DEPARTAIVIENTO
DE
SERVIÇO
SOCIAL
A oUTRA
FACE
DA
_C
Trabalho de
Conclusão
deCurso
apresentado aoDepartamento
de Serviço Social da Universidadei
Federal de Santa Catarina para obtenção
do
títuloAÉnw(o_¿o
JM,
de Assistente Social, orientado pela ProfessoraZM
[oq1%
Geney
M.
K. Takaschima.Í\zÊ.i:,;:l_"»
IJe~
_ _chefe aâlzpzz. dz szz _zç° sz ú
Hehane
de
Lima
GSE/UFSG
Agradeço por
estar presenteem
todos osmomentos,
tornado-sepeça
fundamental
nesta caminhada.Pessoa
esta,que além de
seruma
grande
amiga,companheira
éacima
de
tudouma
GRANDE
A
ProfessoraGeney
M.
K. Takaschima, pela sua orientação e importante contribuição.A
MarliPahna
Souza, pela sua grande disponibilidade, atenção esignificante apoio
na
elaboração deste. '-
A
supervisora de estágio, ProfessoraRegina
CéliaTamaso Mioto
eAssistente Social
Vilma
de Oliveira Schneider, pela grande contribuiçãono
processo de
formação
profissional. '_
Ao
CNPq,
por possibilitar a realização desta pesquisa.As
colegas zdeturma
e de estágio, pela companhia, incentivo, apoio,amizade
e troca de conhecimentos. _A
todaminha
família,sempre
presenteem
todos osmomentos
de
minha
\
vida,
em
especial aminha cunhada
Ana
Carla, pela grande colaboração e intensadisponibilidade para revisão deste trabalho.
Ao
meu
namorado
Marcelo, pessoa muito especialem
minha
vida, pelocompanheirismo,
compreensão
e apoioem
todos osmomentos
etambém
pornão
medir esforços para incentivar e contribuir para a realização deste trabalho.APRESENTAÇÃO
... ..oóCAPÍTULO
1VIOLÊNCIA
&
SUBORDINAÇÃO
... ..o91- Trajetória histórica
do
processode subordinação
... ... ..092 -
A
prática feminista, o processode
emancipação da mulher
~e a luta contra a violência, ... ... ... f. ... .. 143 -
Os
estudos'de gênero
-Um
outro olharsobre
ai -questão ... ..223.1 -
A
violência relacional ... ..243.2 -
A
queixacomo
f“arma” feminina ... ..294 -
Aproximações
com
a violência." ... ..32CAPITULO
IIO
SERVIÇO
SOCIAL
NO
EMAJ
FRENTE
A
VIOLÊNCIA
RELACIONAL
... ..371 -
EMAJ
-O
contexto institucionaldo
estudo ... ..374 - Implicações
para
a práticado
Serviço Social...CONSIDERAÇÕES
FINAIS
... ..REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
... ..~
'
O
presente trabalhode
conclusao de curso ré resultado de nossa práticadesenvolvida
no
períodode
agosto de1996
àdezembro
de 1997,no
EscritórioModelo
de Assistência Jurídica(EMAJ),
situadona
Universidade Federalde
Santa Catarina eque
proporcionacampo
de estágio aos acadêmicos dos cursosde Direito e aos de Serviço Social que se vinculam ao
Núcleo de
Estudosda
\Í
Criança, Adolescente e Família. ,
A
escolhado
tema
-A
.outraface
da
violência - sedeu
pelo fato deestarmos estagiando
em
um
localem
que
atendíamosum
número
considerávelde
demandas
que
envolviam a violência. -O
nosso principal objetivocom
este trabalho époder
apresentar outraforma
de analisar a violência,sem
nos determos apenas a óticado
feminismoque
l
considera a mulher vítima
da
violência.Desejamos
abordaro tema da
violênciasegundo
os estudos de gênero,bem
como,
pontuar algumas implicações parao
Serviço Social
que
advém
da
maneira de encarar a violência doméstica,como
Salientamos
que
esta pesquisa será apenasum
recorte diante das múltiplas questõesque
envolvem
a família e crises familiares.Esperamos que
este estudo possa contribuircom
subsídios paranovas
fonnas de intervenção.O
estudo estácomposto
de duas partes, Capítulo I e Capítulo II. -No primeiro capítulo - Violência&
Subordinação, procuramos
contextualizar aviolência sob a ótica
do
feminismona
qual amulher
é consideradasempre
vítirnada
violência. Posteriormente, nospropomos
a mostrar a outra face da violência à luz dos estudos de gênero,onde
a violência é vistacomo
relacional,ou
seja,que
ambos tem
participação ativana
relação. Este estudo exploraum
estilonovo
dese analisar a violência. .
Abordaremos,
ainda neste capítulo, a utilizaçãoda
queixacomo
“arma
feminina”. H
No
segundo
capítulo -O
Serviço Social norEMAJ
fiente
a
violência relacional - serão apresentados estudos de caso analisando entrevistas de trêsatendimentos, a partir
do
referencial teórico sob a perspectiva de gênero,utilizando a metodologia Estudo de Caso.
Abordaremos
também
otema
A
renegociação
do pacto
conjugal,um
dos.objetivos visados pelo Serviço Social
no
EMAJ.
E
para finalizar, apresentamos as implicações parao
Serviço Social, dessaforma
particular de encarar a violência e concluindocom
algumas reflexões à guisa de considerações finais.*
VIOLÊNCIA
szSUBORDINAÇAO
1 - Trajetória histórica
do processo de subordinação da
mulher
Desde
a antigüidade as mulherespassaram
por processos de discriminação,dominação
e inferioridade,sempre
legitimados e vistoscom
naturalidade,como
parte constituinteda
vidada
mulher. Estes processos apesar dealgumas
mudanças,
ainda continuam fazendo parteda
realidadedas
mulheresna
atualidade.Para
que possamos
falar sobre a violência contra ai mulher é desuma
importância associa-la aos fatores econômicos, sociais, políticos e culturaisque
contribuíram para a submissão e inferioridade
da mulher
perante aohomem.
Segxmdo
Saflioti (1987) calcula-se queo
homem
tenha estabelecido seudomínio sobre a
mulher
há
cerca de seis milênios, e os fatores contribuintesem
que
se observa estadominação
são múltiplos.Na
IdadeMédia
quem
detinha opoder
total sob a família erao
homem.
