http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=29079&titulo=Luis_Antonio_Barreto>. Acesso em: 14 dez. 2017.

33

Id. As casas (modernas) de Altenesch. Infonet, Aracaju, fev. 2004. Disponível em: <http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=25727&titulo=Luis_Antonio_Barreto>. Acesso em: 14 dez. 2017.

34

BISPO, Alessandra Barbosa. A educação da infância pobre em Sergipe: a Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖ (1942-1974). 2007. 140 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007, p. 46-47.

35

CARDOSO, Abelardo Maurício. Relatório: Serviço Social de Menores. Aracaju, 1º ago. 1941. 11 f. (Relatório encontrado no Fundo de Relatórios do cervo do Arquivo Público do Estado de Sergipe, sob o código BR SEAPES REL V15 D15).

(24)

Cidade de Menores, as edificações componentes e a participação do construtor alemão.

Pôde-se contar também, para este trabalho, com as pesquisas e escritos da arquiteta e urbanista Isabella Aragão Melo Santos, em sua dissertação de mestrado em Arquitetura e Urbanismo de 2011, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), intitulada ―Arquitetura moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros centrais‖36

. Sua pesquisa teve enfoque nas décadas posteriores à atuação de Altenesch. Assim, dando continuidade aos esforços iniciais de Nery37, a autora insere a figura de Altenesch dentro de um entendimento geral acerca da elaboração da modernidade arquitetônica aracajuana. Logo, a análise da obra do alemão, em seu trabalho, tem um caráter de contextualização e introdução para a compreensão das intervenções arquitetônicas que de fato são o foco de seu trabalho: aquelas produzidas nas décadas seguintes à atuação do construtor europeu em Aracaju.

A pesquisadora elabora em seu trabalho uma discussão sobre a obra de Altenesch ao nível da análise da arquitetura propriamente dita, principalmente com relação às edificações institucionais e às residências supostamente vinculadas às estéticas das vanguardas modernas. Isabella Santos38 faz um estudo mais atento quanto à composição volumétrica das residências Almeida Maciel e Flávio Prado. Quanto às edificações institucionais, ela inclui em seu estudo os edifícios do IHGSE e o Palácio Serigy39. Para estas edificações ela realiza uma análise não só referente aos aspectos formais e volumétricos, mas também no que tange à sua espacialidade, através das plantas baixas.

Isabella Santos40 também elabora algumas hipóteses sobre Altenesch, dando seguimento às reflexões críticas iniciadas por Fortes41 e continuadas por Waldefrankly Santos42 sobre a adequação da obra do alemão ao clima local. Assim, lança algumas questões a serem respondidas no porvir: seria a aparente não preocupação com os aspectos climáticos de Aracaju fruto de uma associação do construtor com o pensamento da ―nova‖ arquitetura do início do século XX, uma

36

SANTOS, Isabella Aragão Melo. Arquitetura moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros centrais. 2011. 363 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.

37

NERY, 2003.

38

SANTOS, 2011, p. 172.

39

Ibid., p. 142 et. seq.

40

Ibid., p. 105-106.

41

FORTES, loc. cit.

42

(25)

maturação proveniente do propósito moderno das vanguardas, que propõe uma arquitetura universal ou se trataria de reproduções desvinculadas ideologicamente das vanguardas, a serviço apenas das meras novidades? Outra hipótese apresentada seria a de que, engenheiro de formação ou não, o alemão não teria conhecimento e sensibilidade suficiente para elaborar arquiteturas adaptadas ao clima. Por fim, a autora indica outra hipótese: baseada no entendimento de que a arquitetura elaborada era feita ―a gosto do cliente‖, definido o modelo estético da residência, Altenesch a faria de forma fidedigna ao estilo, quer fosse adaptável ao clima ou não. São questões lançadas pela autora, e que demandariam, conforme ela mesma sugere, uma análise mais ampliada destes objetos arquitetônicos, na busca dos rastros que possibilitassem uma maior compreensão dos trajetos feitos no processo projetual.

Em artigo apresentado em 2011, intitulado ―Los agentes privados y la producción del espacio urbano de Aracaju-Sergipe: acumulación, reproducción y segreagación (1930-164)‖, os pesquisadores Antônio Carlos Campos e Cristiane Alcântara de Jesus Santos 43 revelam que Altenesch havia adquirido ao menos oito terrenos em Aracaju e neles construiu em 1938 casas para venda. Três destas estariam situadas na área norte — nas Avenidas Simeão Sobral e Coelho e Campos —, e outras cinco casas estariam localizadas ao sul da zona central.