As
mulheres, submissas,
não possuíam
liberdadealguma
de escolha,nem com
~relaçao a seus companheiros, pois
quem
faziao
"negócio", os casamentos,eram
seus pais visando
sempre
os beneficios e conveniências.A
fé, desdeo
princípioda
humanidade
setomou
muitas vezes,um
instrumento legitimador
da
subordinação feminina.Sempre
usadacomo
um
caminho na
busca por verdades absolutas, atua sobre a'mulher
que,inconscientemente,
não
se deixa questionaro
que é passado através das palavrasda
Bíblia, livro religiosoque
serve defundamento
para quase todas as religiões.Na
Bíblia,podemos
encontrar diversosexemplos da dominação do
homem
perante mulher.
No
livro de Efésiosvemos
o seguinte :'"As mulheres sejam .submissas
a
seus próprios maridos,como
ao senhor, porque o marido é o cabeçada
mulher,como
também
Cristo é o cabeçada
igreja, sendo estemesmo
salvador docorpo "
(EFESIOS
- 5, 22 - 23).As
igrejas nos dias de hoje, apesar de alguns avanços, ainda reforçamo
pap`el de sujeição /da
mulher
através de discurso retrógrados,com
relação asexualidade, moral e
matemidade, que não condizem
com
a realidade atual.A
educação diferenciada recebida porambos
os sexos étambém
uma
forma
de explicitar a inferioridade socialda
mulher, pois desde o nascimentomeninos
emeninas
assumem
papéis estabelecidos culturalmente pela sociedade.~
As
meninas
tratadas deforma
fragilizada sao vistascomo
emotivas e inseguras, enquanto que osmeninos recebem
atribuições de "chefes de casa", sendoeducados
para ingressarno
mercado
de trabalho, ocuparo
espaço públicoe
comandar
a família.Com
a diferenciação de papéis atribuídos, oshomens
passam
a ter privilégios perante as mulheres e a obterem destaquesno
espaçosocial.
Para Saffioti (1987), o
macho
é considerado provedor das necessidadesda
família, ainda que sua mulher possa trabalhar remuneradamente, contribuindo
dessa forma, para
o
orçamento doméstico.A
mulher
é sociahnente responsávelpela
manutenção da
ordem
na
residência e pela educação e criação dos filhos, por isso cabe aohomem
ganhar omaior
salário afim
dedesempenhar
bem
a sua função de chefe.Desde
aépoca
econômica
pré-capitalista,onde não
havia Luna mentalidadeempresarial
que
visassesomente
os lucros, as mulheres indiretamentesempre
estiveram inseridas
na produção
e contribuíram para a subsistênciada
família,mas
estes trabalhosnão eram
reconhecidos, poisnão possuíam
qualquer direitosalarial
ou
beneficio social.Segimdo
Saffioti (1987) a participaçãoda mulher na
camadas
trabalhadoras era ativa, pois trabalhavam nos
campos,
nasminas
e nas lojas,A
mulher somente
começa
a fazer partedo
espaço públicona
sociedadecapitalista,
na época da
revolução industrial,onde
houve
um
aumento da
produção
em
vários setores, grande surgimento demáquinas
eum
processode
urbanizaçãoque
fez necessário oaumento da
mão
de obra,que
foi supridaalém
doshomens,
também
por mulheres, crianças e adolescentes.Diante deste contexto, as mulheres
começaram
a ser lançadas aomercado
de trabalho industrial e
passaram
a exercer tuna duplajomada,
ado
trabalhodoméstico e a
do
trabalho assalariado..A
inserção «das mulheresno mercado
de trabalho industrial foimais
uma
forma
de exploração e subordinação feminina, jáque
a intenção dos capitalistasburgueses era gerar lucro rápido. Para isso exigiram das mulheres o
máximo
de produção, estendendo a jornada de trabalho e reduzindo os custos salariais, pois as mulheres recebiamremuneração
inferior aoshomens.
Segundo
Einsensteinapud
Veizzer (1989) a burguesia,como
classe, sebeneficia
da
disposição básicado
trabalho das mulheresda
mesma
forma que
oshomens,
como
indivíduos, sebeneficiam do
trabalhoque
as mulheresfazem
para eles dentro de casa.yôs
mulheres enfrentam a subordinação, marginalização e discriminaçãodiariamente.
Se
sujeítam a trabalhar por salários inferiores, cargos inferiores edeterminados tipos de profissão,
como
a áreada
política porexemplo que
écomposta na
grande maioria porhomens.
Foi necessário na criação de
uma
Lei elaborada porMarta
Suplicy paraque
fosse garantido o direito à vagas, para mulheres,
na
política.Segtmdo
Brasil (1995) osempregadores
preferem as mulheres para trabalharemna
.área industrial, poruma
série de razões discrirninatórias: asmulheres são de
um
modo
geral, consideradasmenos
qualificadas e aceitam~
salários menores.
Tarnbém
sao consideradasmais
dóceis emenos
predispostasa
se organizarem
em
função de seus direitos trabalhistas.De
acordocom
Saffiotiapud
Langley eLevy
(1980)em
uma
discussãofeita pela
ONU
pôde-se constatarque
as mulheres representamum
terçoda
forçade trabalho mundial, executam- dois terços
do
número
de horas trabalhadas, apropriam-se de cerca de dez por. centoda
renda mundial edetém
menos
deum
por centoda
propriedade.O
conceito de inferioridadeda
mulher perante oshomens
está ligadotambém
a força fisica, pois devido a estruturado
corpo masculino ohomem
obtém
certo privilégio perante as mulheres, atémesmo com
relação aomercado
de trabalho, pois existem certos tipos de trabalhos
que exigem
força fisicaexcluindo,
na
grande maioria, as mulheresque
são vistas,mesmo
não
sendo,como
fracas e incapazes."Em
sociedades de tecnologia rudimentar, ser detentor devantagem.