Em 2012 a arquiteta e urbanista Josinaide Silva Martins Maciel defende a sua dissertação em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA intitulada ―Olhar aproximado paras as residências Souza Freire e Hora Oliveira: bens modernistas de interesse cultural‖44

. Este trabalho, assim como iniciado em Nery45 e aprofundado na dissertação de Isabella Santos, tem por enfoque a arquitetura ―modernista‖ em Aracaju, ainda que desta vez o recorte tenha considerado principalmente as residências. Altenesch é novamente inserido no texto como elemento essencial na discussão acerca da elaboração da modernidade arquitetônica de Aracaju na primeira metade do século XX.

43

CAMPOS, Antônio Carlos; SANTOS, Cristiane Alcântara de Jesus. Los agentes privados y la producción del espacio urbano de Aracaju-Sergipe: acumulación, reproducción y segreagación (1930-1964). In: XIV Encontro Nacional da ANPUR, 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPUR, maio 2011.

44

MACIEL, Josinaide Silva Martins. Olhar aproximado para as residências Souza Freire e Hora Oliveira: bens modernistas de interesse cultural. 2012. 269 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012.

45

(26)

No ano de 2013 um conjunto de trabalhos é elaborado com o intuito de investigar a arquitetura Art Déco em Aracaju, dando continuidade aos esforços iniciais de Nunes e Helbing46 e de Waldefrankly Santos47 e reforçando o nome de Altenesch como introdutor destas expressões modernas na capital sergipana. Têm-se: o trabalho de conclusão do curso em Arquitetura e Urbanismo pela UNIT de Marília Ismerim Barreto, intitulado ―Cinema Rio Branco e Arquitetura: uma identidade Déco‖48

; o trabalho de extensão coordenado pela Professora Dra. Maria de Betânia Uchôa Cavalcanti Brendle, à época do então Núcleo de Arquitetura da UFS, intitulado ―Inventário da Arquitetura Art-Déco de Aracaju‖49

e o trabalho de conclusão de curso de nossa autoria em Arquitetura e Urbanismo pela UNIT intitulado ―A produção Art Déco em Aracaju: a identidade moderna da primeira metade do século XX‖50

, do qual foi gerado o artigo ―A estética Art Déco e a arquitetura estatal Era Vargas em Aracaju‖51

, publicado em 2014 pelos Cadernos de Graduação da mesma instituição. Estes trabalhos, ainda que não tragam informações novas sobre a trajetória e atuação do construtor alemão, revelam uma crescente atenção da academia, na década corrente, pelo impacto de sua obra na cidade e pelas modernidades arquitetônicas convencionalmente chamadas Déco.

Em 2015, um novo trabalho de conclusão de curso em Arquitetura e Urbanismo pela UNIT vem para indicar a figura de Altenesch como central na configuração da arquitetura de Aracaju na primeira metade do século XX. Trata-se do texto de Adriano Augusto Linhares de Souza, intitulado ―Umas casinhas bonitinhas: um registro dos bangalôs no centro de Aracaju‖52

, que é a primeira pesquisa a se debruçar exclusivamente sobre a presença desta tipologia residencial na cidade. Apesar de englobar o nome de Altenesch na discussão, o autor não chega a

46 NUNES; HELBING, 1988. 47 SANTOS, 2002. 48

BARRETO, Marília Ismerim. Cinema Rio Branco e Arquitetura: uma Identidade Déco. 2013. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2013.

49

BRENDLE, Maria de Betânia Uchôa Cavalcanti; MENDONÇA, Karoline; JESUS, Ana Paula Santos de; BARBOSA, Juliane. Relatório Final: Inventário da Arquitetura Art-Déco de Aracaju. Programa Institucional de Bolsas e Iniciação à Extensão-PIBIX. Universidade Federal de Sergipe, dez. 2013.

50

MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes. A produção Art Déco em Aracaju: a identidade moderna da primeira metade do século XX. 2013. 155 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2013.

51

MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes; GRAÇA, Rogério Freire. A estética Art Déco e a arquitetura estatal Era Vargas em Aracaju. Cadernos de Graduação: Ciências Humanas e Sociais. Universidade Tiradentes. Aracaju, v. 2, n. 2, p. 99-123, out. 2014.

52

SOUZA, Adriano Augusto Linhares de. Umas casinhas bonitinhas: um registro dos bangalôs no centro de Aracaju. 2015. 105 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2015.

(27)

apresentar informações conclusivas sobre a atuação do alemão e impacto de sua obra para a configuração do bungalow aracajuano.