Em
sociedades onde as máquinasdesempenham
as funções mais brutas, que requerem grande força,a
relativaincapacidade de levantar pesos e realizar movimentos violentos não impede qualquer ser
humano
de ganhar seu sustento, assimcomo
o de seus dependentes. Rigorosamente, portanto,a
menor
força fisica
da
mulherem
relação aohomem
não deveria sermotivo de discriminação " (SAFFIOTI, 1987,
p
12).2
-A
prática feminista,0 processo
de
emancipação
da
mulher
e
luta contraa
violência.As
mulheres cansadas de tanta opressão, discriminação, inferioridade,começam
na década
de 60, atravésdo
movimento
feminista mundial, aromper
~
com
o silêncio -que encobria as questoes relacionadasao
seu sexo. Diversasquestões são expostas e alguns
temas
de extrema importância,passam
a serdebatidos
e
vistoscomo
um
problema
social. VA
ONU
(Organização dasNações
Unidas) declarao
ano de 1975
como
o
Ano
Intemacionalda Mulher
ecom
isso é obtidoum
considerávelavanço
com
relação as questões
da
mulher.A
partir daí são realizados por toda aAmérica
Latina debates, encontros
com
temas
específicos sobre a mulher.No
Brasil, omovimento
feministaganha
mais espaço e passa a levantar abandeira
da
libertação e luta por igualdades de direitos nos anos 70, reforçado pelaproclamação do
Ano
IntemacionalDa
Mulher
em
1975,movimento
que
até então, encontrava-se restrito,mas
que não
deixou de ter sua importância eg
Segundo
Langley eLevy
(1980), ofeminismo
no
Brasil, cujo nascimentopode
ser datadono ano
de 1975,não
questiona apenas as injustiças deque
sãoobjeto as mulheres
em
geral; debiuça-setambém
sobre questões específicasda
realidade brasileira, constituindo, desta forma,
uma
força socialque
tende acrescer.
As
mulheres unidas porum comum
objetivo,combater
a submissão e a dominação,fizeram
com
que viessem a tona problemáticas vividas por estasno
cotidiano, que até entãoeram
ocultas e desprezadas pela sociedade. Este processo foidesencadeado
por intensas manifestações feministas, pois 'o objetivoera sensibilizar e mobilizar as mulheres para fortalecer
o
movimento
e conquistarcada vez mais espaços e avanços. Este
movimento
ganhou
espaçona
mídia e a utilizava paramaior
divulgação,mesmo
muitas vezes, enfrentando dificuldades.Os
grupos feministas multiplicavam-se e conquistascomo, implementação
de políticas, conselhos voltados para direitos femininos e leis,
passam
a fazerparte
da
realidade destas.A
Constituição Federal de 1988, artigo 5, inciso 1°, que diz;"Homens
emulheres são iguais
em
direitos e obrigações", foicom
certezao
maiordos
avanços alcançados pelas mulheres, pois abriucaminho
para novas conquistas.Posterionnente
surgem novas
leisque fazem
valer os direitos da mulher, tais COIIIOI~ Art. 7° Parágrafo
XVIII
- Licença a gestante,sem
prejuízo deemprego
edo
salário,
com
duração de 120 dias;`
- Parágrafo
XXX
- Proibição de diferença de salários, de exercício de funções ede critérios de admissão por motivo de sexo, idade cor
ou
estado civil;~ Parágrafo único -
São
assegurados, à categoria dos trabalhadores domésticos( Este tipo de trabalho é executado
na
grande maioria por mulheres);- Salário
mínimo;
- Irredutibilidade salarial;
- 13° integral;
-
Repouso
semanal remunerado;- Férias anuais remuneradas
em,
pelomenos,
um
terço amais
do
queo
normal;~- Licença
matemidade
de 120 dias; _- Licença paternidade;
-
Aviso
prévio proporcional aotempo
de serviço;- Aposentadoria; - Previdência Social.
Diante destas e outras conquistas,
que
setomaram
direitosda
mulher, é ~que
sebuscou
uma
equiparaçao social,embora
ainda esteja longe de nossaA
violência contra amulher
foiuma
problemática que os grupos feministaspassaram
a se deparar intensamente eque
começou
a ganhar ênfase,no
Brasil, apartir
da década
de _70.“No final da
década de 70,momento
de organização domovimento feminista brasileiro, o
problema da
violência, antes confinado ao espaço doméstico, adquire visibilidade pública ao ser tratadocomo
uma
violação de direitoshumanos
”(BRANDÃO,
1996, p. ro).A
partir destaépoca
são criados grupos específicos para discutir a questãoda
violência.Como
exemplo
podemos
citar os grupos .chamados"Mulheres
Profissionais
de
Direito " queforam formados
em
1980/81no Rio
de Janeiro.Estes grupos
visavam
.acima de tudo conscientizar as mulheres de sua situação, mostraras
várias formas de reivindicação e denúncia.Como
bem
expressaGregori (1993, p. 14): i
.
"O
objetivoda
prática de conscientizaçãocom
mulheres vítimasde violência é,
por
um
lado, despertá-laspara
o fato de que. sãooprimidas; e,
por
outro, estimulara
solidariedade entre elas, deforma
quepossam
superar os seus problemas ”.O
ápicedo movimento
contra a violência sofiida pelas mulheres foino
início
da década
de 80,onde
começam
a ser denunciadas pelos grupos feministasas atrocidades a qual
eram
submetidas. Estes gruposcomeçam
a se fortificar conquistando espaçoscomo
Delegacia deMulheres
e SOS°s.Em
julho de 1980, 23 grupos feministasdecidem
criaro
Dia
Internacionalda
Luta contra a Violência à mulher.A
partir desta data é criado oSOS
MULHER
em
São
Paulo e posteriormenteem
outras cidades. .Mais tardecomeçam
a ser criadas as Delegacias de Mulheres.Segtmdo
Grossi (1994) os SOS's, grupos de atendimento gratuitos às mulheres,cumpriram
um
papelfimdamental
contra a violência,mas
tiveram vida curta eacabaram
sendo desativados.A
maior
partedos SOS's
existiram apenasentre 1981 e 1983. .
A
primeira Delegacia para atendimento àmulher
foi criadaem
6 de agosto de1985
em
São
Paulo, sendotambém
a primeirado mundo.
Esta, servindode
exemplo
e referência, abriucaminho
para abertura de outras delegacias.Em
27 de
setembro de 1985-foi inauguradaem
Florianópolis a 2° Delegaciada
Mulher
do
país, durante
o
governo de EsperidiãoAmim.
'_
A
questãoda
violência passa a ganharmais
campo
de discussão, contribuindo parauma
maior
conscientização e esclarecimento por parte das mulheres quepassam
a procurar as Delegacias.E
Para
Knabben
(1992) as delegacias de atendimento amulher
sãoo
primeiropasso
em
busca de ajuda legal para ocombate
à violência.As
Delegacias especializadasatendem
qualquer tipo de violência contra a~ ~
mulher
e o objetivo é dar proteçao e orientaçao.~
Uma
pesquisa realizada nas Delegaciasda Mulher do
Estado deSao
Paulo, editada
no jomal
“A
Folha deSão
Paulo”em
03 de janeiro de 1998, sobo
tema
"Denunciar é a Solução", revela que as delegaciasdo
Estado registram4.000 queixas, entre elas estupros, atentados violentos ao pudor, injurias, z
constrangimentos etc.
Revela
ainda,que
as mulheres das classes mais baixas éque
fazem
70%
das notificações.Acabam
denunciando “por falta de outrasarmas”, elas
não
tem
mais aquem
recorrer. Então,vão
à polícia.A
violência caracterizada “doméstica”, é aquela que ocorre dentro doslares e
na
maioria das vezespode pennanecer
invisível.Dos
4.000 registros,calcula-se
que
80%
sejam crimes praticados dentro de casa.Nesses
casos apolícia só consegue .punir o agressor
quando
tem
a cumplicidade dealgum
parente.
Segtmdo
a delegada,o
denunciante, nesses casos, éalgum
familiarque
não
mora
na
mesma
casada
vítima. H. VNos
últimos anos as denúncias de violênciavem
aumentando
consideravelmente.
Em
uma
pesquisa realizadaem
1995em
cinco hospitaisde
Denver
no
Colorado -'E.U.A.., estima-se
que
de22
.a35%
de
todos osatendimentos hospitalares de mulheres
com
mais
de 18anos foram
resultantesda
violência doméstica,
mas
somente
5%
dessas agressões são identificadas pelomédico ou
auto-relatadas.Jean
Abbot
e Cols.,médicos
de pronto-socorro,fieqüentaram
duranteum
ano, por periodo de4
horas, cinco hospitais de Denver,no
Colorado,entrevistando e aplicando questionários a
648
mulheres (idademédia de 34
anos), sendo62%
desempregadas
e49%
com
rendamenor
que l0 mil dólares anuais.Das
418
mulheresque
viviamcom
parceiro fixo,47
(ll,7%) relataram sofrerviolência doméstica,
mas
somente
6 (1,13%) delas denunciaram essa violência.Das
230 que não
viviamcom
parceiro fixo, 13 (5,6%) relataram casos de violência. A. z
Das
'mulheres sujeitas a violência doméstica,26%
já tentaram suicídio (contra8%
das mulheres quenão
sofreram violência doméstica) e24%
fazem uso
regular de álcool (contra13%
das quenão
sofreram violência doméstica).Os
autores concluíramque
aamostragem
de incidênciada
violência domésticanão
foi tão grande quanto se supunha.
Dos
60
casos observados, osmédicos
eenfenneiros
somente
registraram dois casos, apesar de 10 casos terem sidoinformados
espontaneamente.'(JAMA,
1995; 27311763).Uma
outra pesquisa realizadaem
Florianópolis,na
Delegacia de Políciada
capital, Setor de Proteção à Mulher,
também
pode comprovar
oaumento do
número
de
denúncias, atravésdos
registros de ocorrência.›
N°
DE
OCORRÊNCIAS
REGISTRADAS
NO
SETOR
DE
PROTEÇÃO
À
MULHER
DESDE SUA
ABERTURA
EM
SETEI\/IBRO
DE
1985.ANO
N°
REGISTROS
'ANO
N°
REGISTROS
1985 1441992
1460
1986
78
19931354
1987 6211994
1874
1988703
19952141
1989
799
1996
2559
1990
765
19972787
1991415
1998
1084
(até 6maio)
Estes registros,
envolvem
desde a violência sexual, atéabandono
material,ou
seja, lesão corporal, ameaça, invasão de domicílio, perseguição, embriaguez,cárcere privado, racismo, rapto, estelionato, calúnia, injúria, ofensas, etc.
A
violência contra amulher
éum
problema
mundial epode
serdefmida
eentendida sob diversos prismas.
"A violência se
dá a
partir dopoder
e controle que ohomem
consegue manter sobrea
mulher, fruto deuma
sociedade machista " (SILVA, 1993: p. 13).Para
Knabben
(1992, p_40),"A violência física é
a
expressãomáxima
de agressão edominação do
homem,
sobrea
mulher, sustentada pela superior força muscular domesmo
".A
violência contra amulher
pode
ser analisada sob a óticado
feminismo,que
embasa
os conceitosacima
citados e que culpabiliza ohomem
pelo atode
agressão e violência.
Essa
maneira de encarar a questão, tende na defender a visãode
que
as mulheres sãosempre
vítimas da' violência masculina.Gregori (1998), apresenta
uma
perspectiva diferente ao conceituar aviolência:
"A violência faz parte de
um
jogo relacional onde haverá sempreuma
cena que prepararáa
guerra ".Neste prisma a violência é analisada sob o enfoque dos estudos
de
gênero, assuntono
qual iremos tratarno
item a seguir deste trabalho,que
descaracteriza papéis fixos, "agressores" e "vítimas", nas relações conjugais e passa a vê-loscomo
papéis complementares.3
-Os
estudosde
gênero
-Um
outro olhar sobrea
questão.O
conceito de gênero foi forjadodo
inglêsgender
e é utilizadoem
diversasáreas, sendo
que
écoma
Antropologiaque
este conceito é levado parao
campo
de estudos sobre a mulher.
Para a construção
do
conceito nas relaçõesHomem/Mulher
fez-senecessário
um
estudo comparativo de culturas pois destafonna
podeimostrarque
os
comportamentos
considerados masculinosou
femininos variam deuma
cultura para outra.Para Brasil (1995) gênero
em
uma
visão geral, éum
conceitoque
se refere aum
sistema de papéis e de relações entre mulheres ehomens, que não
são detenninados pela biologia,mas
pelo contexto social, político e econômico.O
sexo biológico deuma
pessoa édado
pela natureza, sendoque
o gêneroé construído.
"Os papéis de gênero são aprendidas. Eles dzfizrem de
uma
sociedadepara
outra e variam de acordocom
a
época"(BRASIL,
1995, p.15).A
nossa sociedade éimpregnada
de privilégios e atributosque
são«
socialmente determinados.
Os
-diferentes papéis atribuídossempre
foram
concebidos para oshomens
e mulheres sobo.forma
de imposição.Confonne
Brasil (1995), este
fenômeno
que aconteceem
nossa sociedade é conhecidocomo
moldados
pela história, ideologia, cultura, religião e pelo desenvolvimento econômico.1,/
A
proposta de análise sob a Ótica de gênero operacom
a premissade que
é I\i_
necessário envolver os
homens
na
promoção
dos interesses das mulheres eque
~.
ambos
devem
participardo
processo de seu próprio desenvolvimento,devendo
existir
um
acordo entre seus interesses. Diante dessa perspectiva sebusca
¬ `
V :'-z
primordialmente a quebra dos estereótipos impostos pela sociedade.