Também em 2015 tem-se o registro da atribuição a Altenesch — que teria sido feita originalmente por Luiz Antônio Barreto — do projeto do Palácio de Veraneio do Governo na Atalaia Velha. Esta indicação aparece na dissertação em História de autoria de Aquilino José de Brito Neto, intitulada ―‗Ao sul de Aracaju...‘: memória e história da Atalaia Velha (1900-1952)‖ e apresentada em 2015 para a UFS53

. Ainda em 2015, em seu livro ―Aracaju, pitoresco e lendário‖54

, o memorialista Murillo Melins traz alguns escritos sobre Altenesch. Um dele refere-se à transcrição de uma matéria do jornal Folha da Manhã, em sua edição de 22 de junho de 194055, em que se lê homenagem ao construtor alemão em ocasião de morte. Neste texto são indicadas algumas informações sobre as suas possíveis origens. Também neste livro, Melins56 faz a transcrição de um texto do Diário Oficial do Estado de Sergipe, datado de 27 de agosto de 194357, referente à mudança do nome da Rua Vila Nova primeiramente para Altenesch e depois para Duque de Caxias. Neste texto, é relatado o processo de insurgência popular contra o uso do nome do alemão para aquela rua e a sua consequente mudança.

São estes os textos que trazem aos dias de hoje informações sobre a presença e atuação de Altenesch em Aracaju, contudo, algumas lacunas ficaram por ser respondidas. Não só persistiram silêncios sobre a própria figura do alemão, como os que se referem à sua trajetória anterior e aos motivos de sua chegada a Aracaju, como também se percebe uma fragilidade na análise de sua arquitetura e sua integração com a cidade. A leitura da arquitetura proposta por ele ainda não havia sido realizada considerando-se o conjunto da obra e uma abordagem integrada das dimensões possíveis destes projetos ou objetos arquitetônicos, como as questões atinentes à espacialidade, à técnica e ao aporte estético, a partir de uma compreensão da modernidade — ou modernidades — divulgada e pretendida à época. É sobre estas lacunas, particularmente, que este trabalho lança o olhar, no

53

BRITO NETO, Aquilino José de. “Ao sul de Aracaju...”: memória e história da Atalaia Velha (1900-1952). 2015. 131 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2015, p. 28-29.

54

MELINS, Murillo. Aracaju, pitoresco e lendário. Salvador: EGBA - Empresa Gráfica da Bahia, 2015, p. 215-216.

55

ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju. 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1. Cf. Anexo F.

56

MELINS, op. cit., p. 228-229.

57

RUA Vilanova – Altenesch – Duque de Caxias. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 27 ago. 1943.

(28)

intuito de contribuir para a continuidade da construção de uma história da arquitetura de Aracaju e da constituição de sua modernidade.

Tendo por base a compreensão de que o construtor alemão Altenesch, conforme indica a bibliografia subjacente a esta pesquisa, ocupou posição central na proposição de modernidades arquitetônicas para a Aracaju dos anos 1930, elaboram-se os objetivos deste trabalho. Esta pesquisa, portanto, tem por objetivo principal investigar a trajetória e a atuação de Altenesch na cidade de Aracaju na década de 1930, no que concerne a sua ação e interferência no campo da arquitetura, compreendendo a questão como fomentadora de uma discussão acerca da modernidade e diversidade no fazer arquitetônico no Brasil da primeira metade do século XX. Este trabalho se propõe a uma compreensão mais aproximada da dimensão da obra do alemão na cidade, pela busca de dados mais precisos sobre a autoria dos projetos que são atribuídos a ele. Objetiva-se investigar o agenciamento dos espaços, dos aspectos construtivos e princípios estéticos que nortearam os seus projetos e obras residenciais e institucionais públicas e privadas. Pretende-se também com esta investigação assinalar sobre a aderência (ou não), em suas soluções espaciais, construtivas e plásticas, às proposições das modernidades arquitetônicas do período.

Esta pesquisa tem por base epistemológica a compreensão de história proposta por Walter Benjamin. Para ele, a articulação histórica do passado não significa o conhecimento total dessa realidade, mas a apropriação dos fragmentos deste tempo que chegam até o presente. Em suas palavras: ―Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ‗como ele de fato foi‘. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo58‖. A escrita da história, portanto, não é constituída de uma escrita de verdades inquestionáveis, de uma descrição integral dos eventos ocorridos, mas de uma narrativa possível elaborada pelo historiador através dos vestígios do passado que sobreviveram à passagem do tempo.