É
desuma
importância que nlul__1_1_e_res _e¬li_on}en_s sejam vistos e analisadossob
o
contexto relacional enão
deforma
unilateral.__,_ _, ,
/
Segundo
Grossi (1990), os primeiros estudos sobre a condição feminina,que
datam
os anos 70/80,foram
muito influenciados pelo discursodo
movimento
fem_ini_sta, tendocomo
resultado o isolamentoda mulher no
contexto relacional.Desta
forma,o
feminismo influenciou radicalmente a perspectiva dos estudosque
envolvem
a mulher, sob a perspectiva de alegação de que as mulheres tinham sido esquecidas pelahistória e de quequem
deveria falar das mulhereseram
elas proprias. Esta análise, sob a Óticado
feminismo,tem
como
foco central as mulheres, sendoque
oshomens
são vistos separadamenteda
relação.Diferentemente
do
feminismo, que éuma
ideologiabaseada na
supremaciada
mulher perante aohomem,
os estudos de gênero partemdo
princípio deque
as relaçõesHomem/Mulher
sedão
deforma
relacional e de formasnão
estanques,mas
mutáveis e conjunturais.Segundo
Grossi (1990), omomento
onde
começa
a aparecer o conceitoídegênero e haver
um
uso crescente deste, équando
começa
a surgir a _p_reocupaçaoem
relativizar o isolamentoda
condição feminina.3.1 -
A
Violência RelacionalEm
grande parte dos textosacadêmicos
brasileiros a violência é vistaunilateralmente sob a perspectiva
do
feminismo,onde
as mulheres são vistasna
maioria das vezes
como
v1 'timasvda violência_,doméstica__,e _\{í_tima_s_c1a opressãomasculina.
I
-Mais
recentemente, surgeum
novo
tipo de zabor_da_g_e_n_}__te5'›_1*_i_ça_ _que_busca
enfo_c_ar a violência à luz dos estudos de gênero, sob a qual
muda
o ponto de vistade análise.
Essa
é a perspectivana
qual iremos pautar nosso trabalho. 'Por
ser urna questão ainda recente epouco
abordada por pesquisadores, aviolência sob estaperspectiva
começa
a ganhar espaço vagarosamente. Estudosvem
surgindo e esta visãocomeça
a ser explorada e divulgadana
tentativade
difundir a violência sob outro prisma.A
prova, éuma
importante reportagemdivulgada
no
dia 12 deAgosto
de 1998, através deuma
das revistas demaior
circulação
no
país, a Revista Veja:SOCORRO
DE
MULHER.
,ESTUDO
MOSTRA
QUE
EM
BRIGA
DE
CASAL
ELAS
TAl\/[BEM
PARTEM PARA
A
VIOLÊNCIA
Quando, nos idos de 1991,
a
então primeira-dama de Alagoas,Geraldo, ela estava simplesmente
pondo para
fora,com
vigor,a
agressividade natural das mulheres. Sim, é isso mesmo, pelo
menos
de acordocom
as conclusões deuma
ampla
pesquisa sobre violência física entrehomens
e mulheres apresentadashá
duas semanas pelo psicólogo inglês
John
Archerda
Universidade de Lancashire.
Com
baseem
depoimentos de milhares de mulheresda
Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, eNova
Zelândia, o estudo de Archerpõe por
terra a idéia de que,quando
um
casal discute entre quatro paredes, ohomem,
dominadorpor
natureza e fortepor
constituição, _équem
levantao braço`primeiro._
As
mulheres apelampara a
violência físicatanto ou mais que os homens, e suas
armas
não são diferentes:chutes, socos, mordidas e até tiros.
Qomo
65%
das vítimas debriga de casal que buscam' tratamento médico são mulheres,
a
agressividade femininapermanece
maiscamuflada
nasestatísticas. ,
As
iconclusões de Archer viraram, é claro, o grande assuntodo
encontro anual
da
Sociedade Internacional de Pesquisa Sobre Agressividade. Seus críticos acreditam que, ao igualar os sexosno quisito violência doméstica, o estudo atenua o
drama
dasmulheres espancadas dentro de casa.
A
violência , trabalhada sob esta perspectiva . de gênero leva auma
_`____________ _... `_,__W__._. ..-V-‹›-~
discussão muito rica e muito mais desafiadora para os pesquisadores, pois exige
uma
visãoampla
e principalmente a quebra dos estigmas, rótulos e valoresculturais, sendo estes algo tão intrínseco
em
todos nós.Nossa
proposta nesse trabalho é buscar perceber a violência sobo
ângulo~
relacional, analisando a violência
nao somente do ponto
de vista masculino,mas
também
percebê-laem
outras relações nas quais as mulheres são participantesativas.
"Ao pensar
na
violência enquanto ato relacional estamos saindo deum
dos principais pressupostos do pensamento feministatradicional que é o de ver as mulheres
em
permanente estado de"dominação", ou seja, que toda relação afetiva
homem/mulher
esconde-se
por
trásda
capada
"subordinação universalda
mulher"(GROSSI,
1991, p. 8).Se
a violência for analisada sobo
prismada
universalidadeda
subordinação das mulheres perante oshomens,
toda explicação sobreo
usoda
violência recairá sobre ohomem,
isentando amulher da
relação que a constitui.Para
GROSSI
(1990) é necessário trabalhar o feminino e o masculinoenquanto fonnas mutáveis e flexíveis
que
estão necessariamente subordinadas a questão relacional.¡ .
É
necessário que se quebre o isolamento e a naturalização da "condição"feminina, de ver
sempre
a mulhercomo
vítima, e se pensena
violênciacomo
um
ato decomunicação homem/mulher.
Não
sepode
negarou
desconsiderar todo o processo de submissãoda
` ---› .__
mulher, toda a sua historicidade, pois a violência contra a mulher é
um
fatocomprovado
esem
dúvida precisa ser denunciada e cada vez mais amulher deve
lutar pelos seus direitos,
mas
não
podemos
generalizar esempre
rotulá-las -defrágeis, vítimas, inferiores e sofredoras.
A
violência faz parte demn
jogo
relacionalonde
homens
e mulheresdesempenham
papéis complementares.Úm
relacionamentoonde não
existevítimas
ou
cúmplicesmas
sim papéisnem
sempre
fixos. _“A violência aparece
como
uma
das saídasda
cenada
quala
mulher deixa de ser
a
parceira deum
diálogo e passaa
ser vítima deuma
cena onde sedá
um
perverso jogo defeminilidade e masculinidade, ou melhor, de imagens que
desempenham
papéis de mulher e dehomem em
relaçõesconjugais.