Extrai-se de Benjamin, portanto, a compreensão sobre o objeto histórico propriamente dito. Segundo ele, este deve ser confrontado enquanto mônada, ou seja: o historiador, munido de um desejo de lutar por um passado oprimido, extrai do curso aparentemente homogêneo da história um fato que guarde em si a

58

(29)

potencialidade de revelar as reminiscências do momento em que está inserido. Assim, parte-se do princípio de que ―na obra o conjunto da obra, no conjunto da obra a época e na época a totalidade do processo histórico são preservados e transcendidos‖59

.

Na adoção deste princípio epistemológico previne-se da tentação historicista, como assinala Brandão60, quando a obra propriamente dita só é abordada após o seu sentido ser previamente derivado de um contexto histórico-cultural que o envolve. Ou seja, previne-se da compreensão da obra como uma mera superestrutura reflexa da infraestrutura dominante, em que há perda do seu poder determinante e formativo dentro do contexto em que se insere. Pretende-se, neste olhar de bases ―benjaminianas‖, afastar-se desta estratégia historicista de interpretação, compreendendo, portanto, a relação entre fato histórico e contexto como uma relação de permanente diálogo e tensionamentos, para além de uma noção linear e unidirecional de forças.

Parte-se desta compreensão dos tensionamentos entre obra individual e contexto para o entendimento da criação em arquitetura: o objeto arquitetônico visto como produto para onde convergem vetores da subjetividade daquele que projeta e da objetividade da realidade externa em que e para o qual se projeta. Como fala Nery61:

[...] a criação é uma ação autônoma do sujeito, no entanto se dá em um contexto encarnado e corporificado seja do mais desconhecido construtor aos mais celebrados arquitetos. A criação não é autista, embora também não seja uma questão de reinterpretação simples de modelos como pode parecer em uma primeira impressão. Ela se dá a partir de novos encontros e ordenamentos compositivos que mesmo fundada em referências, seja para reforçá-las ou rechaçá-las, se reconfiguram num arranjo singular. Portanto a criação na arquitetura não se dá nem na acéfala reprodução de modelos, nem no autismo do ineditismo absoluto das especificidades e singularidades, mas sim na interação desses polos, no movimento que se estabelece no entre linguagem falada e linguagem falante.

59

BENJAMIN, 1987, p. 231.

60

BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. A formação do homem moderno vista através da arquitetura. 2. ed. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999, p. 5.

61

NERY, Juliana Cardoso. Falas e ecos na formação da arquitetura moderna no Brasil. 2013. 463 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013, p. 24.

(30)

Propõe-se então, para este trabalho, o afastamento de uma perspectiva rotuladora da arquitetura, na qual projetos e obras são compreendidos exclusivamente como consequências de um contexto determinante. É assumida para este trabalho uma concepção da arquitetura como resultante das relações entre as suas características intrínsecas e as suas relações com o contexto. Também se pretende afastar da tendência em enquadrar preliminarmente as obras arquitetônicas nas caixas limitantes dos ―estilos‖. Certas expressões são utilizadas neste trabalho — como Art Déco, neocolonial, colonial, Missões, moderna, stylo moderno — mais para estabelecer diálogos entre o texto, a produção bibliográfica existente e o próprio discurso da época sobre a arquitetura, do que propriamente por uma necessidade de definir as obras estudadas com relação às suas condições estéticas.

Segue-se assim a ideia lançada por William Curtis, quando propõe que as edificações sejam compreendidas como ―densos emblemas, microcosmos, combinando visões idealizadas da sociedade, como interpretações tridimensionais da condição humana‖, das quais possa ser abstraído, a partir de um entendimento das configurações e soluções técnicas, significados e intenções em cada obra, o conteúdo mítico comum a todas as formas62. A noção de ―estilo‖, para o autor, é ―simples e enganosa, mascara um universo de pecados‖63

, superficial por desconsiderar a subjetividade de cada artista.

Esta pesquisa também tem seus alicerces numa compreensão da história enquanto instrumento para se reconhecer aqueles cujas vozes foram silenciadas, oprimidas. As palavras do historiador, como fala Jeanne Marie Gagnebin64 têm o papel de ―ajudar a enterrar os mortos do passado e a cavar um túmulo para aqueles que dele foram privados.‖ Um ―trabalho de luto‖, no descortinar dos espessos véus do esquecimento, que se elabora a partir da exigência de um presente mais verdadeiro. Evoca-se aqui a compreensão partilhada por Benjamin de uma construção da história cultural que se estabelece por meio da barbárie, do silenciamento de vozes por imposição de uma história oficial e linear. Esta compreensão é naturalmente direcionada para o enfoque na gama de projetos e

62

CURTIS, William. Arquitetura moderna desde 1900. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008, p. 13.

63

Ibid., loc. cit.

64

Referências

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