De um
certomodo
ser vítima significa aderira
uma
__ Muitas mulheres utilizam-se › inconscientemente .
na
, maioria das vezes 9,do ,de
serem
consideradas “inferiores”, “frágeis” e' '
o
ou
seja,do
fatop_qder_gener1c , _
“vítímas”,
mesmo
muitas vezes“passivas”, para
serem
vistas e tratadascomo
tendo claro
o
papelque
desempenham
na
relação conjugal.`
er explicada por todo
Essa
postura, utilizada defonna
inconsciente,pode
shistórico e cultural construído pelo grupo
em
que
amulher
estáo
processo V`
s são passados
m
uma
sociedade patriarcalonde
no
inserida, pois,
vivemos
qe` `
orretos e
acabamos
valores machistas e
que
muitas vezes interiorrzamoscomo
c por reproduzi-los.` ` `
h mens
porque
teoria machista desprrvilegia oso
,V
De
mn
certomodo
a'
onde
a justiça trabalhacom
representações sociais,ou
seja,vivemos
emumpais
Ê* _, q I _
são construídos
modelos
ideais dehomem
e mulher. lsso significaque
seuma
. mulherqconsiderada
“boa
esposa”mata
o marido, consideradoum
“mau
marido”,'
a 'do
em
legitima defesa. lvidado
crime por ter gicom
certeza ela será abso «'
onta a subjetividade
Nesse
caso, será julgadoo
ato enão
sera levadoem
cl ão.
Os
'a
não
será levadoem
conta o papel de cadamn
na
reaç
do
caso,ou
sej ,”
d
relação ecom
unilateralmente enao
como
parte afatos são vistos e analisados
o ue vier a desfavorecê-la.
certeza a vítima ocultará
q
`
ais
da
violência, via de regra,“É
muito raro haver atos unzlateria
na
qual cada partedesempenha
Í
há
uma
relagão de violênc ,”
da
tensão”(SAFFIOTTI,
e papel relevantepara a
manutençaoEm
_uma,r_elação a troca dos papéis éque
muitas vezes gera conflitosconjugais
que
são geralmente desencadeados poruma
comunicação
assimétrica,ou
seja,onde
um
quer darsempre
a última palavra e o objetivo é tentar convencero
outro e mostrar sua autoridade edominação na
relação.A
discussão vai setomando
agressiva e as ofensascomeçam
a fazer partedo
diálogo.Da
violência verbal parte-se para as agressões fisicas.Para Gregori (1998) a
mulher busca
a "última palavra", poisestimulando
aagressão
fisica, saido
lugarque ocupava na
cena e introduz outraem
que
ocupará outro lugar.E
vice-versa para o marido.No
segimdo
momento,
ela vai apanhar e o
marido
vai bater., Neste, ela sairácomo
vítima e omarido
como
agressor,De
uma
maneira muito estranha eladá
a "última palavra" para sairde
uma
cenaem
que
é parceira e iniciar outraem
que
será vítima.A
mulher
sairácomo
vítimada
relação possuindouma
"arma" nasmãos
que
ds_e_r_áa denuncia.Em
algims casos, esta "arma" é a mais utilizada pelas mulheres, pois asmarcas da
agressão servirão de provas, sendo utilizadas parao
convencimento da
sua posiçao de vítimana
relaçao ecomo
conseqüência a3.2 -
A
queixa
como
"arma"
feminina.A
queixa muitas Vezes é utilizada pelas mulherescomo
uma
“a1ma”, sendo que através deuma
fala monologal,buscam
construirsua
posição de vítiinas.“A queixa é
a
narrativaem
quea
pessoa que é objeto dealgum
infortúnio constrói discursivamente
a
sua posição enquantovítima. Narrativa peculiar: expõe e, paradoxalmente, alimenta,
incita, reitera algumas das condições que
fazem
operara
violência.
A
queixa éuma
construção descritiva.O
narrador'
'apresenta os fatos
compondo
os personagens: o eu vitimado e ooutro culpado ”
(GREGORI,
1993. p.185).Na
queixao
narrador irá expor osvfatosda
maneiraque
ll1e_for_c_o_ri§/eriiente,ou
seja, buscará mostrar os errosdo
outrocom
a intenção de culpabilizá-lo."A queixa é
uma
fala monologal, pronunciadapara
produzirescuta.
Guarda
essa semelhançacom
a
confissão.Ambas,
também, são falas auto-referentes e que trazem
como
temaa
cuma” (GREGORI,
1993, p. 185).A
intençãoda
vítima será convencer a sua posiçãona
relação.Em
cima
disso construirá seu discurso.`
Para Gregori, (1993)
na
queixa existetambém
algo similar à fala deum
adolescente ao discorrer sobre a sua virilidade, Í_'_contar vantagem": quantas brigas
L
_. ›'*'ganhou, quantas garotas conquistou e etc.
A
quantidade de ganhos e perdascontará desde
que
subordinadas a descrição das dificuldades enfrentadasem
cada
~A
"vítima" buscará de todas as formas elementosque
realcem seu lugar, e destafonna
tantofomecerá
informaçõesque
agravem
a situação,como
omitiráoutras
que
não
a favoreça.~
Os
motivos pelos quais amulher
procura fazer a queixa sao osmais
diversos.Brandão
(1996)pode
constatarem
seu estudo, feitona
DelegaciaEspecializada de atendimento à
Mulher
do_Rio de Janeiro,que
aimensa
maioria das mulheresque procuravam
a Delegacia para fazer a queixa, queriam somente:"dar
um
susto","uma
prensinha nele","um
castigo","chamar
para conversar",“que ele as deixassem paz".
Para Gregori (1993), as mulheres
que
procuram
as delegacias,SOS°s, não
vão
em
busca
de igualdademas
sim de autoridade.A
ida às Delegacias Especializadas, envolvetambém
a esperança "demelhorar", de "resolver
alguma
coisa”,ou
atémesmo
de_,`,pr¿opic_iar,_u_ma_ocasiãopara amedrontar
o companheiro
quanto as possíveis implicaçõesque
recairão~
sobre ele
na
tentativa denovas
agressoes, pois atravésda
queixa oacusado
échamado
no
local edependendo do
caso poderá ser processado e até preso.“Entre
a
queixa ea
suspensão as mulherespassam a
ter 0 futuro dos companheirosem
suas mãos, pela virtualidade deuma
medida penal,mesmo
que eles duvidem deuma
punição ou desprezema
ação policial ”(BRANDÃO,
1996, p. 170).Em
outros casos, a queixapode
servir para a busca deum
espaçoonde
venha
a haver tentativa de diálogo,_o que
muitas vezesnão
está acontecendo noslares. Existe
uma
grande carência deum
localonde
o casal possa conversar,discutir, falar das necessidades e dificuldades e tentar resolver os
problemas
vivenciëlC1.QS .C1iâIÍÍ81_I_1ente.
O
diálogo é a coisa mais importante para a vidado
casale esta carência existente é
que
faz muitos casaisbuscarem
fora de seus laresum
localonde
possa voltar a existir a troca de palavras, discussões, conversas eentendimentos.
A
queixa, atémesmo
serve para a busca deum
acordo entre o casal,como
separação
ou
problemasque
ameaçam
o
grupo familiar./__P_oster_“io_r_i_r1er1te..ao registro e alguns objetivos alcançados surge
em
muitoscasos a desistência,
ou
seja, asuspensão
da
queixa.A
suspensão sedá
pordiversos motivos,
que sempre
são justificados pela "vítirna".A
preocupaçãocom
os. filhos, na falta de condições financeiras para manter-se sozinha, a questão
da moradia
e atémesmo
o sentimento de culpa, arrependimento epena
são os motivosque
utilizam para justificar a suspensão.O
sentimento depena
e culpa muitas vezes se dá, pelo fato de a queixa ter sido feitaem
um
momento
de Ódio enão
refletida as conseqüências.Para
Brandão
(1996) a sensação de culpa e arrependimento aparecena
suspensãocomo
fruto de urna queixa policial precipitadaou não
suficientemente planejada. Sustenta ainda,em
seu estudo, que entre as “vítimas” entrevistadasexistia
um
reconhecimento feminino sobre sua participaçãono
conflito conjugal.Tal aspecto
pode
aparecer de maneira mais explícita,como
justificativa paraatenuar a responsabilidade
do
marido,ou
deforma
implícita, nas entrelinhasdo
Ç:
discurso emitido,
quando
manifestam suas próprias dúvidas sobreuma
possível co-responsabilidade,ou
mesmo
quando descrevem
a briga.Mesmo
acusando os companheiros de "alcoólatras", "loucos", “malucos” e "doentes", sendo estes os detemiinantesque
mais contribuem para a queixa, elasacabam
demostrando
a sua participaçãona
horada
suspensãoda
queixa.4
-Aproximações
com
a
violênciaA
violência éum.
determinanteque
contribui deforma
significativapara .a separação conjugal. Estudos realizados
no
EscritórioModelo
deAssistência Jurídica (EMA.-l)1constatam
que
dos casos de pedidode
separação conjugal, omotivo
mais apontado pelos usuários ~é a violência.1
Pesquisa realizada no EMAJ, que fez parte de
um
projeto integrado de pesquisas: Das Políticas Sociaisà' Prática Profissional - Crises Familiares e Separação Conjugal:
Um
Estudo de Suas Implicações. Que temoMOTIVOS
EXPRESSOS
PELOS
USUÁRIOS
No
PEDIDO
DE
SEPARAÇÃO.
18,0% 38,0%I
ViolênciaI
AlcoolismoI
Aauirério 18,0%I
Outros 26,0%Podemos
observarque
a violência atingeum
percentual considerável, por issovimos
a importância e necessidade de estudos nesta área.Constatarnos,
que
maioria dos estudos, pesquisas relacionados a violência, tanto a nível nacionalcomo
internacional, é muitocomum
encontrar os motivosque levam
atomar
a pessoa violenta direcionada para oshomens
e quasenunca
para as mulheres.GELLES
(apudLAN
GLEY
&
LEVY:l980)
selecionou as razõesda
violênciaem
nove
categorias:1-
Doença
mental;2- Álcool e drogas;
3- Aceitação
da
violência por partedo
público;4- Falta
de
comunicação; 5- Sexo;6-
Uma
autoimagem
vulnerável; 7- Frustração;8-
Mudanças;
9- Violência
como
recurso para resolver problemas.Estes são os fatores
que
para Gellespodem
fazercom
queum
homem
agrida Luna mulher. Este estudo, de certa
forma
isenta a mulher de fazer partedo
"jogo dos culpados"
no
relacionamento conjugal e consequentemente daspunições.
Os
homens
gerahnente são rotulados de alcoolistas, viciados, traidores,pois
em
nossa sociedade patriarcal, é muito mais"comum"
que
aohomem
sejam
atribuídos estes papéis.Estes rótulos muitas vezes
servem
para que amulher
possa mostraro
"mal caráter"de
seus companheiros e fraquezas destesna
relação, enquantovão
setomando
passivas dianteda
situação."Assim os personagens envolvidos são apresentados
como
que ocupando posições já definidas de antemão: o marido bêbado,a
esposa virtuosa e as crianças, cujo papel é o de
figurarem na
cenacomo
espectadores e vítimas ”(GREGORI,
1993, p. 153).Através de
um
outro estudo feitona
mesma
instituição,com
mn
universode 1.500 casos aproximadamente, constata-se
que o
atendimento jurídico éna
grande maioria solicitado pelas mulheres.SOLICITAÇÃO
POR
GÊNERO
I
MulheresI
Homens69,0%
Diante deste gráfico percebe-se
que
a iniciativa debusca
porum
meio
alternativo de atendimento
ou
refúgio estásendo
feitona
grande maioria pelas mulheres.Um
outro estudo,também
realizadono
EMAJ,
no
1° semestrede
1996,em
um
universo de44
casos constatou-seque
um
número
considerável desistemdo
processo antes de ser encerrado,
conforme mostrado graficamente
abaixo.I
Arquivado SentençaI
DesistênciaI
AcordoI
|ne|eg¡ve|Através deste gráfico
podemos
constatarque
muitas vezes o atendimento jurídicopode
estar relacionado à tentativa de amedrontaro
companheiro(a)conforme
constataBrandão
(1996) querer apenas “darum
susto”,ou
atémesmo
na busca
deum
lugar altemativo,onde
possa haver diálogo e reconciliação.o
SERVIÇO
s,oc1AL
No
EMAJ
FRENTE
A
vroLÊNc1A
RELACIONAL
1 -
EMAJ
-O
contexto institucionaldo
estudo;~
Com
a instalaçaodo
Fórum
Judicialda
Universidade Federal de SantaCatarina
no ano
de 1993, atravésda Unidade
Jurisdicionalem
Regime
de
Exceção
eda
Sessãode
Juizado Informal dePequenas Causas
(Lei n° 8.271/91)no
campo
da
Universidade Federal de' Santa Catarinaem
convêniocom
o
Tribunal de Justiça
de
Santa Catarina, aUFSC
e aOrdem
dosAdvogados do
Brasil
(OAB),
passam
a prestar atendimento jurídico depequenas
causas àcomarca
de Florianópolis.O
EscritórioModelo
de Assistência Jurídica -EMAJ
surge para colaborarcom
o_ desaforamentodo
Fórum
da
capital,dando
início as atividadesem
1993.O
curso de Direito e de Serviço Social, por ser
uma
atividade de ensino, pesquisa e ~extensao.
É
prestado Assistência Jurídica gratuitasomente
à pessoas fisicas consideradas carentes sócio-econômicamente,ou
seja,que
possuam
rendainferior à três salários míniinos e sejam residentes e domiciliadas
na
comarca de
Florianópolis.
Esses critérios não.são extensivos ao Serviço Social,
que
atende qualquer ~demanda,
mesmo
que nao
selecionada para atendimento juridico.As
principais «demandas atendidas são os casos de separação judicial,que
atingem
um
percentualde
78%
dos casos, seguido dos casos de divórcio, guarda dos filhos,pensão
alimentícia, inventário, questões de imóveis, causas penais etrabalhistas.
O
Serviço Socialno
EMAJ
desenvolve os seguintes projetos:PROJETO
TRIAGEM
- Neste, busca-se obter informações básicasdo
usuário.
Neste
momento
são -selecionados os usuáriosque
podem
obteratendimento jurídico, sendo
que
devem
estar dentro dos critérios estabelecidos pela instituição..i
ACOMPANHAMENTO
SÓCIO-FAMILLAR
- Este projetotem
como
objetivo
o acompanhamento
de casaisque
vivenciam crises familiares, proporcionando a estes espaço de reflexão, diálogo e esclarecimentos dos direitosPROJETO
CADASTRO
DE
RECURSOS
DA
COMUNIDADE
- Este projeto visa instrumentar o Serviço Socialcom
um
cadastro de recursos sócioassistências facilitando
o
encaminhamento
dasdemandas
postas pelos usuáriosdo
EMAJ
eque
extrapolem os serviços oferecidos pelo escritório.PROJETO
SALA
DE
ESPERA
-É
através deste projeto que são passadosaos usuários, informações e esclarecimentos gerais acerca
do
EMAJ
e questões de cidadania, atravésde
recursos audiovisuais. OI
PROJETO
PERFIL
DO
USUÁRIO
- Este projetotem
como
objetivo obterum
conhecimento maior sobre os usuáriosque procuram
a instituição,buscando
melhoria
do
serviço e coleta dedados
para pesquisas. AAlém
desses projetos,o
EMAJ
realizou durante os anos de 19.96 e1997
tuna pesquisa financiada pelo
CNPq
sob o títuloDas
Polz'ticas Sociaisà
Prática Profissíonal - Crises Familiares «eSeparação
Conjugal:Um
estudode
suasimplicações.
O
presente trabalho derivou-seda
nossa participação nessaPCSQIIIS3.
V
'
V
O
EMAJ,
que serviucomo campo
de estágio e deonde
derivou arealização deste estudo, nos permitiu perceber a importância de pesquisas nesta
área,
que
apresenta urnademanda
considerável ena
qual muitas vezes -o Serviço~..
Social se
mostrou pouco
experiente para trabalhar.Um
fator importante a salientar, éque
o Serviço Socialdo
EMAJ,
muitas vezes encontrou grandes dificuldades nos atendimentos dos casos pornão
teruma
Assistente Social dentroda
instituiçãoque
orientasse a prática.Essa
deficiência foi,
em
parte, suprida poruma
ex-estagiáriado
Serviço Socialno
EMAJ,
como
bolsista de Pesquisa,além da figura da
supervisora de_estágio.Mas
as dúvidas e incertezasdo
dia-a-dia muitas vezes estiveram presentesnos atendimentos, trazendo certas dificuldades de trabalhar
com
determinadasquestões específicas.
Com
a oferta deuma
disciplina intitulada Serviço Social e Família, passou- se a ter maisembasamento
para entenderalgumas
questões importantes relacionadas a família,com
que
nosdeparávamos no
EMAJ.
Apesar
dessas dificuldades,podemos
considerar este,um
campo
de estágioextremamente
rico por apresentar diversificadasdemandas
relacionadas à família.Foi durante
o
período de estágio, quecomeçamos
a atender conflitosconjugais
onde
estava presente a violência etambém
onde
começamos
aperceber, diante dos atendimentos,
que
haviauma
outra faceda
violência.Por
isso decidimos nos determosno
estudoda
violência relacional.Para a realização desta pesquisa, essenciahnente qualitativa, utilizamos a metodologia
do Estudo
de Caso, tendocomo
instrumento entrevistas,na
qualnos
limitaremos ao estudo de três casos.
“Estudo de caso é
uma
categoria de pesquisa cujo objeto éuma
unidade que se analisa profundamente. Esta definição determina suas características que são dadas
pbr
duas circunstâncias,principalmente.
Por
um
lado,a
natureza ee abrangênciada
unidade.Em
segundo lugar,também
.a complexidade do Estudode
Caso
está determinada pelos suportes teóricos que servem deorientação
em
seu trabalho ao investigador.Um
aspecto interessante do Estudo deCaso
é o de existira
possibilidade de estabelecer comparações entre dois ou maisenfoques especzficos, o que
dá
origem aos estudos comparativosde casos.
O
enfoque comparativo enriquecea
pesquisaqualitativa, especialmente se ele se realiza na perspectiva hiszórzw-¢u1zurat"(TRIvn<1os, 1994).
2
-Estudo propriamente
ditoIf
p Para entendermos e detectarmos que
a violência se apresenta
de
forma
relacional, é indispensável o atendimento entrevistando os dois cônjuges.O
estudo serácomposto
de três casos, atravésda
metodologia estudode
casocom
entrevistas realizadasno
EMAJ.
sendoque
o terceiro caso, seráapresentado para ilustrar e mostrar
que quando
o atendimento sedá de forma
unilateral, os fatos são postos e entendidos
como
verdades absolutas,não nos
permitindo perceber a relação
num
todo.Os
dados
dos três casos apresentados são fidedignos, sendoque
porquestões éticas seus
nomes
serão utilizados defonna
fictícia.Os
casos serão apresentadoscomo:
entrevista 1, entrevista2
e entrevista 3,~
que
.se encontraraoem
anexo.ENTREVISTA
IcoMPos1ÇÃo
FANHLIAR
NOME
ESCOL.
PARENT.
IDADE
PROF.
SALÁRIO
A.G
1° lncomp.Companheira
31 anosDo
lar -A.S
i1°